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domingo, 14 de março de 2021

Entrada e fuga de capitais do Brasil - Ricardo Bergamini, Eudes Lima (ISTOÉ)

 Se me perguntassem sobre o nível do debate econômico no país, eu diria que é uma razoável aproximação do Q.I. das amebas (Roberto Campos).

 

Prezados Senhores

 

De 1995 até 2002 (FHC) o Brasil gerou uma saída líquida (fuga) de US$ 22,2 bilhões; de 2003 até 2010 (Lula) o Brasil gerou uma entrada líquida (captação) de US$ 210,5 bilhões; de 2011 até 2018 (Dilma/Temer) o Brasil gerou uma entrada líquida (captação) de US$ 65,7 bilhões; de 2019 até janeiro de 2021 (Bolsonaro) o Brasil gerou uma saída líquida (fuga) de US$ 69,8 bilhões. 

 

Os brasileiros terão que aprender, de uma vez por todas, que os discursos internos que empolgam os seus súditos (não são eleitores), não servem para o público externo, por isso o mundo está assustado com o Brasil. 

 

Cabe lembrar que essas informações macroeconômicas divulgadas pelo governo são destinadas ao público externo, não para o público interno, que não tem nenhum interesse no assunto.

 

Em 2019, sem pandemia, já havia ocorrido uma fuga de US$ 44,7 bilhões. 

 

Qual grupo econômico racional iria aguardar o destino do Brasil, que será travado entre dois sindicalistas primatas (Bolsonaro e Lula)? Somente ficarão no Brasil os especuladores.

 

Estamos num país de imbecis, onde alguns falsos liberais, que estão na folha de pagamento do SECOM do Bolsonaro, pregam a ditadura militar como solução. O capital estrangeiro se pirulita.


Ricardo Bergamini

 

A fuga das multinacionais

 

Empresas estrangeiras fogem dos riscos da economia brasileira e migram para outros mercados. A instabilidade política e jurídica soma-se ao “Custo Brasil”, cada dia mais alto por conta das medidas erráticas do governo e da falta de reformas estruturantes

  

Eudes Lima

ISTOÉ, 12/03/21

 

 Empresa japonesa anuncia fechamento da sua fábrica na Zona Franca de Manaus: 300 empregos cortados 


“As marcas se reposicionam conforme as suas necessidades. Ninguém quer ficar no Brasil, um País cheio de incertezas” Vladimir Maciel, professor de economia

 

Há uma onda de empresas estrangeiras que fogem do Brasil. Depois de 48 anos a Sony anunciou o fechamento da indústria na Zona Franca de Manaus, com o fim de 300 empregos diretos. Mais a crise envolvendo companhias de capital internacional no País não se limita à fabricante japonesa. A indústria automobilística talvez seja a que mais falta fará à economia nacional: Ford, Audi e Mercedes estão deixando o País em busca de novos mercados. O grupo suíço do ramo farmacêutico Roche já havia comunicado, em 2019, que entre quatro ou cinco anos deixará o Brasil. Tantas outras empresas seguem o mesmo caminho e também já saíram, como é o caso da Nike, Fnac, Walmart, Nikon, Brasil Kirin, Häagen-dazs, Glovo, RR Donnelley, Lush Cosméticos, Kiehl’s e Eli Lilly. É um verdadeiro êxodo. O economista da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Vladimir Maciel, diz que a desindustrialização no Brasil corre de forma acelerada, sobretudo depois da pandemia que agilizou mudanças nos processos de produção e consumo. “As marcas se reposicionam conforme as suas necessidades. O problema está na relação entre saídas e entradas. Ninguém quer ficar no Brasil, um País cheio de incertezas”, explica.

 

 



 

Motivos para investir aqui são menores dos que para sair. Os empresários reclamam dos altos custos de produção, especialmente quanto à elevada carga tributária e ausência de reformas que reduzam o “Custo Brasil”. A falta da Reforma Tributária e a Administrativa deixam o País em permanente crise fiscal, o que cria grande instabilidade econômica. Apenas em 2020, 5.500 indústrias fecharam as portas, segundo pesquisa da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo. Também há a insegurança jurídica causada com a novela da operação Lava Jato como um dos fatores que afasta o investidor externo.

 

“Bolsonaro deixou claro não se importar com seus principais parceiros internacionais, nem com as consequências de uma pandemia global” Gustavo Braga, economista

 

A década perdida de 1980 está sendo revivida de acordo com economistas e é como se o Brasil não tivesse avançado nada em 10 anos. A instável política econômica do ministro Paulo Guedes e a insensibilidade do presidente da República, que ignora a necessidade de crescimento, consolida a descrença no País. Para o economista Gustavo Braga, “o presidente da República deixou claro não se importar com seus principais parceiros internacionais, nem com as consequências econômicas de uma pandemia global”, afirmou.

 

Muitas das empresas que estão deixando o País o fazem por total desinteresse no mercado com consumidores de renda mais baixa, preferindo países com desenvolvimento mais acelerado. A Roche programou sua saída a partir de 2023. Patrick Eckert, presidente da Roche Farma Brasil, diz que “a estratégia global da empresa para o segmento de medicamentos sintéticos é concentrar os esforços em produtos inovadores de alta complexidade e baixo volume de produção”. Multinacionais avaliam a situação econômica de longo prazo, e de nada adianta colocar a culpa na Covid-19. O mercado nacional está muito atrás dos países emergentes. Prova disso é que não figura mais entre as 10 principais economias mundiais. O PIB caiu 4,1% em 2020 e o levantamento da Austin Rating – agência de classificação de risco – de 9ª economia em 2019, o Brasil irá para 14º lugar em 2021. A queda é temerária. Em 2015 e 2016, o PIB já havia caído 3,5% e 3,3%, respectivamente. Não há nada que aponte para uma recuperação maior no curto e médio prazo.

 

O achatamento da classe média e o empobrecimento da nação acentua a fuga de empresas. O economista Vladimir Maciel lembra que marcas de luxo perdem a cada dia o sentido de continuar produzindo em um País que reduz a massa de compradores de produtos com grande valor agregado. Os carros de luxo são os melhores exemplos. “A multinacional prefere ir para onde tem consumidor com alto poder de compra, sem desemprego e com poder aquisitivo em elevado”, diz Maciel.

 

O incentivo ao empreendimento de novas indústrias também é um obstáculo. A burocracia não estimula a produção. Nada há planejado por uma política de industrialização mínima. Exceção feita ao agronegócio, que caminha com as próprias pernas, a produção interna não tem nenhum norte institucional a seguir. O isolamento internacional, seja nas questões de acordos multilaterais, seja na imagem nas políticas voltadas para o meio ambiente, saúde e educação são fatores que pesam negativamente na atração de novos investimentos. O melhor cenário de retomada após a pandemia não anima para que empresas de todo o mundo voltem a olhar com algum apreço e respeito ao País. O encanto acabou.

 


domingo, 3 de março de 2013

Investimento produtivo: desta vez agora vai? - Celso Ming

Pode ser. Mas não basta atrair capitais com promessas puramente teóricas de grandes retornos. As condições para fazê-lo, ou seja, o ambiente de negócios, também precisam corresponder a cálculos precisos, que fazem as empresas antes de se decidir aderir à conversa do governo.
Basta ver o que ocorreu com os investidores estrangeiros que acreditaram nas promessas do Minha Casa, Minha Vida. Até hoje estão esperando o retorno dos investimentos...
Paulo Roberto de Almeida

A hora do investimento

01 de março de 2013 | 2h 07
Celso Ming - O Estado de S.Paulo
 
Desta vez, há movimentos importantes e de grande alcance colocados em marcha pelo governo Dilma.
A principal iniciativa da hora é um programa de investimentos da ordem de US$ 235 bilhões nas áreas de transportes e de energia, para o qual o governo está mobilizando a iniciativa privada daqui e do exterior.
Um tanto tarde, mas ainda a tempo, o governo acordou para a necessidade de acionar o investimento. Até recentemente, entendera que a prioridade se restringia a criar e transferir renda para a área de consumo. O resultado foi uma forte elevação das importações, de 144% em apenas seis anos, e o esvaziamento da indústria.
Na prática, como cuidou só da demanda e não da oferta, o governo transferiu mercado para o exterior. O aumento dos custos e a perda de competitividade do setor produtivo interno desestimularam os investimentos em aumento da capacidade.
O segundo movimento importante do governo Dilma foi ter-se dado conta de que o Tesouro Nacional é um limão espremido que não dispõe de recursos suficientes para enfrentar a enorme demanda de investimentos em serviços de infraestrutura e logística - como portos, aeroportos, rodovias, ferrovias, armazéns gerais, etc.
Não sobrou saída senão apelar para capitais e parcerias com o setor privado. É uma opção que quebra paradigmas. A primeira dessas rupturas foi ter confiado ao setor privado o desenvolvimento e a administração de serviços públicos, prática que até recentemente vinha sendo considerada "privataria disfarçada", portanto inaceitável, pelo Partido dos Trabalhadores no governo.
A segunda foi admitir que as concessões públicas ao setor privado para a produção de serviços de alto padrão não poderiam ser tabeladas em níveis insignificantes. As primeiras incursões do governo Dilma nesse campo implicaram o tabelamento a valores baixos da remuneração das atividades econômicas contratadas nos regimes de concessão. O secretário do Tesouro, Arno Augustin, por exemplo, argumentava então que o lucro das concessionárias não deveria ser superior a 6%, por remunerar atividades de risco zero. O resultado foi o baixo interesse despertado pelas licitações, que o governo tenta agora reverter.
Essa mudança de atitude tem potencial para se transformar na grande virada do governo Dilma. Mas impõe consequências. Uma delas é a renúncia a políticas de cunho populista. A Petrobrás, por exemplo, jamais garantirá parcerias para suas refinarias, como ainda ontem pediu o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, enquanto persistir em vigor a política de achatamento dos preços dos combustíveis.
A outra é ter de lidar, como já começa a acontecer, com corporações alimentadas com privilégios e "reservas de mercado de trabalho". É o caso dos portuários. Em nome próprio ou no jogo de outros interesses comerciais, julgam-se no direito de bloquear a expansão e a modernização do setor.
Um terceiro efeito consiste em definir regras consistentes de jogo e assegurar que sejam cumpridas. Para isso, será necessário recuperar o prestígio e a isenção das tarefas das agências reguladoras que, a partir do governo Lula, passaram a ser instituições vulneráveis ao contexto político de ocasião.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

China-Brasil: mais capitalista do que os capitalistas


DCI
China enviou US$ 20 bilhões ao Brasil via paraísos fiscais
Gustavo Machado
DCI, 6/09/2011

Maior parceiro comercial do Brasil nos últimos anos, a China configura atualmente um parceiro e um rival. Principal comprador de matérias-primas produzidas no País, os asiáticos causam preocupação na equipe econômica do governo de Dilma com sua moeda, o iuane, depreciada, e produtos baratos. E apesar de, oficialmente, registrar um valor baixo de investimentos diretos, o país asiático, na verdade, enviou US$ 20 bilhões no ano passado em recursos por meio de países conhecidos como paraíso fiscal, como Suíça e Luxemburgo.

No ano de 2010, entre janeiro e julho, US$ 24,435 bilhões foram exportados para a China, enquanto que US$ 17,687 bilhões foram importados. Atualmente, os Estados Unidos são o país do qual o Brasil mais importa. De acordo com dados do Banco Central (BC), no mesmo período, em IED, apenas US$ 367 milhões vieram da China, o que os situava apenas em 12º entre os estrangeiros que mais investiam no País. Neste ano, os valores são ainda mais insignificantes: US$ 138 milhões e o distante 23º lugar.

No entanto, os dados do BC não condizem com a realidade da relação bilateral. De acordo com Welber Barral, consultor de comércio exterior e secretário do MDIC entre 2007 e 2010, isso ocorre porque o investimento do gigante asiático é oriundo de subsidiárias de suas empresas. "Muito do dinheiro chinês não vem necessariamente da China".

Segundo Charles Tang, presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China (CCIBC), o Brasil recebeu mais de US$ 20 bilhões no ano de 2010 em investimentos de companhias chinesas. O valor colocaria o asiático na primeira posição com muita folga, de acordo com os documentos do setor externo divulgados pelo Banco Central. "Isso porque muito do dinheiro vem de paraísos fiscais", explica Tang.

Corroborando com a afirmação de Tang, no ano passado Luxemburgo e Suíça figuraram como os principais investidores, com pouco mais de US$ 15 bilhões. "A China considera o Brasil um grande mercado. O Governo quer a abertura de novas fábricas. Não só o País se beneficiará, mas também o povo", afirma o presidente da CCIBC.

Para o Dr. Evaldo Alves, coordenador do curso de Comércio Exterior da Fundação Getúlio Vargas, existe uma relação complexa com o parceiro asiático. "Devemos nos proteger quanto à China competidora, mas não devemos atacá-la", avisa, antes de lembrar que os preços baixos dos produtos importados ajudam a baixar a inflação. "Precisamos resolver os gargalos da economia brasileira", alerta Alves.

O custo Brasil é um dos maiores agravantes na relação bilateral. Altos impostos e salários mais altos encarecem os produtos nacionais. Para o consultor em comércio exterior Vivaldo Cardoso Piraino existe um pouco de dúvida quanto ao futuro desta parceira. "Os preços dos chineses são tão baixos que é preciso criar restrições, taxas para evitar o dumping [preços extremamente baixos para prejudicar concorrentes]", diz o consultor.

Entre os maiores produtos exportados estão minério de ferro, soja triturada e petróleo. Já entre os importados, peças para transmissores, máquinas de processamento de dados e circuitos impressos (chips) para telefonia. Segundo Barral, existe uma barreira de importação na China contra os manufaturados do Brasil, que seria forçado a compor sua pauta de exportação basicamente com matérias-primas e commodities agrícolas. A tese é combatida por Charles Tang, que culpa os preços elevados pela dificuldade de ingresso dos manufaturados.

Indiferente aos produtos exportados, a secretária de Comércio Exterior, Tatiana Lacerda, indica que cada vez mais a China representa o motor da economia global e que a relação entre os dois países é cada vez mais importante. "O crescimento do PIB chinês se reflete na pauta exportadora do Brasil", afirma Lacerda. Ao encontro da afirmação da secretária, na comparação entre os meses de janeiro e agosto de 2010 e 2011, o volume financeiro exportado cresceu 45%. O superávit brasileiro na balança comercial entre os países aumentou para US$ 1,443 milhão em julho de 2011, 63% maior que no mesmo período de 2010.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Investimentos diretos: no e do Brasil, Asia no circuito

Coreanos iniciam segunda onda de investimentos
Cleide Silva
O Estado de S.Paulo, 15/02/2011

Depois da Hyundai, que constrói fábrica de carros em São Paulo, empresas de vários segmentos negociam instalações no País

O anúncio, na sexta-feira, da instalação em São Paulo da primeira fábrica do conglomerado Doosan, que vai aplicar R$ 100 milhões na produção de máquinas escavadeiras é mais uma indicação da nova onda de investimentos coreanos no Brasil, a mais forte desde os anos 90, quando chegaram as fabricantes de eletroeletrônicos LG e Samsung.

No ano passado, o País recebeu US$ 1 bilhão em investimentos produtivos de empresas da Coreia, um aumento de 688% em relação a 2009, quando somou R$ 132 milhões. A Kotra, divisão comercial do Consulado da Coreia em São Paulo calcula que o País abriga 70 empresas coreanas, muitas delas inauguradas no ano passado, e que mais 100 estudam ou já negociam instalações locais.

O professor de relações internacionais da Universidade Hankuk, de Seul, Hee Moon Jo, diz que "a estabilidade política e o desempenho econômico crescente do Brasil, além de seu grande mercado interno" tem atraído empresas da Coreia a instalarem bases de produção para abastecer também a América do Sul.

Uma característica dos grandes empreendimentos é atrair os fornecedores mais próximos. No rastro da Doosan, a também coreana Dabo Precision confirmou fábrica em Americana, ao lado da cliente, para fornecer maquinário de injeção plástica.

A Hyundai, maior montadora de veículos na Coreia e quinta no mundo, já garantiu ao seu redor sete empresas coreanas de autopeças no terreno em Piracicaba (SP) onde constrói fábrica para produzir inicialmente 150 mil automóveis por ano, projeto de US$ 600 milhões com previsão de gerar 1.500 empregos.

A Myoung Shin (carrocerias), a Hwashim (para-choques, peças para porta e barra de direção), a Hanil (sistemas interiores), a Doowon (ar condicionado), a THN (chicotes e outros itens), a Mobis (partes interiores) e a Dymos (bancos) vão investir, juntas, cerca de US$ 250 milhões e abrir 1.100 vagas.

Soma-se ao grupo que ficará ao redor da fábrica a francesa Faurecia, que já tem fábrica em Limeira, mas instalará linha de montagem de sistemas de escapamento em Piracicaba. Na vizinha Rio das Pedras está em obras a unidade da Samsong que fará cintos de segurança.

O diretor da empresa, Myoungjoong Lee, diz que também fornecerá componentes para a General Motors, assim como a Mando, outra coreana que se instalará em Limeira para produzir freios ABS. A empresa de logística Glovis, que dará suporte à Hyundai, ainda negocia local para instalação.

"A imagem do Brasil mudou muito lá fora e o País tem sido visto como importante player (jogador) mundial, por isso tem despertado o interesse dos coreanos", avalia Shin Jae Kim, sócia responsável pela região da Ásia do Tozzini Freire Advogados. Foi ela quem assessorou a vinda da Hyundai e da Doosan, entre outras empresas da região.

Celebração em coreano. Além das empresas, a chegada da Hyundai a Piracicaba, com início de produção experimental prevista para o fim do primeiro semestre de 2012, está movimentando outras áreas na cidade de 365 mil habitantes. No início do ano, dois restaurantes de comida típica da Coreia foram abertos e um terceiro está em fase de inauguração.

Um deles é de propriedade de Luiz Lee, coreano que está no Brasil há vários anos. Ele atua em São Paulo na área de importação e exportação de eletrônicos e viu uma nova oportunidade de negócio. O outro restaurante, batizado de Lago Asul (sic), também pertence a famílias coreanas que já viviam no Brasil.

Para atender as famílias coreanas que estão se mudando para a cidade, principalmente de executivos que comandam as instalações das fábricas, um pastor da igreja presbiteriana veio da Coreia e todas as manhãs de domingo faz celebrações no idioma natal.

Imóveis de alto padrão antes alugados a R$ 3 mil passaram para R$ 6 mil. Empresas do ramo tiveram de se adaptar às demandas dos novos moradores. "A maioria quer casa ou apartamento já mobiliado e isso não é comum na cidade", afirma Angelo Frias Neto, dono da maior imobiliária local, a Frias Neto. "Tivemos de convencer proprietários a alugarem imóveis já com mobília", diz ele, justificando em parte o aumento de preços. Frias Neto também preside a Associação Comercial e Industrial de Piracicaba (Acipi).

O prefeito de Piracicaba, Barjas Negri, confirma o efeito em cadeia que a montadora está provocando, mas nega que o município vá abrigar o que alguns chamam de "cidade Hyundai", um conglomerado com infraestrutura própria para anteder os empreendedores coreanos. "Isso é lenda", diz. Ele afirma que vários cursos profissionalizantes em parceria com o Senai e a Fatec estão sendo abertos para preparar mão de obra.

O terreno onde a Hyundai e alguns fornecedores estão se instalando foi adquirido pela Prefeitura em 2007 e doado à Hyundai, que também ganhou infraestrutura e isenção de IPTU, entre outros incentivos.

"O terreno abrigava um canavial e, como área rural, não recolhia IPTU", diz Negri. Ele calcula que a Hyundai vai gerar cerca de R$ 60 milhões ao ano em impostos para o Estado e que 25% do montante ficará com os municípios.

Outro empreendimento inaugurado na cidade no início do mês é o escritório do Demarest & Almeida Advogados, que assessora várias das fabricantes de autopeças. "A proximidade vai facilitar o atendimento", afirma o diretor Mario Roberto Villanova Nogueira.

Os coreanos também querem aproximação maior com os piracicabanos. Um grupo de 60 estudantes esteve na cidade no mês passado e participou de programas sociais. Também no fim de janeiro, a Hyundai levou ao município o time de futebol patrocinado por ela, o Jeonbuk, para partida com o XV de Piracicaba. O jogo terminou em empate, 2 x 2.

Nova investida. Além dos novos negócios, empresas já consolidadas no País estão ampliando atuação. Na semana passada, em anúncio feito na Coreia, a LG Eletronics disse que construirá no Brasil sua primeira fábrica global de módulos de televisão.

O módulo é um importante componente para TVs com tela de cristal líquido (LCD, na sigla em inglês) e hoje a LG o adquire de terceiros. Depois do Brasil, o grupo também produzirá o item no México e na Polônia.

Segundo a LG, o objetivo é reduzir custos e tirar proveito de isenções tributárias locais. A empresa não divulgou investimentos e nem o local da produção. O grupo tem fábrica na Zona Franca de Manaus, que recebe benefícios fiscais e vai construir uma unidade em Paulínia (SP), em terreno doado pela Prefeitura. A LG promete abrir 4 mil vagas.

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Coreia já investe mais que a China no Brasil
Cleide Silva e Melina Costa - O Estado de S.Paulo

A participação da Coreia no ingresso de investimentos estrangeiros diretos no Brasil aumentou de 0,4% para 2% no ano passado, do total de US$ 52,6 bilhões recebidos pelo País, segundo dados do Banco Central. A China, outro país asiático que está de olho no mercado brasileiro teve participação de 0,7%, ante 0,3% em 2009.

O presidente da Sociedade Brasileira de Estudos das Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), Luiz Afonso Lima, lembra que a Coreia passa por amplo processo de internacionalização e certamente o País vai receber ainda mais aportes, principalmente no segmento de bens de consumo.

"Com a rápida internacionalização da Coreia, os investimentos já estão transbordando da Ásia para a América Latina", afirma Lima.

Em sua opinião, em termos qualitativos os investimentos coreanos são mais interessantes que os chineses pois "possibilitam maior transmissão de tecnologia". Os coreanos estão mais focados em produtos como veículos, Eletronics e maquinários. Os chineses apostam mais na extração mineral e atividades ligadas ao petróleo.

Doo Young Kim, diretor-geral da Kotra, a divisão comercial do Consulado da Coreia em São Paulo, confirma que tem "estado muito ocupado" nos últimos meses no atendimento de missões e empresários independentes interessados em se estabelecer no Brasil.

Ele lista investimentos recentemente confirmados, como o da LS Cable, que produzirá cabos especiais no Rio de Janeiro. "O pré-sal representa uma grande oportunidade para as empresas coreanas da indústria de construção naval, que é um destaque na Coreia", justifica.

Kim também cita a Samsung Heavy Industry - que tornou-se sócia do estaleiro Atlântico Sul -, a Dongkuk, que fez parceria com a Vale na área de aços especiais e a CJ Corp, que já tem uma fábrica de produtos para ração animal em Piracicaba e quer ampliar atuação em outros ramos.

"Os brasileiros também precisam olhar mais para a Coreia, que tem grande interesse no carro verde e no etanol", sugere o diretor geral da Kotra.

Ele ressalta que a pergunta que mais ouve de empresas coreanas é: "Como consigo financiamento?". Em sua visão, "esse é o maior desafio para os investidores, pois as taxas de juros dos bancos no Brasil são bem mais altas que na Coreia.

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De Jaraguá do Sul para Hosur, na Índia
Raquel Landim - O Estado de S.Paulo

Depois de uma aposta frustrada na China, WEG inaugura nova fábrica na Ásia

O trânsito em Bangalore, norte da Índia, é tão caótico que alguns brasileiros expatriados pela WEG simplesmente não conseguem dirigir. A empresa alugou carros e contratou motoristas para deixar à disposição dos funcionários. Também conseguiu uma nutricionista para orientar os cozinheiros indianos a não colocar tanta pimenta na comida dos brasileiros.

São pequenos transtornos do dia a dia que ilustram as grandes barreiras culturais que a maior fabricante de motores elétricos da América Latina enfrenta para instalar uma fábrica na Índia. A unidade, que será inaugurada no próximo sábado, um dia considerado "auspicioso" pelos indianos, está localizada em Hosur, a 38 quilômetros de Bangalore.

Embora não seja um investimento tão grande (US$ 60 milhões), a chegada na Índia é um passo crucial na trajetória da empresa sediada em Jaraguá do Sul (SC). Depois de uma aposta até agora frustrada na China, a WEG parte para a conquista da Ásia. Segundo Décio da Silva, presidente do conselho de administração, a empresa entrou na terceira fase da sua "vida" com dois focos estratégicos: crescer no mercado asiático e vencer no segmento de energia renovável.

"A Ásia é um mundo novo. Foi necessário um aprendizado maior do que em outras regiões. Mas agora vai começar a aparecer o resultado do que aprendemos", acredita Harry Schmelzer Jr., presidente-executivo da WEG. Ele conta que, mesmo sem uma unidade local, já vende na Índia, por meio de exportações, mais do que na China.

A WEG desembarcou na China no fim de 2004, quando adquiriu do grupo Weifu uma fábrica na cidade de Nantong, a 250 quilômetros de Xangai. Com essa tacada, a multinacional brasileira entrou no maior mercado do mundo. As metas eram ambiciosas, mas os planos não saíram exatamente como o previsto.

Em cinco anos, a diretoria da filial chinesa foi trocada três vezes. O faturamento não decolou e parte da produção está sendo exportada para outros países, porque é difícil entrar no protegido mercado local. O choque cultural também foi grande. A empresa adquirida tinha uma administração quase estatal e valorizava excessivamente o "guanxi" - palavra em mandarim para rede de relacionamentos.

A China continua sendo um foco importante da estratégia da WEG, mas, na Índia, tudo está sendo feito diferente. Em vez de partir para uma aquisição, a empresa preferiu construir uma fábrica do zero. Desde o início das operações comerciais, em 2005, o diretor-geral é o mesmo: Satyajit Chattopadhyay. O nome impronunciável lhe rendeu o carinhoso apelido de "Chato".

Os produtos também são diferentes. Na China, são fabricados motores de baixa tensão, de menor valor agregado, usados em eletrodomésticos. Na Índia, a empresa vai produzir geradores e turbinas de média e alta tensão, usados em pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) e nas obras de transposição de rios. A Índia tem um problema gravíssimo de escassez de água.

Cinquentona. A WEG chega ao mercado indiano cinquentona. Fundada em 1961, surgiu num galpão alugado por um eletricista (Werner Voigt), um administrador (Eggon João da Silva) e um mecânico (Geraldo Werninghaus). Cada um investiu 1,2 milhão de cruzeiros, o suficiente na época para comprar um Fusca novo. WEG são suas iniciais.

Eles comandaram a empresa por 30 anos, ganhando posições no mercado doméstico e desenvolvendo tecnologia própria. Em 1970, iniciaram as exportações. O filho de Eggon, Décio da Silva, assumiu a presidência em 1989 e, durante os 18 anos de sua administração, a WEG multiplicou por seis o seu tamanho.

A empresa fatura hoje R$ 5 bilhões e emprega 22 mil pessoas. A cada ano, fabrica 10 milhões de motores e consome 185 mil toneladas de chapa de aço. Silva iniciou ainda um agressivo processo de internacionalização. Além das nove unidades no Brasil, a WEG possui fábricas em cinco países, incluindo Índia.

No início de 2008, Silva deixou a presidência, pegando de surpresa o mercado e até os próprios colaboradores. Nem mesmo os nomes cotados para o cargo sabiam da mudança, que foi feita por headhunters. Ele passou o bastão para Harry Schmelzer Jr. Na WEG desde 1980, é o primeiro presidente que não é acionista. Mas os laços familiares não foram totalmente rompidos. Ele é filho de um primo de Voigt, um dos fundadores.

Crise. Vencer na Ásia não é apenas uma estratégia inteligente da WEG. Dependendo do desenrolar da crise global, pode ser uma questão de sobrevivência. Hoje, os países asiáticos absorvem apenas 7% das vendas da empresa. " Levar sua internacionalização para os mercados mais dinâmicos da Ásia é muito positivo. A WEG possui uma exposição relativa importante na Europa, que ainda patina por causa da crise", disse Artur Delorme, analista do setor de bens de capital da Ativa Corretora.

A crise global foi um golpe duro para a WEG. A empresa, que não demitia por corte de custos desde 1982, dispensou funcionários. Depois de duas décadas crescendo mais de 20% ao ano, amargou queda de 6,6% na receita em 2009. Os resultados de 2010 ainda não foram divulgados, mas a previsão é de estabilidade ou leve queda.

A expectativa da diretoria é que 2011 seja o ano da recuperação. No futuro, a empresa quer voltar a crescer num ritmo de dois dígitos. Mas, para isso, precisa seguir com a internacionalização. "A WEG vai exportar menos e fabricar mais lá fora", conta Schmelzer. O real forte é um dos motivos: prejudica a rentabilidade das exportações, torna mais baratos os ativos no exterior e aumenta a concorrência no mercado local. Se continuar nesse ritmo, a conquista do mercado asiático está apenas no início

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Melhora global ofusca brilho do Brasil
Leandro Modé, de O Estado de S.Paulo

Cenário favorável de países ricos começa a tirar investidores do País, um dos mercados preferidos por financistas mundiais atualmente

SÃO PAULO - Queridinho dos investidores internacionais nos últimos tempos, o Brasil tem seu posto ameaçado por países desenvolvidos - aqueles que sofreram muito mais com a crise. Desde o início do ano, mercados emergentes como o brasileiro perdem dinheiro para os chamados mercados maduros. Motivo: a melhora das perspectivas de crescimento para países como Estados Unidos e Alemanha, e a provável alta dos juros na zona do Euro e na Inglaterra ainda em 2011.

Mas não é só isso. O risco de superaquecimento em economias como a brasileira e a chinesa, as altas dos juros para conter a inflação nessas e em outras nações em desenvolvimento, a crise no Egito e incertezas em relação ao novo governo brasileiro deixaram investidores com o pé atrás. "As virtudes brasileiras foram exageradamente elogiadas nos últimos anos e as limitações do País foram pouco enxergadas", afirma Paulo Bilyk, sócio da Rio Bravo Investimentos.

Nem todos os analistas são tão ácidos. "O que está havendo é um rebalanceamento (dos investimentos) no mundo, mas nada trágico", pondera o diretor do banco de investimentos do Credit Suisse no Brasil, José Olympio Pereira. Um dos principais executivos do País na área de abertura de capital (IPOs, na sigla em inglês), ele lembra que, apesar do cenário mais nublado, janeiro teve o maior volume de IPOs para o mês desde 2007.

"Pode ser que, no curto prazo, a tendência de migração para desenvolvidos seja dominante. Mas, considerando que os fundamentos de médio e longo prazo dos emergentes são melhores, a situação pode se inverter", completa o diretor de Estratégia para América Latina do Deutsche Bank, Frederick Searby.

Desempenho ruim. Do início do ano até quinta-feira, o Índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa) apresentava um dos piores desempenhos do mundo. Em dólares, perdia pouco mais de 7%, à frente apenas dos mercados das Filipinas, da Tailândia, da Índia e do Chile. Na ponta oposta, encontravam-se indicadores de países desenvolvidos. O índice S&P 500, da Bolsa de Nova York, avançava pouco mais de 5%, porcentual semelhante ao da bolsa eletrônica americana Nasdaq.

Nos nove primeiros dias de fevereiro, o saldo de investimento estrangeiro na Bovespa estava negativo em R$ 1,4 bilhão. No ano, as saídas superavam as entradas em R$ 976 milhões.

Nas últimas quatro semanas, US$ 11,5 bilhões deixaram fundos de investimentos de países emergentes - do Brasil, saíram US$ 390 milhões e da China, US$ 1,4 bilhão. A maior parte da sangria ocorreu nos chamados fundos globais de emergentes, que mesclam ativos de todos os países inseridos nesse conceito.

No mesmo período, os países desenvolvidos acumularam entrada líquida de US$ 21,4 bilhões - os EUA lideram o movimento, com aportes US$ 14,3 bilhões superiores aos saques.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Investimento direto estrangeiro e remessas de lucros: paridade

Contas externas: Crise intensifica envio de recursos às matrizes, que desde 2008 já chegam a US$ 70 bilhões
Remessa de lucros cresce 38% e pode superar IED no ano
Fernando Travaglini, de Brasília
Valor Econômico, 14/07/2010
Mesmo com o mercado interno brasileiro crescendo a taxas chinesas, os investidores estrangeiros não estão reinvestindo o rendimento do capital conseguido no país. As multinacionais ampliaram fortemente as remessas de lucros e dividendos para as matrizes nos últimos anos e, em 2010, esse movimento se intensificou. Até maio, já foram enviados US$ 10,8 bilhões, volume 38% superior ao mesmo período do ano passado.

Os países europeus, que agora sofrem com os efeitos da crise, foram os que mais ampliaram a repatriação. Os países baixos (Holanda) estão no topo da lista do BC, seguidos por Espanha, Estados Unidos, França e Reino Unido. Entre os setores que lideram as remessas estão telecomunicações, bancos e seguradoras, em serviços; e montadoras, metalurgia, químico e bebidas na indústria.

Já os investimentos estrangeiros diretos (IED), necessários tanto para ampliar a capacidade produtiva quanto para fechar as contas brasileiras em moeda estrangeira, somaram pouco mais de US$ 11 bilhões no ano, sem avanço em relação ao patamar atingido entre janeiro e maio de 2009. Mantido esse ritmo, há chances de que as remessas de lucros e dividendos superem o total de recursos diretamente aplicados nas companhias por estrangeiros, algo que não ocorre desde 1994.

No ano passado, os volumes já foram bastante próximos, na casa dos US$ 25 bilhões e a expectativa é que o desempenho seja semelhante em 2010.

O Banco Central estima que os ganhos remetidos cheguem a US$ 32 bilhões neste ano, crescimento de 27% em 12 meses e inferior apenas ao recorde de 2008, auge da crise, quando foi a US$ 33,8 bilhões. Já os economistas e analistas que respondem semanalmente ao boletim Focus vêm reduzindo as projeções para a entrada de recursos via IED. No início do ano, a previsão estava em US$ 38 bilhões. Nesta semana, caiu para US$ 34,65 bilhões, no acumulado de 2010.

A repatriação dos ganhos é consequência direta do grande fluxo de recursos para o país nos últimos quinze anos, desde o início da estabilização financeira. Entre 1995 e 2002, o IED somou mais de US$ 160 bilhões. Essas aplicações, muitas delas já maturadas, precisam dar retorno.

De acordo com dados do BC, a aceleração das remessas teve início em 2004, quando pularam de uma média anual de US$ 5 bilhões para US$ 7,3 bilhões, subindo no ano seguinte para US$ 12,7 bilhões. "Era de se esperar que com o bom desempenho da economia os investimentos fossem pagos", afirma Tatiana Pinheiro, economista do Banco Santander. "A tendência é de aumento."

A situação, portanto, não é sazonal, sendo resultado de uma política de atração de recursos. A crise, no entanto, contribuiu fortemente para uma aceleração nos últimos dois anos. Desde 2008, quando as turbulências internacionais se agravaram, as empresas já enviaram US$ 70 bilhões para o exterior, ritmo quase três vezes superior à média dos últimos anos. "Há um diferencial de crescimento entre o Brasil e outros países e é normal que haja mais remessas", afirma Luis Otavio de Souza Leal, economista-chefe do Banco ABC Brasil.

Para o economista Edgard Pereira, antigo responsável pela área econômica do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), esse é um indício de que as empresas não estão reinvestindo seus lucros no país e pode apontar que o interesse das multinacionais seja menos produtivo e mais financeiro. "É uma indicação de que os investidores estrangeiros não têm o país como foco de investimento direto nesse período recente e a crise só agravou essa situação", afirma Pereira.

Segundo ele, os países em desenvolvimento deveriam receber mais do que mandam de volta na forma de rendimento, já que o mercado de capitais ainda não tem uma tradição que permita à busca de recursos de forma sustentável e em volumes significativos. "A acumulação interna dos recursos das empresas estrangeiras é necessária, mas ainda não vemos comprometimento de longo prazo à medida que crescem as remessas", diz.

A dependência do financiamento externo decorre da baixa capacidade de poupança do país e da necessidade de um crescimento econômico baseado em investimento para reduzir pressões inflacionárias. "Com a poupança das famílias estável e dado que não tem ajuste na poupança do governo, a tendência é de piora", diz Souza Leal.

Essa é apenas uma das causas do aumento do déficit em transações correntes, que acumula saldo negativo de US$ 18,75 bilhões até maio (2,35% do PIB). Contribuem para o rombo os maiores gastos com fretes e aluguéis de máquinas e equipamentos, além das viagens internacionais. A maior contribuição, no entanto, continua sendo a queda de vigor das exportações e o aumento das importações, aponta a economista do Santander, Tatiana Pinheiro.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

2037) A arte de "desatrair" investimentos estrangeiros...

Bem, o neologismo se justifica, posto que ao mesmo tempo em que pretende atrair investimentos estrangeiros, já que seu país não possui expertise técnica ou capitais para explorar os recursos naturais e outras dotações econômicas do Equador, o presidente Correa emite sinais contraditórios, como revelado nesta informação:

O Equador solicitará a nulidade da sentença arbitral da Corte Permanente de Abritragem da Haia que obriga o Equador a pagar US$ 700 milhões à Chevron e anunciou que enviará carta aos demais membros da Unasul, solicitando apoio à causa equatoriana.
Além da Chevron, que move 2 processos contra o Equador, nove outras empresas estão processando o Estado equatoriano: Global Net, Ulysseas, Occidental, Murphy, Burlington, Repsol, Perenco, Vatadur e Quiport.


Isso faz um bocado de problemas para quem pretende desenvolver o país, criar empregos e riqueza. Creio que Chávez aprovaria os procedimentos de seu colega e amigo do Equador, mas talvez os capitalistas estrangeiros não tenham a mesma opinião...

Paulo Roberto de Almeida

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

1436) O ministro volatil e a especulacao nacional

O Ministro Mantega e o IOF sobre os capitais especulativos estrangeiros (oh, que horror!)
(eu comento a nota que segue mais abaixo, PRA)

O ministro Mantega me parece alguém bizarro, como uma pessoa que acaba de desembarcar de Vênus, de Marte, ou quem sabe até de Plutão, e ainda não percebeu que vivemos todos num único planeta, com regras que são basicamente globais, ou que pelo menos deveriam ser (salvo decreto divino).
Mas, o Brasil, parece, continua a ser o país da jabuticaba, do peru à brasileira, das coisas, enfim, feitas do nosso jeito (ou do jeito dele), sem que se perceba que as regras devem valer para todos, sem distinção.
O ministro Mantega decretou que quem faz especulação no Brasil é estrangeiro. Pior? capitalistas perversos, desembarcados de alguma nave alienígena, que vêm sugar os nossos recursos, drenar os nossos capitais, fazendo, oh, que horror!, especulações em bolsa das mais desenfreadas, entrando e saindo dos mercados de capitais com a desenvoltura de bailarinas numa peça de Tchaikowski.
Ele quer reservar a capacidade de fazer especulações apenas aos brasileiros, aos bondosos capitalistas brasileiros, que aqui residem, e que podem assim entrar e sair das bolsas, sem precisar desembarcar de naves alienígenas, com toda essa sofreguidão especulativa de que apenas os capitalistas estrangeiros são capazes.
O ministro Mantega ainda não percebeu que quem faz especulação é o próprio governo, ao mudar as regras do dia para a noite, depois voltar atrás, hesitar mais um pouco, mudar de idéia, enfim, especular com a nossa infinita paciência de ficar assistindo ao governo fazer uma bobagem atrás da outra e dizer, oh céus, quanta bondade!, que ele está protegendo o Brasil da sanha especulativa dos capitalistas estrangeiros.
O ministro Mantega ainda não percebeu que quem é volátil é especialmente o governo, e seu bando de tecnocratas amestrados nas artes de um keynesianismo vulgar, que ficam babando de raiva ao ver tanto capital estrangeiro entrar impunemente no nosso augusto país, e que ficam esperando a melhor oportunidade para se vingar desses capitalistas manhosos, de fala estrangeira, e zás, lhes aplicar um bom IOF, para que eles aprendam, de uma vez, que especulação é um jogo reservado unicamente aos brasileiros, de preferência ao próprio governo brasileiro.
O ministro Mantega e seus meninos amestrados ainda não aprenderam que existe um princípio básico nas relações econômicas internacionais que se chama tratamento nacional, que recomenda -- mas isso é apenas para os mais crentes, claro -- que se trate de igual forma os estrangeiros e os nacionais, na suposição de que ambos sabem especular por igual, em todo caso, bem menos e com menor competência do que o próprio governo.
O ministro Mantega e seus meninos amestrados ainda não aprenderam que a especulação e a volatilidade são oferecidas assim, de graça, aos capitalistas estrangeiros e brasileiros pelo próprio governo, asi no más, pelo simples fato de que é o governo quem fixa as taxas de juros, quem determina as demais condições dos mercados de crédito (dominados em mais de 60% por entidades públicas, aliás, usando os nossos recursos, FAT e tudo o mais), que é o governo quem fixa as regras das aplicações financeiras que podem e não podem ser feitas, enfim, o governo pode tudo, inclusive especular com o seu, o meu, o nosso dinheiro (como no pré-sal, como nas "mamonas assassinas" do biodiesel, como na bolha imobiliária que ele está construindo agora mesmo com o seu magnifico programa "Minha Casa Minha Vida", tão eficiente quanto o PAC), o governo é quem faz as melhores e as piores especulações privadas, públicas e outras menos conhecidas (sobretudo no orçamento congressual).
O ministro Mantega, por fim, quer proteger os capitalistas especuladores (não os nacionais, apenas os estrangeiros) de todos os riscos que eles poderiam incorrer, apostando o seu (deles) dinheiro na nossa bolsa. Vejam como ele é magnânimo: ele quer evitar que eles ganhem muito dinheiro às nossas custas, esquecendo que eles também podem perder, especulando na bolsa. Mas isso ele quer evitar, quanta bondade.
Ele quer que apenas brasileiros especulem contra o Brasil, o que, convenhamos, é uma nova espécie de reserva de mercado, digna de alguma teoria da jabuticaba (como estou elaborando uma, vou incorporar essa contribuição genial do ministro Mantega).
Enfim, o ministro Mantega é também previdente: ele quer taxar logo na entrada, e mesmo que o capitalista estrangeiro especule mal, e perca dinheiro, ele ainda assim terá de deixar 2% por cento por aqui, apenas pela permissão magnânima que lhe é dada de especular. Quanta sapiência...

Sim, quase esqueço de dizer. Tudo isso é para evitar que o real se valorize demais e o dólar deprecie. Se posso fazer uma aposta com (ou uma especulação contra) o Ministro Mantega, eu diria que isso não vai acontecer. Posso apostar um dólar furado como o real vai continuar se valorizando, mesmo com 2, 3 ou 5% de taxação.
Enfim, se me permito fazer uma sugestão para contrarrestar essa tendência: que tal se o BC deixasse de acumular absurdas reservas, notoriamente exageradas (a um custo fiscal inaceitavel, posto que se trata de dívida pública e de custo-oportunidade) e que tal se a Fazenda liberalizasse um pouco mais o comércio exterior (especialmente o de importação), para que o mercado enxugasse naturalmente os dólares em excesso?
Trata-se apenas de uma sugestão especulativa, claro...
Paulo Roberto de Almeida
22.10.209


(Ver este editorial do Estado de S. Paulo, de 23.10.2209, neste link)

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Mantega: IOF na entrada barra capital especulativo
Boletim da Liderança do PT na Câmara dos Deputados, 22.10.2009

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou ontem na Câmara que a cobrança de 2% de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) nas aplicações estrangeiras em ações e renda fixa não irá reduzir investimentos para as empresas, mas cumprirá o objetivo de barrar a entrada do capital especulativo no país. Mantega destacou que o governo está disposto a discutir a tributação com os setores interessados e disse acreditar numa repercussão positiva da medida.

“Nós acabamos de lançar a medida e temos de observar sua repercussão. Acredito que será positiva, mas isso não impede que a gente possa pensar em medidas complementares, adicionais. Estamos abertos a todas as propostas. Eu não podia dialogar com os setores porque não podia revelar essa medida com antecedência. Agora irei discutir com todos os setores que quiserem fazer isso”, afirmou.

Mantega disse ainda que não acredita que haja uma diminuição da abertura de capital por conta do novo IOF. “Quando se faz uma subscrição numa ação de uma empresa, a preocupação não é com o ganho financeiro, mas com a rentabilidade da empresa, o dividendo que a ação vai render. Ou seja, está-se apostando na produção e isso não foi afetado pela medida”.

O ministro disse ainda que a taxação de 2% na entrada e não na saída do capital é mais favorável. “É mais fácil tributar na entrada, porque o governo tem esse dado preciso, porque quando entra o capital de fora ele tem de fazer o câmbio, tem de traduzir de dólar ou de euros em reais, e é nesse momento em que se faz a tributação, na saída é mais complicado”, disse.