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segunda-feira, 23 de outubro de 2023

Sobre o significado histórico do atual momento - Joe Biden, Paulo Roberto de Almeida, Anton Gerashchenko

De manhã bem cedo, ao ler um resumo do mais recente pronunciamento público do presidente Joe Biden, eu postei no FB a seguinte observação: 

"Seria justo equiparar a guerra de agressão de Putin contra a Ucrânia aos atentados terroristas do Hamas contra Israel? Biden tem razão em colocar ambos fatos no mesmo plano?

A História estaria mesmo em um de seus momentos decisivos?
"Biden argued that the world was at yet another “inflection point in history,” with the decisions made by global leaders now likely “to determine the future for decades to come.”
Biden por acaso tem razão?
Ucrânia e Gaza na balança?
Qual o significado de um e outro evento?
A retaliação de Israel contra a população civil seria justificável como resposta no plano moral?
Considerações para "filósofos" da História, ou até mesmo historiadores curiosos..."
(Segunda-feira, 23 de outubro de 2023, 7:50hs: 1 h )

Mais tarde, leio na versão estendida do X, a atual feição do antigo Twitter, os seguintes argumentos para reflexão continuada sobre nosso atual momento decisivo na História:

Anton Gerashchenko

Putin has set off a global chain reaction of violence and war. The world is beginning to realize that it will not be possible to "wait it out" until better times, because it is the waiting and prolongation of wars that delays peace and "better times". Moreover, the situation of waiting and unpunished evil worsens the situation around the world. In Ukraine, we have realized a long time ago that we will not return to the state of "before February 24, 2022". And this is not just about Ukraine. It's about the whole world. Now the world is beginning to realize that global, tectonic changes are taking place. A return to the pre-war status quo is impossible. The future of the world in the coming millennia is being decided right now. However, there is no clear understanding of what comes next. If not "as before," then how? What should be the model of the future system? What values will be fundamental? What and who will provide guarantees? We see that emotions prevail now, boosted by social media, which in recent years have become the main source of information and a call to action. Emotions also prevail now because a new cycle of electoral elections in Europe and the United States is approaching, and voters are used to talking to them not in the language of facts but in the language of emotions. Russia is more monolithic here, because Putin has been in power for decades and does not care about domestic voters. He controls the media, social networks, and not only in Russia. Information wars are waged through anonymous accounts that are trusted by readers who are not interested in facts, reputation, or expertise. This is maximized by propaganda, which allocates huge amounts of money to manipulate and distort reality. Manipulated, distorted, unverified, anonymous and irresponsibly disseminated information can be more dangerous than nuclear weapons. We don't go to doctors on an emotional and impulsive basis. We carefully choose the best expert. A professional who has a real long-term reputation. Unfortunately, this is not the case with information. Therefore, the basis of our decisions should be a critical mind. Critical doubt. Common sense. Information hygiene. These times are a test of modern democracy. It is a test of people's maturity and values. It is a test of opinion leaders and politicians. How will this crisis end? Will autocracies and tyrannies win? What will the world look like in the future? Whether we want it or not, it depends on us, among other things. It depends on our actions and our choices. Right here and right now.

quinta-feira, 30 de março de 2023

Brasil se distancia de Declaração sobre democracia para amenizar a acusação comtra a Rússia - Janaina Figueiredo (O Globo)

 Por divergências sobre Rússia, Brasil não assinará declaração da Cúpula pela Democracia de Biden

Fontes do governo Lula confirmaram que a razão principal é o foco dado à guerra na Ucrânia e defesa que ONU é melhor local para debater tema

Por Janaína Figueiredo — Buenos Aires
O Globo, 30/03/2023 12h30

O governo brasileiro decidiu não aderir à declaração final da Cúpula pela Democracia, evento promovido pelo governo americano pelo terceiro ano seguido e que se encerra nesta quinta-feira. Segundo confirmaram fontes diplomáticas, o governo Lula não concorda com o foco dado à guerra na Ucrânia e com a "utilização" da cúpula para condenar a Rússia.

Para o Brasil, o âmbito para tratar do conflito são as Nações Unidas, tanto a Assembleia Geral como o Conselho de Segurança, nos quais o país ocupa atualmente uma vaga rotativa. Em carta enviada aos organizadores da cúpula em Washington, à qual O GLOBO teve acesso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirma que "atravessamos um momento de ameaça de uma nova guerra fria e da inevitabilidade de um conflito armado. Todos sabem os custos que a primeira guerra teve em gastos com armas em detrimento de investimentos sociais. A bandeira da defesa da democracia não pode ser utilizada para erguer muros nem criar divisões. Defender a democracia é lutar pela paz. O diálogo político é o melhor caminho para a construção de consensos”.

Lula não gravou um vídeo pelo quadro de pneumonia, e, anteriormente, informaram que não poderia participar virtualmente, como a grande maioria dos chefes de Estado, porque a data coincidia com a viagem à China.

Já a declaração final da cúpula lamenta "as consequências humanitárias da agressão da Federação Russa contra a Ucrânia, incluindo os ataques contínuos contra infra-estrutura crítica em toda a Ucrânia com consequências devastadoras para os civis, e expressamos nossa grande preocupação com o alto número de vítimas civis, incluindo mulheres e crianças, o número de deslocados internos e refugiados que precisam de ajuda humanitária assistência e violações e abusos cometidos contra crianças. Estamos profundamente preocupados com o impacto adverso da guerra na segurança alimentar global, energia, segurança e proteção nuclear e o ambiente".

Num trecho destinado diretamente ao presidente russo, Vladimir Putin, a declaração diz apoiar "fortemente a responsabilização pelos crimes mais graves sob o direito internacional cometidos no território da Ucrânia através de investigações apropriadas, justas e independentes e processos penais em nível nacional ou internacional, e garantir justiça para todas as vítimas e prevenção de crimes futuros".

Outros países, como a Índia, sócio do Brasil e da Rússia nos Brics (grupo também integrado por China e África do Sul), vão assinar a declaração, mas fazendo uma reserva sobre os pontos em que se menciona a guerra na Ucrânia. Apesar das pressões de americanos e europeus, o Brasil, afirmaram fontes diplomáticas, mantém sua decisão e sua tradição histórica de sustentar suas posições no direito internacional e, neste caso, na Carta das Nações Unidas.

Na ONU, o Brasil condenou o ataque da Rússia à Ucrânia, que violou o princípio da integridade territorial. Mas, também na ONU, o governo brasileiro se opôs a medidas unilaterais, como sanções e envios de armas à Ucrânia, pois considera que este tipo de decisões deve ser adotada por votação no Conselho de Segurança, do qual Rússia faz parte. O Brasil também foi contra a expulsão da Rússia de organismos internacionais como a Organização Internacional do Trabalho (OIT), entre outros, promovida por americanos e europeus.

Esta semana, os aliados do governo de Volodymyr Zelensky se irritaram pela decisão do Brasil de apoiar uma proposta da Rússia no Conselho de Segurança, na qual era defendida a abertura de uma investigação sobre a explosão, em setembro do ano passado, nos oleodutos Nord Stream 1 e 2, no Mar Báltico, construídos para transportar gás russo para a Europa. A proposta foi apoiada apenas por Rússia, China e Brasil, e outros 12 países se abstiveram. Segundo fontes brasileiras, o texto apresentado pela Rússia pedida apenas a abertura de uma investigação no âmbito da ONU, algo que o Brasil não teria por que não respaldar. Outras investigações estão sendo realizadas por países de forma individual, mas o governo de Vladimir Putin pede uma apuração que possa ser considerada imparcial.

Em sua participação na cúpula, Zelensky assegurou que “deveríamos nos desfazer da ilusão de que nos associar-mos ao mal pode trazer algo de liberdade”.

— Os inimigos da democracia devem perder, e somente isso pode ser a verdadeira base da segurança da democracia — disse o presidente ucraniano.

Na mesma carta enviada ao governo americano, Lula diz que "as instituições democráticas precisam ser capazes de resistir a atentados violentos, a campanhas de desinformação e a discursos de ódio, que frequentemente se valem das redes sociais. Estamos diante de um desafio civilizatório, da mesma forma que a superação das guerras, da crise climática, da fome e da desigualdade no planeta”.

A Cúpula liderada por Biden gera controvérsias, entre outros motivos, por excluir países da região, entre eles Venezuela, Nicarágua e Cuba, e temas considerados importantes pelo Brasil, como a situação da Palestina. O presidente americano prometeu um fundo de US$ 690 milhões para promover a democracia no mundo, e afirmou que “a História mundial está diante de um ponto de inflexão, no qual as decisões que forem tomadas afetarão as décadas seguintes”.

Procurado no fim da manhã desta quinta-feira, o Itamaraty não respondeu oficialmente aos questionamentos do GLOBO até o momento.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023

Joe Biden, State of the Union: déjà vu all over again - Stephen Collinson, Caitlin Hu and Shelby Rose (CNN)

 

terça-feira, 29 de novembro de 2022

Biden e Lula trocaram juras de grande amizade nos próximos anos - Ricardo Noblat (Metrópoles)

O segredo que a cúpula do PT guarda a sete chaves

Quem poderá vir para a posse de Lula em janeiro

Ricardo Noblat
Metrópoles, 28/11/2022

Em 1964, o presidente dos Estados Unidos Lyndon Johnson autorizou o envio de força militar para, se necessário, garantir o sucesso do golpe do fim de março que derrubaria o presidente João Goulart e implantaria uma ditadura no Brasil.

A Operação Brother Sam consistiu no deslocamento da frota da Marinha norte-americana estacionada na região do Caribe para o litoral brasileiro. O apoio fora pedido pelo embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Lincoln Gordon, ligado aos golpistas.

O porta-aviões USS Forrestal partiu da Virgínia, bem como seis destróieres e quatro navios petroleiros. A viagem acabou abortada no meio do caminho, porque o golpe militar foi antecipado e não houve resistência. Não se disparou um único tiro.

No ano passado, pelo menos três emissários do presidente Joe Biden reuniram-se com autoridades civis e militares do governo Jair Bolsonaro para alertar que os Estados Unidos, desta vez, seriam contrários a qualquer tentativa de golpe.

O que eles apenas insinuaram, mas não disseram, uma vez que faltava mais de um ano para as eleições que ainda poderiam culminar com a vitória de Bolsonaro: se houvesse golpe, os Estados Unidos romperiam relações diplomáticas com o Brasil.

Não houve. Bolsonaro perdeu e Lula ganhou. E, no alto comando do PT, guarda-se a sete chaves a informação de que Biden foi convidado informalmente por Lula para vir à sua posse em 1º de janeiro. E que está estudando a possibilidade de vir.

Como vice do presidente Barack Obama, Biden visitou o Brasil duas vezes durante o governo Dilma – a primeira em maio de 2013, a segunda em junho de 2014. O que disse, na primeira visita, soou como elogio nos ouvidos do PT:

“O Brasil mostrou que não é preciso escolher entre a democracia e o desenvolvimento. Os brasileiros mostraram que política econômica e desenvolvimento social podem andar juntos”.

Biden foi o primeiro chefe de Estado que telefonou para Lula, na noite de 30 de outubro, parabenizando-o pela vitória. (Bolsonaro foi um dos últimos a parabenizar Biden por sua eleição.) Em nota distribuída à imprensa naquela mesma noite, Biden escreveu:

“Parabéns a Luiz Inácio Lula da Silva por ser eleito o próximo presidente do Brasil após um processo eleitoral livre, justo e confiável. Espero trabalharmos juntos para continuar a cooperação entre nossos países nos próximos meses e anos”.

Dois anos antes, Biden celebrou sua vitória sobre Donald Trump que tentava se reeleger “como um triunfo da democracia” nos Estados Unidos. Agora, vê a de Lula como o triunfo da democracia no Brasil ameaçada por Bolsonaro nos últimos quatro anos.

Em junho do ano passado, Biden e Bolsonaro se encontraram pela primeira e única vez. Foi em Los Angeles, durante a Cúpula das Américas, encontro que reuniu chefes de Estado e de governo da região. Na ocasião, Bolsonaro pediu ajuda para se reeleger.

Disse que os planos de Lula para governar iam contra os interesses americanos, e que os dele, a favor. Biden não respondeu, preferindo mudar de assunto. No dia seguinte, a Casa Branca deixou a informação vazar.

 

sexta-feira, 29 de abril de 2022

Governo Biden recebe dossiê de acadêmicos com alerta de 'versão mais extrema de ataque ao Capitólio' no Brasil - Mariana Sanches (BBC Brasil)

 Alguém ainda no mundo acredita no Bozo? Os americanos certamente não, mas nem o Putin, ou o Orban: eles só fingem que são amigos; no fundo devem rir do trapalhão...


Mariana Sanches - @mariana_sanches
Da BBC News Brasil em Washington, 29/04/2022

A pouco mais de cinco meses das eleições no Brasil - e sem ter um embaixador americano no país -, membros do alto escalão do governo Joe Biden e do Congresso dos Estados Unidos receberam nesta semana um dossiê em que diversos acadêmicos e instituições da sociedade civil no Brasil e nos EUA pedem aos americanos que se mantenham vigilantes sobre o pleito de 2022 e priorizem as liberdades individuais e a democracia em sua relação diplomática com o país, acima de interesses geopolíticos e comerciais.

"Bolsonaro está criando condições para um ambiente eleitoral muito instável e, se perder, o mundo deve lembrar o ataque de 6 de janeiro de 2021 ao Capitólio dos EUA e estar preparado para testemunhar uma versão provavelmente mais extrema disso no Brasil", afirma o documento de 25 páginas, ao qual a BBC News Brasil teve acesso.

O dossiê aponta semelhanças entre o comportamento de Bolsonaro e o do ex-presidente americano Donald Trump para chamar a atenção do governo dos EUA. "Reminiscente da retórica de Trump em 2020, Bolsonaro já disse que pode não aceitar os resultados da eleição de 2022, criando um terreno fértil para desinformação e atos extremistas", diz o documento.

Trump, por sua vez, acusou o sistema eleitoral americano de ser fraudulento antes mesmo que as eleições acontecessem e, depois de fechadas as urnas, moveu diversas ações judiciais contra sua derrota, tentou convencer os atores políticos a não chancelarem os resultados e conclamou seguidores a uma manifestação que terminou com a invasão ao Congresso americano, episódio em que cinco pessoas morreram.

O presidente brasileiro ecoou as acusações sem provas de Trump sobre fraude eleitoral nos EUA e retardou os cumprimentos oficiais ao sucessor do republicano, o democrata Biden.

No Brasil, Bolsonaro fez campanha pelo voto impresso e chegou a promover um desfile de tanques em Brasília enquanto o Congresso decidia sobre como aconteceria a votação no país em 2022. Esta semana, o presidente brasileiro mais uma vez repetiu que as urnas eletrônicas não são auditáveis e que pode haver "suspeição" no processo eleitoral.

Concorrendo à eleição, Bolsonaro aparece em segundo lugar nas sondagens eleitorais até o momento, atrás do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

"Bolsonaro não está preocupado com a integridade das eleições, e está tentando encontrar qualquer motivo para contestar os resultados - mesmo antes que a eleição ocorra", afirma o relatório entregue aos americanos.

O documento foi elaborado por professores da Universidade de Miami, Universidade Brown, Universidade da Virginia, Universidade da Cidade de Nova York (CUNY), entre outros, e compilado pelo Washington Brazil Office, com o apoio de organizações como o Greenpeace, a Associação Brasileira de Relações Internacionais (ABRI), a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), a Artigo 19, o Instituto Sou da Paz, entre outros.

O texto qualifica os discursos do presidente brasileiro no último dia 7 de setembro como "comícios pró-golpe". Na ocasião, Bolsonaro chegou a dizer que não mais cumpriria decisões judiciais de um dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes. O relatório diz ainda que "Bolsonaro mostrou ser uma ameaça à democracia brasileira" e que "as instituições jamais estiveram tão ameaçadas desde a redemocratização".

Ao mencionar como perfis bolsonaristas na web fizeram circular, em 2018, um vídeo falso que sugeria que a urna eletrônica convertia o voto em Bolsonaro para Fernando Haddad (PT), o dossiê menciona que a mensagem, originalmente postada por Flávio Bolsonaro, foi replicada por um velho conhecido dos democratas, o Youtuber Paul Joseph Watson, do site Infowars, um dos maiores disseminadores de notícias falsas nas eleições presidenciais americanas de 2016 e 2020 e um apoiador de Donald Trump.

"Seus constantes ataques (de Bolsonaro) às eleições devem levar governos internacionais a apoiar a democracia brasileira", afirma o documento, que menciona ainda o aumento nos índices de desmatamento na atual gestão e a conturbada relação do Executivo com minorias, como os povos indígenas.

'Tentam dar ar de legalidade às eleições com observadores internacionais'
O dossiê é distribuído à Casa Branca e a todos os congressistas dos EUA no mesmo momento em que o presidente Jair Bolsonaro volta a colocar em dúvida o processo eleitoral no Brasil. Em um evento no Palácio do Planalto nesta quarta (27/4), Bolsonaro sugeriu que o Exército deveria fazer uma dupla checagem do pleito, em outubro.

"Quando encerra eleições e os dados chegam pela internet, tem um cabo que alimenta a sala secreta do TSE. Dá para acreditar nisso? Sala secreta, onde meia dúzia de técnicos diz 'quem ganhou foi esse'. Uma sugestão é que neste mesmo duto seja feita uma ramificação, um pouco à direita, porque temos um computador também das Forças Armadas para contar os votos", afirmou o presidente. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) nega que exista uma sala secreta como a mencionada pelo presidente.

No último fim de semana, o ministro do STF e ex-presidente do TSE Luís Roberto Barroso disse em um evento de uma universidade alemã que "desde 1996 não tem um episódio de fraude no Brasil. Eleições totalmente limpas, seguras e auditáveis. E agora se vai pretender usar as Forças Armadas para atacar? Gentilmente convidadas a participar do processo (eleitoral), estão sendo orientadas para atacar o processo e tentar desacreditá-lo?"

A afirmação de Barroso foi alvo de uma nota do Ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, que a qualificou como uma "ofensa grave".

Em meio às tensões entre os poderes, em meados de abril, o TSE disparou pedidos a diversos órgãos internacionais para que sirvam de observadores do processo eleitoral no Brasil este ano. Entre os convidados, estão a União Europeia, a Organização dos Estados Americanos (OEA), o Carter Center, organização fundada pelo ex-presidente dos Estados Unidos Jimmy Carter, o Parlamento do Mercosul (Parlasul), a União Interamericana de Organismo Eleitorais (Uniore), a Fundação Internacional para Sistemas Eleitorais (IFES) e a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).

A presença de observadores eleitorais internacionais não é novidade. Ainda assim, o presidente Bolsonaro reagiu com irritação à iniciativa.

"O pessoal quer dar ar de legalidade (às eleições) convidando observadores internacionais. Imagine chegando aqui um americano, um japonês, um angolano, um sueco, vai fazer o quê? Vai ficar olhando, de longe, o cara apertar o botão e de repente à noite sai o resultado. Que observação é essa? Que legalidade é essa? Com que segurança ele pode dizer que aconteceram essas eleições?", questionou Bolsonaro, nesta quarta, em evento no Palácio do Planalto.

Os responsáveis pelo dossiê, no entanto, advogam que essa é a hora para que a audiência internacional e, especialmente, a americana, volte seus olhos para o Brasil. Segundo Paulo Abrão, ex-secretário Executivo da Comissão Interamericana de Direitos Humanos e um dos diretores do Washington Brazil Office, responsável pela elaboração do dossiê, alguns parlamentares americanos discutem a possibilidade de criar um grupo formal de "amigos do Brasil" para acompanhar o processo eleitoral.

"Estamos chamando a comunidade internacional para olhar para o Brasil ainda antes da eleição em si e acompanhar o processo. A voz dos EUA respaldando o resultado de uma eleição sempre é muito importante para definir os cenários na comunidade internacional", afirmou Abrão à BBC News Brasil.

Principais assessores
O dossiê foi remetido a Biden por meio de alguns de seus principais assessores, como o conselheiro de segurança nacional Jake Sullivan. A BBC News Brasil apurou que a equipe de Sullivan recebeu o conteúdo e deve avaliá-lo.

Outras autoridades do governo dos EUA às quais o documento foi enviado são o Enviado Climático, John Kerry; o assessor presidencial para América Latina Juan Gonzalez; e a diretora da agência USAID, Samantha Power.

Sullivan e González estiveram em visita ao Brasil em agosto do ano passado. Na ocasião, diante de críticas públicas de Bolsonaro ao sistema eleitoral brasileiro, Gonzalez fez comentários públicos sobre a democracia brasileira.

"Fomos muito diretos em expressar nossa confiança na capacidade de as instituições brasileiras conduzirem uma eleição livre e limpa e enfatizamos a importância de não ser minada a confiança no processo de eleições, especialmente porque não há indício de fraude nas eleições passadas", disse à época, Gonzalez, sobre o teor da conversa com Bolsonaro.

A BBC News Brasil apurou que circula entre os parlamentares democratas na Câmara dos Representantes dos EUA a possibilidade de uma "visita informativa" a Brasília de alguns congressistas na segunda quinzena de agosto, para acompanhar o processo eleitoral brasileiro. O engajamento do Congresso americano também será importante para aprovar o nome da indicada de Biden para a Embaixada dos EUA no Brasil, Elizabeth Bagley, antes de outubro, o que é visto como provável. Assim, os EUA teriam um observador do mais alto nível em território brasileiro permanentemente.

Esta semana, o Departamento de Estado dos EUA mandou uma delegação de alto nível para reuniões com o Itamaraty e outras autoridades brasileiras no país. Questionados em coletiva de imprensa sobre as eleições, as autoridades americanas reafirmaram que confiam na capacidade das instituições brasileiras de conduzir uma eleição condizente com as escolhas do povo brasileiro.

"A gestão Biden muito provavelmente não vai expressar apoio a nenhum dos candidatos. Mas no caso de uma crise envolvendo as eleições, espero que o atual governo americano apoie a democracia e os resultados democráticos. E até por isso é importante informar os congressistas americanos sobre o estado de coisas no Brasil, especialmente sobre o pleito, para que o legislativo consiga colocar pressão sobre o governo Biden para agir da maneira correta se houver mesmo uma crise nas eleições brasileiras", disse à BBC News Brasil Alexander Main, diretor de política internacional do think tank Center for Economic and Policy Research, em Washington D.C., e um dos diretores do Washington Brazil Office.

O governo de Joe Biden tem a defesa da democracia como uma de suas principais bandeiras globais e, em dezembro do ano passado, organizou um encontro com mais de cem países para discutir os desafios aos regimes democráticos ao redor do mundo. O Brasil foi um dos convidados.

https://www.bbc.com/portuguese/internacional-61267152

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

Ucrânia: a diplomacia do megafone de Joe Biden - Anthony Faiola (WP)

 O presidente Joe Biden parece um locutor de partida de futebol: todos os dias ele irradia os segredos mais sensíveis capturados pela Inteligência americana sobre os movimentos da tropas russas, de forma a que o Putin fique sabendo que todos os seus passos estão sendo cientificamente observados.

Não haverá nenhuma surpresa, assim, se a invasão se efetivar: tudo terá sido observado, previsto e ANUNCIADO pelo grande locutor de jogos de guerra Joe Biden. Talvez seja uma tática interessante...

Paulo Roberto de Almeida


Why the Biden administration is being so public about the Russian threat in Ukraine

President Biden at the White House on Feb. 7. (Al Drago/The New York Times/Bloomberg News/Bloomberg)

President Biden at the White House on Feb. 7. (Al Drago/The New York Times/Bloomberg News/Bloomberg)

The Biden administration’s warnings of a Russian invasion of Ukraine have taken on the feeling of the Weather Channel tracking a hurricane. Since U.S. officials first bannered the gathering strength of Russian President Vladimir Putin’s forces at the border more than three months ago, they’ve repeated the threat with escalating alarm. Last week, new U.S. assessments emerged that Russian combat firepower had reached 70 percent of the gale force needed for a full-scale Category 5 assault. The Russian storm, the United States concluded, could overwhelm Kyiv, Ukraine, within two days, leaving as many as 50,000 civilians dead or wounded.

Few things in geopolitical crises are more sensitive than intelligence. And yet, from the beginning of the Ukraine crisis, the Biden administration has been extraordinarily vocal about U.S. knowledge of Russian movements, tactics and planning. One analyst dubs it “Biden’s megaphone strategy.” Others say you need to go back years to find a similar crisis where a U.S. administration has shared this much information with this level of specificity this quickly.

“This is unprecedented, even going back to before my professional life,” said John E. Herbst, the U.S. ambassador to Ukraine between 2003 and 2006, told me. “Maybe you could compare it to the [1962] Cuban missile crisis … [or] the build up to war in Iraq.”

 

There can be strategic reasons for being tight-lipped. Too much detail can compromise intelligence assets and risk future access to information. But there’s another big reason for discretion. Intelligence gathering and processing is more art than science, a tapestry of secrets held together by analytical assumptions. Intelligence can be — and often is — spun, and can be — and often is — wrong. The textbook example: U.S. warnings of Saddam Hussein’s nonexistent weapons of mass destruction, which were both spun by the Bush administration, as well as wrong.

That doesn’t mean U.S. assessments are off now — or that the Russian bear won’t claw its way into Ukraine. In fact, so far, the sense of Herbst and others is that the administration has gotten this right.

The administration has also been increasingly clear about what it doesn’t know: Whether Putin has made the critical decision to actually invade. That finer point came into focus after an exasperated Ukrainian President Volodymyr Zelensky decried Washington’s breathless warnings for causing “panic.” Last week, the White House backtracked on using the word “imminent” to describe the prospect of a Russian attack.

Some argue the administration is erring on the side of caution because it is sensitive to its foreign policy failures over the past year, particularly the sense that the U.S. government defense apparatus completely miscalculated the speed of the Taliban takeover in Afghanistan, which led to a messy withdrawal and broad recriminations.

That doesn’t mean its warnings are being taken at face value. As it borders on oversharing — President Biden even said a “minor” Russian incursion would be tolerated in a gaffe that had the ring of candor — the administration is in a jam over the credibility of U.S. intelligence and the reliability of its disclosures.

 

That distrust went on full display last week, when the administration outlined a deep fake operation allegedly being weighed by the Russians as a pretext for invasion, and for which the Ukrainians would be falsely blamed. State Department spokesman Ned Price told reporters about the production of a Russian video with “graphic scenes of false explosions — depicting corpses, crisis actors pretending to be mourners and images of destroyed locations or military equipment — entirely fabricated by Russian intelligence.”

Tough questions from reporters ensued.

“Where is the declassified information?” Matthew Lee of the Associated Press asked.

“I just delivered it,” Price said.

“No, you made a series of allegations,” Lee responded.

“The exchanges were … a sign of increased skepticism of the Biden administration when it comes to intelligence and military matters, particularly after officials failed to anticipate how swiftly the Afghan government would fall to the Taliban last year and initially defended a U.S. missile attack in Kabul as a ‘righteous strike’ before the Pentagon confirmed the action had killed several civilians but no terrorists,” ruled Chris Megerian of the Associated Press.

But many observers say the administration is tactically smart to get out in front of any Russian operation in precisely the way it’s doing.

Overwhelming disclosure has enabled Washington to present a highly public case for a real and present danger, narrowing the daylight between the U.S. and European allies on decisions for high sanctions for Putin that could ultimately serve as a successful deterrent to invasion. Differences between allies on a coordinated response no doubt still exist — but even the reluctant Germans are beginning to talk tougher.

And if Putin had hoped for a stealth attack, he now has the eyes of the world watching.

“The Biden administration has waged a campaign of deterrence in what the Russians sometimes call the 'information space,’ ” wrote The Washington Post’s David Ignatius. “To mobilize allies, U.S. officials have shared sensitive intelligence about Russia’s moves; when they’ve detected Russian plots, they’ve disclosed them. These aggressive tactics have checked Russia’s usual advantages of surprise and stealth.”

“Radical transparency” may be the best way to deal with Putin’s dark tactics.

“Russia’s hybrid war is based on sowing confusion and disinformation,” Richard Gowan, an International Crisis Group analyst, told Spanish newspaper El Pais. “By adopting radical transparency, the U.S. is complicating Russia’s task of disseminating disinformation about its actions. The Russians have tried to ignore or dismiss the accusations, but they have also had to go on the defensive in public. And this extreme transparency also makes things easier for Washington when it comes to keeping NATO’s allies more or less united.”

Still, the decision to play this one anything but close to the vest harbors risks. For one, if it is a bluff, then calling Putin on it might trigger action he never intended. “This megaphone diplomacy could make it complicated for Putin to do nothing,” Gowan added. “Now it will be harder for him to back off without a certain sense of humiliation.”

Another risk: That Russian troop movements are simply a ruse to capture the West’s attention, ice Ukraine’s hopes of ever joining NATO, test the will of the United States and Europe, and force a dialogue over its claimed security concerns.

“What if this diplomatic show was exactly what Putin wanted out of his move?” wrote Foreign Policy columnist Caroline de Gruyter. “What if the West played into his hands by trying to deter him? What if the West actually fell into his carefully laid trap?”

If there is no invasion, the United States and Europe could still be dragged into a long, diplomatic morass over Ukraine’s future that will suck time and energy from other important global affairs.

But that’s still better than war, which the administration could claim to have headed off by calling Putin out — or at least say it tried if he does invade.

“The downside is not so high. If it doesn’t happen, everyone will be saying ‘Thank God it didn’t happen,’ ” Herbst said. “I actually believe it’s highly unlikely the Russians will do a major operation, and less than 50 percent of something minor. But I believe that is because the Biden administration has been solid on this.”