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terça-feira, 28 de junho de 2011

Uma aposta contra o supremo idiota: eu dobraria a aposta...

Busquem dois posts abaixo, o post do idiota supremo, este aqui:

O mundo e os idiotas, ou um idiota do tamanho do mundo...

Agora tenho o prazer de postar uma aposta contra ele. Confesso que não tive paciência, nem tempo de preparar uma resposta, mas eu me ofereceria para pagar em dobro ao idiota supremo se ele conseguisse vencer o desafio do Diogo Costa.
Fica aqui, ampliada a aposta...
Paulo Roberto de Almeida

Capitalismo Terminal? Uma aposta para Leonardo Boff
por Diogo Costa
Ordem Livre, 27 de Junho de 2011

Quero desafiar Leonardo Boff para uma aposta.

Em artigo recente, Leonardo Boff declara que “a crise atual do capitalismo é mais que conjuntural e estrutural. É terminal”

Boff lista dois motivos para sustentar tese, mas acaba oferecendo três explicações:

1. O uso dos recursos naturais chegou ao ponto de exaustão: “Ocupamos, depredando, todo o planeta, desfazendo seu sutil equilíbrio e exaurindo excessivamente seus bens e serviços a ponto de ele não conseguir, sozinho, repor o que lhes foi sequestrado”.

2. A tecnologia tornou o trabalho humano dispensável. Os níveis de desemprego atuais não abaixarão porque as pessoas não conseguirão ser mais produtivas do que as máquinas: “Milhões nunca mais vão ingressar no mundo do trabalho, sequer no exército de reserva”.

3. Os novos descontentes atingem um nível consciência social não visto no passado. Conforme exigências do mercado aumentaram a formação educacional dos trabalhadores, aumentou-se também sua capacidade de pensar criticamente: “Ao agravar-se a crise, crescerão as multidões, pelo mundo afora, que não aguentam mais as consequências da super-exploracão de suas vidas e da vida da Terra”.

Eu discordo das previsões de Leonardo Boff. Acho que sua análise combina wishful thinking socialista com incompreensão de teoria econômica e dos eventos correntes.

Sobre 1, entendo que recursos naturais são produto da inventividade humana, e não apenas um dado da natureza. O petróleo não era um recurso para os maias, mas passou a ser para os mexicanos. Fatores naturais pouco ou nada utilizados por uma geração acabam se tornando recursos para gerações futuras. Não há motivos para vermos nossa geração como exceção ao funcionamento da história tecnológica da humanidade. Se a produção de energia a partir de recursos fósseis se tornar excessivamente custosa no futuro, seu uso se reduzirá e novas tecnologias de energia serão desenvolvidas. Hoje utilizamos os recursos naturais de forma mais eficiente do que gerações passadas e continuaremos o percurso.

Sobre 2, Boff enxerga a tecnologia como o carrasco econômico que empobrece o proletário. A história econômica discorda. Apesar do reajuste do trabalho, a tecnologia melhora as condições dos trabalhadores de forma geral. Por causa da tecnologia, os trabalhadores do século XXI têm um nível de vida melhor do que os burgueses do século XIX. É verdade que nenhuma pessoa consegue tecer algodão mais rapidamente que uma máquia têxtil, nem montar carros com mais eficiência do que a indústria robótica. Mas as revoluções tecnológicas do passado não criaram uma massa crescente e permanente de desempregados. Em vez disso, novas profissões foram criadas. Desemprego estrutural sempre existiu no passado e vai continuar existindo no futuro. Mas a tecnologia não cria desemprego permanente e crescente. O talento e a capacidade humana sempre encontram novas formas de servir a sociedade e de aumentar o nível de vida geral.

Sobre 3, não se pode colocar todo o descontentamento político mundial na mesma categoria. Alguns grupos rebeldes são mesmo simpáticos a causa anticapitalista de Boff. Mas são os que lutam pela manutenção do status quo. Os jovens e velhos que saem às ruas de Atenas não lutam contra o sistema. Lutam pela preservação do sistema de privilégios do welfare state grego. Quem está em crise na Europa são os governos. Não foram os empreendedores que fizeram com que a Grécia acumulasse 44 mil dólares de dívida per capita com promessas e mais promessas de benefícios. Foram os políticos, com ideias de “conquistas sociais” que teriam até a aprovação do Leonardo Boff. Em contraste, os descontentes das economias fechadas do oriente médio estão mais dispostos a participar do liberalismo globalizado que os déspotas lhes negaram na prática e que Boff quer negá-los na teoria.

Em resumo, Boff entende que mais mercado levará a maior exploração e/ou desemprego das camadas menos favorecidas. Eu entendo que mais mercado levará a empregos melhores e mais bem pagos. Boff acredita na revolução do socialismo. Eu acredito no triunfo do liberalismo. Se eu estou certo, países que liberalizarem seus mercados terão mesas com mais comida, cabeças com mais conhecimento, e crianças com mais saúde. Se Boff estiver certo, ocorrerá o contrário.

Quem está certo? Felizmente, há uma forma para Leonardo Boff e eu testarmos nossa divergência. Podemos fazer uma aposta. Vamos examinar, dentro de 10 anos, o que irá ocorrer com os países que mais liberalizarem suas economias. Então saberemos se a população mais pobre estará ainda mais pobre, como prevê Boff, ou se estará mais rica, como eu prevejo.

Nossa aposta pode ser decidida da seguinte forma: indentificamos os dez países que mais liberalizarem suas economias de 2011 a 2021. Se a renda per capita dos 10% mais pobres desses países houver diminuído, eu pago 500 dólares a Leonardo Boff. Se a renda dos 10% mais pobres tiver aumentado, Leonardo Boff me paga 500 dólares.

Para medir o grau de liberalização econômica, podemos usar o Relatório de Liberdade Econômica no Mundo, publicação anual do Instituto Fraser do Canadá. Para medir a renda per capita dos 10% mais pobres, podemos usar dados do World Development Indicators do Banco Mundial.

Portanto:

Leonardo Boff, aceita meu desafio? Lanço essa aposta de boa fé. Se você de fato acredita na sua análise de que o capitalismo está em fase terminal, estou lhe oferecendo dinheiro de graça. Basta que ocorra o que você já disse que irá ocorrer para que você ganhe 500 dólares. Será até uma chance de fazer doação para uma das populações empobrecidas.

Aguardo resposta.
Diogo Costa

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PS.: Como disse antes, dobro a aposta...

O mundo e os idiotas, ou um idiota do tamanho do mundo...

Como escrevi, num post recente, eu comecei a reconsiderar a questão central de um artigo escrito poucos anos atrás, no qual eu perguntava se o mundo estava abrigando um número maior de idiotas. Ou, em outros termos, eu queria saber se o número de idiotas estava crescendo, com condições de submergir nosso pequeno mundo de seres racionais num mar de irracionalidade.
Mas eu estava falando de pessoas comuns, ou seja inocentes úteis, ou mesmo inúteis, gente simples, sem muita educação e suscetível, portanto, de se deixar levar por alguns espertos, falando em nome da religião, do dinheiro (ou da cobiça por), ou seja lá o que for.
Eu agora estou pronto a reconsiderar minha pergunta, aliás deixar de perguntar, e afirmar simplesmente: sim, o mundo está cheio de idiotas, cada vez mais, e os mais idiotas não são, necessariamente, gente simples, pouco educada.
Tem idiota dos grandes, formados, diplomados, talvez até informados, mas também deformados, capazes de fazer de tudo para ver no capitalismo um sistema falido, ou como diz Leonardo Boff, uma crise final, terminal.
Não se enganem: estamos em face de um idiota terminal, estrutural, não simplesmente conjuntural; um verdadeiro idiota fractal, definitivo.
Frente a um idiota assim, eu fico praticamente sem palavras...
Paulo Roberto de Almeida

Crise terminal do capitalismo?
Blog Leonardo Boff, 22/06/2011

Tenho sustentado que a crise atual do capitalismo é mais que conjuntural e estrutural. É terminal. Chegou ao fim o gênio do capitalismo de sempre adaptar-se a qualquer circunstância. Estou consciente de que são poucos que representam esta tese. No entanto, duas razões me levam a esta interpretação.
A primeira é a seguinte: a crise é terminal porque todos nós, mas particularmente, o capitalismo, encostamos nos limites da Terra. Ocupamos, depredando, todo o planeta, desfazendo seu sutil equilíbrio e exaurindo excessivamente seus bens e serviços a ponto de ele não conseguir, sozinho, repor o que lhes foi sequestrado. Já nos meados do século XIX, Karl Marx escreveu profeticamente que a tendência do capital ia na direção de destruir as duas fontes de sua riqueza e reprodução: a natureza e o trabalho. É o que está ocorrendo.
A natureza, efetivamente, se encontra sob grave estresse, como nunca esteve antes, pelo menos no último século, abstraindo das 15 grandes dizimações que conheceu em sua história de mais de quatro bilhões de anos. Os eventos extremos verificáveis em todas as regiões e as mudanças climáticas tendendo a um crescente aquecimento global falam em favor da tese de Marx. Como o capitalismo vai se reproduzir sem a natureza? Deu com a cara num limite intransponível.
O trabalho está sendo por ele precarizado ou prescindido. Há grande desenvolvimento sem trabalho. O aparelho produtivo informatizado e robotizado produz mais e melhor, com quase nenhum trabalho. A consequência direta é o desemprego estrutural.
Milhões nunca mais vão ingressar no mundo do trabalho, sequer no exército de reserva. O trabalho, da dependência do capital, passou à prescindência. Na Espanha o desemprego atinge 20% no geral e 40% e entre os jovens. Em Portugal, 12% no pais, e 30% entre os jovens. Isso significa grave crise social, assolando neste momento a Grécia. Sacrifica-se toda uma sociedade em nome de uma economia, feita não para atender as demandas humanas mas para pagar a dívida com bancos e com o sistema financeiro. Marx tem razão: o trabalho explorado já não é mais fonte de riqueza. É a máquina.
A segunda razão está ligada à crise humanitária que o capitalismo está gerando. Antes se restringia aos países periféricos. Hoje é global e atingiu os países centrais. Não se pode resolver a questão econômica desmontando a sociedade. As vítimas, entrelaças por novas avenidas de comunicação, resistem, se rebelam e ameaçam a ordem vigente. Mais e mais pessoas, especialmente jovens, não estão aceitando a lógica perversa da economia política capitalista: a ditadura das finanças que via mercado submete os Estados aos seus interesses e o rentitentismo dos capitais especulativos que circulam de bolsas em bolsas, auferindo ganhos sem produzir absolutamente nada a não ser mais dinheiro para seus rentistas.
Mas foi o próprio sistema do capital que criou o veneno que o pode matar: ao exigir dos trabalhadores uma formação técnica cada vez mais aprimorada para estar à altura do crescimento acelerado e de maior competitividade, involuntariamente criou pessoas que pensam. Estas, lentamente, vão descobrindo a perversidade do sistema que esfola as pessoas em nome da acumulação meramente material, que se mostra sem coração ao exigir mais e mais eficiência a ponto de levar os trabalhadores ao estresse profundo, ao desespero e, não raro, ao suicídio, como ocorre em vários países e também no Brasil.
As ruas de vários países europeus e árabes, os "indignados" que enchem as praças de Espanha e da Grécia são manifestação de revolta contra o sistema político vigente a reboque do mercado e da lógica do capital. Os jovens espanhois gritam: "não é crise, é ladroagem". Os ladrões estão refestelados em Wall Street, no FMI e no Banco Central Europeu, quer dizer, são os sumo-sacerdotes do capital globalizado e explorador.
Ao agravar-se a crise, crescerão as multidões, pelo mundo afora, que não aguentam mais as consequências da super-exploracão de suas vidas e da vida da Terra e se rebelam contra este sistema econômico que faz o que bem entende e que agora agoniza, não por envelhecimento, mas por força do veneno e das contradições que criou, castigando a Mãe Terra e penalizando a vida de seus filhos e filhas.

Leonardo Boff é teólogo e escritor, autor do livro "Proteger a Terra – cuidar da vida: como evitar o fim do mundo" (Record 2010).

terça-feira, 13 de julho de 2010

Aumento preocupante na idiotice nacional

Eu pensei que eram apenas as crianças, indefesas, que estavam expostas aos perigos de um péssimo sistema de ensino e à deterioração geral da qualidade da educação no Brasil.
Mas, como sou ingênuo!
Os adultos, inclusive os que lêem jornais, também estão expostos a cenas explícitas de idiotice consumada.
Um dos que mais contribuem para o aumento da idiotice nacional é um frei que já não é mais frei, mas que continua pontificando de forma tão idiota como sempre fez.
Nem vou comentar o verdadeiro arsenal de bobagens que esse idiota famoso consegue perpetrar em cada linha de sua lamentável crônica. Nada, absolutamente nada do que ele escreve faz sentido.
Creio, sim, que caminhamos para uma decadência mental irremediável.
Quando um jornal como O Globo se permite publicar bobagens desse tipo, estamos caminhando rapidamente para a decadência intelectual.

Como operar a transição do velho para o novo paradigma
Leonardo Boff
O Globo, 14.07.2010

Damos por já realizada a demolição crítica do sistema de consumo e de produção capitalista com a cultura materialista que o acompanha. Ou o superamos historicamente ou porá em grande risco a espécie humana.

A solução para a crise não pode vir do próprio sistema que a provocou. Como dizia Einstein:"o pensamento que criou o problema não pode ser o mesmo que o solucionará".

Somos obrigados a pensar diferente se quisermos ter futuro para nós e para a biosfera. Por mais que se agravem as crises, como na zona do Euro, a voracidade especulativa não arrefece.

O dramático de nossa situação reside no fato de que não possuimos nenhuma alternativa suficientemente vigororosa e elaborada que venha substituir o atual sistema.

Nem por isso, devemos desistir do sonho de um outro mundo possível e necessário. A sensação que vivenciamos foi bem expressa pelo pensador italiano Antônio Gramsci:"o velho resiste em morrer e o novo não consegue nascer".

Mas por todas as partes no mundo há uma vasta semeadura de alternativas, de estilos novos de convivência, de formas diferentes de produção e de consumo.

Projetam-se sonhos de outro tipo de geosociedade, mobilizando muitos grupos e movimentos, com a esperança de que algo de novo poderá eclodir no bojo do velho sistema em erosão.

Esse movimento mundial ganha visibilidade nos Fórums Sociais Mundiais e recentemente na Cúpula dos Povos pelos direitos da Mãe Terra, realizada em abril de 2010 em Conchabamba na Bolivia.

A história não é linear. Ela se faz por rupturas provocadas pela acumulação de energias, de idéias e de projetos que num dado momento introduzem uma ruptura e então o novo irrompe com vigor a ponto de ganhar a hegemonia sobre todas as outras forças. Instaura-se então outro tempo e começa nova história.

Enquanto isso não ocorrer, temos que ser realistas. Por um lado, devemos buscar alternativas para não ficarmos reféns do velho sistema e, por outro, somos obrigados a estar dentro dele, continuar a produzir, não obstante as constradições, para atender as demandas humanas. Caso contrário, não evitaríamos um colapso coletivo com efeitos dramáticos.

Devemos, portanto, andar sobre as duas pernas: uma no chão do velho sistema e a outra no novo chão, dando ênfase a este último.

O grande desafio é como processar a transição entre um sistema consumista que estressa a natureza e sacrifica as pessoas e um sistema de sustentação de toda vida em harmonia com a Mãe Terra, com respeito aos limites de cada ecossistema e com uma distribuição equitativa dos bens naturais e industriais que tivermos produzido.

Trocando idéias em Cochabamba com o conhecido sociólogo belga François Houtart, um dos bons observadores das atuais transformações, convergimos nestes pontos para a transição do velho para o novo.

Nossos paises do Sul devem em primeiro lugar, lutar, ainda dentro do sistema vigente, por normas ecológicas e regulações que preservem o mais possível os bens e os serviços naturais ou trate sua utilização de forma socialmente responsável.

Em segundo lugar, que os paises do grande Sul, especialmente o Brasil, não sejam reduzidos a meros exportadores de matérias primas, mas que incorporem tecnologias que dêem valor agregado a seus produtos, criem inovações tecnologias e orientem a economia para o mercado interno.

Em terceiro lugar, que exijam dos paises importadores que poluam o menos possível e que contribuam financeiramente para a preservação e regeneração ecológica dos bens naturais que importam.

Em quarto lugar, que cobrem uma legislação ambiental internacional mais rigorosa para aqueles que menos respeitam os preceitos de uma produção ecologicamente sustentável, socialmente justa, aqueles que relaxam na adaptação e na mitigação dos efeitos do aquecimento global e que introduzem medidas protecionistas em suas economias.

O mais importante de tudo, no entanto, é formar uma coalizão de forças a partir de governos, instituições, igrejas, centros de pesquisa e pensamento, movimentos sociais, ONGs e todo tipo de pessoas ao redor de valores e princípios coletivamente partilhados, bem expressos na Carta da Terra, na Declaração dos Direitos da Mãe Terra ou na Declaração Universal do Bem Comum da Terra e da Humanidade (texto básico do incipiente projeto da reinvenção da ONU) e no Bem Viver das culturas originárias das Américas.

Destes valores e principios se espera a criação de instituições globais e, quem sabe, se organize a governança planetária que tenha como propósito preservar a integridade e vitalidade da Mãe Terra, garantir as condições do sistema-vida, erradicar a fome, as doenças letais e forjar as condições para uma paz duradoura entre os povos e com a Mãe Terra.

Leonardo Boff é autor do livro Ecologia, Mundialização e Espiritualidade,Record 2008