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sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Roberto Campos: o profeta ainda nao vindicado - Marcos Troyjo (FSP)

Roberto Campos assume, na história econômica do Brasil, um papel similar ao que Raymond Aron teve na história política da França: a de um profeta que, tendo razão muito antes do seu tempo, ficou clamando anos contra os equívocos clamorosos de seus contemporâneos, sem conseguir corrigir os erros que continuavam sendo cometidos pelos responsáveis econômicos e políticos de suas respectivas épocas.
Incrível como os true believers permanecem impérvios às evidências mais gritantes de que políticas e ideias anacrônicas continuam sendo aplicadas contra os alertas feitos por esses clarividentes intelectuais.
Paulo Roberto de Almeida

'Roberto Campos e a armadilha da renda média'
MARCOS TROYJO
Folha de S. Paulo, Quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Economista, diplomata e cientista social, dirige o BRICLab da Universidade Columbia em NY, onde é professor-adjunto de relações internacionais e políticas públicas. Escreve às quartas.
Expoente liberal não previu Estado-capitalismo da era petista

O último dia 9 marcou os 15 anos da morte de um grande pensador brasileiro, o embaixador Roberto Campos. Para quem quiser saber se o Brasil está avançando —na riqueza dos cidadãos e das ideias— vale a pena não apenas revisitar sua grande produção ensaística, mas também os vídeos de suas deliciosas entrevistas.

As idas de Roberto Campos ao programa "Roda Viva" são particularmente importantes. A natureza dos debates registrados nos anos 1990 dá a incômoda impressão de que o tempo não passou. Quaisquer das ideias do grande liberal caberiam no debate do Brasil de hoje. Se isso oferece a dimensão de como a visão de mundo de Roberto Campos estendia-se ao futuro, mostra também como o Brasil ainda se prende aos debates privatização/estatização, liberalização/protecionismo.

Evelson de Freitas-14.fev.00/Folhapress
Sao Paulo - 14.02.00 - foto: Evelson de Freitas/Folha Imagem//O diplomata, economista e membro da ABL Roberto Campos durante a palestra "Cadê o neoliberalismo?", do ciclo "Com Todas as Letras", no auditório da Folha. ***FOTO DE USO EXCLUSIVO FOLHAPRESS***
O diplomata e economista Roberto Campos durante palestra em fevereiro de 2000
Das palavras de Roberto Campos, depreende-se também que ele não conseguiu realizar um sonho —o de ver, ao final da vida, um Brasil liberto de ideias insularizantes. E tornar-se, assim, um país de elevada renda per capita. Para isso, Campos sabia do imperativo de conjugar liberdade, instituições e estratégia.

A necessidade de se postar a liberdade a serviço de um projeto estratégico, convida, de fato, ao repensar de um conceito que continua bastante atual: a chamada "armadilha da renda média". Trata-se do "ponto de inflexão" na trajetória de desenvolvimento dos países, tal como formulou Arthur Lewis, vencedor do Prêmio Nobel em Economia, em 1979.

Ferramenta utilizada para analisar a estagnação da economia brasileira a partir dos anos 1980, a noção de "armadilha" hoje vem sendo empregada para examinar o futuro das economias de renda média da Ásia que experimentaram elevado crescimento do final da década de 1970 até hoje. Mais do que tudo, examinar hoje a "armadilha" traz à tona os verdadeiros elementos que permitem crescimento elevado —e sustentado— ao longo do tempo.

Os pressupostos dessa maneira de analisar o problema são os seguintes: é mais fácil —e rápido— para uma nação deixar um nível de renda baixa para o de renda média do que sair da renda média e ingressar no clube de países de renda elevada. O percurso da renda baixa à média se faz por "imitação" (adaptação criativa); o da média à alta por "inovação" (destruição criativa). Países de crescimento rápido são aqueles cuja economia expande-se a níveis superiores a 3,5% ao ano em ciclos de no mínimo 7 anos.

No limite, países de renda média têm dificuldade de competir com nações de renda mais baixa em produtos de menor valor agregado. Sofrem também com a competição dos mais ricos em bens e serviços mais sofisticados. Em suma, a "armadilha" implica que aqueles nela enredados padecem das limitações do crescimento elevado e rápido, sem, no entanto, haver atingido o grau de especialização da produção e a qualidade de vida das nações mais desenvolvidas.

O Brasil tem como romper as amarras da armadilha da renda média? Não é fácil, pois, como bem aponta o professor Barry Eichengreen, da Universidade da Califórnia-Berkeley, a desaceleração do crescimento é sinônimo de desaceleração da produtividade total dos fatores (PTF). Este é um parâmetro esclarecedor. Reforça a noção de que os períodos de elevado crescimento da economia brasileira associam-se (1) à vigorosa demanda global por commodities em que o Brasil apresenta vantagens comparativas ou (2) a períodos de proteção do mercado via substituição de importações, forte papel do Estado na composição da demanda e consumo interno voraz.

O primeiro parâmetro nos atrela à expansão da infraestrutura e a uma aquecida demanda por bens agrícolas de países como a China ou a Índia. O segundo aposta numa veloz —e duradoura— construção de capacidades locais, de modo a compensar pela ineficiência e pelos altos custos dos estágios iniciais das políticas de favorecimento de conteúdo local. Além, é claro, de instigar crescentemente a disposição a consumir do cidadão brasileiro. Este segundo parâmetro foi aposta recente das administrações Lula-Dilma, com desastrosas consequências.

Que bom seria utilizar nossas credenciais agrícolas e minerais como base para incrementar os vetores (educação, ciência, tecnologia, inovação) que, de fato, empurram para cima a produtividade total dos fatores. São eles que permitem a um país escapar da armadilha da renda média. Para esse fim, o Estado tem de estar liberado de tarefas pseudorregulatórias para realmente dedicar-se ao fortalecimento dos elementos-chave do desenvolvimento.

Na entrevista ao "Roda Viva" em maio de 1997, Roberto Campos dizia "venho defendendo, há muitos anos, ideias liberais, abertura econômica, internacionalização da economia, o Brasil está marchando nesse sentido. Está longe de ser um país liberal, não somos vítimas do liberalismo, nem sequer somos ameaçados pelo neoliberalismo".

Campos não previu a ascensão do Estado-capitalismo no Brasil de 2003 a 2016. Esta é uma das razões pelas quais seu sonho de um Brasil próspero continua irrealizado.

http://www1.folha.uol.com.br/colunas/marcostroyjo/2016/10/1824021-roberto-campos-e-a-armadilha-da-renda-media.shtml

quarta-feira, 2 de março de 2016

Marcos Troyjo no Roda Viva do dia 29/02/2016: o Brasil e sua (des)insercao global

Meu colega e amigo Marcos Troyjo foi impecável em todas as questões levantadas pelos jornalistas. Eu apenas teria insistindo um pouco mais em dois aspectos da realidade atual do Brasil: a terrível inépcia dos governantes (que ele abordou de maneira mais ou menos discreta, até cortês) e a esquizofrênica carga tributária (que não é de hoje). No conjunto, porém, seu desempenho merece a cotação de 120% do requerido para uma boa performance.
Paulo R. de Almeida
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O ‪#‎RodaViva‬ da última segunda-feira (29), que contou com a presença do economista Marcos Troyjo, já está disponível em nosso canal do YouTube:
https://goo.gl/bVRY32

Roda Viva | Marcos Troyjo | 29/02/2016
O economista Marcos Troyjo é diretor do Briclab da Universidade Columbia – um centro de estudos sobre os países emergentes conhecidos como Brics…

https://m.youtube.com/watch?v=DeBjFtLBIyE

http://veja.abril.com.br/blog/augusto-nunes/videos-veja-entrevista/o-entrevistado-do-roda-viva-desta-segunda-feira-e-o-economista-marcos-troyjo/

O entrevistado do Roda Viva desta segunda-feira foi o cientista político e economista Marcos Troyjo, doutor pela Universidade de São Paulo. Entre várias outras atividades, o colunista da Folha dirige o BRICLab da Universidade Columbia, centro de estudos que idealizou para acompanhar permanentemente a trajetória dos integrantes do BRICS, acrônimo formado com as iniciais de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

Além de analisar o desempenho dos cinco países, o convidado do programa transmitido ao vivo pela TV Cultura localizou na política econômica adotada ainda no governo Lula o início da sequência de equívocos que empurraram o Brasil para uma das mais longas recessões da história. “Esta já é uma década perdida”, lastimou. Segundo Troyjo, o caminho que leva para longe da crise começa pelo fim do governo Dilma.

A bancada de entrevistadores reuniu Samantha Pearson (correspondente do Financial Times no Brasil), Fernando Schuler (professor do Insper, colunista da Época e articulista do Estadão), João Pedro Garcia Caleiro (editor de economia do site da Exame), Toni Sciarretta (jornalista especializado em finanças) e Márcio Kroehn (editor da Isto É Dinheiro).

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Falta uma estrategia? Pois nao, aqui tem uma... - Marcos Troyjo, Paulo Roberto de Almeida

Marcos Troyjo, no seu artigo semanal da FSP, reclama da falta de uma estratégia clara por parte do governo lulopetista que nos assalta atualmente. Concordo, mas se formos esperar por uma, esperaremos muito: os caras estão mais perdidos do que cego em tiroteio, como se diz, e não se pode esperar que desse mato saia cachorro, nem coelhos.
Eles, na verdade, estão matando cachorro a grito, atirando para todo lado, sobretudo contra os brasileiros, todos eles, pobres (ICMS, aumentos de tarifas públicas em todos os setores, sobretudo eletricidade), classe média (imposto de renda, impostos sobre serviços, combustíveis) ou empresários (torniquete nos recolhimentos, aumento de juros, fim de subsídios, etc.), e até contra os pobres beneficiários do curral eleitoral das supostas bolsas-pobre (com aumento generalizado da inflação).
Portanto, não esperem nada do lulopetismo.
Transcrevo abaixo o seu artigo, mas antes permito-me colocar a minha "estratégia" para o Brasil sair do buraco.
Resumi a natureza das medidas num artigo escrito em inglês, ainda não publicado, do qual transcrevo a última parte, apenas algumas linhas:
" Uncertainty, and insecurity, those are the words of the moment in Brazil. How an entrepreneur can make plans for a year, two years, or five years ahead? This complex set of problems require, at the same time: (a) urgent measures that have to be adopted in terms of fiscal adjustment, followed by (b) medium term decisions that have to be taken aiming to a certain number of reforms pointing to confidence building measures to facilitate the return of investments, and (c) the launching of a long term program of structural adjustments in order to create a new institutional framework looking for the recovery of competitiveness of the Brazilian industry, and creating a solid basis for a productivity overhaul of the economy.
Who will deliver all that? No guesses for the moment…" (Hartford, October 13, 2015)

Mas, dez anos atrás, eu já alinhava o meu conjunto de reformas, que pode constituir uma estratégia para "salvar" o Brasil. Antes precisamos expulsar os petralhas do poder, pois com eles não podemos esperar nenhuma reforma consistente, só continuação do desgoverno, da corrupção e da roubalheira.

1. Reforma política, a começar pela Constituição: seria útil uma “limpeza” nas excrescências indevidas da CF, deixando-a apenas com os princípios gerais, remetendo todo o resto para legislação complementar e regulatória. Operar diminuição drástica de todo o corpo legislativo em todos os níveis (federal, estadual e municipal), retirando um custo enorme que é pago pelos cidadãos; Proporcionalidade mista, com voto distrital em nível local e alguma representação por lista no plano nacional, preservando o caráter nacional dos partidos.
2. Reforma administrativa com diminuição radical do número de ministérios, e atribuições de diversas funções a agências reguladoras. Privatização dos grandes monstrengos públicos que ainda existem e são fontes de ineficiências e corrupção, no setor financeiro, energético, e outros; fim da estabilidade no serviço público.
3. Reforma econômica ampla, com diminuição da carga tributária e redução das despesas do Estado; aperto fiscal nos “criadores de despesas” irresponsáveis que são os legislativos e o judiciário; reforma microeconômica para criar um ambiente favorável ao investimento produtivo, ao lucro e para diminuir a sonegação e a evasão fiscal.
4. Reforma trabalhista radical, no sentido da flexibilização da legislação laboral, dando maior espaço às negociações diretas entre as partes; extinção da Justiça do Trabalho, que é uma fonte de criação e sustentação de conflitos; Retirada do imposto sindical, que alimenta sindicalistas profissionais, em geral corruptos.
5. Reforma educacional completa, com retirada do terceiro ciclo da responsabilidade do Estado e concessão de completa autonomia às universidades “públicas” (com transferência de recursos para pesquisa e projetos específicos, e os salários do pessoal remanescente, mas de outro modo fim do regime de dedicação exclusiva, que nada mais é do que um mito); concentração de recursos públicos nos dois primeiros níveis e no ensino técnico-profissional.
6. Abertura econômica e liberalização comercial, acolhimento do investimento estrangeiro e adesão a regimes proprietários mais avançados.
(Brasília, 15 de dezembro de 2005)

Paulo Roberto de Almeida
PS.: Pois é, vai demorar um bocado para implementar reformas do tipo que eu menciono acima. Mais ou menos duas ou três gerações, ou seja, entre 75 e 100 anos. Não me esperem até lá...


'É a ausência de estratégia, estúpido!'
MARCOS TROYJO
FSP, 13/01/2016

No Brasil há muito sofrimento, pouco sacrifício

Num recente texto publicado no UOL, o professor Carlos Primo Braga, do IMD (Suíça), relembra uma conhecida ação de marketing político que se notabilizou durante a disputa pela Casa Branca no início dos anos 1990 entre George Bush, que buscava reeleição, e o jovem governador do Arkansas, Bill Clinton.

Um dos estrategistas de Clinton, James Carville, explorou a conjuntura de estagnação do produto norte-americano ao propor o bordão "É a economia, estúpido!".

A frase viralizou e, mais que isso, ajudou a criar a contraposição entre um governante de perfil "velha economia" (Bush) e uma estrela ascendente da política (Clinton) que já se associava à nascente revolução da internet e suas empresas "pontocom".

Primo Braga compõe uma interessante analogia com o atual momento brasileiro. No nosso caso, para além de uma conjuntura internacional adversa –aumento das taxas de juros internacionais, desaceleração da China etc –, contribuem também o esgotamento da modalidade brasileira de capitalismo de Estado, tal como implementada pelo lulopetismo, e as barbeiragens na condução macroeconômica dos últimos seis anos.

Para agravar ainda mais a desarrumação, acirrou-se a "guerra" entre o Planalto de Dilma e a Câmara de Eduardo Cunha, cuja principal batalha se afigura com a abertura do processo de impeachment.

Por isso tudo, a melhor interpretação do quadro brasileiro viria com um "É a política, estúpido!".

Zhang Duo - 30.nov.2015/Xinhua   
A presidente Dilma Rousseff e o líder chinês Xi Jinping se cumprimentam durante encontro em Paris
A presidente Dilma Rousseff e o líder chinês Xi Jinping se cumprimentam durante encontro em Paris
Longe de mim minimizar a complexa gestão macroeconômica cotidiana ou a importância do diálogo construtivo entre Executivo e Legislativo. Tampouco se deve subestimar uma conjuntura global adversa para exportadores de commodities.

A questão é que, caso se prolongasse o período de "largesse" do afrouxamento monetário no Ocidente, o preço das commodities agrícolas e minerais continuasse lá em cima e Planalto e Congresso trabalhassem em harmonia, isso não bastaria para pavimentar o caminho brasileiro a tornar-se um país de renda per capita superior a US$ 20 mil no espaço de uma geração.

Realisticamente, se consideramos o intervalo 1980-2020, o Brasil terá acumulado duas décadas perdidas em quarenta anos. É tempo demais relegado ao ferro-velho da história.

E vale ressaltar que, na década passada, ainda fomos extremamente beneficiados por reformas empreendidas na segunda metade dos anos 1990 e pela ascensão dramática da China, com seu robusto apetite pelas matérias-primas de que dispomos em abundância.

MUITO SOFRIMENTO, POUCO SACRIFÍCIO

O Brasil já conheceu o céu e o inferno em termos de conjunturas internacionais mais ou menos propícias; já se governou com mais ou menos coesão entre os Poderes. O que o país jamais adotou foi uma estratégia de economia política que lhe permitisse a inserção competitiva no cenário global.

Ter uma estratégia não é prerrogativa de sociedades politicamente fechadas. É bem verdade que podem se observar diferentes graus de "consenso forçado" nas experiências históricas de Cingapura, Chile ou China.

Também é correto, contudo, enxergar movimentos (muitas vezes corretivos) de estratégia para a prosperidade em sociedades abertas de diversas filiações culturais, como Espanha, Reino Unido, Coreia do Sul ou EUA.

Também não demanda poderes extraordinários de visão ou ensaios de futurologia. Exige uma liderança capaz de arregimentar uma boa equipe, diagnósticos minimamente corretos sobre a direção em que o mundo está indo, planos de ação e eficiente execução.

E, no limite, estratégia exige algum grau de sacrifício –um esforço em nome do que é sagrado. No Brasil, historicamente há muito sofrimento e pouco sacrifício.

Essas não são apenas transposições de manuais de administração de empresas para o campo do desenvolvimento internacional. São as inescapáveis precondições que se exigem para que os países decolem.

No novo jogo global em que estamos entrando –e que durará ao menos um quarto de século– os pontos cardeais da "reglobalização" encontram-se bem delineados. Fortalecimento dos acordos plurilaterais, proeminência da "Chíndia", a volta da geopolítica e novo ciclo de prosperidade movido pelo talento.

Para isso bastam ajustes na política cambial ou de juros? É suficiente o estabelecimento de alianças que permitam ao Planalto maioria no Parlamento? Tudo se obtém com mudanças de governo que favoreçam a volta da "confiança"?

Essas características, todas com considerável peso relativo, nem de perto englobam o tamanho dos desafios do país.

O melhor slogan a explicar o impasse brasileiro talvez seja "É a ausência de estratégia, estúpido!"

http://www1.folha.uol.com.br/colunas/marcostroyjo/2016/01/1728808-e-a-ausencia-de-estrategia-estupido.shtml
Mt2792@columbia.edu
@MarcosTroyjo

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Mais Brics: nem mortos, nem performantes, sobrevivendo -- Marcos Troyjo (FSP)

Não concordo com a premissa do artigo, pois não concordo em que a ideia do grupo diplomático tenha sido uma boa coisa, seja para os países, em si, seja para o mundo.
Que os países sejam grandes, tenham perspectivas de crescimento -- desde que apliquem as boas políticas -- que eles tenham certo peso na política e na economia mundial, tudo isso fala por si.
Mas eles o são individualmente, por mérito (ou demérito) próprio, não em virtude do amálgama, da assemblagem política, que só foi feita por ambição e narcisismo dos seus dirigentes, que estão buscando oportunidades de marketing, para darem uma impressão de que juntos podem mais do que sozinhos.
Pode até ser, mas aí vira um denominador comum pelo mínimo, e geralmente por causas negativas. Eles podem, atuando conjuntuamente, impedir que certas coisas propostas pelo G7, por exemplo, sejam feitas, mas não creio que tenham força para produzir "bondades" para o mundo.
Concordo totalmente em que a chave para os Brics, COMO para qualquer OUTRO PAÍS, seja colocar a casa em ordem. Para isso não precisa de Brics nenhum, aliás até atrapalha...
Em que, por exemplo, o NDB, o novo banco de desenvolvimento, vai modificar a oferta de capital no mundo? Vai aumentar? Apenas marginalmente. Vai melhorar a qualidade dos empréstimos? Dificilmente. Pode ser que seja uma boa coisa, pois competição -- entre bancos financiadores -- sempre é uma boa coisa para qualquer setor. Mas não creio que isso altera as condições de funcionamento dos mercados financeiros ou o acesso a fontes de recursos por países pobres.
O Brics era um exercício intelectual para investidores que virou um grupo de pressão. Foi uma boa coisa para cada um deles e para o mundo. Muitos responderão que sim. Eu respondo que não.
Paulo Roberto de Almeida

A suposta ascensão e queda dos Brics
Sócios querem mais Brics; mercados financeiros, menos
MARCOS TROYJO
Folha de S.Paulo, 11/11/2015

É radicalmente díspare a maneira com que diferentes atores e grupos de interesse abordam o papel dos Brics no cenário global.
Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul querem mais Brics. Os mercados financeiros, aparentemente, menos.
Tais diferenças de perspectiva revelam uma curiosa combinação de, por um lado, fantasias irrealizáveis com, por outro, análises "binárias". Na maioria dos casos, tais abordagens são bastante superficiais.
Num extremo, a noção de que o grupo está revolucionando a ordem econômica internacional por meio do estabelecimento de novas instituições, como o NBD (Novo Banco de Desenvolvimento), com capital de US$ 100 bilhões, ou o Arranjo Contingente de Reservas, de igual montante, que permite aos países assistência mútua no advento de crises de liquidez.
A partir dessa plataforma, outras obras conjuntas seriam erguidas –ou ações táticas empreendidas– em palcos como as Nações Unidas.
A abstenção por parte dos Brics em votação na ONU que visava à condenação da Rússia por haver aproveitado o tumulto na Ucrânia para anexar a Crimeia seria exemplo de tal força de coordenação dos Brics.
Os cinco países-membros partiriam para coordenação macroeconômica mais sofisticada, e até mesmo a conclusão de transações comerciais entre si em outra moeda que não o dólar norte-americano. Ou seja, os Brics como polo, se não antiocidental, ao menos "alternativo" ao Ocidente.
Noutro, a decretação do "fim" dos Brics. O mau desempenho econômico de Brasil, Rússia e África do Sul –e a redução dos percentuais de crescimento da China– apontariam que a validade do conceito "expirou".
O último lance nessa tese declinista vem da interpretação, por parte do mercado financeiro, de uma recente decisão do banco de investimento Goldman Sachs.
A instituição há pouco anunciou que estava encerrando seu fundo específico sobre Brics, realocando ativos para outros veículos de investimento rotulados sob o conceito mais amplo de "mercados emergentes" (de que os Brics também fazem parte).
Tal decisão parece ainda mais simbólica, pois foi a partir de um estudo conduzido por Jim O' Neill no próprio banco que o termo "Brics" ganhou grande notoriedade.
Quando, há cinco anos, Christian Déséglise e eu fundamos o BRICLab (um centro para o estudo dos Brics) na Universidade Columbia, em Nova York, nosso intuito não era alardear um futuro da economia global dominado pelos Brics.
Tampouco tratava-se de sugerir, pelas muitas diferenças internas que marcam o grupo, que suas iniciativas conjuntas e mesmo seu potencial econômico rumavam inexoravelmente para o fracasso.
Achamos que a ideia de Brics era (e continuará) válida como fórmula para comparar as estratégias (ou a falta delas) em projetos de poder, prosperidade e prestígio de quatro (China, Índia, Rússia e Brasil) das sete maiores economias do mundo (medidas pelo poder de paridade de compra) tanto pelos cálculos do FMI como do Banco Mundial em 2014.
Além de seu papel relativo na economia global, esses países são superlativos em território, população e influência regional, além de acomodar importante estoque do fluxo globaI de investimento estrangeiro direto (IED).
Obviamente, o desalento de operadores financeiros com os Brics não é apenas questão de modismo. Com exceção da Índia, todos subperformam –porque estão errando muito.
A China superestimou a velocidade com que a mudança de seu modelo econômico migraria da ênfase em poupança, investimento e exportações para o foco no consumo interno.
A Rússia pagou para ver na disposição do Ocidente em aceitar passivamente a irradiação de seu vulto de poder sobre a vizinhança na Europa Oriental. Além do que, economicamente fez pouco para diminuir sua dependência na exportação de commodities. E as agruras brasileiras são bem conhecidas.
Ainda assim, os Brics continuarão. Nos vários níveis de governo, academia e empresariado a cooperação no âmbito dos Brics aumenta.
A construção institucional vai se expandir e com isso aumentar o peso específico dos Brics em áreas como o financiamento do desenvolvimento ou o comércio e investimento intragrupo.
Não vale, contudo, acreditar ingenuamente que esses movimentos redesenharão em definitivo a ordem internacional.
Bem como a notícia da morte de Mark Twain, rumores sobre o fim prematuro dos Brics são "amplamente exagerados". Não há nada de automático ou definitivo em torno da potencial queda ou ascensão do grupo ou de seus membros.
Neste momento, a melhor coisa que os Brics poderiam fazer para melhorar sua projeção global seria colocar a casa econômica em ordem. E, claro, tal tarefa se impõe na presente conjuntura menos a Índia e China –e muito mais a Rússia e Brasil.

sexta-feira, 29 de maio de 2015

O Brasil vai voltar? Dificilmente enquanto o Estado for um trambolho - Marcos Troyjo (FSP)

O Brasil vai voltar?
Sem estratégia, país dificilmente 'reemergirá'
Marcos Troyjo
Folha de S. Paulo, Sexta-feira, 29 de maio de 2015

Há poucos dias, durante a cerimônia de entrega do prêmio Pessoa do Ano, outorgado pela Câmara Brasil-EUA de Nova York, coube ao publicitário Nizan Guanaes o discurso de apresentação do homenageado norte-americano, o ex-presidente Bill Clinton. FHC foi o laureado brasileiro.

Em sua fala, referiu-se ao otimismo de Clinton quanto aos EUA no período mais agudo da Grande Recessão desencadeada em 2008 pela crise das dívidas do tipo "subprime" -- com efeitos lancinantes no setor financeiro dos EUA e em todo mundo.

Naquele instante de desalento, em que seu status como superpotência foi mais que nunca questionado -- e se estabeleceram supostas certezas quanto ao declínio progressivo e inevitável dos Estados Unidos --, Clinton sugeria: "Nós [os EUA] vamos voltar".

Fazendo um paralelo com o atual desânimo e desapontamento, no país e no exterior, quanto aos rumos do Brasil, Nizan também apostou: "Nós [o Brasil] também vamos voltar". O publicitário revisitou o tema em sua coluna da terça-feira passada nesta Folha.

Pode-se dizer que Clinton estava certo. Ainda que distante do ideal, a economia dos EUA recuperou-se em grande medida.

O valor das empresas nas Bolsas já supera os níveis pré-crise. A produtividade continua dinâmica. Há um refluxo de capitais industriais antes estacionados na China. Washington lidera o desenho de novas geometrias de comércio e investimento no Atlântico e no Pacífico. Como vaticinava Clinton, os EUA de fato "voltaram".

As atitudes empreendedoras e um ambiente amigável aos negócios alavancaram a retomada norte-americana.

A atmosfera pró-mercado, tão presente em empresas e universidades, facilita essa reinvenção do país. Como tecnologias e setores surgem, amadurecem e são substituídos por outros, o jogo da inovação é o grande motor da economia dos EUA.

Graves acidentes, como a crise dos "subprimes", deixam seus traumas e cicatrizes. No entanto, se o ambiente econômico-institucional continua operando abertamente e conduzindo a inovações em série, a ideia de que os "EUA voltarão" tem menos o aspecto de "fé num destino manifesto e naturalmente realizável".

É mais o resultado de um "movimento cíclico". Os EUA continuam a ser -- com a crescente companhia da China -- o grande núcleo irradiador de novas práticas e tecnologias às quais o resto do mundo tem de se adaptar.

Nesse contexto, em que a ascensão e a queda das nações, no limite, resultam de suas capacidades endógenas de promover inovações, será que o Brasil "vai voltar"?

A recente "Brasilmania" que se sentiu em todo o mundo (sobretudo no período 2006-2011) não resultou majoritariamente de maciços processos de incremento de produtividade e inovação.

Tal sentimento positivo em relação ao país -- agora infelizmente substituído por ceticismo e decepção --originou-se de fatores que, sem dúvida, levam uma nação a crescer durante um certo tempo, mas não a mudar de paradigma.

Bônus demográfico com mais gente trabalhando e expandindo a riqueza das famílias, descoberta de petróleo em águas profundas, mais consumo e crédito a setores de renda baixa -- tudo isso ajuda a crescer.

Com a escala territorial e populacional brasileira, chama-se a atenção do mundo -- ainda mais com nossas vantagens comparativas nas commodities minerais e agrícolas que tanto nos ajudaram a engatar o vagão do crescimento na locomotiva chinesa.

Nada disso, no entanto, é suficiente se a opção é pela hipertrofia do setor público; se as universidades ainda travam o embate esquerda-direita nos termos dos anos 1960; se as empresas têm de dedicar mais tempo ao peso e peculiaridades do Fisco do que ao esforço pela geração de novas patentes; se em termos de comércio internacional ainda somos uma das economias mais fechadas do mundo.

Para "subir o degrau", o Brasil precisa construir alguns consensos sobre a forma como vai gerar riqueza.

O mais básico deles reside numa reforma institucional pró-negócios. O país está preocupado com a possibilidade de perder o "investment grade" -- o que é importante e legítimo. Deveria igualmente aproveitar este momento de rearrumação para promover um "business grade".

Não há nada de irreversível no declínio brasileiro. Também não há nada de automático e assegurado de que o Brasil reemergirá.

Esta não é uma questão de ausência de otimismo ou de se esquivar do aproveitamento de oportunidades em tempos de crise. É o resultado de uma brutal falta de estratégia.

O país acaba de perder posições no ranking global de competitividade elaborado pelo IMD da Suíça e pela Fundação Dom Cabral, encontrando-se agora em sua pior classificação desde que a métrica foi lançada, em 1989.

Isso se deve à falta de espírito empreendedor? Indisposição ao trabalho duro? Medo de enfrentar desafios? Não.

O governo brasileiro precisa sair da frente. Ou melhor, ser o arquiteto de reformas estruturais que lhe permitam ser menor e melhor. Só assim a criatividade brasileira se transformará em inovação –- único caminho viável para o Brasil "voltar".

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Apesar de voce, amanha ha de ser... o mesmo dia - Marcos Troyjo sobre a politica externa 2 (=1)

Armadilhas para a política externa
Marcos Troyjo
Folha de S. Paulo, Sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Movimentos do Brasil no cenário global deste ano não sinalizam grande mudança de política externa no segundo mandato da presidente Dilma Rousseff.

Nessas primeiras semanas, a participação coadjuvante do Brasil no desenho do eixo China-América Latina, a pouca atenção que o país conferiu à Marcha de Paris contra o Terror e o anúncio da ausência da Chefe de Estado no Fórum de Davos 2015 prenunciam uma diplomacia do "mais do mesmo".

Costuma-se dizer que a formulação da política externa cabe ao Palácio do Planalto; ao Itamaraty, sua execução. O problema é que não há na atual Chefe de Estado qualquer predileção ou talento para o palco internacional, seja na condição de roteirista, diretor ou ator.

Daí a importância do novo chanceler, que terá de chamar a si a responsabilidade de "proteger" a política externa dos efeitos depreciadores do desinteresse ou da inépcia de Dilma. É tarefa nada fácil.

Muito do sucesso do Itamaraty nestes próximos quatro anos residirá na implementação da diplomacia não "com" a presidente, mas "apesar" dela.

Mesmo assim, é preciso entender que o ocaso da política externa não se origina exclusivamente da incompatibilidade Dilma-mundo.

Não resulta, tampouco, de disputas interministeriais por espaço características do jogo político em qualquer capital. Não é, ainda, tão-somente fruto de panorama fiscal que constrange o orçamento diplomático.

O principal fator a explicar o enfraquecimento do Itamaraty é a série de erros estratégicos que o Brasil vem cometendo. E esse conjunto de equívocos remonta a Lula 1.0.

Compõe-se sobretudo do foco ideológico nas relações Sul-Sul. A fatura chega agora na forma de uma pálida projeção do Brasil no cenário internacional.

No desejado caminho de volta do Brasil a um maior destaque no exterior, há muitos obstáculos conjunturais. Commodities minerais em que desfrutamos de vantagens comparativas experimentam inferno astral. Mas há também bom número de armadilhas adiante. Vão aqui dois exemplos.

Inicia-se em abril a presidência russa dos Brics. Acossada por sanções do Ocidente e pauperizada pelo baixo preço do petróleo, Moscou pode imprimir caráter "confrontacionista" ao grupo. É tudo que os Brics não precisam num ano que tem de ser marcado pela inauguração pragmática do Novo Banco de Desenvolvimento.

Em nossa vizinhança, ao passo que no mundo real a Argentina pretere o Brasil à China como parceiro privilegiado de negócios, Axel Kiciloff, ministro de economia de Cristina Kirschner e candidatíssimo à Casa Rosada, entoa canto de amor ao Planalto petista.

Sugere que as agruras internacionais da Petrobras derivam do apetite de fundos como o Aurelius, um dos "abutres" da dívida argentina, que agora lançaria "ataque simultâneo" orientado à desestabilização das maiores economias do Cone Sul.

Se o Brasil de fato deseja uma nova política externa, terá de desviar com sabedoria de agendas que nada contribuem ao interesse nacional.

http://www1.folha.uol.com.br/colunas/marcostroyjo/2015/01/1575863-armadilhas-para-a-politica-externa.shtml

sábado, 30 de agosto de 2014

Politica externa: nao so diplomatas e economistas - Marcos Troyjo

Além de Fazenda e Itamaraty
Marcos Troyjo
 Folha de S. Paulo, Sexta, 29 de agosto de 2014

O lugar do Brasil no mundo foi para o centro do debate. À medida que se aproximam eleições presidenciais, nota-se que o tema da inserção externa do País -- sua participação nos fluxos globais de poder e riqueza -- deixou de ser apenas assunto para diplomatas, militares e círculos restritos do pensamento nacional.

Empresários, jornalistas, acadêmicos, sindicalistas, ongueiros -- todos passaram a ter opinião mais ou menos bem fundada sobre alianças regionais, predileção pelo multilateralismo, parcerias comerciais, relações com EUA e Europa ou cooperação com países emergentes.

Nesse bem-vindo exercício, clara tendência salta aos olhos. Em diferentes modulações, a sociedade parece supor que nossa inserção global resulta sobretudo de duas variáveis: gestão macroeconômica e política externa.

É claro que bom manejo cotidiano de variáveis monetárias e fiscais é imprescindível. Não há dúvida que defesa da moeda e credibilidade da autoridade econômica desanuviam preocupações e ajudam a construção de horizontes de longo prazo.

Na mesma linha, a diplomacia é tanto mais eficaz se orientada e conduzida por profissionais investidos no interesse nacional, não em afinidades aparentadas ao ilusório contraste esquerda/direita ou Norte/Sul.

Nessa abordagem incompleta, entende-se que daríamos largada a uma nova inserção internacional com dois movimentos.

Por um lado, mudança de titulares na Fazenda e no Banco Central que trouxesse novos ares de confiança e competência técnica.

Por outro, rebocar o Itamaraty da atual condição coadjuvante para que não se reproduzam os recentes furos n’água -- terceiro-mundismo, liderança regional auto-atribuída, mediação do impasse nuclear no Irã, apego fundamentalista ao multilateralismo e tantos outros.

Readequações na política macroeconômica e na diplomacia não bastam, contudo, para o sucesso da inserção externa. Nosso êxito internacional só pode se dar com um modelo de "governança da estratégia" que responda de forma estruturada à nova trama global.

Nada de dirigismo -- mas o Brasil carece hoje da visão e coordenação necessárias na confluência das frentes industrial, comercial e tecnológica. Não relaciona reformas internas à melhoria de ambiente de negócios e à competitividade externa.

Resultado: padece para atrelar-se às cadeias transnacionais de valor. Não tem ideia do que fazer ante essa “China 2.0” de grande escala econômica e sofisticada tecnologia. Arrasta-se na formação de elites para o campo do conhecimento e do empreendedorismo.

Nenhum dos desafios dessa “reglobalização” em que estamos ingressando compõe o cardápio cotidiano de atribuições da dupla “Fazenda-Banco Central" ou do Itamaraty.

Apesar da hipertrofia burocrática, inexiste no organograma, na prática e no conteúdo do Estado brasileiro instância que, em interação com a sociedade, formule e articule ações estratégicas.

Pena. Nossa inserção internacional é coisa séria demais para ser atribuída tão somente a macroeconomistas e diplomatas.


mt2792@columbia.edu

domingo, 29 de junho de 2014

Franca: irreformavel, como sempre - Marcos Troyjo

A França e sua 'malaise'
Marcos Troyjo
Folha de S. Paulo, Sexta, 27 de junho de 2014

Basta passar alguns dias na França –e dialogar com algumas mentes brilhantes que esse país ainda produz– para perceber que nações, como indivíduos, também experimentam crises existenciais. 
À sombra dos monumentos que tanto amamos, a sociedade francesa é assolada pelo título de uma das maiores obras de Gauguin: "De onde viemos? O que somos? Aonde vamos?"
Os franceses ressentem-se da dívida pública e desemprego que só aumentam. Dividem-se quanto à imigração do Magreb ou da Europa do Leste. Muitos não se reconhecem mais no país em que nasceram.
Jovens doutores não encontram emprego na iniciativa privada. Recorrem à mal remunerada colocação no desestimulante serviço público –totalmente ossificado pelos sindicatos.
Ademais de seus problemas internos, a França peleja com sua posição na União Europeia (UE). Desempenha, no mais das vezes, função de "sócio-junior" em dinâmica cujo epicentro está em Berlim.
Para fugir de papel cada vez mais coadjuvante, a França busca liderar o debate sobre o que seria uma "UE 2.0". Na reunião de cúpula que começa nesta sexta (27) na Bélgica, François Hollande proporá nova estrutura de governança na UE com poderes acrescidos aos países-membros da zona do euro.
A ideia de Hollande, que também vai ao encontro das articulações do primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, permitiria a implementação de uma política social e industrial com base no conceito de empresas "campeãs europeias" –à semelhança da estratégia de nosso BNDES e seu (agora abandonado) favoritismo às campeãs nacionais.
Tal medida suscita problemas. Ela diminuiria a influência na comunidade de membros como o Reino Unido, que optaram por não integrar a zona do euro. Esse "novo desenvolvimentismo" europeu feriria potencialmente regras da OMC.
Criaria, de certo, novos obstáculos ao mega-acordo UE-EUA. Retardaria a já esgarçada agenda negociadora UE-Mercosul, cujo conclusão, mesmo sem as novas ideias de Hollande, não se cogita para 2014.
Resta ainda observar como a Alemanha, maior economia da região, reagirá à institucionalização de subsídios industriais para fortalecer conglomerados europeus. As competitivas empresas alemãs dispensam tal fortificante. Sua produtividade beneficiou-se nas últimas décadas da existência de moeda comum para o comércio intraeuropeu.
Berlim não deseja, ademais, estranhar-se com países que não aderiram à zona do euro. Quer ainda que os acordos com EUA e Mercosul saiam do papel.
Como parece correta a noção de que hoje nada se faz em Bruxelas sem a liderança alemã, resta saber como Hollande lidaria com mais uma iniciativa frustrada.
Aliás, a frustração com Hollande, detentor de abissais 18% de aprovação popular, muito contribui à atual 'malaise' francesa. 
Ouvi de um editor do "Figaro", o jornalão francês, que todo presidente de seu país, de De Gaulle a Sarkozy, sempre dispôs de inteligência abundante ou charme gálico. E que Hollande, mais impopular presidente da história da França, carece de ambos.
mt2792@columbia.edu
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/marcostroyjo/2014/06/1477127-a-franca-e-sua-malaise.shtml

sábado, 14 de junho de 2014

Despikettyzação - Marcos Troyjo (e um comentario inicial, PRA)

Bom artigo de meu amigo Marcos Troyjo.
De fato, nunca antes no mundo inteiro, inclusive e principalmente nesta republiqueta dos companheiros, tantos ignaros de leitura e incultos em história econômica tinham se pronunciado positivamente sobre algo de que ouviram falar mas que não se preocuparam em conhecer de verdade. 
Não li mas já gostei, parecem repetir os beatos do distributivismo estéril. 
Estamos aplicando as receitas corretivas, não se deve pejar de repetir o poste declinante.

O próprio autor do livro, independentemente da correção absoluta e da adequação relativa de suas estatísticas -- já contestadas por muitos -- e da pertinência histórica de sua interpretação desses dados, já tem uma tese pronta, que é amplamente aceita por todos os socialistas, keynesianos e outros engenheiros sociais espalhados por aí: a economia de mercado, deixada leve, livre e solta, tende a produzir necessariamente concentração de renda nas mãos (nos bolsos, mas mais exatamente nas contas bancárias e nos indicadores de valorização) de alguns poucos, o que se reflete na indecente desigualdade dessas sociedades capitalistas. Por isso, o Estado, como ente coletiva onisciente, omnipotente e sempre perfeitamente igualitário (aliás neutro), precisa corrigir essas desigualdades, tirando dos ricos para distribuir entre os menos ricos, de preferência entre os pobres.
Não é isso o que Piketty diz, mas é isso que interpretam seus milhares de não leitores e comentaristas.

Por que é que todos esses economistas distributivistas, em lugar de se preocupar em arrancar renda PRIVADA dos ricos, não se empenham em fazer com que os menos ricos e os mais pobres possam também alcançar patamares razoáveis de renda e riqueza?
Não se trata de fazer todo mundo ficar rico, mas de fazer com que todos tenham um padrão aceitável de renda, que os coloquem ao abrigo de necessidades elementares e lhes permitam tratar da saúde, da educação e do lazer sem enormes preocupações com a falta renda para cuidados básicos.
Será que esse não é um objetivo razoável para economistas acadêmicos?
Eles precisam, além disso, pensar em avançar sobre a riqueza privada daqueles que têm muito?
O que é que eles tem a ver com isso?
Por que é que a renda e a riqueza dos megabilionários seria um problema social, coletivo?
Por que a existência de superricos impediria os outros de também aumentarem a sua renda?
O fato de que alguns se tornem megabilionários se dá em detrimento da riqueza de outros?
Eles roubaram, saquearam, expropriaram os mais pobres, e só se tornaram ricos à custa daqueles?
Nunca antes no Brasil e no mundo tanta bobagem foi dita por tantos que leram tão pouco...

Bom artigo o do Marcos, recomendo a leitura.
Paulo Roberto de Almeida 

Despikettyzação

Um espectro ronda o debate internacional – o espectro da orelhada de “O Capital no século 21″, de Thomas Piketty. Toda essa repercussão ergue monumento incidental a outro francês: Pierre Bayard e seu “Como falar dos livros que não lemos”.
Não há registro em tempos recentes de tamanha muleta para antipatizantes do capitalismo. A imensa maioria nem sequer abriu o volume escrito por Piketty, mas já lhe garante irrefletida adesão. Refestelam-se na certeza de que os céus abençoaram-nos com o novo Alcorão econômico.
Para seus entusiastas nos países em desenvolvimento, as conclusões de Piketty não apenas denunciam a desigualdade no âmbito interno de cada nação, mas convidam também a explicar as diferenças Norte-Sul, repensar o imperialismo e advogar nova teoria da dependência.
Com essa convicção, a de que Piketty propõe um “estado social” para o nosso tempo, tecnocratas saíram levitando de encontro com ele semanas atrás na ONU, em Nova York. E a ideia de impostos progressivos globais – a serem administrados por instituições multilaterais – soa como música aos ouvidos da burocracia onusiana.
Nesses últimos meses, oportunistas na Venezuela, na África do Sul e no Brasil – aqui a própria presidente Dilma Rousseff – já se encostaram em Piketty para legitimar, em meio a taxas de crescimento decepcionantes, suposto foco em políticas de diminuição de desigualdade.
A questão é que “O Capital no século 21″ não trata de alívio da pobreza
A questão é que “O Capital no século 21″ não trata de alívio da pobreza. Tampouco concentra-se em estratégia de crescimento, teoria do desenvolvimento ou modernização institucional. É essencialmente uma pesquisa sobre como parte dos EUA e Europa tende, ao longo do tempo, a remunerar patrimônio e salários de altos executivos em proporção superior ao próprio crescimento da economia.
E, mesmo nesse quesito, não relaciona o fenômeno ao fato de que, por falta de capacidade ou vontade, parcela crescente da população dos EUA abriu mão de empreender ou procurar trabalho para viver ao amparo da assistência social. Nada diz sobre a ausência de inovações verdadeiramente importantes em escala global originando-se na Europa nas últimas décadas.
Por isso, graças ao – às vezes lento – processo de sedimentação de percepções, já se iniciou um processo de “despikettyzação” da discussão econômica.
Isto é bom para o autor – honesto ao reconhecer limitações no trabalho e salientar que pretende sobretudo incentivar conversa serena sobre desigualdade. E ótimo para o debate no Brasil, que carece de um modelo de desenvolvimento.
Para decepção de muitos, Piketty afirmou à “New Republic” desdenhar da obra de Marx, que “não é construída sobre dados”. À “Veja” declarou: “acredito no capitalismo, no livre mercado e na propriedade privada”. Disse ainda: “a países emergentes, como o Brasil, o crescimento é a chave do desenvolvimento e da melhora da qualidade de vida”.
O principal resultado da despikettyzação será muita gente perdendo o muro de arrimo que pensava haver encontrado.
Fonte: Folha de S. Paulo, 13/6/2014

sábado, 24 de maio de 2014

A geopolitica de uma nova Guerra Fria entre o "bloco" China-Russia e os EUA? - Marcos Troyjo

Discordo de dois elementos neste artigo: (a) de que a China seja uma nação-comerciante; (b) de que os dois novos aliados, China e Rússia, tenham encontrado a fórmula do eterno crescimento, uma afirmação aliás não contida neste artigo de Marcos Troyjo.
Para que uma nação seja um comerciante bem sucedido, não pode ser apenas intermediário, ou seja, é preciso produzir bens reais. A parte de produtos "estrangeiros" produzidos na China é provavelmente gradualmente menor do que os produtos propriamente chineses. Ou seja, o made in China vai ficando menor em relação ao made BY China. Esse é um fato.
Não creio, por outro lado, que grandes acordos governamentais, por mais bilhões que possam movimentar, representem o futuro do capitalismo (e não vejo outro futuro para os dois novos aliados).
A dinâmica do crescimento é sempre a da inteligência e da criação. Isso a China está fazendo, o que é duvidoso no caso da Rússia. Mas mesmo no caso da China, não creio que seja uma boa fórmula o capitalismo dirigido pelo Estado. Vão gastar dinheiro tomando decisões erradas, isso é inevitável.
Paulo Roberto de Almeida

O urso e o dragão
Marcos Troyjo
Folha de S. Paulo, Sexta, 23 de maio de 2014

Quebrar a espinha-dorsal do comunismo como força geopolítica. Topo da agenda da política externa norte-americana durante a Guerra Fria. 

Encontros secretos entre Kissinger e Chou-En-Lai nos anos 70 abriram avenida entre EUA e China -- e esta desacoplou-se do bloco comunista. 

Ante o potencial de relacionamento com o Ocidente, Pequim distanciou-se ainda mais de Moscou. Aprofundou-se o "Cisma Sino-Soviético". 

Desde então, a China embarcou num crescimento estonteante graças a seu modelo, agora em metamorfose, de Nação-Comerciante. 

A Rússia perambulou entre a memória de seu status como superpotência político-militar e a promessa -- não cumprida -- de prosperidade sustentada em formidáveis recursos humanos e energéticos.

Hoje, os dois gigantes voltam a aninhar-se. Para dissabor dos EUA, foi a Moscou que Xi Jinping fez sua primeira visita ao exterior como premiê. 

Nesta semana, Putin foi recebido na China como czar. Xangai foi fechada, aulas canceladas e feriado decretado para a visita do titular do Kremlin.

Constrangido no Ocidente pela mão pesada na Ucrânia, Putin saudou o relacionamento com Pequim como "prioridade incondicional da política externa russa". Acrescentou: elos com a China encontram-se no "nível mais elevado da História".

Os chineses aproveitaram as novas limitações russas no comércio com o Ocidente para barganhar num acordo de fornecimento de gás que se arrastava há 10 anos.

O negócio alcança US$ 400 bilhões. Foi concluído às pressas para que Gazprom e CNPC, megacorporações energéticas, o assinassem perante Putin e Xi Jinping.

Pequim e Moscou realizam manobras navais conjuntas. O comércio bilateral saltará dos atuais US$ 90 bilhões para US$ 200 bilhões em 10 anos.

Nos EUA, ninguém parece entender o que está acontecendo. Think-tanks como o Council on Foreign Relations e o Chicago Council on Global Affairs colocam os EUA no divã. 

Promovem "auto-análise" que opõe, de um lado, visão de política externa orientada pela opinião pública. Esta não quer encarar o preço da onipresença dos EUA.

Do outro, consolida-se a percepção nos setores mais treinados em assuntos globais de que esses movimentos da Eurásia fazem "renascer a geopolítica". Pregam reengajamento dos EUA mediante novo -- e caríssimo -- orçamento para relações exteriores e defesa.

Ganha corpo também, no mundo corporativo, a ideia de que sanções impostas a Putin criam "reserva de mercado" para potências não-ocidentais multiplicarem transações com a Rússia.

A política "principista" de Washington repetiria erros do tratamento dado a Cuba. Daí, o pior de três mundos. Afastamento no diálogo político, surgimento de projetos geoestratégicos alternativos e definhamento das relações econômicas.

Moscou reconforta-se na parceria chinesa. Pequim compraz-se ao ver os EUA rodopiarem na arena global feito barata tonta.

O Brasil, inocente, não pode vislumbrar no dueto urso-dragão idílio terceiro-mundista. São apenas dois monstros calculistas bailando à fria melodia de seus próprios interesses.


sábado, 17 de maio de 2014

Socialismo para os ricos (Piketty, etc.) - Marcos Troyjo (FSP)

Socialismo para milionários
Pego emprestado título de um livro de Bernard Shaw para esta coluna. A frase é perfeita para descrever o atual frenesi em torno da dualidade “crescimento-desigualdade”.
Duas investidas recentes acirram o debate. A primeira é o Índice de Progresso Social (IPS), que busca aferir o desenvolvimento relativo dos países sem utilizar o referencial do PIB. A segunda, a acalorada recepção ao “Capital no Século 21″, de Thomas Piketty.
A repercussão de ambos é multiplicada, na Europa e nos EUA, pelos traumas não curados da Grande Recessão – sobretudo as elevadas taxas de desemprego.
Tanto o IPS quanto o “Capital” de Piketty apontam para a prevalência do investimento social “para além do crescimento da economia”. Convidam a retomar a questão da moralidade do capitalismo. Repisam (sobretudo em Piketty) a desproporção nas remunerações a capital e trabalho como principal obstáculo ao bem-estar social.
Para países como o Brasil, o grande desafio é encontrar seu próprio modelo de capitalismo competitivo que o permita pagar o preço da civilização
De acordo com esses apontamentos, a desigualdade, mal maior do capitalismo, poderia remediar-se com maior carga tributária e mais investimentos “no social”.
Sem entrar demais nos altos e baixos do IPS ou de Piketty, minha percepção é que ambos devem interessar mais a países avançados do que a nações em desenvolvimento. É papo para ricos.
Dos países que ocupam as 20 primeiras posições do IPS (em que supostamente o PIB não conta), todos apresentam renda per capita anual superior a US$ 30 mil. Ainda assim, mesmo para os que já se desgarraram da armadilha da renda média, como sustentar amplo acesso a educação e saúde pública sem crescimento ao longo do tempo?
Nesse contexto, o atual debate sobre desigualdade reflete, de ponta-cabeça, a binária consideração de “crescimento” ou “austeridade” como alternativas para países em crise de dívida soberana, caso da Europa mediterrânea em 2011.
Há mérito na crítica à inércia patrimonialista no Ocidente. As soluções tributário-distributivistas apontadas por Piketty, contudo, não tratam de questão–importante o suficiente para os ricos – e absolutamente essencial para países em desenvolvimento. Que padrão de economia política adotar para, ao final do dia, gerar excedentes que custeiem os trampolins sociais?
Decepciona, em Piketty, não ver referência a “empreendedorismo”, “competitividade”, “start-ups”, “papel da inovação”, ou à “destruição criativa” de Schumpeter.
A principal tensão do mundo contemporâneo não advém do conflito distributivo entre capital e trabalho. O cabo de guerra é entre empreendedores e burocratas, seja na forma da grossa camada de gestores cujo intuito é a autopreservação ou nas inúmeras esferas estatais que esclerosam o dinamismo econômico.
Para países como o Brasil, o grande desafio é encontrar seu próprio modelo de capitalismo competitivo que o permita pagar o preço da civilização.
Deixemos para amanhã manuais de instalação de um “Welfare State 2.0″, como o IPS ou o tijolo de Piketty. Concentremo-nos, agora, nas lições de Acemoglu e Robinson em “Por que as Nações Fracassam”.
Fonte: Folha de S.Paulo, 16/05/2014.

domingo, 11 de maio de 2014

A Doutrina Obama e o Brasil - Marcos Troyjo

Se doutrina existe, o que é duvidoso, pois se trata apenas de retraimento, depois da mais longa guerra em que os EUA estiveram envolvidos, ela deveria ser chamada de "minimização de riscos".
O Brasil faz beicinho para a espionagem americana, e exige desculpas formais, como se isso fizesse alguma diferença no resultado final.
Cuidasse o governo de interesses concretos do país, já teríamos muito mais negócios....
Negócios???!!!
Aquele coisa de abrir mercados, regras estáveis para investimentos, respeito aos contratos???
Que coisa chata...
Paulo Roberto de Almeida 

Notas sobre a Doutrina Obama

Marcos Troyjo
Folha de S.Paulo, 9/05/2014

A atual fase da política exterior dos EUA é um exercício de introversão. Encolhimento da presença diplomático-militar no mundo. Menor interesse em Europa, América Latina e Oriente Médio. Suposta atenção prioritária à Ásia.
A Doutrina Obama contempla, como método, negociação sobre unilateralismo. Em termos de foco regional, deslocamento para o Pacífico. A essência da doutrina, contudo, reside em os EUA estarem mais voltados a si que a dilemas globais. Tal introversão é escolha, não sinal de enfraquecimento relativo. Nenhum país rivaliza com os EUA em forças convencionais, orçamento de defesa ou dissuasão nuclear.
Com o desmantelamento da Al-Qaeda, os EUA veem-se menos confrontados pelos "nanodesafios" geopolíticos que emergiram com o 11 de Setembro. Mediante a utilização intensa de drones para ataques cirúrgicos, dão-se ao luxo de "voltar para casa".
Já na grande geopolítica, Washington voltou a aceitar um mundo organizado em esferas de influência. Evita tabuleiros de elevado risco. É o caso da Ucrânia.
Republicanos criticam a tíbia liderança de Obama. Estivessem à frente do Departamento de Estado, pouco haveria de diferente. Mesmo o velho Kissinger tem vocalizado contra intervenções nessas "esferas", como o entorno geográfico russo. A propósito de eventuais intervenções, afirmou recentemente que "a gente sabe como essas coisas começam, não como terminam".
O principal legado dos anos Obama até agora é o combate ao terror e a morte de Bin Laden. Thomas Friedman brinca que "Obama é o drone mais rápido do Oeste". Em nome desses objetivos, promoveu-se onda de espionagem mesmo junto a parceiros tradicionais. A bisbilhotagem tirou peso moral de Washington. Os EUA são vistos cada vez mais como cínicos –pouco comprometidos com transparência, democracia e livre comércio.
A influência da política interna sobre a externa tem sido um pesadelo. A colaboração Casa Branca-Congresso é nula. Obama fala mais com teleprompters do que com parlamentares. Como nos EUA há dois partidos majoritários, mas inúmeras facções, o jogo político é um balaio de gatos tão confuso quanto o nosso. Resultado: Obama arrisca-se a não obter mandatos que o autorizem a concluir acordos de comércio no Pacífico e no Atlântico.
A exemplo das relações com o Brasil, muitos intercâmbios bilaterais murcharam. Nesse quadro, o Brasil oscila entre momentos de maior ou menor interesse em Washington. Estamos num daqueles períodos de "desapontamento" com o "no profile" da política externa brasileira e a percepção de que o sobe e desce recente de nossa economia configura mais um voo de galinha.
As relações governo a governo com Brasília estão oceanos aquém das oportunidades. Isso é muito ruim. Em comércio, investimento ou defesa, hoje não há iniciativas de monta entre as duas maiores democracias do Ocidente.
Tal distanciamento representa um dos principais desperdícios de parceria do mundo contemporâneo. E, no potencial irrealizado, perde mais o Brasil.
mt2792@columbia.edu
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/marcostroyjo/2014/05/1451623-notas-sobre-a-doutrina-obama.shtml

domingo, 4 de maio de 2014

O Brasil avestruz dos petistas e as multinacionais brasileiras - Marcos Troyjo

Ataque às multis brasileiras

Das 15 maiores economias do mundo, a do Brasil é a menos internacionalizada, tanto pelo pequeno número de empresas nacionais com presença no exterior como pela baixa participação no comércio mundial.
A insularidade incomoda há tempos. Desde que descoberto por Cabral há 514 anos, se excetuarmos os ciclos de commodities (cana-de-açúcar, café, etc.), raramente o Brasil contabilizou exportações superiores a 15 % do PIB.
A Suécia tem 10 milhões de pessoas e 200 empresas multinacionais (EMNs) O Brasil, 200 milhões de pessoas e apenas duas dúzias de companhias com atuação verdadeiramente global. A dimensão do mercado interno não é desculpa. Os EUA têm a mesma porcentagem do PIB ocupada pela soma de exportações e importações (cerca de 22%) que o Brasil — e dispõem de milhares de EMNs nos mais diversos portes e setores.
Dentre as economias mais avançadas do Ocidente ou mesmo aquelas da Ásia-Pacífico de maior crescimento relativo, a internacionalização é marcante. Japão, Coreia do Sul e China transformaram-se em “Nações-Comerciantes”. Fortaleceram o elo entre elevadas fatias do comércio mundial e EMNs robustas.
Já países como a Suíça contam com “empresas-rede”. A Nestlé é bom exemplo. Grande parte de sua atividade industrial e 98% da receita vêm de fora do país.
Há, assim, elo indissociável entre maior internacionalização e aprimoramento da competitividade.
Para empresas nacionais com vocação internacional, os obstáculos são complexos. O oneroso “Custo Brasil” atravanca a operação no país-sede. A não-participação brasileira em acordos plurilaterais de comércio e investimento inibe a presença de nossas companhias em redes produtivas globais.
Há, assim, elo indissociável entre maior internacionalização e aprimoramento da competitividade
É nesse contexto que parece particularmente esdrúxula a MP 627 aprovada pelo Governo, sobretudo a taxação de 35% sobre lucros oriundos de atividades no exterior. Trata-se de mais um fardo a erodir a posição competitiva de EMNs brasileiras em terceiros mercados.
A implantação de tal medida evidencia a ausência, por parte do governo, de qualquer rumo estratégico voltado à inserção competitiva do País no cenário global.
É gritante sua incoerência com a prática de financiar internamente empresas “campeãs nacionais” com créditos facilitados que, a cada ano, superam recursos destinados a programas de alívio da pobreza como o Bolsa-Família.
Assim, em vez de maior competitividade externa, o resultado é o aumento do grau de oligopolização do mercado interno e maior vulnerabilidade de empresas nacionais ante possíveis aquisições por parte de EMNs estrangeiras.
O discurso oficial brasileiro alardeia que nas últimas décadas o país conseguiu estabelecer três pactos: o da democracia (desde a segunda metade dos anos 80); o da estabilidade (com o Plano Real) e o da inclusão social (com as políticas de assistência social do período Lula-Dilma).
Seria agora o momento de um novo pacto (o da competitividade). No entanto, com medidas que cortam as asas da internacionalização brasileira, esse quarto pacto tem tudo para não sair do chão.

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Diplomacia Sul-Sul fracassou e estrategia comercial deu chabu - MarcosTroyjo


Em matéria publicada em 14 de abril de 2014, nos jornais "Correio Braziliense" e "Estado de Minas", o professor Marcos Troyjo da Universidade Columbia, aponta erros estratégicos do Brasil em sua política externa para a África.
Abaixo a íntegra da matéria:

Estratégia do Brasil de investir em negócios na África não vinga - Economia - Estado de Minas

Rosana Hessel

Brasil investe pesado na parceria, mas negócios não decolam e especialistas apontam erros


Participação da África nas exportações brasileiras cresceu menos de meio ponto percentual em nove anos

A principal bandeira da política internacional do governo petista, o comércio Sul-Sul, tendo como uma de suas plataformas a ampliação da aliança com os países africanos, está caindo por terra. Especialistas têm cada vez mais considerado essa estratégia equivocada diante dos números mais recentes. Isso porque ela não incrementou o comércio brasileiro com a África como se esperava e ainda afastou o Brasil dos principais mercados globais, como Europa e Estados Unidos.

Depois de uma década de investidas, viagens oficiais e a intensão de perdoar quase US$ 900 milhões de dívidas de 12 países, a participação dos africanos nas exportações nacionais praticamente não sofreu alteração em uma década. Passou de 4,39%, em 2004, para 4,79% até março deste ano, conforme dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic).

Mesmo com todas as investidas no continente da outra margem do Oceano Atlântico, criando 34 embaixadas por lá desde 2003, os governos Lula e Dilma não conseguiram desenvolver o mercado como destino dos produtos industrializados brasileiros. Assim como o comércio do Brasil com o Mercosul e a América Latina dá sinais de enfraquecimento, o intercâmbio brasileiro com a África tem sido historicamente desfavorável.

As empresas brasileiras ainda têm dificuldade para investir na África. Um dos maiores investimentos brasileiros no continente, feito pela Vale na mina de Simandou, na República da Guiné, pode ir para o vinagre porque o governo daquele país sinaliza que vai suspender a licença de exploração da companhia, que possui uma joint venture com a israelense
BSGR. O comércio também é capenga. Desde 2012, os embarques nacionais acumulam quedas depois de uma leve recuperação do tombo de 14,53% em 2009, ano em que país registrou o único superávit desde 1997.

O rombo recorde da balança bilateral ocorreu no ano passado, quando a diferença entre as importações e as exportações brasileiras com os países africanos chegou a US$ 6,359 bilhões. Neste ano, o déficit acumulado de janeiro a março já soma US$ 897 milhões e a expectativa é que ele deverá superar o do ano passado. “Os produtos brasileiros não possuem competitividade e não conseguem concorrer com a qualidade dos produtos europeus, muito menos com o preço dos produtos asiáticos”, reconhece o economista da Confederação Nacional da Indústria (CNI) Flávio Castelo Branco.

Mesmo assim, na avaliação do diretor de Desenvolvimento Industrial da CNI, Carlos Abijaodi, a África é estratégica para a indústria brasileira. “O Brasil precisa diversificar seus mercados para não se tornar dependente de poucos países vulneráveis a mudanças políticas e econômicas. Os investimentos na África devem ser estimulados, pois o continente ainda é pouco explorado pelas empresas brasileiras", diz ele.

ERRO DE LEITURA O professor da Universidade Columbia, em Nova York, Marcos Troyjo, lamenta o fato de a estratégia Sul-Sul ter mais componentes políticos do que econômicos. “A cooperação Sul-Sul respondeu muito mais aos anseios ideológicos do que ao real interesse econômico do Brasil. A complementariedade entre a economia do Brasil e outras do Sul é baixa. Houve, também, erro de leitura do cenário global por parte do Brasil. Acreditou-se na ascensão automática dos emergentes e o declínio permanente de EUA, Europa e Japão”, destaca Troyjo, especialista em relações internacionais e diretor do BRIC-Lab da instituição nova-iorquina.

Para ele, a estratégia de prioridade no nível Sul-Sul foi equivocada por parte do Brasil, especialmente nos discursos sobre um mundo equânime usando Mercosul, União das Nações Sul-Americanas (Unasul) ou a Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac), teve poucos resultados econômicos. “Em vez de promover reformas microeconômicas internas e estabelecer robustas agências de negócios nas cidades globais da América do Norte, Europa ou Ásia, os estrategistas brasileiros julgaram de maior impacto para suas ambições multilaterais abrir postos diplomáticos em cidades como Baku, Belmopan, Basse-Terre, Castries, Conacri, Cotonou, Cartum, Gaborone, Malabo, Nouakchott e Uagadugu. Isso angariou simpatia e votos na Organização Mundial do Comércio (OMC) e outros fóruns, mas pouco fluxo de comércio”, resume.

No entanto, esse apoio teve custos, como o perdão de 80% da dívida de 12 países que possuem um débito de US$ 897,5 milhões com o Brasil. Essa iniciativa foi anunciada pela presidente Dilma Rousseff durante uma de suas visitas ao continente, no ano passado, e pelo menos cinco desses países tiveram a renegociação aprovada no Senado Federal.

domingo, 13 de abril de 2014

Brasil introvertido - Marcos Troyjo

BUSINESS MAGAZINE, April 2014
Introverted Economy
Brazil needs a new trade and investment strategy, but so far the country seems to prioritise politics over economics.
Marcos Troyjo
Director of the BRICLab at Columbia University, where he teaches international affairs
Brazil’s strategy for growth over the past decade has favored more than just consumption over investment, and more than ad hoc fiscal incentives for companies and sectors blessed by the country’s ‘local content’ industrial policy. At its core, Brazil’s economic strategy is the expression of an approach that is mostly insular and which prioritizes its domestic market over a more incisive interaction with the global economy.
Description: mage.jpegFrom an international relations perspective, this approach reveals a great deal about Brazil’s lack of a sophisticated project in terms of both influence and prosperity. Present-day Brazil, where significant economic expansion has been kept at bay for more than three years, is the result of a political economy of ideological preferences, with a strong accent on political affinities and less attention to economic pragmatism.
Globally, Brazil’s political discourse has sounded much louder over the past decade than have its cross-border economic achievements. The country’s idea of its global reputation is intertwined primarily with bringing the United Nations system up to date: becoming a permanent member of the Security Council, strengthening ties among Latin American countries, and praising the benefits of South-South cooperation; in short, a foreign policy permeated by ‘good intentions’ and ‘balanced’ relations with the world’s top players.
But the fact is that recent attempts by Brazil to build strategic political partnerships that could bring economic benefits, such as with China or France, have been unilateral in most cases. Brazil’s bilateral trade with China has increased tenfold in the past decade. But that has been mostly driven by dramatic growth in China’s infrastructure and consumer market, and its consequent voracious appetite for the mineral and agricultural commodities in which Brazil has clear comparative advantages. The result? One ton of Brazilian exports to China is worth about $200. One ton of Chinese exports to Brazil is worth more than $2,000. That could hardly be called a partnership.
Brazil’s interests in Africa are overshadowed by the expanding outreach of Chinese corporations. UN reform is nowhere near the horizon. And the various geometries fostered by Brazil in Latin America, either using Mercosur, the Union of South American Nations, or the Community of Latin American and Caribbean States, yield plenty of speeches on how the world should be made more equitable – and few, if any, tangible economic results.
Brazil’s global agenda has prioritized its political objectives – modulated by the ideological preferences of the day – over economic initiatives that might have included more bilateral free-trade agreements. Since Mercosur was created in the early 1990s, Brazil has only concluded three FTAs (with Egypt, Israel and Palestine), while Mexico, since NAFTA, has put more than 40 FTAs in place. Brazil’s ideological biases over the past decade – coupled with the finest breed of protectionism-prone conservatives in the US – have helped put the idea of a Free Trade Area of the Americas to rest.
The low priority Brazil has put on its foreign economic goals has prevented a more aggressive stance in trade and investment promotion. Brazil should have strengthened and expanded its ambitious APEX – a trade and investment promotion agency founded during the Fernando Henrique Cardoso administration in the 1990s – which now consists of a few dozen officials based mostly in Brasília. Instead of setting up muscular business bureaus in the global cities of North America, Europe or Asia, Brazilian strategists believed themselves to be taking steps toward greater global stature by opening diplomatic posts in cities like Baku, Belmopan, Basse-Terre, Castries, Conakry, Cotonou, Khartoum, Gaborone, Malabo, Nouakchott, Roseau, St George’s, St John’s, and Ouagadougou.
Seemingly clueless of – or oblivious to – the forces driving the global economy, Brazil was recently surprised to learn that the United States and the European Union were working toward an FTA to come into force in 2015. As news of the plan came out, a high-ranking official in Brazil’s presidency told newspapers Brazil had been following ongoing negotiations “without the hastiness of a subordinate.”
Brazil should decide whether it wants trade to be a driver of its economic development. The country’s economic relations with its Latin American cousins, given their small scale as buying markets, represent a low ceiling. Meanwhile, the more dynamic economies of Latin America – Colombia, Peru, Chile and Mexico – are reconfiguring their strategies and joining forces in an FTA of their own, one that will entertain an open trade dialogue with the US.
As for further access to Europe’s markets, Brazil’s negotiating position is rendered less mobile by the limits imposed under its membership of Mercosur. The diametrically opposed views of the Mercosur and European Union countries – especially when it comes to agriculture – prevent negotiations from advancing to other areas. Were Brazil to make its local content requirements more flexible, particularly in areas related to infrastructure, transport and logistics, a new phase in Brazil’s economic relations with Europe could be launched. But that would be going against Brazil’s current industrial policy mantra.
When it comes to the BRICs, Brazil certainly revels in China’s demand for its low-value-added exports. But Brazilian industry lacks the stamina to face China’s hypercompetitiveness – so no FTA in sight here. Russia and India have great potential as trading partners, but they lack the complementarities in both geography and natural resources that are conducive to forming economic blocs.
The BRICS will coordinate common positions in economic and political forums. They will certainly trade more among themselves. They may even come up with preferential credit lines, or even a BRICS Bank, to help finance infrastructure projects. But given the scale of the issues in which their interests do not converge, the bloc will never form an FTA, much less a vertical, deeply integrated economic zone.
As a consequence, Brazil, especially in comparative terms, will keep a low profile in global economic statistics. The country’s share of international trade is only about one percent. The sum of all its imports and exports represents 18% of Brazil’s GDP. Its share of world GDP, at 2.9%, is unchanged since 2002. With the watershed event of the US-EU Transatlantic FTA now in the making, Brazil should get its act together and add some urgency to the idea of defining its place on the map of 21st century trade and investment.
If Brazil made the right choices now, it could no doubt use the productivity and competitiveness of its agro-energy sector to help foster a tech-intensive, globally connected economy. Otherwise, if it continues to shun interaction with the most important markets of the world, it will be rendered an ever less relevant, ‘bloc-less’ economic player.
 BUSINESS MAGAZINE, April 2014
Introverted Economy
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Brazil needs a new trade and investment strategy, but so far the country seems to prioritise politics over economics.
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Marcos Troyjo
Director of the BRICLab at Columbia University, where he teaches international affairs
Brazil’s strategy for growth over the past decade has favored more than just consumption over investment, and more than ad hoc fiscal incentives for companies and sectors blessed by the country’s ‘local content’ industrial policy. At its core, Brazil’s economic strategy is the expression of an approach that is mostly insular and which prioritizes its domestic market over a more incisive interaction with the global economy.
Description: mage.jpegFrom an international relations perspective, this approach reveals a great deal about Brazil’s lack of a sophisticated project in terms of both influence and prosperity. Present-day Brazil, where significant economic expansion has been kept at bay for more than three years, is the result of a political economy of ideological preferences, with a strong accent on political affinities and less attention to economic pragmatism.
Globally, Brazil’s political discourse has sounded much louder over the past decade than have its cross-border economic achievements. The country’s idea of its global reputation is intertwined primarily with bringing the United Nations system up to date: becoming a permanent member of the Security Council, strengthening ties among Latin American countries, and praising the benefits of South-South cooperation; in short, a foreign policy permeated by ‘good intentions’ and ‘balanced’ relations with the world’s top players.
But the fact is that recent attempts by Brazil to build strategic political partnerships that could bring economic benefits, such as with China or France, have been unilateral in most cases. Brazil’s bilateral trade with China has increased tenfold in the past decade. But that has been mostly driven by dramatic growth in China’s infrastructure and consumer market, and its consequent voracious appetite for the mineral and agricultural commodities in which Brazil has clear comparative advantages. The result? One ton of Brazilian exports to China is worth about $200. One ton of Chinese exports to Brazil is worth more than $2,000. That could hardly be called a partnership.
Brazil’s interests in Africa are overshadowed by the expanding outreach of Chinese corporations. UN reform is nowhere near the horizon. And the various geometries fostered by Brazil in Latin America, either using Mercosur, the Union of South American Nations, or the Community of Latin American and Caribbean States, yield plenty of speeches on how the world should be made more equitable – and few, if any, tangible economic results.
Brazil’s global agenda has prioritized its political objectives – modulated by the ideological preferences of the day – over economic initiatives that might have included more bilateral free-trade agreements. Since Mercosur was created in the early 1990s, Brazil has only concluded three FTAs (with Egypt, Israel and Palestine), while Mexico, since NAFTA, has put more than 40 FTAs in place. Brazil’s ideological biases over the past decade – coupled with the finest breed of protectionism-prone conservatives in the US – have helped put the idea of a Free Trade Area of the Americas to rest.
The low priority Brazil has put on its foreign economic goals has prevented a more aggressive stance in trade and investment promotion. Brazil should have strengthened and expanded its ambitious APEX – a trade and investment promotion agency founded during the Fernando Henrique Cardoso administration in the 1990s – which now consists of a few dozen officials based mostly in Brasília. Instead of setting up muscular business bureaus in the global cities of North America, Europe or Asia, Brazilian strategists believed themselves to be taking steps toward greater global stature by opening diplomatic posts in cities like Baku, Belmopan, Basse-Terre, Castries, Conakry, Cotonou, Khartoum, Gaborone, Malabo, Nouakchott, Roseau, St George’s, St John’s, and Ouagadougou.
Seemingly clueless of – or oblivious to – the forces driving the global economy, Brazil was recently surprised to learn that the United States and the European Union were working toward an FTA to come into force in 2015. As news of the plan came out, a high-ranking official in Brazil’s presidency told newspapers Brazil had been following ongoing negotiations “without the hastiness of a subordinate.”
Brazil should decide whether it wants trade to be a driver of its economic development. The country’s economic relations with its Latin American cousins, given their small scale as buying markets, represent a low ceiling. Meanwhile, the more dynamic economies of Latin America – Colombia, Peru, Chile and Mexico – are reconfiguring their strategies and joining forces in an FTA of their own, one that will entertain an open trade dialogue with the US.
As for further access to Europe’s markets, Brazil’s negotiating position is rendered less mobile by the limits imposed under its membership of Mercosur. The diametrically opposed views of the Mercosur and European Union countries – especially when it comes to agriculture – prevent negotiations from advancing to other areas. Were Brazil to make its local content requirements more flexible, particularly in areas related to infrastructure, transport and logistics, a new phase in Brazil’s economic relations with Europe could be launched. But that would be going against Brazil’s current industrial policy mantra.
When it comes to the BRICs, Brazil certainly revels in China’s demand for its low-value-added exports. But Brazilian industry lacks the stamina to face China’s hypercompetitiveness – so no FTA in sight here. Russia and India have great potential as trading partners, but they lack the complementarities in both geography and natural resources that are conducive to forming economic blocs.
The BRICS will coordinate common positions in economic and political forums. They will certainly trade more among themselves. They may even come up with preferential credit lines, or even a BRICS Bank, to help finance infrastructure projects. But given the scale of the issues in which their interests do not converge, the bloc will never form an FTA, much less a vertical, deeply integrated economic zone.
As a consequence, Brazil, especially in comparative terms, will keep a low profile in global economic statistics. The country’s share of international trade is only about one percent. The sum of all its imports and exports represents 18% of Brazil’s GDP. Its share of world GDP, at 2.9%, is unchanged since 2002. With the watershed event of the US-EU Transatlantic FTA now in the making, Brazil should get its act together and add some urgency to the idea of defining its place on the map of 21st century trade and investment.
image.jpegIf Brazil made the right choices now, it could no doubt use the productivity and competitiveness of its agro-energy sector to help foster a tech-intensive, globally connected economy. Otherwise, if it continues to shun interaction with the most important markets of the world, it will be rendered an ever less relevant, ‘bloc-less’ economic player.