O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

Mostrando postagens com marcador Mario Machado. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Mario Machado. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Choque dentro de uma civilizacao: o caso do blogueiro condenado a MIL chibatadas - Mario Machado

Meu amigo Mário Machado, animador do Coisas Internacionais, tem uma sensibilidade especial para assuntos "civilizatórios", como eu, e sempre se preocupou com o destino de pessoas, como eu, acima e além dos Estados e das religiões.Sua postagem sobre o caso do infeliz blogueiro saudita, é particularmente feliz (se me permitem a contradição nos termos) em capturar o absurdo da sentença punitiva em face do que ele escreveu, que está no centro do conflito de civilização a que eu já me referi várias vezes, e que divide as sociedades islâmicas (não todas, mas várias) dentro delas. Elas não vão poder evoluir enquanto não equacionarem essa impossibilidade de seus próprios filhos não puderem discutir os textos sagrados e fazerem aquilo que se chama de exegese, ou seja, interpretação e discussão. Até lá, teremos pequenas e grandes tragédias como essa.
Paulo Roberto de Almeida

A punição Raif Badawi
Mario Machado
Coisas Internacionais, 30 Janeiro 2015 08:59 AM PST

Ontem escrevi en passant sobre os conflitos internos sobre os rumos das civilizações e sobre as forças de manutenção cultural tendem a se valer de leis draconianas para artificialmente coibir a força natural pela mudança que existe em qualquer agrupamento humano e como a comparação (facilitada pela migração e tecnologia) entre civilizações pode ser uma força importante.

Um exemplo, extremo desse fenômeno é a punição administrada ao blogueiro saudita Raif Badawi, 1.000 chibatadas. Acredito que nem a mais relativista das almas consegue não se escandalizar diante das 1.000 chibatadas.

O The Guardian fez uma boa seleção de citações do blog (hoje encerrado, obviamente) de Badawi destaco algumas, que são analises sobre a realidade de seu país e de sua ‘civilização’.

Sobre liberdade de expressão e inovação:
As soon as a thinker starts to reveal his ideas, you will find hundreds of fatwas that accused him of being an infidel just because he had the courage to discuss some sacred topics. I’m really worried that Arab thinkers will migrate in search of fresh air and to escape the sword of the religious authorities.

Secularismo:
Secularism respects everyone and does not offend anyone ... Secularism ... is the practical solution to lift countries (including ours) out of the third world and into the first world.

e;

I’m not in support of the Israeli occupation of any Arab country, but at the same time I do not want to replace Israel by a religious state ... whose main concern would be spreading the culture of death and ignorance among its people when we need modernisation and hope. States based on religious ideology ... have nothing except the fear of God and an inability to face up to life. Look at what had happened after the European peoples succeeded in removing the clergy from public life and restricting them to their churches. They built up human beings and (promoted) enlightenment, creativity and rebellion. States which are based on religion confine their people in the circle of faith and fear.

Sobre o terrorismo de inspiração islâmico:

What hurts me most as a citizen of the area which exported those terrorists ... is the audacity of Muslims in New York that reaches the limits of insolence, not taking any regard of the thousands of victims who perished on that fateful day or their families. What increases my pain is this [Islamist] chauvinist arrogance which claims that innocent blood, shed by barbarian, brutal minds under the slogan “Allahu Akbar”, means nothing compared to the act of building an Islamic mosque whose mission will be to ... spawn new terrorists ... Suppose we put ourselves in the place of American citizens. Would we accept that a Christian or Jew assaults us in our own house and then build a church or synagogue in the same area of the attack? I doubt it. We reject the building of churches in Saudi Arabia, not having been assaulted by anyone. Then what would you think if those who wanted to build a church are the same people who stormed the sanctity of our land? Finally, we should not hide that fact that Muslims in Saudi Arabia not only disrespect the beliefs of others, but also charge them with infidelity to the extent that they consider anyone who is not Muslim an infidel, and, within their own narrow definitions, they consider non-Hanbali [the Saudi school of Islam] Muslims as apostates. How can we be such people and build ... normal relations with six billion humans, four and a half billion of whom do not believe in Islam.

As mil chibatadas em Badawi são um drama humanitário e uma história tristemente exemplar sobre os conflitos internos nas civilizações e nos lembram uma vez mais como é incompleta a explicação do terrorismo e autoritarismo somente pela luta de civilizações, ou como culpa do imperialismo “ianque” (como gostam de dizer).

Não entendam esse texto como uma apologia de uma pretensa superioridade do ocidente que seria o exemplo máximo, por que no seio do ocidente os mesmos temas estão presente e causam acalorados debates, mas é aí que reside o ponto, não é mesmo? Afinal, é contra um debate amplo com alternativas múltiplas que se insurgem os radicais, claro que dão nomes como ocidentalização e infiéis, por que como sabemos palavras além de sua carga semântica, carregam uma forte carga emocional.

Mario Machado

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Congresso Ibero-Americano de Jovens Empresarios: Brasilia, 18 e 19 de setembro

Empresário no Brasil é um herói, pior, é um ser temerário, além do mais, pois além de enfrentar as dificuldades naturais dos mercados -- sabem como é, concorrência, cálculos de custos, inovação, sacrifício pessoal, essas coisas menores da vida -- ainda tem de enfrentar as dificuldades anti-naturais e eu até diria perversas, artificiais, rentistas, burocráticas, expropriatórias, criadas por um Estado balofo, ineficiente, e pior ainda, dominado, como o nosso atualmente, por um bando de sanguessugas incompetentes.
Quem é o cidadão normal que topa uma parada dura? Poucos. Muitos receberam o negócio da família, e tentam tocar o barco adiante, na procela do governo, nas tempestades criadas pelos incompetentes (e são muitos, infelizmente, pois nossas escolas não preparam os alunos para a vida real, pois estão infestadas de saúvas freireanas), e mais ainda, precisam enfrentar os monstros marinhos da Receita Federal, aquela coisa mitológica que engole todo mundo, mesmo um Ulisses destemido...
E quem são esses jovens que se lançam assim ao mar, temerários e corajosos?
São a nossa salvação como país.
Por isso eu não hesito em apoiar este evento, que me foi comunicado por um amigo do peito, Mario Machado, que tem a seu cargo um dos melhores blogs que conheço da nossa área, o Coisas Internacionais (de vez em quando eu o copio, de vez em quando ele me copia).
Aqui vai: quem puder, compareça; quem não puder, tente contatar os organizadores, para saber o que se passou.
Repito, eles são a salvação do Brasil.
Paulo Roberto de Almeida

Oportunidade: Congresso Ibero-Americano de Jovens Empresários, Brasília, 18 e 19 de setembro

CIJE
Entre os dias 18 e 19 de setembro, em Brasília, jovens empresários de toda Ibero-América irão se reunir para o V CIJE Congresso Ibero-Americano de Jovens Empresários e debater integração e competitividade do ponto de vista de quem empreende, arregaça as mangas e assume o risco dos negócios. O Evento será aberto a visitantes que poderão assistir aos painéis e fazer network.
Os profissionais de qualquer campo sabem quão importante é o network para desenvolver suas atividades e essa é uma excelente oportunidade para os estudantes de Relações Internacionais começarem a somar vivência de negócios internacionais a sua formação acadêmica.
V CIJE – Congresso Ibero-Americano de Jovens Empresários

O QUE É O CIJE

Os Congressos Ibero-Americanos têm por missão promover o intercâmbio de experiências exitosas dos setores produtivos das regiões, favorecer circunstâncias que permitam a criação e a sustentabilidade das iniciativas empresariais, promover o turismo de negócios, bem como buscar a integração econômica regional e a formação de lideranças empresariais.

"FIJE: POR UMA IBERO-AMÉRICA MAIS COMPETITIVA E INTEGRADA"

A FIJE promoverá um projeto de fortalecimento do ambiente de negócios para o desenvolvimento econômico dos países ibero-americanos. O projeto é composto por três ações: Brasil: A Bola da Vez! – reuniões em 10 países ibero-americanos filiados à FIJE, para apresentar o projeto e fomentar o desenvolvimento do turismo de negócios no Brasil; Realização do V CIJE – Congresso Ibero-Americano de Jovens Empresários, cujo tema será “Por uma Ibero-América mais Competitiva e Integrada”; JE Negócios – lançamento da plataforma web para o desenvolvimento de negócios entre os países filiados à FIJE.
O público estimado é de 300 jovens líderes empresariais provenientes de 20 países da Ibero-América. Durante o evento haverá uma área de negócios e de relacionamento e o público estimado de visitantes é de 2.000 pessoas.

CONGRESSOS ANTERIORES

Desde 2010, a FIJE organiza anualmente o Congresso Ibero-Americano de Jovens Empresários – CIJE para promover a interação entre os jovens empresários e o compartilhamento de experiências. O objetivo do evento e seu público alvo têm despertado interesse de pessoas ilustres, como D. Felipe de Bourbon, Príncipe das Astúrias; o prêmio Nobel da Paz 2006, Muhammad Yunus; o Presidente da República do Brasil quando em exercício, José Alencar, bem como outros Presidentes de República e autoridades, de diversos países, que simpatizam com o movimento de jovens empresários.

PROGRAMA

17 de setembro, quarta-feira
Local: Sala de Reuniões, Hotel Base Concept
Endereço: Aeroporto Internacional de Brasília, Setor de Concessionárias, Lote 2, Brasília, DF, CEP: 71608-900
10h - 12h: Visita técnica ao Aeroporto Internacional de Brasília (Somente para presidentes de AJEs, Diretoria da FIJE e convidados)
12h - 14h: Almoço da FIJE
14h - 18h: Assembléia Geral e Assembléia Eleitoral da FIJE
20h: Confraternização de boas-vindas para delegação da FIJE
18 de setembro, quinta-feira
Local: Centro de Convenções Ulysses Guimarães
Endereço: SDC Eixo Monumental, Lote 05, Ala Norte, Térreo, Brasília, DF, CEP: 70070-350
09h - 12h: Abertura do evento com autoridades e parceiros - Café Político Internacional com presidentes das AJEs da Ibero-América
12h - 14h: Almoço de confraternização
14h30 - 16h: Painel sobre Educação Empreendedora
16h - 16h30: Intervalo
16h30 - 18h: Painel sobre Energias Renováveis
18h - 20h: Happy hour e Lounge de relacionamento FIJE
20h - 23h30: Jantar do Bloco Mercosul de Jovens Empresários (somente para convidados)
19 de setembro, sexta-feira
Local: Centro de Convenções Ulysses Guimarães
Endereço: SDC Eixo Monumental, Lote 05, Ala Norte, Térreo, Brasília, DF, CEP: 70070-350
08h30 - 09h30: Reunião Bloco Mercosul de Jovens Empresários (Somente para presidentes de AJEs, Diretoria do Bloco Mercosul e convidados)
10h - 12h: Palestra sobre financiamento de projetos para juventude
12h30 - 14h30: Almoço de confraternização
15h - 16h: Visita técnica ao Estádio Nacional Mané Garrincha (aberta a todos os participantes do evento)
16h - 18h: Palestra sobre a experiência da Copa do Mundo no Brasil e o esporte como ferramenta de desenvolvimento social
18h: Encerramento do evento: Happy hour e Lounge de relacionamento FIJE
19h - 21h: Jogo de futebol da Ibero-América
Mais informações em: http://cije.fije.org/index_pt.php
____________

ver este link: http://www.coisasinternacionais.com/2014/09/oportunidade-congresso-ibero-americano.html

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Coisas Internacionais: nossos aliados pouco aliados - Mario Machado

Meu amigo internacionalista e colega blogueiro, animador do Coisas Internacionais, faz interessantes considerações sobre as estranhas amizades do Brasil lulo-petista, que alerto não ser o Brasil normal, ou seja, aquele que sempre conhecemos antes do Nunca Antes...
Esse Brasil lulo-petista, infelizmente fala pelo Brasil, mas inverteu completamente algumas agendas diplomáticas, e os ingênuos, os incautos, os estrangeiros, ou certos jornalistas distraídos (ou aliados, ou melhor, de má-fé) proclamam que o Brasil, ou o Itamaraty, está fazendo isso e mais aquilo, quando não é, são os companheiros lulo-petistas, amadores em relações internacionais, e deformados em política -- quem gosta de ditadura para mim só pode ter um problema mental, ou alguma deformação moral -- que estão imprimindo direções surpreendentes a uma diplomacia que sempre primou pelo equilíbrio, pelo comedimento, pela medida, e sobretudo pelo respeito absoluto do direito internacional, sem falar dos interesses nacionais, obviamente.
Mas, leiam o que escrevem com uma ironia típica da Economist, e uma sutileza mordaz, meu amigo Mário Machado, que até achou uma reflexão que fiz para rechear seu texto por si excelente.
Paulo Roberto de Almeida

Nossos aliados
Coisas Internacionais,  03 Setembro 2014

Nossos aliados nos BRICS andam ocupados em agendas, no mínimo, controversas. Sempre repito aqui que qualquer um que estude e trabalhe com Relações Internacionais, cedo ou tarde terá que conviver e apertar as mãos de gente imprópria para o consumo humano, tudo em nome dessa quimera política chamada Interesse Nacional.

Ás vezes a diplomacia brasileira exagera nas deferências a esses parceiros problemáticos, vez ou outra algum presidente chama ditador de irmão, ou abrimos uma residência oficial para a estadia de outro. Mas, isso é esporádico, pontos fora da curva.

O problema é quando parceiros estratégicos de alto relevo agem de maneira controversa e essa aliança acaba impondo um silêncio conivente do Brasil, para um país que tem buscado com muito afinco o status de Ator Global, ou seja, por definição uma voz relevante nos assuntos planetários. E esse projeto tem se calcado na aliança com os outros gigantes emergentes.

A China tem se movimentado para restringir as liberdades individuais em Hong Kong, como bem colocou o professor e diplomata Paulo Roberto de Almeida, com seu natural estilo provocador:

“[A China] começa a restringir os direitos democráticos, que ainda existem, na sua província especial, ex-colônia britânica, que teve a sorte de ter todas as liberdades democráticas da metrópole-mãe, e mais liberdades econômicas do que a própria metrópole, que derivou para o fabianismo e foi para uma gloriosa decadência, antes de ser recuperada por uma estadista clarividente. Agora, o mais velho império do mundo pretende estabelecer a tirania que já existe em sua própria jurisdição”.

A Rússia tem se envolvido em violações da soberania Ucraniana. E a tradição diplomática brasileira sempre foi visceralmente avessa a esse tipo de violação, mas nesse caso tem mantido um silêncio loquaz. E nem vou levar em consideração os que por ideologia ou apreço a conspiração que tacham os ucranianos de nazistas.

Mas, a maior contradição dessa aliança é o caso indiano, que tem uma deliberada política de subsídios agrícolas agressivos que prejudicam os exportadores brasileiros e uma das causas do travamento da Rodada Doha, tudo bem que a causa do Livre Comércio não é popular no Palácio do Planalto, mas deve ser complicado, pra dizer o mínimo, equilibrar as concepções estratégicas que calcam a aliança global com prejuízos pra um dos setores mais importantes da economia brasileira que é o setor agrícola.

A Política Internacional, por vezes exige alianças, que nos amarram a atores que na consecução de suas agendas violam alguns dos valores que dizemos que nos definem. Como bem disse Nelson Rodrigues: “Não se faz literatura, política e futebol com bons sentimentos”, mas numa democracia seria interessante que temas como nossas alianças internacionais fossem debatidos de maneira séria e pragmática.

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Raul Castro na Granja do Torto: Um Itamaraty humilhado? - Mario Machado (Coisas Internacionais)

Raul Castro na Granja do Torto: Um Itamaraty humilhado?
Coisas Internacionais,  20 Julho 2014 09:29 AM PDT

A diplomacia brasileira sempre gozou de muito prestígio, aliás, com chanceleres de carreira, ou seja, sem respaldo de votos e partidos é importante que tenha prestígio para se fazerem ouvir na esplanada, assim é o sistema brasileiro, precisamos ter em mente.

Patriota caiu por que nunca soube controlar a máquina e principalmente nunca conseguiu gozar de prestigio palaciano, há relatos – sem confirmação oficial – de que era ademoestado, em público, com a veemência (grosseria) habitual da presidente. Um desprestigio pessoal que também pesava sobre a pasta.

Aliás, foi o caso do senador boliviano confinado a nossa embaixada em La Paz, que deu cabo a um processo nunca antes vistos no MRE, uma comissão de sindicância, presidida por pessoa alheia ao Serviço Exterior Brasileiro, não recordo nem no período de truculência militar um processo semelhante.

O Itamaraty enfrentou, também, processos grevistas inéditos – e a meu ver justos – na luta contra o anacrônico assédio moral e por melhores salários para funcionários locais.

Vários países do mundo possuem assessores especiais em assuntos externos, mas nesses países os chanceleres são políticos com tração social, então a chancelaria não se vê em desprestígio, por exemplo, o caso do State Department que não detém o monopólio da política externa americana, mas é altamente relevante em sua execução e construção. O modelo brasileiro tem a vantagem de supostamente descolar a política externa de interesses de curtíssimo prazo da política partidária, ele resguarda o patrimônio construído pelas gerações e dá a Política Brasileira a bem vista previsibilidade e senso de interesse de Estado com ampla continuidade temporal.

Há muito que qualquer observador atento percebe que mais e mais decisões de política externa são decididas exclusivamente no Planalto. Marco Aurélio Garcia é homem poderoso, coordenador de campanhas presidenciais e articulador da Política Externa para América do Sul e Latina e apesar de todos os circunlóquios fica clara que eleições afetivas e ideológicas pesam sobremaneira nessas decisões, ou como explicar hospedar o ditador cubano na Residência Oficial da Granja do Torto?

Já escrevi isso várias vezes, pode-se fazer uma política externa cosmopolita, sul-sul, anti-hegemonica, ou qualquer adjetivo que se queira, sem ter que ir na “extra-mile”, em um vocabulário mais corrente é possível ter relações independentes com qualquer país sem ter que “puxar saco”. É claro, que nos assuntos internacionais se aperta a mão e se posa pra fotos com pessoas não recomendadas para o consumo humano, mas abrir sua casa para elas, é um tanto demais.

Quais os ganhos que hospedar com tamanha deferência o líder cubano trarão para o Brasil? E por que tratar a hospedagem como “Segredo de Estado”?

Força diplomatas, sempre tão avessos a intervenção dos “amadores” na Política Externa, não há humilhação que seja pra sempre. E pensando bem, imagino o porquê do silêncio. A subserviência é sempre constrangedora.

terça-feira, 3 de junho de 2014

Vai ter copa, mas nao vao ter o meu voto - Mario Machado (Coisas Internacionais)

Uma excelente crônica sobre os eventos correntes, como diriam alguns cronistas da atualidade, do meu amigo e colega de blog internacionalista Mario Machado. Faço minhas as suas palavras, se ele me permite o empréstimo sem pagar direitos autorais...
Paulo Roberto de Almeida


Posted: 02 Jun 2014 12:56 PM PDT

O Brasil por esforço do governo e diversas organizações não estatais (como Igrejas e federações esportivas) trouxe para o Brasil alguns dos mais chamativos megaeventos do mundo. A estratégia construída durante o boom das commodities parecia clara: dinamizar o turismo e reforçar a imagem do Brasil e assim marcar um novo status nacional. E, talvez alimentada pelos resultados positivos dos Jogos Pan-Americanos de 2007, no Rio de Janeiro. Outros emergentes se valeram da mesma estratégia. Temos as Olimpíadas de Pequim, na China, em 2008, a Copa do Mundo da África do Sul, em 2010, os Jogos Olímpicos de Sochi 2014 e em menor escala os Jogos da Commowealth, em Nova Déli, 2010, com exemplos dessa estratégia. Outro traço comum a esses eventos é que todos provocaram ondas de protesto.
O Brasil se arrogou receber uma seqüência de megaeventos com os Jogos Mundiais Militares, Jornada Mundial da Juventude, Copa do Mundo e Jogos Olímpicos e Paralímpicos. Quando esses compromissos foram assumidos pelo governo e sua base aliada (sem consulta popular, é bom salientar) atentar quanto ao gigantismo do projeto a frente e levantar dúvidas sobre sua exeqüibilidade era ser do contra, tucano, vendido e até mesmo vira-lata.
Ambição, como sabemos, não faltou aos líderes políticos quando assumiram esses compromissos, agora planejamento extensivo e execução eficiente, bom isso faltou e muito.
É preciso ter em mente que o Brasil é um importador de poupança, ou seja, é historicamente incapaz de poupar internamente para assim ter recursos para investimento, qualquer que já tenha aberto ao menos um livro de economia sabe que S=I, ou seja, poupança é igual a investimento. E o setor público brasileiro, regido por um pacto social, que deseja muita intervenção estatal é incapaz de investir no montante necessário. Assim, os megaeventos eram vistos como uma chance de atrair investimento estrangeiro para setores de infra-estrutura como portos (pelo menos os terminais de passageiro), aeroportos e mobilidade urbana, além de empregos e treinamento profissional nas obras de infra-estrutura e nos estádios. E então a palavra legado fez sua entrada no vocabulário corrente da política nacional.
O investimento privado não veio (e, talvez tenham faltado estímulos corretos para sua atração) e o dispêndio público elevado na construção de estádios começou a irritar a opinião pública pressionada pelos elevados custos de vida e pelo peso dos impostos. Em outro front os grupos mais ligados a extrema-esquerda viram a invasão do capital e substituíram o FMI pela FIFA no papel de inimigo externo e nesse processo denunciaram as desapropriações e deslocamentos forçados que as obras públicas e os estádios ocasionaram.
Essas duas ondas principais de descontentamento se somaram (mas, não misturaram vide as denuncias de lado a lado por traição ao movimento) e foram as ruas em enormes protestos cada vez mais exacerbados e nisso a reação por vezes truculenta da PM contribuiu, embora em alguns momentos alguma força coercitiva é necessária.
Esses descontentamento e protestos não são exclusividades do Brasil, na verdade parece ter havido aqui um almalgama dos protestos que precederam os Jogos da Commowealth e os protestos e greves pré-copa da África. Até mesmo o clima de dúvida “vai ter copa, não vai ter copa”, o comunicado feito pelo movimento “Anti Commonwealth Games Front” deixa escancarada as semelhanças, transcrevo um resumo abaixo o total pode ser lido aqui:
The Front protested the Commonwealth Games on the following grounds:
1. In the run-up to the Commonwealth Games, the city has seen the most blatant violation of human rights of the urban poor.
2. The government has completely lost its sense of priorities. While Rs. 70,000 to 100,000 crore (US$ 15 – 21 billion) are being spent on hosting a twelve day sporting extravaganza,
3. India is a poor country and cannot afford this kind of wastage of precious resources.
5. Residents of Delhi have had to put up with a lot of inconveniences to host an event they were not consulted about and did not ask for.
6. It has been reported that CWG is being counted as one of the biggest corruption scandals in the country.
7. Rs. 744 crore meant for Scheduled Castes in Delhi has been diverted to meet the Games related costs, in complete violation of the Special Component Plan and the 2006 Planning Commission Guidelines.
E na África do Sul milhares foram as ruas durante a Copa para protestar os enormes gastos com o evento, como ilustra reportagem da época que destaco a frase abaixo:
“If we have money for stadiums, we should not have any homeless people or people having to live in shacks”.
Não é coincidência, também, que os mais abertos dos emergentes tenham enfrentado as maiores resistências, greves, protestos e campanhas contrárias aos mega-eventos, afinal é parte da democracia a liberdade de expressão e a liberdade de se opor ao governo.
Índia, Brasil e África do Sul sofreram (e sofrem) com o mesmo problema de ineficiência na gestão de recursos públicos e no planejamento das obras para os eventos e o não cumprimento de prazos e padrões, é mais fácil para a Rússia e China passarem por cima dos prejudicados e continuarem os trabalhos com rigor marcial. E mesmo para os dois mais fechados protestos foram feitos contra suas políticas, no caso chinês a intervenção no Tibet que sistematicamente atacaram a tocha olímpica e no caso russo protestos contra suas políticas anti-homossexuais.
O Brasil não está preparado adequadamente para esse evento, e isso não é novidade, afinal, todas as obras de infra-estrutura prometidas e melhorias de mobilidade urbana eram apenas paliativos, o problema continua sendo a superação do subdesenvolvimento. Mas, nem os paliativos ficaram prontos a tempo e teremos o improviso como solução, um bom marketeiro ainda coloca o spin de criatividade e adaptabilidade do povo brasileiro ao falar disso. E é bem possível que o turista ávido por diversão e pelo Brasil do imaginário mundial, nem se importe tanto assim com as falhas de infra-estrutura, se as condições de segurança forem melhoradas durante o mundial. Sempre haverá o que não vai gostar e o que vai festejar e se divertir olhando tudo com as benévolas lentes das férias.
Contudo, quem protesta a decisão de trazer a Copa do Mundo e Jogos Olímpicos tem uma razão insofismável, diante do tamanho de desafios e da necessidade de investimento que o Brasil precisa esse montante não teria sido mais bem aproveitado em outros projetos?
Precisamos, sim, de mais e melhores aeroportos (ou por que agora que mais pessoas podem voar devemos aceitar uma queda no padrão dos serviços e espaços aeroportuários, como se ele não “merecessem”?) e de mais segurança pública e melhorias significativas nos transporte público e de um novo modelo educacional, mais eficiente na gestão de recursos, mas um megaevento tem gastos com a festa, estádios e outros que drenam recursos e energia da administração pública, isso sem falar da corrupção percebida.
A Copa vai acontecer e as forças de segurança estão sob muita pressão para garantir a paz e a tranqüilidade de quem quer assistir aos jogos e aproveitar a festa, contudo, não podem usar métodos coercitivos que se configurem como cerceamento do direito a assembléia dos contrários a Copa. E com tanta pressão, ânimos exaltados e agentes provocadores de toda sorte não é difícil imaginar cenas horrorosas, que afastarão futuros turistas muito mais que aeroportos precários e hotéis caros.
Fica claro, que protestos e choques pré-megaeventos são características dos megaeventos sediados pelos emergentes, contudo alcançaram um nova escala aqui por conta de dinâmicas da política e da economia brasileira.
Alguns já devem saber que sou grande torcedor de futebol e corinthiano, sim grafado com th, desde criancinha (fora Mano) e por isso tenho grande apreço pelo mundial e pela chance de ver os melhores jogarem sob uma pressão incrível. Não sou adepto, contudo, das patriotadas, mas sim torço pela seleção canarinho, com menos entusiasmo que torço pelo Timão, é verdade.
A meu ver, é tolice tentar caracterizar o grau de politização ou sua filiação partidária e/ou ideológica de um cidadão por assistir ou não aos jogos da Copa, ou por vibrar o não com os gols do scratch canarinho (ainda se usa essa expressão?). Ainda mais, por que é preciso lembrar que esse amplo guarda-chuva dos protestos anti-copa do mundo abriga linhas de pensamento como a dos black blocs (recomendo essa matéria must-read do Estadão), que nunca vou subscrever, nem apoiar.
Eu vou assistir aos jogos, em casa e nos bares, vou comemorar (nem que seja pra irritar a extrema esquerda), vou tentar contribuir para que não seja um prejuízo maior ainda, mas meus caros, não vou esquecer de responsabilizar quem trouxe os megaeventos e demonstrou uma falta de visão estratégica e de necessidades nacionais.
Vai ter Copa! Não vão ter meu voto!

sábado, 29 de março de 2014

O erro fundamental do coletivismo - Mario Machado (Coisas Internacionais)

Meu amigo Mário Machado, e colega blogueiro, no Coisas Internacionais, assina aqui um dos melhores textos que já li sobre as perversões morais do coletivismo, um mal que nos afeta profundamente, pois ele está na base de TODAS as políticas equivocadas que estamos conhecendo no Brasil desde 2003, e que estão fazendo o Brasil retroceder absoluta e relativamente, sobretudo no plano educacional e mental.
Subscrevo integralmente cada uma de suas palavras e seria capaz de apontar muitas outras consequências práticas, em nossas vidas, das políticas de inspiração coletivista adoradas pelos companheiros totalitários.
O Brasil recua, a olhos vistos, e em todas as frentes, sobretudo no plano das políticas públicas -- e o que se salva não deve nada ao Estado, justamente -- e esses recuos são inteiramente devidos à ideologia coletivista dos companheiros.
Leiam o texto com atenção, e reflitam.
Paulo Roberto de Almeida 

Coisas Internacionais


Posted: 29 Mar 2014 08:48 AM PDT
atlasColetivista é aquele que crê que os interesses das abstrações sociais (classe, raça, gênero, etc.) são mais importantes que o individuo. Em geral, eles tratam o individuo como algo que deve ser enquadrado em padrões de desejos e comportamentos que seriam definidos pela estrutura coletivista que pertenceriam. O coletivista julga está fazendo o melhor para humanidade e geralmente tem um horizonte utópico arrebatador, basta ver as duas maiores expressões do coletivismo no século XX (Socialismo e Fascismo), para identificar as tendências que descrevo.
Para os adeptos do coletivismo, que não duvidem é um conceito muito difundido e influente, o pior comportamento humano possível é o individualismo, pois para eles o individuo nada mais é que um ente a serviço da causa. E a causa é sempre nobre, os comunistas tomaram o poder para realizar a justiça social plena e com um horizonte utópico desses o que são alguns milhares de “alienados” mortos ou encarcerados?
Quem ousa pensar diferente é um perigo é alguém a ser silenciado, afinal olha como é bom o futuro prometido e o caminho para chegar lá é silenciando o dissidente. É um mecanismo de controle eficiente e funciona bem, afinal, quantas críticas ao individualismo “selvagem”, “egoista” e outros muitos adjetivos lemos por ano? Agora mesmo o leitor desse texto pensou em várias.
Certa vez, quando eu reclamava do impacto negativo que certa aventura econômica do governo teria sobre os preços que eu pago sobre um produto um conhecido professor e escritor no campo das RI não duvidou e taxou um: “mesquinho e egoísta”. Eu tolamente tentei demonstrar que isso não era verdade, sou até moderadamente generoso e faço muitos trabalhos voluntários para a comunidade, mas tudo era respondido com a ironia e a soberba dos que se julgam superiores por seus valores coletivistas (e não importa quantos crimes esses valores tenham causado, nessa hora a culpa é estranhamente individual). Por fim, desisti do debate. Não haveria ali nada além de discurso emocional, carregado em palavras militantes, uma chatura sem tamanho.
Essa história me veio a cabeça e decidi compartilhar uma frase com vocês que soará como uma verdadeira heresia contra os dogmas do coletivismo. Mas, pareceu-me apropriado compartilhar.
“Minha felicidade não é um meio para nenhum fim. Ela é o fim. Ela é seu próprio objetivo. Ela é seu próprio propósito. Tampouco eu sou um meio para qualquer fim que outros possam desejar realizar. Eu não sou um instrumento para seu uso. Eu não sou um servo de suas necessidades.” Ayn Rand
Reitero: “Eu não sou instrumento para seu uso. Eu não sou um servo de suas necessidades”. Eu não sou uma ‘categoria de pensamento’, eu sou um indivíduo e um indivíduo permanecerei.
Mário Machado

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Venezuela e a questao da lideranca brasileira - Blog Coisas Internacionais


Coisas Internacionais, 21 Feb 2014 06:39 AM PST

Não é a primeira vez que reflito nesse blog sobre o conceito e a abrangência da suposta liderança brasileira na região da América do Sul. E reiteradamente constato que essa liderança propalada em discursos raramente se converte em política, em ações estratégicas, em momentos de crise como o que vive agora a Venezuela.
O Brasil se eximiu de ter um papel ativo e público na solução da crise das papeleras, amarga disputa entre Argentina e Uruguai que ameaçou seriamente a unidade do MERCOSUL.
Quando a Colômbia atacou acampamento das FARC em território equatoriano e matou um membro do secretariado da narco-guerrilha Raúl Reys, novamente, nossa diplomacia ficou a reboque da dupla Kirchner- Chávez.
Foram duas oportunidade de liderar, de oferecer bons-ofícios e tentar impelir estratégias nacionais para a região, sem imposição imperial, mas construindo com habilidade o consenso ao se mostrar verdadeiramente engajado.
É sempre difícil pros decisores políticos separar seus interesses de governo (partidário-eleitorais) dos interesses de Estado (de longo prazo e supostamente suprapartidários) principalmente quando a simpatia e antipatia ideológica são tão aparentes como no atual partido no poder no Brasil. Só a simpatia ideológica explica por que o Brasil é neutro diante das FARC que tentam derrubar um regime para impor uma ditadura socialista e na busca desse propósito traficam drogas que inundam as ruas brasileiras e armas ilegais que nos matam e é agora completamente defensor do regime bolivariano que enfrenta ampla contestação de uma fatia significativa da população da Venezuela.
Sobre a Venezuela é preciso resistir a vontade de demonizar os lados em disputa. É verdade que Maduro foi democraticamente eleito, ainda que pipoquem denuncias de fraudes eleitorais, mas também é verdade que sua eleição transformada pelos marketeiros brasileiros em referendo sobre o Chável, recém-falecido (o que é claro tem forte carga emocional) foi bem apertada com cerca de 200 mil votos de diferença.
Isso quer dizer que não são protestos de uma “minoria fascista”, “branca” e “racista” que não suportaria um Estado mestiço e indígena, como li na opinião de um professor da UnB, que pela ingenuidade da afirmação não deve ser (assim espero) membro do iPol ou do iRel.
Hoje, 21 de fevereiro de 2014, até as 10h não havia no site do Itamaraty nenhuma nota referente a virulência das manifestações e da repressão na Venezuela, alguns dias atrás uma nota da CELALC havia sido publicada mas foi retirada. Notas oficiais são em conteúdo sempre cheia de platitudes e diplomatiquês, mas a ausência delas é um indicativo muito interessante de que falta consenso sobre o assunto no governo.
E antes que venham com a balela de que qualquer manifestação contrariaria a não-intervenção, o Brasil emitiu com rapidez nota externando preocupação com a violência e pedindo refreamento por parte do governo e opositores e diálogo para alcançar a paz social na Ucrânia.
Ora, se o governo brasileiro quer mesmo ter papel de liderança no continente não pode se omitir, não pode deixar de condenar a violência dos manifestantes e dos agentes do governo, deveria fazer gestões para que o opositor preso responda processo em liberdade, o que acalmaria um pouco as ruas e pediria comedimento por parte do regime na resposta as manifestações e mais articularia uma missão da UNASUL ou MERCOSUL até a Venezuela para avaliar melhor a situação e para ajudar na negociação do fim da crise. Ações práticas demonstram liderança.
Inevitável é o questionamento de quanto da ação vacilante do governo deriva da simpatia ideológica e o quanto deriva de um quadro de análise política sobre a mensagem que isso passaria aos manifestantes nacionais, que prometem infernizar o governo durante a Copa do Mundo FIFA Brasil 2014.
Pode um líder ser tão vacilante? Cabeças devem estar fervendo no belo palácio dos arcos atormentadas por essas questões, como diria o Barão do Rio Branco, Política Externa é projetar uma certa imagem de Brasil e nesse caso é uma parcial a favor de regimes de mesma matiz ideológica e vacilante quanto a própria capacidade de intermediar crises regionais. É esse um quadro acurado?

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Venezuela: um pais tristemente (e sangrentamente) dividido, pelo governo... - Mario Machado

Palavras sensatas de meu amigo Mário Machado, blogueiro no Coisas Internacionais, de onde vou buscar a integralidade desta postagem de comentários sobre a triste situação do país caribenho, desde muitos anos infelicitado por um regime aloprado (lembra alguém?) e condenado, helàs, a ainda mais sofrimentos, mortes, violência, descida para o caos (e cujo regime celerado vem sendo apoiado pela Unasul e pelo Mercosul, na indiferença de outras instâncias internacionais).
Até onde pode chegar a sanha de bandidos políticos?
Paulo Roberto de Almeida


Coisas Internacionais, 17 Feb 2014 05:37 AM PST

Os clichês nos dizem que a Venezuela é mais um perfeito paraíso tropical de gente hospitaleira, bronzeada pelo sol e banhada pelo mar do Caribe, lugar de lindas mulheres e noites calientes ao som de contagiantes batidas de música latina. As imagens de inquietação, golpes militares, despotismo e populismo são um cruel contraste a essa imagem paradisíaca. Verdade seja dita esse contraste é vívido também aqui em terra brasilis, a realidade nada fantástica da América Latina é lamentável traço comum que dividimos.
Nem o mais aguerrido (iludido?) defensor do chamado Socialismo de Século XXI, das revoluções bolivarianas, pode negar que a Venezuela é um país profundamente dividido. As eleições presidenciais do ano passado mostraram bem isso, afinal Maduro foi eleito com 50,66% dos votos. Essa polarização tem acirrado ânimos e provocou a tentativa de Golpe contra Chávez, que hoje alimenta a retórica de seus partidários. A ironia de Chávez ter sido golpista infelizmente escapa aos defensores do Regime Chavista.
As imagens que nos chegam mostram como a polarização política, num ambiente de crescente escassez econômica e de alta da criminalidade e da queda da renda do petróleo podem geral um acirramento de ânimos tal que os confrontos violentos se tornam uma realidade.
A situação é fluída e muito perigosa, o regime recrudesceu e tem chamado seus defensores as ruas, criminosos aproveitam, e também, se refestelam os que acreditam que a violência pode alcançar resultados positivos para alcançar a mudança ou continuação política que desejam.
E não pensem que a polarização está restrita a ruas e aos partidos políticos, a ocupação de espaços dos bolivarianos criou uma situação em que a própria Suprema Corte se torna parte da disputa política como mostra esse trecho de reportagem da DW:
“O Tribunal Supremo de Justiça da Venezuela divulgou no sábado um comunicado afirmando que já trabalha para "dar início aos processos contra os responsáveis pelos atos violentos incitados pela direita venezuelana"”.
Um símbolo dos ânimos acirrados e da violência do discurso político do regime bolivariano é o programa de TV do Presidente do Parlamento da Venezuela, Diosdado Cabello, que tem o elegante nome de “Con el mazo dando” algo como “descendo o porrete” e que tem como logo um simpático porrete com pregos.
A oposição acusa as milícias pró-governo pela violência, o governo responsabiliza grupos pró-fascista infiltrados, o Álvaro Uribe e os EUA e claro demandam a prisão de líder oposicionista que afirma que irá se entregar.
No fim das contas a falta de instituições e o personalismo quando confrontadas por demandas populares acabam por reforçar a necessidade do modelo do homem forte, que seria capaz de amalgamar a sociedade com seu carisma e usar meios de repressão com os dissidentes. Espero, que a experiência recente com esse modelo possa fazer os venezuelanos encontrarem um meio de acomodar diversas correntes de opinião, contudo, a polarização e o discurso que vemos não deixa muito espaço pra otimismo.
_______________
Votem COISAS INTERNACIONAIS na segunda fase do TOPBLOGS 2013/2014

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Alca al carajo: dixit Chavez; projeto de anexacao economica: dixit Lula; e agora?

Meu amigo Mario Machado foi direto ao ponto.
Endosso e ratifico cada palavra, cada virgula, e, sobretudo, a sua interrogaçao final.
Paulo Roberto de Almeida 

Coisas Internacionais


Posted: 21 Jan 2014 09:44 AM PST
alca al carajoVisitei o Equador no início dos anos 2000 e pelas ruas de Quito um grafite chamou a minha atenção ele dizia: “ALCA, Al carajo, Yanks go home”, a época o recém empossado governo Lula construía o que alardeavam como sua maior vitória política, o torpedeamento da Área de Livre Comércio das Américas, como se dizia a época o bloco que iria da Tierra del Fuego ao Alaska. Anos depois o falecido Chávez usaria a mesma expressão elegante, em Mar del Plata.
O argumento principal era o temor da economia brasileira e da região se tornariam satélites da economia americana, além é claro das dificuldades de sempre, ou seja, agricultura protegida pelo lado americano e serviços blindados pelo lado brasileiro.
Tudo que envolve parceria ou associações com os EUA, acaba sendo decidido com o fígado no Brasil, ou seja, preconceitos ideológicos (e concordâncias cegas, também) dominam o debate, o abstrato interesse nacional é torturado até confessar o que as correntes de opinião desejam.
A tese vencedora foi a do triunfo soberano da política Sul-sul e para isso BRICS seria o caminho, a crise de 2008 parecia ser a grande prova que essa fora a melhor aposta e pouco importava que a pauta comercial brasileira com os demais BRICS (no caso só China mesmo é relevante) fosse concentrada em commodities – o que até pouco tempo antes era sinal claro de atraso diriam os mesmos que agora eram entusiastas dos BRICS – mas, o boom das commodities dava (e ainda dá) muito dinheiro e criava portentosas reservas que nos tornavam credores líquidos do mundo.
Nesse período e com uma forcinha enorme da suspensão do Paraguai o MERCOSUL acrescentou a Venezuela em seu arranjo, pode-se até imaginar que o fácil acesso ao petróleo venezuelano seja algo importante para um bloco em busca de energia, mas politicamente isso mandou uma mensagem altermundista, o MERCOSUL agora seria o bloco em busca de outro mundo possível.
Enquanto isso avançou o movimento de assinatura de acordos de livre comércio entre EUA e vários países da América Central, Caribe e América do Sul, como os vizinhos Peru e Colômbia. E as tentativas de acordo MERCOSUL-UE não passam de declarações de intenções, elogios mútuos, belas notas oficiais e negociações empacadas.
Claro, que ter uma economia relativamente fechada como a brasileira cria distorções que elevam os preços dos produtos fabricados localmente, o que retro-alimenta o fechamento da economia ao justificar a proteção sob pena de perda empregos, automóveis são um caso clássico.
E assim, mais de uma década depois de ver aquele grafite, em Quito, chegamos ao que vemos hoje, a expansão maior dos países do pacífico e como no caso peruano com excelentes resultado na eliminação da pobreza e os países mais fechados patinando, enfrentando inflação.
No inicio desse nosso século fizemos uma opção e mandamos o livre-comércio ‘al carajo’ e o que ganhamos em troca?
____________
PS: Esse não foi o grafite que vi, mas não achei a foto para ilustrar essa postagem.

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Asilo, pero no mucho (esto "depiende" companero...) - Mario Machado

Um impecável artigo do meu amigo e colega blogueiro Mario Machado, sobre a mais recente das tresloucadas aventuras do Itamaraty, de qualquer ângulo que se olhe...
Acredito que muita coisa ainda há para esclarecer, mas os esclarecimentos aqui prestados pelo Mario nos deixam mais esclarecidos sobre o assunto, se ouso ser redundante.
Isso para dizer que gostaria de ter sido tão didático quanto ele, impecável, repito.
Meus cumprimentos...
Paulo Roberto de Almeida




Mario Machado
Coisas Internacionais: 29 Aug 2013 10:58 AM PDT

Eduardo Sabóia diplomata de carreira e encarregado de negócios na Bolívia decidiu trazer – com enorme risco para sua carreira e até risco pessoal – para o território nacional o senador boliviano Roger Pinto que estava asilado a 455 na Embaixada Brasileira em La Paz. Antes de analisar o caso acho que é interessante tecer algumas palavras sobre o Asilo Diplomático. 
Brevíssimas considerações sobre o asilo diplomático
A figura do asilo territorial e do asilo diplomático não possuem um quadro geral de referência no Direito Internacional, ou seja, não são institutos codificados em um tratado multilateral que torne as condutas previsíveis. E mesmo a Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas não possui sequer menção ao tema. Que de certo deve ser um dos que o consenso é muito complicado de atingir.
Muito embora a prática do asilo seja antiguíssima havendo registros dessa prática por toda parte, embora na antiguidade fosse mais comum que se desse asilo a criminosos comuns e não a criminosos políticos, afinal quem arriscaria uma guerra com Roma, ao proteger um inimigo desse império?
Com o tempo a necessidade de combate aos crimes transnacionais e para incentivar a cooperação entre as diversas jurisdições passou-se a considerar que o asilo era devido àqueles que sofrem perseguição judicial por crimes políticos e de opinião. E passou a ser comum a extradição – sempre que instrumentos bi-laterais assim regulem – de criminosos comuns.
O marco multilateral mais importante que versa sobre o asilo é o artigo 14, da Declaração Universal dos Direitos Humanos que diz:
“1.Toda pessoa, vítima de perseguição, tem o direito de procurar e de gozar asilo em outros países.   
2. Este direito não pode ser invocado em caso de perseguição legitimamente motivada por crimes de direito comum ou por atos contrários aos propósitos e princípios das Nações Unidas.”
Fonte: Ministério da Justiça, disponível aqui.
A história de instabilidade e perseguição política na América Latina impulsionou a constituição de um sistema interamericano de regulação multilateral da questão do asilo com dois importantes tratados a Convenção sobre Asilo Diplomático e a Convenção sobre Asilo Territorial.
Destaco alguns artigos da Convenção sobre Asilo Diplomático:
Artigo XII
Concedido o asilo, o Estado asilante pode pedir a saída do asilado para território estrangeiro, sendo o Estado territorial obrigado a conceder imediatamente, salvo caso de força maior, as garantias necessárias a que se refere o Artigo V e o correspondente salvo-conduto.
Artigo XVII
Efetuada a saída do asilado, o Estado asilante não é obrigado a conceder-lhe permanência no seu território; mas não o poderá mandar de volta ao seu país de origem, salvo por vontade expressa do asilado.
O fato de o Estado territorial comunicar à autoridade asilante a intenção de solicitar a extradição posterior do asilado não prejudicará a aplicação de qualquer dispositivo desta Convenção. Nesse caso, o asilado permanecerá residindo no território do Estado asilante até que se receba o pedido formal de extradição, segundo as normas jurídicas que regem essa instituição no Estado asilante. A vigilância sobre o asilado não poderá exceder de trinta dias.
As despesas desse transporte e as da permanência preventiva cabem ao Estado do suplicante.
Comentário sobre o caso atual
Essa viagem pelos tratados se justifica para demonstrar que não era em nenhum momento preciso que se mantivesse o senador em nossas dependências diplomáticas por 455 dias, em uma situação de enorme desconforto e alienação familiar. Essa situação em que se encontrava o senador justifica muito bem a frase de Sabóia: “Não tenho vocação pra carcereiro”.
A operação clandestina que trouxe o senador para o Brasil com todo seu caráter cinematográfico (aqui um relato com detalhes da operação) desencadeou uma crise nos corredores do poder, no Planalto Central, afinal, a própria presidente só soube da operação depois que o senador estava em território brasileiro. Esse fato mostra, por um lado que não houve o devido respeito a hierarquia do MRE, por outro lado demonstra que o encarregado de negócios possuía fortes motivos pra acreditar que o governo não conseguiria obter o Salvo Conduto para a saída do senador boliviano e que o governo federal preferia enfrentar o desgaste de ver a questão do asilo ser apreciada publicamente pelo Supremo Tribunal Federal a tentar uma operação clandestina de retirada do senador.
Os áulicos do governo começam a levantar várias teses e se esforçam em tentar desclassificar a ação e aproveitam para desancar a diplomacia profissional que apesar do assédio ideológico do topo pra baixo tem resistido e insistido em ser órgão de Estado.
Essa verdadeira humilhação burocrática a velha Casa do Barão se manifesta na composição da Comissão de Inquérito que determinará o destino de Sabóia, que é composta por pessoas alheias a carreira diplomática. Procedimento incomum na esplanada.
A estratégia de focar na disciplina interna do Itamaraty e no direitismo do asilado tem obtido sucesso e dão a impressão que a presidente está ‘colocando ordem na casa’ ao demitir o enfraquecido Antonio Patriota. Essa linha de narrativa, também, tem conseguido evitar que se pergunte com veemência na imprensa por que eram negadas visitas ao senador e por que novamente o ministro da defesa nada sabia. Mas, no caso dele nem se aventa exoneração.
O Itamaraty agiu com uma coerência desafiadora para o governo e recebeu o senador na embaixada como havia feito em Tegucigalpa (embora no caso hondurenho o asilado estivesse acompanhado por ampla comitiva e usasse a embaixada como escritório político e não pretendia sair do país), só que desta vez interesses palacianos foram contrariados.
O fato é que Sabóia se arriscou muito e foi jogado aos leões. Sua carreira será duramente prejudicada e ele sabia disso o que demonstra quão forte foram suas motivações. Admitamos é muito fácil se indignar e cobrar soluções para graves violações de Direitos Humanos usando a internet, ou com cartazes numa avenida, difícil e por que não mais nobre é dizer: “Sua vida corre perigo, mas eu também vou correr porque vou lhe acompanhar”.
Muitos defendem a obediência cega a cadeia hierárquica e concordo que é preciso ordem e controle interno, mas quanta desgraça homens e mulheres que apenas seguiam ordens já causaram no mundo?
Um asilado bastará para afetar as relações entre Brasil e Bolívia? Um asilado fará mais que o descaso com o tráfico de drogas na fronteira? Um asilado fará mais estrago que a revista do avião do ministro da defesa? Um asilado fará mais estrago que a tomada com forte aparato militar dos bens da estatal Petrobras? Ser de direita justifica sofrer perseguição política e ser detido? Vivemos em tempos de um condor de plumagem vermelha?

quinta-feira, 7 de março de 2013

Qusndo Chavez ainda nao era Chavez... - Mario Machado Filho

Simpática crônica dos tempos em que FHC ainda era "El Maestro", e quando Chávez, já socialista, mas cauteloso, ainda não tinha desembrulhado seu patético socialismo do século 21.
Mario Machado escreve muito bem, mas é muito sincero para fazer um militante de causas fundamentalistas. Espírito libertário, sabe avaliar com precisão a realidade contemporânea.
Estamos sempre conectados, pelas linhas invisíveis do espaço virtual...
Paulo Roberto de Almeida 

O dia que apertei a mão de Chávez
Mario Machado
Coisas Internacionais,  05 Mar 2013 10:54 PM PST

A notícia da morte de Chávez tomou de assalto o noticiário e as redes sociais, não faltam opiniões, análises e até mesmo as sempre presentes piadas de humor negro. Ao saber da notícia, naturalmente comecei a pensar no que escreveria. Bom, decidi compartilhar com vocês a lembrança que veio imediatamente a minha cabeça.

Aquela foi uma manhã completamente atípica no bloco K, da Universidade Católica de Brasília, havia uma corrente elétrica no ar, todos estavam ouriçados, a maioria por que as aulas terminariam mais cedo, outros por que haviam sido convidados para estar na audiência do discurso que faria o presidente Venezuelano Hugo Chávez Frias, que acabará de conduzir uma série de consultas populares que estavam a gerar uma grande polarização em seu país. Não era ainda o Chávez socialista do século XXI, afinal estávamos no ano 2000 e o barril de petróleo era cotado na casa dos USD 29.00.

Chávez ainda não era um “household name”, ou seja, não se conhecia tanto o homem, ou eu teria optado por lanchar antes do discurso, que eu não imaginei que duraria tanto. O bloco K foi esvaziado naquela manhã, homens da Polícia Federal e dezenas de seguranças venezuelanos de Chávez ocuparam as entradas, o aparato parecia exagerado, havia alguns poucos manifestantes que pediam solidariedade de Chávez com as FARC, eram dias em que o Plano Colômbia acirrava ânimos.

Todos já estavam no auditório do nosso prédio, mas que não era mais nosso, naquela manhã pertencia a alta cúpula dos dirigentes da Católica, jornalistas venezuelanos e brasileiros se acotovelavam na porta sinal inequívoco que o convidado de honra havia chegado.

Cumprida as formalidades do cerimonial público, começou a fala de Hugo Chávez. “É um caudilho, um milico que quer calar a imprensa” me disse uma moça do movimento estudantil, que anos mais tarde se renderia ao bolivarianismo.

O homem sabia entreter uma platéia, era agradável, envolvia os estudantes, foi acessível e gentil no trato, sua retórica já era de alta octanagem, inflamatória por excelência arrancou aplausos ao denunciar os planos de internacionalização da Amazônia – esse eterno fantasma na mentalidade brasileira – e fez relatos sobre como os recursos do petróleo seriam malversados pelos oligarcas e que seu país possuía 80% da população na pobreza. Ele falou dos laços Brasil e Venezuela e de como tinha F.H.C como “El maestro”.

Ao terminar sua fala Chávez – como bom político – dedicou um pouco de seu tempo para tirar fotos cumprimentando os estudantes. E logo foi cercado por repórteres de sua terra natal que queriam saber de algum assunto urgente do dia, na comoção que isso causou aproveitei pra ficar entre os seguranças dele que talvez tenham sido levados a acreditar por conta do terno que eu vestia e do meu porte físico que eu era um segurança brasileiro, quando o presidente esteve em minha frente estendi a mão e recebi um aperto de mão efusivo e uma mensagem que não lembro bem, mas era algo como o futuro pertence a vocês.

Eu ainda tinha 19 anos e era um tanto imaturo e me deixei levar pela pompa e circunstância de estar na presença de um chefe de Estado e acabei por tietar um homem que hoje representa o contrário de tudo que eu acredito, mas são essas experiências que pouco a pouco vão construindo o rumo de nossas vidas.

Não sei, realmente não sei se essa história é pertinente a única certeza que tenho que os eventos daquele dia 31 de agosto de 2000 ajudaram a solidificar meu desejo de percorrer essa tortuosa estrada de ser analista de Relações Internacionais.
______________

Para algumas considerações sobre a situação venezuelana, clique aqui.

*Post dedicado ao meu bom amigo Bruno Amário e sua prodigiosa habilidade de encontrar reportagens antigas na internet.

domingo, 11 de novembro de 2012

Brasil e Paquistao: duas atitudes sobre a educacao

Parece incrível, mas o Brasil recua em matéria educacional, e isto se tornou ainda mais patente desde que os companheiros e as "saúvas freireanas" se apossaram da educação no Brasil, tornando o MEC uma força ainda mais retrógrada do que normalmente já era.
Leiam este excelente post do meu amigo Mário Machado, no seu blog Coisas Internacionais.
Paulo R. Almeida 

Coisas Internacionais, 10 Nov 2012 03:54 PM PST

Qualquer pessoa minimante informada sobre os acontecimentos internacionais já ouviu falar da jovem Malala Yousafzai, a adolescente paquistanesa que é ativista pela educação das meninas de seu país, que foi alvejada por um terrorista covarde talibã e agora com apenas 15 anos luta pela vida em um hospital londrino.
Não há relativismo cultural no mundo que justifique que a luta pela educação feminina seja uma ofensa capital, não imagino uma pessoa normal que possa defender tal postura, só mesmo a mente deturpada de um radical pode concatenar vil ato. O atentado causou tamanha ojeriza que outras alas talibãs decretaram que o atirador responsável deve ser executado (resisto a escrever abatido). Normalmente não escrevo textos tão enfáticos, mas neutralidade nesse caso é uma espécie de aquiescência com esse ato que deve ser sempre repudiado e denunciado.
Hoje, 10 de novembro, o governo paquistanês realiza o Dia de Malala, esse dia, é claro, tanto serve para repudiar o ataque e reforçar a campanha para que as meninas tenham acesso a educação e sejam estimuladas por seus pais, como serve para que o governo paquistanês demonstre ao mundo que sua sociedade não é composta só de talibãs e que é de fato uma sociedade complexa com múltiplas correntes de opinião.
(Convido meus leitores a pesquisarem os projetos de Malala e inspirados por ela, que agora são espalhadas por outras províncias paquistanesas e o Google ta ai para nos ajudar nisso.)
Por um acaso, me deparei com os mais recentes desenvolvimentos da história de Isadora Faber, a garota catarinense que por meio do Facebook expõe as fragilidades da sua escola pública e dá seu olhar singular sobre os eventos em sala da aula.

Desde a primeira vez que ouvi falar no Diário de Classe tive duas certezas: que essa página ficaria famosa e que as represálias seriam pesadas e viriam de colegas e professores. Afinal, os acomodados, incompetentes, ineptos em geral detestam a publicidade. Na página a menina que compartilha sua visão dos fatos de modo corajoso e público, afinal, ela poderia ser uma anônima, mas dá a cara pra bater, aliás, essa metáfora está tragicamente perto de ser uma descrição factual, afinal até o Ministério Público estadual se envolveu para investigar as supostas ameaças e o apedrejamento da casa da família da jovem.
Não vou me arriscar em psicologismo barato e discorrer sobre a inveja que a notoriedade do Diário de Classe desperta em alguns dos colegas da menina, não nego que deve ser um fator, mas não tenho credenciais para enveredar nesse rumo.
Os textos do Diário de Classe, não são particularmente bem redigidos são apenas coletâneas de momentos vividos pela menina no dia-a-dia de sua escola e nesse sentido não são corrosivos, irônicos, ofensivos ou agressivos. Ela retrata uma escola normal, em que há tensão entre alunos “bagunceiros” e estudiosos, em que professores têm preferidos e outros que perseguem. Uma realidade que todos nós já vivemos em sala de aula.
A Isadora tem preferência por postar fotos do cardápio e das refeições da escola e isso tem um potencial problemático, por que a correlação entre o que é oferecido aos estudantes e o que o poder público paga pode conter alguma anormalidade. Chega a ser triste ler os comentários que dizem que o lanche está bom demais e ironizam a menina, mas que não procuram saber se correspondem ao orçamento da chamada “merenda escolar”. Não estou acusando ninguém de nada, que fique claro, apenas mostro como a página tem um potencial de controle social do orçamento público que é desconfortável para os políticos e burocratas.
Há um quê de muito ridículo quando adultos, professores, com formação superior se juntam para circular um manifesto que objetiva “um outro olhar” para refutar uma menina.
Pouco importa se há concordância ou não com o que escreve a menina, ela não pode ser alvo de intimidação para cessar de escrever, não quero viver num Brasil em que a página na internet de uma menina de 13 anos seja alvo de uma “fatwa” dos talibãs do comodismo, do status quo e da incompetência.
Quem diria que com tantas diferenças entre Brasil e Paquistão estaríamos unidos pelo radicalismo contra meninas que querem mais educação?

sexta-feira, 2 de março de 2012

Mario Machado, again, again, imperdivel -- 13 de maio(s)

Voilà, transcrito uma vez, transcrito duas vezes, não pela quantidade, mas pela qualidade.
Meu amigo Mario Machado engrandece estas páginas.
Paulo Roberto de Almeida 

Liberdade, escravidão. Viva a liberdade!

Coisas Internacionais, 13 de maio de 2010
Hoje é 13 de maio aniversário da assinatura da Lei Áurea, lei que tardiamente, diga-se de passagem, extinguiu a escravidão no Brasil. Essa prática nefasta, absurda que viola a dignidade de todos, que foi até o século XVIII e XIX algo comum na humanidade, em todas as civilizações. Até mesmo entre os povos nativos das Américas havia escravidão.

Não vou discorrer sobre a escravidão ao longo da história humana, deixo essa tarefa aos historiadores, que conduzem com rigor esse debate. Nem vou elencar aqui beneficiários e participantes do comércio negreiro que abasteceu o Brasil colônia e império. Espero, de coração, que todos os escravagistas, escravocratas, caçadores de escravos, feitores e capitães do mato, que não tenham se arrependido de sua maldade, ardam no inferno, onde pertencem. (Sou Católico, portanto acredito em inferno).

Prefiro, como sempre, nessa data celebrar a liberdade. Disse ano passado nesse blog, que viver livre é meu dever, dever de consciência, devo a meus ancestrais que toleraram trabalhos forçados, injúrias racistas, tortura física e psicológica, além da indignidade de serem tratados como objeto (comprados e vendidos), e que resistiram a isso na esperança de serem livres.

A liberdade veio, e ser livre não é fácil, as condições do fim da escravidão resultaram em que há uma participação desproporcional de descendentes de escravos, nas camadas mais pobres da sociedade, algo que tem que ser resolvido. A meu ver humilde, o caminho para resolver isso é termos no Brasil escolas públicas de qualidade, que formem bem seus alunos, além disso, mais liberdade econômica para que pequenos negócios de periferia prosperem, assim teremos mão-de-obra produtiva e capaz, cidadãos cientes e ciosos de seus deveres e um ambiente de crescimento econômico, que diminua a distância e que permita que pessoas independentemente de sua origem social, e racial avançar economicamente e dar a seus filhos boas condições de vida que é um desejo comum a todos.

O racismo, o verdadeiro racismo, é um adversário perigoso, por que gera estigmas que perseguem grupos inteiros, como o estigma de que um negro seria preguiçoso, uma imagem que de certo vem dos escravocratas. É preciso combater o racismo e não estimulá-lo.

Sou descendente de escravos, não me envergonho de maneira alguma da minha tez escura, mas não sou raça pura, sou mestiço, como a maior parte do Brasil. Por sinal tenho horror a idéias de raça pura, que ouço muito, coisas tipo negro deve casar com negra, quem diz isso, diz por que deseja valorizar sua herança cultural, honrar seus ancestrais, mas não posso coadunar com uma idéia, que é em essência racista. Não posso aceitar que a cor da pele me limite, que seja ela que decida, a profissão que posso ter, onde posso morar, que elevador tomar, que pessoa namorar, que música ouvir. Ceder a essa patrulha é abrir da liberdade.

E não posso ceder a minha liberdade, não posso deixar de pensar por minha própria cabeça, devo isso, aos que foram escravos e não podiam assim proceder. Ser livre é algo sagrado para mim, até a minha própria religião é construída sobre várias noções, inclusive a do livre-arbítrio, ou seja, a capacidade de escolher, que é na essência ser livre.
Não sou inocente a ponto de dizer que não há racismo por ai, já fui infelizmente vitima de práticas discriminatórias, como já ouvi piadinhas, inclusive de professores e autores de relações internacionais, muito conceituados, que acusam em seus livros os EUA de serem um país essencialmente racista, mas que no trato pessoal, me tomaram como segurança do evento, por causa certamente da minha altura e físico, e também, por que um homem negro de terno dentro de certos ambientes deve ser o segurança. Mas, isso não me abate. Fui criado para ter confiança em mim mesmo, para não deixar que me definam, sei que tenho que provar sempre minhas capacidades, mas isso vale para as mulheres e meus colegas brancos. Se eu tenho que fazer um esforço extra, bem, é algo que chateia, que é injusto, mas é o mundo em que vivemos, e quem sabe meu bom trabalho e esforço meus filhos não tenham que fazer um esforço extra.

Mesmo já tendo sentido a discriminação, sei também, por experiência própria, que a maior parte da população brasileira não é racista, ainda que tenha aqui e lá algum ranço racista, alguma piadinha fora de hora, de pessoas que são, também, negras, ou pelo menos afrodescendentes que é a palavra da moda. Mas, nesse particular outros grupos sofrem, seja por religião, ou pro opção sexual (se o termo opção for cabível, o que suspeito que não é).

Há ainda o tal racismo velado que tanto se fala, ele é um sintoma de um racismo covarde, cínico e cheio de desfaçatez, mas também diz algo sobre o Brasil, e no meu entender, diz que no Brasil o racismo é considerado algo feio, (se não errado na mente doentia do racista, é deselegante, mau educado) que não é bom que seja feito a plenos pulmões, o que é positivo em certo sentido, por que permite a convivência de migrantes europeus, asiáticos, africanos, com as populações que aqui já estavam, como os negros da migração involuntária, europeus colonizadores e os índios sobreviventes.  

O Brasil não é uma democracia racial, que queremos, mas está longe de ser um país essencialmente racista. Temos muito que avançar, mas temos que avançar muito em todas as áreas do desenvolvimento humano. Isso é fato. Mas, me recuso a crer que alguém é racista ou me odeia só por que é branca, asiática, ameríndia, ou mais escura que eu.

Preconceituosos e intolerantes sempre existirão e para eles temos que aplicar a lei quando é o caso. É preciso resistir a tentação de dar uma resposta violenta, que é grande, grande mesmo, ser injuriado racialmente, gera uma raiva gigantesca, que pode cegar. Mas, via de regra a violência não é uma boa saída, eu como artista marcial (praticante de judô e jiu-jitsu), recomendo que não se parta para a violência, mas consigo entender quem perde a linha.

Muito falta para que chegue o dia sonhado, aquele dia em que todos serão julgados pelo conteúdo de seu caráter e não pela cor de sua pele, contudo em honra a todo o sofrimento de meus ancestrais, em honra a luta de negros e brancos que lutaram pela causa abolicionista, por todos aqueles que se arriscaram, muito, pela liberdade, que eu não vou nunca me permitir ser cerceado em minha liberdade de expressão, não me deixarei ser patrulhado, devo a eles viver livremente.