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quinta-feira, 20 de abril de 2023

Questão democrática - Merval Pereira (O Globo)

 Questão democrática

Merval Pereira

O Globo, 20/04/2023,

Ao revisitar antigos erros, como o apoio a ditaduras da América Latina, Lula demonstra que seu apreço à democracia não é prioritário, se é que existe realmente

O presidente Lula foi eleito com apoio decisivo de um tipo de cidadão, aquele preocupado em proteger a democracia de uma possível vitória de Bolsonaro na eleição presidencial. A campanha de Lula baseou-se na necessidade de formar uma frente ampla democrática para impedir a continuação de um governo que já deixara clara sua intenção de dar um golpe, que quase se concretizou no dia 8 de janeiro e até hoje impacta nossa sociedade.

Ontem mesmo, o general Gonçalves Dias, que já trabalhara com Lula nos governos anteriores e desfrutava sua confiança a ponto de ser o chefe da segurança pessoal, teve de pedir demissão da chefia do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) diante dos vídeos que demonstravam que ele estivera presente nos atos de vandalismo no Palácio do Planalto — não para impedi-los, ou prender seus autores, mas dando cobertura tácita a eles.

Quando precisou de apoio internacional a favor do que representava sua candidatura, Lula recorreu aos Estados Unidos, cujo governo, liderado por Biden, não se recusou a apoiá-lo, defendendo as urnas eletrônicas e a democracia brasileira. Muita gente acreditou nisso, mas, ao revisitar antigos erros, como o apoio a ditaduras da América Latina, Lula está demonstrando que seu apreço à democracia não é prioritário, se é que existe realmente.

Depois de defender a posição da Rússia na invasão da Ucrânia e de criticar o G7 — grupo integrado pelas maiores democracias do mundo: Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido —, o presidente brasileiro, embora tenha sido convidado para participar da próxima reunião, desdenhou sua eficácia, afirmando que o G20 é um instrumento mais representativo, porque inclui “talvez já a maior economia do mundo”, a China, e também a Rússia, expulsa do G7 em 2014 depois de ter anexado a Crimeia.

Lula, ainda na China, defendeu que a pauta da reunião desses grupos tinha de ser mais específica:

— A ordem do dia é fortalecer a democracia no mundo. A ordem do dia é respeitar as instituições democráticas.

Ora, se Lula está tão preocupado assim com a democracia no mundo, por que se entende tão bem com ditadores como os de Cuba, Venezuela, Nicarágua? Volta e meia, quando confrontados com essas incoerências explícitas, petistas alegam que Lula trabalha nos bastidores para convencer seus amigos a democratizar seus países. Mas que não faria nenhuma crítica pública a eles, para não dar munição aos inimigos.

Talvez por isso, quando esteve em Cuba como presidente em fevereiro de 2010, se recusou a falar sobre a morte, na véspera, do dissidente Orlando Zapata Tamayo, em decorrência de uma greve de fome. Ao contrário, Lula criticou o instrumento da greve de fome como ação política de protesto e comparou os presos políticos cubanos a presos comuns brasileiros. Muitos anos depois, durante a campanha presidencial que o levou ao poder pela terceira vez, o próprio Lula contou que intermediou junto ao então presidente Fernando Henrique Cardoso o fim de uma greve de fome dos sequestradores do empresário Abilio Diniz, que já durava 46 dias, em troca da liberdade:

— Eu fui na cadeia no dia 31 de dezembro conversar com os meninos. (…) Eles pararam a greve de fome e foram soltos.

A coleção de incoerências envolvendo questõ como essas parece indicar que a democracia como sistema de governo, capaz de gerar desenvolvimento e bem-estar social, não é relevante para Lula e petistas. Lula já disse que a Venezuela tem “democracia demais” e acha que a China tem “muito a ensinar ao mundo”:

— A China tem um partido político forte e um governo forte porque o governo tem controle e poder de comando. O Brasil não tem isso, nem outros países.

O desconforto que Lula sente entre seus pares democráticos do Ocidente e a sem-cerimônia com que se comporta entre seus ditadores preferidos talvez mostrem o verdadeiro dilema político que vive. Foi recebido na China com coreografias de sonhos, em que meninas usavam rosa e meninos azul. Tudo organizado, sem dissidências.


segunda-feira, 2 de novembro de 2020

Ser pária - Merval Pereira (Globo, 23/10/2020)

Ser pária

Merval Pereira

O Globo, sexta-feira, 23 de outubro de 2020

O resultado da eleição presidencial dos Estados Unidos pode ser fundamental para o resto do mundo, mas especialmente para países como o nosso, governado por extremistas de direita que sentem-se protegidos pela “relação carnal” com a administração Trump.

O presidente Bolsonaro ainda tem em mente a ideia de uma China comunista que quer dominar o mundo. Realmente, ela quer, como todo potência, mas com armas capitalistas, investimentos e produção, o que faz parte do jogo do capitalismo internacional. O Brasil tem que se aproveitar da sua importância geopolítica para tirar vantagens dos EUA, da China e da Europa, e não ficar entregue aos EUA, fazendo a política de Trump, que até agora não nos deu nada em vantagem. 

Se Joe Biden vencer a eleição americana, vai ficar difícil dar continuidade à política externa brasileira, porque o governo democrata vai exigir contrapartidas importantes do Brasil, especialmente na política ambiental. Com essa briga com a China, corremos o risco de virarmos párias mundiais, sem aliados, se EUA e Europa se unirem e voltarem a nos pressionar na questão do meio ambiente, o que é provável com a vitória de Joe Biden.

O chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, um dos pilares da visão extemporânea de mundo que rege esse governo, anunciou ontem aos formandos do Instituto Rio Branco que o Brasil está disposto a ser um ‘pária internacional’ se for pela defesa da ‘liberdade’. 

Segundo ele, na abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas deste ano, os presidentes Bolsonaro e Trump “foram praticamente os únicos a falar em liberdade”. Para Ernesto Araújo, a ONU “foi fundada no princípio da liberdade, mas a esqueceu”. Ele acredita que o Brasil é o porta-voz da liberdade pelo mundo, e “se isso faz de nós um pária internacional, então que sejamos esse pária”.

Para Araújo, “talvez seja melhor ser esse pária deixado ao relento, do lado de fora, do que ser um conviva no banquete do cinismo interesseiro dos globalistas, dos corruptos e semicorruptos”. Globalismo é como os direitistas mais radicais chamam a globalização, e o “banquete” seriam os organismos internacionais como a ONU ou a Organização Mundial da Saúde (OMS) que representam a ideia de um mundo multipolarizado, mas que a direita internacional critica por, nessa visão, serem controlados por uma orientação esquerdizante do mundo, que quereriam impor a todos os países.

Os organismos internacionais, comandados por pessoas que não foram eleitas, querem impor ao mundo uma visão unificada, impedindo que as nações exerçam sua soberania. Como já disse o chanceler Ernesto Araújo, o globalismo seria “a configuração atual do marxismo”.

Mesmo com essa visão estereotipada das relações internacionais, o Brasil não tem se esquivado de se aliar a ditaduras, mesmo a chinesa, para defender seus pontos de vista sobre direitos humanos no Conselho da ONU, alterando fundamentalmente a posição tradicional brasileira a respeito do tema.

Em junho, apoiou uma resolução proposta por China, Cuba, Venezuela, Irã e Síria, que acabou aprovada, reduzindo o âmbito de atuação do Conselho dos Direitos Humanos, transformando-o em um lugar de debate de cooperação, e não de monitoramento de violações dos direitos humanos no mundo. 

Juntamente com essas ditaduras, o Brasil tem recebido muitas críticas com respeito à violação dos direitos humanos, sobretudo de indígenas e minorias. O Brasil também se aliou a governos autoritários como Arábia Saudita , Paquistão, Egito e Iraque sobre direitos sexuais das mulheres, propondo, entre outras coisas, retirar o tema “educação sexual” das prioridades da ONU.

Nos documentos brasileiros, não há mais referências a temas como tortura, gênero, LGBT, desigualdade, e, juntamente com a Arábia Saudita, defende o fortalecimento da família com “pai e mãe”. Os crimes do ditador Duterte, das Filipinas, cometidos na guerra às drogas, não tiveram o voto do Brasil para uma investigação. Já somos, portanto, párias em diversos setores da sociedade internacional, e não acompanhamos mais os países progressistas da Europa ou mesmo da América Latina.


domingo, 11 de outubro de 2020

Elogios a torturador da ditadura brasileira podem criar novas crises diplomáticas - Merval Pereira (O Globo)

A insistência das mais altas autoridades do país em elogiar um TORTURADOR CONDENADO pela Justiça não chocam apenas a consciência moral do país, ela também diminui um pouco mais a já rebaixada imagem do Brasil no exterior, e pode provocar novas fricções com dirigentes estrangeiros. 

Como revelado em matéria de Mariana Sanches, da BBC-Brasil em Washington, o então vice-presidente Joe Biden, em visita ao Brasil, havia entregue ao governo brasileiro documentos esclarecedores sobre a amplidão das torturas e desaparecimentos sob a ditadura militar.

O atual governo brasileiro ENVERGONHA o Brasil no mundo.

Paulo Roberto de Almeida

sábado, 10 de outubro de 2020

Merval Pereira - Crise à vista

- O Globo, 10/10/2020

A insistência com que o vice-presidente Mourão e o presidente Bolsonaro elogiam o coronel Brilhante Ustra pode provocar uma crise diplomática

À medida que fica cada vez mais claro que Joe Biden provavelmente será eleito o próximo presidente dos Estados Unidos, mais problemática fica a prospecção do relacionamento com o Brasil. No momento, a questão ambiental é o principal obstáculo a uma relação equilibrada com os americanos, e o comentário de Biden sobre as queimadas da Amazônia é exemplar dessa dificuldade.  

Mas outro ponto de divergência pode ser a questão das torturas durante a ditadura militar no Brasil. Ontem, o vice-presidente Hamilton Mourão insistiu em elogiar o Coronel Brilhante Ustra, único militar condenado por tortura.  

Biden, quando era vice-presidente de Obama, revelou a BBC News, esteve no Brasil para entregar pessoalmente à presidente Dilma documentos sobre torturas e ilegalidades cometidas durante a ditadura militar no Brasil, entre os quais alguns que identificam Ustra como torturador contumaz.  

Segundo a reportagem da BBC News Brasil, um HD com 43 documentos produzidos por autoridades americanas entre os anos de 1967 e 1977, a partir de informações passadas não só por vítimas, mas por informantes dentro das Forças Armadas e dos serviços de repressão.  Para Bolsonaro, no entanto, Ustra é “um herói brasileiro” e para Mourão “um homem de honra”.  

O presidente Bolsonaro reagiu à insinuação de Biden de que sérias sanções econômicas serão definidas caso a situação do desmatamento da Amazônia não melhore no Brasil. Nem mesmo a eventual captação, comandada pelos Estados Unidos, de uma verba bilionária para ajudar o combate aos incêndios e ao desmatamento foi considerada boa perspectiva pelo governo brasileiro, que se apressou a dizer que não está à venda, vendo na proposta de Biden a intenção de subjugar, não ajudar.   

O vice-presidente Hamilton Mourão também comanda o Conselho Nacional da Amazônia Legal, e estará no centro de qualquer desavença que surja nessa área ou em outros setores, como o incômodo da nova gestão democrata com ditaduras militares que Bolsonaro e Mourão não se cansam de elogiar.  

Em uma entrevista à Deutsche Welle, o vice-presidente Mourão foi duramente questionado sobre o fracasso do combate às queimadas na Amazônia, sobre a pandemia da Covid-19, que já fez cinco milhões de infectados e quase 150 mil mortes no Brasil e, por fim, sobre os elogios dele e de Bolsonaro ao Coronel Ustra, condenado como torturador.  

Mourão tentou driblar todas as perguntas passando uma visão tranqüilizadora da situação do país, mas não quis escapar da questão sobre as torturas, embora fizesse questão de colocar-se, e ao governo brasileiro, contra a prática: “O que eu posso dizer sobre o homem Carlos Alberto Brilhante Ustra é que ele foi meu oficial comandante durante o final dos anos 70 e ele foi um homem de honra que respeitava os direitos humanos de seus subordinados. Então, muitas das coisas que as pessoas falam dele – posso dizer porque tive amizade muito próxima com ele — não são verdade.”  

Os documentos entregues por Biden foram utilizados na Comissão da Verdade: "Espero que olhando documentos do nosso passado possamos focar na imensa promessa do futuro", disse o então vice-presidente dos Estados Unidos.  A Comissão da Verdade é outro ponto de irritação por parte de Bolsonaro, que nega a validade de suas revelações.

 "Esse é um dos relatórios mais detalhados sobre técnicas de tortura já desclassificados pelo governo dos Estados Unidos", afirmou à BBC News Brasil Peter Kornbluh, diretor do Projeto de Documentação Brasileiro do Arquivo de Segurança Nacional Americano, em Washington D.C.  

Ainda de acordo com Kornbluh, "os documentos americanos ajudam a lançar luz sobre várias atrocidades e técnicas (de tortura do regime). Eles são evidências contemporâneas dos abusos dos direitos humanos cometidos pelos militares brasileiros”.  

A insistência com que o vice-presidente Mourão e o presidente Bolsonaro elogiam o coronel Brilhante Ustra pode provocar uma crise diplomática semelhante à ocorrida no governo Geisel, quando o democrata Jimmy Carter deu uma guinada na política de Direitos Humanos nos Estados Unidos. 

domingo, 11 de agosto de 2019

Política externa: "Falta de inteligência" - Merval Pereira (Globo)

Falta de inteligência é uma redundância em certas circunstâncias...
Merval Pereira já reflete alguns dos argumentos de meu mais recente livro...
Paulo Roberto de Almeida

Falta de inteligência

O alinhamento total de nossa política externa com os Estados Unidos do governo Trump já está rendendo consequências negativas para o Estado brasileiro. Depois de diversas polêmicas provocadas pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, a Alemanha começou a retirada de seu apoio a ações de proteção da região amazônica. 
Salles começou querendo assumir a gestão do Fundo Amazônia, mudando as diretrizes que os doadores consideravam ajustadas ao objetivo do projeto. Durante a renegociação, com a negativa dos dois países europeus de aceitarem os novos critérios do governo brasileiro, Salles chegou a acusar a exploração do petróleo na região ártica pela Noruega de provocar danos ambientais. 
A Noruega reagiu, afirmando que sua atividade petrolífera no Ártico é a mais limpa possível, obedecendo às normas de preservação da natureza. A irritação do governo brasileiro com o que considera “intromissão” de países europeus nos negócios internos foi revelada em diversas ocasiões, de maneira pouco diplomática. 
O próprio presidente Bolsonaro recentemente fez ironia com os encontros que já teve com o presidente da França Emanuel Mácron e a primeira-ministra da Alemanha Angela Merkel: “Vocês imaginam como eu gostei de conversar com os dois”, disse a jornalistas. 
O vice-presidente Hamilton Mourão pegou carona na zombaria e comentou os acessos de calafrio que a chanceler alemã andou tendo em público. Para ele, Merkel tremeu depois de uma “encarada” de Trump, a quem chamou de “nosso presidente”.
O descontentamento do presidente Bolsonaro com as atitudes da França em relação à nossa política ambiental foi de demonstrado de maneira grosseira no cancelamento de uma audiência que teria com o ministro das Relações Exteriores da França, Jean Yves Lê Drian.
Bolsonaro soube pela imprensa que ele se reunira um dia antes com representantes de ONGs e ambientalistas, e considerou uma desfeita. Em entrevista ao jornal Tagesspiegel, a ministra do Meio Ambiente da Alemanha, Svenja Schulze, informou neste fim de semana que o país vai suspender o financiamento de projetos para a proteção da Amazônia, financiados pelo fundo internacional que já existe há três anos e já investiu cerca de R$ 3 bilhões em diversos projetos de preservação. 
A decisão do governo, segundo a ministra, foi tomada porque “a política do governo brasileiro na região amazônica deixa dúvidas se ainda se persegue uma redução consequente das taxas de desmatamento”. Num primeiro momento serão suspensos projetos no valor de 35 milhões de euros. 
Também o governo francês tem dúvidas sobre o compromisso do novo governo brasileiro de manter uma política de preservação ambiental, por isso já declarou que só assinará o acordo da União Europeia com o Mercosul se o Brasil se comprometer com uma política ambiental sustentável. 
O fato é que, para o novo chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, a Europa representa a decadência do Ocidente, enquanto os Estados Unidos e o deus de Trump são a salvação. Assim como nos governo petistas, a política Sul-Sul desvalorizava os postos nos Estados Unidos, e apontava os países da América Latina e África como o futuro da nossa diplomacia, agora vai-se para o extremo oposto. 
Os EUA constituem agora um departamento exclusivo, mas a Europa encontra-se relegada à vala comum da África e do Oriente Médio, já que ela seria um “vazio cultural”. É o que aponta o diplomata Paulo Roberto Almeida, exonerado, no início do ano do cargo de diretor do Instituto de Pesquisas de Relações Internacionais (IPRI) do Itamaraty. Punido por ter publicado em seu blog pessoal textos críticos à nova política externa brasileira, seus e de outros, como o diplomata Rubens Ricupero e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. 
No livro recém-lançado A destruição da inteligência no Itamaraty, Paulo Roberto Almeida pergunta: (...) onde está a política externa do Brasil? Nos ridículos destemperos olavistas contra o globalismo? Na luta contra o marxismo cultural? Numa aliança com todos os regimes direitistas e xenófobos da Europa e com Trump?
Na denúncia do Pacto Global das Migrações, quando o Brasil justamente possui dez ou vinte vezes mais emigrantes do que imigrantes e esse instrumento não afeta em nada nossa soberania?”

quarta-feira, 8 de maio de 2019

Celso Lafer: palestra sobre Rui Barbosa na ABL - Merval Pereira

A atualidade dos clássicos

Leia a coluna de Merval Pereira no jornal O Globo, em 3 de maio, na qual cita carta do presidente da ABC ao presidente da República e ao ministro da Educação e palestra do Acadêmico Celso Lafer, na Academia Brasileira de Letras:

A atualidade dos pensadores, brasileiros e estrangeiros, diante de nossa realidade politica e social demonstra que os problemas que enfrentamos no momento são questões há muito debatidas. E que retrocedemos nesse debate, que pareciam estar superados pelos avanços de nossa sociedade.
O presidente da Academia Brasileira de Ciências, professor Luiz Davidovich, enviou uma carta ao presidente Jair Bolsonaro e ao ministro da Educação Abraham Weintraub, protestando contra a decisão anunciada de reduzir as verbas públicas para o ensino de Humanas, tendo sido citadas especialmente a Sociologia e a Filosofia.
Davidovich começa lembrando, em contraposição à afirmação do ministro de que o Estado só deve financiar profissões que gerem retorno de fato, como veterinária, engenharia, medicina, que é preciso “formar profissionais preparados para os desafios de um mundo em que as profissões tradicionais têm dado lugar a outras inexistentes no século passado”.
Esse rápido desenvolvimento exigiria “conhecimento amplo não só de seus campos estritamente profissionais, mas também do país e da sociedade onde atuarão”. Davidovich lembrou então que Benjamim Constant, um dos fundadores da República brasileira, já no século XIX tinha a percepção da importância das humanidades e das ciências sociais na formação profissional: incluiu a sociologia no curso da Escola Militar.
Muito além de um retorno imediato, elas ensinam a pensar, condição necessária para a construção de uma sociedade ilustrada, democrática e produtiva, ressalta o presidente da Academia Brasileira de Ciências na carta ao presidente.
Recentemente, em palestra na Academia Brasileira de Letras, da qual é membro, sobre a presença fundamental de Ruy Barbosa na vida brasileira, o ex-ministro [e Acadêmico] Celso Lafer lembrou que ele exprimiu na trajetória da sua vida e obra a trama dos problemas políticos da sociedade brasileira, “não só do seu tempo, mas as dos nossos dias, com destaque para os desafios da consolidação e vigência das instituições democráticas”.
Lafer citou alguns exemplos bem atuais. Sobre as relações do Brasil com os EUA, Ruy Barbosa, na Conferência “A Imprensa e o dever da verdade”: escreveu “Não quero, nem quererá nenhum de vós, que o Brasil viesse a ser o símio, o servo ou a sombra dos Estados Unidos. Não acho que devemos nos entregar de olhos fechados à sua política internacional, se bem haja entre ela e a nossa, interesses comuns bastante graves e legítimos, para nos ligarem na mais inalterável amizade, e nos juntarem intimamente em uma colaboração leal na política do mundo. Tal é o meu sentir de ontem, e amanhã.”
Celso Lafer destacou também que Ruy Barbosa promoveu, desde o governo provisório (Decreto nº 119-A, de 7/01 de 1890) a separação da Igreja e do Estado, e a laicidade do Estado, consagrada na Constituição de 1891 e nas constituições subsequentes.
Implantou-se deste modo, ressaltou Lafer, uma nítida distinção entre, de um lado, instituições, motivações e autoridades religiosas e, de outro, instituições estatais e autoridades políticas, “de tal forma que não haja predomínio de religião sobre a política”.
A laicidade significa que “o Estado se dessolidariza e se afasta de toda e qualquer religião, em função de um muro de separação entre Estado e Igreja, na linha da primeira emenda da Constituição norte-americana”.
Em um Estado laico como Ruy Barbosa institucionalizou no Brasil, esclareceu Lafer, “as normas religiosas das diversas confissões são conselhos e orientações dirigidas aos fiéis, e não comandos para toda a sociedade’.
Esta contribuição de Ruy para a consolidação e vigência do espaço público e das instituições democráticas em nosso país é da maior atualidade, lembrou Celso Lafer, pois “contém o muito presente risco do indevido transbordamento da religião para o espaço público”.
O filósofo britânico Bertrand Russell, na História da Filosofia Ocidental, trata de um tema muito atual no Brasil: a influência dos filósofos, relativizando-a: “Quando vêem algum partido politico dizer-se inspirado pelos ensinamentos de Fulano de Tal, pensam que as ações desse partido são atribuíveis a esse fulano de tal, enquanto não raro o filósofo só é aclamado porque recomenda o que o partido teria feito de qualquer modo”.

segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Foro de Sao Paulo: o Rasputin da esquerda latino-americana - Merval Pereira

Desde quando foi criado o Foro de São Paulo, eu imediatamente refleti num artigo como algo importante, mas obscuro. Retomei a "informação", desprezada na quase totalidade dos demais artigos acadêmicos sobre política externa brasileira, durante todo esse tempo decorrido desde então. Não hesitaria em dizer que certa política externa foi totalmente "cubana", não apenas em sua inspiração, mas sobretudo em sua implementação, e poderei escrever mais sobre isto, assim que me for possível...
Paulo Roberto de Almeida

Esquema político na AL

por Merval Pereira
Assim como ao investigar o triplex que seria do ex-presidente Lula no Guarujá a Operação Lava Jato deparou-se com diversos apartamentos registrados em offshores no Panamá, fazendo com que os procuradores do Ministério Público Federal vislumbrassem que haviam chegado a um novo filão de crimes de evasão de divisas e lavagem de dinheiro, também ao investigar as contas internacionais, secretas ou declaradas, do marqueteiro João Santana a operação pode ter se deparado com um grande esquema ilegal de financiamento de projetos políticos de esquerda pela América Latina e a África.
        Em diversos desses países, o marqueteiro João Santana recebeu pagamentos ilegais através de empresas offshores irrigadas pela Odebrecht, que também tinha interesses na eleição de políticos do esquema devido a financiamentos de grandes obras de infraestrutura.
         Esse projeto de esquerda que chegou ao poder há cerca de 15 anos na região com a primeira eleição de Hugo Chavez na Venezuela, foi gestado no Foro de São Paulo, organismo criado por Lula e Fidel Castro em 1990 a partir de um seminário internacional em São Paulo. Partidos e organizações políticas da América Latina e do Caribe, em baixa naquele momento, se reuniram para discutir uma atuação conjunta de resistência ao que consideravam "políticas neoliberais" que dominavam a região.
        A integração latino-americana passou a ser um projeto comum com a chegada ao poder de vários daqueles líderes. Hoje, embora muitos deles continuem no poder, os ventos políticos na região estão mudando. Na Bolívia,  Evo Morales, do Movimento para o Socialismo, acabou de perder o plebiscito e não poderá concorrer a um quarto mandato. No Brasil, Dilma Rousseff do PT enfrenta a ameaça de um processo de impeachment; na República Dominicana, Danilo Medina (Partido de Libertação Dominicana) corre o risco de perder a reeleição devido ao escândalo da prisão do marqueteiro João Santana no Brasil.
        A Venezuela passa por uma crise econômica e política sem precedentes e Nicolás Maduro,  do Partido Socialista Unido da Venezuela, perdeu o domínio do Congresso em eleições recentes. Continuam no poder vários outros membros do Foro de São Paulo: Chile - Michelle Bachelet (Partido Socialista do Chile) Cuba - Raúl Castro (Partido Comunista de Cuba) Dominica - Roosevelt Skerrit (Partido Trabalhista da Dominica) Equador - Rafael Correa (Alianza País) El Salvador - Salvador Sánchez Cerén (Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional) Nicarágua - Daniel Ortega (Frente Sandinista de Libertação Nacional) Peru - Ollanta Humala (Partido Nacionalista Peruano) Uruguai -Tabaré Vázquez (Frente Ampla). Olanta Humala aparece em uma das anotações apreendidas pela Operação Lava Jato, mas nega que tenha recebido dinheiro da Odebrecht.
        A atuação internacional da empresa de João Santana começou em 2003*, na Argentina, onde coordenou campanhas legislativas, municipais e governamentais até 2007 na região de Córdoba. Em El Salvador, a Pólis fez a campanha que elegeu presidente Maurício Funes, em 2009, eleito pela Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional (FMLN), grupo guerrilheiro formado nos anos 1980 que se transformou em partido em 1992 e nunca havia chegado ao poder.
        Em 2012, a Pólis atuou em três campanhas. Em Angola, elegeu o presidente José Eduardo dos Santos pelo Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA). No mesmo ano, reelegeu na Venezuela o ex-presidente Hugo Chávez.
         Na República Dominicana, também em 2012, Santana coordenou a campanha de Danilo Medina, que disputou contra o ex-presidente Hipólito Mejía. Nesse período, João Santana também coordenou o marketing político da campanha de José Eduardo Santos em Angola, que teria custado U$ 50 milhões, sendo que parte foi paga em dinheiro não contabilizado na offshore dos Santana na Suíça.     A Operação Lava Jato está desvendado toda essa rede de corrupção de campanhas políticas na América Latina, Caribe e África, definindo qual o papel da Odebrecht na distribuição ilegal de dinheiro pela região em que tem interesses em grandes obras de infra estrutura, a maioria delas financiadas pelo BNDES.
*Os dados sobre a atuação internacional de João Santana foram retirados de matéria do G1.

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Eleicoes 2014: desanimo e (des)esperanca - Merval Pereira

Ou, poderia ser uma sequência de umasérie tipo Máfia I, Máfia II, III, etc.
Paulo Roberto de Almeida 

Desânimo e esperança

Merval Pereira, O Globo, 13/08/2014
Entra eleição, sai eleição, tão certo quanto a noite chega ao fim do dia, as campanhas presidenciais são marcadas por baixarias. As denúncias se sucedem, desde o nível municipal até o Palácio do Planalto, que este ano entrou no circuito de campanha à medida que foram se perdendo ao longo do tempo as divisas entre o governar e o uso eleitoral do governo, entre o público e o privado na sua acepção mais ampla.
Usar o Palácio para propaganda eleitoral, usar viagens presidenciais para gravar programas de propaganda de governo, tudo vai se misturando em todos os níveis do Estado brasileiro, piorando o que já era ruim. As regras complacentes para a atuação dos incumbentes que se candidatam à reeleição foram feitas com esse propósito, de alargar os limites do aceitável.
Por isso, é muito grande a chance de um governante se reeleger. Esgotada a capacidade de mobilizar a sociedade à base de promessas que não se realizaram, o PT passou a adotar a tática do medo contra seus adversários, especialmente os tucanos, que haviam usado a mesma tática em 2002 sem resultado, pois naquela ocasião o ambiente político pedia mudanças.
Os tucanos pagam até hoje pelo erro político de terem aprovado a reeleição para o mandato de Fernando Henrique, o que à época parecia uma providência necessária para garantir a continuidade do Plano Real, e hoje se tornou um golpe político a purgar. Não é por acaso que o candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, tem como um dos projetos o fim da reeleição.
Apesar do mensalão em 2005, Lula se reelegeu em 2006 na base da ameaça de que os programas sociais corriam perigo sem ele na Presidência, e com uma campanha contra as privatizações que o então candidato tucano Geraldo Alckmin não soube combater. Foi nessa campanha que surgiram os aloprados, presos com dinheiro em um hotel em São Paulo para a compra de dossiês contra os tucanos, especialmente José Serra, que acabou se elegendo governador de SP.
Em 2010, a baixaria começou cedo com dossiês contra Serra, então candidato à Presidência, surgindo no QG de Dilma, e mais adiante a invasão de dados de familiares de Serra na Receita Federal.
Nesta atual campanha, a internet tem sido usada de maneira desabrida contra Aécio, e de maneira generalizada contra jornalistas e políticos considerados inimigos do regime. A tensão tende a ser maior durante a campanha, pois, mesmo sendo Dilma a favorita para vencer a eleição, nunca a vitória esteve tão ameaçada, seja pela fragilidade de seu governo, seja pelo anseio de mudanças na condução do país.
Apesar dos pesares, a resiliência da candidatura petista é uma demonstração de como quem está no governo tem instrumentos para continuar, mesmo com a economia em pandarecos e com crescimento médio abaixo de 2% ao ano nos últimos quatro anos. A questão é saber se a velocidade das notícias ruins combinará com o timing das urnas, e não é à toa que os petistas voltaram a falar com força em uma vitória no 1º turno.
A falta de mobilidade das candidaturas, todas elas praticamente em linha reta há alguns meses, e a insistência de um eleitorado desiludido em votar branco ou nulo ou se ausentar da eleição faz com que esse sonho de vitória imediata volte a ser factível.
Além do mais, pesquisas mostram que num eventual e ainda provável 2º turno, os candidatos de oposição ganham novo alento diante do duelo entre Dilma e qualquer um deles. Todas mostram a possibilidade real de um empate técnico entre Aécio e Dilma.
Já Eduardo Campos se aproxima a cada rodada de Dilma, reduzindo a diferença que, no 1º turno, é grande. Quando ele é a única opção oposicionista, suas chances crescem com o voto útil, o que mostra uma tendência de mudança na motivação do eleitorado.
Estudos de Macrométrica do economista Chico Lopes, utilizando-se de um programa do matemático americano Nate Silver, perito em previsões corretas dos resultados eleitorais hoje com um blog no “The New York Times", mostram que Aécio pode vencer no 2º turno se o número de brancos e nulos e mais as abstenções forem nos níveis normais das eleições anteriores. Se, no entanto, confirmar-se a tendência de denunciar os métodos políticos em prática rejeitando as eleições, o efeito deverá ser contrário, confirmando na Presidência quem a maioria quer ver fora, segundo as pesquisas. Será esse o caso se os oposicionistas não conseguirem reverter a situação em que o desânimo derrota a esperança.

A mafia, ou o PT, uma unica e mesma coisa - Merval Pereira

Alguma surpresa nisso?
Leiam o meu Tratado Geral da Mafia: http://diplomatizzando.blogspot.com/2013/12/tratado-geral-da-mafia-treze-rapidos.html
Paulo Roberto de Almeida 

POLÍTICA

A banalização do crime

Merval Pereira, O Globo, 13/08/2014

Sem ter como desmentir as recentes denúncias de manipulação criminosa, os governistas e sua vasta rede de militantes que atuam na internet passaram a uma bem orquestrada ação de banalização dessas atividades ilegais, como se fossem corriqueiras. É o caso da preparação dos ex-diretores da Petrobras para depoimentos na CPI que apura a compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, acusada pelo Tribunal de Contas da União (TCU) de prejudicial aos cofres da empresa.
A própria presidente Dilma abriu essa discussão ao acusar publicamente o ex-diretor Nestor Cerveró de ter produzido um relatório falho tecnicamente, que induziu o Conselho Administrativo da Petrobras, presidido por ela na ocasião, ao erro de aprovar uma transação que se mostrou equivocada. Pois bem, como é sabido a Petrobras demitiu Cerveró, que à época trabalhava na BR Distribuidora, e a própria presidente da estatal, Graça Foster, admitiu no Congresso que aquela não fora uma boa compra. Descobre-se agora que a Petrobras está pagando as multas com que os ex-diretores foram punidos pelo TCU, e que todos eles, inclusive o culpado pelo prejuízo, estavam recebendo orientações especiais e treinamento para o depoimento na CPI da Petrobras.
Não bastasse a estranheza de a estatal prejudicada bancar a defesa de ex-diretores acusados de malversação de dinheiro público, gravações de uma reunião na sede da Petrobras revelaram que a chegada de Cerveró à sede da empresa foi cercada de preocupações e cautelas para que sua presença não fosse notada. E que as perguntas que seriam feitas a ele e a outros diretores já estavam previamente preparadas pelos próprios membros da CPI da base aliada do governo.
O ministro das Comunicações Paulo Bernardo, para justificar essa tramoia, deu uma declaração absolutamente absurda: segundo ele, desde Pedro Álvares Cabral, as CPIs são arranjadas. Esqueceu-se de que a CPI que derrubou o então presidente Collor foi liderada pelo PT, e que outras, como a dos Correios, acabaram levando à cadeia diversos líderes petistas envolvidos no mensalão.
Na verdade, as CPIs, um instrumento das minorias, sempre tiveram papel importante no desvendar de atos corruptos, e só quando a maioria resolve boicotá-la é que se transforma em uma farsa como a da Petrobras. Na própria gravação é possível ouvir os advogados da Petrobras procurando uma maneira segura de enviar as perguntas a José Gabrielli, ex-presidente da Petrobras, o que não seria necessário se não fosse um ato escuso. Treinar os depoentes em CPIs é uma coisa, montar uma farsa com perguntas previamente combinadas é outra muito diferente. A mesma coisa acontece com o caso dos perfis da Wikipédia alterados por pessoas de dentro do Palácio do Planalto.
Que a Wikipédia é um ambiente aberto a todos, ninguém discute. Mas a inclusão de informações inverídicas e calúnias no perfil de alguém não pode ser considerada normal. Especialmente se essas ações são feitas no Palácio do Planalto, de onde saíram mais de 200 alterações em diversos perfis, muitas para incluir elogios a pessoas do governo, outras para atacar jornalistas independentes como Míriam Leitão ou Carlos Alberto Sardenberg.
A própria presidente Dilma, ao repudiar a ação, cometeu um ato falho ao dizer que “nesse caso específico, é algo que quem quiser fazer individualmente que faça, mas não coloque o governo no meio.” A fala da presidente é reveladora de uma maneira de pensar a luta política: distorcer informações sobre pessoas consideradas inimigas do governo pode ser uma atividade política que alguns utilizam, desde que não coloque embaraços para o governo.
Que a guerrilha virtual é uma atividade corriqueira dos petistas, já é sabido. A novidade, que agrava a situação, é que agora essa prática criminosa está sendo feita de dentro do Palácio do Planalto, numa demonstração de que não há mais um mínimo de separação entre o governo e a campanha eleitoral, até mesmo nas ações mais baixas. É uma ação de guerrilha de dentro do palácio do governo. Como a presidente pode lavar as mãos? Não há cadeia de comando? Nem dentro do Planalto? Como o Gilberto Carvalho pode dizer que foi “uma bobagem” e ficar tudo bem?
Nesse caso, pelo menos politicamente, o ônus da prova se inverte. É a Presidência que precisa entregar o culpado e provar que era um aloprado celerado agindo por conta própria. Caso contrário, é como se o Nixon dissesse que quem instalou aquelas escutas no prédio Watergate foram uns aloprados do Partido Republicano. 

terça-feira, 12 de agosto de 2014

Aloprados do PT e falcatruas na Wikipedia - Merval Pereira

Acho que Merval Pereira é bondoso com o partido totalitário ao atribuir a alguns aloprados o que fizeram com ele e outros jornalistas na Wikipedia. Ele verificou computadores aqui e ali, e não no Planalto, no seu caso.
Será que ele não se dá conta de que tudo é feito pela mesma máfia de criminosos partidários? Quando é que as pessoas vão se dar conta da estrutura mafiosa, stalinista, criminosa, dos totalitários que nos governam?
Paulo Roberto de Almeida 
Aloprados do PT fazem o diabo
Aliás, nem só os aloprados. O Partido Totalitário em bloco é capaz de qualquer coisa para se manter no poder - principalmente lançar mentiras contra a oposição e perseguir os raros jornalistas independentes. Artigo de Merval Pereira no Globo:


O hábito de enviar mensagens por meio de robôs com ataques a jornalistas independentes, e invadir sites ou usar os que são abertos, como o Wikipedia, para denegrir a imagem dos que consideram seus inimigos políticos, é um expediente comum dos militantes petistas aloprados.

Em 29 de outubro de 2011 esses marginais entraram na minha página na Wikipedia para incluir uma suposta notícia de que eu havia sido identificado pelo Wikileaks como “informante” do governo dos Estados Unidos, juntamente com outros jornalistas. Na verdade, o Wikileaks havia divulgado uma série de telegramas do embaixador dos Estados Unidos, entre os quais relatos de encontros que mantivera comigo e com outros jornalistas, onde conversamos sobre diversos assuntos, inclusive as eleições presidenciais de 2010. Nada do que disse naquele encontro diferia do que escrevi nas minhas colunas naquela ocasião, nenhum segredo havia para ser informado.

O encontro de jornalistas com diplomatas estrangeiros é o que há de mais normal no mundo todo, e essa troca de opiniões faz parte de um relacionamento profissional que apenas mentes pervertidas, ou a soldo, podem transformar em uma atividade de “espionagem”. Alertado, eu mesmo entrei no Wikileaks e retirei a peça infamante. Esta semana, vendo o que aconteceu com Miriam Leitão e Carlos Alberto Sardemberg, lembrei-me do episódio e mandei fazer um levantamento na Wikipedia para verificar se era possível, a partir do IP dos computadores, saber de onde haviam sido acionados.

Para minha surpresa, descobri que haviam feito, de junho de 2011 até 8 de agosto deste ano, diversas entradas em minha página na Wikipedia para acrescentar comentários desairosos ou informações falsas. Algumas dessas aleivosias foram retiradas pela própria direção da Wikipedia, outras por pessoas que discordavam do que lá estava escrito, como, por exemplo, de que eu nas colunas destilo meu ódio contra o ex-presidente Lula.

Ontem, retiraram qualquer juízo de valor sobre minhas atividades jornalísticas. O levantamento feito pelo jornal não indicou nenhum servidor de órgãos do governo, inclusive o Palácio do Planalto, nas agressões inseridas no Wikipedia contra mim. Os servidores utilizados são de Toronto, no Canadá, da Austrália e apenas um tem origem em São Paulo, mas não foi possível definir com precisão sua localização.

O que espanta no caso atual, em que Miriam Leitão e Carlos Alberto Sardemberg foram os alvos, é que as agressões partiram de computadores alocados no Palácio do Planalto, o que indica que essa ação de alterar perfis de jornalistas e pessoas consideradas “inimigas” já se tornou tão habitual para a militância petista que deixaram de lado a cautela, utilizando até mesmo o Planalto para suas investidas ilegais.

É sintomático que jornalistas independentes tenham sido vítimas dessas ações de guerrilha na internet, pois desde que chegaram ao poder, em 2003, há um núcleo petista que tenta de diversas maneiras controlar a imprensa, a última delas com o tal “controle social da mídia”. Os conselhos populares fazem parte desse mecanismo de controle estatal que os petistas tentam impor à sociedade brasileira.

O fato de que os atos delinquenciais partiram de dentro do Palácio do Planalto os coloca muito próximos, pelo menos fisicamente, do centro do poder. O episódio revela, no mínimo, uma falta de controle do pessoal que trabalha no Palácio do Governo. Quando não a conivência de algum alto assessor com o crime contra a liberdade de imprensa numa campanha em que “fazer o diabo” estava previsto pela própria presidente Dilma Rousseff.

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Mafia da Wikipedia petista atua desde muito tempo

Nunca foi fortuito. Sempre foi um prática deliberada, constante, regular, ou seja profissional. Como a máfia, enfim. E se faz em qualquer lugar, a todo momento. Os chefes da associação, como sempre, "nunca sabem de nada". A máfia também atua assim.
Paulo Roberto de Almeida 

Políbio Braga, domingo, 10 de agosto de 2014


Merval Pereira também denuncia pirataria da "quadrilha do PT"

Um dia depois de Miriam Leitão denunciar uma "política de estado" contra a imprensa livre no País, seu colega Merval Pereira, no Globo, diz também ter sido atacado por "marginais" ligados ao PT

. Dados de sua página na Wikipédia foram alterados a partir de um vazamento no Wikileaks. Merval se refere a um telegrama do serviço diplomático dos Estados Unidos que vazou na internet, revelando seu encontro com o cônsul americano. Ele relatava que Merval agiria para garantir o apoio de Aécio Neves a José Serra nas eleições de 2010. No mesmo lote de telegramas, Diogo Mainardi também confidenciou que uma coluna em Veja, sobre uma chapa dos sonhos de Serra naquele ano, havia sido sugerida pelo candidato tucano. 

. Era tudo mentira da quadrilha cibernética petista. 

sábado, 9 de agosto de 2014

Eleicoes 2014: Voto Util - Merval Pereira (O Globo)

Voto útil
Merval Pereira
O Globo, 8/08/2014

Pesquisa a pesquisa vai sendo reduzida a diferença num cada vez mais provável segundo turno entre a presidente Dilma Rousseff e os dois principais candidatos oposicionistas. Nesta rodada da pesquisa Ibope Inteligência/TV Globo, a soma de votos nos adversários já empata com a da presidente no primeiro turno, 38% a 38%. Num segundo turno, reduz-se a distância que a separa tanto de Aécio Neves, do PSDB, quanto de Eduardo Campos, do PSB.
Na disputa com Aécio Neves, a candidata-incumbente venceria hoje por uma diferença de seis pontos percentuais: 42% das intenções de voto, contra 36% do candidato tucano. Essa distância entre os dois era de nove pontos percentuais na pesquisa anterior. Na disputa simulada pelo Ibope entre Dilma e Eduardo Campos, a petista continua na frente, mantendo uma diferença de doze pontos – 44% a 32%.
Isso quer dizer que o candidato do PSDB Aécio Neves agrega 13 pontos percentuais num hipotético segundo turno, enquanto Dilma acresce à sua votação apenas mais quatro pontos. Já o candidato do PSB Eduardo Campos cresce nada menos que 23 pontos, enquanto Dilma apenas seis.
À dificuldade que os dois estão tendo, especialmente Campos, de subir no primeiro turno, opõe-se todo potencial de crescimento na eventualidade de um segundo turno, quando o eleitor terá diante de si um duelo de vida ou morte entre a presidente candidata à reeleição e um oposicionista. Nesse caso, entra em ação o voto útil.
O resultado da nova pesquisa Ibope/TV Globo mostra que a campanha petista sobre o aeroporto de Cláudio, em Minas, não afetou a competitividade do candidato tucano Aécio Neves, que cresce lentamente na margem de erro. Já a resiliência da candidatura de Dilma Rousseff fica mais uma vez demonstrada, reforçada pela sensação generalizada de que ao final ela será a vencedora.
Como a avaliação do governo não mudou, e sua rejeição continua alta, o fato de a expectativa de vitória continuar sendo a seu favor pode indicar certo desânimo do eleitorado, que ainda não enxerga nos candidatos de oposição uma alternativa real à sua ânsia de mudança, que não se alterou: 69% querem que o próximo presidente mude tudo ou quase tudo no governo.
Foi perguntado aos eleitores quem acreditam será o presidente eleito em outubro, independentemente de suas intenções de voto, e o resultado continua o mesmo: 55% acreditam que a presidente Dilma será reeleita ao fim. Outra marca que também não sofreu alteração foi a rejeição, com a presidente continuando com o maior índice, citada por 36% dos eleitores brasileiros.
A presidente também não consegue sair do inferno astral da baixa avaliação de seu governo: 35% o consideram regular, enquanto 32% o avaliam como ótimo ou bom, e 31% como ruim ou péssimo. Esse nível de aprovação coloca o governo Dilma na parte inferior de uma escala de valores que permite prever uma reeleição quando o candidato tem acima de 35% de ótimo e bom na avaliação de seu governo. Abaixo disso, como se encontra a presidente há alguns meses, a reeleição fica praticamente inviabilizada.
Como ela terá uma grande exposição na propaganda eleitoral, pode ser que consiga reverter essa impressão do eleitorado. Mas a maneira com que a presidente Dilma está governando o país é desaprovada por cerca de metade (49%) dos eleitores brasileiros, contra 47% que a aprovam. O Ibope Inteligência aponta “alterações significativas” entre alguns segmentos analisados. A intenção de votar em Aécio cresce 3 pontos percentuais entre eleitores de 35 a 44 anos, ao passo que as menções a Dilma nesse segmento decrescem 10 pontos.
O segmento em que o candidato tucano tem maior percentual de intenções de voto é no ensino superior, em que cresceu de 33% para 35%, contra uma queda de cinco pontos percentuais de Dilma, que foi a 22% no segmento. A presidente Dilma cresceu de 45% para 50% entre eleitores menos escolarizados, e de 34% para 45% entre os do Norte/Centro Oeste.
O nordeste permanece o maior reduto eleitoral governista, com Dilma sendo escolhida por 51% dos eleitores, contra 11% de Aécio e 12% de Campos. Até o momento, portanto, os adversários de Dilma não conseguiram reduzir a vantagem que ela tem no norte e nordeste, onde tirou 11 milhões de votos à frente na eleição de 2010 recebendo 55% dos votos no nordeste.

terça-feira, 29 de julho de 2014

Companheiros totalitarios e a arte de atirar nos proprios pés - Merval Pereira

Artigo de Merval Pereira, publicado no jornal O Globo, analisa o autoritarismo e o intervencionismo crescentes do governo Dilma, desesperado diante da indocilidade do mercado e da alternativa de poder:


Concordo com a presidente Dilma, que classificou ontem o que está acontecendo no mercado financeiro de inadmissível e lamentável , mas tenho a visão oposta à dela: o que é inaceitável é um governo, qualquer governo, interferir em uma empresa privada impedindo que ela expresse sua opinião sobre a situação econômica do país. Sobretudo uma instituição financeira, que tem a obrigação de orientar clientes para que invistam seu dinheiro da maneira mais rentável ou segura possível.

Numa democracia capitalista como a nossa, que ainda não é um capitalismo de Estado como o chinês - embora muitos dos que estão no governo sonhem com esse dia -, acusar um banco ou uma financeira de terrorismo eleitoral , por fazerem uma ligação óbvia entre a reeleição da presidente Dilma e dificuldades na economia, é, isso sim, exercer uma pressão indevida sobre instituições privadas.

Daqui a pouco vão impedir o Banco Central de divulgar a pesquisa Focus, que reúne os grandes bancos na previsão de crescimento da economia, pois a cada dia a média das análises indica sua redução, agora abaixo de 1% este ano.

Outro dia, escrevi uma coluna sobre a influência da economia nos resultados eleitorais, e o incômodo que a alta cúpula petista sentia ao ver análises sobre a correspondência entre os resultados das pesquisas eleitorais e os movimentos da Bolsa de Valores: quando Dilma cai, a Bolsa sobe.

Essa constatação, fácil de fazer e presente em todo o noticiário político do país nos últimos dias, ganhou ares de conspiração contra a candidatura governista e gerou intervenções de maneiras variadas do setor público no privado. O Banco Santander foi forçado a pedir desculpas pela análise enviada a investidores sugerindo que prestassem atenção às pesquisas eleitorais, pois, se a presidente Dilma estancasse a queda de sua popularidade ou a recuperasse, os efeitos imediatos seriam a queda da Bolsa e a desvalorização cambial. E vice-versa.

O presidente do PT, Rui Falcão, já havia demonstrado que o partido governista não se contenta com um pedido de desculpas formal, como classificou a presidente Dilma: A informação que deram é que estão demitindo todo o setor que foi responsável pela produção do texto. Inclusive gente de cima. E estão procurando uma maneira de resgatar o que fizeram . Ontem, na sabatina do UOL, a presidente Dilma disse, em tom ameaçador, que terá uma conversa com o CEO do Banco Santander.

Mas não foi apenas o Banco Santander que sofreu esse assédio moral por parte do governo. Também a consultoria de investimentos Empiricus Research foi acusada pelo PT de campanha eleitoral em favor do candidato oposicionista Aécio Neves, tendo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) acatado o pedido para que fossem retirados do Google Ads anúncios bem-humorados do tipo Como se proteger de Dilma e E se Aécio ganhar .

Justamente é este o ponto. A cada demonstração de autoritarismo e intervencionismo governamental, mais o mercado financeiro rejeita uma reeleição da presidente Dilma, prepara-se para enfrentá-la ou comemora a possibilidade de que não se realize. Isso acontece simplesmente porque o mercado é essencialmente um instrumento da democracia, como transmissor de informações e expressão da opinião pública.

Atitudes como as que vêm se sucedendo, na tentativa de controlar o pensamento e a ação de investidores, só reforçam a ideia de que este é um governo que não tem a cultura da iniciativa privada, e não lida bem com pensamentos divergentes, vendo em qualquer crítica ou mesmo análise uma conspiração de inimigos que devem ser derrotados.

Um dos sócios da consultoria Empiricus Research, Felipe Miranda, afirmou em entrevistas que não se intimidará, e fez uma constatação óbvia. O que já vínhamos falando aos nossos clientes sobre a gestão do governo e a condução da política econômica só piorou com esse cerceamento.

domingo, 4 de maio de 2014

Politica economica companheira: aumenta a irracionalidade, e osprejuizos - Merval Pereira

Nau dos insensatos

As intervenções pontuais do governo em setores da economia têm provocado consequências maléficas em outros, como, por exemplo, na questão elétrica. Ou na redução forçada dos juros, que acabou sendo revertida pela realidade, e hoje temos juros mais altos do que antes, para tentar controlar a inflação crescente. Querendo reduzir compulsoriamente a tarifa de energia, o governo praticamente obrigou as empresas a aceitar uma renovação de contratos em novas bases, provocando prejuízos e impedindo que investimentos necessários fossem feitos.
As tarifas acabaram não caindo como o prometido em um pronunciamento propagandístico na televisão, e o governo está com um problema para o Tesouro enfrentar, que pode chegar a R$ 50 bilhões segundo algumas estimativas. O desequilíbrio financeiro em consequência da Medida Provisória 579, de 2012, já obrigou o governo a colocar R$ 18 bilhões no setor, para financiar a redução arbitrária da tarifa, afetando as contas públicas.
O malabarismo para financiar outros R$ 11 bilhões está provocando uma crise na Câmara de Compensação de Energia Elétrica (CCEE), com diretores pedindo demissão por não concordarem com essa contabilidade criativa, o que pode obrigar o Tesouro a garantir de alguma maneira esse empréstimo, anulando a tentativa de não aumentar o rombo nas contas públicas.
Depois desse imbróglio todo, ainda restará para o próximo governo um tarifaço e o perigo de um apagão. Caminhamos para uma situação semelhantes à ocorrida em 1998, com sinais trocados. Naquele ano de reeleição, o governo Fernando Henrique Cardoso adiou o mais que pôde a desvalorização do Real, que acabou vindo em janeiro de 1999, no primeiro mês do segundo mandato.
Prometer que a tabela do Imposto de Renda será reajustada no próximo ano no mesmo dia em que terminava o prazo para a declaração do IR deste ano parece uma burla ao cidadão comum
Agora, o governo tenta adiar um programa de racionamento de energia para não sofrer eleitoralmente, mas todos os especialistas advertem que se nada for feito o racionamento virá, com mais força, já em novembro deste ano, um mês depois de fechadas as urnas, seja quem for o eleito.
Uma herança maldita que Dilma pode estar deixando para si mesma, assim como o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, retarda uma campanha de racionalização do uso da água em São Paulo, para não ter prejuízos nas urnas. Corremos o risco de ter, fechadas as urnas, apagão de energia e água.
Tudo isso para dizer que soluções atípicas, como as que a presidente Dilma anunciou em cadeia nacional de rádio e televisão na véspera do Dia do Trabalho, não significam medidas racionais para o bem da população, e acabam produzindo efeitos contrários.
Mesmo a carga positiva que essas medidas populistas possam trazer para uma candidatura em risco é duvidosa. O aumento de 10% para os integrantes do Bolsa Família não fará com que mais beneficiários do plano votem em Dilma, a grande maioria já deve estar com ela. Mas fortalece a percepção do restante da população de que o programa social é utilizado como arma eleitoral, e aumenta o rombo nas contas públicas.
Prometer que a tabela do Imposto de Renda será reajustada no próximo ano no mesmo dia em que terminava o prazo para a declaração do IR deste ano parece uma burla ao cidadão comum. Além de o reajuste anunciado ser inferior à inflação, não parece lógico que o governo tome uma decisão dessas em ano eleitoral, para valer em um mandato que pode não ser o seu.
A garantia de continuar, além de 2015, com uma política de reajuste do salário mínimo com ganhos reais é uma vantagem para a candidatura governista, que os oposicionistas só equipararão caso a campanha eleitoral entre numa corrida demagógica que vencerá aquele que prometer mais coisas impossíveis de cumprir. Essa política, aliás, está sendo questionada no Supremo Tribunal Federal.
O que se desenha ao final é um quadro de irresponsabilidade fiscal que se agrava com o populismo eleitoral. Como as medidas anteriores, essas também terão consequências indiretas em vários outros setores, provocando a alta da inflação futura e a necessidade de aumentar os juros mais ainda, neutralizando os benefícios que porventura trouxessem aos trabalhadores do Brasil. E assim a nau dos insensatos navega em águas turbulentas.

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