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sábado, 14 de janeiro de 2023

A ditadura das ratazanas - Miguel Gustavo De Paiva Torres

A ditadura das ratazanas  

Miguel Gustavo De Paiva Torres

Crise, aprendi com o amigo Mário Aloisio. ainda na adolescência., é palavra que vem do sânscrito e significa depurar. Serve para destruir e reconstruir.

Destruídos os templos republicanos na Praça dos Três Poderes, no Planalto Central, arduamente conquistado para a consolidação da civilização brasileira por gente simples, boa e generosa que chegaram ao cerrado com o espírito da esperança e da construção do país do futuro,.

Assistimos estarrecidos, mas não surpresos, à invasão da nossa capital federal por hordas bárbaras recrutadas por ratazanas esfomeadas por sangue, dinheiro e poder.

Foram quatro anos de doutrinação para um único objetivo: A ditadura das ratazanas.

Conseguiram convencer massas humanas espalhadas por todos os rincões do Brasil a seguir um comandante e um comando único sem contestação e sem discussão, no melhor estilo do defunto stalinismo soviético.

Militares, policiais e pastores se associaram em um golpe de estado para a entronização de um Rei fundador de uma dinastia familiar que, messias que regressaria de Orlando,, na Florida e governaria o país do futuro até o final dos tempos.

Foi com fervor histérico e furioso que aceitaram a verdade única, absoluta: democracia é o regime do mal liderado por ladrões chefiado pelo grande Ladrão; Demônio disfarçado a ser abatido de qualquer modo por qualquer meio. 

Abriram uma crise sem precedentes. Todos aqueles que sonhavam com o poder absolutista, em qualquer espectro político, perderam o rumo e o prumo.

Depois da quebradeira não haverá esconderijo possível para as ratazanas do Poder. Nem nos porões da ditadura. A depuração será feita democraticamente, à luz do sol e com a espada da Lei.

MIGUEL GUSTAVO DE PAIVA TORRES

terça-feira, 26 de julho de 2022

A história da diplomacia brasileira nos arquivos do Itamaraty: Miguel Gustavo de Paiva Torres

Meu colega diplomata pernambucano Miguel Gustavo de Paiva Torres, quem sugeriu mudança no título de meu livro "O Itamaraty sob Ataque", para "O Itamaraty Sequestrado", fez uma brilhante pesquisa sobre o verdadeiro fundador da diplomacia brasileira, Paulino José Soares de Souza, Visconde do Uruguai, com base nos arquivos do AHD do Itamaraty-RJ. A obra "O Visconde do Uruguai e sua atuação diplomática para a consolidação da política externa do Império" – apresentada no Curso de Altos Estudos do IRBr, no qual fui parte da banca – está disponível na Biblioteca Digital da Funag.

Paulo Roberto de Almeida

 

A história da diplomacia brasileira nos arquivos do Itamaraty 

Miguel Gustavo de Paiva Torres

https://contextoalagoas.com.br/?p=2428

Muito pouco sabia sobre a vida e a obra do grande brasileiro Paulino José Soares de Souza, o Visconde do Uruguai. Uma conspiração de fiéis e leais colegas e amigos da minha longa caminhada na carreira diplomática me levou a tentar uma empreitada difícil, no início, prazerosa e emocionante no decorrer das minhas pesquisas efetuadas, principalmente, nos Arquivos Históricos do Itamaraty, em sua antiga sede no Rio de Janeiro.

Em 2009, lotado no IPRI, como conselheiro e coordenador daquele Instituto de Relações Internacionais, parte da Fundação Alexandre de Gusmão, meu chefe, colega de turma, e Diretor do IPRI, embaixador Carlos Henrique Cardim, que havia escrito importante monografia sobre Rui Barbosa, convidou-me para um almoço a dois. Disse-me, então, que águas passadas eram águas passadas e que eu deveria escrever nova monografia para apresentação no Curso de Altos Estudos, condição legal para promoção na carreira diplomática.

Já havia apresentado dois projetos: um sobre a inserção econômica, comercial e cultural do Nordeste do Brasil no âmbito da estratégia brasileira de uma futura União Sul-Americana, a partir do MERCOSUL, então praticamente enclausurado no Sul e Sudeste do país, rejeitado sem possibilidade de apelação por se tratar de um “absurdo” retalhar o país em regiões. O segundo versava sobre “A Questão Indígena na América Latina”, com base na minha participação como representante brasileiro na Comissão Indigenista Latino-Americana, sediada no México, onde servi em nossa embaixada. Rejeitada por uma cartinha de três linhas dizendo que no Brasil não existia qualquer “Questão Indígena” e, portanto, não era do interesse da nossa politica externa: dois anos depois Evo Morales foi eleito presidente da Bolívia.

A terceira vez, que na verdade foi a primeira, foi a rejeição a posteriori de monografia já aprovada sobre a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, com a mudança do governo Itamar Franco para as mãos de Fernando Henrique Cardoso: projeto também absurdo de formação de um clube de pobres e africanos.

Por isso a insistência dos colegas e amigos em resistir e continuar. Cardim disse que havia participado de fórum de intelectuais e historiadores promovido pela FUNAG com a participação de José Murilo de Carvalho, ícone de nossa historiografia moderna. José Murilohavia feito uma exortação aos diplomatas brasileiros para pagarem uma dívida da Casa com Paulino José Soares de Souza, fundamental na organização e consolidação da diplomacia e dos pilares fundamentais da política externa brasileira. Essa missão necessitava, a prioridivulgação do seu trabalho entre nossos colegas, quase que exclusivamente focado na diplomacia republicana e no seu patrono, o Barão do Rio Branco.

A ideia foi germinando e crescendo na minha cabeça. Fui a biblioteca em busca de livros sobre o Visconde do Uruguai. Só existiam dois livros: um único e antigo exemplar, quase danificado, publicado em 1944, capa dura azul, com mais de 500 páginas, A Vida do Visconde do Uruguai, escrito por seu sobrinho neto, José Antônio Soares, herdeiro dos arquivos pessoais do seu tio avô, mais tarde doados ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. O outro era de autoria do próprio José Murilo de Carvalho, organizador e autor de esclarecedora e ampla introdução do livro O Visconde do Uruguai, publicado em 2002 pela Editora 34, em São Paulo.

O livro antigo e danificado de José Antônio Soares foi o gatilho do meu encantamento e paixão pela vida e obra do artífice de nossa diplomacia e política externa no Segundo Império. Esse grupo de colegas e amigos que me incentivavam sugeriram que fosse ao Rio de Janeiro fazer pesquisas no Arquivo Histórico do Itamaraty, o que implicava custos e deslocamentos de Brasília para o Rio de Janeiro.

Fui uma primeira vez, por desencargo de consciência, e passei dois anos da minha vida mergulhado e deslumbrado com as correspondências diplomáticas do chanceler de Pedro IIcom os principais gigantes do nosso corpo informal de diplomatas do império, entre os quais os Viscondes do Rio Branco, o Visconde de Sinimbu, o Barão de Penedo, estes dois últimos meus conterrâneos de Alagoas.

Já não se tratava mais de escrever uma monografia para ser aprovado em busca de promoçãoe continuação na carreira. Tratava-se de um desejo profundo de reviver aquela época de esplendor da nossa diplomacia e da nossa política externa. Uma obsessão que me levou a imaginar e a ver como real o Brasil e sua inserção no mundo nos anos de 1849 a 1853.

Uma saga, uma epopeia sobre a formação e a construção do Brasil pelas mãos de uma dúzia de brilhantes diplomatas do Império do Brasil. Eu tinha a obrigação de contar aos colegas da Casa, e aos brasileiros, parte da vida e das ações desses homens que repousavam em silêncio nos Arquivos Históricos do nosso querido Palácio do Itamaraty no Rio de Janeiro, patrimônio histórico de nossa alma brasileira.


quinta-feira, 18 de outubro de 2018

O aparelhamento do Itamaraty sob o lulopetismo - Miguel Gustavo de Paiva Torres

O aparelhamento do Itamaraty


Miguel Gustavo de Paiva Torres, diplomata

Diário do Poder, 18/10/2018
https://diariodopoder.com.br/o-aparelhamento-do-itamaraty/

Na última semana de dezembro de 2002, época de festas natalinas e réveillon, coube a mim participar, em regime de plantão de fim de ano, ao lado de um colega embaixador, da recepção de uma equipe de transição do Partido dos Trabalhadores, que percorria a esplanada em busca de informações administrativas para a então iminente posse do novo Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, em primeiro de janeiro de 2003. Para nossa surpresa, verificamos que o interesse principal da equipe de transição, que visitava naquele dia o Itamaraty , era tão somente um assunto específico: quantos DAS ( Direção e Assessoramento Superior) e DAI ( Direção e Assessoramento Intermediário), referentes a cargos de chefias e assessoramentos, estavam disponíveis para preenchimento em nosso Departamento específico e no Ministério em geral.
Cuidadosamente, explicamos aos nossos interlocutores que todos os cargos do Ministério das Relações Exteriores, por lei, eram restritos aos membros do Serviço Exterior Brasileiro, admitidos por concursos públicos e , no caso específico dos diplomatas, com formação no Instituto Rio Branco, também matéria legal.
Foi evidente o desconforto da equipe visitante com a nossa resposta, mas prosseguiram tomando notas e com novas questões sobre o funcionamento da máquina administrativa do Ministério. Com o desenrolar do novo governo, alterações paulatinas passaram a ocorrer na área administrativa do MRE, uma das mais estranhas foi a de transportes internacionais das mudanças dos funcionários do Serviço Exterior, rubrica com importante impacto financeiro no minguado orçamento da Casa.
A tradição administrativa, até então, era a de que cada funcionário deveria convidar três empresas de mudanças para realizar orçamento, e o mais barato venceria, salvo em caso de comprovada inidoneidade ou ineficiência da empresa convidada , que deveria constar obrigatoriamente de cadastramento no Ministério. No exterior o processo era idêntico: o funcionário que estava em Tóquio, sendo removido para a Bolívia ou para o Brasil deveria convidar três empresas idôneas locais cadastradas no Consulado ou na Embaixada, para processo idêntico. As empresas vencedoras, aquelas de menor preço, eram responsáveis pelo recolhimento e entrega da mudança no sistema porta a porta.
Deixou de ser assim.
O Itamaraty passou a ter uma lista especifica de empresas brasileiras escolhidas para gerenciar as mudanças por regiões do mundo, e as contratações das mudanças entre postos no exterior e entre os postos e Brasília, a serem feitas exclusivamente por essas empresas brasileiras autorizadas, sem a possibilidade de escolha e decisão dos funcionários e dos postos. Assim, se você estava em Ulan Bator, na Mongólia, e precisava levar sua mudança para o Consulado em Santa Cruz de La Sierra, quem decidiria qual seria a empresa da Mongólia a adentrar sua residência e fazer a mudança passava a ser a empresa brasileira responsável por aquela região do mundo. No mínimo estranho. Esdrúxulo.
Aos poucos, por motivos de serviço, foram sendo requisitados funcionários de outros ministérios e se deu início, também, a um processo de terceirização nas atividades meio, com justificativa de economicidade. O Ministério homogêneo que garantiu excelência no serviço público por largo período da nossa história diplomática, passou a ter uma massa crescente e heterogênea de funcionários, circulando por salas e espaços depositários de documentos confidenciais e secretos.
Finalmente, para completar o quadro da suposta democratização administrativa do Ministério, seguiu-se um acelerado processo de promoções e remoções de funcionários do serviço exterior para postos chaves da diplomacia brasileira, e um afastamento progressivo de toda uma geração que dirigiu a política externa do Brasil até o início dessa nova fase administrativa. Os que permaneceram na ativa foram relegados a consulados confortáveis, para não reclamarem, a postos exóticos e distantes ou ao ostracismo permanente.
Caso emblemático ocorreu em El Salvador, onde embaixador exemplar, de fina competência e trato, passou a receber pedidos-ordens da primeira dama do país, uma senhora brasileira militante do Partido dos Trabalhadores, casada com o então Presidente socialista salvadorenho. Evidente que o digno representante brasileiro não aceitou essas interferências indevidas. Por este motivo, de não aceitar, sofreu brava reprimenda do nosso então Ministro das Relações Exteriores, sucessor de Celso Amorim, por não tratar o caso com “sensibilidade política”.
O Embaixador foi retirado do Posto para ser enviado para Sri Lanka, onde certamente não necessitaria da sensibilidade política preconizada pelo chefe, entre aspas, da diplomacia brasileira. Claro que o competente embaixador não aceitou a decisão manu militaris de ser enviado para onde não deveria ser. E sobreviveu ao tsunami do aparelhamento ideológico da esplanada dos ministérios.
Miguel Gustavo de Paiva Torres é diplomata.