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quarta-feira, 29 de julho de 2020

A pouco nobre arte de enganar com os números - Paulo Roberto de Almeida

Da arte pouco nobre de enganar com os números


Paulo Roberto de Almeida
[ObjetivoComentário crítico sobre distorção de dadosfinalidadeesclarecimento público]


Jornalistas estão reproduzindo mais uma das “pegadinhas” desonestas da Oxfam: a de que a riqueza “financeira” dos megarricos teria crescido ainda mais na pandemia, o que se “consegue” selecionando dois períodos arbitrários num índice de bolsa de valores, com números que “provam” que os mais ricos ficaram ainda mais ricos, aos passo que os mais pobres afundaram ainda mais. 
Fica parecendo que os primeiros ficaram mais ricos às custas dos segundos, o que absolutamente não é verdade.
Jornalistas — e o público em geral — não deveriam cair nesse tipo de mentira conveniente, sem investigar as fontes de informação e a “metodologia” aplicada aos números, um exercício de estatística elementar que muitas vezes escapa de mentes mais apressadas, ou pouco preparadas para interpretar corretamente dados primários.
‪De certa forma, a Oxfam, em sua desonestidade subintelequitual contumaz reproduz a tristemente famosa “teoria do Intercâmbio desigual”: basta pegar as commodities num pico de alta numa série histórica, e depois comparar com preços não deflacionados de manufaturas mais adiante: pimba! “provou”!
Se tem uma coisa que eu não suporto mesmo – bem mais do que a “burrice” daqueles que têm todas as informações à mão, mas preferem insistir em erros primários, simplificando as coisas – é a desonestidade intelectual, que eu chamo de subintelequitual.
Isso ocorre muito entre militantes de certas causas, que tendem a possuir teses prontas, e que depois vão “torturar” os números para que eles “revelem” aquelas teses pré-fabricadas.
Por isso eu tenho muito pouco respeito pelo economista Thomas Piketty e suas “teses” sobre a concentração de renda, apelando para um título de duvidoso gosto marxiano: o “capital no século XXI”, e isto independentemente dos dados aparentemente corretos do crescimento da riqueza financeira ao longo das últimas décadas, depois de um longo período de “desconcentração” no século XX.
Primeiro, a seleção dos dados “financeiros”, como se ela fosse a única forma de riqueza possível, quando existem outras formas de riqueza intangível, mais difíceis de se medir, mas não menos reais.
Depois, essa outra arbitrariedade de seguir essa “marcha do capital” ao longo das décadas, como se os mesmos ricos continuassem abocanhando a riqueza geral da sociedade, em detrimento dos mais pobres, que “ficaram com uma parte menor” daquela riqueza medida unicamente pelo seu lado financeiro, que é chamado de capital. 
Ora, isso é de uma desonestidade tipicamente marxiana e marxista, que “consegue” provar as teses pré-fabricadas da concentração de renda, da “pauperização” dos mais pobres, enfim, da divisão da sociedade em classes antagônicas e, finalmente, a de que os mais ricos estão impedindo as classes médias e os mais pobres de prosperar. 
Isso não é nem teoria, nem economia aplicada: é simplesmente mistificação econômica, uma espécie de “metafísica hegeliana do capital”, que apenas segue a riqueza na sua forma exclusivamente financeira, pairando na superestrutura da sociedade, como se a riqueza geral permanecesse a mesma ao longo dos tempos, aliás apropriada pelas mesmas “classes” e pelos mesmos indivíduos ou famílias (o que pode realmente ocorrer, pois os mais ricos tendem a defender a sua riqueza, multiplicá-la e passar aos seus descendentes).
Em terceiro lugar, a “conclusão” de que a riqueza do capital financeiro é uma coisa malévola em si, e que ela é causa das desigualdades, e portanto da infelicidade atual do nosso tempo, já que a humanidade em geral ainda possui muitos pobres e miseráveis, ao mesmo tempo em que os superricos, os megabilionários se multiplicam e ficam cada vez mais ricos, aparentemente às custas de todos os demais. 
Daí a concluir que a sua riqueza é ilegítima, indevida e perversa para a felicidade geral da sociedade é apenas um passo, como faz a Oxfam e os simplistas que seguem suas mistificações. 
Daí também as teses para taxar mais os ricos e “distribuir” esse estoque de riqueza entre os mais pobres, como se os fluxos de criação de novas riquezas se mantivessem inapelavelmente constantes, como se a economia fosse uma cornucópia infinita, suportando os novos Robin Wood da extração estatal, apoiados em economistas bonzinhos, pela eternidade.
Isso é Rousseau, isso é Marx, isso é Piketty, e todos os partidários da tese de que a propriedade é um roubo, e de que o mais importante é a desigualdade entre as pessoas, e não a capacidade de gerar riquezas através do trabalho inteligente, o skilled labour de que falava Adam Smith, ou o quarto fator produtivo, a inteligência, de que falava Cairu, depois da terra, do trabalho e do capital. 
Por fim, considero que a mais nobre missão do economista seja enriquecer os mais pobres, ao passo que economistas que se entregam à pouco nobre missão de empobrecer os mais ricos, como Piketty, não deveriam merecer esse título.
O maior problema da humanidade NÃO É a desigualdade, inerente a todas as épocas e formações sociais, uma vez que ela é inerente a todos os seres humanos, inapelavelmente sempre únicos e originais, e supostamente dotados de consciência, racionalidade e responsabilidade sobre suas vidas, a partir de certo ponto de suas vidas. 
Todos os seres humanos partem de um marco zero, e serão mais pobres ou mais ricos, mais felizes ou infelizes, a partir de certa dotação natural de fatores, nas sobretudo a partir do ambiente social, cultural e patrimonial no qual foram criados e se desenvolveram (ou não).
Daí que uma nova “teoria dos sentimentos morais” deveria assegurar que todos os seres humanos pudessem ser dotados das mesmas condições igualitárias de partida para que pudessem florescer ao longo da vida, o que se obtém basicamente através da educação e de um mínimo de condições infraestruturais para colocar suas dotações adquiridas a serviço de uma vida útil e benéfica a si e aos descendentes.
A chamada “renda básica” não pode ser nada além de um ajutório temporário para que a pessoa possa se ajudar a si própria.
Daí que a educação é o maior bem da humanidade, um patrimônio inter-geracional que precisa ser mantido em condições ótimas de realimentação e de acumulação social e societal (de preferência pela solidariedade universal, ou globalista).
A educação é um problema “técnico”, portanto “solucionável” com os devidos investimentos sociais.
Sociedades que possuem elites predatórias (como as nossas, na AL e e outras partes do mundo também) são pouco propensas a redistribuir riquezas por meio da educação, uma vez que a riqueza dessas elites pode efetivamente ser feita através da extração da riqueza alheia, por meio da concentração de poder (original ou adquirido). 
Ou seja, não existe uma solução fácil á concentração de renda, à má distribuição de riquezas, à desigualdade entre is homens.
Apenas não creio que o maior problema da humanidade esteja na desigualdade, e sim na pobreza. E esta se combate com mais liberdades econômicas e políticas, e alguma solidariedade social.
Um pouco de sorte também ajuda. 
Certos povos têm mais “sorte” do que outros. O Brasil, aparentemente, ainda não tropeçou com essa “sorte”.

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 3726, 29 de julho de 2020

segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

Relatório da Oxfam sobre a Desigualdade: uma fraude sem tamanho

A Oxfam envergonha os estatísticos do planeta, os economistas também (menos os do PT e do PSOL).

Classificar o "Relatório da Desigualdade" da Oxfam de farsa seria pouco

Geanluca Lorenzon
Mises, 20/01/2020

No início desta semana, fomos brindados com um relatório da ONG britânica Oxfam, afirmando, entre outras coisas, que 62 pessoas do mundo possuem a mesma riqueza que metade da população mundial — além de outras afirmações sensacionalistas, e já rotineiras, feitas pelo referido Instituto.
Nosso amigo Leandro Narloch fez um bom resumo acerca dos principais mitos e omissões da Oxfam em relação ao referido relatório.
Com afirmações como "o 1% mais rico possuirá mais fortuna que todo o resto da população em 2016", não é difícil imaginar como um cidadão médio reagiria a tal notícia: provavelmente condenando a chamada desigualdade, sem entender ou diferenciar os diversos fatores que contribuem para a mesma, ou sequer se perguntar se ela é algo relevante para qualquer aspecto de sua qualidade de vida. 
A Diretora Executiva da Oxfam International, Winnie Byanyima, chegou a afirmar que a desigualdade econômica atrapalha o próprio crescimento econômico. A senhora Byanyima provavelmente tem saudade das altas taxas de crescimento que a União Soviética registrava todos os anos... 
As sugestões da ONG são repetitivas já: 
  • Taxar os ricos (essa até o PT já abraçou; give me more!);
  • Investir em sistemas universais e "gratuitos" de saúde e educação (Mussolini teria orgulho); 
  • Buscar um objetivo global para combater isso. 
Como isso poderia dar errado? Afinal, Brasil, Venezuela e Argentina (pré-Macri) foram um retumbante sucesso econômico na mobilidade social dos mais pobres... 
Enquanto isso, no mundo real, estamos perto de erradicar a pobreza mundial pela primeira vez na história da humanidade.  Walter Williams nos recorda que a pobreza é fácil de ser explicada; difícil (mas não para um austríaco) é entender as causas da prosperidade e como o ser humano, ao agir positivamente em busca de seus próprios objetivos, beneficia todos os outros.
Por que punir aqueles que conseguiram fazer suas fortunas pelo trabalho de suas próprias mãos? Como mostra este hilário infográfico do site pop 9gag(baseado em dados da Bloomberg), nada menos que 73 das 100 pessoas mais ricas do mundo são "self-made billionaires" — ou seja, somente 27 dos mais ricos do mundo assim o são porque herdaram uma fortuna. Os demais trabalharam por conta própria para chegar onde chegaram. 
Ainda mais interessante: 36 deles eram filhos de pais que viviam na pobreza, e 18 sequer tiveram um diploma na Universidade. 
Você realmente acredita que existe uma fórmula certa para ter um "sucesso de renda"? Para a Oxfam existe. Para todos os planejadores centrais — dos positivistas aos comunistas, nazistas, socialistas e ambientalistas — existe sempre uma fórmula única de acordo com a qual a sociedade deve ser desenhada.  E o melhor: tal fórmula dará certo, mesmo que tenha que ser implantada à força. Como alguém consegue ficar sequer em dúvida ao descobrir que todos os regimes socialistas inevitavelmente têm de ser totalitários?
Entretanto, ainda que para um analista na tradição da Escola Austríaca as sugestões e as conclusões da Oxfam pareçam tão economicamente incoerentes, resolvi conversar com um economista com foco em — preparem-se — econometria.  
Troquei alguns e-mails com Carlos Góes, mestre em Economia Internacional pela conceituada John Hopkins University, pesquisador-chefe do Instituto Mercado Popular, e analista de instituições financeiras internacionais em Washington, DC. Apesar de tudo, ele me garante ser um fã de Hayek. Vamos ao bate-papo:
A: É consenso entre economistas liberais que o estudo da Oxfam possui diversas falhas e um ar de sensacionalismo. Qual das falhas do estudo divulgado nesta semana você considera a mais grave?
Carlos Góes: Independentemente de economistas serem liberais, keynesianos ou marxistas, clareza metodológica é fundamental para entender o que significam as respostas que os dados proveem para a gente. E é preciso reconhecer as limitações dos dados quando essas existem. 
Há dois problemas fundamentais com os dados produzidos pela Credit Suisse que foram utilizados pela Oxfam. 
O primeiro é de ordem técnica. Ao contrário de dados sobre a renda, a grande maioria dos países não tem dados sobre os estoques de riqueza, uma vez que o que se taxa normalmente é a renda e não a riqueza. Esse fato limita a confiabilidade das estatísticas sobre a riqueza. 
Segundo o relatório da Credit Suisse, somente 17 países têm estimativas completas de riqueza do setor privado (conhecidas como "household balance sheets"). Outros 31 países têm dados parciais, detalhando a riqueza financeira, mas não a riqueza não-financeira do setor privado — nos EUA, a riqueza não-financeira (imóveis, maquinários etc.) é de cerca de 1/3 da riqueza total, o que significa que ignorar a parte não financeira é ignorar boa parte da realidade. 
Para os outros 150 países do estudo, os economistas da Credit Suisse fizeram extrapolações — que não são inúteis, mas têm suas limitações, já que não trazem informações completas.
O relatório original da Credit Suisse tem vários problemas além do mencionado acima. Entre eles: 
(a) não inclui riqueza informal (as casas nas favelas e bairros pobres brasileiros, por exemplo, que muitas vezes valem dezenas de milhares de reais apesar de não serem formalizados com um título estatal), riqueza esta que o economista Hernando de Soto estima em cerca de 10 trilhões de dólares; 
e (b) não inclui riqueza implícita — como aquela prevista por sistemas de seguridade social dos países ricos, que se fossem administrados privadamente seriam parte de poupança dos cidadãos. 
O próprio relatório da Credit Suisse diz que o estudo sobre a riqueza global está "em sua infância". Na melhor das hipóteses, essas estimativas são pouco confiáveis e devem ser tomadas com bastante cuidado.
O segundo problema é de ordem conceitual. Eles utilizam o conceito de riqueza "líquida" (ou seja: patrimônio menos dívidas). Segundo essa metodologia, se você tirar um real do bolso e der para seu sobrinho de dez anos, ele vai ter uma riqueza maior do que "2 bilhões de pessoas somadas". Sim, seu sobrinho instantaneamente passa a ser um magnata com mais riqueza que bilhões de pessoas juntas. 
Como isso é possível? Porque a metodologia considera a riqueza "líquida" (ou seja: patrimônio menos dívidas) das pessoas. E 2 bilhões de pessoas, tendo dívida, têm riqueza negativa.
Alguém que se formou em Harvard, vive num apartamento de cobertura em Nova York e ganha 100 mil dólares por ano mas tem 250 mil dólares em dívidas estudantis é mais pobre do que um camponês indiano que tem uma bicicleta, vive com um dólar por dia e não tem dívida. 
Não importa se o cara de Harvard gasta centenas de dólares tomando McCallahan's 18 anos todas as vezes em que sai pra balada. Pra Oxfam, ele é mais pobre que o camponês indiano.
Ainda segundo essa metodologia, quando você compra um jatinho você se torna imediatamente mais pobre. Como? Você acaba de assumir uma dívida de 25 milhões de dólares (incluindo juros) e adquiriu um patrimônio de valor de mercado de uns 20 milhões de dólares. Logo, você está 5 milhões de dólares mais pobre.
Para a Oxfam, quem viaja de jatinho usando financiamento é mais pobre do que quem viaja de ônibus pagando à vista." 
Isso faz sentido pra definir quem é pobre e quem é rico?
A: Você acredita que o estado causa desigualdade de renda? 
O estado pode aumentar ou reduzir a desigualdade, a depender do desenho da política pública. No Brasil, a estrutura tributária, por ser excessivamente prevalente em impostos sobre o consumo (que incidem desproporcionalmente sobre os mais pobres, já que estes em geral consomem uma parte maior de sua renda), contribui para aumentar a desigualdade. Além disso, diversas políticas específicas beneficiam diretamente os mais ricos.
O BNDES concede empréstimos a juros subsidiados e, em seu portfólio, a imensa maioria de seus beneficiários são aquelas empresas com faturamento maior que 300 milhões de reais por ano. Além disso, políticas como universidades estatais financiadas por impostos funcionam como transferência de renda para os mais ricos e ajudam a perpetuar as desigualdades. Historicamente, não é muito difícil ver como o governo em diversas instâncias transferiu dinheiro de pobres para ricos. É só pensar no caso mais explícito desse comportamento, quando o governo, em plena Grande Depressão, comprou café dos grandes agricultores e queimou os grãos manter o preço do café alto nos mercados internacionais. Neste caso (como nos dois anteriores), o governo estava tirando dinheiro do contribuinte pobre e dando ele para a elite. Por outro lado, políticas focalizadas que beneficiam diretamente os mais pobres (como o Bolsa Família), podem ajudar a reduzir a desigualdade.
É interessante que pessoas com diferentes ideologias concordariam com a noção de que o governo não deveria transferir renda de pobres para ricos. Por isso, é possível alcançar um consenso político que ajude a reduzir as desigualdades. Para tanto, é importante que a sejam cortados subsídios de cima para baixo (começando por aqueles que transferem dinheiro de pobres para ricos) e seja desburocratizada a economia de baixo para cima (porque, em geral os mais ricos, armados com exércitos de advogados e contadores, têm mais capacidade para contornar as regulações que dificultam o empreendedorismo do que o Manuel da Padaria e a Dona Maria, que têm um ateliê de costura).
A:  A desigualdade de renda causada pelo processo de mercado é algo ruim? Isso afeta a questão de incentivos em uma economia? Alguns teóricos, por exemplo, alegam que a grande falha do socialismo seria a questão dos incentivos. 
CG: A primeira coisa a se entender é que nem todas as desigualdades são iguais. Às vezes, quando o ponto de partida é muito ruim, a desigualdade é simplesmente fruto da melhoria de vida de algumas pessoas. Angus Deaton, que ganhou o Nobel de Economia ano passado, traz um exemplo interessante em seu livro mais recente: imagine que, dentre 100 judeus em um campo de concentração, dez conseguem fugir. Isso causou uma desigualdade, já que agora alguns estão em liberdade e outros não. Mas isso não seria uma situação inerentemente pior à situação de plena igualdade em que todos estavam no campo de concentração? Talvez essa desigualdade inicial dê esperança para os que lá ficaram e faça com que eles fujam. 
Por outro lado, talvez os guardas punam os que ficaram para desestimular fugas futuras. De todo modo, não há nada óbvio em relação à desigualdade. Ela pode ser boa ou ruim: sempre depende.
Desigualdade é como colesterol: há uma boa e outra ruim. A boa é aquela que deriva dos talentos, esforços e inventividade das pessoas e gera bons incentivos. Quando alguém cria valor para os outros ela deve ser recompensada por isso — porque isso gera dinamismo econômico, inovação e menos pobreza (pense no arquétipo do Steve Jobs). Se ela não for recompensada, ela não vai ter incentivo pra continuar inovando. 
A ruim é aquela de uma sociedade estamental — de comando e controle —, onde as pessoas não enriquecem por causa de sua inventividade ou pelo valor que geram para à sociedade, mas pelos privilégios que têm junto aos poderosos (pense no arquétipo de Eike Batista). 
Temos de corrigir as desigualdades injustas que existem no mundo — e elas existem em demasia. Mas para isso precisamos de análise séria. E não retóricas travestidas de números.
A:  Um estudo sensacionalista como esse pode gerar uma grande repercussão política. Mises sempre defendeu que as ideias são a chave para a evolução de uma sociedade. Como explicar para o público de forma mais simples que esse estudo não reflete a realidade da sociedade mundial?
CG: O primeiro passo é reconhecer que, pra imensa maioria das pessoas, desigualdade naturalmente incomoda. Por exemplo, há evidências de experimentos em psicologia social que mostram que crianças preferem ficar sem doces a ver a outra criança na sala arbitrariamente ganhar uma quantidade desproporcionalmente maior de doces. Por isso, se as pessoas acreditarem que a elas está sendo negada a oportunidade de conseguir vencer na vida por motivos injustos (por exemplo, por causa de elites que compram o apoio de políticos com doações eleitorais ou que proíbem que negros tenham acesso a boas escolas de brancos), elas vão se sentir revoltadas. Isso é natural.
O ponto mais importante, portanto, é mostrar que a melhor maneira para evitar que elites políticas e econômicas cooperem para manter seus privilégios é retirando o poder político das mãos delas — e descentralizando as decisões nas mãos da sociedade por meio do sistema de preços. Sempre que políticos tiverem muito poder, os ricos terão incentivos para comprá-los. E, na medida em que tivermos uma economia descentralizada e dinâmica, as eventuais desigualdades de resultados provavelmente não serão percebidas como injustas pela maioria da população — pois seria a tal desigualdade "boa" mencionada anteriormente.
Durante toda a década de 1990 a desigualdade aumentou nos EUA, mas pouco se falava sobre isso. Por quê? Porque a maioria das pessoas via suas vidas melhorarem: elas tinham maior renda e consumiam mais. Elas não se sentiam injustiçadas pelo processo político e pela falta de oportunidades econômicas. 
Hoje, como uma boa parte das pessoas viu sua renda estagnar e percebe que todos os ganhos têm sido apropriados por uma parcela pequena da população, elas se revoltam.
O debate, portanto, não reside necessariamente em negar a existência de desigualdades (em diversos países ela de fato está aumentando), mas em como caminhar na direção de um modelo que evite desigualdades injustas.
A: Vivemos o melhor momento da humanidade em qualidade de vida. Porém, ONGs como a Oxfam, entre outras, tendem a projetar uma catástrofe, agitando por uma mudança no sistema. Você acredita que o sistema econômico geral internacional precisa mudar? E em caso positivo, para qual direção?
CG: Certamente vivemos numa era sensacional. As perspectivas é que testemunhemos o fim da pobreza absoluta no decurso das nossas vidas. Além disso, a mortalidade infantil está caindo, a expectativa de vida está aumentando e a escolaridade média de meninos e meninas está subindo — dentre muitos outros indicadores sociais — na imensa maioria dos países. Bilhões de pessoas saíram da pobreza e, como o aumento na renda delas foi maior do que nos países ricos, a desigualdade total no mundo tem caído.
Muitas dessas mudanças se intensificaram nos últimos 40 anos, quando partes antes remotas do mundo — como diversas partes da Índia e da China — foram integradas à economia global. A mudança necessária é uma expansão dessa integração para áreas que ainda estão no gérmen desse processo — como a África Subsaariana.
Existem diversos problemas recentes de exacerbação das desigualdades nos países desenvolvidos — e é por isso que estudos como os da Oxfam têm tanta repercussão. Mas, numa perspectiva global, não há dúvidas: o mundo está se tornando mais rico, mais justo e mais igual.
(fim da entrevista)
Ao saber que não eram só os austríacos que consideravam o relatório um disparate, fui dormir tranquilo. Afinal de contas, amanhã posso enriquecer uma criança doando a ela apenar um dólar. 
A esquerda conseguiu seu objetivo: nunca ser um salvador da humanidade foi tão fácil.

segunda-feira, 8 de abril de 2019

Oxfam volta a insistir na tese equivocada da desigualdade como impedimento ao progresso

Não tenho nenhum problema em contradizer frontalmente a matéria e dizer que 88% dos brasileiros estão totalmente equivocados, assim como a Oxfam, que sempre faz esse tipo de "análise" totalmente enviesada e sem fundamento numa sólida política econômica, centrada basicamente em investimentos, acumulação, transformações estruturais e distribuição de renda bem mais pelas vias do mercado do que pelas mãos (e pés) do Estado, que é justamente o principal responsável pela concentração de renda.
Se a Oxfam não consegue ver essa evidência cristalina, de que o Estado é o principal responsável pelo não desenvolvimento e pela má distribuição de renda, ela não merece crédito de economistas responsáveis.

O problema do Brasil é aparentemente a desigualdade, mas esta é apenas o reflexo do não crescimento, da não educação, das políticas regressivas do Estado, em favor de quem já é rico. O Estado é o principal obstrutor do crescimento econômico e o principal concentrador de renda.
Os brasileiros, com a OXFAM, estão equivocados, e taxar mais os ricos não vai trazer nada de bom para os pobres, pois essa tributação a mais será dirigida aos mesmos responsáveis pelas "espertezas adquiridas" em favor dos mandarins da República.
Acho que vai demorar mais algumas décadas para o Brasil se tornar um país desenvolvido.
Infelizmente, com a ajuda dessas ONGs humanitárias absolutamente equivocadas.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 8 de março de 2019

Progresso do país depende de menos desigualdade, dizem 88% dos brasileiros

Pesquisa foi encomendada pela organização Oxfam Brasil ao Datafolha

Progresso do país depende de menos desigualdade, dizem 88% dos brasileiros
Oxfam: Brasil é o nono país mais desigual do mundo (Fonte: Reprodução/Agência Brasil)
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Uma pesquisa encomendada pela organização independente Oxfam Brasil ao Datafolha revelou que 88% dos brasileiros acreditam que o progresso do país está diretamente ligado à redução da desigualdade entre ricos e pobres.
Ainda de acordo com a pesquisa, divulgada nesta segunda-feira, 8, 94% dos entrevistados acham que os impostos pagos pela população devem ser usados em benefício dos mais pobres. 
Em relação à tributação, 77% defenderam o aumento dos impostos cobrados das pessoas muito ricas para financiar políticas sociais. Em 2017, ano da primeira pesquisa, eram 71%. 
A pesquisa revelou também que 64% dos brasileiros acreditam que as mulheres ganham menos só pelo fato de serem mulheres. Em 2017, o índice era de 57%. A taxa de entrevistados que acham que a cor da pele interfere no nível de rendimentos subiu de 46%, em 2017, para 52%, na pesquisa atual. 

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

"Estudo" da Oxfam sobre concentracao de renda tem problemas - Carlos Goes

Análise 

Pesquisa sobre concentração de renda deve ser vista com cautela

CARLOS GÓES
ESPECIAL PARA A FOLHA, 1/02/2018

Todos os anos, quase sempre em um período concomitante ao Fórum Econômico Mundial, a ONG inglesa Oxfam divulga seu relatório acerca da desigualdade global. 
O documento apresenta dados que parecem demonstrar um aumento na concentração de riquezanas mãos de dezenas de bilionários em detrimento de grande parte da população mundial. 
Apesar de ter bastante impacto em manchetes, é preciso ter muito cuidado ao interpretar esses dados. Eles não significam aquilo que parecem à primeira vista. A realidade é mais complicada do que as manchetes fazem transparecer. 
A Oxfam utiliza dados do Relatório Global sobre Patrimônio, produzido pelo banco Credit Suisse. Mas há duas questões importantes a serem consideradas ao interpretar esses dados. 
A primeira é de ordem conceitual. É usado o conceito de riqueza líquida (ou seja: patrimônio menos dívidas). 
Segundo essa metodologia, alguém que se formou em Harvard, vive numa cobertura em Nova York e ganha US$ 100 mil por ano, mas tem US$ 250 mil em dívidas estudantis, seria mais pobre que um camponês indiano que tem uma bicicleta, vive com US$ 1 por dia e não tem dívida. 
Não importa se o advogado recém-formado gasta centenas de dólares tomando uísque 18 anos quando sai com os amigos. Para a Oxfam, ele é mais pobre que o camponês indiano. 
A pergunta é: esse conceito faz sentido para definir quem é pobre e quem é rico? Certamente não. 
De acordo com qualquer critério razoável, o advogado nova-iorquino tem padrões de consumo em ordens de magnitude mais altas do que a do camponês indiano. Mas, como suas dívidas superam seus bens, ele é considerado "mais pobre" que o camponês indiano pelo conceito adotado pela Oxfam. 
Usando essa metodologia, por exemplo, Eike Batista, cujas dívidas superam seus bens em cerca de US$ 1 bilhão, seria considerado um dos homens mais pobres do Brasil. 
Isso acaba levando a uma distorção importante. Segundo esse critério, a maioria das pessoas com patrimônio negativo (o que as colocaria entre as mais pobres do mundo) está em países desenvolvidos. Porém, cidadãos de países ricos têm acesso a crédito (e, logo, a dívidas) exatamente porque eles são mais ricos, não o contrário. 
Por isso, é preciso tomar muito cuidado ao interpretar os dados, já que eles não indicam as diferenças de padrões de vida que entendemos intuitivamente como pobreza e riqueza. 
A segunda questão é de ordem técnica. Ao contrário de dados sobre a renda, a grande maioria dos países não tem dados completos sobre patrimônio. Esse fato limita a confiabilidade das estatísticas sobre a riqueza.
Segundo o relatório da Credit Suisse, só 23 países têm estimativas completas de riqueza do setor privado. Outros 25 países têm dados parciais, detalhando a riqueza financeira, mas não sobre a riqueza não financeira. 
Nos EUA, a riqueza não financeira é de cerca de 1/3 da riqueza total, o que significa que ignorar a parte não financeira é ignorar boa parte da realidade. Para os outros 150 países do estudo, fizeram extrapolações —que não são inúteis, mas têm muitas limitações e erro de mensuração grande.
BRASIL
Para o Brasil, as limitações dos dados são ainda maiores. Não há informações sobre patrimônio não financeiro —como casas, fazendas, carros, propriedade de micro e pequenas empresas— para nem sequer um ano. Ou seja, para boa parte do patrimônio dos brasileiros, em especial os que não são super-ricos, simplesmente não há estimativas ou pesquisas oficiais disponíveis.
A verdade para além das manchetes é que, numa perspectiva global, segundo os dados de melhor qualidade disponíveis, aqueles sobre a desigualdade de renda, o mundo está se tornando mais igual há pelo menos 40 anos. Isso tem ocorrido porque, durante o período de maior intensidade da globalização, os países mais pobres e populosos, como a China, a Índia e, em menor medida, aqueles da África e da América Latina, têm tido taxa de crescimento na renda média mais velozes do que aquelas dos países mais ricos.
Por causa dessa grande força de convergência na economia internacional, a desigualdade do mundo como um todo tem caído.
 
CARLOS GÓES é pesquisador-chefe do Instituto Mercado Popular e se especializa em desigualdade de renda e mobilidade social.

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

1% da população mundial detém 50% do PIB do planeta - Oxfam


 Pronto: idiotas ingênuos vão denunciar o escândalo e pedir o fim das desiguladades. Idiotas espertos vão aproveitar a deixa para avançar sobre a fortuna dos superricos, supostamente para fins de distribuição, mas cobrando um pedágio no meio do caminho. Ambos, idiotas menores e maiores conseguirão assustar os ricos, levá-los para a elisão fiscal e a clandestinidade, e com isso vão reduzir o potencial de criação de riqueza no mundo, tornando a todos mais pobres...
A Oxfam é uma entidade benemérita criada durante a segunda guerra na Inglaterra para cuidar da fome: Oxfor Famine Relief. Rapidamente se tornou uma entidade progressista, participando de todos os equívocos dos fabianos e dos socialistas europeus em geral, contribuindo, involuntariamente, para manter o mundo, especialmente a África, na pobreza.
Paulo Roberto de Almeida

1% da população mundial detém 50% do PIB do planeta

Jamil Chade, correspondente na Suíça - O Estado de S. Paulo
19 Janeiro 2015 | 07h 15

Elite já acumula riqueza equivalente a tudo o que os demais 99% das pessoas detêm

GENEBRA - A riqueza acumulada por 1% da população mundial será superior a tudo o que os demais possuem. Os dados foram apresentados nesta segunda-feira, 19, pela entidade Oxfam, às vésperas do Fórum Econômico Mundial de Davos e que justamente reúne a cúpula do planeta.
Segundo a entidade, a fortuna de 99% da população mundial será equivalente a tudo o que acumula apenas a nata da sociedade, cerca de 1% do mundo.
Para a entidade, a crise econômica mundial que começou em 2008 resultou em uma "explosão da desigualdade". Hoje, uma a cada nove pessoas ainda passa fome no planeta que produz alimentos para três planetas e mais de 1 bilhão de pessoas ganham menos de US$ 1,25 por dia.
O que chama a atenção da entidade, porém, é que a concentração de riqueza é cada vez maior. Em 2009, a parcela de 1% mais rica da população mundial acumulava 44% do PIB do planeta. Em 2014, essa taxa chegou a 48% e, em 2016, ela atingirá 50%.


Em média, cada pessoa dessa elite do planeta mantém uma renda de US$ 2,7 milhões. Dos demais 52% do PIB global, quase tudo está nas mãos da camada dos 20% mais ricos.
O restante da população do mundo - cerca de 80% - precisa dividir 5,5% da riqueza do planeta e acumula uma renda de apenas US$ 3,8 mil. O valor é 700 vezes menor que a renda da elite.
Winnie Byanyima, diretora-executiva da Oxfam, espera usar o encontro de Davos para insistir que a desigualdade social precisa ser alvo dos governos e de líderes do setor privado, alertando para os riscos que essa situação cria na política internacional.
Entre as medidas defendidas por ela está um maior rigor fiscal contra multinacionais e mesmo um acordo para o clima. "Queremos mesmo viver em um mundo onde 1% detém mais que todos nós juntos?"questionou. "A escala da desigualdade global é assustadora e, apesar do tema estar na agenda política, a diferença entre pobres e ricos apenas aumenta", atacou.
Segundo ela, líderes como Barack Obama e a gerente do Fundo Monetário Internacional, Christine Lagarde, de fato estão falando cada vez mais sobre o assunto. Mas a Oxfam alerta que pouco tem sido feito além de discursos.