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domingo, 20 de dezembro de 2020

Pela primeira vez na vida, estou apoiando um deputado do PCdoB: Orlando Silva - Paulo Roberto de Almeida

 Não, eu não mudei nada. Continuo achando o PCdoB uma excrescência. Mas são eles que mudaram: deixaram de ser sectários. Estão finalmente se aliando ao centro, aos liberais, até à direita não bolsonarista, aos odiados tucanos, para fazer aquilo que é simplesmente racional, necessário, absolutamente indispensável: barrar o caminho da extrema-direita servil, no seu afã de subordinar a Câmara dos Deputados ao presidente autoritário e aloprado.

Não consigo achar nada de estranho no argumento abaixo do deputado Orlando Silva.

Estou até  achando que até o PCdoB ficou melhor do que o PT, que é o mais sectário dentro daquele amálgama que o escroto do presidente chama de "esquerdalha". Melhor ser "esquerdalha" do que apoiar um fascista psicopata.

Paulo Roberto de Almeida 

 

Orlando Silva

@orlandosilva

2:36 PM · Dec 19, 2020·Twitter for Android

 

O que vale mais, a vitória possível ou a derrota certa? Essa é a questão essencial em uma eleição em que não é o voto popular a ser conquistado, mas o voto de parlamentares, com convicções formadas e sujeitos às interferências e conveniências de outros poderes. Segue o fio. 

 

Há quem se recuse a alianças com forças liberais porque acham que macula sua existência pura, tornam-se incoerente com o programa e os princípios que defendem. Nada mais errado politicamente. Por esse raciocínio, não haveria a resistência aliada que venceu o eixo na Guerra. 

 

Mas não só, não haveria avanço nenhum, em tempo algum, em um país que historicamente tem o centro e a centro direita como grandes forças políticas, caso nosso. Marcando posição a cada batalha, não teríamos a Anistia, a derrota da Ditadura e as vitórias do campo progressista. 

 

Há quem diga que Maia apoia as pautas do governo. Será? Por que está o Planalto hipotecando a alma para eleger seu candidato? A pauta de Bolsonaro não é ditada pelas "reformas". A pauta dele é criar condições para uma ditadura. Com a reeleição em 2022, ele sonha fechar o regime.

 

E a Câmara? Ela ditará a pauta, a agenda. Se for anexada ao Planalto, será a que coesiona seu grupo e rende votos a Bolsonaro: restrição de liberdades, armas, morte, negacionismo. Esse ambiente de debate favorece a quem? Obviamente à extrema-direita. 

 

Essa turma se retroalimenta da polarização da sociedade. Não ganham pela afirmação, mas pela negação, pelo terror, pelo ódio. Levar isso para a Mesa da Câmara fará com que os setores mais reacionários vençam - e vençam com força para impor a pauta deletéria que desejam. 

 

Por outro lado, a esquerda unida entorno de uma candidatura que assuma compromissos mínimos, terá melhores condições para os embates e a preparação de 2022. Reduziremos a capacidade de estrago do lado de lá. Não podemos esquecer: antes da eleição, há um país. 

 

São questões fundamentais para nós: a contenção de Bolsonaro nos marcos da democracia; respeito aos espaços proporcionais dos partidos; não supressão de ritos legislativos em pautas não consensuais, (lembremos de Eduardo Cunha), freio à destruição de direitos, entre outras. 

 

Esse tipo de aliança, feita à luz do dia, é da própria essência do parlamento e não significa, de modo algum, submissão às pautas de forças com quem nos aliamos para um objetivo pontual, porém transcendente: derrotar Bolsonaro e defender a democracia. 

 

Fora disso, podemos pegar em lanças, travar o combate que for, na defesa do que nos é caro. É a vitória possível. Pode ser pouco para quem quer jogar para a galera. De fato, não dá muitas curtidas nas redes, mas dá um alento fundamental ao país e ao nosso povo. 

 

A outra opção é a demarcação, para a derrota certa e esperada. Essa dará a vitória a Bolsonaro. Teremos sido aquém do que a História nos pede. Teremos sido "eleitoreiros", enchendo de esperanças vãs os nossos apoiadores, que depois sofrerão, como todos, as consequências. 

 

Opto pelo caminho mais difícil: argumentar, construir e participar de uma união amalgamada pela defesa da democracia. É a frente ampla que pode, efetivamente, derrotar Bolsonaro. Quase toda a esquerda aprendeu com as lições do passado. Ainda tem lugar aqui no trem da História.

Orlando Silva

@orlandosilva

 

domingo, 29 de dezembro de 2019

“O Livro Negro do Comunismo no Brasil”, de Gustavo Marques - Resenha de Euler de França Belém

Euler de França Belém
Euler de França Belém

Diplomata lança “O Livro Negro do Comunismo no Brasil”

A história do golpismo e do stalinismo das esquerdas brasileiras é pouca contada pelos historiadores. Prevalece uma visão heroica
Há quem acredite que comunistas são advogados renhidos da democracia. Certo, quando estão na oposição – quando não estão no poder –, os comunistas, para abrir espaço para seus projetos tático-estratégicos, se tornam apologistas da democracia.
Mas comunistas não veem a democracia como valor universal, e sim como “etapa” para alguma coisa, quer dizer, para o comunismo, que, ao se tornar poder, expurga a democracia. Carlos Nelson Coutinho, intelectual de esquerda respeitável, escreveu um livro, “A Democracia Como Valor Universal”, no qual sugere que a democracia é um fim, não é uma etapa. Não é o que pensam – ou pensavam – os comunistas.
Gustavo Henrique Marques Bezerra: autor de uma pesquisa exaustiva sobre o comunismo no Brasil | Foto: Facebook
Em 1935, o Brasil não vivia sob ditadura, mas é possível qualificar o governo do presidente Getúlio Vargas de semi-autoritário (entre 1937 e 1945, era uma ditadura totalitária, mas não tão cruenta quanto a nazista, sobretudo, e a fascista). Os comunistas ligados a Luiz Carlos Prestes e Olga Benario, bancados pela União Soviética de Óssip Stálin, decidiram dar um golpe de Estado e se deram mal. Acabaram presos. A alemã Olga Benario foi deportada para a Alemanha de Adolf Hitler e, infelizmente, morreu num campo de concentração nazista. (Prestes autorizou a execução de Elza Fernandes porque temia-se que fosse espiã da polícia. Não era. Mas quase ninguém fala disso. O jornalista Sérgio Rodrigues publicou um livro corajoso sobre o assunto-tabu, “Elza, a Garota: A História da Jovem Comunista que o Partido Matou”.)
Luiz Carlos Prestes: homem de Stálin no Brasil, entre as décadas de 1930 e 1940 | Foto: Reprodução
Os comunistas de 1935, os da Intentona Comunista, não queriam arrancar Getúlio Vargas do poder para instalar uma democracia plena. Na verdade, planejavam retirá-lo do poder para implantar uma ditadura comunista no país – sob inspiração de Stálin, um dos mais cruéis assassinos da história, tendo mandado matar de 25 milhões a 30 milhões de pessoas, única e exclusivamente por discordarem dele. Aliás, muitos foram mortos por pura paranoia, porque nem eram adversários de Stálin e do regime que assumiu o poder em outubro de 1917, com Lênin na linha de frente.
Depois de liderar a Coluna Prestes, um movimento militarista de cunho praticamente messiânico, Luiz Carlos Prestes se tornou comunista e voltou ao Brasil, na década de 1930, devidamente catequizado pelo Comintern, organização dirigida por asseclas de Stálin, como o búlgaro Georgi Dimitrov. Prestes seria o Stálin patropi. Mas, como não soube avaliar a correlação de forças – dado que era voluntarista, pecadilho que comunistas rejeitam –, acabou preso pela polícia de Getúlio Vargas. Mais tarde, ante a tática do “mal menor”, aliou-se a Getúlio Vargas (que entregou sua mulher aos nazistas) contra a UDN de Eduardo Gomes, Juarez Távora e Carlos Lacerda.
Carlos Marighella: o líder da ALN | Foto: Reprodução
Em 1962, a esquerda se dividiu. De um lado, ficou o Partido Comunista Brasileiro (PCB), o Partidão, e, de outro, o Partido Comunista do Brasil (PC do B). O primeiro defendia um caminho pacífico para o socialismo, com “etapas necessárias”. O segundo, adepto da China e, depois, da Albânia – e defensor do legado de Stálin –, defendia a luta armada.
Depois do golpe civil-militar de 1964, as esquerdas tradicionais se atomizaram. O PCB continuou moderado, avaliando que a luta armada mais fortaleceria do que enfraqueceria a ditadura. O PC do B enviou jovens, quase meninos, para organizar um campo guerrilheiro no Sul do Pará e Norte de Goiás (hoje, Tocantins). Isto já em 1966. O grupo, liderado por João Amazonas, Osvaldão Orlando da Costa e Maurício Grabois, acabou descoberto em 1972 e, em 1974, estava inteiramente dizimado. Era uma guerra entre os comunistas e as Forças Armadas. Não era uma brincadeira. Mas é preciso admitir que, a partir de determinado momento, com pessoas presas e não mais capazes de reagir, os militares começaram uma matança, o que merece a qualificação de barbárie e genocídio. Morrer na batalha é uma coisa – tem sua lógica –, mas ser morto, depois de capturado e não ser capaz de reação, é assassinato.
Carlos Eugênio Paz, líder da ALN, admitiu que guerrilha recebeu dinheiro até da Coreia do Norte | Foto: Reprodução
O PC do B pretendia a retomada da democracia, com sua Guerrilha do Araguaia? A história contada pelos comunistas sugere que sim. Mas isto é fake news. Os comunistas pretendiam derrubar a ditadura para substitui-la por outra ditadura – só que de esquerda. A luta pelo retorno da democracia era, a rigor, uma batalha de políticos pacíficos – como Tancredo Neves e Ulysses Guimarães –, quase sempre ridicularizados pelas esquerdas.
Outros ramos da esquerda – Ação Libertadora Nacional (ALN – liderada por Carlos Marighella), MR-8 (do capitão Carlos Lamarca) e VAR-Palmares, entre outros – se organizaram também em núcleos guerrilheiros. O objetivo de tais grupos era derrubar a ditadura civil-militar e, claro, instalar outra ditadura no país – só que de esquerda. As Forças Armadas, que não queriam “entregar” o poder, reagiram rapidamente e, em pouco tempo – inclusive com o apoio de esquerdistas, como o Cabo Anselmo (e outros menos citados, como Gilberto Prata) –, destruíram as guerrilhas urbana e rural.
Os guerrilheiros brasileiros receberam dinheiro de Cuba e até da Coreia do Norte (a história foi revelada por Carlos Eugênio Paz, o Clemente, último comandante da ALN).
A história cristalizada pelas esquerdas sugere que os guerrilheiros estavam, ao lutar contra a ditadura dos militares e de muitos civis, promovendo a volta da democracia ao Brasil. Nada disso é verdadeiro. Mas fica evidente que, perdendo o combate, tais esquerdas ganharam o debate histórico. Tanto que a luta pacífica pelo retorno à democracia é muito menos pesquisada do que a batalha dos guerrilheiros.
Nos combates ocorridos entre o fim da década de 1960 e início da década de 1970, militares e guerrilheiros mataram várias pessoas. Os mortos da esquerda são lembrados de maneira gloriosa. Entretanto, os que foram mortos pela esquerda nem são lembrados – e são muitos, vários deles inocentes, como guardas de bancos. Tais assassinados não têm a história para ampará-los (foram excluídos). Tanto que suas famílias não têm direito a indenizações.
Por que isto? Como a esquerda fala em nome do “bem da humanidade” parece que lhe é facultado cometer as maiores atrocidades. O presente “ruim” afinal levará a futuro “radioso”. O comunismo, a “pátria” dos iguais, é o nirvana das esquerdas. Como notou o filósofo italiano Norberto Bobbio, os meios corrompem os fins. Quem mata em nome de um futuro paradisíaco – ou percebe a democracia como etapa (e não deixa de ser curioso como, no momento, a esquerda está preocupada com a crise da democracia) –, sacrificando os indivíduos do presente, não constrói paraíso algum. Stálin e seu discípulo chinês, Mao Tsé-tung, cometeram as maiores atrocidades – mataram, juntos, 100 milhões de pessoas – e não edificaram a sociedade perfeita.
Recentemente, o historiador Hugo Studart escreveu um livro seminal sobre a Guerrilha do Araguaia, mas, finalmente, incluindo os militares – cujas vozes se fazem presentes. Trata-se de uma tese de doutorado rigorosa e nuançada – apresentada na Universidade de Brasília (UnB). Engana-se quem avalia que seja a “favor” dos militares. Pelo contrário, mostra, de maneira detalhada, o massacre que cometeram no Araguaia (e revela a cadeia de comando militar, como ninguém havia feito antes, o que possibilita uma melhor compreensão do outro lado da guerra, o das Forças Armadas). Mesmo assim, o livro tem sido “condenado” por desarvorados militantes do PC do B. O motivo é prosaico: o pesquisador ouviu os militares e, por assim dizer, fez uma reforma agrária no tema Guerrilha do Araguaia – democratizando as versões. A história da batalha era “propriedade privada” do PC do B – que a trata como uma coisa heroica, sem contradições (ignora-se inclusive as críticas pioneiras de Pedro Pomar, que pertencia ao partido, mas soube denunciar o equívoco da guerrilha).
João Amazonas, líder histórico do PC do B | Foto: Orlando Brito
Felizmente, para a compreensão da história – que só é história quando se torna inclusiva, quer dizer, quando inclui todos os lados da questão –, a Guerrilha do Araguaia não é mais latifúndio do PC do B e agregados.
Como Hugo Studart, o diplomata Gustavo Marques é um pesquisador corajoso ao lançar “O Livro Negro do Comunismo no Brasil” (Jaguatirica, 872 páginas). Ele já começa a receber “pedradas”, como o doutor pela UnB. Assim como foi estocado, em tempos idos, Osvaldo Peralva, o ex-comunista que publicou um livro devastador sobre os bastidores dos comunistas, “O Retrato” (Três Estrelas, 440 páginas).
Sinopse do livro: “Inspirada em ‘O Livro Negro do Comunismo’, publicado por Stéphane Courtois [e outros] na França em 1997, esta obra, de autoria do diplomata Gustavo Henrique Marques Bezerra, versa sobre a trajetória do movimento comunista e sua influência na vida política e cultural brasileira desde o advento do anarquismo e do marxismo, no final do século 19, até o começo dos anos 1990, com a falência dos regimes comunistas do Leste Europeu. O livro, que tem características monumentais – pois é fruto de mais de 10 anos de intensa pesquisa histórica ampla e minuciosa, em mais de 400 títulos entre fontes primárias (depoimentos, memórias, entrevistas, documentos) e secundárias, nacionais e estrangeiras, e que se divide em seis capítulos, com quase 900 páginas e milhares de notas –, coloca ênfase em fatos geralmente omitidos e/ou pouco explorados pela historiografia brasileira, majoritariamente de esquerda, que revelam o ‘lado obscuro’ dos comunistas e seus aliados no Brasil ao longo do século 20”.

quinta-feira, 31 de outubro de 2019

PCdoB ainda não se livrou do trauma do Araguaia: autor do livro sobre a guerrilha, Hugo Studart, novamente atacado pelo partido

Borboletas e Lobisomens: a guerrilha do Araguaia, de Hugo Studart
Um comentário, por Paulo Roberto de Almeida

Dois anos atrás, o jornalista Hugo Studart procurou-me na direção do IPRI – onde eu me divertia intelectualmente, antes de ser defenestrado por um chanceler sem qualquer senso de humor – para mostrar-me sua tese de doutorado em História, na UnB, sobre a guerrilha do Araguaia.
Imediatamente constatei a qualidade da pesquisa, o rico conteúdo descritivo, objetivo, factualíssimo, embora recheada, a tese, de inúmeros academicismos supérfluos, que atrapalhavam a leitura de uma excelente história sobre uma das grandes tragédias da luta armada no Brasil, a insana aventura "maoísta" do PCdoB nas selvas do Araguaia, e a terrivelmente cruel operação (em três fases) das FFAA para extirpar completamente aquele "quisto" do território brasileiro, mesmo ao custo de execuções sumárias, assassinatos a frio, equivalentes a crimes contra a humanidade, pelos quais os verdadeiros chefes da contra-guerrilha, não apenas seus simples operadores, nunca foram punidos.
Recomendei a "limpeza" da tese de suas superfluidades acadêmicas e a publicação como um simples, mas poderoso livro de história. Já antecipava a contrariedade do PCdoB, o promotor daquela tragédia, junto com o Exército, que nunca fez autocrítica, nem sequer se explicou, por ter enviado à morte um punhado de jovens idealistas, além de alguns militantes e guerrilheiros profissionais. Expliquei isso ao autor, que caberia adicionar um texto sobre a responsabilidade política do PCdoB, que o partido sempre se recusou a fazer.
Ele então me convidou para escrever algo a respeito, o que fiz, de forma displicente, ou seja, um texto puramente opinativo, no estilo "falta alguém em Nuremberg", mas que ainda assim ele insistiu por colocar em posfácio ao livro já planejado.
Eis o meu registro de minha colaboração ao livro, sendo que o posfácio publicado apenas resumia meu texto original, razão pela qual eu disponibilizei a versão integral em meu blog: 

     1285. “Uma tragédia brasileira: a loucura amazônica do PCdoB”, Posfácio a Hugo Studart: Borboletas e Lobisomens: vidas, sonhos e mortes dos guerrilheiros do Araguaia (Rio de Janeiro: Editora Francisco Alves, 2018, 660 p.; ISBN: 978-85-265-0490-5; pp. 503-507). Versão original publicada no blog Diplomatizzando (9/07/2018; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2018/07/golpes-revolucoes-e-movimentos-armados.html). 

Agora, depois de muitos ataques do PCdoB ao livro e ao seu autor, e ainda querendo esconder a verdade, o "historiador oficial" – esse título parece um escárnio, mas combina com as mentalidades ainda stalinistas do partido – vem com mais pedras na mão protestar contra o fato de que o livro entrou na lista dos finalistas do prêmio Jabuti. É seu direito.
Como também é direito do autor expor claramente o que está acontecendo, depois de todas as campanhas que o PCdoB fez contra a obra (que eu julgo uma excelente ajuda involuntária em termos de marketing, o que vale um exemplar grátis para o partido sortear entre os seus aguerridos e stalinistas membros).
Transcrevo, pois, o texto que me foi enviado por Hugo Studart, e não recomendo a leitura da "resenha" do stalinista, ops, historiador oficial do PCdoB, mas cada um é livre para escolher suas melhores leituras.
Paulo Roberto de Almeida
São Paulo, 31 de outubro de 2019


Nota de Hugo Studart sobre mais um ataque do PCdoB ao seu livro:

O Partido Comunista do Brasil, PCdoB, publicou manifesto violento em seu site oficial, o Vermelho.com.br, protestando contra a indicação a finalista do Prêmio Jabuti de Literatura 2019 do livro "Borboletas e Lobisomens - Vidas, sonhos e mortes dos guerrilheiros do Araguaia", de minha autoria.

Trata-se do 25º artigo-manifesto do partido contra a obra, resultado de minha Tese de Doutorado em História pela Universidade de Brasília. Assinado pelo historiador oficial do partido, Osvaldo Bertolino, são usados mais de 20 xingamentos ou adjetivos desqualificativos contra a obra, o autor e jornalistas que porventura tenham escrito artigos elogiosos (ou neutros): "livro farsa", "caluniador", "mentiras cabeludas", "crápula", "poço de imundice", "vazio de inteligência" e "pastel de camarão".

Eis um trecho do manifesto:

O autor optou por mobilizar um séquito de figurões moralmente subqualificados da mídia para defendê-lo. As palavras mentirosas surgiram das bocas e mãos de gente como — entre tantos outros — Alexandre Garcia (ex-Globo e ditadura militar), José Nêumanne Pinto (O Estado de S. Paulo), José Roberto Guzzo (revista Veja) e Augusto Nunes (Rádio Jovem Pan). Eles se esforçaram para tentar salvar a obra farsesca de Studart, mas o que saiu foi a velha semântica anticomunista, esvaziada por frases retorcidas e intelectualmente indigentes.

O partido também já organizou quatro atos de escracho públicos; piquete contra o lançamento no Rio de Janeiro; além de publicar 5 horas de gravações no YouTube (quase uma minissérie). Um grupo de militantes procurou a reitora da UnB pedindo para que cassasse meu título de Doutor e, sobretudo, cancelasse o Prêmio UnB de Teses de Doutorado, do qual fui vencedor. Obviamente, ela jamais cometeria tamanha sandice, nem poderia.

Em outro trecho, o manifesto do PCdoB compara "Borboletas e Lobisomens" à obra "A Terra", de Emile Zola:

"Ele tentou escrever um livro que impressionasse pela brutalidade dos detalhes, pelas cenas de vulgaridades que beiram a lascívia e chegam à fronteira do mau gosto. Seu séquito teve uma reação contrária à dos cinco discípulos mais fiéis de Emile Zola, que lançaram um manifesto de repúdio ao seu livro La Terre (A Terra), no qual se diziam escandalizados. Supomo-nos, ao lê-lo, diante de um tratado de escatologia: o mestre desceu ao fundo do poço da imundície. Anatole France também se pronunciou: “Escrevendo A Terra, o senhor Emile Zola nos deu as geórgicas da crápula.” “Jamais um homem fez tamanho esforço para aviltar a humanidade”, completou.

"Na verdade, a obscenidade alegada na obra de Emile Zola pode ser vista na produção do séquito de Studart. Não pela lascívia, mas pela libertinagem política e ideológica. Eles são mestres na arte de burlar os fatos para roubar a cena".

O jornalista Alexandre Garcia foi especialmente atacado no manifesto -- aliás, tanto quanto este autor. Assim, peço desculpas públicas a Alexandre por ter sido o indutor (ainda que involuntário) de tamanha covardia.

Os amigos podem optar por ler o artigo na íntegra, no link abaixo) Contudo, prefiro que avaliem o conteúdo lendo "Borboletas e Lobisomens":

A obra pode ser adquirida pelo site guerrilhadoaraguaia.com.br (envio com dedicatória)

... ou nas principais redes de livrarias do país, tais como as Livrarias da Vila, Cultura, Martins Fontes, Leitura, Travessa e Argumento. Desde já, grato pela leitura.
Hugo Studart

https://www.vermelho.org.br/noticia/323929-1?fbclid=IwAR1Yq70VfeNU9vgtnEj7VkkYHVKOnhQowwa3KiUZDsbIW8d9otS5sbH08RY

domingo, 8 de julho de 2018

Guerrilha do Araguaia: novo livro de Hugo Studart; Brasilia, 17/07, 19hs

Hugo Studart lança livro com revelações sobre a Guerrilha do Araguaia

Hugo Studart, ex-repórter da revista “Veja” e doutor pela UnB, lança mais uma obra sobre a Guerrilha do Araguaia
Divulgação
O jornalista e doutor em História Hugo Studart lança o livro “Borboletas e Lobisomens — Vidas, Sonhos e Mortes de Guerrilheiros do Araguaia” (Francisco Alves), na terça-feira, 17, às 18h30, no restaurante Carpe Diem, CLS 104, Asa Sul, Brasília.
Studart relata que, na sua pesquisa de nove anos, consultou mais de 15 mil páginas de documentos secretos das Forças Armadas e registrou as memórias de guerrilheiros sobreviventes, de militares e de camponeses.
“É uma obra ideologicamente equilibrada e intelectualmente honesta, mas também historicamente incômoda e polêmica, pois descortina segredos que tanto os militares quanto os comunistas vêm tentando manter ocultos”, anota o editor Carlos Leal.
No prefácio do livro, o professor José Geraldo de Sousa enfatiza: “Hugo Studart colabora para pôr em relevo a exigência de memória e verdade como um caminho a ser percorrido na senda da construção democrática. Ele levanta, com seu trabalho artesão, de pesquisador diligente, fragmentos de registros de um enorme baú de ossadas. É obra enciclopédica”.
O embaixador Paulo Roberto de Almeida, no posfácio, sublinha: “Este livro, além de ser um relato intelectualmente honesto, tão objetivo quanto permitem os documentos remanescentes, foi magnificamente construído segundo as melhores técnicas da história oral e documental. Vale ler, refletir sobre seus dados e meditar sobre o futuro da política no Brasil”.
O jornalista e historiador mostra que um livro de História pode conter furos de reportagem. Sua pesquisa sobre as mortes de camponeses — quase sempre ignoradas pelo próprio PC do B — incursiona por campos inexplorados. Studart nota que é possível que alguns guerrilheiros, para sobreviver, aceitaram um pacto com militares. Um deles seria Hélio Navarro, o Edinho, filho de um oficial das Forças Armadas.
Mestre e doutor em História pela Universidade de Brasília, Studart é autor do livro “A Lei da Selva — Estratégias, Imaginário e Discurso dos Militares Sobre a Guerrilha do Araguaia”. Trata-se de sua dissertação de mestrado.