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sexta-feira, 14 de novembro de 2014

E por falar em petroliferas: PDVSA se afunda na lama, tambem, e na incompetencia, tambem...

Ou seja, nada de muito diferente do que se vê por aqui, e talvez até pior.
A PDVSA já chegou a ser a segunda maior empresa do mundo, em termos de reservas petrolífera, e em princípio as da Venezuela superam, ou chegam muito perto das da Arábia Saudita.
Os companheiros bolivarianos conseguiram afundar a companhia, tanto quanto os daqui com a Petrobras.
Impressionante como corruptos, ladrões, incompetentes conseguem estrangular uma fonte de riquezas naturais.
Como se poderia dizer, são reis Midas ao contrário: no que tocaram, transformaram em....
Abaixo, uma pequena nota sobre a situação da PDVSA. Cliquem para aumentar.
Paulo Roberto de Almeida


terça-feira, 24 de setembro de 2013

Brasil-Venezuela, Petrobras-PDVSA: final de um dos maiores crimeseconomicos contra o Brasil

Desde o início intuí que não daria certo, como não deu certo NENHUM empreendimento econômico da e com a Venezuela chavista, que representa um verdadeiro manual da antieconomia.
A responsabilidade maior desse verdadeiro crime econômico contra o Brasil e os brasileiros incumbe, em primeiro lugar, ao ex-presidente do NuncaAntes e, em SEGUNDO primeiro lugar, à então ministra das Minas e Energia, depois ministra da Casa Civil e depois o que se sabe. Partilham da responsabilidade no crime econômico o ex-presidente da Petrobras e todos aqueles que anuiram no empreendimento e sustentaram sua continuidade, o que inclui membros da sua atual direção igualmente.
Quando se fizer a história verdadeira desse crime econômico, se verá que ele também incluiu uma renúncia de soberania, uma inacreditável submissão do poder estatal detido infelizmente pelos companheiros aos desígnios dos bolivarianos tresloucados, e um desastre tecnológico talvez superior à catastrofe financeira para a Petrobras e o Brasil que ele representou.
Se houvesse jornalismo decente no Brasil e se os poderes públicos não estivessem conspurcados, como estão, pelo poder companheiro, há muito esse crime econômico teria sido denunciado e suas consequências mais nefastas teriam sido interrompidas.
A História NÃO absolverá os responsáveis por esse crime econômico e pela inacreditável renúnciade soberania que foi cobduzir essa loucura durante tanto tempo.
Paulo Roberto de Almeida

Petrobras desiste de sociedade com PDVSA
Por Murillo Camarotto | Do Recife
Valor Econômico, 24/09/2013

Há pouco mais de seis anos, no dia 5 de setembro de 2007, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva já recebia uma sinalização clara da PDVSA em relação ao projeto da refinaria de Abreu e Lima. Debaixo de chuva e pisando na lama, ele e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, lançaram as obras da refinaria, que está sendo erguida a 50 km ao sul do Recife, no Complexo Portuário de Suape. Diretores da estatal venezuelana, declarada sócia do empreendimento, foram convidados para a solenidade, mas se limitaram a agradecer pelo convite.

Já naquela ocasião, o então presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, foi obrigado a dizer que a unidade seria construída independentemente do aporte venezuelano. De lá para cá, governo federal e a Petrobras insistiram em manifestar a viabilidade da sociedade, apesar das evidências cada vez maiores de que o negócio, firmado com o presidente venezuelano Hugo Chávez, naufragara.

Há pouco mais de um mês e agora como ex-presidente da estatal, Gabrielli afirmou que a parceria não sairia do papel. Na época, a Petrobras não comentou as declarações. Agora o Valor apurou que o fim do sonho já tem até data marcada. A partir de 1º de novembro, Abreu e Lima deixará de existir como empresa e será incorporada como unidade de negócios da Petrobras. Novamente a estatal não quis comentar.

A ida do empreendimento para Pernambuco foi conhecida em fevereiro de 2005, após uma "dica" da então ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff, que deixou escapar a jornalistas o destino da refinaria. A unidade teria capacidade para processar 200 mil barris diários de petróleo oriundo da Bacia de Campos, no litoral fluminense, e da Bacia do Orinoco, na Venezuela. O investimento previsto era de US$ 2,5 bilhões, com inauguração esperada para 2010.

Seis meses após o lançamento da pedra fundamental, Chávez viajou a Pernambuco e visitou o canteiro, mas não assinou o acordo de acionistas de Abreu e Lima. Chávez e Lula firmaram só um acordo de associação, pelo qual a Petrobras teria 60% da refinaria e a PDVSA, 40%. Coincidência ou não, três meses antes do encontro em Pernambuco, a Petrobras decidira reduzir de 40% para 10% a sua fatia na exploração do campo de Carobobo, na Venezuela, negócio que também tinha a PDVSA como sócia. A brasileira alegou custos elevados.

No dia em que Lula e Campos deram início às obras, o valor do empreendimento já era maior: US$ 4,5 bilhões. Desde então, a refinaria enfrentou uma série de contratempo, como greves, aditivos contratuais, falta de garantias econômicas por parte da PDVSA e indicações de superfaturamento pelo Tribunal de Contas da União. Os números mais recentes informados pela Petrobras apontam para um custo superior a US$ 17 bilhões e quatro anos de atrasos. A estimativa mais atualizada é que a primeira fase de refino entre em operação em novembro de 2014.

A oficialização do divórcio com a PDVSA deverá representar ainda mais custos ao projeto, que já foi classificado pela atual presidente da Petrobras, Graça Foster, como exemplo a não ser seguido. Em abril, o diretor de Abastecimento da estatal, José Carlos Cosenza, disse que, confirmada a desistência do parceiro, a adaptação necessária custaria em torno de 5% do total do projeto. Pelos valores atuais, cerca de US$ 850 milhões.

Mais recentemente, em maio, a presidente da Petrobras se reuniu com o atual presidente da Venezuela, Nicolas Maduro, a quem disse que gostaria de ter a PDVSA como sócia. "Seria realmente bom que a PDVSA viesse. Mas estamos fazendo a refinaria, independentemente da PDVSA", disse Graça, após participar de uma audiência na Câmara dos Deputados.

Além da refinaria em Pernambuco e da exploração no campo de Carobobo, Lula e Chávez firmaram uma série de outros acordos entre as estatais petrolíferas, como uma fábrica de lubrificantes em Cuba, associação para transporte marítimo de petróleo e uma unidade produtora de fertilizantes, entre outras. Da sociedade imaginada para a refinaria, ficou apenas a homenagem ao general pernambucano José Inácio Abreu e Lima, famoso na Venezuela por ter lutado ao lado Simon Bolívar, herói no país de Chávez.

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quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Venezuela: uma contabilidade esquizofrenica das estatais

Meu leitor habitual Paulo Araujo me envia a seguinte mensagem:


Boa tarde, Paulo

Li ontem no blog o post a respeito da novela "Abreu Lima".  Como de costume, a imprensa não se dá ao trabalho de informar como está o parceiro da Petrobras.

Recentemente caiu nas mãos de um deputado da oposição um documento (Punto de Cuenta) que revela bastante o modus operandi chinês na Venezuela. 
O deputado da oposição Miguel Ángel Rodríguez perguntou na semana passada por que a PDVSA teve de pedir ao BANDES (Banco de Desarrollo) U$S 1,381 bilhão para cobrir «pagos de regalía e impuestos, costos de producción y refinación de los volúmenes de crudo y productos derivados despachados». Isto é, mesmo com o preço do barril a U$S 100, a PDVSA está com sérios problemas de fluxo de caixa. Chávez, como de costume, respondeu que Rodriguez é um esquálido. 

Assim, não se sabe ainda de onde a empresa vai tirar os US$ 1,1 bilhão que a Petrobrás quer receber, além do financiamento do BNDES. Parece que o nó está nesse pagamento que Chávez não quer fazer. O problema das fianças parece já ter resolvido com o BNDES, conforme noticiaram o ESP, em 6 de novembro,  e o Globo de hoje:



Juntando as partes e tentando entender o modus operandi dos negócios da China na Vezuela:

1. A terceira maior siderúrgica da China, Wuhan Iron & Steel Group (WISCO) revelou que fechou um contrato de longo prazo (7 anos) para compra de mineral de ferro da estatal Corporación Venezolana de Guayana (CVG) a um preço de 20 dólares por tonelada inferior ao fixado pela Vale (o preço Vale seria o marcador no contrato) para o terceiro trimestre de 2010.

"WISCO and Venezuela agree iron ore contract price for 2010"


2. Desde 2008 até o final de 2011 deveriam ter ingressado na Venezuela, em troca de petróleo, US$ 28,252 bilhões. O deputado fez essa conta com base em preços de mercado, embora o Punto de Cuenta revele que o preço fixado foi US$ 40, o que, aliás, o governo nega. Em declaração recente o Ministro do Planejamento Jorge Giordani deixou escapar que desses ingressos foram gastos, até hoje, US$ 6 bilhões. A pergunta do deputado Rodrigues: 
“Eso indica que hay un faltante de US$ 22.251.769.000 millones. ¿Dónde están? ¿Esta es la cifra que nos dio un servicio eléctrico de calidad, carreteras de primera, producción soberana de alimentos para no depender de las importaciones? ¿Es la cifra que nos dio un país seguro donde se respetan los DDHH? Si ese monto faltante no fue al desarrollo nacional, ¿dónde está?

Há um bom resumo da denúncia de Rodrigues. Procurar na página:

“Aló Ciudadano
(Resumen) Miguel Ángel Rodríguez
El diputado y  periodista Miguel Ángel Rodríguez, hizo en el programa una nueva denuncia relacionada con el fondo chino – venezolano.

E novembro os jornais repercutiram as denúncias de Rodrigues. Para saber o que são de fato essas denúncias, há estes dois bons artigos: 

"El Punto de Cuenta del presidente de Pdvsa"

"Pdvsa hipotecada"

O texto original do Puento de Cuenta do presidente da PDVSA e ministro de Chávez, Rafael Ramírez, pode ser lido na íntegra aqui:

PS: As estatizações ocorridas na Venezuela, em nome do  festejado “socialismo do século XXI”, prejudicaram a tal ponto as siderúrgicas e empresas de mineração que hoje o governo Chávez não vê outra saída a não ser submeter a soberania venezuelana aos interesses chineses.

"A China fornecerá financiamento de US$ 20 bilhões para ajudar no desenvolvimento da Venezuela, em condições que em nada têm a ver com as leoninas de organismos multilaterais de crédito como o Fundo Monetário Internacional", ressaltou o chefe de Governo venezuelano, sem detalhar as condições desse desembolso, que ia assinar em Caracas com o presidente Hu Jintao.

Abraços
Paulo Araujo

domingo, 17 de julho de 2011

O mundo de ponta cabeca: PDVSA acha que Petrobras caiu na corrupcao...

Onde vamos parar?
Uma companhia proba, honesta, correta, transparente como a PDVSA não pode conviver com doses mínimas que sejam de corrupção nessa aliança importante que ela tem com outra companhia honesta, transparente, isenta de qualquer suspeita.
Assim não é possível: trabalhar com desconfiança, isso não...
Paulo Roberto de Almeida

A PDVSA e a Petrobrás
Editorial - O Estado de S.Paulo
16 de julho de 2011

Causa espécie a informação de que a estatal Petróleos de Venezuela (PDVSA) propôs à Petrobrás a contratação de uma consultoria independente para auditar o custo da Refinaria Abreu e Lima, em construção no Porto de Suape (PE). Estaria a PDVSA desconfiando do custo real da obra ou teria indícios de irregularidades? Nessa hipótese, a opinião pública brasileira tem o direito de tomar conhecimento dos fatos que alimentam as suspeitas, cabendo à Petrobrás prestar esclarecimentos. Mas há uma outra hipótese. A PDVSA, que deveria ser responsável por 40% do valor dos investimentos totais na refinaria e que até agora não colocou um centavo na obra, poderia estar recorrendo a uma artimanha para se desvencilhar do compromisso, o que não seria uma atitude inusitada dados os embustes característicos do governo atrabiliário do coronel Hugo Chávez.

É verdade que o custo da Refinaria Abreu e Lima, estimado em 2008 em US$ 10 bilhões, não para de subir. De lá para cá, o orçamento da obra foi elevado sucessivamente para US$ 11,9 bilhões, US$ 12,6 bilhões e US$ 13,36 bilhões. E, recentemente, como informa reportagem do Estado de 12/7, a Petrobrás comunicou à estatal venezuelana que, pela última revisão, a obra poderá custar US$ 14,4 bilhões. Deve-se notar que a PDVSA não participa do planejamento orçamentário da obra, podendo advir desse fato a solicitação de uma consultoria independente.

O caso, porém, é mais complexo. Da parcela que caberia à estatal venezuelana, 40% deveriam ser financiados pelo BNDES, que por duas vezes recusou as garantias apresentadas pela empresa e agora examina uma terceira. Enquanto isso, a Petrobrás já desembolsou R$ 7 bilhões na construção da refinaria, estando 35% das obras concluídas. Se, até agosto, a PDVSA não cumprir seu compromisso, os técnicos da Petrobrás consideram inviável dar sequência ao projeto inicial, que previa o processamento de tipos diferentes de óleo originários dos campos de exploração do Brasil e da Venezuela. A refinaria processaria petróleo com alto teor de enxofre, sendo o valor dos equipamentos necessários para isso estimado em US$ 400 milhões, enquanto a PDVSA calcula que não custariam mais que US$ 200 milhões.

Questões técnicas à parte, analistas lançam dúvidas quanto ao interesse real do governo venezuelano pela Refinaria Abreu e Lima. Apesar da alta do petróleo, a economia da Venezuela ainda se ressente dos efeitos da crise internacional, que fez seu PIB ter uma retração de 3,3% em 2009 e de 2,5% em 2010. Para este ano, as estimativas são de um crescimento de 2,3%. A crise não afetou a ajuda a Cuba, que custa à Venezuela US$ 3,5 bilhões por ano em vendas de petróleo a preços subsidiados, e a conexão entre os dois países deve ampliar-se pelo menos enquanto Chávez detiver o poder. A Venezuela se comprometeu com pesados investimentos de infraestrutura em Cuba, os quais incluem a expansão de uma refinaria de petróleo em Cienfuegos. Grande parte do petróleo extraído pela PDVSA, por sinal, já é refinada na região do Caribe.

Além disso, o interesse maior da Venezuela está em desenvolver as riquíssimas jazidas de petróleo pesado da Bacia do Orinoco. Se as vantagens econômicas para a PDVSA da parceria com a Petrobrás na refinaria pernambucana são duvidosas, seriam nulos os dividendos políticos para Chávez, que não mantém hoje com o Brasil o mesmo tipo de relação que desfrutava durante o governo do ex-presidente Lula. Nas condições atuais, por exemplo, não seria levada a sério a ideia de Chávez de bancar a construção do mirabolante projeto do oleoduto do Mercosul, lançado há alguns anos, e que partiria de Puerto Ordaz, na Venezuela, e chegaria a Buenos Aires, passando pelo Brasil, numa extensão de 6.600 km.

Se a parceria da PDVSA na refinaria pernambucana não der certo, a Petrobrás tocará a obra sozinha. O Brasil precisa de novas refinarias para ser autossuficiente não só em petróleo bruto, mas também em derivados. Contudo, qualquer que seja a evolução dos acontecimentos, é obrigação da Petrobrás deixar tudo em pratos limpos.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Politica Externa de fantasia: o Estadao ataca outra vez...

O Estadão pode demorar um pouco, mas acho que não passa três semanas sem lançar um editorial criticando causticamente a política externa do governo do PT, essa mesma que é apresentada como "ativa e altiva", como defensora da soberania nacional, como aquela que tem a capacidade de dizer não, como aquela que tem um outro olhar sobre as coisas, enfim, tudo aquilo que já foi argumentado a favor da nossa diplomacia.
O Estadão não tem nenhum respeito por essas realizações...
Que jornal!
Aliás, se eu bem me lembro da história dessa refinaria, a Petrobras discutiu durante muito tempo onde fazer uma nova, no Nordeste. Ela tinha várias opções, segundo propostas dos estados: no Ceará, no Rio Grande do Norte, em Pernambuco e na Bahia, e se supõe que a empresa estivesse fazendo consideracoes de ordem estritamente técnica e comercial, ou seja, ver, do ponto de vista do abastecimento em matéria prima, das conexões em transportes, proximidade dos mercados consumidores, etc. Enfim, tudo isso estava sendo debatido pela Petrobras, que em principio estava levando o empreendimento sozinho, em bases puramente comerciais.
Ai chegou o Hugo Chávez, que tinha ouvido dizer que o voluntário brasileiro que tinha combatido no exército de Bolivar, Abreu e Lima, era de Pernambuco: ele então disse que queria fazer junto mas que tinha de ser em Pernambuco.
Lembro-me perfeitamente da ministra Dilma Roussef, não sei se ainda de Minas e Energia ou se já na Casa Civil, respondendo a um jornalista, quando questionada sobre onde seria construída a nova refinaria da Petrobras, respondeu, do alto da sua defesa da soberania nacional, algo assim: "Isso o Hugo Chávez já decidiu: vai ser em Pernambuco!"
Nunca vi tamanha defesa da soberania como essa.
Vivendo e aprendendo...
Paulo Roberto de Almeida

A PDVSA e a fantasia petista
Editorial- O Estado de S. Paulo, 14/10/2010

Nem sequer um centavo foi investido até agora pela estatal venezuelana PDVSA na construção da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. A obra é tocada só com recursos da Petrobrás, embora tenha sido planejada e anunciada como empreendimento conjunto. A pedra fundamental foi lançada em dezembro de 2005 pelos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Hugo Chávez. Esse projeto seria a primeira grande realização da Aliança Estratégica formalizada em fevereiro daquele ano, em Caracas, com a presença da ministra de Minas e Energia do Brasil, Dilma Rousseff. Passados cinco anos, o balanço de realizações conjuntas é irrisório. A PDVSA deveria custear 40% da refinaria. Sem cumprir sua parte, pode ser forçada a renunciar ao projeto. Outras tentativas de cooperação também fracassaram. Uma delas, já abandonada, foi o plano de atuação da Petrobrás na área petrolífera do Orinoco.

A Aliança Estratégica formalizada pelos presidentes Chávez e Lula foi uma tentativa de combinar duas bandeiras do atraso - o bolivarianismo do caudilho venezuelano e o terceiro-mundismo requentado da diplomacia petista. Nada útil poderia resultar desse acasalamento.

Atribuir a expansão do comércio bilateral a essa iniciativa é um disparate evidente. O intercâmbio do Brasil com toda a América do Sul cresceu nos últimos dez anos, como consequência da prosperidade regional e de um esforço de integração intensificado a partir dos anos 90. Empresas brasileiras já tinham interesses na Venezuela bem antes da aproximação Chávez-Lula.

A “aliança” formalizada em 2005 e reafirmada em 2009 apenas acrescentou ingredientes ideológicos à cooperação bilateral. Foi mais uma aposta errada do presidente Lula - uma entre várias escolhas estratégicas baseadas na fantasia e não no cálculo de interesses concretos.

A ampliação do comércio bilateral foi muito mais acidentada do que teria sido, certamente, se a Venezuela estivesse sob um governo democrático, sem delírios expansionistas e livre da retórica anticapitalista. Atrasos de pagamentos foram um problema frequente para exportadores brasileiros, assim como a discriminação cambial a favor de produtores de outros países.

O governo petista não só aceitou essas distorções, como ainda se esforçou para incluir no Mercosul a Venezuela do presidente Chávez. A inclusão ainda não se consumou porque não foi aprovada pelo Congresso paraguaio. Se for consumada, o bloco regional, já emperrado e com enormes dificuldades para negociar com grandes parceiros como União Europeia e Estados Unidos, ainda passará a depender dos humores e das ambições de um caudilho fanfarrão.

Esse caudilho, é bom não esquecer, não tem prazo para deixar o governo de seu país nem está sujeito a limitações de tipo democrático. A diplomacia petista notabilizou-se pela frequência de suas apostas erradas. Ao enterrar a Alca, deixou espaço para uma série de acordos bilaterais dos Estados Unidos com outros países latino-americanos. Além disso, jogou fora a chance de negociar condições preferenciais de acesso a vários mercados antes da grande invasão chinesa.

Produtores brasileiros têm perdido competitividade tanto nos Estados Unidos como na América Latina. Se o Mercosul quiser iniciar um novo entendimento com Washington, terá de negociar levando em conta regras de investimento e de propriedade intelectual já acertadas naqueles acordos.

A diplomacia petista errou também - por esquecer os interesses nacionais - ao eleger a maioria dos “parceiros estratégicos”. Estados Unidos e Europa continuam sendo muito mais importantes que o Brasil para russos e chineses. Nenhum desses parceiros se afastou de seus interesses para favorecer o comércio com o Brasil. Ao contrário: as conveniências brasileiras foram preteridas, quase sempre (como, por exemplo, na atribuição, pelo governo russo, de cotas para exportadores de carne). Os africanos nunca deixaram de se aliar aos europeus nas questões comerciais. Se a coerência no erro é uma virtude, então a diplomacia petista tem pelo menos essa qualidade. A aliança com Hugo Chávez comprova esse fato.

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Addendum: da coluna do jornalista Carlos Brickman:

Los hermanos no telhado
A parceria entre Brasil e Venezuela para construir a Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, está morrendo. Até o momento, passado um ano da assinatura do contrato, só a Petrobras pôs dinheiro no projeto. A venezuelana PDVSA, que deu até o nome à refinaria (Abreu e Lima foi um general brasileiro, nascido em Pernambuco, que lutou ao lado de Simon Bolívar nas guerras de independência da América espanhola), não investiu nada. O presidente venezuelano Hugo Chávez começou se responsabilizando por metade dos investimentos; depois, a metade passou a 40%, desde que o BNDES financiasse também a sua parte. Entretanto, até agora não apresentou ao BNDES nenhuma garantia do financiamento.