O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

Mostrando postagens com marcador Palestina. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Palestina. Mostrar todas as postagens

sábado, 24 de fevereiro de 2024

O governo Netanyahu é um GOVERNO GENOCIDA - Pronunciamento do secretário-geral de MSF, Christopher Lockyear, ao Conselho de Segurança da ONU

Pronunciamento do secretário-geral de MSF, Christopher Lockyear, ao Conselho de Segurança da ONU


NY, 22 de fevereiro de 2024

Senhora presidente, excelências, colegas,

No momento em que pronuncio estas palavras, mais de 1,5 milhão de pessoas estão encurraladas em Rafah. Pessoas que foram violentamente forçadas a irem para esta faixa de terra no sul de Gaza estão arcando com as consequências da campanha militar de Israel.

Vivemos sob o medo de uma invasão terrestre.

Nossos temores são baseados na nossa própria experiência. Há apenas 48 horas, quando uma família estava ao redor de uma mesa de cozinha em uma casa que abrigava funcionários de MSF e suas famílias em Khan Younis, um projétil de 120mm disparado por um tanque rompeu as paredes do local e explodiu, iniciando um incêndio, matando duas pessoas e deixando outras seis com queimaduras severas. Cinco dos seis feridos são mulheres e crianças.

Havíamos tomado todas as precauções possíveis para proteger os 64 trabalhadores humanitários e membros de suas famílias de um ataque desse tipo, notificando as partes em conflito sobre a localização e marcando claramente o edifício com uma bandeira de MSF. Apesar das nossas precauções, nosso prédio foi atingido não apenas por um disparo de tanque, mas por tiros intensos. Algumas pessoas ficaram presas no prédio em chamas enquanto os disparos contínuos atrasavam a chegada de ambulâncias ao local. Hoje pela manhã, olho para fotos que mostram a extensão catastrófica dos danos e vejo vídeos de equipes de resgate retirando corpos carbonizados dos escombros.

Isto tudo é extremamente familiar – forças israelenses atacaram nossos comboios, detiveram nossos funcionários e destruíram nossos veículos com tratores, e hospitais foram bombardeados e invadidos. Agora, pela segunda vez, um dos abrigos onde estavam nossos funcionários foi atingido. Ou este padrão de ataques é intencional ou é um indicativo de incompetência negligente.

Nossos colegas em Gaza têm medo de que, conforme eu pronuncio hoje essas palavras, eles sejam punidos amanhã.

Senhora Presidente, todos os dias nós testemunhamos o horror inimaginável.

Nós, assim como tantos outros, ficamos horrorizados pelo massacre praticado pelo Hamas em Israel em 7 de outubro, e ficamos horrorizados pela reação de Israel. Sentimos a angústia das famílias cujos entes queridos foram feitos reféns em 7 de outubro. Sentimos a angústia das famílias daqueles detidos arbitrariamente de Gaza e da Cisjordânia.

Como humanitários, ficamos perplexos com a violência contra civis.

Estas mortes, destruição e deslocamentos forçados são o resultado de escolhas políticas e militares que desrespeitam flagrantemente as vidas de civis.

Estas escolhas poderiam ter sido feitas, e ainda podem ser feitas, de maneira muito diferente.

Por 138 dias, testemunhamos o sofrimento inimaginável da população de Gaza.

Por 138 dias, temos feito tudo que é possível para efetuar uma resposta humanitária relevante.
Por 138 dias, temos assistido à destruição sistemática de um sistema de saúde que apoiamos há décadas. Temos assistido aos nossos colegas e pacientes serem mortos e mutilados.

Esta situação é o ponto culminante de uma guerra travada por Israel contra toda a população da Faixa de Gaza— uma guerra de punição coletiva, uma guerra sem regras, uma guerra a qualquer preço.

As leis e os princípios dos quais dependemos coletivamente para permitir a assistência humanitária estão agora corroídos ao ponto de perderem seu significado.

Senhora Presidente, a resposta humanitária em Gaza é uma ilusão —uma ilusão conveniente que perpetua a narrativa de que esta guerra está sendo travada em linha com leis internacionais.

Apelos por mais assistência humanitária ecoaram nesta sala.

Ainda assim, em Gaza temos cada vez menos a cada dia—menos espaço, menos medicamentos, menos comida, menos água, menos segurança.

Já não falamos mais de intensificar a ação humanitária; falamos de sobreviver mesmo sem o mínimo necessário.

Hoje, em Gaza, os esforços para prover assistência são irregulares, episódicos e totalmente inadequados.

Como podemos oferecer ajuda que salva vidas em um ambiente onde a diferença entre combatentes e civis não é levada em conta?

Como podemos manter qualquer tipo de resposta quando trabalhadores médicos são alvejados, atacados e demonizados por atender aos feridos?

Senhora Presidente, ataques a serviços de saúde são ataques à humanidade

Não restou nada que possa ser chamado de um sistema de saúde em Gaza. Os militares de Israel desmantelaram hospitais, um após o outro. O que restou é tão pouco diante de tamanha carnificina que é simplesmente absurdo.

A desculpa dada é a de que as instalações médicas foram usadas para fins militares, embora não tenhamos visto qualquer prova verificada de maneira independente de que isso tenha ocorrido.

Em circunstâncias excepcionais nas quais um hospital perde seu status de local protegido, qualquer ataque deve atender aos pricípios de proporcionalidade e cautela.

Ao invés da aderência à lei internacional, vemos a inutilização sistemática de hospitais. Isto tem deixado inviáveis as operações de todo o sistema médico.

Desde 7 de outubro, fomos forçados a evacuar nove instalações de saúde distintas.

Há uma semana, o hospital Nasser foi invadido. O pessoal médico foi forçado a sair apesar de ter recebido garantias reiteradas de que poderia ficar para continuar atendendo aos pacientes.

Estes ataques indiscriminados, assim como os tipos de armas e munições utilizadas em áreas densamente povoadas, mataram dezenas de milhares de pessoas e mutilaram outros milhares.

Nossos pacientes têm ferimentos catastróficos, amputações, membros esmagados e queimaduras graves. Eles precisam de atendimento especializado. Precisam de reabilitação longa e intensiva.

Médicos não podem tratar estes ferimentos em um campo de batalha ou nas cinzas de hospitais destruídos.

Não há leitos, medicamentos e suprimentos suficientes.

Cirurgiões não tiveram escolha a não ser realizar amputações sem anestesia em crianças.

Nossos cirurgiões estão ficando até sem gaze para impedir que seus pacientes sangrem. Eles usam uma vez, espremem o sangue, lavam, esterilizam e reutilizam para o próximo paciente.

A crise humanitária em Gaza deixou grávidas sem cuidados médicos por meses. Mulheres em trabalho de parto não podem aceder a salas de parto. Estão dando à luz em barracas de plástico ou edifícios públicos.

Equipes médicas agregaram um novo acrônimo ao seu vocabulário: WCNSF — sigla em inglês para criança ferida sem familiar sobrevivente.

As crianças que sobreviverem a esta guerra não vão carregar apenas os ferimentos visíveis das lesões traumáticas, mas também os invisíveis—aqueles causados pelos reiterados deslocamentos, medo constante e por testemunhar membros da família serem literalmente despedaçados diante de seus olhos. Essas feridas psicológicas têm levado crianças tão pequenas como de 5 anos nos dizer que preferiam estar mortas.

Os riscos para o pessoal médico são enormes. Todos os dias, temos feito a escolha de prosseguir com o nosso trabalho diante do perigo cada vez maior.

Estamos apavorados. Nossas equipes estão mais do que exaustas.

Senhora Presidente, isso tem de parar.

Nós, junto com o resto do mundo, temos acompanhado de perto o modo como este Conselho e seus membros têm abordado o conflito em Gaza.

Reunião após reunião, resolução após resolução, este órgão não conseguiu endereçar de maneira efetiva este conflito. Vimos membros deste Conselho deliberarem e agirem com atraso enquanto civis morrem.

Estamos perplexos com a disposição dos Estados Unidos de usar seus poderes como membro permanente do Conselho para obstruir os esforços para a adoção da mais evidente das resoluções: uma pedindo um cessar-fogo imediato e sustentado.

Por três vezes este Conselho teve a oportunidade de votar por um cessar-fogo que é tão desesperadamente necessário, e por três vezes os Estados Unidos usaram seu poder de veto, mais recentemente na última terça-feira.

Uma nova proposta de resolução feita pelos Estados Unidos pede de maneira ostensiva por um cessar-fogo. Apesar disso, ela é no mínimo falaciosa.

Este Conselho deveria rejeitar qualquer resolução que obstrua ainda mais os esforços humanitários no terreno e leve este Conselho a endossar de maneira tácita a violência contínua e as atrocidades em massa em Gaza.

A população de Gaza precisa de um cessar-fogo não quando seja “viável” mas agora. Eles precisam de um cessar-fogo sustentado, não “um período temporário de calma”. Qualquer coisa que fique aquém disso é negligência grosseira.

A proteção de civis em Gaza não pode estar condicionada a resoluções deste Conselho que instrumentalizem o humanitarismo para ocultar objetivos políticos.

A proteção de civis, de infraestrutura civil, de trabalhadores da saúde e de instalações de saúde recai, antes de mais nada, sobre as partes envolvidas no conflito.

Mas é também uma responsabilidade coletiva, uma responsabilidade que recai sobre este Conselho e seus membros individuais, como aderentes à Convenção de Genebra.

As consequências de deixar que o Direito Humanitário Internacional torne-se letra morta repercutirão muito além de Gaza. Isto será um fardo duradouro em nossa consciência coletiva. Não se trata apenas de inação política, tornou-se cumplicidade política.

Há dois dias, uma equipe de MSF e suas famílias foram atacados e pessoas morreram em um lugar onde havia sido dito a elas que estaria protegido.

Hoje, nosso pessoal está de volta ao trabalho, arriscando mais uma vez a vida pelos pacientes.

O que vocês estão dispostos a arriscar?

Nós exigimos as proteções prometidas sob o Direito Humanitário Internacional.

Exigimos um cessar-fogo de ambas as partes.

Exigimos que haja espaço para transformar a ilusão da assistência em assistência realmente significativa.

O que vocês farão para que isso seja possível?

Muito obrigado, Senhora Presidente.

sábado, 13 de janeiro de 2024

Carta do ex-chanceler Celso Lafer ao Chanceler Mauro Vieira (11/01/2024)

 https://www.academia.edu/113412415/Carta_do_ex_chanceler_Celso_Lafer_ao_Chanceler_Mauro_Vieira_11_01_2024_

Carta do ex-chanceler Celso Lafer ao Chanceler Mauro Vieira (11/01/2024)

2024, Carta de Celso Lafer ao chanceler Mauro Vieira
0 Views2 Pages
CELSO LAFER Professor Emérito Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo Exmo. Sr. Embaixador Mauro Vieira DD Ministro das Relações Externas Palácio do Itamaraty - Brasília Caro Mauro Tomo a liberdade, pelas razões abaixo expostas, de tecer considerações sobre a iniciativa da Africa do Sul de submeter à CI] uma imputação de genocídio a Israel - e do apoio brasileiro a tal iniciativa. (...)




quinta-feira, 16 de maio de 2019

A partilha da Palestina sob dominio britânico - livro no Kindle

La Partición del Mandato Británico en Palestina: La Historia y el Legado del Plan de Partición de las Naciones Unidas y la Creación del Estado de Israel (Spanish Edition) Kindle Edition

"Desde el final del estado judío de la antigüedad hasta el comienzo del mando británico, el área hoy designada con el nombre de Palestina no era un país, y no tenía fronteras, sólo límites administrativos." - Profesor Bernard Lewis, Revista Commentary, enero de 1975

El conflicto entre israelíes y palestinos técnicamente tiene 69 años y continúa hasta la fecha, pero sus raíces se extienden por más de 2,000 años de historia. Con tanto tiempo e historia tras de sí, el proceso de paz en Medio Oriente se ha saturado de conceptos especializados, políticamente delicados, como derecho de retorno, fronteras contiguas, fronteras seguras, zonas desmilitarizadas y requisitos de seguridad, con diversos protagonistas como el Cuarteto, la Autoridad Palestina, Fatah, Hamas, la Liga Árabe, e Israel. Con el tiempo, se ha vuelto extremadamente difícil, incluso para políticos expertos sofisticados e interesados, entender todo esto.

Casi un siglo antes de que se fundara el estado de Israel en 1948, Palestina estaba bajo el control del Imperio Turco Otomano, formado principalmente por árabes. En la década de 1850, los judíos comenzaron a establecerse en pequeñas poblaciones a lo largo de las tierras que una vez formaron Judea y Samaria, mismas que los judíos consideraban como su antigua patria bíblica. Sus esfuerzos por adquirir tierras u propiedades estaban motivados por la intención de algunos judíos de ayudar a restablecer aquella tierra como la patria judía. Esos judíos se conocieron como sionistas, llamados así por (el monte) Sión, que a menudo se considera como una referencia a todo Israel, aunque en realidad se refiere a una parte de Jerusalén. Los sionistas intentaron establecer un Fondo Nacional Judío que ayudaría a los judíos a comprar tierras en Palestina para formar asentamientos judíos.

En 1947, los británicos delegaron el tema de la partición del Mandato británico a las Naciones Unidas, y la Asamblea General de las Naciones Unidas creó un Comité Especial para Palestina (UNSCOP, por sus siglas en inglés). La UNSCOP ideó lo que hoy se conoce como el Plan de Partición de la ONU de 1947. El Plan de Partición creó dividió dos estados poco probables, pero su intención era crear un estado de Israel en el que la población judía formara una mayoría de 55%, en tanto que Palestina tenía más de 90% de habitantes árabes palestinos. Mientras tanto, la ciudad de Jerusalén sería administrada internacionalmente, debido a las delicadas cuestiones religiosas que involucraban tant a musulmanes, como cristianos y judíos. Además de alojar varios lugares sagrados para los cristianos, la mezquita Al-Aqsa de Jerusalén es el tercer sitio más sagrado del Islam, y se halla situada justo al lado del Muro Occidental, el lugar más sagrado para los judíos.

El plan propuesto fue aceptado por la Agencia Judía, que representaba a los líderes de la comunidad judía en Palestina. Sin embargo, fue rechazado por los líderes palestinos dentro del Mandato, así como la recién formada Liga Árabe, una confederación de estados árabes del Medio Oriente liderada por Egipto, Líbano, Irak, Arabia Saudita, Siria y Yemen. Aunque el estado dividido de Israel hubiera tenido mayoría judía, el 67% de la población en el resto del Mandato británico después de la partición de Jordania era palestina, por lo que se consideró que el plan era injusto y daba ventaja a los judíos. 

El 14 de mayo de 1948, el mandato británico expiró de manera oficial. Ese mismo día, el Consejo Nacional Judío emitió la Declaración de Establecimiento del Estado de Israel. Diez minutos más tarde, el presidente Truman reconoció oficialmente al Estado de Israel, y la Unión Soviética rápidamente también reconoció a Israel. Sin embargo, los palestinos y la Liga Árabe no reconocieron el nuevo país, y al día siguiente, los ejércitos de Egipto, Siria, Líbano e Irak invadieron el antiguo Mandato británico para sofocar a Israel, y Arabia Saudita ayudó a los ejércitos árabes.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

Jerusalem - Leandro Narloch (Crusoe)

O artigo é fraquinho, sem quaisquer argumentos diplomáticos ou de direito internacional, como deve ser o caso nesta questão. Em 2010, quem presidiu à decisão de reconhecer o Estado Palestino foi o presidente Lula, não o estupor da Madame Pasadena.
Sem pretender remontar a toda a questão histórica, desde os anos 1950, quando o Brasil já cogitava – tendo elevado a sua legação em Tel Aviv ao status de embaixada – de patrocinar um plano (apresentado em 1953) para a desmilitarização e neutralização (ela via da internacionalização) de Jerusalém, e de criar um Consulado brasileiro em Jerusalém (criado efetivamente em 1958 pelo presidente JK e pelo chanceler Macedo Soares), permito-me remeter a meu artigo mais sintético, escrito um ano atrás, já reproduzido aqui:

3249. “Um alerta sobre uma delicada questão diplomática: o caso de Israel”, Brasília, 23 fevereiro 2018, 3 p. Chamando a atenção para o apoio político dado por setores religiosos a Israel, como suscetíveis de influenciar a postura diplomática brasileira. Postado no blog Diplomatizzando (31/12/2018; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2018/12/embaixada-em-jerusalem-alerta-precoce.html).
Paulo Roberto de Almeida

Eis o artigo de Leandro Narloch:

Israel, capital Jerusalém

Leandro Narloch,
Revista Crusoé, n. 41, 12 fevereiro 2019

Por que a embaixada brasileira na Itália está no centro de Roma? Porque os italianos consideram Roma sua capital. Por que temos uma embaixada em Washington? Porque Washington é a capital dos Estados Unidos. Mas então por que a embaixada brasileira em Israel fica em Tel Aviv e não em Jerusalém Ocidental?
O Brasil foi um dos primeiros países a reconhecer a existência do estado de Israel, em 1949. E desde então esse país que nós reconhecemos considera Jerusalém sua capital.
O mesmo vale para o escritório da representação brasileira na Palestina, que existe desde 2004, em Ramala. Em 2010, Dilma reconheceu a existência do estado Palestino segundo as fronteiras de 1967 (ou seja, Cisjordânia e Faixa de Gaza formando o estado Palestino; Jerusalém dividida entre os dois países).
Depois que Bolsonaro anunciou que seguiria Trump e mudaria o endereço da embaixada, o governo tem fraquejado nessa decisão. Não deveria. Israel é um oásis de liberdade, democracia e direitos humanos no Oriente Médio – é importante que o Brasil sinalize apoio a sua autonomia. A atitude não precisa soar como provocação aos árabes. Se algum dia houver um estado Palestino, a embaixada também pode ser em Jerusalém, na parte oriental.
Argumentos muito ruins costumam aparecer nesse debate. “Trata-se de um território em disputa”, me diz um amigo contrário à mudança da embaixada. Sim, territórios da região têm sua posse contestada. É o caso dos assentamentos judeus na Cisjordânia, uma controvérsia que divide até mesmo os israelenses. Estive lá em novembro: a tensão é evidente. Jornalistas e turistas que se aventuram a passear pela região de Eli, no norte da Cisjordânia, costumam usar ônibus blindados para se proteger de pedras e tiros disparados por palestinos. Ao volante, o motorista listava locais de atentados recentes; na porta de uma fábrica, faixa e flores lembravam o atentado contra dois israelenses duas semanas antes.
Mas esse não é o caso de Jerusalém Ocidental. Só o mais radical defensor dos árabes deve achar que os palestinos têm direito ao território onde está a sede do governo israelense desde 1950. O Parlamento, a Suprema Corte e os ministérios ficam em Jerusalém desde quando a cidade ainda era dividida entre Israel e a Jordânia. Ninguém sensato defende controle palestino na área do Museu do Holocausto, por exemplo. Só pensa assim quem reivindica a “Palestina Original”, sem nenhum estado judaico. Mas, para esses, a embaixada até mesmo em Tel Aviv é motivo de ofensa.
“Se mudarmos a embaixada, os países do Oriente Médio vão retaliar e boicotar produtos brasileiros”, diz outro argumento duvidoso. Aqui é preciso levar em conta a tal “soberania nacional”. Tenho calafrios com essas duas palavras – elas já serviram para Ernesto Geisel justificar a proibição de computadores importados no Brasil. Mas esse caso é, sim, questão de soberania. Ora, quem decide onde instalaremos representações diplomáticas somos nós, não a Turquia ou a Arábia Saudita. O Oriente Médio responde por 4% das exportações brasileiras – isso já é o suficiente para baixarmos a cabeça?

terça-feira, 5 de dezembro de 2017

A partilha de 1947, entre Israel (nascido em 1948) e a Palestina (bloqueada pelos arabes) - Osias Wurman

Opinião

O sonho da Partilha

Estado judeu perdeu mais de 23 mil cidadãos

por Osias Wurman
A Palestinian Media Watch noticiou que a TV oficial da Autoridade Palestina transmitiu, em 1º de novembro, uma entrevista com o historiador Abd Al-Ghani Salameh, que abordou os cem anos da Declaração Balfour e explicou que, em 1917, não havia povo palestino.
Na entrevista, o jornalista perguntou: “Muitos quiseram dominar a Palestina ao longo da história. Como estas aspirações de governá-la afetam a existência palestina, as opções dos palestinos e as suas possibilidades de desenvolvimento?”
Salameh respondeu: “Antes da Declaração Balfour, quando o governo otomano terminou (1517-1917), as fronteiras políticas da Palestina, como as conhecemos hoje, não existiam, e não havia nada chamado de povo palestino, com uma identidade política, como conhecemos hoje. As linhas de divisão administrativa da Palestina se estendiam de leste a oeste e incluíam a Jordânia e o sul do Líbano. Como todos os povos da região, (os palestinos) foram libertados do domínio turco e imediatamente passaram para o domínio colonial (britânico e francês), sem formar uma identidade política”.
É este principio fundamental, da não existência de uma identidade palestina secular, no sentido de tempo, que impede uma aglutinação coesa e harmônica do dito povo palestino, sempre fracionado por disputas internas entre facções e personalidades inimigas.
O símbolo mais importante de uma identidade palestina foi Yasser Arafat, que se notabilizou por não perder uma oportunidade de perder a oportunidade, para declarar um Estado palestino independente.
Na semana passada, completaram-se 70 anos da Assembleia das Nações Unidas, de 1947, que decidiu por maioria de dois terços, pela Partilha da Palestina.
O eminente brasileiro Oswaldo Aranha presidiu a assembleia que previu a criação de dois estados, um árabe e o outro judeu, que deveriam viver lado a lado. Era o desejo de todas as nações que apoiaram a Resolução 181 de 29 de novembro.
Em seu livro “Brasil, segredo de Estado”, Sergio Corrêa da Costa relata, com riqueza de detalhes de quem participou da sessão da Partilha com Oswaldo Aranha, como os embaixadores árabes saíram do recinto antes do encerramento da assembleia.
Os diplomatas árabes tinham convocado uma entrevista no luxuoso salão do Hotel Waldorf Astoria, onde manifestaram seu total repúdio à resolução 181.
Os árabes não esconderam seus propósitos, ao declarar que “a resolução aprovada seria o fim das Nações Unidas e que as fronteiras de Israel seriam traçadas a sangue”. Erraram na primeira afirmação, mas tornaram uma triste realidade o segundo libelo.
Em quase 70 anos de independência, o Estado judeu perdeu mais de 23 mil cidadãos, vitimas de guerras e atentados terroristas, o que não impediu seu povo de ganhar 12 prêmios Nobel.
E o sonho de Oswaldo Aranha, a criação de dois estados na região, continua dependente de um líder palestino que reconheça o aspecto judaico de Israel e manifeste sinceramente a vontade de conviver em paz com o seu vizinho Estado judeu.

Osias Wurman é cônsul honorário de Israel

quinta-feira, 2 de novembro de 2017

Declaracao Balfour sobre um lar judeu na Palestina: cem anos atras - Ishaan Tharoor (WP)

The Balfour Declaration still divides the Middle East 100 years later

Ishaan Tharoor

The Washington Post, November 2, 2017


In a year brimming with profoundly symbolic centennials, Thursday marks perhaps the most politically fraught one. Israeli Prime Minister Benjamin Netanyahu will appear in London alongside his British counterpart, Theresa May, to commemorate the 100th anniversary of the Balfour Declaration, a 67-word missive from Britain’s then-foreign secretary expressing his government's support for a Jewish homeland in Palestine.

The Nov. 2, 1917, public letter was written by Lord Arthur Balfour to Baron Walter Rothschild, the head of the British wing of the influential European Jewish banking family. Balfour articulated the British desire for the establishment of “a national home for the Jewish people” and promised that his government would “facilitate the achievement of this object.” It would take three further decades — and a great deal more politicking and bloodshed — before Israel declared independence in 1948.
But the Balfour Declaration is held up as a seminal event, the first formal utterance of the modern Israeli state’s right to exist (though some historians quibble that a “national home” is not the same thing as a state). For that reason, it is also bitterly regarded by many Palestinians as the first instrument of their dispossession. In 1917, Jews made up less than 10 percent of Palestine’s population — a century later, they are now the majority, while millions of Palestinians live in exile or in refugee camps. Protests are planned in the Palestinian territoriesto mark the centennial.
A photo taken in 1925 and obtained from the Israeli Government Press Office on Oct. 24, shows a copy of the Balfour Declaration. (Agence France-Presse/Getty Images)
A photo taken in 1925 and obtained from the Israeli Government Press Office on Oct. 24, shows a copy of the Balfour Declaration. (Agence France-Presse/Getty Images)
For many Israelis, the centennial is something to celebrate — especially on British soil. It was partially thanks to the efforts of a coterie of Britain-based Zionists, particularly Russian-born chemist Chaim Weizmann, that Balfour and his government were persuaded to eventually seek a colonial mandate for Palestine as Western powers carved up the crumbling Ottoman Empire. “I am proud of Britain’s part in creating Israel,” wrote British Foreign Secretary Boris Johnson in a column for the Sunday Telegraph.
But the occasion is a bit more awkward for the British prime minister, who is expected to spar with Netanyahu over the Israeli leader’s hawkish line on the Iran nuclear deal. Meanwhile, May’s chief opponent, Labour leader Jeremy Corbyn, is known for his pro-Palestinian sympathies and has opted against attending the Thursday dinner commemorating the Balfour Declaration. His hesitance is not unique: A recent survey found that only 17 percent of Britons hold favorable views of Israel.
Across Europe, there’s a great deal of support for the recognition of an independent Palestinian state amid anger at the policies of Netanyahu’s right-wing government, which is expanding Israeli settlements in the West Bank while maintaining a stifling military occupation over the Palestinian territories. Critics point to a line in Balfour’s letter that “nothing shall be done which may prejudice the civil and religious rights of existing non-Jewish communities in Palestine” — a stipulation that doesn’t seem to have been followed amid the conflicts and upheavals that came after.
“The Balfour declaration is not something to be celebrated — certainly not while one of the peoples affected continues to suffer such injustice,” wrote Palestinian Authority president Mahmoud Abbas in a column published this week in the Guardian. “The creation of a homeland for one people resulted in the dispossession and continuing persecution of another — now a deep imbalance between occupier and occupied. The balance must be redressed, and Britain bears a great deal of responsibility in leading the way. Celebrations must wait for the day when everyone in this land has freedom, dignity and equality.”
Palestinian protesters burn a banner of Balfour, British and Israeli flags during a protest in the city of Bethlehem on Nov. 1. (Abed Al Hashlamoun/European Pressphoto Agency-EFE)
Palestinian protesters burn a banner of Balfour, British and Israeli flags during a protest in the city of Bethlehem on Nov. 1. (Abed Al Hashlamoun/European Pressphoto Agency-EFE)
Israeli officials liken the Palestinian refusal to accept the declaration as evidence of their broader rejection of Israel. “The vehement Palestinian Arab opposition to the Balfour Declaration was and has remained rooted in the anti-historical view that Jews were aliens, with no connection to the land and no right of any kind to live there as a people,” wrote top Israeli diplomat Yuval Rotem. “This spawned an Arab exclusivism and sense of supremacy, which continues to drive the Arab-Israel conflict to this day.”
Of course, the motives driving Balfour, an influential Conservative statesman who briefly served as prime minister, had as much to do with geopolitics as any abiding sympathy for the Zionist plight. On an earlier visit to the region, he described Palestine as a “dolorous country on the whole” and Jerusalem as a “miserable ghetto, derelict and without dignity.”
Just days before issuing the declaration, Balfour said at a cabinet meeting that appealing to Jewish nationalism would serve as “extremely useful propaganda both in Russia and in America” — two countries with significant Jewish populations and whose contributions were necessary to winning World War I. After the declaration was announced, British leaflets were dropped over Jewish communities in German and Austrian territory pointing to the good deeds done for the “people of Israel.”
The Balfour Declaration was just one piece in a series of British diplomatic efforts that helped shape the map of the modern Middle East. In 1916, Britain had already agreed in secret with France and Russia to a division of the Ottoman possessions that saw Palestine designated under joint “international control.” A year later, with the Bolshevik Revolution upending some of these plans, Britain sought to consolidate a buffer between a French-dominated Levant and their colonial concerns in Egypt — and so a mandate for Palestine looked more and more appealing. Zionists, buoyed by the British support, lobbied for Palestine to be placed under British rule, which it eventually was.
As for Lord Roderick Balfour, the great-great-nephew of the declaration’s architect, he sees flaws still unaddressed in his ancestor’s famous act.
“I have major reservations,” he recently told reporters. “There is this sentence in the declaration, ‘Nothing shall be done which may prejudice the civil and religious rights of existing non-Jewish communities in Palestine.’ That’s pretty clear. Well, that’s not being adhered to. That has somehow got to be rectified.”