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domingo, 12 de novembro de 2023

O custo do Estado brasileiro - Percival Puggina

 FACA SEM CABO E SEM LÂMINA 

Percival Puggina - 06/11/2023 

 

Conta-se que uma fábrica de facas reuniu seus executivos para estudar uma forma de se tornar mais competitiva. Era imperioso diminuir o custo de suas facas. No meio da reunião, um dos participantes, cogitando da hipótese de que o custo do cabo afetasse demasiadamente o custo da faca, perguntou: 

 

- Quanto custaria nossa faca, se fosse fabricada sem o cabo? 

 

Alguém da contabilidade fez as contas e concluiu que essa faca sem cabo custaria 80% da faca inteira. Um outro foi além: 

 

- E quanto custaria cada faca se a fizéssemos sem lâmina? 

 

Por curiosa que fosse a ideia de uma faca sem lâmina, a contabilidade fez os custos e informou que ela sairia por 60% de uma faca completa. Por fim, a pergunta aparentemente mais delirante: 

 

- E se fizéssemos a faca sem lâmina e sem cabo, qual seria seu custo? 

 

O chefe da contabilidade, calculadora em punho, informou, irritado, que aquela hipótese de faca, “essa coisa sem cabo e sem lâmina, custaria 40% da faca inteira”. 

 

O diálogo serviu para mostrar a todos que os custos fixos, incluídos impostos e salários, inclusive o deles, chegava a 40% do preço da faca. Mesmo sem fazer nenhuma faca, ainda assim a fábrica tinha um gasto elevado. Se quisessem baixar o preço da faca teriam que reduzir as despesas da administração. 

 

Isto é um aviso para todos nós e para o Brasil. Num processo de crescimento lento, ou recessivo, podem acontecer duas coisas e nenhuma é boa. Na primeira alternativa, os preços sobem porque os custos fixos têm que ser repartidos entre uma quantidade menor de produtos vendidos. 

 

Nós já tivemos isso: recessão e inflação. O que é uma loucura. 

 

Na segunda hipótese, o governo ou os cidadãos passam a importar de onde os produtos, sem inflação e sem recessão, custam menos. E aí a indústria nacional quebra. O Estado brasileiro é uma fábrica de facas sem cabo e sem lâmina. Custa caríssimo para existir e sua entrega é desproporcional à sua despesa. O pouco que entrega é caro demais. 

 

Por isso, as pessoas de bom senso insistem na necessidade de reforma administrativa para reduzir o tamanho do Estado e na redução do gasto público como forma de diminuir a carga tributária – sem dúvida o maior estímulo ao consumo e à produção. 

 

O baixo crescimento econômico é sinônimo de desemprego ou subemprego; sinônimo, também, de maior índice de pobreza, ou seja, de aumento do gasto público, situação em que uma faca, sem cabo e sem lâmina, na mão do Estado, corta nosso pescoço.

sexta-feira, 27 de agosto de 2021

Percival Puggina é desonesto: acha que a culpa do fracasso do governo Bolsonaro é dos outros; Ricardo Bergamini contesta corretamente; eu também

Percival Puggina é um conservador. Isso todo mundo sabe, e ninguém lhe contesta esse direito. Mas, mesmo sendo conservador, ou até reacionário e bolsonarista fundamentalista, poderia ao menos se ater à verdade dos fatos.

O fracasso retumbante do governo Bolsonaro não cabe apenas, ou essencialmente, aos outros, a todos os outros, menos a ele próprio. As oposições fazem o seu dever, em qualquer governo: ser oposição. Dizer que elas se opõem, ou que se opuseram ao governo Bolsonaro, é chover no molhado.

Agora, dizer que o Centrão é oposição ao governo Bolsonaro é de uma falta de caráter tremenda, pois este Centrão, como qualquer Centrão, em qualquer governo, está sempre com o governo, com qualquer governo, mas basicamente consigo mesmo, o que também é evidente.

Falar em ministério "técnico" é apenas uma meia verdade, e mesmo os "técnicos" deveriam ter vergonha de servir a um governo negacionista, a um chefe de governo psicopata perverso, como revelado nos números de vítimas da pandemia, aspecto que Percival Puggina NUNCA comenta. Ou ele aprova soluções anti-ciência, como o degenerado pratica? Se sim, é mais falta de caráter.

Dizer, por fim, que o presidente propõe, encomenda, mas que não entrega, porque não lhe deixam, é também falta de caráter tremenda. Basta ver tudo o que propôs e andou para a frente: o presidente propôs armamentismo e foi cumprido. Quis flexibilizar regras de trânsito e se fez. Propôs destruir a natureza, ignorar o destino dos indígenas e foi cumprido. Quis desmantelar a política externa e conseguiu. Propôs o fim da luta contra a corrupção – que atinge GRAVEMENTE a si e sua inteira família, todas elas – e foi mais do que cumprido, abundantemente cumprido por um Congresso que esperava isso mesmo dele, inclusive os petistas. Propôs, implicitamente, imunidade de rebanho e foi cumprido, com quase 600 mil mortos até aqui. Propôs acabar com a cultura e teve resultados tremendos, na educação e nas verbas para C&T também, tremendamente. Tudo isso ele fez, quase sem oposição, e até com o apoio das oposições, nas matérias mais escabrosas para a moralidade e a ética públicas.

Percival Puggina tem váriasescolhas: ou escolhe ser CEGO, ou ser INGÊNUO, ser MENTIROSO, ou ter FALTA DE CARÁTER, ou então todas as opções.

O que não cabe, a esta altura do desgoverno Bolsonaro é ficar defendendo o degenerado e seu fracasso, como ainda fazem certos representantes do NOVO.

Eu nunca tive problemas em dizer o que penso. Sempre faço isso.

Paulo Roberto de Almeida


ENCOMENDOU, PAGOU E NÃO RECEBEU.

 

Percival Puggina

26/08/21

 

Nos primeiros dois anos de governo, o presidente da República compôs um ministério técnico. Alimentou a ilusão de que sua impactante vitória eleitoral acabaria reconhecida como fato político suficiente para certificar ante os demais poderes da República as legítimas expectativas da sociedade.

 

A opinião expressa nas urnas costuma ser levada a sério nas democracias.

 

Mas na prática, a teoria é outra. Combatidos pela mídia militante, os projetos do governo batiam nas traves do Congresso, ou eram obstados pela ampla bancada oposicionista no STF, onde o governo não tinha e não tem a menor chance. As realizações do governo só eram informadas nas redes sociais.

 

A pandemia entrou na cena sanitária e política nacional no início de 2020 e as posições do governante (tido por autoritário, mas sempre em favor da liberdade), lhe complicaram ainda mais a vida. O Brasil tornou-se o único país do mundo onde as pessoas não eram vitimadas pela Covid-19, mas pelo presidente. As manifestações populares minguaram pelo receio da contaminação.

 

Quando interpelado sobre suas sucessivas derrotas no Congresso, atribuídas à “falta de capacidade de negociação”, o presidente respondia que seu papel era o de propor, cabendo ao Legislativo decidir. No Congresso havia três grupos – a oposição, o centrão e a minguada base de apoio ao governo. O centrão sabia que, cedo ou tarde, o poder cairia nas suas malhas e a vida voltaria à normalidade. O dinheiro público voltaria a circular e, com ele, a "prosperidade econômica" da política.

 

Bolsonaro, então, tratou de se entender com o centrão. Foi o sinal para que os críticos da “incapacidade de negociação” passassem a atacar o governo por... negociar com quem estava disponível, ou seja, com o centrão.

 

Estabelecido o entendimento, o governo, como é normal nas democracias, apoiou a eleição de Arthur Lira e Rodrigo Pacheco, redistribuiu cargos e mexeu no ministério para nomear ministros do bloco. Porém (ah, porém!) como cantaria Paulinho da Viola, estavam canceladas as práticas irregulares de que se abastecia a corrupção imprescindível ao funcionamento dos acordos políticos.

 

Cargos, sem grana, são apenas trabalho e responsabilidade! E quem quer apenas trabalho e responsabilidade?

 

Cargo sem grana não é o objetivo sonhado pelos acordos que organizam maiorias parlamentares em nosso presidencialismo de cooptação rentista.

 

Assim, o presidente encomendou, cumpriu sua parte, e não recebeu o que encomendou. Na vida real, ele só tem, por si, a parcela do povo que quer preservar sua liberdade, seus princípios e seus valores num país próspero. Tais anseios serão expressos nas gigantescas manifestações democráticas do dia 7 de setembro, contra as ações – estas sim, antidemocráticas – do Congresso Nacional e do STF.

 

Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.


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Bolsonaro culpa o fracasso do seu governo aos seguintes inimigos: forças armadas, imprensa, legislativo, judiciário, esquerda, governadores, prefeitos, COVID-19, mercado, cartéis, e ao resto do mundo (Ricardo Bergamini).

 

Querido amigo Puggina

 

Em sua opinião, o Brasil não merece a pureza e a santidade do mestre, ídolo, líder e mito Bolsonaro, mas poderia, pelo menos, ter vendido 141 lixeiras de estatais federais, que não se enquadram nos argumentos de defesa do seu  artigo. Como se explica?

 

Quando pediu demissão da equipe econômica do governo Jair Bolsonaro (sem partido), em 11 de agosto de 2020, Salim Mattar deixou claro que estava insatisfeito com o ritmo das privatizações. Agora, o ex-secretário especial de Desestatização e Privatização diz que o presidente abandonou a agenda liberal de olho na reeleição e que o ministro da Economia e seu ex-chefe, Paulo Guedes, está sendo "tolhido" por militares e outros ministros.

 

Se ele [Jair Bolsonaro] quisesse, podia privatizar 141 estatais que não precisam [de aprovação] do Congresso. Depende só dele, [mas] falta vontade. Salim Mattar, ex-secretário de Desestatização.


sábado, 24 de novembro de 2018

A burguesia, enquanto classe, em julgamento - Percival Puggina

Suponho que deva ter sido um desses marxistas desempregados, contratado como professor das novas disciplinas obrigatórias do ciclo médio, sociologia e filosofia, que induziu jovens adolescentes da classe média (portanto da pequena, da média e da alta burguesia) do Colégio Rosário de Porto Alegre (religioso, pois não?), a julgar a burguesia enquanto classe, mas o veredito já estava obtido previamente: ela era inevitavelmente culpada de todos os crimes de que era acusada, e portanto merecia ser condenada nos tribunais da história.
Os bolcheviques bem que tentaram eliminar a burguesia enquanto classe. Chegaram perto disso, não a total eliminação física, pois muitos se disfarçaram de "proletários", ou de "fieis servidores do partido". Mas, eliminaram a burguesia enquanto categoria política, e a "nova burguesia", mas totalmente improdutiva, foi constituída precisamente pelos apparatchiks do partido, uma "nova classe", como a classificou Milovan Djilas.
Acho que o professor que organizou esse "julgamento" com veredito pré-arranjado deveria ler um pouco de história econômica, os livros de Deirdre McCloskey, por exemplo: Bourgeois Virtues, Bourgeois Dignity e Bourgeois Equality.



De nada.
Paulo Roberto de Almeida

A BURGUESIA EM JULGAMENTO



 A burguesia, essa imprecisa classe social, foi levada a júri simulado no Colégio Rosário, em Porto Alegre. A exótica atividade pedagógica ocorreu no mês de outubro. Divulgada com destaque no site do educandário, causou alvoroço entre muitos pais.
Com efeito, era uma notícia incomum. Tratava de um julgamento concluído, mas noticiava apenas o conjunto das acusações formuladas por sete turmas da segunda série do ensino médio. O que foi dito pela ré, por seus advogados, bem como os eventuais argumentos que a poderiam livrar do patíbulo não mereceu uma linha sequer no conteúdo veiculado pela escola. 
Penso que juris simulados podem ser excelente instrumento pedagógico para estimular a participação de adolescentes e promover debates frutuosos. No entanto, é preciso prudência na escolha do réu, que deve ser impessoal, por exemplo - o sistema de governo, um vício, um projeto de lei. Eventos dessa natureza, com adolescentes, preenchem aquele requisito do pluralismo que deve caracterizar a apresentação de temas controversos.
O que não tem o menor cabimento é submeter a júri simulado uma classe social inteira. Isso nos remete aos períodos mais terríveis das revoluções comunistas do século XX! Estas, ao deixarem de lado o juízo sobre a responsabilidade individual dos réus, julgando-os segundo os grupos sociais a que pertenciam, regrediram na história. Impulsionadas pela luta de classes, escalaram a burguesia para a condição de ré mais comum, sempre considerada hostil. Levá-la à completa extinção foi tarefa que deu muito trabalho aos bolcheviques da Tcheka, o terrível “Comitê extraordinário pan-russo de combate à contrarrevolução e sabotagem”.
Uma breve resenha das acusações que as várias turmas do Colégio Rosário fizeram à burguesia nacional inclui este cardápio de atrocidades: exploração de mão-de-obra e recursos naturais, obsessão pelo lucro em detrimento da dignidade humana, estímulo à competividade e à ganância, degradação da saúde mental das sociedades, individualismo e consumismo, apropriação privada dos meios de produção, criação de um ciclo vicioso de desigualdade, falta de compaixão, desumanização da população e desrespeito aos direitos; venda da força de trabalho pessoal, ruptura do princípio da autodeterminação. Vilã miserável essa tal burguesia, não é mesmo?
Quem lança tais acusações, em absoluta consonância com Karl Marx e seu Manifesto, deve presumir que o comunismo seja um depositário das mais nobres virtudes e não um grotesco genocida. Aliás, genocida com 100 milhões de vítimas, e fracassado que não consegue apresentar, em mais de quatro dezenas de experiências históricas, uma única democracia, uma economia que fique de pé após o consumo dos bens usurpados, e um estadista que possa ser nominado sem constrangimento.

* Percival Puggina (73), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.

sábado, 28 de abril de 2018

Os quatro novos cavaleiros do apocalipse moral no Brasil - Percival Puggina

GILMAR, TOFFOLI, MARCO AURÉLIO, LEWANDOWSKI, CAVALEIROS DO APOCALIPSE

 Na visão do apóstolo João, os cavaleiros do apocalipse eram a guerra, a fome, a peste e a morte. Então, neste Brasil de 2018, a cena política nacional está sendo roubada por quatro cavaleiros de pretensões apocalípticas, com assento no plenário do STF. Sim, sim, vamos parar com a enrolation. A essas alturas não há mais o que ocultar nem a tergiversar. Os personagens são conhecidos, suas ações evidentes. Ninguém precisa pedir perícia técnica. As impressões digitais estão por toda parte, mas são mero bis in idem na materialidade das provas. Os quatro cavaleiros do apocalipse nacional deixaram de lado todo pudor e assumiram seu papel na curadoria dos mais conhecidos criminosos do país.
Pela jurisprudência que constroem, malfeitor bem sucedido não pode ser preso. Isso não está de acordo com a tradição nacional. Que diabos pretendem esses novos magistrados, procuradores, policiais atrapalhando negócios que iam tão bem? Os quatro cavaleiros estão dedicados à mais difícil das tarefas: apresentar como bom e judicioso todo o mal que fazem. A nação quer Justiça, mas Justiça, para eles, é uma práxis, se me faço entender. Não é um valor moral (que seria isso?) e, menos ainda, um elemento do bem comum. Para os quatro apocalípticos, a justiça serve a uma causa. A conhecida causa de “Mateus e os seus”.
Eles continuam agindo, articulando tretas e mutretas. Já transformaram a Segunda Turma no refúgio da criminalidade endinheirada. Ao fim de cada jornada, de cada sessão em que são salvaguardados os interesses sob tutela, talvez comemorem felizes. Talvez pensem que retomam o controle e que desarticulam todas as possibilidades de restaurar a dignidade e a honra nacionais.
A presunção dos maus, contudo, é salvaguarda dos bons. Não há a menor possibilidade de seu plano diabólico dar certo. No derradeiro momento, quando o apocalipse se tornar eminente e a guerra, a fome, a peste e a morte estiverem abrindo garrafas para celebrar sua vitória, o Brasil que não se deixou corromper nem mutilar, que preserva a honra e a dignidade, se erguerá, no tempo certo, para fazer a coisa certa. Os quatro cavaleiros do apocalipse não prevalecerão.

* Percival Puggina (73), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil, integrante do grupo Pensar+.

sábado, 18 de novembro de 2017

O gigantismo estatal no Brasil e o masoquismo brasileiro - Percival Puggina

O Brasil padece sob o peso do Estado, que consome recursos sem fim dos cidadãos contribuintes compulsórios e das empresas assacadas, apenas em benefício dos políticos e dos próprios funcionários. Mas o brasileiro é contra as privatizações: ele ama o Estado, quer mais Estado, clama por políticas públicas e exige serviços estatais de qualidade. Ainda não chegamos na idade da razão, os brasileiros ainda não se deram conta de que são masoquistas econômicos, e de que são eleitores sádicos, que querem infligir o maior mal aos demais, sem se dar conta de que faz mal a si mesmo.
O link referido neste artigo é este aqui:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_empresas_estatais_do_Brasil#Estatais_do_governo_federal
Paulo Roberto de Almeida

UM SOCIALISTA NO ARMÁRIO

por Percival Puggina. Artigo publicado em

 Pretendia contar o número de empresas, institutos e fundações estatais existentes no Brasil, considerando União, Estados e municípios. Comecei com determinação, mas desisti. Levei um susto! Quem quiser sentir a pujança do estatismo nacional vá à página da Wikipedia que tem a lista. Estamos falando de muitas centenas, senão de milhares desses entes. O Brasil é um país socialista, que muitos, sacudindo bandeiras vermelhas, se esforçam para tirar do armário. Armário cheio de esqueletos.
 A União tem 148 empresas estatais! Trinta por cento, segundo editorial de O Globo do dia 19 de agosto de 2016, criadas durante os governos petistas. Anos de gritaria contra privatizações e discursos de que "Estão vendendo tudo!" me levaram, ingenuamente, a crer que de fato estivessem. Mas era berreiro na sala, para distrair, enquanto a cozinha produzia novas iguarias para o cardápio político. A mesma matéria de O Globo conta que entre o fatídico ano de 2003 e 2015, esses filhotes do amor petista pelo Estado pagaram R$ 5,5 bi em salários e totalizaram um prejuízo de R$ 8 bi. A mais engenhosa das novas estatais foi concebida no PAC 2. É a Empresa de Planejamento e Logística (EPL), que absorveria a tecnologia do trem-bala e executaria o projeto da ligação de alta velocidade entre Rio e São Paulo. A empresa, descarrilada desde sua criação em 2008, é totalmente dependente do Tesouro.
 O formidável e assustador conjunto das "nossas" estatais é parte ponderável dos problemas do Brasil. No entanto, o Instituto Paraná Pesquisas revelou, há três meses, que 61% dos brasileiros são contra privatizações feitas pelo setor privado. Pelo jeito, preferem as "privatizações" caseiras, as notórias apropriações, por partidos, sindicatos e líderes políticos, de tudo que for estatal. Se é para ser abusado que seja pelos de sempre. Trata-se de um vício do nosso presidencialismo. Quem governa comanda a administração e chefia o Estado, estendendo as mãos sobre o que puder alcançar em suas instituições.
É nos estofados desses grandes gabinetes, que a "privatização" do Estado proporciona os melhores orgasmos do poder. Em outras palavras: a experiência política e administrativa nos evidencia que empresas estatais realmente devotadas ao interesse público são fenômeno incomum. Como regra, resultam submetidas às conveniências privadas que descrevi acima. São nichos de usufruto e poder que pouco têm a ver com o bem nacional. Dentro desses domínios nascem as maiores reações a qualquer transferência que conduza ao desabrigo do Tesouro e às aflições do livre mercado. A ninguém entusiasma a ideia de remover o acento da poltrona e alinhá-lo à reta da competitividade.
A doutrinação socialista cumpre seu papel, ensinando que estatal é sinônimo de público, de social, e imune a interesses privados. Empresas estatais seriam como santuários de desprendimento e abnegação. Sim, claro. O Mensalão não existiu e a Lava Jato, você sabe, foi criada para impedir a alma mais honesta do Brasil de retornar à presidência.
E quando um partido sai, vem o outro para fazer a mesma coisa? - perguntará um leitor estrangeiro. Nem sempre, prezado visitante. Se o serviço for bem feito, a privatização partidária de um ente estatal pode ser anterior e se perpetuar além do governo desse partido. Quem duvida olhe para o Ministério de Educação e para as universidades públicas. Ali se educa a nação para amaldiçoar a iniciativa privada, amar o Estado, abrir o armário, e fornecer, nos ambicionados concursos públicos, respostas de acordo com o que pensa a banca.
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* Percival Puggina (72), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.

quinta-feira, 18 de maio de 2017

Bergamini e Puggina sobre a reforma da Previdencia

Querido amigão PUGGINA

Partindo da premissa que temos que respeitar as informações oficiais do governo. Única e exclusiva forma de dar credibilidade ao que escrevemos, além de ser documento comprobatório na dúvida, com isso sou compelido, por dever de ofício, a sugerir as correções devidas no parágrafo do seu artigo abaixo destacado: 

- onde se lê setor público, leia-se setor público federal (União), mas se o desejo real for setor público (união, estados e municípios) o quantitativo seria de 3,6 milhões de inativos (aposentados e pensionistas).

- onde se lê 34 milhões de aposentados, leia-se 30,5 milhões de inativos (aposentados e inativos).

“A conta não fecha. A Previdência Social precisa ou de novos impostos, ou de novos empréstimos, ou de uma verdadeira multidão de novos contribuintes, ou de novas regras. Novos impostos ninguém quer pagar, novos empréstimos serão impossíveis e novos contribuintes, nas proporções necessárias, estão longe de qualquer cogitação razoável. Um milhão de aposentados no setor público, consomem tantos recursos do sistema quanto 34 milhões de aposentados do setor privado”. 

- Em 2016 o Regime Geral de Previdência Social (INSS) destinado aos trabalhadores de segunda classe (empresas privadas) com 100,6 milhões de participantes (70,1 milhões de contribuintes e 30,5 milhões de beneficiários) gerou um déficit previdenciário da ordem de R$ 149,7 bilhões (déficit per capita por participante de R$ 1.488,07).

- Em 2016 o Regime Próprio da Previdência Social destinado aos trabalhadores de primeira classe (servidores públicos) – União, 26 estados, DF e 2087 municípios mais ricos, com apenas 9,9 milhões de participantes (6,3 milhões de contribuintes e 3,6 milhões de beneficiários) gerou um déficit previdenciário da ordem de R$ 155,6 bilhões (déficit per capita por participante de R$ 15.717,17).

Desculpe-me por não deixar jamais de ler os seus magistrais artigos.

Nota: Se desejar os arquivos oficiais do governo favor informar.

Ricardo Bergamini
Membro do Grupo Pensar+ www.pontocritico.com


A MASSA, ESSA INIMIGA DA DEMOCRACIA, E A REFORMA DA PREVIDÊNCIA
Percival Puggina
         Quando, no Natal de 1944, nazismo e fascismo eram derrotados nos campos de batalha, o papa Pio XII, em rádio mensagem na qual discorreu sobre Democracia, mencionou a diferença entre povo e massa. Disse ele:
Nº 15  - Povo e multidão amorfa ou, como se costuma dizer, "massa", são dois conceitos diversos. O povo vive e move-se por vida própria; a massa é de si inerte, e não pode mover-se senão por um agente externo. O povo vive da plenitude da vida dos homens que o compõem, cada um dos quais - no próprio lugar e do próprio modo - é uma pessoa consciente das próprias responsabilidades e das próprias convicções. A massa, pelo contrário, espera uma influência externa, brinquedo fácil nas mãos de quem quer que jogue com seus instintos ou impressões, pronta a seguir, vez por vez, hoje esta, amanhã aquela brincadeira.
         Mais adiante, no mesmo documento, afirmará que a massa, assim definida, é a principal inimiga da democracia. Lembrei-me dessas definições, lidas há bom tempo, ao observar a reação popular à reforma da Previdência. Estamos diante de um caso típico daquela manipulação que transforma parcela expressiva da população em joguete de quem lhe infunde impressões e explora seus instintos.
         A conta não fecha. A Previdência Social precisa ou de novos impostos, ou de novos empréstimos, ou de uma verdadeira multidão de novos contribuintes, ou de novas regras. Novos impostos ninguém quer pagar, novos empréstimos serão impossíveis e novos contribuintes, nas proporções necessárias, estão longe de qualquer cogitação razoável. Um milhão de aposentados no setor público, consomem tantos recursos do sistema quanto 34 milhões de aposentados do setor privado. 
         A massa, porém, é contra a reforma. Manipulada pela turma dos privilégios, dos proventos maiores e das aposentadorias precoces, rejeita solução que lhe pode assegurar, no tempo, a continuidade de seu sustento. Atira no próprio pé e chuta contra o próprio gol. 
         O ministro Roberto Barroso, do STF, foi levado àquela corte pela mão do governo petista. Havia dito que as condenações do mensalão eram como um ponto fora da curva nos julgamentos do Supremo. Tinha a missão de aliviar, e de fato aliviou, as penas dos réus políticos do mensalão, trazendo-os para "dentro da curva" almejada pelo PT. É ideologicamente um homem de esquerda, materialista e abortista. No entanto, falando em Londres sobre a reforma da Previdência, disse que ela "não surge como uma escolha política, filosófica ou ideológica, mas como "uma questão de aritmética e de justiça intergeracional". E aduziu que se ela não ocorrer, "vamos entregar um país devastado aos nossos filhos".
         A interrogação que coloco ao leitor destas linhas é a seguinte: não deveria a massa, por todas as razões da razão, estar nas ruas clamando contra as injustiças desse sistema que tira do pobres para dar aos ricos, cobrando o fim dos escandalosos privilégios e das aposentadorias precoces e nababescas? Sim, deveria. Mas cumpre seu papel de massa e serve aos piores desígnios. Valem-se dela: 1) a malta de políticos que, sob o mais rasteiro egoísmo, só tendo olhos para a próxima eleição, deseja semear insatisfações para colher votos; e 2) as lideranças corporativas, instaladas numa zona de grande conforto e que, por isso, desejam a permanência dos atuais privilégios. A massa se afeiçoa a seus algozes...
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* Percival Puggina (72), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.

domingo, 26 de março de 2017

Bandoleiros politicos tentam escapar da lei - Percival Puggina

A REVOLTA E A VOLTA DOS BANDOLEIROS
Percival Puggina
 Porto Alegre, 26/03/2017

A um ano e meio das eleições nacionais de 2018, o cenário é desalentador. Está em curso a rebelião dos escroques da República. Em fileira cerrada, ombro a ombro, bandoleiros da oposição e do governo avançam contra as leis penais e eleitorais, qual gatos a livrar e lamber o próprio pelo. As listas de Janot estão recheadas de nomes fortes para disputar vagas no entrevero político do ano que vem. E só um intenso trabalho de resistência às mudanças legislativas, de conscientização e informação poderá prevenir os grandes riscos de que, por escabrosos meios, se reproduzam os mandatos da Orcrim. Ao mesmo tempo, é paradoxal: se entrevistado, o mesmo eleitorado que tenderá a reeleger os quadrilheiros manifestará seu descontentamento com a representação política do país.

A cada pleito, parecem brotar do ventre da terra, para se emaranharem nos altares do poder, personagens cada vez mais interesseiros, mais medíocres, menos honestos, menos comprometidos com o bem comum. Há quem conclua, dessa observação, que a política seja exatamente a lavoura onde se cultivam tais produtos e da qual nada melhor se haverá de colher.

Convido o leitor para uma sincera análise dessa realidade. Quantos eleitores trocam seus votos por dinheiro, rancho, jogos de camiseta, brindes, favores concedidos, ou promessas feitas às respectivas instituições e associações? Quantos votam por preferências clubísticas e esportivas? Quantos se deixam sensibilizar por atitudes assistenciais como distribuição de cadeiras de rodas, óculos, remédios e caixões de defunto? Quantos são conduzidos pela publicidade ou pela presença na “telinha” e nos microfones? Quantos votam contra algo ou alguém, transformando a eleição num ato de ódio ou protesto? Quantos votam catando do chão um “santinho” qualquer ou em alguém que lhe seja indicado na boca da urna? Quantos votam porque o candidato é defensor vigoroso de sua corporação? Quantos votam porque o candidato é vizinho, amigo da família, manda cartões de Natal, conseguiu ou diz que vai conseguir emprego ou bolsa qualquer? Ora, eleitores displicentes, interesseiros e venais elegem, simetricamente, políticos omissos, mercenários e corruptos.

Pelo viés oposto, pondere comigo: quantos eleitores têm como exigências a serem simultaneamente cobradas a formação moral e intelectual do candidato, a imagem que construiu com sua história pessoal, seus valores, sua dedicação ao bem comum, sua capacidade de influenciar e liderar outros, suas idéias e propostas para o município, o estado e o país?

Pois é, pois é. Faltam-nos estadistas porque nos sobram votantes com péssimos critérios. No produto dos escrutínios eleitorais, a quantidade de bons políticos eleitos será, sempre e sempre, diretamente proporcional ao número de bons eleitores.
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* Percival Puggina (72), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.

sexta-feira, 8 de julho de 2016

O Estado Perdulario do Brasil - Ricardo Bergamini e Percival Puggina

Recebido de Ricardo Bergamini em 8/07/2016:

Prezados Senhores

Enquanto o governo Temer(ário), com a sua habitual cara de paisagem, pratica a farsa da sua política econômica, promovendo um aumento da dívida pública da ordem de R$ 1,2 trilhão até dezembro de 2017. O Brasil convive com as imoralidades abaixo:

- O Congresso Nacional é constituído por 513 deputados federais e 81 senadores e para atenderem a esses 594 senhores, segundo o ministério do planejamento, em dezembro de 2015 existiam 24.896 servidores ativos que custaram R$ 5,4 bilhões. Considerando também os 10.360 servidores inativos que custaram R$ 3,5 bilhões o custo total com essa imoral e criminosa usina de gastos públicos foi de R$ 8,9 bilhões.

- Pasmem! O Brasil tem que aumentar o seu estoque da dívida pública para cobrir déficits fiscais dos dinossauros das estatais (fonte primária de todos os problemas do Brasil), conforme comentários abaixo do pensador Percival Puggina:

ESTATAIS, UM FALSO TESOURO
Percival Puggina

 Em recente trabalho, o minucioso e competente economista prof. Ricardo Bergamini, buscando dados num documento oficial do Ministério do Planejamento, constatou existirem 135 empresas estatais federais. São 18 do setor financeiro e 117 do setor produtivo.

Fica cada vez mais difícil justificar a existência de tantas estatais num país teoricamente não socialista. Se fôssemos constitucionalmente socialistas, então se justificariam nossas urgências e carências. Seria uma opção nacional e estaríamos sujeitos a arcar com as consequências disso. No entanto, o Brasil optou constitucionalmente pela economia de mercado. É o governo, ou melhor, são os governos que nos têm proporcionado socialismo através de suas políticas. Vem daí o oneroso catálogo das estatais que, em grande parte, mantêm um quadro funcional superior às suas necessidades.

Uma curiosidade destacada por Bergamini no mencionado "Perfil das Empresas Estatais Federais" traçado pelo próprio Ministério do Planejamento, é a existência de um grupo sob o título de "Empresas dependentes do Tesouro Nacional". Desde quando algo assim existe e se chama "empresa"? O grupo pode ser estudado nas páginas 35 a 39 deste documento. E mais, quando se observa a evolução do quadro de pessoal desse grupo, percebe-se que no ano de 2014 (ano eleitoral) o conjunto dessas organizações receberam um acréscimo de 11.100 servidores, passando de 47.433 para 58.533 o que representa um aumento de quase 40% sobre o ocorrido em todo o quadriênio anterior. Isso deve ser declarado como "despesa nacional com a campanha da candidata oficial"? E o que terá acontecido no quadro pessoal do vasto conjunto das estatais?
Há quem creia que tudo possa mudar sob nova direção e que as empresas estatais sejam um tesouro produzido graças ao esforço nacional. No entanto, numa empresa estatal, a gestão é a parte menor do problema. A parte maior é sua condição estatal.

Que Deus tenha piedade da abissal ignorância e escuridão reinante no Brasil (Ricardo Bergamini)

sábado, 16 de abril de 2016

Pedaladas e gastos publicos, a grande divisao - Percival Puggina

Como escreve Percival Puggina, a maior divisão entre os dois lados da Comissão especial do Impeachment não era entre o sim e o não, mas sim entre os que justificavam as pedaladas e os que faziam delas o motivo do impeachment.
Percival Puggina chama a atenção para o imenso buraco econômico, fiscal e orçamentário, que tais pedaladas deixam para serem cobertas por todos nós, nos anos à frente.
Paulo Roberto de Almeida

AS PEDALADAS, PARA NÃO INGÊNUOS

por Percival Puggina. Artigo publicado em

 Depois de longas horas assistindo a sessões da comissão especial do impeachment, posso testemunhar que o maior antagonismo não se formou entre o sim e o não, entre direita e esquerda, governistas e opositores. A mais notória divergência foi a mesma que, historicamente, se estabelece entre a verdade e o partido governista. Nele, fato, história, realidade e verdade são submetidos ao filtro das conveniências e ganham, sempre e sempre, o aspecto e a versão que mais convém aos seus interesses.
  Tal ditame integra a natureza mesma dos partidos revolucionários e totalitários de qualquer viés, criados para constituir uma nova ordem e sendo, portanto, insubmissos à ordem e à moral vigentes. Rápida folheada de vista na história é suficiente para estampar profusão de exemplos dessas ocultações trapaceiras em novelos de falsidades, mistificações e dissimulações. É aquilo que estava, por exemplo, na cabeça de Brecht quando, em "A medida punitiva", estabeleceu: "Quem luta pelo comunismo tem que dizer a verdade e não dizer a verdade, manter a palavra e não cumprir a palavra (...). Quem luta pelo comunismo tem de todas as virtudes apenas uma - a de lutar pelo comunismo".
Não era diferente a convicção de Goebbels, ministro de Propaganda de Hitler, quando ensinou que a mentira repetida mil vezes torna-se verdade. Foi o que ainda ontem (11/04), em sua última fala na sessão da Comissão Especial, num rasgo de sinceridade, o deputado José Guimarães, líder do governo, disse sobre a vinculação entre impeachment e golpe: "Pegou!", disse ele. "A vinculação entre impeachment e golpe pegou". Não se trata, necessariamente, de uma vinculação real. É uma vinculação que, pela repetição, "pegou".
Quero ater-me, aqui, a outro atropelamento da verdade, repetido ao longo dos últimos meses até não restar caco de paciência para ouvi-lo. Refiro-me à afirmação de que as pedaladas foram exigência da generosa dedicação do governo aos necessitados, pobres, humildes e carentes da pátria. Moradores do coração do governo, resgatados da miséria por sua prestimosa atuação, seriam estes Joões, Marias e Josés os destinatários principais dos recursos que fizeram explodir o orçamento e levaram o governo ao crime de responsabilidade unanimemente apontado pelo Tribunal de Contas da União.
Enquanto esse discurso era salivado de boca em boca no plenário da comissão, o Banco Central, a três quilômetros dali, divulgava que os atrasos de repasses do governo a bancos públicos haviam alcançado R$ 60 bilhões no final de 2015, e que a maior parcela, no valor de R$ 17,3 bilhões, foi destinada ao rombo do PSI-BNDES.
O rombo em miúdos: 30% do montante pedalado corresponde ao subsídio proporcionado pelo governo aos graciosos juros de 4% a 6% ao ano, cobrados nos empréstimos bilionários concedidos pelo BNDES a grandes empresas. Quem não os haveria de querer? O montante desses financiamentos, em meados de 2015, chegava a R$ 461 bilhões. O peso do subsídio sobre a dívida pública, ao longo das próximas décadas, vai a quase R$ 200 bilhões! Isso é dar esmola aos pobres e ser pródigo com os afortunados e endinheirados.

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* Percival Puggina (71), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.

sábado, 30 de janeiro de 2016

Impeachment e Estado de Direito - Percival Puggina e comentaristas

Transcrevo artigo e comentários a partir do blog do meu colega de resistência democrática, gaúcho, Percival Puggina, como sempre lúcido, claro e objetivo.
Concordo inteiramente: um governo com 10% de aprovação num sistema parlamentarista já teria caído há muito tempo.
Num sistema presidencialista, só cai se cometeu crimes.
Mas, no Brasil, nem isso: enquanto ele tiver dinheiro para comprar parlamentares, e capacidade de subverter a corte suprema com seus servidores amestrados, ele não cai, mesmo se 90% da população quer o fim de um governo comprometido com corrupção, roubalheiras, fraudes e mentiras, ademais de ter provocado a maior recessão -- caminhando para uma depressão -- de toda a história do Brasil.
O Brasil é diferente? Certamente: na desfaçatez dos políticos, na conivência dos magistrados.
Assino embaixo, como sempre:
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 29/01/2016

IMPEACHMENT, DEMOCRACIA E ESTADO DE DIREITO

por Percival Puggina. Artigo publicado em
 Se o que se quer, na política, é promover o bem comum, as divergências terão como foco principal o conceito de bem comum, seu conteúdo e o modo de produzi-lo em cada momento histórico. No entanto, se o objetivo é apenas alcançar o poder, ou mantê-lo, então a honestidade intelectual se torna um transtorno e o senso moral deve ser apartado, assim como se retira o incômodo ferrão em picada de marimbondo. Sob tais padrões, a estratégia, a propaganda e a arte do convencimento são concebidas e mobilizadas apenas pelo desejo de convencer e vencer, aferindo-se a qualidade dos meios pela eficácia em relação aos fins desejados e não por sua relação com a verdade e o bem.
Digo isso porque a defesa do governo na questão do impeachment tem-se valido de todos os meios possíveis de enganação. Não estou recusando aos governistas o direito de escudar o governo. O que estou afirmando é que quase todos os seus argumentos, a partir do mais constantemente repetido, são concebidos para iludir. Repetem, insistentemente, que: 1) o impeachment fere a democracia; 2) impeachment é golpe. Ora, não é possível que experientes jornalistas e doutos congressistas dardejem fogo dos olhos em frêmitos de indignação afirmando que impeachment fere a democracia. A democracia, a soberania popular, senhores, é ferida quando quem governa só tem apoio de 10% da população!
Talvez se inquiete o leitor: "Nesse caso, todo governo que perde o apoio da maioria da população deveria cair?". A resposta a essa pergunta é afirmativa em praticamente todos os países parlamentaristas (cerca de 95% das democracias estáveis). No presidencialismo, eu afirmo, sem pestanejar: nas atuais condições, um governo de democratas deveria renunciar. E mais, há algo muito errado num sistema político em que governos rejeitados são mantidos por força da Constituição.
O que sustenta esse governo no poder, então, não é a "democracia", obviamente, mas a regra do jogo político, o Estado de Direito como o temos. Há em nossa Constituição uma norma que determina em quais situações e mediante quais procedimentos, quem preside a república pode ser afastado do cargo. E a perda da aceitação social não está entre elas.
Entendido isso, fica mais fácil compreender o quanto é falso chamar de golpe o pedido de impeachment da presidente Dilma. Essa demanda nacional, nascida nas ruas, sem partido nem patrocínio, sem tanques nem canhões, deu causa a três dezenas de requerimentos, Brasil afora. Como o processo de impeachment é jurídico e político, as motivações políticas dispensam apresentação. Estão nas vozes das ruas. As motivações jurídicas, por seu turno, foram avalizadas unanimemente pelo TCU e são de perfeito conhecimento público.
Golpe, portanto, de um lado, é usar o que pertence ao Estado para subornar votos no Congresso, como vem fazendo o governo de modo a evitar que o impeachment prospere. E, de outro, é golpe fazer do STF, com o mesmo fim, um puxadinho do partido governista.
Em resumo: quem atenta contra a democracia é o governo quando insiste em ancorar-se no poder, enterrando o futuro do país contra a vontade nacional; e é ele quem novamente golpeia as instituições quando se defende com os meios que para tanto vem empregando.
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* Percival Puggina (71), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil, integrante do grupo Pensar+.

Comentários

Ismael de Oliveira Façanha .

O único impedimento eficaz para por termo ao mandato de Dilma Roussef, "impeachment", é o TEMPO, mais precisamente, 31 de dezembro de 2018. Infelizmente.

Antonio de Brito Carvalho .

Senhor PUGGINA, excelente artigo, com a sabedoria que lhe é peculiar. PARABÉNS!

maria-maria .

Um risco real é a banalização do escândalo,que apresenta, a cada dia, uma nova roubalheira ,dificultando que se acompanhem os fatos delituosos cometidos no âmbito dos podres poderes com o aval do que deveria ser a oposição, estivéssemos vivendo numa democracia.

Claudio .

Argumentação perfeita, politicos honestos pegariam seu chapéu e iriam embora. Tanto pelo apoio ínfimo como pelas mentiras deslavadas que estão tendo que ser usadas para justificar o estelionato eleitoral. Logo, golpistas são eles, da quadrilha.

Carlos Edison Domingues .

PUGGINA . A fragilidade de nossa democracia está, exatamente, no Legislativo. Este Poder é o prolongamento de um povo que, na sua maioria, é indiferente aos acontecimentos. O Banco Central perde R$90 bilhões para conter o dolar. o governo promete R$ 83 bilhões "para reativar a economia" (Jornal do Comércio 29/31 janeiro) mas o sucesso de todo este emprendimento depende de R$15 bilhões arrancadoxs da sociedade através da C.P.M.F, É estarrecedora a insanidade do Executivo e a tolerância do Legislativo. Carlos Edison Domingues

Genaro Faria .

Voltei. Escaldado de tanto ver triunfar a fraude, o assalto ao patrimônio público, o estelionato, enfim, o projeto de poder dessa organização criminosa camuflada de partido político, até esta semana eu receei que os golpistas resistiriam. Mas agora eu estou convencido de que não haverá retorno e não tem como o bando de Lula escapar. Faltava um símbolo, algo visualizável, tangível como o Fiat Elba de Collor. O Apê do Guarujá e o sítio de Atibaia surgiram para preencher essa lacuna. A casa caiu. Além disso, a operação Triplo X atingiu o sistema nervoso, a ponta do novelo do laranjal do PT e seu esquema milionário de corrupção institucionalizada e internacional. A partir de então as penas e línguas alugadas da mídia camarada não vão poder esconder o elefante na sala de jantar e tentar nos desinformar. E o megalômano "dono da enchente" vai se afogar nela. Que a nossa juventude e as pessoas humildes, que são as maiores vítimas dessa quadrilha, não fiquem conformadas diante da calamidade desse "partido dos trabalhadores" e saiam às ruas para protestar e cobrar respeito à nação.

Luiz Felipe Salomão .

Artigo irretocável. Parabéns Professor!

Francisco .

Simplesmente brilhante Mestre!

Odilon Rocha .

Caro Professor Não é pessimismo, não! A Lava-Jato está cumprindo muito bem o seu papel, andando a passos largos e tal e montando teias que deixariam muita aranha com inveja. Temos ainda toda uma cúpula criminosa para prender. Quem diria que um dia eu estaria escrevendo isso sobre o governo do meu país! Ao mesmo tempo, pressinto que estão nos enrolando 'bonitinho' até 2018.

Gustavo Pereira dos Santos .

Há muito tempo ficou claro que o objetivo do atual governo é enterrar o País para consolidar um Estado Totalitário. A criação do Conselhão teve a missão de desviar o foco da deterioração em 2016, para tornar-se o vilão da tragédia. E, assim, eles vão empurrando com a barriga até 2018. O Olavo de Carvalho foi muito feliz na caracterização da situação atual num video antigo: https://www.youtube.com/watch?v=PuCks1Hi8f0

Ismael de Oliveira Façanha .

Dezoito estados dos EEUU, possuem em suas constituições o instituto o "RECALL"; o último caso, muito conhecido, foi o que ensejou a eleição de Arnold Schwarzenegger para o governo da Califórnia, na vaga de um governador afastado pelos eleitores, de forma pura e simples. O parlamentarismo é causa perdida; o RECALL tem chances.

Genaro Faria .

Rebater o argumento dos governistas, que se resume a um só, qual seja, o de que a lei fundamental do país, quem sabe por um cochilo do legislador constituinte, insculpiu o dispositivo do impeachment não como salvaguarda da soberania popular, mas como uma afronta ao preâmbulo que a proclama como um postulado do estado de direito, cá entre nós, é fazer como o cordeiro acusado pelo lobo de sujar, a jusante, a água que o canídeo bebia a montante. Os primeiros a saber que a tese defendida por eles não passa nem pelo crivo de um aluno do curso fundamental, o antigo primário, são seus próprios defensores. Não passa de uma anedota sem graça, sem pé nem cabeça, que afronta o mais meridiano raciocínio. Em suma, é um argumento de quem não outro argumento senão mentir descaradamente, na suposição de que sua repetição à exaustão acabe pelo menos confundindo a sociedade. É chamar urubu de meu louro até o compre, enganado pelo vendedor de que o psitacídeo é muito novo e, por isso, ainda não aprendeu a falar. Mas não podemos deixar de reconhecer que o golpe já apresentou resultados altamente positivo para os vigaristas. Milhões acreditaram que Lula fosse um estadista, Dilma fosse uma super gerente e que o PT é o partido que defende os pobres da exclusão social que lhe impuseram os ricos. Por que a Constituição não poderia ser revogada pelo emprego desse mesmo método? E lançada no rol dos culpados pela incitação à prática de um ilícito institucional? Para tanto, o que não falta são penas alugadas e papel, que aceita tudo.

sábado, 19 de dezembro de 2015

Brasil: retratos da irresponsabilidade cotidiana, e a rapinagem do Estado - Percival Puggina


NOTAS FÚNEBRES

por Percival Puggina. Artigo publicado em

1. A NAÇÃO ABANDONADA
 Com as decisões de ontem, o STF evidenciou à nação o estado de abandono em que se encontra perante os poderes de Estado. Rompeu-se o fio pelo qual pendia a esperança de que em algum canto da República houvesse instituição capaz de proteger a sociedade da incompetência e da rapinagem do governo.
 O mesmo STF, que volta e meia, durante suas sessões públicas promove eleições secretas entre seus membros para postos de funções de administração e representação, exigiu comportamento inverso do poder legislativo em cuja autonomia interferiu.
Fez mais, determinou um bis in idem facultando ao Senado decidir, nos processos de impeachment, se aceita ou não a resolução da Câmara. Se o Senado (casa legislativa que representa os Estados) divergir da Câmara (casa legislativa que representa o povo), esta enfia a viola no saco e a própria decisão na lixeira. De nada terá valido.
Por fim, vedou a candidatura autônoma às cadeiras da comissão que analisará o processo de impeachment. Essa norma simplesmente dispensa a contagem de votos. A decisão sobre o andamento do processo fica transferida para os 23 líderes de bancadas. Até parece eleição cubana, que deixa o eleitor sem opção.
2. A MANIFESTAÇÃO DOS "TRABALHADORES" PRÓ-DILMA, ÀS NOSSAS CUSTAS
Abomináveis, sob todos os aspectos, as manifestações pró-Dilma na tarde da última quarta-feira. Sob forma de ato público, supostos trabalhadores, no meio da tarde, exibiram-se em diversas capitais brasileiras. Trajando seus fardamentos vermelhos, substituindo as cores e símbolos nacionais pelos símbolos e cores partidários e ideológicos, saíram ao asfalto para sustentar o governo. Assistimos, então, à notória defesa da mentira, da fraude, da dissimulação, da incompetência, da recessão, do desemprego, da inflação e da corrupção.
Trabalhadores? Sem mais o que fazer, no meio da tarde? Só podem ser "trabalhadores" sem patrão, sem compromisso laboral. Portanto, ou são servidores públicos cujos salários nós pagamos, ou são dirigentes sindicais, cujo ócio e improdutividade são incorporados aos preços dos bens e serviços que adquirimos. Ou seja, são pagos por nós...
3. A IRRESPONSABILIDADE FISCAL DO SENADO QUE VAI DECIDIR SOBRE A IRRESPONSABILIDADE FISCAL DA PRESIDENTE
Ontem, dia 17, o Senado Federal concluiu que as contas públicas estão em perfeita ordem e considerou compatível com a realidade nacional elevar os vencimentos de seus servidores efetivos no percentual de 21,3%, parcelado ao longo dos próximos 3 anos. A conta, para 2016, fica em R$ 174,6 milhões. Isso acontece num momento em que o governo, com extremo otimismo, prevê redução de 1,9% na atividade econômica do próximo ano, o que representará, inevitavelmente, queda na arrecadação. O relator do orçamento, aliás, promoveu cortes em praticamente todas as atividades do governo. E o Senado distribui favores aos seus! É essa Casa legislativa irresponsável, onde o governo é amplamente majoritário, que decidirá sobre os crimes de irresponsabilidade fiscal da presidente da República.

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* Percival Puggina (71), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil, integrante do grupo Pensar+.

sábado, 24 de outubro de 2015

Impeachment: por que o Congresso vai votar contra - Percival Puggina, Dalton Catunda Rocha


O artigo que segue abaixo é do colunista gaúcho Percival Puggina.
Subscrevo cada uma de suas palavras, mas concordo com um leitor dele, Dalton Catunda Rocha (transcrito ao final), que dá as razões porque não ocorrerá o mesmo agora que ocorreu em 1992.
Infelizmente é assim: o Brasil se encontra dominado por um partido totalitário, que conseguiu controloar, e manipula, várias instituições (inclusive a Suprema Corte), e por políticos mais interessados em ganhos materiais do que na defesa dos valores da democracia, da verdade, da probidade administrativa.
Infelizmente é assim: temos de reconhecer que não vai ocorrer, não, pelo menos, nas condições atuais. A crise não é ainda grave o suficiente para incitar os donos do poder a tomar outras atitudes, nem para despejar os donos do poder, inclusive porque não temos oposição, ou estadistas à altura para conduzir o país para fora do horror em que se encontra atualmente.
Vamos ter de conviver por muito tempo mais com corrupção, com mentiras, com falcatruas, com pessoas sem caráter ocupando os mais altos cargos da república, enquanto mafiosos controlam as rédeas do poder de maneira oculta.
Paulo Roberto de Almeida

A FALSA "SACRALIDADE" DOS MANDATOS PRESIDENCIAIS

por Percival Puggina. Artigo publicado em

 Tenho encontrado pessoas que, diante das mobilizações em favor do impeachment da presidente Dilma, expressam preocupação com a intangibilidade, espécie de "sacralidade", que adornaria o mandato de quem ocupa, simultaneamente, as funções de chefe de Estado e de governo.
 É um sentimento de parte da população. Menos de 10% dos brasileiros aprovam o governo da presidente. No entanto, cerca de 30% discordam de seu impeachment. No valão desse sentimento, o petismo se entrincheira e opera para atacar como golpista quem pede às instituições da República o cumprimento dos ritos que podem levar à perda do mandato presidencial. Note-se, a propósito: são tantos os motivos para essa punição que ela pode ocorrer pela via judicial e pela via parlamentar.
 Países que adotam o parlamentarismo substituem governantes com facilidade, inclusive por mau desempenho, permitindo a rápida superação, sem traumas, de crises políticas e administrativas. Em muitos deles, democracias estáveis, legislaturas podem ser interrompidas por convocação extemporânea de eleições parlamentares para atender alterações das tendências da opinião pública. Para que um primeiro-ministro caia do posto basta perder o apoio da maioria parlamentar. Faço estas referências para mostrar que, em boas e sólidas democracias, os mandatos não se revestem da mesma blindagem em nome da qual, entre nós, até grandes culpas e proverbiais incompetências pretendem ser relevadas. Pergunto: seria essa uma irredutível imposição do presidencialismo? Não! A Constituição Federal e a legislação complementar regulam perfeitamente o processo de impeachment e a natureza dos crimes que levam à perda dos mandatos.
 Estou usando neste texto de modo intencional e entre aspas o vocábulo "sacralidade" como um suposto atributo dos mandatos, embora, mais adequadamente, devesse usar a palavra "respeito". Mas se "sacralidade" é um vocábulo que certamente cairia no gosto do Advogado Geral da União para defender a presidente, ele serve ainda melhor a mim para justificar o processo de impeachment.
Assim como só pode ser respeitado aquele que se dá o respeito, não há como considerar sagrado, respeitável, intangível, revestido de dignidade, o mandato de quem antecipadamente proclamou que "faria o diabo na hora da eleição". E fez! Incontáveis vezes. Antes, durante e depois da eleição, conforme abundantemente comprovado nos documentos escrutinados pelo TSE e pelo TCU. Afinal, quem não viu os usos, abusos e mentiras que varreram o país e conspurcaram a sacralidade (esta sim) do pleito de 2014?
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* Percival Puggina (70), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+.

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Comentário de Dalton Catunda Rocha .
Meu comentário sobre isto: Comandante do Impeachment de Collor em 1992, Ibsen Pinheiro, certa vez disse que Impeachment pode ser só duas coisas: 1- Absolutamente inevitável. 2- Absolutamente impossível. No caso de Dilma, a segunda opção é indiscutível. Quem como eu, acompanhou de fato o Impeachment de Collor, em 1992, verificou que: 1- Collor nunca comprou o Congresso. Dilma seguiu Lula, FHC e Sarney. Foi isto; comprar o Congresso, a primeira coisa que ela fez, uma vez no poder. 2- Collor derrotou todos os grandes políticos da época(1989), na sua luta pela presidência: Lula, Brizola, Covas, Maluf, Ulisses Guimarães, etc. Eles se vingaram, quando puderam. Dilma nunca teve nenhuma figura, que a quisesse derrotar, em 2010. Serra serviu de palhaço e só foi ao segundo turno, por conta de Marina. Nem Serra queria derrotar Dilma, em 2010. 3- Collor se elegeu, pelo já extinto PRN, um "partido" mais frágil, que uma bolha de sabão. Já Dilma tem o apoio não só do poderosíssimo PT, como também do PMDB, sendo sua base partidária hegemônica no Congresso. 4- Collor governou contra as estatais, os empresários protecionistas fazedores de carroças, os BNDESários, os governadores corruptos,etc. Já Dilma não sabe viver, sem esta gente. Eike Batista, que o diga. 5-Collor governou contra o MST, a CUT, a OAB e a UNE. Já Dilma sempre despejou somas inimagináveis, principalmente no MST. Impossível a UNE ou o MST organizar uma manifestação contra Dilma. 6- Collor sempre reduziu o número de funcionários públicos, mantinha menos de 12 ministérios civis e, privatizou mais de 15 estatais. Dilma empregou cada vez mais gente, não privatizou nenhuma estatal e criou várias estatais. Dilma mantém 38 ministérios civis, contra menos de 15 ministérios civis sob Collor. Empregos públicos são fontes de poder. D. João VI e D. Pedro I já sabiam disto. Não foi à toa que Collor tanto se destaca por ser o único governante a receber Impeachment, como por ser o único governante do Brasil, a reduzir o número de empregos públicos em seu governo. 7-Collor reduziu de maneira importante o apoio brasileiro ao Iraque, Irã, Cuba,Nicarágua,etc. Já Dilma segue Lula, apoiando os cleptocratas anti-semitas da Venezuela, Cuba,Irã, etc. A esquerda trocou Marx por Maomé. E cada “empréstimo” (nunca será pago) à Cuba, Venezuela,etc. tem alguém que “mama” dentro e fora do Congresso. 8- Collor governou sob inflação e indexação, tendo aliás herdado uma hiperinflação de juros de 200% ao mês do lulista José Sarney. O Plano Real ainda mantém inflação e juros, sob relativo controle para Dilma. 9- Collor extinguiu o assistencialismo do ticket de leite e, extinguiu a entidade assistencialista LBA. Dilma comanda o maior (e mais caro) programa de assistencialismo da história do Brasil. Os imperadores de Roma já sabiam, que o povo queria pão e circo. 10-Collor foi o único governante a ter tentado extinguir os privilégios sindicais, que vem desde a ditadura Vargas, em 1930. O PT foi fundado no sindicalismo varguista e, Dilma tem total apoio dos sindicatos, não apenas por ser do PT, mas por apoiar plenamente os privilégios dos sindicalistas. 11- Collor nunca comprou o apoio da Mídia, nem com verbas publicitárias, nem com “empréstimos” de bancos oficiais, que os donos de jornais e redes de televisão, não precisam pagar. Compare isto com Dilma, que é recordista de gastos publicitários me nossa história, superando o segundo lugar, que é Lula. FHC fica em terceiro lugar, em gastos reais por ano. 12-Collor teve contra ele, o testemunho do próprio (e louco) irmão mais o testemunho de Renan Calheiros e outros tantos lulistas. Enquanto isto, Dilma tem contra ela, apenas o testemunho de alguns bandidos confessos. Em suma. São mundos absolutamente diversos. O Impeachment de Collor em 1992 era, absolutamente inevitável. E o Impeachment de Dilma atualmente é, absolutamente impossível.