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sábado, 18 de março de 2017

Venezuela bolivariana: literalmente no lixo (AFP)

Coisas que o Brasil apresenta muito marginalmente:


Comer do lixo, o drama da fome dos venezuelanos mais pobres

AFP/O Estado de S. Paulo, 16/03/2017


Diante da escassez que atinge 68% dos produtos básicos no país, é cada vez maior o número de pessoas que vivem na miséria e percorrem as ruas de zonas ricas para buscar comida no lixo

CARACAS - O caminhão de lixo freia e Rebeca corre até o contêiner para fuçar os sacos. É a sua luta diária contra a fome, que leva muitos venezuelanos a viverem de restos de comida. Antes que os resíduos sejam triturados, ela vasculha avidamente e encontra um pouco de macarrão. Rebeca León tem 18 anos, está terminando o ensino médio e vive no bairro popular de Petare, em uma casa que, apesar da miséria, conta com os serviços básicos.

Um filho de dois anos desnutrido, uma mãe com deficiência e semanas "à base de água" a levaram, há seis meses, a percorrer as ruas de zonas ricas para buscar comida no lixo. "Minha mãe não aceitava, mas o que mais se pode fazer com a situação ruim do país? Ia morrer de fome, dava para ver os ossos dela", conta Rebeca.

Sua rotina é angustiante. Estuda à tarde, e depois do colégio vai direto caçar caminhões coletores de lixo e revirar sobras em restaurantes, de onde tira restos de frango, pão, peixe ou queijo. Dorme na rua e volta à casa de manhã para limpar o que recolheu e descansar, para depois continuar fazendo a roda girar. "Vivemos de lixo". Esta jovem deixou a vergonha de lado para sobreviver a uma crise onde a escassez atinge 68% dos produtos básicos no país e a inflação cresce descontroladamente - segundo o FMI, chegará a 1.660% em 2017.

"Chorava, porque me sentia humilhada. Já não me importo, porque se você não trabalha nem procura algo no lixo, você não come", disse, enquanto aguardava um caminhão que nunca chegou.

Cerca de 70 pessoas, entre elas várias crianças, esperam com Rebeca os caminhões coletores, e repartem o controle das lixeiras de restaurantes. Rebeca revira as sobras de uma marisqueira de Altamira. Perto dali, em um estabelecimento de fast food, um homem foi esfaqueado recentemente em uma briga por um saco de lixo, conta um funcionário.

Nesse lugar, José Godoy, pedreiro desempregado de 53 anos, lambe ansioso um prato descartável. Suas duas filhas, de seis e nove anos, bebem suco retirado de um pote. Estão anêmicas, e comem apenas bananas ou iúca uma vez por dia.

"Uma noite fomos dormir sem comer. Não desejo isso a ninguém. As crianças choravam e diziam: 'tenho fome'. Vendi as ferramentas, tudo, e por último saí às ruas. Milhares de nós vivemos de lixo", relata José.

Cerca de 9,6 milhões de venezuelanos - quase um terço da população - comem duas ou menos vezes por dia. A pobreza aumentou quase nove pontos percentuais entre 2015 e 2016, atingindo 81,8% dos lares, enquanto 51,51% estão em situação de pobreza extrema, segundo a Pesquisa sobre Condições de Vida.

O estudo, realizado por um grupo de universidades, revelou também que 93,3% das famílias não têm renda suficiente para comprar alimentos, enquanto 7 em cada 10 pessoas perdeu em média 8,7 kg de peso no último ano.

"Eu era gordo, e olhe só agora, estou magrinho. Tive que tirá-la do colégio porque não podia dar comida para ela levar", disse Godoy, apontando para uma das filhas.

Desmaiar de fome. A nutricionista Maritza Landaeta, coautora da pesquisa, afirma que 10% das pessoas em situação de pobreza extrema (cerca de 1,5 milhão) comem alimentos doados por familiares, do lixo ou de sobras de restaurantes, expondo-se a doenças.

O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, assegura que em 2016 a pobreza no país caiu de 19,7% para 18,3%, e a miséria de 4,9% para 4,4%, apesar da queda do preço do petróleo, que é praticamente a única fonte de renda do país.

O governo chavista, que atribui a escassez a uma "guerra econômica", lembra que as Nações Unidas reconheceu, em 2015, seus esforços no combate à fome, e seu programa de venda de produtos subsidiados em zonas populares - criado há um ano - beneficiará seis milhões de lares em 2017.

No entanto, essas sacolas de alimentos só chegaram duas vezes à casa de Rebeca, onde uma geladeira quebrada serve de dispensa para proteger a comida dos ratos.

Abatida pela noite mal dormida, pela fome e pela preocupação por não ter encontrado nada, Rebeca volta ao seu bairro - o mais perigoso de Caracas. De lá, deve caminhar uma hora até a escola, "onde alguns colegas chegam a desmaiar de fome", conta.

"Não quero ficar assim", diz a jovem, que pretende estudar turismo após concluir o ensino médio. Por enquanto, se prepara para outra jornada desta luta, cujo fim está distante demais para ser vislumbrado.

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Venezuela: o novo Secretario de Estado EUA faz o que os vizinhos nao fazem, dizer a verdade


 NUEVO SECRETARIO DE ESTADO EE.UU TILLERSON:
“CALAMIDAD EN VENEZUELA ES PRODUCTO DE SU INCOMPETENTE GOBIERNO”


“Creo que estamos totalmente de acuerdo en cuanto a la calamidad que ha sucedido a Venezuela, en gran medida producto de su incompetente y disfuncional gobierno -primero bajo Hugo Chávez, y ahora bajo su sucesor designado, Nicolás Maduro. De confirmarse (mi designación como Secretario de Estado) insto a una estrecha cooperación con nuestros amigos del hemisferio, en particular con los países vecinos de Venezuela, Brasil y Colombia, así como con organismos multilaterales como la OEA, para buscar una transición negociada a un gobierno democrático en Venezuela.
Al final, se reconstruirán las instituciones políticas, encabezadas por valientes defensores de la democracia y de los derechos humanos, que allanarán el camino para el tipo de reformas necesarias para poner a Venezuela en el camino de la recuperación económica”
A su juicio, “se reconstruirían las instituciones políticas” con “valientes defensores de la democracia y los derechos humanos”, lo que “abrirá el camino para el tipo de reformas necesarias para poner a Venezuela en el camino de la recuperación económica”, de acuerdo con la Agencia EFE.
Por otra parte, Tillerson sostuvo que “buscaría revisar los detalles del reciente acuerdo de paz” en Colombia y “determinar hasta qué punto Estados Unidos debería seguir apoyándolo”.
También prometió hacer “todo lo posible” para continuar con la “estrecha cooperación” de EE.UU. con el Gobierno colombiano, para que mantengan “sus compromisos de controlar la producción y el tráfico de drogas”.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Venezuela: relacoes "carnais" com o governo lulopetista? - Valor (telegramas do Itamaraty)

07/01/2017 às 11h43 5 
Brasil pressionava Venezuela por dívida bilionária com a Odebrecht 

SÃO PAULO  -  Em meio a dívidas bilionárias da Venezuela com a Odebrecht, o governo do Brasil pressionou autoridades do país vizinho a honrar os compromissos e quitar suas obrigações com a empresa. As informações constam em relatórios do Itamaraty produzidos durante o governo Dilma Rousseff, obtidos pela reportagem.
Os documentos afirmam que os atrasos, que vinham desde o governo de Hugo Chávez, chegaram a US$ 2 bilhões em 2014, já sob a Presidência de Nicolás Maduro. Outras empreiteiras, como Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa, e a Petrobras também viviam rotinas de atraso, de acordo com os despachos do Itamaraty, mas a Odebrecht era a mais afetada.
De acordo com o Departamento de Justiça dos Estados Unidos, o grupo baiano pagou US$ 98 milhões em propina na Venezuela desde 2006 -o maior valor em um país depois dos pagos no Brasil. Os documentos afirmam que empresas brasileiras tinham vantagens de dispensa de licitação no regime chavista em casos envolvendo "nações amigas".
Um dos despachos dizia que o governo local buscava, em uma "diplomacia do petróleo", fortalecer o apoio externo ao bolivarianismo com alianças comerciais.
A embaixada ressalta a importância da aproximação política entre Luiz Inácio Lula da Silva e Hugo Chávez, que morreu em 2013, para a concretização desses negócios.
Mas relata o clima de "insegurança jurídica" para o comércio com o país e o medo das empresas brasileiras de estatização de operações pelo governo local, como ocorreu com multinacionais de outros países.
"Não obstante Chávez ter dito, diversas vezes, que as empresas brasileiras estariam a salvo de expropriações, casos como a estatização da Techint argentina reforçam a conveniência de manter sempre fortes os laços políticos entre os dois países", diz documento de 2011.
Criatividade
Também em 2011, em um relatório enviado a Dilma, com informações prévias para um encontro dela com Chávez, a embaixada reforça a necessidade de cobrar do venezuelano "atitude mais assertiva com relação a dívidas e interesses de empresas e investidores brasileiros". "A parte venezuelana tem sido, via de regra, evasiva sobre o pagamento de tais obrigações, o que recomendaria uma intervenção presidencial objetiva", diz o documento.
Semanas depois, um despacho que descreve detalhes da reunião de Dilma e Chávez não traz informações sobre a questão. Na transcrição dos principais trechos da conversa, há um pedido do venezuelano por um teto mais alto de financiamento Brasil pressionava Venezuela por dívida bilionária com a Odebrecht do BNDES em projetos em seu país. Ele fala em "acelerar o cronograma de obras".
Dilma, segundo o despacho, sugere ir a Caracas com uma delegação de empresários e diz que a Odebrecht "pode ajudar muito com habitação". Ainda de acordo com a transcrição, Chávez diz à então presidente que a Odebrecht aceitou adotar um outro "mecanismo de
remuneração". Ele se referia a uma solução encontrada pela empresa para ser paga no país vizinho, chamada de "criativa" em um despacho: compensaria créditos detidos na área de construção civil com compras de nafta da Venezuela pela Braskem, braço petroquímico do grupo. Com os atrasos, a Odebrecht acabou retirando funcionários e parando projetos, como a construção da hidrelétrica Tocoma, em 2014.
Outro documento do Itamaraty, de 2011, relata cobrança de dívidas em encontro da diplomacia com Maduro, que então chanceler da Venezuela. O relato da reunião cita que foi dito ao venezuelano que, para continuar com uma boa relação bilateral, seria preciso "não criar dificuldades", mencionando as dívidas com a Odebrecht e subsidiárias da Petrobras. Maduro disse, segundo o documento, que Chávez ordenara a quitação da dívida. O diplomata pede "discrição, sem alto-falantes" ao venezuelano na negociação.
Além da hidrelétrica, a Odebrecht mantinha projetos em diversas áreas, como o metrô de Caracas, um monotrilho chamado "Cabletren Bolivariano" e um polo agrícola de soja intitulado "projeto agrário socialista Abreu e Lima".
Procurada, a empreiteira disse apenas que mantém compromisso de colaborar com a Justiça e que está implantando práticas de controle internas.
(Folhapress)

sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Venezuela: mercado negro de alimentos controlado pelo Exercito

Na escassez, tudo é motivo de superlucros. Já detendo boa parte do mercado de drogas, que costumava garantir grandes ganhos, o Exército bolivariano se dedica agora ao mercado negro de produtos básicos, que garante lucros ainda mais extraordinários.
Como, quando, onde isso vai parar, não sabemos. O que se sabe é que a Venezuela deixou de existir como nação organizada: virou um caos total, um país sem lei, sem ordem, sem moral, sem respeito, sem futuro...
Paulo Roberto de Almeida


Exército venezuelano controla venda clandestina de alimentos
O Estado de S. Paulo, 30/12/2016
De acordo com investigação da agência Associated Press, em meio à grave crise econômica o tráfico de alimentos tornou-se uma indústria no país caribenho; preços cobrados em mercados paralelos gerenciados pelos militares são até 100 vezes maiores que o tabelado pelo governo
PUERTO CABELLO,VENEZUELA - Encarregado pelo presidente Nicolás Maduro de controlar a distribuição de comida após uma série de protestos no meio do ano contra a escassez de alimentos, o Exército venezuelano tem usado essa prerrogativa para vender mantimentos no mercado negro, revela uma investigação publicada nesta quarta-feira, 28, pela agência Associated Press.
Em meio à grave crise econômica provocada pela queda de reservas em moeda estrangeira, inflação e redução drástica no preço do petróleo, o tráfico de alimentos tornou-se uma indústria na Venezuela. Documentos e entrevistas feitos com mais de 60 membros do governo, empresários, trabalhadores do setor e ex-militares, mostram que as Forças Armadas Nacionais Bolivarianas (FANB) estão no coração desse processo.
Os generais de Maduro controlam desde a venda de arroz e manteiga até a farinha de milho, ingrediente principal para a arepa - o prato nacional dos venezuelanos -, com preços até 100 vezes maiores que o tabelado pelo governo. Dono de um mercado em Caracas, José Campos tentou reabastecer sua venda em um mercado ilegal comandado por militares. "Os militares acompanhavam tudo e ganhavam sacos de dinheiro", disse. "Eles sempre tinham o que eu precisava."
Como resultado do tráfico de alimentos, a comida importada pelo governo com os escassos dólares provenientes do petróleo não chega a quem precisa. "Ultimamente a comida tem se tornado um negócio melhor que as drogas", disse o general da reserva Cliver Alcalá, que costumava vigiar as fronteiras.
O Ministério da Alimentação foi criado em 2004 pelo então presidente Hugo Chávez. Desde então, nacionalizou fazendas e fábricas de produtos alimentícios. Com isso, a produção privada de alimentos no país diminuiu drasticamente. Hoje, quase tudo que é consumido vem de fora da Venezuela.
"Se a Venezuela pagasse valores de mercado, poderíamos dobrar nossas importações. Em vez disso as pessoas estão passando fome", disse o professor de agronomia da Universidade de Zulia, Werner Gutierrez.
Preocupados com a alta incidência da cobrança de propinas, as três principais empresas que importam alimentos no mundo, todas sediadas nos Estados Unidos, deixaram de vender diretamente para o governo da Venezuela.
Um empresário sul-americano do ramo disse à AP ter pago milhões de dólares em propina a autoridades venezuelanas depois que a escassez de alimentos se agravou. Só o Ministro de Alimentação, o general Rodolfo Marco Torres, teria recebido US$ 8 milhões. O empresário falou sem se identificar porque não queria admitir publicamente seu envolvimento em corrupção.
Ainda de acordo com ele, as propinas são volumosas porque os empresários conseguem construir margens de lucro igualmente altas em negociações com o governo. Um desses contratos obtidos pela AP mostra que o governo venezuelano pagou US$ 52 milhões na compra de milho. Por esse contrato, foi pago um suborno de US$ 20 milhões.
O ministro não quis se pronunciar sobre as denúncias. No passado, ele declarou que não iria se envolver em brigas com a "oposição apátrida", que o governo acusa de travar uma "guerra econômica" contra o chavismo.
Alguns dos contratos envolvem empresas sem experiência com a produção de alimentos e outras que existem apenas no papel. Documentos mostram que Marco Torres fechou um negócio com a panamenha Atlas Systems International, uma empresa de fachada, assim como a J.A. Comércio de Gêneros Alimentícios, registrada na Grande São Paulo num endereço fantasma.
Foto: AP Photo/Ricardo Nunes
Soldado venezuelano vigia o tráfego de caminhões em Puerto Cabello, que recebe a maior parte dos mantimentos importados pelo país
As duas empresas enviaram US$ 5,5 milhões em 2012 para uma conta em Genebra, na Suíça, controlada pelos cunhados do então Ministro da Alimentação, o general Carlos Osório. O general, hoje responsável pela corregedoria da FANB, não respondeu às acusações, mas costuma vinculá-las também à oposição.
"O Estado tem a obrigação de combater a corrupção em todos os níveis do governo", disse o ministro da Defesa Vladimir Padrino. Ainda assim, o tráfico de alimentos transcorre entre os portos e mercados do país. Em Puerto Cabello, que recebe a maior parte dos mantimentos importados, é comum oficiais da alfândega segurarem navios até o pagamento de propinas, segundo estivadores locais.
Depois que a carga é entregue, funcionários da alfândega cobram a sua parte da propina e às vezes se recusam a dar prosseguimento aos trâmites sem pagamento.
Se os importadores se negam a participar, é normal ver a comida apodrecer.  "No ano passado enterramos contêineres com frango, carne e feijão estragado", disse o operador de guindaste Daniel Arteaga.
Depois que sai dos portos, os militares cobram propinas em postos de controle nas estradas, principalmente de caminhões de carga. No fim da cadeia de corrupção, alguns oficiais tomam conta eles mesmos de mercados clandestinos.
José Ferreira, dono de uma padaria, disse que tem que fazer sempre dois pagamentos para comprar seus produtos, como o açúcar, por exemplo: enquanto o primeiro paga o preço oficial do produto, o segundo cobre a propinas cobrada pelo militares, neste caso, 30 vezes maior que o preço oficial. "Não temos outra opção", disse. / AP


Crise venezuelana faz Cuba entrar em recessão pela 1ª vez em 20 anos
O Estado de S. Paulo, 30/12/2016
Em meio ao caos econômico, governo de Caracas teve de reduzir fornecimento de petróleo para ilha
Abalada pela crise da Venezuela, Cuba entrou em recessão pela primeira vez em mais de duas décadas, ao registrar uma queda de 0,9% do PIB em 2016, após um crescimento de 4,4% no ano passado. “As limitações no fornecimento de combustíveis e as tensões financeiras se agravaram no segundo semestre, levando à queda do PIB de 0,9%”, afirmou ontem o presidente Raúl Castro.
“Em 2017, persistirão as tensões e os desafios que podem até mesmo recrudescer em determinadas circunstâncias.” Esta é a primeira vez desde 1995 que o governo socialista prevê um resultado negativo do PIB, de acordo com a série estatística. No início dos anos 90, a ilha enfrentou sua pior crise com o colapso do comunismo na Europa e a dissolução da União Soviética, com contrações da economia que chegaram a 15% em apenas um ano.
Em meio ao recuo global no preço das matérias-primas, Cuba experimenta queda em suas exportações de níquel, produtos refinados de petróleo e de açúcar, além de uma redução nos ingressos de recursos pela venda de serviços médicos a países aliados exportadores de petróleo como Venezuela e Angola.
De acordo com analistas, a economia cubana foi prejudicada especialmente pela redução nas vendas de petróleo para a Venezuela, que está mergulhada em uma grande crise econômica. Caracas reduziu este ano em 40% o fornecimento de petróleo a Cuba. Por ouro lado, a retomada nas relações entre Cuba e Estados Unidos impulsionou o turismo e deve sustentar no curto prazo um crescimento maior do setor privado em razão de um aumento de remessas financeiras de expatriados.
Especialistas, contudo, temem que esse crescimento vá se reduzindo em razão das políticas do presidente eleito dos EUA, Donald Trump, que prometeu “terminar” com a reaproximação entre os dois países caso Havana não ofereça a Washington o que ele chama de “um melhor acordo”.
Avanço. Na terça-feira, o ministro da Economia e Planejamento de Cuba, Ricardo Cabrisas, reconheceu, em um encontro com jornalistas a portas fechadas, que a principal razão para a contração deste ano foi uma redução das exportações para nações aliadas produtoras de petróleo afetadas pela queda no preço da commodity.
O porcentual sugere que a economia centralizada pelo Estado caiu com força no segundo semestre do ano, após uma drástica redução das importações, dos investimentos e do uso de combustível em razão de uma crise de liquidez. Para o primeiro semestre, o governo cubano anunciou uma previsão de crescimento tímido de apenas 1%.
Recentemente, Cabrisas garantiu, em pronunciamento feito na Assembleia Nacional de Cuba, que o panorama econômico havia melhorado, estimando crescimento sólido em 2017 para o turismo e a indústria açucareira, de acordo com artigos publicados por meios de comunicação oficiais. “Para o ano de 2017, prevemos um crescimento do PIB de 2%”, afirmou Cabrisas.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Venezuela fora do Mercosul (finalmente) - Mac Margolis (Bloomberg)


https://www.bloomberg.com/view/articles/2016-12-09/mercosur-turns-its-back-on-a-diminished-venezuela

Mercosur Turns Its Back on a Diminished Venezuela

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When Hugo Chavez took office in Venezuela in 1999, he promised his compatriots many wonders, from a hemispheric “Bolivarian” alliance against gringo imperialism to 21st-century socialism. Free trade was not part of the deal. So it couldn’t have come as a total shock when on Dec. 2, four South American nations ruled to suspend Venezuela from the continental trade compact to which it never ought to have been admitted.
And yet, for the keepers of the Bolivarian Republic, the ouster from Mercosur might have been a diplomatic outrage. Venezuelan President Nicolas Maduro, who succeeded Chavez in 2013, called the move a “coup”; Foreign Minister Delcy Rodriguez denounced it as “an illegal action” and vowed to appeal. Assorted sympathizers and fringe militants as far away as Uruguay and Paraguay joined the chorus.
What’s at stake isn’t the future of regional commerce. Venezuela’s economy is such a shambles -- merchants have taken to weighing currency instead of counting it -- that trade in any conventional sense of the word ceased to matter long ago. But the choler in Caracas and the initiative by Venezuela’s once-accommodating neighbors said a good deal about the state of play in Latin American relations, where over a decade of diffidence and indulgence before the region’s stumbling autocracy has given way to umbrage and confrontation.
Sure, Chavez, had long pushed for a seat in the region’s signature commercial union, but less to join the compact than to subvert it. As early as 2007, he spoke of trying to “decontaminate” the block of its “neoliberal” bent. Instead, he saw Mercosur membership as a credential to raise Venezuela’s standing in the Americas even as his government eroded democratic rights, jailed opponents, and stunted economic liberty at home. Such behavior ran counter to Mercosur’s charter, which by the Ushuaia Protocol restricted membership to countries with “fully functioning democratic institutions,” and called for sanctions in case of a breakdown of democracy.
Clearly, Venezuela was an outlier. And yet, because criticizing an allied nation was long an unstated taboo in Latin America -- and practically a code of honor during the left’s governing heyday over the last decade -- neither Chavez nor Maduro needed to worry about diplomatic blowback, much less the migraine-inducing fine print of trade treaties. Four years after its backdoor induction to the trade bloc -- a legally questionable maneuver that badly roiled hemispheric diplomacy -- Venezuela still hadn’t bothered to adhere to adhere to Mercosur’s basic precepts, including the founding Treaty of Asuncion and the common external tariff. “Venezuela never should have been allowed to join,” said Brazilian diplomat Paulo Roberto de Almeida, who heads the International Relations Research Institute.
That dereliction was serious enough to exclude Venezuela from Mercosur’s negotiations to strike a trade agreement with the European Union, but drew little more than a shrug from the trade group’s controlling partners. The waiver was not a show of Latin bonhomie. Under former President Luiz Inacio Lula da Silva, Brazil nursed global ambitions, and promoting national champions abroad was part of the game. Flush with oil money, Venezuela was a plum client for contractors like the Odebrecht Group, which took on an estimated $25 billion in sometimes dubious public works with soft loans from Brazil’s national development bank.
Now all that has changed. As Venezuela’s economy tanked, unpaid debts (totaling some $2 billion in 2014) to Brazilian contractors piled up. Tolerance also faded as leftists leaders across the hemisphere lost traction, including in Mercosur. Argentina, Brazil and Paraguay are run by free market centrists, who quickly unfriended the Maduro regime. “The mess in Venezuela has hurt Brazil’s own international reputation especially,” said Oliver Stuenkel, a scholar of international relations at the Getulio Vargas Foundation. “Brazil has not fulfilled its role as a regional leader.” They were backed by Luis Almagro, the outspoken head of the Organization of American States, who in a break with that body’s anodyne diplomacy threatened to invoke the compact’s democracy charter against Venezuela’s excesses.
How much the hardening of Latin attitudes will sway the Maduro government is debatable. Street protests, pressure by the opposition-led legislature, censure by the O.A.S, appeals by Pope Francis -- so far nothing has deterred the bus driver-turned-president from his economic collision course or trashing what’s left of Venezuelan democracy. Ousting Venezuela from Mercosur may have been a symbolic gesture, but at least that’s one credential that Latin America’s outlier government no longer gets to wave.
This column does not necessarily reflect the opinion of the editorial board or Bloomberg LP and its owners.
To contact the author of this story:
Mac Margolis at mmargolis14@bloomberg.net
To contact the editor responsible for this story:
James Gibney at jgibney5@bloomberg.net

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Venezuela suspensa do Mercosul: deveria ter entrado? - Carlos Malamud (InfoLatam) e Paulo Roberto de Almeida

O mais incrível de toda essa história é a sucessão de ILEGALIDADES que foram cometidas por TODAS as partes desse bloco antes promissor e depois praticamente destruido pelas diplomacias lulopetista, kirchnerista, chavista e bolivarianas, de forma geral.
Em 2005, quando Chávez anunciou sua decisão -- sim SUA, não do país, da burocracia técnica, dos empresários, do parlamento venezuelano -- de ingressar no Mercosul deixou MUITO CLARO que não queria o Mercosul neoliberal, como ele afirmava, e sim que iria destruir o Mercosul livre-cambista para colocar em seu lugar um Mercosul "de los pueblos", ou seja, conforme ao "socialismo do século XXI".
NINGUÉM, na época, do governo brasileiro ou de qualquer outro governo, protestou CONTRA essa afirmação absurda do caudilho bolivariano, NENHUM representante do Brasil levantou-se para condenar essa atitude absolutamente contrária, negativa, prejudicial ao Mercosul, contrariando todos os seus valores, princípios, objetivos e mecanismos de funcionamento.
Todos continuaram como se fosse normal um "futuro sócio" afirmar com todas as letras que, ao ingressar no "clube", pretendia mudar todas as suas regras, num sentido claramente contrário a tudo o que tinha sido feito até então.
Passaram-se os quatro anos acordados para a concretização do acesso da Venezuela (ou do Chávez?) no Mercosul, e absolutamente NADA ocorreu, ou seja, a Venezuela JAMAIS cumpriu os objetivos mínimos da união aduaneira.
Em 2010, constatando que NADA tinha sido feito pelo país pretensamente interessado em ingressar no bloco, sequer protestaram, e concederam mais QUATRO anos para que a Venezuela se movimentasse de alguma forma.
Em 2012, quando aproveitando (ILEGALMENTE) o impeachment do presidente paraguaio Fernando Lugo (aquele bispo reprodutor) pelo parlamente do país, estritamente dentro das regras constitucionais, os três sócios SUSPENDERAM (ILEGALMENTE, pelas regras do Protocolo de Ushuaia) o Paraguai, e colocaram a Venezuela para dentro, também ILEGALMENTE, pois o país andino SEQUER tinha RATIFICADO o seu próprio Protocolo de acesso ao Mercosul, ou seja, não cumpria regras mínimas para ingressar na união aduaneira.
A Venezuela sequer ratificou o ACE-18, ou seja, o Tratado de Assunção, tal como registrado na ALADI, e portanto NÃO PODERIA ser considerada membro do Mercosul, e os demais membros agiram mais uma vez ILEGALMENTE ao sancionar tal decisão.
Grande parte da responsabilidade incumbe ao Brasil dos companheiros, à estupefaciente diplomacia lulopetista, a maior fraude que já ocorreu em nossa política externa.
Como isso pôde (sim, gosto deste circunflexo) ocorrer, durante tanto tempo, sem qualquer protesto por parte dos servidores e envolvidos nessas ilegalidades, é ainda algo estranho para mim, mas como estive fora do Itamaraty (ou pelo menos sem cargo nenhum durante toda a gestão companheira) não sei explicar como tantos absurdos ocorreram. É o que vou agora investigar.
Paulo Roberto de Almeida
Brasilia, 6 de dezembro de 2016

Carlos Malamud: Mercosur Venezuela

Mercosur suspende a Venezuela

mercosur
Infolatam
Madrid, 4 diciembre 2016
Por CARLOS MALAMUD
(Infolatam).- La suspensión de Venezuela como miembro del Mercosur ha servido para enviar a la comunidad internacional mensajes claros y muy diversos. En primer lugar, que el tiempo político en América Latina ha comenzado a cambiar con la llegada de gobiernos menos respetuosos de los “usos y costumbres” propios de la diplomacia bolivariana, hasta ahora más partidaria del ordeno y mando que del diálogo y la negociación, inclusive con sus socios importantes. En segundo lugar, consecuencia de lo anterior, pero también de la muerte de Hugo Chávez y de la profunda crisis económica venezolana, la decadencia del ALBA y con ella un creciente aislamiento regional del proyecto bolivariano. Y por último, el estilo prepotente, casi barriobajero, de quienes deberían representar a Venezuela en la escena internacional, comenzando por Nicolás Maduro y su ministra de Exteriores Delcy Rodríguez.
Tras el conflicto creado por la pretensión de Argentina, Brasil y Paraguay de que Venezuela no ejerciera la presidencia pro tempore de Mercosur, los cuatro países fundadores decidieron darle al gobierno de Caracas un plazo relativamente breve, hasta el 1 de diciembre, para adecuar su legislación al acervo comunitario. Pese a que Maduro afirmó haber cumplido con el 95% de lo requerido, el punto de vista mayoritario es exactamente el contrario. Incluso el viceministro de Exteriores de Uruguay José Luis Cancela señaló que Venezuela aún debe incorporar 228 normas a su legislación, siendo las dos más relevantes las referidas al protocolo de derechos humanos del Mercosur y al Acuerdo de Complementación Económica Nº18 (ACE18). Este último “es el corazón… del propio Mercosur”, al regular “la arquitectura comercial de la vinculación entre los socios”.
CARACAS (VENEZUELA), 02/12/2016.- EFE/Cortesía Palacio de Miraflores/SOLO USO EDITORIAL/NO VENTAS
Debida a esta circunstancia Maduro se mostró dispuesto a viajar a Montevideo para entrevistarse con el presidente Tabaré Vázquez para solucionar las cosas, tras pedirle: “No le haga eso a Venezuela”.
Se da la circunstancia de que Uruguay ha sido hasta ahora el país menos proclive a sancionar a Venezuela o a apartarlo de Mercosur, pese a que hace ya más de cinco años que se exige completar la adecuación normativa. Incluso el propio Cancela ha dicho que el gobierno de Caracas debía seguir participando en las distintas estructuras del bloque con voz pero sin voto. Debida a esta circunstancia Maduro se mostró dispuesto a viajar a Montevideo para entrevistarse con el presidente Tabaré Vázquez para solucionar las cosas, tras pedirle: “No le haga eso a Venezuela”.
Pese a la consideración mostrada con Uruguay, la norma ha sido la opuesta. Para comenzar habría que recordar el uso indiscriminado y peyorativo del concepto “Triple Alianza” para descalificar a Argentina, Brasil y Paraguay. La ministra Rodríguez insistió en un tuit que “Venezuela no reconoce este acto írrito sustentado en la ley de la selva de unos funcionarios que están destruyendo el Mercosur” y acusó a sus “burócratas intolerantes” de secuestrar los mecanismos de la integración para expulsarlos del bloque.
No sólo eso. En un acto de clara injerencia en los asuntos de los demás países le pidió a sus ciudadanos que se manifestaran delante de las instituciones comunitarias para impedir la expulsión de Venezuela. Si alguno de los gobiernos acusados hubiera tenido una reacción de ese estilo la respuesta venezolana hubiera sido estentórea y clamorosa, sumando incluso, como en el pasado, las acostumbradas muestras de solidaridad de Rafael Correay Evo Morales.
Este reciente apego bolivariano por las normas y las instituciones contrasta con el desprecio de 2005, cuando los entonces presidentes de Mercosur (Néstor Kirchner, Luis Inácio Lula da Silva, Nicanor Duarte y Tabaré Vázquez) accedieron al pedido de Hugo Chávez de integrarse como miembro de pleno derecho tras su salida de la CAN (Comunidad Andina). Esto ocurrió sin ningún tipo de discusión, ningún estudio previo sobre el impacto de dicha medida ni ninguna política de convergencia con la realidad económica institucional, del bloque. Eran otros tiempos, los tiempos en que los deseos de Chávez debía satisfacerse sin discusión, pese a estar vigente la cláusula democrática.
Hoy las cosas han cambiado. La actitud beligerante de Paraguay contra Venezuela, producto de su suspensión de Mercosur en 2012, tras el juicio político que destituyó a Fernando Lugo, ha sido acompañada por la postura crítica de Argentina y Brasil. En aquel entonces se dio la circunstancia de que prácticamente el mismo acto también permitió el ingreso definitivo del gobierno bolivariano en Mercosur. Claro está que para que esto pudiera producirse hubo que doblegar las normas, o como reconoció el entonces presidente uruguayo José Mujica, los elementos políticos prevalecieron sobre los jurídicos. Pero entonces nadie protestó, ni se quejó de un “golpe de estado”, como hizo en esta oportunidad la ministra Rodríguez.
En relación con otros golpes imaginarios, la ex presidente brasileña Dilma Rousseff se solidarizó con la posición bolivariana al afirmar tajante que la medida atenta contra la soberanía venezolana y que la acción estuvo guiada por intereses imperiales: “La suspensión es un recurso extremo e inadecuado. Sin embargo, no se puede esperar mucho de un Gobierno ilegítimo que ha usurpado mi mandato por medio de un golpe parlamentario disfrazado de impeachment. La medida muestra la pequeñez del Gobierno de Brasil a las demandas de América Latina”. Su incomprensión del nuevo clima que empieza a vivirse en la región se confirma con su afirmación de que se trata de un acto peligroso e irresponsable que compromete la convivencia entre las naciones de América del Sur.
Lo que es indudable, más allá de las declaraciones más o menos altisonantes de las autoridades bolivarianas, es que su influencia regional ha mermado considerablemente. Poco antes de la muerte deFidel Castro, el presidente argentino Mauricio Macri señalaba en relación al triunfo de Donald Trump que: “La nueva corriente de líderes latinoamericanos no está pendiente de Cuba”. Esta misma frase se podría perfectamente hacer extensiva a Venezuela. Sin embargo, por otras razones, especialmente por los efectos desestabilizadores que su crisis podría tener sobre el conjunto de América Latina, los presidentes regionales deberían estar mucho más pendientes de lo que allí ocurre. Pero no para acatar ciegamente las órdenes o deseos del mandatario de turno, sino para evitar una desgracia de incalculables consecuencias, tanto para Venezuela como para el conjunto de la región.

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Venezuela: o que vai se passar depois do fracasso do dialogo mediado pelo Vaticano? Ninguem sabe...

Existe algum futuro para o diálogo na Venezuela?


A situação da Venezuela, iniciado o acalentado diálogo entre o governo e as oposições, com mediação do Vaticano, aproxima-se claramente de um impasse, ainda que não se possa prever ainda um desfecho. O governo se empenha em bloquear todas as saídas políticas a um conflito que é o que se estabeleceu em torno da permanência ou não do presidente Nicolás Maduro em seu cargo, esperado pelas oposições numa derradeira saída constitucional, e sabotado pelo próprio governo, o presidente Maduro em primeiro lugar, o PSUV logo em seguida, as FFAA em terceiro lugar, com talvez algumas oscilações de conduta, caso a situação se aproxime de um enfrentamento de tipo violento. Em termos claros, ninguém consegue prever, nem mesmo os principais protagonistas, o que pode ocorrer na Venezuela nas próximas semanas. A situação da população, por sua vez, se agrava cada vez mais, em face do desabastecimento e da própria crise política, alimentada pelo governo diretamente.
O Brasil, país que sob os governos petistas anteriores, em especial o presidente Lula pessoalmente, apoiou aberta e enfaticamente o regime chavista em todas as suas etapas, carrega enorme responsabilidade sobre o impasse que se criou em função precisamente desse suporte político e material fornecido ao regime durante os quase quinze anos de convivência amigável, em grande medida secreta. Não é improvável que o apoio recebido por Chávez de Lula tenha outros elementos a serem considerados do que simples simpatias ideológicas, ou diretrizes emanadas dos comunistas cubanos, diretamente ou via Foro de São Paulo. Os cubanos dominam tão amplamente as duas pontas dessa relação, por motivos que superam o destino individual dos protagonistas, que caberia agregar esse fator em qualquer investigação que se faça sobre os aspectos públicos – negócios, projetos conjuntos, visitas diplomáticas – e sobretudo sobre os aspectos secretos dessa interação pouco documentada nos registros oficiais das duas partes. Agora que Chávez desapareceu – mas os cubanos permanecem – e que o ciclo petista nos quatro últimos governos brasileiros se encerrou, vários elementos dessa relação assumiram necessariamente formas ainda menos claras, ou abertas.
O novo governo do Brasil não tem, obviamente, simpatias pelo regime chavista da Venezuela, mas hesita fortemente quanto aos caminhos a serem adotados, por várias razões, nem todas podendo ser confessadas abertamente. Uma delas, justamente, é a existência de algum comércio residual entre os dois países, uma vez que a Venezuela já chegou a representar um dos mais importantes três ou quatro saldos excedentários das balanças comerciais bilaterais do Brasil. Um rompimento diplomático ou afastamento ainda mais nítido poderia colocar em dificuldade para a liquidação desses saldos, agora irrelevantes no plano macroeconômico, mas ainda importante no plano microeconômico para algumas empresas do norte ou mesmo do sudeste. Existem, por outro lado, vários financiamentos oficiais e negócios em curso, que o governo não quer ver prejudicados se houvesse um rompimento ainda maior do que a atual situação de retirada recíproca de embaixadores.
As hesitações mais importantes se explicam contudo pelo temor de que, ao cabo de uma pressão aberta e declarada do governo brasileiro, sobrevenha um rompimento explícito e formal, o que deixaria o Brasil sem qualquer condição de conduzir contatos, negociações, ou até tratar dos impactos decorrentes do agravamento da crise, sobretudo em seus aspectos humanitários na fronteira e além dela. Essas hesitações são reais, mas não explicam o pouco ativismo do Brasil nos organismos regionais e multilaterais do hemisfério. Por um lado o governo brasileiro não tem nenhuma simpatia pelo presidente da Unasul, não apenas em vista da simpatia sempre demonstrada por Samper em favor dos governos lulopetistas, como também porque essa entidade é considerada como pró-chavista e totalmente complacente com os governos bolivarianos. A OEA, por sua vez, é considerada muito próxima dos EUA para ser eficiente num mecanismo de pressões políticas e de negociações mediadas diretamente por ela (inclusive porque o seu secretário-geral já se inviabilizou como mediador ou patrocinador de um diálogo).
O Mercosul, por sua vez, que já cometeu inúmeras irregularidades nos processos de adesão e de incorporação da Venezuela ao bloco, encontra-se paralisado em função de diferenças de pontos de vista entre seus membros quanto às condições de aplicação da cláusula democrática – Protocolo de Ushuaia – ou qualquer outra medida mais forte. Os chanceleres dos quatro membros originais, à exclusão da própria Venezuela, que tem insistido estar na presidência pró-tempore do bloco, apresentaram uma espécie de ultimatum light à Venezuela, colocando a data de 1/12/2016 como o limite de tempo no qual a Venezuela deveria cumprir uma série de requisitos técnicos para confirmar sua incorporação plena às regras comerciais do Mercosul. Mas isso não representa nenhuma grande ameaça ao governo chavista em si, apenas um incômodo suplementar. Nem se sabe o que ocorrerá, efetivamente, após a data fixada pelos quatro membros do bloco.
A crise econômica se aprofunda, a crise política só pode se agravar com as manobras e tergiversações do governo chavista – ou de Maduro pessoalmente – e o Brasil e o Mercosul encontram-se totalmente indecisos quanto ao que fazer para poder influir no processo político venezuelano. De fato, uma atitude mais incisiva por parte do governo Temer do Brasil teria um efeito muito limitado sobre os atuais dirigentes da Venezuela, com os quais, de resto, não existe diálogo possível, em vista das ofensas já dirigidas pelo presidente Maduro e por sua chanceler contra o governo “golpista” que assumiu oficialmente pouco mais de dois meses atrás (mas o distanciamento já tinha se manifestado desde maio último, com o afastamento provisório da presidente).
Aparentemente, portanto, a crise venezuelana continuará se desenvolvendo com sua dinâmica própria, com um papel irrelevante, ou absolutamente marginal, dos países vizinhos e das organizações regionais num processo que pode atingir algum clímax nas próximas semanas, com o fracasso previsível do atual diálogo mediado pelo Vaticano.
O que fará o Brasil? Provavelmente muito pouca coisa, além de preparar as FFAA para atuar na fronteira de Roraima para acolher um eventual afluxo ainda maior de venezuelanos, fugindo por motivos econômicos, ou saindo no seguimento de uma crise ainda maior, com derramamento de sangue, divisão das forças militares e políticas (do PSUV), e precipitação de choques violentos entre protagonistas ainda não de todo definidos. Se a situação se agravar realmente, nenhum dos órgãos regionais está em condições de exercer qualquer papel protagonista, e talvez o assunto reverta ao próprio Conselho de Segurança das Nações Unidas.
Não está claro que o Brasil esteja em condições de assumir qualquer liderança em qualquer cenário que se desenho, e isso é preocupante para um candidato a líder regional e alegadamente a uma cadeira permanente no CSNU. A única organização supostamente habilitada a atuar, politicamente, seria o Conselho de Defesa da Unasul, que é singularmente inoperante uma vez que a divisão entre bolivarianos e os demais países se fará clara desde o primeiro momento.
Ou seja, estamos numa situação de impasse real na Venezuela e de total indefinição da parte dos seus vizinhos e organismos regionais. O Brasil deveria, há muito tempo, ter proposto a criação de um “Grupo de Apoio ao povo venezuelano”: ele não o fez, não fará, e não tem condições diplomáticas ou políticas de fazê-lo. Pobre povo venezuelano, abandonado e sem solidariedade real na região ou fora dela.

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Venezuela: paises latino-americanos (menos os bolivarianos) expressam preocupacao (mais uma vez...)

Comunicado de los Gobiernos de Argentina, Brasil, Colombia, Costa Rica, Chile, Guatemala, Honduras, México, Panamá, Paraguay, Perú y Uruguay sobre la situación en Venezuela.
Miércoles 26 de Octubre de 2016

Los gobiernos de Argentina, Brasil, Colombia, Costa Rica, Chile, Guatemala, Honduras, México, Panamá, Paraguay, Perú y Uruguay:

Observamos con preocupación la aguda polarización por la que atraviesa Venezuela y reiteran su llamado para que las partes tengan voluntad política y establezcan un diálogo constructivo con soluciones que respeten el estado de derecho y las garantías constitucionales y permitan a todos los venezolanos ejercer sus derechos fundamentales.

Esperamos que las marchas del día de hoy se desarrollen en total tranquilidad y se garanticen los derechos de todos los ciudadanos venezolanos a manifestarse respetando las prácticas democráticas de nuestras sociedades.

Damos la más enfática bienvenida al acompañamiento por parte del Vaticano de tal modo a dar una mayor agilidad, con sentido de urgencia, a las gestiones para buscar, con el gobierno y la oposición, soluciones efectivas y duraderas para el pueblo venezolano.

Santo Domingo, Octubre 26 de 2016
http://www.cancilleria.gob.ar/comunicado-de-los-gobiernos-de-argentina-brasil-colombia-costa-rica-chile-guatemala-honduras-mexico

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Crude Nation: a destruicao da Venezuela pelo petroleo - Raul Gallegos (Nebraska UPress)

Petróleo é uma maldição, para países mal organizados. O Brasil estaria muito melhor hoje, se não tivesse descoberto o pré-sal. Isso atiçou a sanha dos companheiros mafiosos, e quadruplicou sua vontade de roubar. Certo: eles teriam destruído a Petrobras de qualquer jeito, mas talvez muito antes de toda a tragédia, que continuou a ser alimentada pela exuberância do pré-sal, que elevou as ações da Petrobras, deu-lhe um grau de investimento que ela não teria na ausência do pré-sal, não a teria endividado exageradamente, o bandido do Lula não teria modificado a Lei do Petróleo de 1997, não teria criado a Sete Brasil, uma empresa feita inteiramente para roubar em grande escala, não teria criado um enorme problema constitucional na repartição desses royalties que derivaram da modificação da lei, enfim, a desgraça seria menor, e teria tido um desenlace bem antes da agonia que foram os anos da Madame Pasadena.
No caso da Venezuela, o desastre foi muito maior, e o roubo em escala ainda mais gigantesca. A Alba só existiu em função dos petrodólares chavistas, e deve deixar de existir dentro em breve. Enfim, o petróleo na Venezuela foi a maldição absoluta, e o livro de Raúl Gallegos deve trazer promenores a esse respeito.
Dá para ler um excerto, mas está ainda muito caro para comprar. Em seis meses dá para comprar na Abebooks por poucos dólares.
Paulo Roberto de Almeida



Crude Nation
How Oil Riches Ruined Venezuela
Raúl Gallegos

hardcover2016. 256 pp.
9 photographs, 1 map
978-1-61234-770-7
$34.95 t
 


Beneath Venezuelan soil lies an ocean of crude—the world’s largest reserves—an oil patch that shaped the nature of the global energy business. Unfortunately, a dysfunctional anti-American, leftist government controls this vast resource and has used its wealth to foster voter support, ultimately wreaking economic havoc.

Crude Nation reveals the ways in which this mismanagement has led to Venezuela’s economic ruin and turned the country into a cautionary tale for the world. Raúl Gallegos, a former Caracas-based oil correspondent, paints a picture both vivid and analytical of the country’s economic decline, the government’s foolhardy economic policies, and the wrecked lives of Venezuelans.

Without transparency, the Venezuelan government uses oil money to subsidize life for its citizens in myriad unsustainable ways, while regulating nearly every aspect of day-to-day existence in Venezuela. This has created a paradox in which citizens can fill up the tanks of their SUVs for less than one American dollar while simultaneously enduring nationwide shortages of staples such as milk, sugar, and toilet paper. Gallegos’s insightful analysis shows how mismanagement has ruined Venezuela again and again over the past century and lays out how Venezuelans can begin to fix their country, a nation that can play an important role in the global energy industry.
 
Raúl Gallegos, a senior analyst for the consulting firm Control Risks, has been a featured columnist for Bloomberg View, covering Latin American politics, business, and finance. He has been an oil correspondent with Dow Jones and the Wall Street Journal.
"A timely, important book."—Publishers Weekly

"Crude Nation brilliantly paints the reality, and comprehensively expounds the extent and implications of Venezuela’s mishandling of precious and finite oil riches, and its unpropitious economic mismanagement."—Impeccable Business

“Gallegos provides a compelling, enlightening view into the everyday—challenging readers to understand life in one of the world’s most volatile economies.”—Ian Bremmer, president of the Eurasia Group and author of Superpower: Three Choices for America's Role in the World
 
“An invitation to understand the tragedy of one of the richest economies in the hands of an irresponsible and tyrannical government.”—Álvaro Uribe, former president of Colombia
 
“Venezuela’s tragedy was not inevitable. Why did it happen? How could it have been avoided? Who pushed Venezuelan society into the abyss of misery, death and corruption where it now lies? These pages offer interesting clues to answer these questions.”—Moisés Naím, author of The End of Power 
 
“Raúl Gallegos is a sharp-eyed guide to the alternate universe that is contemporary Venezuela. His new book, Crude Nation, makes for a lively, surprising read.”—Paul M. Barrett, author of Law of the Jungle
 
Crude Nation ponders Hugo Chávez’s legacy: an economy run more on magical realism than on either Keynes or Marx. How does a country with the world’s largest oil reserves fail so miserably in virtually every critical sector? Gallegos has a compelling theory why and has more answers than most.”—Ann Louise Bardach, PEN award–winning journalist and author of Without Fidel: A Death Foretold in Miami, Havana, and Washington
Crude Nation is essential reading for those wanting to understand what is happening in Venezuela today and what it will take to turn that nation around.”—Shannon K. O’Neil, Nelson and David Rockefeller Senior Fellow for Latin American Studies at the Council on Foreign Relations and author of Two Nations Indivisible: Mexico, the United States, and the Road Ahead
 
“Raúl Gallegos does a superb job chronicling Venezuela’s myriad woes. No other account captures in such stark terms and vivid detail how calamitous the utter mismanagement of oil riches can be for an economy and society. Crude Nationtells a tragic, cautionary tale—one with untold costs for most Venezuelans.”—Michael Shifter, president of the Inter-American Dialogue think tank