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terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

Abertura comercial lenta e gradual - Marcos Troyjo (CB)

'Vamos promover a abertura comercial do Brasil', diz Marcos Troyjo

Secretário de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais do Ministério da Economia garante que governo vai abrir frentes negociadoras e tarifárias, além de simplificar processos e reduzir impostos

Marcos Troyjo participou do seminário Correio Debate: 'Desafios da Economia em 2019' (foto: Minervino Júnior/CB/D.A Press)
O Brasil é um país muito fechado comercialmente e o atual governo pretende promover “uma abertura responsável nos próximos quatro anos”. Foi o que garantiu o secretário de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais do Ministério da Economia, Marcos Troyjo, no painel A Importância do Comércio Internacional, realizado nesta terça-feira (5/02) durante o Correio Debate: "Desafios da Economia em 2019".

Troyjo fez um breve relato histórico para analisar os vários milagres econômicos observados no mundo nos últimos 70 anos. Segundo ele, os países que conseguiram mudar de patamar nesse período -- Alemanha, Japão, Chile, CHina, Espanha, Cingapura e Coreia do Sul -- conquistaram essa evolução com base nas relações internacionais. “Essas nações tiveram uma significativa parcela do seu PIB (Produto Interno Bruto) representada pela soma de exportações e importações. Esses países usaram o comércio exterior como trampolim”, destacou.
Enquanto isso, comparou Troyjo, outros países permaneceram “ensimesmados” com pequena parcela de comércio exterior, exportando e importando pouco. “No Brasil, se excluirmos os famosos ciclos da monocultura da exportação (café e cana), raramente veremos um momento em que o país tenha mais de 30% do PIB representado pelo comércio exterior”, ressaltou o secretário.
Segundo ele, a fatia que o Brasil ocupa em todo o comércio internacional também é pequena, oscila entre 1% e 1,3% entre tudo o que se compra e vende no mundo. “O Brasil é um país fechado e precisamos nos abrir. Mas o sucesso não é só pela abertura comercial. Precisa vir acompanhada de outras medidas”, assinalou.
Troyjo afirmou que é preciso considerar três compartimentos: conjuntura, estrutura e abertura. “Atualmente, as circunstâncias apontam para a disputa comercial entre as duas potências China e Estados Unidos. Há quem diga que existe uma guerra fria entre os dois, mas o fato é que existe um alto grau de interdependências entre as duas nações”, disse.
O secretário destacou que o Brasil precisa retomar o foco nas relações com os EUA. “Na nossa conjuntura, não podemos deixar de levar em consideração nossas relações comerciais com os EUA”, reiterou. Mas mercados como o Sudeste Asiático e o Mercosul também não podem ser ignorados. 
“O que precisamos fazer é nos estruturarmos para essa competição. Nossa agenda é de correção de equívocos do passado, que passa pelas reformas. Precisamos ter a capacidade de responder, qual nossa política comercial”, afirmou. A formulação da coordenação interna, destacou o secretário, reside em definir o interesse nacional e melhorar o nosso sistema multiagências.”
Sobre a abertura, Troyjo destacou que o país está fechado por barreiras tarifárias, regras e burocracia. “Vamos abrir o país nos próximos quatro anos. Seja pela frente negociadora ou tarifária, pela simplificação dos processos e pela queda de impostos, ou ainda pela exposição de setores brasileiros, a economia vai se abrir. Será muito mais integrada. Mas não vamos fazer isso de forma irresponsável e sim com sintonia e sincronia”, garantiu.

Paulo Guedes prepara abertura do mercado - Financial Times

Paulo Guedes prepara 'perestroika' de liberalização do mercado 

Após 20 anos de ditadura e 30 de social-democracia, a virada para a direita é saudável, diz guru de Bolsonaro 


Nova York 
Financial Times, 11/02/2019

Paulo Guedes leva o dedo à têmpora. "As pessoas da esquerda têm cabeças moles e bom coração", ele diz. "As pessoas da direita têm cabeças duras, e..." Ele busca a frase correta. "Corações não tão bons".
É um momento de franqueza para o "superministro da economia" do Brasil, já que o presidente para quem ele trabalha, Jair Bolsonaro, é um capitão reformado do exército, direitista, e visto internacionalmente como uma espécie de protofascista com um fraco por ditaduras militares.
A declaração também é indicativa da amplitude das posições de Guedes, e de sua crença de que Bolsonaro não é o monstro extremista que muita gente no exterior acredita. "Estamos criando uma sociedade aberta ao modo popperiano", ele diz, em uma das diversas menções que fez ao filósofo austríaco Karl Popper –proponente de uma democracia liberal dinâmica– em uma conversa ampla com o Financial Times em seu escritório em Brasília.
"Se os modos de Bolsonaro são bruscos, isso é só aparência. Ele vai ser duro com os bandidos", acrescenta Guedes, citando os 64 mil homicídios acontecidos no Brasil em 2017. Que Popper também seja um dos heróis de George Soros, filantropo liberal odiado por alguns dos etnonacionalistas no séquito de Bolsonaro, é uma ironia que parece escapar a Guedes.
"A ideologia é o verdadeiro inimigo", ele diz. "Já eu sou apenas um cientista fazendo meu trabalho. Cada um tem seu papel". Guedes, economista educado na Universidade de Chicago e bem sucedido administrador de fundos de investimento no Rio de Janeiro, pode ser considerado como o segundo homem mais poderoso do governo brasileiro, com cinco ministérios –fazenda, comércio, trabalho, indústria e desenvolvimento– em sua pasta. E certamente é o mais ativo.
Enquanto Bolsonaro se recupera de uma cirurgia, o novo governo vem sendo prejudicado por disputas internas; mais recentemente, o conservador Ernesto Araújo, ministro do Exterior, buscou uma linha mais dura quanto à Venezuela, ante a abordagem militar mais cautelosa apoiada pelo vice-presidente, general Hamilton Mourão.
Em contraste, a equipe econômica de Guedes já começou o trabalho em ritmo acelerado, com propostas ambiciosas de reforma. "O Brasil é a oitava maior economia do planeta, mas está em 130º lugar em grau de abertura, perto do Sudão. Também está em 128º lugar em termos de facilidade de fazer negócios. Quero dizer... Jesus Cristo!", ele diz, saltando da cadeira.
Guedes –bronzeado, intenso em sua conversação, e movendo as mãos nos gestos largos característicos dos moradores do Rio de Janeiro– diz que deseja cortar essas posições pela metade em apenas quatro anos, por meio de cortes de gastos, reforma do bizantino código tributário brasileiro, eliminação de burocracia e privatização de ativos estatais.
Nascido em uma família de classe média baixa, Guedes bancou sua educação por meio de bolsas de estudo e conquistou um doutorado em economia pela Universidade de Chicago. Mais tarde, trabalhou no Chile durante a ditadura de Pinochet, e só saiu de Santiago com sua mulher depois de ter surpreendido a polícia secreta revistando seu apartamento.
"O Chile que encontrei era mais pobre do que Cuba e a Venezuela hoje, e os 'Chicago boys' consertaram o país. Hoje o Chile é como a Suíça", ele diz, desconsiderando custos sociais como o desemprego de 21% que o país registrava em 1983. "Isso é asneira", ele diz. "O desemprego já estava lá. Mas estava escondido dentro de uma economia destruída". É uma opinião contenciosa.
De volta ao Brasil, ele se tornou administrador de investimentos, "day trader" ocasional, e colunista prolífico na imprensa. Ele diz ter sido apresentado a Bolsonaro "exatamente um ano e um dia atrás", e que rejeitou diversos convites anteriores para postos no governo; Guedes recorre ao jargão dos operadores de mercado para justificar sua escolha de aceitar o convite do presidente.
"Passei a vida gerando alfa [desempenho superior ao mercado] e vendo sucessivos governos destruírem beta", ele diz. "Agora quero melhorar o beta do Brasil", acrescenta, usando a letra grega que descreve o desempenho subjacente do mercado.
Depois de 20 anos de ditadura e 30 anos de social-democracia, a virada do Brasil para a direita é saudável, ele diz. "Quando os liberais chegam ao poder, isso é boa notícia, não má notícia".
Ainda restam dúvidas, no entanto. E quanto à política social, se considerarmos a desigualdade gritante do Brasil? Será que sua magia do livre mercado se manterá compatível com o liberalismo político, dadas as inclinações aparentemente autoritárias de Bolsonaro?
"Certamente. A Rússia e o Brasil tiveram a glasnost antes da perestroika", ele diz, se referindo a políticas de abertura ou liberalização política e econômica, respectivamente. "As duas coisas são necessárias. Com isso você tem crescimento, e uma classe média que traz estabilidade". O caminho alternativo tomado pelo Brasil conduz a um Estado de rentistas, caracterizado pela corrupção.
"Somos uma democracia perneta", ele diz. "O sistema é corrupto. Por que outro motivo Lula, o político mais popular do Brasil, seria condenado a 13 anos de prisão por acusações de corrupção?"
Ele aponta para um televisor, no qual um noticiário acabava de informar sobre a mais recente condenação do ex-presidente. Luiz Inácio Lula Silva já tinha sido sentenciado a 12 anos de prisão. Os críticos dizem que isso foi obra de um Judiciário manipulado pelos políticos, que queriam excluir o líder esquerdista da eleição e abrir caminho à vitória de Bolsonaro.
Guedes aponta que em lugar disso foi o sistema de compadrio profundamente enraizado na política brasileira que o enredou. A receita para corrigir esse problema é "uma economia propelida pelo mercado e não a economia dirigista fracassada que corrompeu a ordem política". Poucos brasileiros discordariam desse diagnóstico, se levarmos em conta que o país continua a sofrer as consequências da pior recessão e do maior escândalo de corrupção de sua história.
A visão econômica de Guedes é mais Ronald Reagan que Donald  Trump, e ele parece realista quanto às limitações políticas. "O presidente [sempre pode dizer] não, os votos são meus". Economista teórico que planeja chegar às estrelas, Guedes aparentemente se satisfaria com atingir a lua, e sabe que a viagem será complicada. "Sim, a economia vai crescer mais rápido. Mas não podemos ser ingênuos. Há muitos danos a consertar". 
Financial Times

sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

Como abrir a economia de um pais? Breve analise da experiencia internacional - SAE/PR

Como abrir a economia de um país? Breve análise da experiência internacional - SAE/PR
Dando sequência aos debates acerca de temas relevantes para o desenvolvimento econômico brasileiro, a Secretaria Especial de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (SAE/PR) lança a quinta edição do boletim Breves Notas de Políticas Públicas. Esta é a parte final de uma série de três edições especiais do Breves que tratam do processo de abertura comercial.
Tomando por base consensos acadêmicos internacionais sobre política comercial e negociações internacionais, a quinta edição do Breves trata do tema Como abrir a economia de um país? Breve análise da experiência internacional. Nesta edição são apresentadas estratégicas de abertura adotadas por alguns países, de maneira a exemplificar diferentes formas de se combinar abertura autônoma e abertura negociada.  O texto pode ser acessado no link http://www.secretariageral.gov.br/estrutura/secretaria_de_assuntos_estrategicos/publicacoes-e-analise/boletim-breves.
Boa leitura!
Secretaria Especial de Assuntos Estratégicos (SAE-PR)

sábado, 15 de dezembro de 2018

Agenda de Trump nao serve ao Brasil - Sandra Rios (Poder 360)

Tempos duros pela frente, entre avançar para maior prosperidade, ou continuar no pântano da mesmice. Esta economista tem a coragem de dizer o que pensa, mesmo não sendo do agrado dos novos donos do poder.
Paulo Roberto de Almeida

País não deve importar agenda de política externa de Trump, diz Sandra Rios

Distanciamento da China é ‘prejudicial’
Defende abertura econômica do país
Diretora do Cindes, Sandra Rios defende redução das tarifas de importação Acervo Pessoal 

15.dez.2018 (sábado) - 5h50
atualizado: 15.dez.2018 (sábado) - 8h45
Economista e diretora do Cindes (Centro de Estudos de Integração e Desenvolvimento), Sandra Rios, 59 anos, acredita que seria prejudicial para as relações comerciais do país embarcar na agenda de política externa do presidente dos EUA, Donald Trump.
Jair Bolsonaro (PSL) se elegeu defendendo 1 processo de abertura no mercado internacional. Declarações do militar e de membros de sua equipe, no entanto, causaram preocupações em relação a 1 possível distanciamento de parceiros comerciais como China e países árabes.
“Não faz sentido o Brasil entrar nesse movimento de transferência da embaixada em Israel para Jerusalém. Também não vale a pena entrar em disputa comercial com a China, que é o nosso principal mercado”, disse em entrevista ao Poder360.
Para ela, ir adiante com esses posicionamentos seria importar uma agenda norte-americana “sem levar em consideração que os recursos de poder e interesses dos países são muito diferentes”.
A economista criticou também a possibilidade, exposta por Bolsonaro, de o Brasil deixar o Acordo de Paris. “A agenda da sustentabilidade interessa ao país, reforça nossos interesses econômicos”, disse.
Sandra foi uma das autoras da “Carta Brasil”, documento elaborado por 112 economistas com propostas para o futuro governo. Entre os pontos destacados no texto para ampliação do comércio exterior está a redução de tarifas de importação, a busca de novos parceiros comerciais e a transformação do Mercosul em área de livre comércio.
“O Brasil deve continuar negociando acordos comerciais, mas são processos complexos e demorados (…). Em economia, não se pode esperar tanto tempo”, disse.
Para a especialista em negociações internacionais e política de comércio exterior, a incorporação do Mdic (Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços) ao Ministério da Economia poderá facilitar o processo de abertura. “Tem a vantagem de garantir coerência às políticas”, afirmou.
Eis o que disse a economista:
Poder360: O que acha da inclusão do Mdic no Ministério da Economia? O que deve mudar?
Sandra Rios: O lado positivo dessa mudança é que facilita a coordenação das políticas de comércio exterior. Hoje, os instrumentos de política comercial são distribuídos em diferentes ministérios, principalmente nos atuais Mdic e Fazenda. E eles costumam ter visões distintas sobre política comercial, abertura, necessidade de proteger 1 ou outro setor. É claro que é uma mudança muito grande e há riscos operacionais, mas acho que tem a vantagem de garantir coerência às políticas.
Qual o cenário hoje no Brasil em termos de comércio exterior?  
A última reforma comercial relevante foi feita na 1ª metade da década de 1990. Naquela época, abrimos a economia, negociamos o Mercosul e deixamos o país mais ou menos em linha com o que a maior parte dos países em desenvolvimento estava fazendo. A partir de 1995 não houve mais nenhum movimento de abertura e, ao contrário, a partir de 2008 1 conjunto de medidas acabou aumentando a proteção à indústria nacional. Isso teve 1 impacto importante sobre a evolução da produtividade e nossa capacidade de competir no mercado internacional.
O que é fundamental agora é atualizar a nossa política comercial para ficarmos mais em linha com outros países em desenvolvimento de grande porte, como Indonésia e México.
Quais são os principais itens dessa agenda?
O 1º elemento é a redução da tarifa de importação, levar o país a padrões de outros países em desenvolvimento. Essa reforma é muita vezes combatida com o argumento de que é melhor abrir a economia negociando acordos comerciais, porque aí você abre o mercado, mas ao mesmo tempo ganha mais acesso ao mercado exportador.
Achamos que o Brasil deve continuar negociando acordos comerciais, mas são processos complexos, demorados. Estamos negociando com a União Europeia, por exemplo, há mais de 20 anos. O acordo ainda não foi concluído e acho que não vai sair tão cedo.
Em economia, não se pode esperar tanto tempo. Ninguém está falando em eliminar tarifas de importação, mas reduzir 1 pouco os níveis para tornar a estrutura mais racional enquanto se negocia acordos comerciais.
Na Carta Brasil, vocês falam na busca de novos parceiros comerciais. O que o país deve procurar nesses acordos? De quais países deveria se aproximar? 
Um critério importante é a relevância do parceiro. Nos últimos anos, mais notadamente a partir de 2010, a gente concluiu acordos que não vão promover nenhuma mudança na nossa estrutura produtiva e capacidade de competir. O acordo com a UE, esse sim, se fosse implementado, faria com que sentíssemos uma mudança grande no futuro.
O país deve buscar parceiros relevantes, que tenham oferta complementar à nossa. Isso vale, por exemplo, para EUA, Canadá, Japão e Índia. Mas em todos esses casos são negociações complexas.
Quais mudanças defende em relação ao Mercosul?
O Mercosul foi criado como uma união aduaneira. Mas desde o início ficaram evidentes as dificuldades de se implementar o modelo que, em teoria, é superior em termos de integração comercial. Se pudesse funcionar assim, seria ótimo.
Só que os países têm estruturas produtivas diferentes, prioridades diferentes e o que aconteceu foi que se estabeleceu regimes de exceção que foram aumentando com o tempo. Além disso, os países, principalmente Brasil e Argentina, colocaram barreiras ao comércio intrabloco. Assim, não avançamos em vários pontos.
A questão é se vale a pena manter o modelo de união aduaneira, que toma muito tempo das negociações. Nossa visão é que é melhor colocar a atenção nas questões relacionadas à área de livre comércio.
Declarações de Bolsonaro em relação a Israel e China, por exemplo, causaram dúvidas sobre o futuro das relações comerciais. Há preocupação nesse sentido? 
As declarações me parecem equivocadas. Não faz sentido o Brasil entrar nesse movimento de transferência da embaixada em Israel para Jerusalém. Também não vale a pena entrar em disputa comercial com a China, que é o nosso principal mercado. É uma importação da agenda do Trump sem levar em consideração que os recursos de poder e interesses dos países são muito diferentes.
No caso da China, é claro que isso foi provocado também pela percepção de que o país está investindo em setores estratégicos do Brasil, mas mesmo que a gente se aproxime dos EUA, o que acho importante, não vamos vender para eles os produtos que vendemos para a China.
Tem também a questão da retirada do Brasil do Acordo de Paris, que vejo como outro equívoco. A agenda da sustentabilidade interessa ao país, reforça nossos interesses econômicos.
O futuro ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, deu declarações controversas em relação a questões diplomáticas. Qual sua visão sobre a indicação?
O que preocupa são manifestações no sentido de distanciamento do Brasil de organismos multilaterais. Há críticas do governo eleito, por exemplo, à participação da OMC (Organização Mundial do Comércio) na nossa agenda de política comercial, mas a instituição é muito importante para 1 país como o Brasil, que tem pequena participação no mercado internacional e exporta produtos agrícolas, cuja regulação se dá basicamente na OMC.
Qual a sua avaliação do que foi apresentado até agora pela equipe do futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, em relação ao comércio exterior?
O que vem sendo ventilado é de abertura em diversas frentes. Parece positivo, mas ainda não temos detalhes.

sexta-feira, 19 de outubro de 2018

Trade liberalization in Brazil - World Bank

A conversa é sempre a mesma: o Brasil ganharia muito com a liberalização comercial, mas a despeito disso nunca se abre. Por que? Só pode ser pela ação dos capitalistas predatórios do Brasil, que se opõem a essa simples medida de eficiência...

WORLD BANK POLICY RESEARCH WORKING PAPER ABSTRACTS

This paper describes how different policy distortions have been impeding better integration of Brazil's external and internal product markets and discusses how these distortions have prevented domestic firms from benefiting from multiple sources of efficiency gains. The paper first focuses on the costs of barriers to global integration, followed by an overview of policy induced stringencies hampering domestic integration. Drawing from general and partial equilibrium analyses, the paper also provides evidence of potential impacts of removing some of those distortions and discusses policy options to promote better allocation of resources across the economy. The main conclusion of the paper is that Brazil could gain significantly from opening to foreign trade. Yet, for Brazil to take full advantage of the opportunities that external integration offers, domestic markets also need to function better, so it is key to ensure that the removal of external barriers to integration is coordinated with the removal of internal distortions to domestic market integration.

quarta-feira, 20 de julho de 2016

Edmar Bacha: abrir o Brasil parece dificil, ou sera impossivel? - entrevista

Bacha e como abrir o País

Diretor da Casa das Garças, think tank de economia, reflete sobre dificuldades de abertura comercial no Brasil e como enfrentá-las. Bacha não descarta medidas para conter a eventual valorização excessiva do real, combinadas com liberalização.

OESP, Blog Fernando Dantas,  18 Julho 2016

Por que é tão difícil abrir a economia brasileira, se existe uma opinião tão sólida junto a uma grande e respeitada corrente de economistas de que este seria um passo positivo, que poderia acelerar o crescimento e a produtividade? O economista Edmar Bacha, um dos “pais” do plano Real e sócio-fundador e diretor do think tank Casa das Garças, no Rio, tem uma nova e provocativa reflexão sobre aquele tema.
Para início de conversa, ele revisa os argumentos tradicionais sobre a dificuldade de “vender” a abertura comercial à sociedade e aos políticos.
O primeiro ponto é que a defesa econômica da abertura é complexa e em alguns aspectos contraintuitiva. Já a ideia de proteger o mercado interno e exportar o excedente seria mais fácil de vender. O tradicional argumento das vantagens comparativas e da especialização produtiva não é algo tão palatável ao ouvinte leigo quanto a ideia de proteger empregos e a indústria nacional. Em termos da política recente e atual, Bacha observa que a retórica de Donald Trump do “America First” e de Dilma Rousseff da defesa do mercado interno contra a crise são exemplos desse primeiro ponto, pelo qual os defensores da abertura se consideram “iniciados”, na contramão dos protecionistas, que seriam os “desinformados”.
Um segundo argumento é que os benefícios da abertura são difusos, enquanto os custos são concentrados e recaem sobre grupos politicamente poderosos. Os “aberturistas”, como ironicamente coloca o economista, consideram-se “defensores do bem comum”, e seus adversários seriam “lobistas”.
Em terceiro lugar vem o fato de que os benefícios da abertura ocorrem mais a longo prazo, enquanto os custos vêm na frente: “aberturistas” são “visionários”, e protecionistas são “míopes”. Em quarto, a defesa da proteção viria de uma leitura histórica simplista e equivocada de que o Brasil estagnou-se no século XIX com economia aberta e exportação de produtos primários, e desenvolveu-se no século XX com fechamento e substituição de importações. Como os defensores da abertura são críticos desta visão caricatural, consideram-se “cosmopolitas” e veem seus opositores como “provincianos”.
Bacha deixa claro que esses quatro pontos têm fundamento, mas se pergunta se não há uma quinta razão, que, de certa forma, ponha em questão o sentimento de superioridade dos defensores da liberalização comercial, refletido nos adjetivos com que classificam a si mesmos e aos protecionistas.
Para o economista, o que falta no argumento dos “aberturistas” é reconhecer que não basta reduzir as tarifas unilateralmente para que uma realocação de recursos eficiente se produza, mantendo o equilíbrio externo e interno. A “inércia alocativa” pode levar a desemprego e desequilíbrio externo, e as exportações podem vir a crescer mais pela retração da demanda do que pelo aumento da competitividade externa. Desta forma, a transição pode ser bem mais lenta e penosa do que se imagina, fazendo com que, em regimes democráticos, muitas vezes nem se consiga chegar ao ponto de iniciar a abertura. Ou, caso se tente, ela acabe sendo interrompida ou revertida.
Assim, Bacha acha que o processo de liberalização comercial não pode ser apenas na base do “chicote”, mas deve também conter “cenouras” para atrair a adesão de grupos sócioeconômicos importantes. Ele propõe uma abertura administrada e não apenas baseada em mecanismos automáticos de mercado, que privilegie a reciprocidade em relação a movimentos unilaterais e que se baseie numa flutuação cambial administrada. Os pilares graduais e simultâneos desta estratégia seriam a redução do custo Brasil, os acordos comerciais e – a mais polêmica – a “troca de tarifas por câmbio”.
Bacha diz que, com a perspectiva de aumento das importações, uma estratégia anunciada de abertura poderia levar à desvalorização do câmbio (aumento de demanda por dólares), mas o problema é que o efeito confiança que um caminho liberal como este poderia trazer é tão forte que o País seria inundado de capitais e o real acabaria se apreciando. Neste caso, ele considera que medidas macroprudenciais e de controle de entrada de fluxos deveriam ser tomadas. “Acho que não deveríamos deixar o efeito manada na conta capital prejudicar o equilíbrio de longo prazo da conta corrente”, conclui o economista. (fernando.dantas@estadao.com)

Esta coluna foi publicada pelo Broadcast em 15/7/16, sexta-feira.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

China reduz papel do Estado e fortalece setor privado: o que vao dizer os companheiros?

Os companheiros, que são muito néscios nessas matérias econômicas, costumam citar a China como exemplo de economia de sucesso que combina um grande papel do Estado, como força diretora e propulsora da economia como um todo, embora a China seja, sob vários aspectos, mais capitalista do que o Brasil, e bem mais aberta.
Agora eles correm o risco de ficar órfãos nas suas recomendações de política econômica.
Que pena...
Paulo Roberto de Almeida

The New York Times, May 24, 2013

China Plans to Reduce the State’s Role in the Economy



SHANGHAI — The Chinese government is planning for private businesses and market forces to play a larger role in its economy, in a major policy shift intended to improve living conditions for the middle class and to make China an even stronger competitor on the global stage.
In a speech to party cadres containing some of the boldest pro-market rhetoric they have heard in more than a decade, the country’s new prime minister, Li Keqiang, said this month that the central government would reduce the state’s role in economic matters in the hope of unleashing the creative energies of a nation with the world’s second-largest economy after that of the United States.
On Friday, the Chinese government issued a set of policy proposals that seemed to show that Mr. Li and other leaders were serious about reducing government intervention in the marketplace and giving competition among private businesses a bigger role in investment decisions and setting prices. Whether Beijing can restructure an economy that is thoroughly addicted to state credit and government directives is unclear. But analysts see such announcements as the strongest signs yet that top policy makers are serious about revamping the nation’s growth model.
“This is radical stuff, really,” said Stephen Green, an economist at the British bank Standard Chartered and an expert on the Chinese economy. “People have talked about this for a long time, but now we’re getting a clearly spoken reform agenda from the top.”
China’s leaders are under greater pressure to change as growth slows and the limitations of its state-led, investment-driven economy are becoming more evident. This month, manufacturing activity contracted for the first time in seven months, according to an independent survey by HSBC. Economists are lowering their growth forecasts and weighing the risks associated with high levels of corporate and government debt that have built up over the last five years.
“There are quite a number of messages coming from these new leaders,” said Huang Yiping, chief economist for emerging Asia at the British bank Barclays. “They realize that if we continue to delay reforms, the economy could be in deep trouble.”
The broad proposals include expanding a tax on natural resources, taking gradual steps to allow market forces to determine bank interest rates and developing policies to “promote the effective entry of private capital into finance, energy, railways, telecommunications and other spheres,” according to a directive issued on the government’s Web site. “All of society is ardently awaiting new breakthroughs in reform,” the directive said.
Foreign investors will be given more opportunities to invest in finance, logistics, health care and other sectors. For years, Western governments, banks and companies have complained that the China government has impeded foreign investment in banking and other service industries, despite promising to open up. The latest directive, however, did not give details about the specific changes to foreign investment rules that policy makers in Beijing have in mind.
China’s leaders are also promising to loosen foreign exchange controls, changes that are likely to reduce price distortions in the economy and allow the market to determine the value of the Chinese currency, the renminbi. On Friday, the central bank, the People’s Bank of China, issued a statement that repeated such vows.
The push does not signal the end of big government in China. The Communist Party, experts say, is unlikely to abandon the state capitalist model, break up huge, state-run oligopolies or privatize major sectors of the economy that the party considers strategic, like banking, energy and telecommunications.
Beijing seems to be pressing ahead because it has few alternatives. The economy has slowed this year because of fewer exports to Europe and the United States and slower investment growth. Rising labor costs and a strengthening currency have also reduced manufacturing competitiveness.
China’s leaders, including a group of pro-market bureaucrats who seem to have gained in the leadership shuffle this year, seem to think that more government spending could worsen economic conditions and that the private sector needs to step in.
China is also facing significant changes in its demographics and drivers of economic growth. The population is rapidly aging, and the number of young people entering the work force has begun to decline. Those shifts are forcing China to upgrade its industrial operations and compete using something other than inexpensive goods and low-cost labor, analysts say.
Nicholas R. Lardy, a senior fellow at the Peterson Institute for International Economics and an authority on the Chinese economy, said government controls on interest rates, the exchange rate and the price of energy had resulted in a huge misallocation of capital and unbalanced growth. “These reforms would raise household income and reduce savings, providing a double-barreled boost to private consumption,” Mr. Lardy said.
To succeed, China’s leaders will have to fend off powerful interest groups, as well as corrupt officials who have grown accustomed to using their political power to enrich themselves and their families through bribes and secret stakes in companies.
The previous administration, led by President Hu Jintao and Prime Minister Wen Jiabao, also promised to deepen economic overhauls and strengthen the private sector. But analysts say they lacked the political clout needed to succeed. During their two five-year terms, the state’s role in the economy actually expanded.
The new leaders, who took office in March after a once-in-a-decade leadership transition, seem more determined to change course. In his speech this month, delivered to party officials nationwide by teleconference, Mr. Li, the prime minister, said, “If we place excessive reliance on government steering and policy leverage to stimulate growth, that will be difficult to sustain and could even produce new problems and risks.”
“The market is the creator of social wealth and the wellspring of self-sustaining economic development,” he said.
He spoke of deregulation and slimming down the role of government.
“Li Keqiang thinks like an economist,” said Barry J. Naughton, a professor of Chinese economy at the University of California, San Diego. “He wants the government to get out of the way.”
Chris Buckley reported from Hong Kong.