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domingo, 31 de janeiro de 2016

Academicos estao sempre demonizando os mercados, ate inconscientemente

Leio um artigo jurídico sobre processos criminais no Brasil, de boa argumentação, mas logo no começo encontro esta afirmação:

"Embora vivamos numa sociedade em que o mercado produz constantes desigualdades econômicas, isso não deveria reproduzir-se no tratamento político-jurídico dos cidadãos."

Permito-me comentar este argumento em particular, num artigo que de resto me pareceu bom.
Creio que seu autor revela, até inconscientemente, suas "deformações de formação", ao afirmar que os mercados criam desigualdades, o que é uma bobagem reveladora da prevenção contra os mercados geralmente encontrada nos meios acadêmicos.
Minha pequena lição:
    Mercados são espaços absolutamente neutros, até intangíveis, para interações entre duas ou mais partes. Se as partes são diferentemente dotadas em informação, bens e outros ativos, o mercado não pode fazer nada para corrigir essa condição de origem, ele apenas oferece a oportunidade para um intercâmbio, que deve ser sempre voluntário. Se existem restrições, monopólios e outras condicionalidades, elas não foram criadas nem impostas pelos mercados, mas por regras de governos, ou de coalizões poderosas, mas cada um é livre para interagir e intercambiar conforme sua vontade.
    Acadêmicos em geral exibem uma prevenção contra os mercados por motivos errados e preconizam medidas para “equalizar as partes”, que só podem ser aplicadas pelos Estados, ou governos, e com isso começam as deformações, que geralmente criam mais desigualdades que se os mercados fossem deixados livres.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 31 de janeiro de 2016

sábado, 31 de maio de 2014

BRICS: vc acredita nesse grupo? Entao escreva algo a respeito... - Moscou, 30/10/2014

Peoples’ Friendship University of Russia
International Conference, October 30-31, Moscow, Russia

Call for Papers
The BRICS Countries: International Unstability, Growth Trajectories and Structural Transformations ?

In the framework of the international conference organized by the Peoples’ Friendship University of Russia (RUDN), Mosco in cooperation with CEMAFI International (France), the BRIC Seminar (EHESS-Fondation Maison des Sciences de l'Homme, Paris) and the Department of International Economy (RUDN) organize a two sessions-panel on the following topic: " BRICs Countries: International unstability, growth trajectories and structural transformations."
Since 2010, when the concept of BRICS has given birth to a new geopolitical group, emerging economies have continued to grow and now account for a larger share of the world GDP than before. At the same time, the international financial crisis and its consequences have hit developed market economies and BRICS countries in a different manner. Advanced countries have stagnated in relative terms, applying diverging policies (quantitative easing in the US and Japan, deflationary budgetary policies in the vast majority of the Eurozone countries) in an attempt to relaunch their economic growth. The BRICS countries and other emerging economies have also reported diverging results both in terms of growth path and external accounts dynamics. For instance, the rate of growth is rapidly declining in Brazil and Russia, India and Russia proved to be very sensitive to interest rates fluctuations and international capital outflows, and China, in spite of a still high GDP growth rate and large current account surpluses, is showing signs of vulnerability, prompting some observers to diagnose the so-called "middle income trap".
Beyond these recent economic fluctuations, we believe that the problems that these economies are currently facing are of a structural nature: they lie in their productive specialization, in the nature (or the lack) of structural and innovations policies implemented, but also in institutional peculiarities that characterize most emerging economies. To discuss this hypothesis, we propose that the 2-sessions panel of the RUDN Moscow Conference could address the following themes :
- Growth trajectories of BRICs and emerging economies: where do we stand?
- International trade, international value chains and the BRICs
- How big is the productive gap between developed market economies and the BRICs?
- Contents, nature, implementation of industrial and innovation policies
- Are domestic-led growth models more desirable than export-led models?
- Commodities exporting countries: how to avoid the "dutch disease"?
- Whither role for the State: reducing inequalities, improving infrastructures, stimulating high value added industrial growth, attracting FDI?

Number of papers discussed: 16
Deadline for submission: July 15, 2014

Send abstract (in english, french, russian) to :
Vladimir Matyushok, RUDN, Moscow, vmatyushok@mail.ru
Julien Vercueil, INALCO, Paris, julien.vercueil@inalco.fr

Information about the conference :

sexta-feira, 9 de março de 2012

Academicos querem permanecer na torre de marfim (mais comodo...)

Quando um acadêmico começa a falar em "lógica do mercado", pode sair debaixo que lá vem bobagem.
Essas pessoas acham que a sociedade precisa pagá-las regiamente e não pedir nada em troca, e eles, de forma muito condescendente, se por acaso produzirem algo de útil, quem sabe poderão prestar contas à sociedade do que fizeram?
Inúteis, preguiçosos, irresponsáveis...
Paulo Roberto de Almeida 

TENDÊNCIAS E DEBATES

A universidade a serviço do mercado?

Nova ferramenta da plataforma eletrônica do Lattes quer obrigar cientistas a 'prestarem contas' à sociedade. Mas seria dever do pesquisador apresentador resultados palpáveis? 

Por Bolívar Torres

Opinião e Notícia, 9/03/2012
O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) anunciou que irá acrescentar duas novas abas para divulgação pública no Lattes, plataforma eletrônica que exibe currículos e atividades de 1,8 milhão de pesquisadores de todo o país. A partir de agora, os cientistas brasileiros também deverão descrever, além de informações básicas pessoais e acadêmicas, iniciativas de divulgação e de educação científica – o que significa, na prática, fazer a promoção de seus projetos ao público não especializado e, segundo a instituição, “ligar o trabalho a inovações que contribuam com as políticas públicas e até mesmo para a criação de novos produtos a serem lançados no mercado”. Apresentada como um grande benefício à sociedade, a obrigação de prestar contas não agradou a diversos pesquisadores e professores, que veem nas novas abas um sintoma dos rumos da pesquisa no país.
Em entrevista à Agência Brasil, o presidente do CNPQ, Glaucius Silva, justificou o proposta: “No século 21, o cientista reconhece seu papel de engajamento na sociedade. Ele sabe que está sendo pago e financiado e que deve uma prestação de contas sobre o que faz. Ainda há um fosso grande entre aqueles que fazem ciência e aqueles que consomem e financiam a ciência. A sociedade não conhece com profundidade toda a riqueza com que a ciência brasileira tem contribuído para o desenvolvimento nacional”.
Em outras palavras, o cientista deverá se explicar para a sociedade, justificando o seu financiamento. Seria a nova proposta um passo importante para uma relação mais transparente entre os cientistas e o grande público, ou, ao contrário, uma inoportuna intromissão no trabalho científico?
“A tendência geral é subordinar a ciência a uma lógica de mercado e produtividade. Acho isso fortemente desaconselhável”, avalia o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro, professor do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro. “Se for opcional não vejo porque não fazê-lo, desde que não se julgue o pesquisador por não fazer a auto-propaganda. O fundamental é que não percamos tempo demais promovendo e vendendo a pesquisa a tal ponto de não termos mais tempo de fazê-la. Esse é o maior problema”.
Já para Bruno Gripp, professor de Letras da UFF, a proposta, longe de “ajudar a ciência”, vai de encontro à própria noção de universidade.
“Não se estuda, por exemplo, física teórica ou filosofia analítica na busca de um produto palpável, de um resultado que a sociedade pode ver”, argumenta . “É impossível para pesquisadores de áreas mais áridas como essa simplesmente serem compreendidos por seus pares, quanto mais atingirem o grande público. É bom notar que, por mais nobre que seja, a divulgação científica não é ciência em si, é apenas algo que fica no lugar da ciência, serve para introduzir, entreter e motivar ao estudo, mas apenas para isso”.
A ‘utilidade’ da ciência
Gripp acredita que há um erro muito comum em todos os lados do espectro político, de tentar ver na educação uma “função” e um “objetivo”.
“Educa-se a população para ‘crescimento econômico’, ‘justiça social’ ou qualquer dessas palavras de ordem que um governo elege para si e é eleito por elas. Mas na verdade essa maneira de ver a educação impede de ver aquilo que ela realmente é: formadora de pessoas. E isso é válido em todos os escalões do sistema educacional, desde o primário até a pós graduação. A exigência de que o pesquisador traga resultados palpáveis é desprezar uma das características mais importantes do conhecimento: ele é um objetivo por si só”.
Alguns acadêmicos também veem na proposta uma submissão perversa à lógica de mercado. Desiludido com os rumos da universidade brasileira, um professor de filosofia da Universidade Federal do Paraná, que preferiu não se identificar, acredita que o “engajamento na sociedade” proposto pela instituição é interpretado segundo “o modelo político-econômico da relação entre produção e consumo”, como se os resultados da pesquisa científica pudessem assumir a forma da mercadoria sem se desfigurar completamente.
“Isso se manifesta de forma bem evidente na vida acadêmica”, explica. “Os cursos de graduação e pós-graduação têm se tornado inteiramente dependentes da adesão à lógica mercadológica imposta pelas agências financiadoras da pesquisa. Sem isso, eles simplesmente não dispõem de recursos para funcionar. Concretamente, essa condição influencia o trabalho de professores e estudantes de forma decisiva: as atividades burocráticas se assomam às da pesquisa, de forma a sobrepor-se a estas, o professor tendo de atuar como administrador de recursos financeiros destinados à pesquisa, e o estudante, como funcionário da ‘empresa’”.
Estabeleceria-se assim, segundo ele, um tipo de hierarquia claramente mercadológica, uma “mentalidade desenvolvimentista” que, ao excluir agentes formadores não quantificáveis, provocaria uma homogeneização do trabalho acadêmico e um consequente decréscimo da qualidade das pesquisas.
“É incrível como, atualmente, o grande assunto entre os professores que trabalham na pós-graduação (falo, a princípio, a partir de minha própria experiência na área de ciências humanas) é a competição entre os programas por verbas e prestígio institucional”, desabafa. “O foro em que se decide essa competição são as cúpulas e as coordenações das áreas de pesquisa no CNPq, onde entram em disputa, inclusive por parte de pesquisadores-líderes, interesses políticos e fisiológicos externos à pesquisa acadêmica, sem que nisso os projetos de pesquisa sejam avaliados preferencialmente segundo o mérito e, como seria ainda mais desejável, conforme um espírito pluralista de respeito e cultivo da diversidade das perspectivas teóricas. Mesmo quem discorda desse sistema, e não são todos, é constrangido a colaborar, para manter seu posto na pós-graduação como pesquisador e orientador dos trabalhos dos estudantes”.
Libânio Cardoso, professor de filosofia, da Unioeste (Paraná), acredita que os pressupostos errados têm produzido efeitos nocivos em todos os níveis, inclusive na formação escolar.
Educar vs. profissionalizar
“É decisivo lembrar que esta ideia de produção e consumo, de quantificação e avaliação de resultados objetivos, e agora de ‘prestação de contas’, corrói o ensino fundamental e o ensino médio, porque lança sobre eles valores e conceitos que nada têm a ver com a paixão pelo estudo e pela investigação científica livres. Já há escolas para crianças que ‘se’ divulgam como formadoras de líderes, de empreendedores, como se fossem campos de profissionalização. Isto deveria ser imediatamente objeto de escândalo e de intervenção pública e é, no entanto, chancelado pela concepção errônea de educação que temos operado, no ensino superior. Educar não é profissionalizar, nem formar líderes sociais, empreendedores, pesquisadores utilizáveis para fins – não é formar gente como instrumento social. Educar é fazer ver que o grande problema do Homem, em qualquer época e situação, é tornar-se integralmente humano. Só depois desse aprendizado alguém pode assumir uma profissão”.
Ainda em entrevista à Agência Brasil, o presidente do CNPq defendeu outra medida polêmica, em vigor desde junho de 2011: a exigência de que os relatórios eletrônicos de concessão científica sejam escritos em “linguagem para não especialistas”, apresentando-os de forma atraente e simplificada.
“Com isso, eu passo a ter um banco fantástico para alimentar [com os dados] os jornalistas”, disse Silva.
A exigência, porém, poderia implicar um outro efeito nocivo, o de nivelar a pesquisa de acordo com a demanda. Não haveria o risco de se fomentar, por causa disso, um vício jornalístico em buscar e publicar informações “mastigadas”, praticamente cópias de release? Para Eduardo Viveiros de Castro, seria muito mais útil o CNPq promover cursos e formação para jornalistas científicos do que transformar pesquisadores em jornalistas.
“Não acho que criar bancos de dados para jornalistas seja uma necessidade urgente do sistema”, pontua. “Dependendo da pesquisa, em áreas de matemática avançada e física avançada, não vejo como tornar a linguagem acessível sem trair a pesquisa. E o talento para divulgação não é dado a todo mundo. Há cientistas que sabem fazê-lo, mas é um mérito secundário, não um pré-requisito. Um cientista não deve ser julgado pelos seus talentos de divulgação. O que ele tem que fazer bem é aquilo que não é inteligível ao leigo. Se o que tem para dizer fosse acessível a todos, então, para que dizê-lo?”
Procurado pelo Opinião e Notícia, o presidente do CNPq, Glaucius Silva, não retornou o pedido de entrevista.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Não querendo sacar o revolver, prefiro sacar a minha pluma...

Um daqueles nazistas bem conhecidos teria afirmado -- no que na verdade é uma adaptação mal feita de uma peça de teatro de um simpatizante da causa -- que quando ouvia a palavra cultura, "tinha vontade de sacar o revólver": Wenn Ich Kultur hore [trema no "o"], entsichere Ich meine Lugar..." (ou algo parecido; desculpem, estou citando de memória).

Pois bem, quando eu leio algo parecido com o que vai abaixo, fico logo com vontade de sacar a minha pluma -- no caso, acessar meu teclado -- para desmantelar o manancial de bullshits que suspeito possam existir em textos escritos com tal inspiração.
Desculpem se estou enganado, mas se trata da publicidade de um livro novo que acabo de receber, na qual figura este trecho:

"... constitui um elemento central da problemática do mundo contemporâneo, tanto do ponto de vista da realização do processo de acumulação capitalista – e, por consequência, de justificativa das ações do Estado em direção à criação dos fundamentos da reprodução – quanto do ângulo da (re)produção da vida, que se realiza..."

Não sei por que, mas quando alguém fala de "acumulação capitalista", é porque se trata de um irremediável acadêmico sonhador, incapaz de compreender o mundo como ele é, e que recorre a conceitos vazios para disseminar mais do mesmo...
Acho que estou ficando intolerante com o besteirol universitário...

Paulo Roberto de Almeida