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sexta-feira, 18 de agosto de 2023

Odette de Carvalho e Souza: a poderosa embaixadora, enfrentou o machismo no Itamaraty - Folha de S. Paulo

 Anticomunista ferrenha, 1ª embaixadora do Brasil teve cargo poderoso no Itamaraty 


Odette de Carvalho e Souza chefiou postos no exterior e soube navegar em ambiente masculino apesar de resistências Odette de Carvalho e Souza foi a primeira mulher promovida a ministra de primeira classe no Brasil, em 1956, quando também se tornou diretora do Departamento Político e Cultural (DPC) do Itamaraty. Poderoso, o órgão lidava com relações bilaterais e organismos multilaterais durante a expansão da então recém-criada Organização das Nações Unidas (ONU). Na prática, segundo a estrutura do ministério à época, o posto fazia de Odette a número 3 da pasta, abaixo apenas do chanceler e do secretário-geral. A diplomata também foi chefe dos Serviços de Estudos e Investigações do Ministério das Relações Exteriores a partir de novembro de 1937, quando Getúlio Vargas iniciou o Estado Novo (1937-1945). Mais tarde, já na chefia do DPC, participou do controle de atividades políticas de funcionários da casa. Os Serviços de Estudos e Investigações tinham por objetivo "tratar da obra de repressão ao comunismo, mediante estudo especializado da doutrina marxista, sua infiltração no nosso país e meios de combatê-la de maneira prática e eficiente", segundo memorando escrito por Odette como argumento para a criação do órgão, após a Intentona Comunista de 1935, e acessado pela pesquisadora Adrianna Setemy. Nessa época, Odette lidou com autoridades de segurança, como Filinto Müller, chefe da polícia política do período repressivo sob Vargas e senador na ditadura militar pela Arena, sigla que sustentava o regime. Na Suíça durante a Segunda Guerra Mundial, ela chamou a atenção como conselheira técnica e secretária de delegações do Brasil em conferências internacionais de trabalho e paz. Nesse período, também foi representante do país na Entente Internacional Anticomunista. Embora seu papel na organização ainda não esteja claro, seu trabalho sugere que ela se conectava com grupos anticomunistas para além da atuação pública no ministério e na imprensa, para os quais escreveu com regularidade artigos sobre esse e outros temas, assinando "O. de Carvalho e Souza". Se, por um lado, sua presença destacada no país europeu mostra como ela desbravou território até hoje muito masculinizado, ela reflete também as dificuldades das mulheres na diplomacia naquele período. Odette articulara para trabalhar na representação brasileira em Londres, mas viu a designação publicada no Diário Oficial perder efeito antes que assumisse o posto devido à atuação do próprio embaixador no país, Raul Regis, que sugeriu a Odette o cargo na Suíça. "Num país [Reino Unido] que expressamente condenou a entrada de mulheres para o corpo diplomático, e numa corte de tradições conservadoras, só lhe adviriam inúmeros embaraços decorrentes da sua inclusão na lista diplomática. A aparição dessa senhora, como única mulher [...], a quanto comentário irônico não nos iria expor", escreveu Regis. A forma com que era chamada exemplifica o sexismo refletido na justificativa. "Dona Odette" estava em funções semelhantes ou hierarquicamente superiores a homólogos homens, que recebiam o título de seus cargos antes de seus nomes. A ela, porém, muitas vezes eram destinadas outras formas de tratamento, como "dona", "senhora" e "senhorita". Também sobravam comentários sobre sua aparência física, por vezes acompanhados de elogios a seu profissionalismo, humor e inteligência. "Quando o nome dela é mencionado no Itamaraty, normalmente isso é feito como galhofa, dizia-se que era uma pessoa que perseguia os outros. No máximo é isso que se fala, não do legado profissional dela: quem era, o que fez de bom e de ruim", diz a diplomata Carolina von der Weid, autora, com Eduardo Uziel, do capítulo sobre Odette no livro "DiplomatAs: Sete Trajetórias Inspiradoras de Mulheres Diplomatas". E, a despeito de suas ideias, ou talvez em parte devido a elas —a embaixadora defendia o lugar central da mulher na família, com abordagem conservadora em que tomava distância das discussões sobre liberdade sexual, por exemplo—, Odette soube navegar em um ambiente pouco afeito às mulheres. "A presença dela no ministério fez com que eu não tivesse a ideia de que ali pudesse ser uma casa machista quando ingressei no Instituto Rio Branco. Ela era respeitada. As pessoas que encontrei em Bruxelas tinham carinho por ela", afirma a embaixadora Thereza Quintella, primeira mulher egressa do Instituto Rio Branco a alcançar o cargo —ela também foi pioneira na direção da escola de diplomatas. Odette começou a atuar profissionalmente sem passar pelo instituto; na Bélgica, chefiou a delegação do Brasil junto à Comunidade Econômica Europeia, para onde foi Quintella quando a embaixadora já havia deixado o posto. Além dos cargos em Israel e Bélgica, Odette chefiou postos na Costa Rica e em Portugal. Há, entretanto, poucas publicações sobre a trajetória da diplomata, que vem sendo resgatada recentemente em livros, artigos e documentários. Sua relação (ou a ausência dela) com movimentos feministas de seu tempo, diante de seu pioneirismo, e seu papel na organização internacional anticomunista são exemplos de facetas da embaixadora que ainda carecem de estudos mais detalhados. "Odette era sábia para jogar com os grupos da época. Independentemente da filiação política, ela deixava clara sua ambição e tinha proeminência. Chama a atenção o silenciamento de seu legado", afirma Weid. Odette de Carvalho e Souza foi aposentada em 2 de outubro de 1969, por ter completado 65 anos de idade. Faleceu no ano seguinte, aos 66, na cidade do Porto, em Portugal. Não deixou filhos.


sábado, 14 de dezembro de 2019

PCdoB: a proeza subintelequitual de criticar um evento que ainda não tinha ocorrido

O PCdoB continua igual ao que sempre foi: inacreditavelmente sectário, dogmático, ultra-stalinista e, desta vez fantasmagórico: consegue criticar um evento antes de sua ocorrência, o que revela seus dons premonitórios.
O autor conhece o livro de Hugo Studart e já o decretou falso. Mas faz o mesmo com o meu livro e o de Gustavo Bezerra, que ainda não leu: ou seja, uma literatura com a capacidade de adivinhar o desconhecido.
Paulo Roberto de Almeida


A vulgaridade de um “debate” anticomunista em Brasília

Osvaldo Bertolin

O outro lado da notícia, 11/12/2019


Indústria do anticomunismo voltou a ser mais ativa com a escalada da extrema direita. Livros e “debates” são, além de usinas de propaganda ideológica de caráter fascista, fontes de renda e até de títulos acadêmicos. 
Por Osvaldo Bertolino 
O Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal anuncia para o próximo dia 11 de dezembro o debate intitulado “A trajetória do comunismo no Brasil”. Quem abordará o tema é ninguém menos do que os anticomunistas Paulo Roberto de Almeida (embaixador), Hugo Studart (jornalista e historiador) e Gustavo Bezerra (diplomata e historiador), este autor do infame O livro negro do comunismo no Brasil. O evento faz parte do “Ciclo de Diálogos sobre o Pensamento Político Brasileiro”, diz o Instituto. 
Segundo anuncia Studart em seu Facebook, “Paulo Roberto vai abrir tecendo uma breve panorâmica sobre o movimento comunista e sua trajetória no Brasil, palestra baseada em seu próximo livro, Marxismo e Socialismo”. Ele, Studart, “vai falar da crise ideológica do Partido Comunista Brasileiro, PCB, que resultou em sua fragmentação e criação das organizações da luta amada, palestra baseada no livro Borboletas e Lobisomens”. E Gustavo Bezerra “ficará com o fecho de ouro, apresentando sua obra monumental”.
Ainda segundo Studart, Paulo Roberto de Almeida é o proponente do “debate” anticomunista. O nome não seria exatamente “debate”, porque trata-se de três personagens com pensamentos semelhantes, todos beneficiários da indústria do anticomunismo. Paulo Roberto de Almeida escreveu o posfácio do livro-farsa de Studart Borboletas e lobisomens— uma ficção barata vendida como história —, que conseguiu a proeza de ser mais vulgar do que a própria obra. 
Técnica goebbeliana
O anticomunismo existe desde que o comunismo é comunismo. Já no Manifesto do Partido Comunista, considerado a primeira obra programática do marxismo, Karl Marx e Friedrich Engels escreveram que “todas as potências da velha Europa unem-se numa santa aliança para conjurá-lo (o espectro do comunismo): o papa e o czar, Metternich (estadista austríaco) e Guizot (estadista francês), os radicais da França e os policiais da Alemanha”.
Desde então, em nome do combate ao “comunismo” muita vulgaridade rotulada de história, filosofia ou coisa parecida foi produzida. Tudo com generosa publicidade, sem que os caluniados possam abrir a boca para dizer uma única palavra em sua defesa. É assim que eles tentam envenenar os que lhes dão ouvidos, conhecida técnica goebbeliana para manipular os incautos.
Cata de mitos
Paga-se bem por qualquer obra produzida para difamar e caluniar os comunistas. Concedem-se títulos acadêmicos — essa obra de Studart, pasmem, saiu de uma tese de doutorado aprovada na Universidade Nacional de Brasil (UnB) — e abrem-se espaços generosos na mídia — Studart deitou falação mentirosa sobre a minha produção que desmascara seu livro-farsa sem que ninguém se dignasse a me ouvir, ou mesmo a publicar algo do que escrevi e falei. 
É um comportamento bem ajustado ao figurino da escalada da extrema direita, que impulsionou a indústria anticomunista. Poucas vezes na história do Brasil se falou e se escreveu tanto a palavra “comunismo”. Ela é falada ou escrita sem nenhum contexto, acompanhada de números e citações sem comprovações; e sempre repisando e reforçando grotescas mentiras factuais e históricas. 
Um princípio básico para quem fala ou escreve algo sem ser vulgar é saber do que está falando, não sair por aí à cata de mitos na tentativa de fraudar a realidade e manipular os fatos. Os personagens desse “debate”, por exemplo, já demonstraram que nada sabem a respeito ou ignoram o que sabem porque optaram pelo rentismo do anticomunismo.
Para se falar de comunismo — contra ou a favor — é preciso compreender o que os seus teóricos produziram, em especial Karl Marx, Friedrich Engels e Vladimir Lênin. E ter em conta que essa corrente filosófica, ideológica e política enfrentou e venceu diferentes fixações fanáticas de seus detratores. Não será com a repetição de velhos e surrados chavões do mais rudimentar anticomunismo histórico que agora terão êxitos.
Código da economia
O marxismo representou uma ruptura de parâmetros. É o fenômeno mais relevante, no campo do estudo científico da história, da economia e da filosofia, nesses dois últimos séculos, quando a humanidade mudou mais do que no milênio anterior. Marx decifrou o código da economia de crise. E isso não está em nenhum livro em particular. Está no conjunto de sua obra, da qual a parte mais importante é, certamente, O Capital
Ele está longe de ser apenas mais um nome no balaio de gatos de pretensos contestadores da sua obra. Sua teoria difere substancialmente das ideias voláteis que são propagadas por gente que ganha a vida montando frases de efeito e expelindo perdigotos em palestras como essa desses anticomunistas escalados para o “debate” do Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal.
A interpretação científica dos seus princípios radiografa casos de sucesso e fracasso em uma sociedade, gera novas interpretações da realidade, cria novos paradigmas e equações para entender e explicar o que ocorre no mundo. Por tudo, Marx precisa ser estudado. Por sua originalidade, pela seriedade e consistência de sua obra, porque escrevia bem. Exatamente por isso é difícil contestar o comunismo sem apelar para a vulgaridade e para a desfaçatez, como fazem Paulo Roberto Almeida, Hugo Studart e Gustavo Bezerra.   
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Acompanhe o caso aqui:

O jabuti de Hugo Studart e os jornalistas que roubam

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019