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sábado, 27 de novembro de 2021

Carlos Brickmann: Bolsonaro e os ingênuos (28/11/2021)

QUEM NUNCA FOI QUER VOLTAR

COLUNA CARLOS BRICKMANN

EDIÇÃO DOS JORNAIS DE DOMINGO, 28 DE NOVEMBRO DE 2021

 

 

Tanto Sergio Moro quanto os militares que acreditavam que derrotar o PT era o caminho para eliminar a corrupção no Brasil ouviram a mesma história: venha com Bolsonaro e terá carta branca para fazer o que for necessário. Eles acreditaram, coitados. O general Santos Cruz, com aquela imutável cara de bravo, revelou-se tão ingênuo quanto o sorridente Nelson Mandetta, ambos convencidos de que ser amigos de Bolsonaro há décadas era garantia de que as promessas seriam cumpridas. Mandetta, médico, tropeçou num problema ideológico: a cloroquina. Moro, juiz com fama de justiceiro, e os militares que achavam que corrupção era coisa só do PT, escorregaram na mesma casca de banana: a rachadinha. Caíram. Sobraram os generais tipo Pazuello (“meu gordinho”, como o definia Bolsonaro) e um superministro beeeem flexível, Paulo Guedes. Bolsonaro só precisa tomar um cuidado com o Posto Ipiranga: se disser “vamos juntos”, Guedes senta-se e aguarda novas ordens.

Boa parte do pessoal que o presidente descartou se junta agora em torno de Moro, tentando vender na campanha um bolsonarismo sem Bolsonaro. Os fardados e os sem farda acreditam que com Moro poderão agir livremente. E se enganam de novo: um juiz tão cheio de si que orientava promotores só vai permitir a seus auxiliares que optem entre o “sim, senhor” e o “é para já, Excelência”. Cada um fará aquilo que tiver vontade de fazer, desde que seja autorizado pelo presidente Moro. Haverá mais compostura, claro. E só.

 

O que dizem

E ninguém imagine que a linguagem de hoje vá melhorar muito. Quem é capaz de chamar “cônjuge” de “conge” ainda pode piorar muito.

Tempo, tempo

Moro tem chances? As pesquisas de hoje dizem que sim. Mas as eleições não serão realizadas hoje. Teremos um bom tempo de campanha. O Auxílio Brasil começa a entrar no bolso de alguns milhões de eleitores, beneficiando Bolsonaro; Lula tem muito a explicar aos eleitores – e, embora não haja nada de novo, e muita gente ache que as acusações perderam o efeito, é preciso esperar para saber se relembrar histórias mal contadas vai ou não tirar alguns de seus votos. Moro também vai achar dificuldades no caminho. Há diversas coisas que podem acontecer: Alckmin, por exemplo, tem seus votos. Se sair como vice de Moro ou de Lula, pode desequilibrar uma campanha empatada. É preciso esperar. Fernando Henrique, que pensava em desistir da política por achar que não tinha votos nem para ser deputado federal, ganhou de Lula no primeiro turno. Quércia, que teria sido um candidato forte em 1989, esperou a eleição seguinte, e não teve votos nem para ameaçar os favoritos.

A hora do Brasil

Olaf Scholz, do Partido Social-Democrata, , é o novo primeiro-ministro da Alemanha, no lugar que por 16 anos foi de Angela Merkel. A coligação que comanda tem forte presença do Partido Verde. E, não por acaso, um dos primeiros comentários oficiais após a posse se referiu ao Brasil. O sempre discreto embaixador alemão em Brasília, Heiko Thoms, avisou que irão aumentar as pressões para que o Brasil combata o desmatamento. Não pede muito: apenas que o país cumpra sua própria legislação em vigor, que proíbe o desmatamento ilegal. Thoms diz que ouviu de gente do Governo que haveria neste ano queda de 5% no desmatamento, “e de repente ficamos sabendo que em vez de queda houve um crescimento de 22%”.

Lembrança: o novo Governo alemão informou que só ratificará o acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia “se os países sul-americanos adotarem compromissos efetivos e verificáveis para proteger o meio-ambiente e os direitos humanos”. Que diz Bolsonaro sobre os temas citados?

As palavras do presidente

Bolsonaro, em sua live semanal, disse que a história do desmatamento da Amazônia “é a mesma xaropada de sempre”. Há anos, conta, leu que em 2010 a Amazônia seria uma imensidão de areia. “Em 2010 não aconteceu nada disso. Em 2021 não aconteceu nada disso também. Mas olha a matéria de agora: ‘Amazônia está perto de ponto irreversível e pode virar deserto’”. Bolsonaro admite práticas irregulares na Amazônia. Que é que propõe para que sejam combatidas? “Tem desmatamento ilegal? Tem. É só outros países não comprarem madeira nossa, é simples. Tem queimada ilegal? Tem, mas não é nessa proporção toda que dizem aí”.

 

 

sábado, 23 de fevereiro de 2019

Ajuda humanitaria internacional a Venezuela - Apoiadores


21 Febrero 2019

Teniendo en cuenta la grave crisis humanitaria e institucional que vive Venezuela damos nuestro expreso apoyo a la solicitud del presidente encargado Juan Guaidó para que la comunidad internacional envíe ayuda humanitaria de modo de paliar la crisis originada en la falta de alimentos, medicinas e infraestructura que sufre el pueblo venezolano. 

Dada la magnitud y connotaciones de tal crisis, expresamos nuestra total solidaridad con los hombres, mujeres y niños venezolanos rehenes de esta terrible situación, dentro del territorio de Venezuela y también con los millones que se vieron obligados a dejar el país. En este sentido, estamos convencidos que la catástrofe que vive Venezuela excede a los venezolanos para convertirse en una situación que afecta a toda América Latina. En este contexto, los abajo firmantes: 

1. Expresamos nuestro beneplácito por el reconocimiento de Juan Guaidó como legítimo presidente encargado de Venezuela por parte de más de 50 países y organismos multilaterales, situación que lo habilita a realizar tal solicitud de ayuda. 

2. Hacemos notar que sus competencias se encuentran sustentadas jurídicamente en el artículo 233 de la Constitución Nacional Bolivariana, toda vez que el segundo mandato presidencial de Nicolás Maduro iniciado el pasado 10 de enero ha sido reconocido como carente de legitimidad por los dos únicos órganos legítimos de Venezuela: la Asamblea Nacional y el Tribunal Supremo de Justicia, en el exilio y por la comunidad internacional. 

3. Celebramos la inmediata respuesta positiva al pedido de ayuda humanitaria del presidente Guaidó por parte de gobiernos e instituciones alrededor del mundo. En particular, expresamos nuestro reconocimiento a aquellos que se han unido al esfuerzo conjunto denominado Coalición Mundial por la Ayuda Humanitaria para Venezuela. También, a todas aquellas instituciones, organizaciones y personas que, abriendo sus brazos con generosidad ayudan, auxilian, reciben y desarrollan iniciativas para mejorar la situación de los venezolanos frente a esta crisis sin precedentes. 

4. Consideramos que la ayuda humanitaria representa la necesidad más grande e inminente del pueblo venezolano y, por lo tanto, debe alcanzar con la mayor celeridad posible a quienes la necesitan. En este sentido, felicitamos a los cientos de miles de voluntarios venezolanos que, arriesgando su integridad física, trabajarán el día 23 de febrero y sucesivos en el corredor humanitario que, desde la ciudad fronteriza de Cúcuta, permitirá hacer llegar las donaciones a los millones de necesitados en todo el territorio de Venezuela. De igual modo, y por el bien de todos los venezolanos, hacemos votos para que la entrega se realice de modo pacífico y ordenado, sin bloqueos ni obstrucciones de ninguna índole. 

5. Señalamos que la doctrina de la Responsabilidad de Proteger, aprobada por consenso en la Cumbre Mundial de las Naciones Unidas de 2005, procede y debe ser aplicada a la situación de Venezuela.   

6. Tenemos presente que las necesidades del pueblo venezolano en términos de escasez de alimentos, medicinas e infraestructura, así como las violaciones a los derechos humanos, represión, encarcelamiento y muerte de opositores por parte del régimen de Maduro fueron expuestas en toda su crudeza en variados informes emitidos por la Comisión Interamericana de Derechos Humanos de la OEA, el Alto Comisionado para los Derechos Humanos de la Naciones Unidas, Caritas, Amnesty International y Human Rights Watch, entre otros. 

7. Nos hacemos eco de tales informes y advertimos que la responsabilidad de tales violaciones se centra en el gobierno ilegítimo que hoy usurpa el poder. Condenamos la metodología de persecución a los opositores, encarcelamiento y toda otra forma de represión y restricción de libertades individuales, a la vez que exhortamos al régimen de Maduro a que libere en forma inmediata todos los presos políticos en Venezuela. 

8. Desde nuestro rol de ciudadanos de América Latina, expresamos nuestro reconocimiento a los gobiernos de Argentina, Canadá, Chile, Colombia, Paraguay y Perú por la denuncia presentada en septiembre de 2018 ante la Corte Penal Internacional para la investigación de crímenes de lesa humanidad y abusos a los derechos humanos perpetrados en Venezuela. Del mismo modo a los sostenidos esfuerzos de la Organización de Estados Americanos (OEA) y del Grupo de Lima para exponer la grave situación y para definir medidas que allanen el camino hacia la vuelta a la institucionalidad en el país. 

9. De igual modo, instamos a los líderes de los Estados que aún apoyan al régimen ilegítimo de Maduro para que se solidaricen con el sufrimiento del pueblo venezolano y revean su posición, a la luz de la catástrofe humanitaria y de la crisis institucional que vive la nación. 

10. Apoyamos la realización de elecciones libres, democráticas y con control internacional, y el surgimiento de gobernantes que puedan conducir a Venezuela hacia la recuperación de su vida institucional, económica, moral y social. 

Firmantes por orden alfabético, pertenecientes a Argentina, Bolivia, Brasil, Chile, Colombia, Cuba, Ecuador, México, Perú, Uruguay y Venezuela. 

Sergio Abreu, Marcos Aguinis, Miguel Arancibia, Irma Argüello, Karina Banfi, Mariano Bartolomé, Álvaro Bermúdez, Gerardo Bongiovanni, Emiliano Buis, Nelson Bustamente, Roberto Cachanosky, Frank Calzón, Elisa Carrió, George Chaya, Alejandro Corbacho, Alex Chafuen, Franco De Vita, Sergio Duarte, Alejandro Fargosi, Eduardo Feinmann, Catherine Fulop, Lionel Gamarra, Eduardo Gerome, Enrique Ghersi, Rodrigo Goñi, Gustavo Gorriz, Daniel Hadad, Julio Hang, George Harris, Gabriel Iezzi, Horacio Jaunarena, Santiago Kovadloff, Enrique Krauze, Guillermo Laborda, Jorge Lanata, Luis Larrain, Cristian Larroulet, Guillermo Lasso, Martín Litwak, Ricardo López Murphy, Marcelo Longobardi, Plinio A Mendoza, Nacho (Ignacio) Mendoza Donatti, Carlos Alberto Montaner, Juan Negri Malbrán, Paula Oliveto, Oscar Ortiz Antelo, Mariano Penas, Jorge Ramírez, Jaime Ravinet, Camilo Reyes Rodríguez, Daniel Roggero, Marcelo Carlos Romero, Luis Rosales, Daniel Sabsay, Eduardo Sadous, Julio María Sanguinetti, Daniel Santoro, Diego Santos, Fernando Schüler, Gustavo Segré, Cornelia Schmidt- Liermann, Graciela Tufani, Álvaro Vargas Llosa, Ian Vasquez, Marcelo Wechsler, Waldo Wolff, Claudio Zin, siguen las firmas...

quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Depois do ponto de nao retorno: qual a postura dos apoiadores? - Paulo Roberto de Almeida


Depois do ponto de não retorno: qual a postura dos apoiadores?

Paulo Roberto de Almeida
 [Mini-reflexão sobre o momento da luta anticorrupção; interrogação sobre a atitude de apoiadores, especialmente a de diplomatas]
 
E agora, como ficamos?
Depois do testemunho de um apparatchik graúdo – companheiro de caráter, ou seja, um canalha perfeito, como a maior parte dos seus colegas na direção do partido, mas sem a mesma convicção “bolchevique” que comandou o silêncio de colegas de fraudes, mentiras e patifarias – no quadro da Operação Lava Jato, acredito que se chegou àquela fase do processo que se chama de “ponto de não retorno”. Isto me parece evidente, e tão evidente que dispensa qualquer comentário sobre a sequência ulterior dos procedimentos a serem adotados no plano da Justiça. Acredito que os acusados, em primeiro lugar o chefão mafioso de toda a quadrilha, serão inapelavelmente condenados por um juiz rigoroso no plano dos procedimentos judiciais. Se eles vão, ou não, cumprir penas de prisão é outra questão, que não me interessa nesta mini-reflexão.
O que me interessa, na verdade, é a atitude pessoal de todos aqueles que apoiam e sustentam, ainda, o partido e o seu chefe supremo, uma tropa formada por muitos militantes da causa, mas por motivos que podem ser diferentes para um ou outro grupo de pessoas. Esses apoiadores eu dividiria em duas classes de pessoas: aqueles que eu chamo de “true believers”, isto é, os crentes sinceros, e vários outros que podem ter motivações diversas na sustentação da causa partidária, especialmente do chefe supremo de todos eles. A partir deste momento de não retorno, de queda para o abismo de todos os que atuaram nas causas criminosas do partido e de seu chefe, o que me interessa, na verdade, e a atitude de uns e outros em relação ao que vem pela frente.

True believers são irredutíveis em suas crenças
Todo e qualquer movimento religioso ou político, qualquer crença social sempre agrega a massa dos crentes, aqueles que acreditam sinceramente na verdade e na boa-fé da sua causa, e uma cúpula de “organizadores” e manipuladores desse movimento, que podem ou não acreditar no que afirmam, mas que vivem disso e precisam manter a fé dos true believers. Estes últimos são geralmente ingênuos, ignorantes, pessoas de reduzida capacidade mental, ou de conhecimentos limitados, que necessitam, por razões diversas, de alguma crença em alguma coisa, para dar sentido às sua vidas e atitudes. No limite, esses crentes sinceros podem se converter em fundamentalistas, ou seja, militantes ativos da sua causa, e que, num outro limite, pode chegar àquele ponto de fanatismo que legitimaria qualquer atitude, mesmo a extrema, a de se sacrificar pela causa em questão. Isso existe no mundo religioso e existe no mundo político, aliás até no futebol, onde energúmenos completos chegam ao ponto de matar o torcedor de um time adversário. Terroristas, políticos ou religiosos, são feitos desse material.
Em geral, no entanto, os true believers constituem uma massa amorfa e sincera de apoiadores irredutíveis, aqueles que por ignorância ou ingenuidade continuarão sustentando a causa dos sacerdotes do culto em qualquer tempo e lugar. Eles continuam defendendo a causa e seus chefes mesmo contra todas as evidências de que esses “sacerdotes” – ou chefe políticos – constituem, na verdade, uma gangue de perfeitos patifes que usam da causa para objetivos pessoais, não necessariamente em acordo com as crenças (muitas vezes em total contradição com os “princípios e valores” do movimento), mas para fins sórdidos, de enriquecimento ilícito, por exemplo, que é quase sempre o objetivo efetivamente buscado por esses “sacerdotes” (que também podem ser motivados por questões de prestígio, narcisismo, megalomania, etc.).
Não vou me ocupar dessa categoria de apoiadores, pois geralmente se trata de pessoas com as quais é impossível se ter qualquer tipo de diálogo racional, dada, justamente sua condição de verdadeiros crentes da causa, alguns até o fim, outros até que algum evento contundente possa demovê-los de sua crença. Talvez as mais recentes revelações – como o testemunho desse chefete do partido que administrava as contas pessoais do chefão mafioso –, que conformam o que se pode classificar de “ponto de não retorno”, alguns desses verdadeiros crentes desistam de apoiar o “messias”, ou o salvador e profeta da causa, mas duvido que isso ocorra em grande escala. Crentes sinceros são geralmente impérvios e imunes a quaisquer fatos e evidências que tendem a desmentir os fundamentos de sua crença. Deixemo-los em paz...

Uma questão de caráter, ou falta de...
Interessa-me mais a segunda categoria de apoiadores, um grupo para o qual eu não tenho uma designação única, pois esse grupo restrito de sustentadores da causa, e de seu chefe, pode estar animado por motivações diversas: oportunismo, carreirismo, fins materiais (enriquecimento, igualmente, como pode ser esperado), fidelidade pessoal ao chefão que os “prestigia” diretamente (por causas profundamente egoístas, é verdade), ou qualquer outro motivo ou razão para permanecerem ao lado do movimento e do seu supremo sacerdote, mesmo quando as evidências contraditórias já são propriamente irrecusáveis, ou seja, impossíveis de serem negadas, contornadas, deslegitimadas. Eles continuam ao lado do chefe, contra ventos e marés, e isso não tem nada a ver com o fato de serem – o que não são – true believers. Geralmente são pessoas suficientemente bem informadas, até inteligentes, que sabem exatamente o que se passa, o que sempre se passou, ainda que no início pudesse haver uma esperança sincera de que a causa valia o seu apoio e engajamento na causa.
Tudo o que ocorreu, no seguimento da mobilização dos militantes do baixo clero – os true believers – e de materialização dos objetivos do movimento, todas as patifarias e crimes cometidos, o gigantesco espetáculo da corrupção, poderia tê-los demovido de apoiar a causa e o seu chefe, ao constatar a realidade do que estava por trás de todo o discurso aberto ao público, em total contradição com o que se passava nos bastidores e que eles sabiam muito bem, ou poderiam desconfiar, que era verdade. Afinal de contas, à diferença dos militantes sinceros, mas ingênuos e ignorantes, essas pessoas nunca foram ingênuas ou ignorantes, mas se engajaram na causa, e na defesa da organização e do seu chefe supremo, de forma totalmente voluntária e conscientemente.
Essas pessoas – intelectuais, ou presumidos tais, chefes de outras organizações, jornalistas, artistas, representantes dos chamados movimentos sociais, e até dois dos mais importantes diplomatas que serviram nos governos companheiros – se reuniram diversas vezes numa espécie de “pacto de sangue” em favor do chefão da causa, no que pode ser considerado como uma “tropa de choque” pessoal, uma guarda pretoriana dita “intelectual” atuando em defesa do sacerdote supremo. Como chama-los, como designar a tropa de choque, que classificação atribuir aos integrantes desse grupo restrito em apoio ao líder do movimento, aquele que o diplomata mais conhecido integrante da tropa chamou de “Nosso Guia”? Confesso que não sei.
Uma única conclusão é possível em face da atitude dos apoiadores conscientes: essas pessoas deixaram de ter qualquer caráter, no sentido mais amplo dessa palavra. Em outros termos, são aquilo que se chama de canalhas completos. Lamento apenas que colegas diplomatas integrem o bando de cúmplices da causa criminosa. O serviço exterior do Brasil, o Itamaraty, o conjunto dos diplomatas – categoria da qual faço parte – não merecia assistir a um espetáculo deprimente, como pode ser a manifestação de apoio completo de integrantes da carreira a crimes manifestamente perpetrados não só contra o país, como contra a credibilidade e a legitimidade das suas instituições, inclusive da diplomacia (uma vez que os crimes se estenderam por diversos países, usando e abusando de instituições diplomáticas para o cometimento de tais crimes).
Não tenho nenhum problema em afirmar, mais uma vez, minha convicção plena, confirmada pelo menos desde 2005 de que, a partir de 2003, o Brasil passou a ser comandado por uma organização criminosa, com um chefão mafioso à sua frente, o que aliás permanece até este momento. Talvez tenha sido por isso que me afastei, talvez de maneira inconsciente, no começo, mas instintivamente convicta, do apoio e do serviço em benefício da administração diplomática lulopetista que passou a servir, com tons de submissão abjeta, às obsessões megalomaníacas do chefão da quadrilha, inclusive e sobretudo no plano internacional. Desde aí tornei-me um crítico da diplomacia em questão, que sempre chamei de lulopetismo diplomático, por considera-lo contrário aos interesses nacionais, e por saber, mesmo sem documentação probatória, que crimes de corrupção estavam sendo cometidos nos subterrâneos do regime execrável que ficou no poder por mais de três mandatos.
Nunca duvidei dessas minhas certezas, o que aliás foi confirmado indiretamente pelo ostracismo completo a que fui condenado durante todos esses anos, numa longa travessia do deserto que durou exatamente os treze anos e meio da gestão lulopetista na política nacional. Agora que essa fase deprimente da vida do país se encaminha para o seu ocaso, e o seu desfecho judicial, só posso lamentar, mais uma vez, que colegas diplomatas integram o pelotão de choque de defesa desses crimes abomináveis e do seu perpetrador supremo. Como chamar essas pessoas? Não tenho nenhum outro nome a não ser o de canalhas. Espero que superemos essa fase vergonhosa da vida nacional, durante a qual a diplomacia também foi envolvida, indiretamente, na trajetória de crimes cometidos pelo lulopetismo. A diplomacia se salvou relativamente ilesa desses episódios, ainda que a política externa tenha sido contaminada pelas loucuras, exageros e idiotices do lulopetismo diplomático, algo do que ainda não nos libertamos completamente no momento presente. Continuarei engajado no restabelecimento da dignidade da política externa brasileira e na conformidade da diplomacia profissional a seus padrões históricos de comportamento.

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 7 de setembro de 2017