O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

Mostrando postagens com marcador aristocracia. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador aristocracia. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 27 de dezembro de 2023

Punhos de renda (Joaquim Nabuco e Oliveira Lima) - José Renato Nalini

 Punhos de renda

Por José Renato Nalini*

Blog do Fausto Macedo, 27/12/2023 | 05h00


https://www.estadao.com.br/politica/blog-do-fausto-macedo/punhos-de-renda/?utm_medium=newsletter&utm_source=salesforce&utm_campaign=manchetes&utm_term=20231227&utm_content=blogs 

As escaramuças entre pessoas cultas podem revestir peculiaridades que disfarçam a rudeza, própria aos desprovidos de polidez. Por isso se diz que existe uma “ética de punhos de renda”, tão cruel quanto, mas sob aparência de civilidade.

Essas desinteligências podem surgir na carreira universitária, em estamentos como a Magistratura ou a diplomacia. Até na Igreja, o confronto entre posições antagônicas transparece. Existe acerba competição entre potenciais candidatos às mesmas cobiçadas vagas. É um silente, porém feroz duelo de egos.

Oliveira Lima e Joaquim Nabuco, ambos contemporâneos, ambos amigos, ambos diplomatas, se estranhavam. O primeiro censurava Nabuco por não libertar os cativos que sua família ainda possuía. Invocava o exemplo de sua mãe, que alforriara todos os escravos do serviço doméstico, à exceção de um só, que fora vendido meses antes por furtos cometidos. Mas chegou a conhecimento da mãe de Oliveira Lima que esse elemento servil estava a serviço de um senhor de engenho conhecido por sua desumanidade e que se gabava de, toda a vez que comprava um escravo, aplicar-lhe uma “novena”. Isto é, mandar surrá-lo diariamente durante nove dias, para que “aprendesse a conhecer o senhor”. Condoída, a senhora recomprou-o, a preço elevado pelo desalmado, e deu ordem para libertar o infeliz.

Já Nabuco era mais poeta do que abolicionista. Ambicionava honrarias e galanteios. Araújo Beltrão, cunhado de Oliveira Lima, suscitou homenagem a Nabuco no Parlamento Português e conseguiu concretizá-la. Algo a que Nabuco não agradeceu e fez questão de esquecer.

“Na sua presunção, Nabuco ia ao ponto de esquecer as considerações pelo amor próprio alheio”. Oliveira Lima o ajudou quando em Londres, ante nova invasão armada no território contestado com a Guiana Britânica. Nabuco estava a cuidar do arbitramento entre Brasil e Inglaterra. Nabuco mandou a Oliveira Lima um texto preparado por Graça Aranha, verdadeira “mixórdia digna de Malasarte, que corria o risco de ser restituída para ser posta em vernáculo, por estar recheada de termos tupis. Uma das frases dizia – textualmente: dans la maloca du tuxana”. Oliveira Lima deixou de lado a minuta e redigiu outra. Com surpresa viu que a “sua” nota, que elaborara a respeito, figurou nas memórias de Nabuco, sem referência à verdadeira autoria.

Em compensação, Graça Aranha fez jus a uma recompensa por seu trabalho. Nabuco o mandou representa-lo em Haia, no casamento da Rainha Guilhermina, “custeando suas despesas com o dinheiro destinado aos gastos de publicidade”, de que Oliveira Lima não fizera uso. A observação deste: “Os turibulários têm sempre sorte porque os homens, mesmo grandes, são muito sensíveis à lisonja”. Raros os homens públicos dotados de altivez ávida de impopularidade. “Rio Branco e Nabuco, pelo contrário, tinham a ânsia da popularidade, com uma diferença entretanto. Nabuco era um aristocrata, descendente pela mãe daquele fidalgo vianês Paes Barreto, tronco dos Morgados do Cabo, que, com o espírito de um São João de Deus, quis ir morrer entre os pobres no hospital que fundara em Olinda”. Já a Rio Branco, “não achou Afonso Arinos, no elogio do visconde pronunciado na Academia ao recolher a sucessão de Eduardo Prado, que o escolhera para patrono da sua cadeira, outro avô senão um capitão de navio da Bahia. Ora, navios da Bahia, de longo curso naquele tempo andavam pela certa ocupados no tráfico de escravos”.

Em desfavor de Nabuco, Oliveira Lima diz que, “depois de estar em contato com o povo, ia ensaboar as mãos e perfumar-se”. Algo ainda muito comum nos dias de hoje. Políticos que apertam as mãos do populacho e, mal adentram em seus carros e recorrem ao álcool purificador. Hoje ainda existe a escusa da Covid. Mas, mesmo antes disso, o “nojo de pobre”, a ojeriza ao povo não era uma característica incomum aos “mais iguais do que os outros” na bizarra Democracia Representativa tupiniquim.

Seja como for, Nabuco era um cavalheiro. A ponto de uma condessa, esposa de um embaixador alemão no Rio, ter dito a seu respeito, que era de se estranhar que só na Europa se encontrassem brasileiros distintos. Aqui, os que ela conheceu, não poderiam ser incluídos nessa categoria.

*José Renato Nalini é reitor da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e secretário-geral da Academia Paulista de Letras

 

domingo, 6 de janeiro de 2019

Aristocracia do Ancien Regime: juízes em geral, do trabalho em especial

O Judiciário como um todo, os juízes em especial, mas com ênfase, é o mais próximo que temos da aristocracia do Antigo Regime, antes da guilhotina, claro.
Acho que alguns merecem...
Paulo Roberto de Almeida
Gramado, 6/01/2019

Da Coluna de Carlos Brickman, 6/01/2019

Voa, dinheiro! 1

 

Por que Bolsonaro pensa em acabar com a Justiça do Trabalho? Pelo custo: a Justiça do Trabalho tem pouco menos de 10% das unidades judiciárias do país, mas consome 20% da verba. São R$ 85 bilhões no total, dos quais a Justiça do Trabalho gasta R$ 17 bilhões. Justiça do Trabalho existe numa série de países, não apenas aqui, mas lá fora é mais barata.

 

Voa, dinheiro! 2 

 

Números oficiais, levantados pelo Novo Jornal, de Natal: os espantosos 50 maiores salários do Rio Grande do Norte (pagos em junho). O maior foi de R$ 179.887,06, pago a uma desembargadora federal do Tribunal Regional do Trabalho. O menor, de R$ R$ 40.185,15, foi pago a uma juíza de terceira entrância, do Tribunal de Justiça. Mesmo o menor é mais alto que o teto do funcionalismo público, o pago aos ministros do Supremo Tribunal Federal.

 

Todos, sem exceção, trabalham na área do Direito: juízes, promotores, desembargadores – e um solitário técnico judiciário, com R$ 52.312,17.