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quarta-feira, 30 de maio de 2012

Fim do bonus demografico: de novo a pobreza?

Este debate, que deve interessar primordialmente os países do Caribe e Cuba, também tem tudo a ver com o Brasil. Estamos em meio a nosso bonus demográfico, mas, em lugar de aproveitar a maior relação possível, e históricamente exclusiva, única e irrepetível, para ficarmos ricos, estamos apenas dilapidando as possibilidades de crescimento por um distributivismo precoce e exacerbado, deixando de produzir os recursos humanos para obter ganhos de produtividade, se esquecendo de que precisamos ficar ricos rapidamente antes que o bônus demográfico termine e tenhamos, então, de arcar com uma maior proporção de velhos, dependentes e "gastadores" de recursos dos sistemas de saúde generosos e universais, o que nos deixará numa situação calamitosa dentro de uma geração e meia, quando todos os bônus terminarão e os "malus" se manifestarão.
Infelizmente, as pessoas são inconscientes, hoje, o que deixará uma pesada herança para elas mesmas, quando se aposentarem com uma Previdência que já terá quebrado três vezes, e para seus filhos e netos, que terão de trabalhar muito mais, apenas para garantir um tratamento relativamente digno para seus dependentes, que serão seus pais e avós. Triste, mas teria de ser assim?
Querem apostar? Bem, eu não estarei mais aqui quando o problema se apresentar, mas vocês sim...
Paulo Roberto de Almeida 

Demographic Change in Cuba:
Economic and Social Impact

Paulo Saad
Chief of Population and Development Area
UN Economic Commission for Latin America and the Caribbean (CEPAL)
Moderator
Mauricio Font
Bildner Center and The Graduate Center, CUNY, New York

Tuesday June 5, 2012, 4PM
The Graduate Center, Segal Theater
365 Fifth Avenue (@ 34th Street)

Countries in Latin America and the Caribbean are in the midst of a period of profound demographic change which will lead to a dramatic shift in the age structure of the population, with sharp declines in the proportion of children and increases in the proportion of older persons. Though they are at different stages in this process, the majority of countries in the region are currently in the midst of the period of the demographic dividend, which is characterized by a relative increase in the number of working-age people relative to those who are dependent upon them. However, sooner or later this favourable situation will end due to the rising demand for resources on the part of a progressively older population. The transition to economically-aged societies in Latin America and the Caribbean -in contrast to that of the more developed countries- will take place in a context of high and persistent levels of inequality and of lower per capita income and less developed political and financial institutions.
This new situation will pose unprecedented challenges to Latin American and Caribbean society and will require adjustments in diverse areas, especially in health and pensions. This is particularly the case of Cuba, which is already experiencing a very intensive process of population ageing. Ideally public policies should anticipate demographic changes, redesigning the financing mechanisms for social protection systems so that the increased pressure on public and private spending can be sustained financially without reducing the coverage and quality of benefits.
Paulo Saad (Ph.D., University of Texas) is Chief of the Population and Development Area at the Population Division of the United Nations Economic Commission for Latin America and the Caribbean (ECLAC). Prior to ECLAC he worked at the Population Division of the Department of Economic and Social Affairs of the United Nations in New York. Throughout his professional career Mr. Saad has worked on a variety of projects related to population ageing and currently coordinates the project “Intergenerational Transfers, Population Ageing and Social Protection in Latin America and the Caribbean” with support from the International Development Research Center (IDRC) of Canada. The project is an integral part of a global undertaking under the general coordination of the University of California, Berkeley.

sábado, 7 de janeiro de 2012

O Brasil e o bonus demografico: preparado? - Revista Epoca


Por que o brasileiro não poupa para o futuro
DANIELLA CORNACHIONE E LEOPOLDO MATEUS
Revista Época, 7/01/2012

Em breve, não seremos mais um país jovem. O rápido envelhecimento da população coloca o Brasil diante de uma questão urgente: como ensinar uma sociedade inteira a economizar

Já fomos um país de crianças e adolescentes. Hoje, somos um país de jovens adultos, com idade média de 32 anos, superior à de outras grandes nações em desenvolvimento, como México e Índia. Em cada dez brasileiros, seis têm entre 20 e 65 anos, a faixa de vida mais produtiva. Isso quer dizer que o país já começou a desfrutar seu "bônus demográfico", um período ótimo no ciclo de vida das nações, em que o número de trabalhadores que produzem supera o de crianças, adolescentes e idosos. Mas David Bloom, o economista e demógrafo da Universidade Harvard que definiu esse conceito, calculou que o bônus costuma durar de 30 a 40 anos, um momento breve em termos históricos. Depois desse ápice, a parcela de idosos no país começa a aumentar, o número de trabalhadores cai e os custos com saúde e aposentadoria sobem. O ideal, para qualquer país, seria formar um bom estoque de poupança, pública e privada, antes do fim do bônus demográfico. Mas o governo brasileiro não poupa nada, os cidadãos poupam pouco e não há no horizonte sinal de que isso vá mudar. O problema também aflige outros países e, por causa disso, ao redor do mundo, experimentam-se soluções envolvendo educação, participação das empresas e até tecnologia de computação gráfica. Será que elas conseguirão mudar o comportamento de sociedades inteiras?
Esse debate é de especial interesse para os brasileiros, pois nosso bônus começará a se esgotar pouco depois de 2040. Parece longe, mas não é. É quando os adolescentes de hoje estarão no auge da vida produtiva, com idade entre 40 e 50 anos. Apesar da urgência do assunto, o país está despreparado. Um novo capítulo da série de pesquisas O futuro da aposentadoria, feito pelo banco HSBC em 17 países, constatou que mesmo entre os brasileiros mais ricos (classes A e B) 60% não poupam o suficiente para a aposentadoria. Os que são pais se mostram mais otimistas com o futuro de sua situação financeira – algo que sugere uma expectativa irreal de depender dos filhos na velhice. Outra pesquisa, da empresa de benefícios e seguros MetLife, mostrou que os brasileiros dão menos valor do que deveriam a planos de aposentadoria oferecidos pelas empresas em que trabalham. Acham mais importante vale-alimentação e seguro odontológico, benefícios instantâneos e de utilidade mais restrita. "É uma questão cultural", diz a economista Myriam Lund, da Fundação Getulio Vargas. "Os anos de inflação, os planos econômicos que levavam nosso dinheiro das aplicações bancárias e a quebra de previdências privadas traumatizaram as pessoas."
O problema pode ser ainda mais antigo. O economista e filósofo Eduardo Giannetti acredita que a cultura brasileira é imediatista desde sua origem, no que chama de "aventura colonial". "Enquanto os imigrantes puritanos que foram para a América do Norte queriam criar o paraíso – constituir uma sociedade que não tivesse os vícios daquela que eles estavam abandonando –, os imigrantes portugueses que vieram para cá, na base da aventura, queriam encontrar e desfrutar o paraíso, não criá-lo", diz. Em seu livro O valor do amanhã, Giannetti afirma que "o animal humano" tem, necessariamente, de escolher entre fazer agora, desfrutar, ou cuidar do amanhã. "São perguntas das quais não se escapa", ele escreve. "Das decisões cotidianas ligadas a dieta, saúde e finanças às escolhas profissionais, afetivas e religiosas, as trocas no tempo pontuam a nossa trajetória no mundo."
O fator cultural ajuda a explicar por que alguns povos poupam mais ou menos que outros. Americanos são tradicionalmente mais gastadores que europeus e asiáticos. Mas o clima econômico de um momento é uma força poderosa a agir sobre os hábitos de uma sociedade. Os americanos que cresceram durante a década de 1930, na Grande Depressão, eram muito mais propensos a poupar que os nascidos nas últimas décadas, diz o pesquisador Shermann Hanna, da Universidade Estadual de Ohio. A Coreia do Sul fez esse mesmo caminho mais recentemente: passou do nível de poupança de 30% do PIB, nos anos 1990, para cerca de 4% hoje. A Austrália oferece um exemplo contrário. Talvez por receio com o futuro da economia, as famílias australianas passaram de um nível de poupança de 2% do PIB até 2006 para mais de 10%, atualmente. Esse exemplo sugere algo importantíssimo: é possível mudar o comportamento de um país inteiro com respeito à poupança. No Brasil, a poupança das famílias equivale a 4,5% do PIB. Ficamos atrás dos europeus e muito atrás dos grandes emergentes asiáticos, Índia, China e Indonésia, onde a poupança das famílias passa de 20% do PIB. E temos pressa. O Brasil vem envelhecendo mais rapidamente do que se projetava até o fim do século XX. Na França, foram necessários 100 anos para que a proporção de idosos aumentasse de 7% para 14% da população. A mesma variação ocorrerá por aqui em apenas duas décadas, de acordo com o Banco Mundial.
Diante desse problema global, têm surgido diferentes propostas e soluções. Uma equipe de pesquisadores americanos testou os efeitos de mostrar a jovens na casa dos 20 anos como eles se parecerão quando forem idosos. Eles exibiram a um primeiro grupo imagens de pessoas mais velhas. Um segundo grupo interagiu, num ambiente virtual, com versões deles mesmos, envelhecidas por computação gráfica – seus avatares idosos. Após três baterias de questionários, os pesquisadores ficaram animados com a maior disposição do segundo grupo de poupar para a aposentadoria. O estudo foi publicado em novembro. "Queríamos ver se a experiência de envelhecimento fotográfico poderia fazer alguém se sentir mais conectado consigo mesmo no futuro. Deu certo", afirma Hal Hershfield, professor de marketing na escola de negócios Stern, em Nova York, e principal autor da pesquisa. Um dos mecanismos que atrapalham a poupança é que jovens têm dificuldade em trocar o prazer imediato em nome do conforto de um "estranho" – ele mesmo, dentro de 40 ou 50 anos. Ao aproximar o jovem do ancião que virá a ser, o avatar rompe esse distanciamento. "Os benefícios que os avatares podem trazer, como ajudar a poupar e emagrecer, logo estarão disponíveis em outras áreas", afirma Jeremy Bailenson, coautor do estudo e autor do livro Infinite reality (Realidade infinita). Os pesquisadores negociam com a empresa de investimentos e seguros Allianz para que clientes e funcionários possam usar esse recurso.
Métodos inovadores para estimular a poupança estão em estudo no mundo todo porque a abordagem tradicional – dizer às pessoas que elas precisam guardar para o futuro – simplesmente não está funcionando. Talvez porque a sociedade ofereça estímulos desproporcionais para o consumo imediato e o endividamento. Talvez porque a natureza humana seja resistente a encarar o futuro. "Em vez de fazer a melhor opção, simplesmente escolhemos a mais fácil", afirma Vera Rita Ferreira, doutora em psicologia econômica pela PUC-SP. Dois americanos ganharam destaque nos últimos anos por propor que as sociedades atropelem a preguiça mental dos indivíduos em benefício da sociedade. O economista Richard Thaler e o jurista Cass Sunstein defendem um novo modelo para as escolhas oferecidas ao cidadão. Eles criticam os "cardápios de investimento" em que todas as alternativas têm igual destaque. Sugerem que se apresente às pessoas a opção mais sensata, sem muita possibilidade de erro. Seguindo essa ideia, um número crescente de companhias americanas define como padrão na contratação que o funcionário seja incluído de forma automática no plano de aposentadoria, alimentado por descontos mensais no salário e depósitos mensais por parte do empregador. Se ele não quiser ficar no plano, terá de fazer um esforço burocrático para cair fora. A maioria fica e poupa para o futuro sem precisar pensar muito. Thaler e Sunstein esmiúçam essa ideia no livro Nudge – O empurrão para a escolha certa.
Entre os estudiosos do assunto, cresce a ideia de preparar também as crianças para a necessidade de poupar. "A educação na infância é muito importante. Ter bancos fictícios nas escolas japonesas incentivou as crianças a poupar mais", afirma a americana Annamaria Lusardi, professora de economia na escola de negócios George Washington e referência mundial em finanças pessoais. Ela acredita que há vários motivos para as pessoas não pouparem, mas insiste no mais óbvio: informação. Mesmo os cidadãos de classe média dos países ricos carecem de educação financeira. As pessoas não conseguem calcular quanto precisarão para a aposentadoria. É preciso instruí-las. O aprendizado nesse assunto pode provocar mudanças de comportamento notáveis, como a do empresário carioca Erick Vils, de 34 anos. Ele diz ter mudado sua forma de pensar sobre o futuro ao ler um livro de finanças. "Eu achava que precisava acumular bens. Comprei casa e carro aos 20 e poucos anos", afirma. Lendo, Vils aprendeu que poderia ganhar mais se investisse melhor. A partir dessa premissa, fez as contas para poder trabalhar menos no futuro e aposentar-se com tranquilidade. "Não tenho filhos ainda, então aproveito para poupar o dinheiro que gastaria com eles." Trata-se de uma questão individual, mas não apenas. Vils e os brasileiros que poupam viverão bem melhor daqui a algumas décadas se, além de ter dinheiro no bolso, não se virem diante de um Estado quebrado – e cercados por amigos idosos e infelizes.
O Brasil a caminho da maturidade
Daqui a uma geração, não terá mais sentido falar em "pirâmide etária" no Brasil – a figura à direita tem poucos jovens na base e muitos idosos no topo. Nos próximos anos, tende a cair a demanda por novas escolas e a crescer o gasto com saúde e aposentadorias.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Brasil e bônus demográfico: crônica de uma tragédia anunciada - Paulo Roberto de Almeida

Brasil e bônus demográfico: crônica de uma tragédia anunciada
Paulo Roberto de Almeida

Por “tragédia anunciada”, ou apenas antecipada, desejo referir-me ao fato – na verdade ainda uma hipótese – de que o Brasil vai perder a chance única de que dispõe como sociedade para crescer e ficar rico no momento de maior potencialidade produtiva de sua população, fenômeno conhecido como “bônus demográfico”, ou seja, a melhor (e maior) relação possível entre o número de ativos e o de dependentes na sociedade. Dentro de 25 a 30 anos essa relação não apenas vai se inverter, como a situação vai começar a ficar mais preocupante, em termos de maiores despesas com a terceira idade, e uma riqueza acumulada insuficiente para cobrir despesas de saúde e as previdenciárias.
Observando o que tivemos de 2003 até aqui, e que promete prolongar-se de 2014 até 2022, eu ousaria antecipar uma imensa perda para o Brasil: pelo menos metade do bônus demográfico será desperdiçado em distributivismo demagógico, com uma deterioração ainda maior dos padrões educacionais (em todos os níveis, com uma mediocrização absoluta e relativa de todos os ciclos educacionais, tendo em conta as “pedagogas freireanas” que dominam a educação no Brasil, as novas saúvas do nosso pais), e uma perda de oportunidade completa para fazer crescer a produtividade do trabalho humano.
Em outros termos, vamos continuar crescendo pouco, e descendo ainda mais na agregação de valor no capital humano, com custos de transação aumentando (em virtude do desmantelamento atual, e futuro, das instituições públicas) e perda de competitividade relativa e absoluta do Brasil no contexto do Mercosul, da região e do mundo, ou seja, vamos decair como decaíram a China, desde o século XIX, como a Inglaterra nos primeiros 80 anos do século XX, e a Argentina desde os anos 1930 (e continuando até hoje); vamos ficar atrás dos asiáticos e outros países.
Minha analise é, obviamente mais sociológica (e, portanto, mais impressionista), do que seria um exame econômico, portanto mais fiável e colado na realidade, mas esta é a minha visão do processo que assisto hoje no Brasil, vendo comparativamente o que ocorreu com outras sociedades, em outras épocas. Estamos entrando (já entramos há muito tempo) numa Republica Sindical ainda mais medíocre do que o padrão argentino (que tinha alguma ideologia atrás de si, enquanto o nosso se baseia unicamente na ignorância de 70% do eleitorado), e que promete ficar conosco durante toda a duração do bônus demográfico.
Ou seja, sou pessimista, apenas moderadamente na vertente econômica, mas absolutamente na vertente educacional. Creio que estamos perdendo uma imensa oportunidade de “ficar ricos” – relativamente, claro – enquanto podemos contar com esse bônus; depois disso será muito tarde.
E por que perderemos? Porque a produtividade da mão-de-obra no Brasil é baixa e continuará baixa pelo futuro previsível, com a educação de qualidade medíocre que temos hoje e que continuaremos a ter nos anos à frente.
Em outros termos, perdemos e perderemos, de forma agravada, pois imagino que a carga fiscal continuará aumentando em virtude da inevitabilidade dos aumentos já encomendados dos gastos públicos, com previdência, salario mínimo, funcionalismo, transferências a gregos e goianos (ou seja, a capitalistas, banqueiros e recebedores da Bolsa-Família), além de todos os problemas decorrentes do aumento, ainda que menor, da dívida pública e portanto da drenagem da poupança privada (voluntária) pelos mecanismos compulsórios de requisição estatal, ademais da compressão contínua dos investimentos públicos pelos gastos constantemente altos com juros.
Como se vê, eu sou bastante pessimista quando a má qualidade e à falta de visão de nossos dirigentes atuais (de qualquer vertente, pois a oposição também é inconsequente). Acredito, aliás, que o melhor que poderia ocorrer ao Brasil, quanto antes melhor, seria uma crise fiscal, ou uma crise de transações correntes, pois uma delas, ou as duas, pelo menos nos obrigaria a fazer alguns ajustes. De outro modo, só uma “fronda aristocrática” – ou seja, uma revolta dos empresários contra a extorsão tributária – poderia iniciar um processo necessário de reformas, o que acredito, contudo, que não ocorrerá, pois os nossos capitalistas, organizados por sindicatos de aproveitadores, como sabemos, estão muito empenhados em arrancar favores fiscais, proteção tarifária e crédito subsidiado do ogro estatal que os explora do outro lado, e a todos nós.
Acho que vamos decair lentamente, um pouco como a Inglaterra nos primeiros 80 anos do século 20...

Brasília, 29/08/2011

domingo, 24 de abril de 2011

Bonus demografico no Brasil: e o lado "malus"?

Este editorial do Estadão chama a atenção para uma questão importante: as vantagens que podem advir da máxima proporção de população economicamente ativa nos próximos 20 ou 30 anos.
Não sou tão otimista assim. Acho que o Brasil deixará passar boa parte do período com crescimento medíocre -- em vista da alta tributação, baixo investimento, mediocridade na inovação -- e não acumulará riqueza suficiente para o período pós-bônus, quando teremos muitos velhos na população e um déficit maior ainda (do que já existe hoje) na Previdência.
O fato é que não apenas não fazemos as reformas necessárias -- na Previdência, no mercado de trabalho, na educação -- e não temos ganhos de produtividade suficientes para sustentar o período posterior, quando os custos serão maiores que os benefícios do chamado bônus.
Ou o Brasil reforma e aumenta radicalmente seu desempenho educacional, ou o bônus demográfico será uma oportunidade perdida.
Por enquanto estamos perdendo tempo.
Paulo Roberto de Almeida

O bônus demográfico do Brasil
Editorial - O Estado de S.Paulo
24 de abril de 2011

Dadas as deficiências estruturais do Brasil, há quem considere discutível a opinião de James O"Neill, criador da sigla Bric, de que já nos desenvolvemos a ponto de não mais sermos classificados como "economia emergente". Uma coisa, porém, é certa: a nossa taxa de natalidade já é muito semelhante à dos países industrializados. Segundo a OCDE, a taxa de fertilidade da mulher brasileira é hoje de 1,8 filho, em média, índice bastante próximo ao dos países ricos (1,7 filho por mulher). Se o País souber aproveitá-lo, esse bônus demográfico deve permitir que a renda per capita do brasileiro aumente 2,5% ao ano entre 2010 e 2050, segundo as projeções dos especialistas. Na metade do século, haverá o problema de envelhecimento da maior parte da população, mas ao longo desta e das próximas décadas, a qualidade de vida dos cidadãos tende a melhorar e a sua capacidade produtiva, a aumentar, assim como seu nível de poupança, desde que o País seja capaz de tirar o atraso em áreas como educação e saúde.

É importante notar que o crescimento demográfico no Brasil diminuiu sem medidas coercitivas do governo, como as em vigor na China, onde a taxa de fertilidade caiu para 1,5 filho por mulher em razão de uma legislação draconiana, inaceitável nos países democráticos. Sem dúvida, a alta taxa de natalidade, característica dos países mais pobres, agrava os problemas sociais e, sob esse ponto de vista, o Brasil avançou muito em relação ao período de 1950/80, quando a população acusava uma taxa de crescimento de 2,8% por ano, em média. O mesmo não se pode dizer da Índia, cuja taxa de fecundidade ainda é de 2,7 filhos por mulher. No grupo dos Bric, o Brasil também está em situação mais favorável do que a Rússia, que registra uma taxa de natalidade negativa de 0,6, ou seja, muito abaixo do nível de reposição, tornando mais graves os problemas de envelhecimento da população.

Um conjunto de fatores contribuiu para a transição demográfica por que passa o Brasil. Com a crescente urbanização do País e a expansão da indústria e da área de serviços, um número cada vez maior de mulheres passou a trabalhar fora de casa, sendo incluídas na População Economicamente Ativa (PEA). Segundo estudo do demógrafo José Eustáquio Diniz Alves, do IBGE, a taxa de atividade total das mulheres com mais de 10 anos subiu de 13,6% da PEA em 1950 para 26,9% em 1980 e 44,1% em 2000, estando atualmente em mais de 60%, com tendência a crescer. As contingências do trabalho e da vida urbana, bem como os novos métodos anticoncepcionais, contribuíram decisivamente para o declínio da taxa de fecundidade.

Ao lado disso, a taxa de dependência demográfica vem despencando. Em 1950-1980, cada 100 pessoas em idade produtiva tinham, em média, 82 dependentes. A projeção para 2010/2030 é de que o número de dependentes deve cair para 42 pessoas inativas (crianças e idosos) para cada 100 em atividade. Somente a partir de 2025, segundo o estudo, a taxa de dependência voltará a se elevar, diminuindo a proporção dos que trabalham em relação aos que já se aposentaram.

São nítidas as vantagens desse processo, que terá um impacto macroeconômico ainda mais pronunciado nas próximas quatro décadas, pois significa "maior capacidade de poupança, condição indispensável para a elevação dos investimentos necessários ao desenvolvimento", diz Alves.

Um trabalho dos professores Cássio Turra e Bernardo Queiroz, da UFMG, mencionado em estudo do Banco Mundial sobre o assunto, considera que o "primeiro dividendo" demográfico foi usufruído no período 1970/2010, tendo contribuído com 30% do crescimento econômico do País, embora tenha ficado aquém do que seria ideal. O "segundo dividendo" demográfico, que seria colhido entre 2020 e 2050, possibilitaria um acúmulo de capital associado à forma de trabalho mais madura, aumentando a produtividade do trabalho (Estado, 7/4).

Quer dizer, o Brasil tem aproveitado o bônus demográfico, mas menos do que poderia. Como o Banco Mundial sugere, o País terá de promover mudanças no mercado de trabalho e na Previdência Social para estimular sua poupança para investimentos.