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terça-feira, 15 de maio de 2012

Brasil, pais caro: cambio OK?; e os impostos?

Esqueceram os impostos: o Brasil continua a ser um país caro, para desgosto de todos os brasileiros, e talvez conforto dos estatizantes e protecionistas...
Paulo Roberto de Almeida 


Brazil’s currency war: don’t call it victory yet 
The Financial Times, May 15, 2012

Bravo Mantega, you did it! On Monday the Brazilian real weakened past R$2 to the dollar for the first time since July 2009. 
After touching R$2.0022 per dollar during the trading session, the currency closed around R$1.99, extending its losses for the year to about 6.3 per cent. 
Those declines may have had more to do with the central bank’s recent easing cycle and fears over Greece, but for Guido Mantega, who has waged a war against Brazil’s strong currency for over two years, it means victory. 
And judging from the finance minister’s comments at an impromptu press conference on Monday, it seems he will be happy if the real weakens even further: 
The weak real is beneficial for the Brazilian economy because it makes Brazilian products more competitive which means that Brazilian industry can better compete with imported products that become more expensive and can export more. 
One journalist asked: “but I thought you were happy with 1.80 (to the dollar)?” and he replied: 
The government never established a parameter for the dollar and it will not. The currency is not fixed and it will continue to move in accordance with the market. 
A weaker real will always be good news for exporters, but as this study from local newspaper O Estado de S. Paulo goes to show, Brazil is still expensive even at R$2 to the dollar. 
Clothing, electronics, trainers, and even books are up to 65 per cent cheaper in the US, it says. 
Google Shopping tells a similar story. Take a simple microwave, for example – the cheapest option in Brazil costs R$179 ($90), compared to $39 in the US. 
In other words, even if the real were R$4 to the dollar, you’d still be better off buying in the US. 

segunda-feira, 26 de março de 2012

Brasil quer a socializacao dos custos de sua politica cambial!

Em suma, é isso que pretende o Brasil, ou melhor, o atual governo brasileiro.
Ele quer dividir com todos os demais países os "prejuízos", para seus exportadores, de ter uma moeda valorizada.
Curioso que nunca se fala nos benefícios de se ter uma moeda valorizada.
Por exemplo: as importações ficam mais baratas, e assim o sistema produtivo nacional, ou brasileiro, pode trabalhar com custos menores.
Outro benefício: os brasileiros ficam um pouco mais ricos, e podem passear em Paris e Londres, e ir duas vezes por ano à DisneyWorld.
Por que só se vêem os prejuízos?
Por que os produtores nacionais e os exportadores estão reclamando? Seria isso?
Frequentemente ouço, até de economistas bem postos, que NENHUM -- com essa ênfase -- se desenvolveu com câmbio valorizado.
MENTIRA! (minha ênfase).
Dou dois exemplos magníficos. Alemanha e Japão, durante todo o pós guerra, cresceram enormemente, se tornaram grandes máquinas exportadoras, a despeito, e até com o benefício de moedas constantemente valorizadas. O marco alemão, por exemplo, começou sua trajetória, no final dos anos 1940, acima de 6 DM por dólar; quando terminou, em 1999, ou 2002, estava a menos de 1,2 deutsche marks por dólar. Da mesma forma, o iene caiu de mais de 550 por dólar, para menos de 80 atualmente,  e nem por isso o Japão deixou de exportar e retirar benefícios de uma moeda valorizada, o que barateia importações e permite utilizar ao máximo esse desafio para obter ganhos de produtividade, justamente.
E o que lemos na matéria abaixo?:


"Os mecanismos atuais da OMC são muito poucos e muito limitados numa situação de câmbio desalinhado. As regras foram desenhadas ainda nos tempos de moeda fixa e são insuficientes para garantir proteção à indústria nessas circunstâncias. Não existe na OMC um mecanismo específico, como salvaguarda, por exemplo, para reagir a desvalorizações competitivas de moedas."


Mas, os mecanismos da OMC não foram concebidos para conceder proteção à indústria. Eles foram concebidos para facilitar o comércio, o que se consegue liberalizando fluxos, baixando tarifas, produzindo facilitações alfandegárias, etc. Proteção é um conceito que não deveria ser invocado como mecanismo da OMC, e sim como solução emergencial e temporária, e em condições muito limitadas.
Seria a OMC, ou os seus membros responsáveis pelo câmbio desalinhado de um país qualquer?
Claro que não! Por que então se pretende socializar os prejuízos de uma decisão inteiramente nacional. 
Vamos ser claros. Depois do fim de Bretton Woods, ou seja, os regimes de taxas estáveis, cada país é inteiramente livre para fazer o que desejar com a sua moeda: fixar, ancorar, desvalorizar, flutuar, estabilizar, enfim, pode adotar qualquer regime que desejar, sem limitações. Sabendo que qualquer desvalorização torna sua população mais pobre...
Será que EUA e UUEM estão fazendo "desvalorizações competitivas" de suas moedas?
Não consta que seja assim.
A injeção de recursos corresponde a programas específicos de ajuda interna, não a estímulos à exportação.
E foi a própria presidente Dilma quem pediu, expressamente, aos líderes da Europa e dos EUA que estimulassem suas economias, que reinflassem os setores produtivos, para trazer de volta o crescimento e evitar assim maiores problemas ao Brasil.
Como reclamar agora que eles estejam fazendo exatamente o que ela recomendou em suas lições de economia política?


Lemos ainda nesta matéria: 


"...o que queremos é um desafogo para momentos de valorização cambial excessiva."


OK, mas quem é o responsável por essa situação. São os EUA e a Europa responsáveis pela taxa de juros do Brasil, que atrai muitos capitais e assim valoriza sua moeda? Ou os chineses?
Vamos culpá-los, todos, por estarem comprando nossos produtos, aliás commodities, com preços valorizados, e assim ganhando muito dinheiro com isso?
Vamos reclamar de estar ficando ricos?
Por que o Brasil não baixa a taxa de juros, ou se volta para o seu mercado interno, como ele (e outros) recomenda para a China?
Os demais países precisam pagar pelo "desafogo" do Brasil?


Curiosa maneira de ver o mundo.
Quando o Brasil fez um acordo automotivo com o México, este não reclamou que o Brasil tivesse, durante anos seguidos, superávit nas transações bilaterais. Agora que a corrente se inverteu, o Brasil reclama e exige superávit ou equilíbrio politicamente administrado?
Parece aquele menino dono da bola que reclama do resultado do jogo, só aceitando partidas em que ele possa ganhar.
Tudo isso deve ser encarado com seriedade?
Duvido.
E duvido que dessa reunião da OMC saia algo mais do que... palavras...
Paulo Roberto de Almeida 



Brasil busca alívio cambial na OMC
Entrevista / Roberto Azevedo
Primeira Página
Valor Econômico, 26/03/2012

Por Assis Moreira - O Brasil quer pavimentar o terreno na Organização Mundial do Comércio (OMC) para a criação de um mecanismo de desafogo para um momento de valorização cambial excessiva, permitindo impor sobretaxa na importação para proteger sua indústria. A primeira grande discussão ocorrerá amanhã e quarta-feira, reunindo setor privado, governos, instituições internacionais e acadêmicos, na sede do xerife do comércio, em Genebra, num ambiente de fricções crescentes, causadas por desvalorizações competitivas de moedas e retração da demanda global.
Em entrevista, o embaixador brasileiro na OMC, Roberto Azevedo, diz que o Brasil precisaria de uma tarifa de importação de 180% para dar a mesma proteção que a tarifa de 35% oferecia antes da Rodada Doha, em 2001. É com essas cifras que ele enfatizará amanhã na OMC a que ponto o câmbio deteriorou a competitividade da indústria brasileira.
Nesse cenário, Azevedo reage com vigor à afirmação do diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, de que não estaria claro se o câmbio afeta o comércio. Para o representante brasileiro, trata-se de argumento de quem "quer conturbar e confundir" a discussão. Afinal, nota ele, estudo da própria OMC mostrou o impacto dos desalinhamentos cambiais no curto prazo para setores específicos da economia. "E isso exige remédio", disse.
Na mesma linha, a Agência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (Unctad) discutirá já hoje mudanças no comércio internacional, com ênfase no câmbio no Brasil. O estudo para discussão estima que a excessiva valorização do real chegou a 80% em abril de 2011 em relação a um nível "ótimo" de longo prazo. Os autores, os economistas André Nassif, do BNDES e da Universidade Federal Fluminense (UFF), Carmem Feijó, da UFF, e Eliane Araújo, da Universidade Estadual de Maringá, sugerem uma meta para o câmbio, para o país alcançar a taxa "ótima" real de longo prazo, definida como aquela que induz à alocação de recursos para os setores de maior produtividade da economia. A seguir, os principais trechos da entrevista com Azevedo:

Valor: O que o Brasil espera dessa discussão sobre câmbio na OMC?
Roberto Azevedo: Os mecanismos atuais da OMC são muito poucos e muito limitados numa situação de câmbio desalinhado. As regras foram desenhadas ainda nos tempos de moeda fixa e são insuficientes para garantir proteção à indústria nessas circunstâncias. Não existe na OMC um mecanismo específico, como salvaguarda, por exemplo, para reagir a desvalorizações competitivas de moedas. É necessário atualizar as disciplinas da OMC e isso só acontece negociando regras também sobre câmbio.

Valor: Ou seja, um antidumping cambial?
Azevedo: Nossa expectativa é de que os passos sucessivos dessa discussão na OMC conduzam inevitavelmente à negociação de um mecanismo de desafogo em situações de desalinhamento cambial de curto prazo.

Valor: A questão cambial já foi tratada no sistema multilateral de comércio.
Azevedo: Sim, o Gatt (que antecedeu a OMC) tratou e desenvolveu disciplinas sobre o assunto. Por exemplo, nos anos 90 tomou decisão que permite o reajuste de direitos específicos, que são tarifas de importação fixadas em valor monetário por unidade. A decisão permite que o país tenha o direito de aumentar essa tarifa de importação específica, quando uma moeda se desvaloriza rapidamente.

Valor: Por que o Brasil não faz uso então dessa possibilidade?
Azevedo: O Brasil não tem em sua tabela de compromissos nenhuma tarifa desse tipo, somente tarifas ad valorem (percentual). Nada impede que desenvolvamos mecanismo similar para as tarifas ad valorem.

Valor: Como superar suspeitas de alguns parceiros de que o Brasil busca pretexto para as medidas de proteção que vem adotando?
Azevedo: Seria até ingênuo imaginar que reclamações sobre câmbio não têm relação com comércio. Em todas as grandes negociações globais sobre câmbio o comércio estava como pano de fundo. Isso é nítido quando o presidente Nixon, em 1971, deixou de autorizar a conversão do dólar em ouro. No mesmo momento, ele impôs sobretaxa de 10% em todas as importações americanas. A reclamação na época era de que a valorização do dólar estava favorecendo a indústria estrangeira em detrimento do emprego nos EUA. A relação câmbio/comércio nunca deixou de existir. Inclusive em seguida o assunto foi para o Gatt. A discussão não prosperou porque ali ninguém estava disposto a entrar numa guerra comercial. Tentou-se encontrar uma acomodação, que resultou num acordo internacional, o Acordo Smithsonian, levando a um realinhamento cambial, desvalorizando o dólar. Em 1985, o Acordo Plaza levou a uma desvalorização do dólar entre 20% e 50% contra o marco alemão, o iene japonês e o franco francês. Dois anos depois foi necessário outro acordo, o do Louvre, para estabilizar a moeda americana, que já estava em franco declínio. Todas essas negociações tiveram início com reclamações fortíssimas dos setores industrial e laboral dos EUA.

Valor: Como o Brasil reage então ao diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, que diz que não está claro se o câmbio afeta o comércio?
Azevedo: Isso é querer tapar o sol com a peneira. Estudos da própria da OMC, publicados em setembro de 2011, deixam inequívoco que desalinhamentos cambiais têm claro impacto no curto prazo para setores específicos da economia. Quando se quer conturbar e confundir essa discussão, argumenta-se que no longo prazo não há consenso de que o desalinhamento cambial é nocivo e retira a competitividade etc. Mas esse longo prazo aí é coisa de 15, 20 anos e até lá todo o sistema produtivo já se ajustou ou quebrou de vez. Outro argumento é de que a volatilidade do câmbio ao longo dos anos não diminui os fluxos de comércio. Isso pode até ser verdade. Mas não é isso o que o Brasil está procurando tratar na OMC. O que queremos é que a OMC reconheça, como seu próprio estudo diz, que, quando há uma mudança significativa de patamar na taxa de câmbio, seguramente há um impacto de perda de competitividade em determinados segmentos da indústria do país que sofreu a valorização. Isso exige remédio. É evidente que nem todos os setores da economia são afetados da mesma forma. Isso não significa que não existam empresas ou setores que precisam de algum tipo de proteção mais imediata.

Valor: Qual a dimensão do impacto do câmbio sobre as exportações, que o país mostrará na OMC?
Azevedo: Vamos mostrar que a forte perda de competitividade, no rastro do desalinhamento cambial no Brasil pode conduzir a fechamento de empresas e aumento do desemprego. A cadeia de efeitos é ampla sobre o nosso parque produtivo. É por isso que desejamos algum mecanismo de alívio na OMC. O Brasil vai mostrar uma desvalorização cambial de magnitude várias vezes superior à proteção tarifária máxima de 35% que tem como compromisso na OMC. Fizemos um cálculo no ano passado que apontou que o Brasil precisaria de tarifa de importação de 180% para dar a mesma proteção que a tarifa de 35% oferecia antes da Rodada Doha, em 2001. Com a desvalorização recente do real, passando para um patamar de 1,80 por dólar, esse percentual terá caído. Mas a proteção que nossa indústria precisaria é de vários múltiplos de 35%.

Valor: Nesse cenário, o Brasil poderá aumentar para além de 35% o teto das tarifas de importação?
Azevedo: Com exceção dos mecanismos de defesa comercial (salvaguarda, antidumping, direitos compensatórios), isso apenas é possível com a reconsolidação da tarifa que consta da nossa tabela de compromissos na OMC. A reconsolidação acontece na OMC, mas é muito pontual, para um ou outro produto. Numa situação de desalinhamento cambial, é muito difícil resolver o problema por aí. Primeiro, teríamos que aumentar milhares de tarifas. Segundo, teríamos de pagar compensações aos parceiros, e não são pequenas. Seria muito difícil manobrar uma reconsolidação dessa envergadura. Além disso, a reconsolidação tarifária, para mais de 35%, se tornaria permanente. Ora, o que queremos é um desafogo para momentos de valorização cambial excessiva.

Valor: Não existe o risco de o antidumping cambial deflagrar mais guerra comercial, com barreiras por todo lado?
Azevedo: Não, porque inevitavelmente a discussão sobre esse mecanismo vai procurar circunscrever ao máximo sua utilização e diminuir ao máximo seu impacto sobre o comércio. Não se pode ter uma visão imediatista, na situação em que estamos vivendo apenas hoje. O real é hoje uma moeda muito valorizada, como a de outros emergentes. Mas, historicamente, a situação foi inversa, como nas crises do México, da Rússia, dos asiáticos, em que os capitais saíram subitamente e nossas moedas despencaram. O mecanismo tem que ser adequado para as duas situações, de câmbio alto ou baixo. Não queremos que, mais adiante, as exportações brasileiras sofram barreiras desnecessárias quando o câmbio estiver em patamares mais baixos.

Valor: Qual o apoio que o Brasil tem sobre câmbio na OMC?
Azevedo: No começo, foi muito pouco. Num esforço enorme, tivemos que convencer cada delegação de que estávamos criando uma oportunidade e não mais polêmicas. Felizmente conseguimos que boa parte apoiasse a abertura do debate e outros não objetassem. Na medida em que os parceiros percebem que não buscamos uma negociação açodada, de afogadilho, e sim bem pensada, com objetivos sistêmicos bem definidos, a cautela e receio diminuem. No começo era só o Brasil que falava, os outros ficavam na escuta. Existem delegações cautelosas, mas o quadro está mudando.

Valor: Só que os EUA e a China, com fricções bilaterais sobre câmbio, também não querem o tema na OMC. Isso já não mata a iniciativa?
Azevedo: Esse quadro é muito fluido. Mesmo esses dois países têm evoluído em suas abordagens. Posturas mais reativas vêm muito do temor de que a discussão saia do controle e seja usada para fins políticos, apontar culpados, recriminar determinadas ações no mercado financeiro. Não é o que buscamos.

Valor: Quais serão os próximos passos, após o seminário?
Azevedo: Gostaríamos de examinar já no segundo semestre, como o sistema multilateral do comércio tratou do assunto, como reagiu. Com base nessas análises, caberia passar a olhar para o futuro. Como atualizar as regras da OMC. Para o Brasil, quanto mais rápido melhor. Mas não vai ser fácil. Temos que seguir o ritmo de uma organização com mais de 150 países e que trabalha com base no consenso.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Outra bobagem, desta vez do Congresso americano: Lei da Moeda Desalinhada (pois é...)

Creio que a "lei da moeda desalinhada" vai contribuir para desalinhar um pouco o comércio dos EUA com aA China...



Congresso americano caminha para uma crise comercial com o principal parceiro dos EUA.

E a definição:

(2) DESIGNATION OF FUNDAMENTALLY MISALIGNED CURRENCIES.
—With respect to the currencies of countries that have significant bilateral trade flows with the United States, and currencies that are otherwise significant to the operation, stability, or orderly development of regional or global capital markets, the Secretary shall determine whether any such currency is in fundamental mis-alignment and shall designate such currency as a fundamentally misaligned currency. 

sábado, 8 de outubro de 2011

Ministro do comercio exterior confirma que nao entende de comercio exterior...

...e confirma também que o Brasil se tornou dependente da economia chinesa.
Incrível: o MDIC acha que a OMC e as tarifas atuais foram "inventadas" sob o padrão-ouro, acha que a tarifa de 35% foi a OMC que inventou, e tem uma única certeza: se o ritmo da economia chinesa piorar, o Brasil fica doente...
Paulo Roberto de Almeida

Entrevista / Fernando Pimentel, Ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior

"Comércio exterior depende de uma proteção cambial"
Simone Cavalcanti, de Brasília
Brasil Econômico, 7/10/2011

O ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, defende início das discussões na OMC
sobre flutuação cambial e acredita que a China aquecida manterá nossa balança comercial

Foi em um dia muito agitado, marcado por apresentações, reuniões com a presidente Dilma Rousseff e atrasos significativos na agenda de compromissos, que o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, recebeu o BRASIL ECONÔMICO em seu gabinete.Ele fez uma avaliação otimista sobre a taxa de câmbio no Brasil, dizendo esperar que agora oscile entre R$ 1,70 e R$ 1,80. “A situação mudou e o câmbio não voltará àquele patamar de R$ 1,53 ou R$ 1,54 por onde andou passando porque não correspondia à realidade de uma economia como a brasileira”.

Mesmo assim, defendeu o início das discussões no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC) sobre a influência da flutuação cambial nas transações comerciais do planeta—um pedido, inclusive, feito e protocolado pelo Mdic e o Itamaraty. No contexto da crise, Pimentel disse que, se o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) chinês ficar entre 8% e 10%, não há riscos para a balança comercial brasileira. “Menos do que isso, a gente já começa a ter problema.”

A recente desvalorização do real frente ao dólar vai ajudar em que medida na competitividade das empresas?
Ajudará muito, pois o câmbio é uma variável muito importante, se não, fundamental para equilibrar a competitividade entre os países. O nosso real estava muito valorizado frente ao dólar em função da política expansionista americana. Com esse abalo recente da economia mundial o real se desvalorizou. Fechou a R$ 1,85 no final do mês passado, mas foi um suspiro por causa do fechamento da Ptax. De qualquer maneira, nossa avaliação é a de que a situação mudou e o câmbio não voltará a R$ 1,53 ou R$ 1,54, patamar que não correspondia à realidade de uma economia como a brasileira. Esperamos que fique entre R$ 1,70 e R$ 1,75.

Esse nível corresponde à realidade brasileira?
Acho que sim. O real não tem motivos para estar tão valorizado. Está de bom tamanho se ficar entre R$ 1,70 e R$ 1,80.

Isso enfraquece seu pedido de uma espécie de antidumping cambial feito e já protocolado na OMC?
Não. São coisas diferentes. A ideia do pedido que fizemos é a seguinte: regras da OMC foram fixadas em meados do século passado, depois da Segunda Guerra Mundial, quando a realidade do mundo era câmbio fixo e padrão ouro. E isso mudou completamente. Todas as regras comerciais foram estabelecidas para uma realidade cambial que mudou. Não tem sentido nós nem sequer discutirmos isso. Os países hoje manipulam suas taxas de câmbio e os Estados Unidos são o maior exemplo disso.Achamos lícito a OMC discutir algum tipo de salvaguarda cambial e que algum organismo multilateral, como o Fundo Monetário Internacional, fixe uma banda ou faixa em que seria admitida a flutuação.

Mas isso não passaria por cima da soberania dos países em sua política monetária?
Posso responder com outra pergunta: quando a OMC indicou que o imposto de importação poderia ser de até 35% para impedir a entrada de mercadorias que estejam claramente abaixo do custo, ela não estaria ferindo a soberania comercial das nações? Não.Nada fere a soberania de ninguém. Vou dar um exemplo, agora mesmo a Suíça colocou uma trava no câmbio porque o franco estava muito valorizado em relação ao euro. Os países estão começando a tomar medidas isoladas, o que não é bom. O bom seria discutirmos em conjunto medidas como uma espécie de salvaguarda para que a flutuação cambial não prejudicasse o comércio internacional. Mas é uma tese.

Está em questão nessa discussão a elevação de barreiras comerciais?
Não necessariamente. Em tese, poderia se pensar até em rever a alíquota de 35% do Imposto de Importação e expandir esse limite para 50%. Mas a questão que está, de fato, tornando obsoleta a regra comercial que valeu até hoje é o câmbio. Então temos de criar uma salvaguarda na área cambial. Se resolver a questão cambial, creio que os 35% sejam suficientes. Não queremos mais nada do que já tem, só temos de resolver o câmbio.

Com a redução de crescimento econômico assim como do preço das commodities, quais as possibilidades de no ano que vem haver retrocesso no resultado da balança comercial como ocorreu em 2009?
Muito difícil prever. O desaquecimento da economia mundial certamente vai afetar nossa balança, que tem hoje duas características muito fortes. Primeiro, temos um grande cliente que é a China e que, até agora, não foi abalado. Pode ser que ano que vem em vez de 9%, o crescimento seja 8%.O segundo é que somos grandes exportadores de commodities, como minério e alimentos, de maneira geral. Acho que um país cuja balança tem mais industrializados sofre mais durante uma crise como esta, pois, quando vai cortar, primeiro vêm bens de consumo duráveis, e, não, os alimentos e insumos básicos.

Está dizendo que a composição da balança brasileira com mais commodities pode servir como defesa neste momento?
O nosso tipo de commodity é, de certa forma, mais estável no comércio internacional. Nós podemos sofrer abalos pelo lado do preço. É muito difícil mensurar o que vai acontecer. Acho que temos uma balança positiva e queremos sofisticá-la mais. A não ser que a China dê uma freada muito grande e brusca em sua economia, não acho que o resultado no ano que vem vá cair. Pode até crescer menos.

Quando se fala em freada da economia chinesa, a quanto o senhor se refere?
Alguns estudiosos, inclusive da Universidade de Pequim, estão dizendo que o crescimento chinês cairia para 3% em dois ou três anos. Mas se ficar entre 8% e 10%, o Brasil se coloca bem naquele mercado. Menos do que isso, teremos problema.

Vê-se o discurso do governo sobre a competitividade brasileira, mas um dos fatores fundamentais, como a carga tributária, sempre parece ficar à margem disso. Como explicar isso?
Trabalha-se na questão tributária e muito. Posso dar vários exemplos. Grande parte da vida econômica no Brasil está em micro, pequenas e médias empresas que foram extremamente beneficiadas com os regimes tributários, como a atualização do Supersimples e do empreendedor individual. O regime de lucro presumido, que é uma invenção brasileira, também é muito favorável e a maioria das empresas médias está nele. Há vários mecanismos adotados nos últimos anos que reduzem a tributação sobre as empresas. No Plano Brasil Maior fizemos uma coisa corajosa, que vai continuar porque vamos expandir que é desonerar a folha de pagamento, passando a base de tributação para o faturamento das empresas.

Ainda está muito restrito...
São quatro setores (software, têxteis, calçados e móveis), mas que estão muito satisfeitos. Vamos monitorar esse ano e no próximo e, já em 2012, começaremos a discutir com outros. Essa é uma discussão delicada porque não podemos colocar em risco a Previdência, mas a intenção é que, aos poucos, possamos abranger toda a vida econômica brasileira tirando toda a carga tributária sobre a folha.

É possível alcançar isso até o final do mandato da presidente Dilma Rousseff?
Se dá ou não vamos saber depois, mas que nós queremos, queremos (risos).

Quais medidas complementares do Plano Brasil Maior estão por vir?
São muitas, mas vou citar exemplos que fazem parte da agenda estratégica para os próximos seis meses: regime automotivo que vai vigorar entre 2013 e 2016, lançamento dos primeiros editais de compras públicas para produtos têxteis e de saúde, o lançamento do regime especial tributário para a indústria de defesa. Queremos lançar um programa BNDES Bioetanol, uma agenda para a formação de engenheiros e fazer o aprimoramento da Lei do Bem. Há ainda uma Medida Provisória de acesso à biodiversidade que está para ser assinada.

E o Eximbank?
Está sendo discutido. Foi protelado porque, com a crise, ficamos mais cautelosos com a questão de financiamento internacional. Mas está sendo retomado e vamos ver se no ano que vem a gente coloca em funcionamento.

E como estão as negociações para a instalação de uma fábrica de telas da Foxconn?
Está entrando agorana fase de negociação de localização. Eles já fizeram contato com o governo de Minas Gerais, mas fizeram com outros estados também. Vários estados estão se posicionando.

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

FIESP ganha o Premio Nobel de Economia (sort of...)

Não exatamente a FIESP, mas seu Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos, e mais exatamente por prever uma coisa quase impossível para economistas normais, que é o nível de equilíbrio do real em relação ao dólar, ou vice-versa, ou qualquer outra coisa, vocês escolhem.
Bem, se finalmente aconteceu o ajuste que a FIESP esperava, seria preciso agora descobrir a quem agradecer por tão faustoso acontecimento: o Tesouro americano, o Banco Central brasileiro, os chineses, os gregos, os goianos, enfim, alguém há de ser responsável, ou culpado, por esse fenômeno fenomenal, se ouso dizer.
Então ficamos assim: o dólar se mantém a 1,85 e ninguém reclama mais: nem a FIESP, nem o BC, nem o ministro Mantega, nem o Bresser Pereira (que ainda certo tempo atrás achava que a taxa de equilíbrio estava mais próxima de 3,5, mas enfim...).
Vamos comemorar pessoal: pode mandar abrir uma garrafa de Veuve Cliquot -- como a presidente fez em NY -- agora um pouco mais cara, mas enfim, não se pode ter tudo na vida...
Paulo Roberto de Almeida


Dólar a R$ 1,85 está próximo do equilíbrio, diz diretor da Fiesp
Gustavo Machado
DCI, 30/09/2011

O diretor-adjunto do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Walter Sacca, disse ontem que o atual nível do câmbio, por volta de R$ 1,80 a R$ 1,85 por dólar, está muito mais próximo do que a indústria considera uma cotação de equilíbrio. "Finalmente aconteceu o ajuste que a Fiesp tanto desejava", afirmou, ressalvando que o dólar se desvalorizou em relação a moedas reconhecidas internacionalmente.

Na avaliação de Sacca, a recente alta da moeda norte-americana em relação ao real foi "súbita e acima da média". "Como todas as mudanças bruscas, temos efeitos negativos no curto prazo, mas no longo prazo teremos efeitos bons", afirmou, referindo-se à rentabilidade das exportações da indústria brasileira.

No início de setembro, em entrevisa a este DCI, João Medeiros, diretor da Corretora Pioneer, afirmou que o mercado desejava o dólar ao patamar de R$ 1,89. "Este é um consenso que existe no mercado. Esperam que neste nível, os manufaturados tenham um melhor desempenho", afirmou à época João Medeiros.

Apesar disso, Sacca manteve a projeção de crescimento da indústria paulista de 3,5% neste em relação a 2010. "Não haverá melhora no crescimento da indústria até o fim do ano", disse. "A evolução da produção industrial será de acomodação com viés negativo", justificou, numa referência aos termos utilizados nos comunicados do Banco Central.

Essa acomodação, na avaliação dele, pode ser observada na pesquisa Sensor divulgada no mesmo dia. Em setembro, o indicador, que varia de 0 a 100 pontos, atingiu 48,9 pontos. O valor abaixo da linha corte de 50 pontos denota uma deterioração do setor. Entre os itens que compõem o Sensor, o pior resultado foi o doe estoques, com 38,1 pontos, o mais baixo desde abril de 2009.

"Os estoques da indústria de transformação têm crescido muito", diz Sacca. O diretor comparou o desempenho da indústria com o do comércio, que segundo ele deve registrar expansão de 11% neste ano. "O comércio cresce com a venda de produtos importados", afirma.

Entre os destaques do Indicador de Nível de Atividade (INA), Sacca cita o setor de papel e celulose, que encolheu 0,9% ante julho, com ajuste sazonal. "Foi uma queda mais acentuada que a dos demais setores da indústria e a tendência não é positiva", afirmou. De acordo com ele, isso acontece porque o País exporta celulose e importa papel.

Outro setor citado por Sacca foi o de metalurgia básica, com alta de 1,2% no nível de atividade em agosto ante julho, com ajuste. "Tivemos uma recuperação neste mês, mas não suficiente para reverter a queda dos últimos meses", disse. O setor acumula retração de 1,5% nos últimos 12 meses. O destaque positivo foi o de minerais não metálicos, com alta de 1,5% ante julho, com ajuste.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

O afundamento cambial brasileiro - Correio Braziliense

Na verdade, valorização do real, tão temida por gregos e goianos...

Restrições não impedem maior entrada de dólares da história do país
Victor Martins
Correio Braziliense, 18/08/2011

Dados liberados ontem pelo Banco Central mostram que, no ano, até 12 de agosto, US$ 63,2 bilhões foram despejados na economia brasileira, o maior montante já registrado na história para o período. No mês, o saldo está positivo em US$ 7,5 bilhões, resultado puxado, principalmente, pelos exportadores, que estão trazendo dinheiro depositado lá fora, com medo de que o dólar derreta ainda mais frente ao real. Nos últimos dias, diante do agravamento da crise internacional, a moeda norte-americana chegou a ser cotada acima de R$ 1,60, animando os empresários a trocar dólares pela divisa nacional.

A movimentação dos exportadores ajudou, no entanto, a derrubar os preços da moeda norte-americana, que encerrou as negociações valendo R$ 1,584 para venda, com baixa de 0,41%. No segmento financeiro, os investidores estão mais arredios. Tanto que, em agosto, o fluxo cambial mostrou um tímido superavit de US$ 940 milhões contra um saldo de US$ 6,6 bilhões no comércio exterior. “Tudo isso é reflexo das turbulências das últimas semanas. As pessoas estão avessas ao risco. Por isso, temos um fluxo cambial menor no setor financeiro”, explicou Flávio Serrano, economista do Espírito Santo Investment Bank.

Rumo
Na avaliação do especialista, mesmo em menor proporção, a entrada de dólares se manterá firme no Brasil, devido às boas perspectivas para a economia brasileira em relação aos países desenvolvidos, que estão à beira da recessão. Para Serrano, as medidas adotadas pelo governo com o intuito de evitar o derretimento da divisa norte-americana já foram absorvidas pelo mercado e não serão obstáculos para aplicações no país. Na verdade, o que ditará o rumo da entrada de dólares na economia brasileira será a crise mundial. “As medidas baixadas pelo governo foram pontuais. O dólar chegou ao nível em que está porque é o local natural dele”, argumentou.

Ainda assim, o Banco Central tem atuado para amenizar a queda da moeda norte-americana, enxugando todo os recursos que forem considerados excessos. Até o meio de agosto, as compras de dólares pela autoridade monetária atingiram US$ 3,7 bilhões, o que elevou as reservas internacionais para US$ 351 bilhões.

CAEM APOSTAS DOS BANCOS
Depois da pressão do Banco Central, a aposta dos bancos contra o dólar recuou intensamente entre junho e julho. A posição vendida, ou quantidade de dólares que as instituições negociam em determinado período sem, necessariamente, ter a moeda em caixa, na expectativa de recomprá-la a um valor menor mais à frente e faturar com a diferença, caiu de US$ 14,6 bilhões para US$ 6,3 bilhões no período. Quanto maior esse tipo de operação, maior é a pressão contra o dólar, levando à desvalorização da divisa frente ao real. Esse movimento só encolheu depois que o BC apertou as regras que determinaram o recolhimento do compulsório (dinheiro obrigatoriamente depositado pelas instituições financeiras) de acordo com o tamanho de suas apostas contra a moeda estrangeira. Estabelecida em janeiro, a regra se tornou mais dura em julho.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

O mercantilismo e a mitologia do cambio - Sidney Richard Sylvestre

Uma pequena (talvez grande) aula de economia, por este economista que não se rende ao mercantilismo ambiente na economia brasileira:
Paulo Roberto de Almeida

A mitologia do câmbio
Sidney Richard Sylvestre
Blog Depósito de..., quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Se você pegar um livro sobre economia brasileira, história econômica do Brasil ou se aventurar por textos e artigos teóricos de economistas brasileiros mais velhos, existe uma imensa chance de se deparar com o tema “câmbio”. Durante toda a história econômica brasileira, esse foi um dos temas mais debatidos e controversos da nossa economia. Não sou historiador, mas aparentemente não é tão difícil saber por quê. Boa parte da “elite” econômica nacional sempre teve seus rendimentos atrelados a algum tipo de mercado exportador; no período colonial, exportação de pau-brasil e seus derivados e açúcar para a Europa, depois café e hoje outras commodities adicionais como soja. Como existe certa correlação entre poder econômico e poder politico (principalmente antigamente), era “normal” que um preço tão importante para o bolso desse pessoal fosse alvo de acalorados debates.

Economicamente não há nada de diferente entre o câmbio e outros preços. Teoricamente, o que é chamado de taxa de câmbio é a razão de troca entre duas moedas quaisquer. No Brasil, por razões óbvias, câmbio significa o preço, em reais, do dólar – BRL/USD – dólar que, pelo menos por enquanto, é a “moeda padrão” do mundo. O real valorizado significa um dólar desvalorizado, ou seja, uma taxa BRL/USD baixa (câmbio baixo). O real desvalorizado significa um dólar valorizado, logo uma taxa BRL/USD alta (câmbio alto). O que determina essa razão de troca, como com todos os outros preços é a demanda e oferta pelo bem em questão, nesse caso especifico, a demanda e oferta por dólar. A principal razão para alguém demandar moeda estrangeira é a realização de compras no exterior (embora, em épocas turbulentas, alguém possa procurar refúgio em moeda estrangeira). A principal razão para se ofertar moeda estrangeira é compras no mercado local após alguma venda para o exterior (o ofertante recebeu dólares ou outra moeda estrangeira qualquer, mas essas moedas aqui não servem como meio de troca, então o agente busca reais). Dessa forma, entram dólares no país (são a oferta de dólares “do país”) quando há exportações e empréstimos/financiamentos do exterior (entrada de capitais). Saem dólares do país quando há importações e empréstimos/financiamentos para o exterior (saída de capitais).

A maioria das pessoas e mesmo economistas fazem um verdadeiro alarde porque “está saindo dólares” do país (ou algo do tipo) e ficam felizes quando “está entrando dólares”. Isso é um erro derivado do “mercantilismo” que considerava que um país estava ficando mais rico quando entrava mais ouro/prata (moedas da época) do que saia. Se entraram dólares é porque alguém deu outra coisa em troca e se você aceitou dólar, como você não come e nem veste dólares, é porque quer se livrar rapidinho deles trocando por algum bem de verdade. Se existir um mercado perfeitamente livre de dólares, o preço do dólar será dado quando a oferta igualar a demanda, ou seja, a entrada de dólares igualar a saída. Não é necessário preocupação alguma em relação a “entradas” e “saídas” de dólar. Sai dólar quando os agentes econômicos querem comprar coisas no exterior (e é muito bom que eles façam isso, afinal, dólar não enche barriga). Entra dólar quando as pessoas vendem produtos para estrangeiros ou emprestam deles, mas elas só fazem isso porque querem dólares para posteriormente manda-los embora, comprando coisas no exterior (obviamente, dada a existência de moeda, toda a cadeia não envolve necessariamente a mesma pessoa. A pode vender para C estrangeiro, pegar os dólares e trocar por reais com B e B só troca porque vai comprar no exterior. De qualquer forma A só aceita dólares porque sabe que existe algum local que quer dólares internamente para comprar no exterior).

Atualmente entre economistas tupiniquins e mesmo entre a população em geral existe uma verdadeira “mitologia do câmbio”. Ora é necessário defende-lo de especuladores, ora é preciso leva-lo a um miraculoso “ótimo”, ora é imperativo intervir no seu valor por algum nobre motivo como “desemprego”, saldos indesejáveis em conta corrente e outros tantos. Nunca podemos tirar o “olho” desse pobre preço. Isso quando não ocorre uma “fatalidade no exterior” que distorce o câmbio “verdadeiro”, o que, infelizmente, nos obriga a defendê-lo mais uma vez. A verdade é que economicamente nada disso faz muito sentido. Tirando aqueles que realmente acreditam nessas coisas (por adoção de alguma teoria econômica equivocada), na maioria das vezes esses argumentos são apenas “cortina de fumaça” para lobbies de determinados grupos que possuem suas rendas altamente relacionadas ao câmbio. Como expliquei em outro texto, se uma atividade é muito exposta ao risco do câmbio, isso é um custo que deve ser levado em conta no momento que se escolhe investir nessa atividade. Não faz sentido econômico que terceiros, contra sua escolha, arquem com esse custo, pois isso altera o incentivo a se buscar o investimento ótimo. Obviamente, o investidor da área não está nenhum pouco interessado em “ótimos sociais” e coisas do tipo. Ele adoraria que esse risco fosse “eliminado” à custa de terceiros.

Por que realmente o governo intervém no câmbio?
(...)

Leiam a íntegra deste longo post neste link.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Enrolacao cambial: governo repete as mesmas bobagens de sempre...

Alguém acredita que as recentes medidas do governo, anunciadas como a "salvação da lavoura" pelo ministro Mantega, serão capazes de corrigir os problemas estruturais da defasagem cambial brasileira?
Se alguém acredita, meus parabéns, já temos candidatos ao ingênuo da semana...
Mil perdões se ofendo alguém, sobretudo nossas autoridades tão preclaras, mas as razões de por que eu acho que o governo está enxugando gelo são muito simples, mas o governo não parece perceber.
Existe um problema de desvalorização do dólar? Claro que existe: quando o governo americano despeja bilhões de dólares nos mercados, ele está empurrando a crise para os demais países, ou seja, dividindo o prejuízo com todos aqueles que usam o dólar. Isso é normal, e já foi feito antes, com acordo ou sem acordo no âmbito do G7, do G20, do FMI, seja lá onde for, o governo americano conduz um processo de desvalorização administrada do dólar, para ganhar competitividade e reduzir sua exposição internacional (ainda que sob risco de ver outros países se afastarem do dólar, um risco mínimo estima ele).
Existe um problema de manipulação cambial por parte da China? Claro que existe, mas a China apenas faz aquilo que o Brasil ou outros países já fizeram dezenas de vezes no passado, no presente e que continuarão fazendo cada vez que tiverem necessidade de preservar empregos industriais, competitividade exportadora, ainda que sob risco de deixar sua população mais pobre, relativamente. Mas os efeitos emprego são julgados mais importantes do que os de renda.
Existe um problema de VALORIZAÇÃO DO REAL? Claro que existe, e ele é causado inteiramente por nossas (minhas não, deles) políticas, não tendo nada a ver com a desvalorização do dólar ou com a manipulação do yuan. Essa valorização é feita aqui, made in Brazil, e deriva inteiramente de nossa política fiscal esquizofrênica, mais do que nossa política monetária de flutuação, e não manipulação, como gostariam alguns malucos universitários.
Enquanto os juros no Brasil forem quatro a cinco vezes maiores do que no resto do mundo, ou do que nos principais países exportadores de capitais, pelo menos, a nossa moeda vai continuar se valorizando.
Existe alguma maneira de coibir, inverter, corrigir esse ciclo ascendente?
CLARO QUE EXISTE. Basta o governo PARAR de gastar mais do que deve, mais do que arrecada, ser um extrator líquido da poupança privada, ser um despoupador contumaz e um gastador inveterado. E também parar de arrecadar nesses níveis de país rico, para uma renda de país pobre.
O governo é sempre o culpado, não procurem outro responsável.
Repito para ficar bem claro: O GOVERNO TEM TODA A CULPA DA VALORIZAÇÃO CAMBIAL.
Os empresários que ainda não perceberam isto ou são ingênuos, ou são desinformados, ou são estúpidos, por vezes todos os três, ao mesmo tempo.
Sorry, empresários: parem de cultivar governos esquizofrênicos...
Paulo Roberto de Almeida

Bastidores Líderes
boletim do Forum dos Líderes, 28/07/2011

Na sexta-feira da semana passada, Dilma garantiu que o governo não tomaria mais medidas cambiais até que o cenário externo ficasse mais claro.

Na segunda-feira, Guido Mantega "desautorizou" a presidente e disse que tinha medidas duras no bolso e alertou: "Podem se preparar".

O ministro tinha razão.

Ontem o governo soltou uma série de medidas que podem afetar o câmbio. A que traz novidades é uma só, as demais são remendos nos furos dos diques de medidas anteriores. É a que introduz um IOF de 1% nos contratos de câmbio do mercado futuro - e autoriza o governo a aumentar o imposto para até 25%, caso o mercado não se comporte como ele quer.

A idéia é conter a especulação dos que apostam na desvalorização contínua do dólar e tentar segurar a valorização do real.

Como todas as ideias que surgem da cabeça de Mantega - se bem que essa, parece, foi dada ao ministro pelo economista Roberto Gianetti da Fonseca, diretor de Comércio Exterior da Fiesp - a nova taxação também é polêmica.

Primeiro, em relação à sua eficácia. Achando que foi um tiro de canhão para matar uma formiga, o mercado acha que é questão de dias para se encontrar brechas para driblar a taxação.

Sempre elegante, o ex-ministro da Fazenda Marcílio Marques Moreira deixa no ar a insinuação de que Mantega talvez não saiba, mas o mercado financeiro hoje é global. O que é proibido ou caro aqui, se faz ali. E diz que a medida pode ser um tiro no pé.

Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central, é mais direto: a medida é "péssima" e "desesperada". Concorda com Marcílio que ela tende a diminuir a liquidez no Brasil e aumentá-la no Exterior. Trocando em miúdos: as operações com dólar futuro saem da BM&FBovespa e vão para a Bolsa de Mercadorias de Chicago. "É contra o Brasil", diz Loyola.

Se você acha que Loyola pegou pesado demais, veja o que disse Tony Volpon, chefe de pesquisas para mercados emergentes da Nomura Securities em Nova York: "É uma insanidade, uma medida sem noção, pois vai destruir o mercado de hedge no Brasil".

Para o economista Roberto Troster, ex-Febraban, a medida é "como jogar uma xícara de água em uma fogueira". Amaina um pouco na hora e logo o fogo volta com toda a força.

A maioria dos analistas concorda que, para conter a valorização do real, é preciso fazer aquilo que o governo nem quer ouvir falar: cortar gastos, para poder reduzir juros.

O presidente da Abimaq, Mário Bernardini, sintetiza: "O que precisa é parar de pagar juros quatro, cinco vezes maiores do que em outros países. O resto é quebra-galho".

Joelmir Beting acha que a medida pode ser suficiente não para manter o dólar flutuando acima de R$ 1,60, mas para evitar que flutue abaixo de R$ 1,50.

Alguns jornais manchetaram que o dólar teve ontem a maior alta em um ano, 1,3%, em decorrência das providências governamentais. É mais ou menos verdade. Esqueceram de dizer que o dólar subiu no mundo todo. E "a maior alta em um ano" corresponde a exatos e minguados três centavos.

Aumenta a sensação nos Estados Unidos que não se chegará a um acordo no Congresso sobre a elevação do teto da dívida e que o calote virá. O governo já está trabalhando em um plano para o day after, para ver o que vai deixar de pagar, se não houver acordo.

Mohamed El-Erian, executivo-chefe da Pimco, um dos maiores investidores globais, acha que o acordo acontecerá, mas não evitará que os Estados Unidos percam a nota triple A, a mais alta das agências de classificação de riscos. O que, além das consequências internas, causará turbulências não previsíveis no mercado financeiro global.

Ainda sobre a medida de Mantega, Tutty Vasquez diz que não se fala em outra coisa nos pontos de ônibus. Uma passageira sintetiza a opinião do povão: "Tudo isso é muito relativo".

Boa leitura.

Teodoro G. Meissner
Editor

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Comercio Exterior: o Brasil as vesperas de adotar as solucoes erradas

Leiam a matéria abaixo da Agência Brasil, que traduz a preocupação dos setores industriais, majoritariamente concentrados na FIESP, mas igualmente representados na CNI, com a chamada "desindustrialização" da economia brasileira e a alegada "commoditização" da pauta de exportações.
As importações crescem continuamente -- obviamente, pois os produtos externos são baratos e produzir no Brasil é um ato heróico, ou de loucura microeconômica -- e o desequilíbrio vai se refletir, em algum momento, nas preocupações dos chamados investidores internacionais -- que alguns chamam de especuladores -- com a sustentabilidade das transações correntes e a manutenção das atuais regras do jogo. Em função disso, pode começar uma saída de capitais que precipitará uma crise.
Para evitar esse quadro, o governo que entrar em janeiro de 2011, vai tentar ser mais "ativista", mas ele o fará, provavelmente, no pior sentido da expressão: adotando os remédios errados, que vão paliar temporariamente a situação, mas que vão se refletir mais adiante, numa situação insustentável no plano cambial e fiscal, e que se traduzirá em menor bem estar para a população, pois que refletida em maior desemprego setorial e menor crescimento da renda.
Em lugar de atacar os problemas reais -- que são o custo Brasil, refletido na tributação excessivamente excessiva, se me permitem a redundância, e o desequilíbrio das contas públicas, que se refletem nos juros altos -- o governo vai fazer aquilo que querem os empresários (que são aqueles que o financiam): vai atuar sobre o câmbio, para desvalorizá-lo, e sobre os juros, para baixá-los, ambos politicamente.
Isso sem falar que vem aí nova rodada de protecionismo explícito: novas tarifas, novas salvaguardas, novos antidumpings, que só refletem o desespero de industriais e burocratas governamentais (supostamente legitimados pela concorrência desleal do exterior).
A única concorrência desleal que existe no Brasil é da carga tributária extorsiva, que simplesmente torna poucos competitivos os produtos manufaturados brasileiros nos mercados internacionais. O paliativo de subsídios e incentivos fiscais é a outra falsa solução, de caráter setorial, que o governo vai oferecer, introduzindo novas distorções num cenário produtivo já suficientemente confuso e caótico.
Ou seja, o Brasil vai adotar as soluções erradas para os problemas percebidos.
Posso apostar que, com exceção da politização dos juros -- pois o Banco Central vai resistir a isso -- todos os demais pecados serão cometidos pelo governo brasileiro que tomar posse em 1. de janeiro.
Poderia até apostar se tivesse dinheiro, mas vou preferir investir o que tenho em bons livros...
Paulo Roberto de Almeida

Importações continuam crescendo acima das exportações, aponta Fiesp
Alex Rodrigues
Agência Brasil, 18/11/2010

São Paulo - O consumo interno de produtos importados continua crescendo em um ritmo acima das exportações brasileiras. Segundo cálculos da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), entre julho e setembro deste ano, os importados atenderam a 22,7% do consumo interno, ante os 20,7% calculados no segundo trimestre. Esse é o maior valor registrado desde 2003, quando a entidade começou a calcular o coeficiente de importação trimestral, mas analistas da federação acreditam que desde a década de 1990 os importados não obtêm uma participação tão expressiva.
As exportações brasileiras no período também aumentaram, atingindo um resultado (19,2%) próximo aos registrados nos dois últimos trimestres de 2008 (antes da última crise econômica mundial, no fim de 2008), em torno de 20%. Apesar disso, a diferença entre a participação dos produtos importados e as exportações se ampliou.
Desde o terceiro trimestre de 2009, quando o coeficiente de importações e o de exportações calculado pela Fiesp era praticamente o mesmo (respectivamente 18,1% e 18,2%), o consumo de produtos estrangeiros aumentou 4,6 pontos percentuais. Já as exportações, após diminuírem nos últimos três meses de 2009 e praticamente estagnarem durante o primeiro semestre de 2010, fecharam o último período com uma alta de apenas 1 ponto percentual. Ou seja, entre julho de 2009 e o fim de setembro deste ano, a participação dos importados cresceu mais de quatro vezes acima das exportações brasileiras.
Segundo o diretor titular do Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Fiesp, Roberto Giannetti da Fonseca, a tendência é que o volume de importados continue aumentando enquanto a atual taxa de câmbio for mantida e o real permanecer valorizado ante o dólar. Essa situação cambial, segundo o economista, também faz com que os empresários brasileiros prefiram importar bens e produtos do que fabricá-los aqui, causando um desequilíbrio nas contas internas e levando ao fechamento de postos de trabalho devido à falta de investimento na produção.
"Não podemos aceitar que o país assista passivamente ao declínio das nossas exportações de produtos manufaturados", disse Giannetti, para quem o dólar a R$ 2 seria um bom valor de equilíbrio. Ele também destacou que, hoje, a lista de produtos exportados pelo Brasil se constitui basicamente de commodities, bens primários como minérios e grãos de baixo valor agregado.
No terceiro trimestre de 2010, os setores exportadores com melhor desempenho foram os de alimentos e bebidas e de automóveis, caminhões e ônibus. Já o aumento das importações, muito mais generalizado, foi motivado principalmente pelo setor de máquinas e equipamentos industriais e comerciais, mas também no de produtos químicos, refino de petróleo e automóveis, caminhões e ônibus.
Para demonstrar o fenômeno que classifica como a "primarização da pauta exportadora", o economista aponta para o fato de que, dos dez produtos brasileiros mais vendidos no exterior entre janeiro e setembro deste ano, apenas um (automóveis de passageiros) é manufaturado, ao passo que, no mesmo período de 2006, a mesma lista continha quatro manufaturados contra seis produtos primários. Além do mais, Giannetti também critica a concentração das exportações em poucos produtos primários, já que, atualmente, apenas quatro itens (minério de ferro; óleo bruto de petróleo; soja e açúcar de cana) respondem por um terço das vendas internacionais. Em 2006 era preciso somar todos os dez itens mais vendidos para chegar a um terço das exportações brasileiras.
Para Giannetti, os resultados divulgados hoje (18), em São Paulo (SP), atestam o que a Fiesp vem alertando há tempos: está em curso um processo de desindustrialização e o governo, segundo ele, vem adotando medidas inócuas, com base no argumento de que a balança comercial é avitária, o que, de acordo com o economista, só tem sido possível graças à exportação das commodities, sobretudo para a China. Além disso, Giannetti também afirma que, com a queda das exportações, a produção industrial brasileira tem crescido graças ao aumento da renda nacional e do crédito, fatores que, segundo ele, não irá se sustentar.
"Podemos estar batendo às portas de uma recessão já em 2012", diz o economista. "Temos que tomar uma vacina tríplice, mexendo no câmbio, devolvendo todos os créditos tributários nas mãos de exportadores e desonerando os investimentos em logística, além de melhorar a gestão da política de comércio exterior", afirmou.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Delirios cambiais e as indefinicoes de sempre: o "primeiro" debate economico da era Dilma

Ainda ouviremos falar muito na tal de "guerra cambial" -- muito mais exercida, aliás, pelos EUA, com sua política de desvalorização controlada, do que pela China, com sua política de estabilidade na paridade com o dólar, mas moderadamente deslizante -- e dessas "manipulações" -- aqui a referência indireta é claramente a China, mas os dirigentes brasileiros têm medo de pronunciar o nome do país -- e ouviremos ainda mais reclamações desses empresários, mal acostumados durante muito tempo com a política de desvalorizações constantes, automáticas, que empobrecia o povo mas encobria todas as suas ineficiiencias competitivas.
Se o governo, ou suas mais altas autoridades quiserem mesmo cuidar da "defasagem" cambial, eles não precisam nem controlar os fluxos de capitais, nem passar a "manipular" o câmbio, o que eles não farão pois não têm NENHUMA política alternativa para colocar no lugar do câmbio flutuante. Se ele é flutuante, ele deve subir ou baixar, em função dos demais dados do cenário interno, entre eles o nível da taxa de juros.
Se o governo quiser mesmo combater o câmbio alto, só tem uma solução: controlar as despesas públicas, diminuir o nível de financiamento que o Estado "obtém" da sociedade -- e ele só consegue o dinheiro prometendo juros altos, justamente -- e entrar num regime de emagrecimento fiscal.
Qualquer outra solução "milagre" seria bobagem e de curto efeito, como esse aumento no IOF, que não serviu para absolutamente nada.
Acho que continuaremos ouvindo bobagens pelo futuro próximo...
Paulo Roberto de Almeida

Dilma e as batatadas sobre o câmbio no Jornal Nacional
Reinaldo Azevedo, 3.11.2010

O Jornal Nacional acaba de reapresentar, agora acompanhada da repercussão, a declaração de ontem de Dilma Rousseff sobre o câmbio, a saber:

Eu tenho um compromisso forte com a questão dos pilares da estabilidade macroeconômica, um câmbio flutuante. E nós temos hoje uma quantidade de reservas que permite que a gente inclusive se proteja em relação a qualquer tipo de guerra ou de manipulação internacional.

Bem, vamos ver. Não sou economista, claro!  Mas sou economista o bastante para tratar das bobagens múltiplas contidas em trecho tão curto;

1 - O nível de reservas do Brasil nada tem a ver com câmbio flutuante. Um país pode ter reservas altas ou baixas com câmbio flutuante ou fixo. Existe no máximo uma correlação entre elas porque, bem, nos dois casos, estamos falando sobre dólares.

2 - Segundo a presidente eleita, as reservas brasileiras nos protegem de ataques especulativos? É mesmo? Assim seria se o ataque se desse na forma de fuga de dólares. Só que o movimento, hoje, é contrário: o que se tem e uma entrada excessiva: com os juros americanos no chão, os investidores vêm aproveitar a nossa taxa, digamos, exuberante! Assim, as vistosas reservas, longe de uma garantia contra o problema em curso, são parte do problema.

3 - A China, cujo câmbio é flutuante só em teoria, é que mantém reservas altíssimas. Pra quê? Justamente para decidir artificialmente o valor da sua moeda, mantida desvalorizada porque isso lhe permite provocar os estragos que provoca nas economias mundo afora.

Eu não estou defendendo câmbio fixo, flutuante, mais ou menos fixo ou mais ou menos flutuante. Só estou deixando claro que a equação da presidente eleita está errada. Os “especialistas” que comentaram a questão preferiram ignorar a salada teórica e falar sobre a tal guerra cambial no mundo. Estamos na fase de preservar Dilma de si mesma.

[fim de transcrição]
========

Termino por aqui [PRA]:
O que precisa ser dito, também, é que essa política insana de acumular reservas, em níveis exageradamente altos, muito mais altos do que a prudência com a balança de transações correntes recomendaria (três meses de importações, quando já estamos com mais de dois anos de importações de cobertura cambial), essa política nos leva a um CUSTO FISCAL ALTISSIMO, na faixa de 25 a 30 bilhões de dólares por ano, que é a diferença entre os juros internos (aos quais o governo remunera os títulos da dívida pública com cujos recursos ele compra dólares) e os juros externos, que remuneram nossas divisas (tipicamente, Treasury bonds americanos, que estão, como vocês sabem, com os juros no piso mínimo).

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Agricultura, sempre ajudando o Brasil - Carlos Alberto Sardenberg

A coluna do conhecido jornalista, que desta vez cita meu amigo professor em Brasília Carlos Pio:

O Brasil deles é melhor
Carlos Alberto Sardenberg
O Estado de S.Paulo, 30 de agosto de 2010

A agricultura brasileira, incluindo a criação de gado, sofre dois tipos de crítica por aqui: 1) destrói o meio ambiente, especialmente a Amazônia; e 2) por seu caráter capitalista-global, concentra renda, não emprega nem garante comida para os brasileiros.

A exportação de alimentos, em especial, é vista não como uma virtude, mas como um tipo de atraso econômico. Neste ponto de vista, o País não poderia ou não deveria ocupar no mundo o papel de "mero" exportador de comida e de matérias-primas (commodities) como o minério de ferro.

Tratados no exterior, esses temas viram de ponta-cabeça. Na edição desta semana, a revista The Economist não mede palavras. Em editorial e reportagem, observa que a agricultura brasileira é um milagre e sugere que outros países adotem o mesmo modelo para "alimentar" o mundo.

Ou seja, o caráter exportador de alimentos aparece como uma virtude global, especialmente neste momento em que, diz a revista, prolifera mundo afora um "agropessimismo" - a sensação de que não há como, a humanidade não consegue se alimentar a não ser destruindo o planeta. O Brasil, diz a respeitada publicação, seria a alternativa: como produzir sem destruir.

Ter comida para exportar é, pois, um fator extremamente positivo neste ambiente global. O Brasil poderia alimentar o mundo pelas próximas décadas.

O mesmo tema, com abordagem parecida, surgiu durante um debate promovido na semana passada pelo HSBC brasileiro. O banco trouxe seus principais executivos da Ásia e um representante do governo chinês para debater as perspectivas de negócios Brasil-China, nas duas direções. Todos os participantes trataram de uma "complementaridade": a China desesperadamente em busca de recursos naturais e o Brasil com abundância desses recursos.

Obviamente, a questão seguinte do debate estava posta: mas é essa a posição brasileira esperada, de fornecedor de alimentos e minério de ferro e importador de manufaturados e máquinas?

O representante do governo chinês Chen Lin, diretor do Ministério do Comércio, não entendeu. Mas qual problema existe aí? - foi sua primeira reação.

Explicados os contornos do tema, respondeu com franqueza. O ponto principal: recursos naturais estão escassos, especialmente para um país de 1,35 bilhão de habitantes que desejam produzir e enriquecer. Ter esses recursos é uma vantagem estratégica espetacular no mundo de hoje. E a prova disso, acrescentou, é que os preços dos produtos exportados pelo Brasil subiram extraordinariamente nos últimos anos. (Lembram-se dos reajustes de até 100% que a Vale conseguiu para seu minério de maior qualidade, o de Carajás?) E os produtos industrializados chineses, ao contrário, tiveram quedas de preços.

Executivos do HSBC da Ásia, Anita Fung e Che-Ning Liu observaram ainda que o Brasil simplesmente deveria aproveitar a bonança, os preços elevados de alimentos e commodities, em boa parte puxados pela voracidade da China. É um bônus do momento, notou Che-Ning Liu. E se o País acha melhor para o futuro produzir máquinas e tecnologias, o.k., exporte commodities hoje e junte os recursos para desenvolver novos setores.

Pagamos mais caro. Sobre o artigo da semana passada, Pagamos mais caro. E agora?, recebi esta colaboração do professor Carlos Pio, da Universidade de Brasília:

"1) A excessiva proteção comercial do Mercosul foi uma imposição brasileira aos parceiros menores e tradicionalmente mais liberais. Ela é a maior responsável pelas diferenças de preços de produtos globais. No Peru, por exemplo, um Honda Civic custa US$ 20 mil, enquanto custa o dobro aqui.

2) Os formuladores de políticas de desenvolvimento e os políticos professam uma crença enganosa de que a proteção comercial gera empregos no Brasil... Ora, a proteção encarece o produto produzido localmente (pela falta de concorrência, falta de liberdade para importar tecnologia e insumos), que acaba sendo vendido quase que exclusivamente aqui mesmo (salvo quando o empresário leva um subsídio à exportação). Pois bem, os consumidores locais (família e empresas) têm de comprar mais caro o que existe disponível na economia internacional por preço muito mais em conta e, com isso, perdem bem-estar (as famílias) e competitividade internacional (as empresas). A acumulação de capital sai prejudicada. No conjunto, empobrecemos.

As empresas de aluguel de veículos têm de optar entre adquirir carros baratos e de má qualidade e os carros "nacionais" de luxo mais caros do que no resto do mundo. Com a impossibilidade de importar, elas oferecem a seus clientes carros ruins e caros a preços internacionais e empregam menos pessoas do que poderiam se os carros tivessem preços competitivos e elas pudessem ter uma frota mais ampla em todo o território nacional. O resultado é que o emprego gerado nas cidades onde se instalam as montadoras é compensado pelo desemprego de potenciais trabalhadores de empresas que deixam de adquirir automóveis em quantidade maior e que se espalham por todo o território nacional.

O burocrata acaba decidindo onde haverá demanda por emprego e por qual tipo de emprego, mas não é capaz de determinar um aumento geral do nível de emprego do País por meio da proteção comercial à indústria.

3) Câmbio flutuante e metas de inflação em nível internacional eliminam a possibilidade de crise cambial em decorrência da decisão de unilateralmente abrir a economia nacional às importações. Quanto mais se importar, mais o real se desvalorizará automaticamente, encarecendo as importações. Da mesma forma, se nenhum outro país comprar produtos e serviços de empresas brasileiras, não entram dólares aqui e o real fica muito barato, barateando os preços do que se exporta daqui e encarecendo os produtos estrangeiros. Que não há crise cambial em economias abertas ao comércio e com regime de câmbio flutuante e inflação baixa é um fato que poucos brasileiros reconhecem."

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Economista "desenvolvimentista" deve ser uma doenca infantil

Sinto muito mas eu não consigo evitar uma certa sensação de cansaço quando ouço a expressão "economista desenvolvimentista"; "Fulano é desenvolvimentista, Sicrano é ortodoxo..."
Tudo isso é bullshit, completo besteirol, como se houvesse economistas que pudessem ser contra o desenvolvimento, contra o crescimento, gente que, certamente assalariada de Wall Street, fica à espreita das próximas "atitudes desenvolvimentistas" de um governo "çábio", e começa logo a apregoar: "Atenção, isso pode provocar inflação, menos azeite (dinheiro) na fervura"; "Cuidado: se você não proteger essa indústria, ela vai perecer contra a competição estrangeira e isso impedirá (sic) o desenvolvimento do país".
Esse tipo de cantilena a gente houve há pelo menos 50 ou 60 anos, desde que a ideologia desenvolvimentista fez a sua irrupção no mercado de ideias, com as propostas prebischianas da Cepal, e se consolidaram como a "economia desenvolvimentista", a única correta, a única capaz de nos salvar da desgraça da teoria ortodoxa, certamente monetarista e anti-desenvolvimentista.
É o que eu penso, quando leio a matéria abaixo que diz que economistas desenvolvimentistas estão preocupados com o câmbio e a tal de doença holandesa.
Acho que quem se considera um economista desenvolvimentista deve sofrer de uma doença infantil que o impede de crescer.
As pessoas precisam se dar conta de que não existe essa coisa de economia desenvolvimentista e economia ortodoxa. Existe apenas a diferença entre a boa e a má economia, apenas isso.
Se economia desenvolvimentista fosse sinal de progresso, de crescimento, de desenvolvimento, os países latino-americanos, que as praticam desde os anos 1950 (e alguns ainda voltam avidamente às mesmas ideias agora mesmo), seriam verdadeiras potências econômicas mundiais, e não a porcaria que efetivamente são...
Paulo Roberto de Almeida

Câmbio desindustrializa o País, diz estudo

Raquel Landim e Leandro Modé
“O Estado de S.Paulo”, 23/05/2010

Levantamento feito por grupo desenvolvimentista da FGV aponta que o Brasil enfrenta problema conhecido como 'Doença Holandesa'

Um grupo de economistas desenvolvimentistas da Fundação Getúlio Vargas (FGV) fez uma radiografia completa da influência do câmbio na economia brasileira e chegou a uma conclusão polêmica: a "doença holandesa" está provocando a desindustrialização do País.

A "doença holandesa" ganhou esse nome porque uma alta dos preços do gás na década de 60 aumentou as exportações da Holanda e valorizou o florim (moeda da época). E é isso que o conceito significa: ao exportar muita commodity, o país atrai dólares, o que valoriza a moeda e prejudica outros setores.

Outro resultado surpreendente do estudo aponta que os efeitos do real forte são marginais nas exportações, mas intensos nas importações.

O levantamento dos pesquisadores é composto por sete estudos, somando mais de 263 páginas. Os estudos analisam os impactos da taxa de câmbio na estrutura da indústria, no comércio exterior, no crescimento econômico e nas finanças públicas. Avaliam ainda as relações da moeda brasileira com os preços internacionais das commodities e a eficiência dos mercados futuros de câmbio no País.

A polêmica sobre a desindustrialização voltou ao debate econômico e político por causa do robusto déficit da indústria da transformação este ano, que chegou a US$ 7,1 bilhões no primeiro trimestre. O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, tem criticado o governo Lula pelo fraco desempenho da balança comercial.

A maioria dos pesquisadores que se dedicou ao levantamento é da Escola de Economia de São Paulo (Eaesp/FGV), dirigida pelo economista Yoshiaki Nakano, ligado ao PSDB. Outro professor emérito da escola, também um tucano histórico, é Luiz Carlos Bresser-Pereira. Os dois são próximos de Serra, mas não estão entre os economistas mais ouvidos pelo candidato hoje.

Segundo os autores, os estudos são independentes, sem apoio financeiro de empresas, partidos ou governos. "São pesquisadores acadêmicos e esses estudos não têm influência de nenhum tipo. Em um ano de eleição, qualquer estudo pode colaborar com o debate econômico", disse o professor Márcio Holland, coordenador do trabalho e estudioso dos efeitos do câmbio há 25 anos.

Desindustrialização precoce. Os dados da FGV apontam para uma "desindustrialização precoce" da economia, provocada pelo câmbio valorizado, que, por sua vez, é uma consequência da "doença holandesa" e do fluxo de capitais para o País. "O câmbio provoca esse déficit expressivo no comércio exterior de manufaturas, que reduz a participação da indústria na economia", diz Nelson Marconi, professor da FGV e da PUC e autor de um dos estudos.

Desde os anos 80, a participação da indústria da transformação na economia brasileira vem diminuindo. Em 1980, representava 22,8% do PIB. Em 2009, estava em 15,6%. A perda de importância da indústria é um processo natural, porque as pessoas demandam mais serviços à medida que a renda aumenta. Só que, no Brasil, processo começou antes do previsto. A renda per capita estava em US$ 4.085 nos anos 80, menos da metade do que se verifica nos países ricos quando iniciam a desindustrialização.

Fenômeno brasileiro. Os autores avaliaram as taxas de câmbio do Brasil desde o início dos anos 70. O gráfico mostra que a moeda tem uma tendência de se estabilizar em níveis apreciados, sofrendo desvalorizações nas crises, como a década de 80 e em alguns períodos dos anos 90. "É um fenômeno brasileiro, que não se verifica em outros 82 países", diz Holland.

O estudo sugere que não há uma relação forte entre a quantidade total exportada pelo Brasil e o câmbio. Para os básicos também não há diferença, mas a relação é estreita para manufaturados. Um dos autores, Sérgio Kannebley Júnior, explica que o câmbio impacta mais as importações. As empresas aproveitam o câmbio valorizado para importar mais insumos.

Sem surpresa. Luiz Carlos Bresser-Pereira, ex-ministro da Fazenda, afirma que as conclusões, entre elas a de que o Brasil sofre de "doença holandesa", não o surpreenderam. "Desde 2001, venho defendendo a tese de que a poupança externa não leva ao desenvolvimento", exemplifica. "Todos os países que se desenvolveram o fizeram com base na poupança interna."

Ao lado de Paulo Gala e Eliane Araújo, Bresser assina um estudo que trata dos efeitos da taxa de câmbio na formação da poupança no Brasil. A conclusão é de que o câmbio valorizado provoca uma redução da poupança interna, na medida em que estimula o consumo da população e reduz o lucro das empresas.

Segundo Gala, a taxa de poupança de um país depende do arranjo macroeconômico, não de questões culturais. "Diz-se que os asiáticos têm uma propensão natural à poupança. Mas traga um asiático para viver em um país como o Brasil e ele vai consumir como nós", comenta.

Economista discorda e acha que tese ''é conversa para boi dormir''
A maioria das teses defendidas nos estudos da Escola de Economia da Fundação Getúlio Vargas está longe da unanimidade na comunidade econômica. Economistas da Faculdade de Economia e Administração (FEA)da Universidade de São Paulo, do Insper (ex-Ibmec São Paulo) e da PUC do Rio discordam, por exemplo, da ideia de que o Brasil sofra de "doença holandesa".

"Isso é conversa para boi dormir. Ou melhor, para vaca dormir, uma vez que estamos falando da Holanda", ironiza o professor da FEA Simão David Silber. "Se olharmos a trajetória do câmbio nos últimos anos, veremos que a valorização do real é fruto, principalmente, da consistência na política macroeconômica." Ou seja, ao arrumar a política econômica, o País passou a atrair capitais estrangeiros.

Outro fator que, segundo Silber, explica a queda do dólar no Brasil é a expansão dos gastos públicos. O Banco Central é obrigado a manter a taxa básica de juros (Selic) elevada para conter a inflação, estimulada pelas despesas do governo. O juro alto atrai capitais estrangeiros. O investidor toma dinheiro emprestado em um país onde a taxa é baixa e aplica no Brasil, onde é alta.

O professor do Insper José Luiz Rossi concorda. "A recente valorização do real não se explica pela alta das commodities no mercado internacional, mas pelas boas perspectivas de crescimento do Brasil, pela taxa de juro maior que a de outros países e pela queda do risco país", diz.

Para o economista da PUC-RJ José Márcio Camargo, discutir doença holandesa é "um pouco fora de propósito". "O que temos de discutir é o que fazer para ter uma estratégia de desenvolvimento que gere emprego e dê qualidade de vida para a população", afirma.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

2024) Manipulacao cambial dos amigos, nao é bem isso o que estao dizendo...

Reunião dos Bric ignora câmbio chinês
Alex Ribeiro
Valor Econômico, Sexta-feira, 16 de abril de 2010

A subvalorização da moeda chinesa provoca a perda de milhares de empregos industriais no Brasil, mas esse não foi um tema relevante na pauta da reunião de cúpula dos Bric, que trouxe ontem a Brasília o presidente Hu Jintao.

Esta semana, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, esteve aqui em Washington para participar de uma reunião de cúpula de segurança nuclear. Foi uma oportunidade para questionar se o Brasil pretende fazer algo a respeito da manipulação do câmbio chinês.

Claro, mas talvez não com essas palavras, respondeu Amorim, rejeitando a expressão manipulação do câmbio, muito usada pelos industriais e sindicalistas americanos para designar a desvalorização artificial do yuan, a moeda chinesa. O Congresso dos Estados Unidos ameaça retaliar a China com tarifas mais altas, mas o Brasil prefere levar o assunto na base da negociação. Cada um tem sua maneira de agir, diz o ministro. A gente prefere mostrar como foi bom para o Brasil a experiência de câmbio flutuante, como isso ajudou também a combater a inflação.

Muito realista, o ministro acha que os chineses, por si só e para atender pressões de sua própria economia interna, terão que valorizar o câmbio mais cedo ou mais tarde. A China cresce rápido demais, e uma taxa de câmbio mais valorizada pode ajudar a conter pressões inflacionárias.

O câmbio subvalorizado da China faz com que o Brasil exporte menos produtos industrializados ao país asiático e se especialize em produtos básicos, além de sofrer a concorrência desleal de produtos chineses no mercado interno e também no comércio com outros países que compravam nossos bens manufaturados, como nossos vizinhos da América do Sul.

Também não é assim, protesta Amorim. Não dá para dizer que o Brasil virou um celeiro de commodities . Exportamos aviões, temos os investimentos da Marcopolo na China... Mas ele reconhece que é preciso avançar na diversificação da pauta de exportações para a China, já que, em sua opinião, o volume de negócios dos negócios com a China é adequado.

Nos Estados Unidos, a manipulação do câmbio pelos chineses é o mais importante tema da agenda econômica internacional. Alguns cálculos apontam que ele leva a uma perda de cerca de 2,5 milhões de empregos industriais. Há muita pressão da opinião pública para que o Departamento do Tesouro declare que a China manipula a moeda, e parlamentares apresentaram projetos de lei que permitem subir tarifas de importações de produtos chineses.

A China deu os primeiros sinais de que pode valorizar um pouco sua moeda, algo como 3% neste ano, percentual que talvez seja muito tímido para acalmar a opinião publica americana. Usando diferentes metodologias, os economistas calculam que a subvalorização do câmbio chinês em relação ao dólar esteja entre 20% e 40%.

No Brasil, surpreende que o assunto não tenha maior relevância. O Peterson Institute, um influente centro de estudos de Washington, calcula que o yuan esteja 40,7% subalorizado em relação ao dólar. Já o real brasileiro estaria valorizado em 15,7% em relação ao dólar. Tudo somado, o yuan estaria mais do que 50% subvalorizado em relação à nossa moeda.

Depois da crise financeira internacional, os Estados Unidos estão corrigindo um pouco de seu déficit externo e, porque a moeda chinesa é mantida artificialmente desvalorizada, o Brasil acaba sofrendo mais. A carga do ajuste da moeda americana, que deveria ser dividida com os chineses, está sendo carregada por países com taxas de câmbio flexível, como o Brasil. Visto de outra forma: os americanos estão consumido menos e exportando mais. Como os chineses impõem uma barreira cambial às exportações americanas, os Estados Unidos fazem seu ajuste externo despejando uma carga maior de produtos no Brasil.

Os prejuízos causados pelos chineses ao Brasil são um pouco obscurecidos pelo fato de que a nossa própria taxa de câmbio está sobrevalorizada. O real sobrevalorizado é um erro, que deveria ser corrigido com um aperto fiscal, mas um erro não justifica o outro.

Ironicamente, uma eventual apreciação do câmbio chinês significará, para o Brasil, uma taxa de câmbio ainda mais apreciada. Com uma moeda mais forte, a China ampliará a demanda por commodities exportadas pelo Brasil. Também permitirá à industria brasileira competir com os chineses com um pouco mais de igualdade tanto no nosso mercado interno como em outros mercados no exterior. A combinação desses dois fatores é o aumento dos dólares disponíveis no nosso mercado de câmbio, que levariam ao um real ainda mais forte.

Se é para ter um câmbio ainda mais apreciado, vale a pena o Brasil brigar por um câmbio chinês mais justo? Claro que sim. Hoje, a apreciação do câmbio é causada sobretudo pelo fluxo de capitais estrangeiros ao país. Mas o Brasil registra déficit em conta corrente, estimado em US$ 50 bilhões pelo mercado para este ano, e em US$ 60 bilhões no ano que vem. Se os chineses deixarem de manipular sua moeda, esse déficit tende a diminuir, deixando a nossa economia menos vulnerável a paradas súbitas no fluxo de capitais.

Com tantos interesses estratégicos em jogo em torno da moeda chinesa, é irônico que o principal assunto da agenda econômica na reunião com os Bric foram os mecanismos para substituir o dólar como moeda nas transações de países do grupo. Por enquanto, a ideia é apenas desenvolver os sistemas de pagamento em moedas locais, mas no longo prazo há a ambição de substituir o dólar como principal moeda de reserva internacional. Não há dúvida que, em algum momento, será adequado achar uma moeda mais estável e mais sólida do que o dólar para lastrear as relações econômicas internacionais. Mas é improvável que a solução vá nascer de entendimentos com um país que manipula sua própria moeda para tomar empregos de outras economias.

Alex Ribeiro é correspondente em Washington. A titular da coluna, Claudia Safatle, não escreve hoje excepcionalmente

E-mail: alex.ribeiro@valor.com.br

terça-feira, 13 de abril de 2010

2088) Crescimento, desenvolvimento, Consenso de Washington e cambio

O desenvolvimento, as regras do Consenso de Washington e o câmbio:
um comentário a artigo do economista Yoshiaki Nakano
Paulo Roberto de Almeida

Muito interessante o artigo de Yoshiaki Nakano, publicado no Valor Econômico (13.04.2010), “O que falta para sustentar o crescimento”, que arrola argumentos e evidências sobre as condições institucionais e “cambiais” para que o Brasil possa acelerar o crescimento, com base na experiência internacional e nos estudos feitos a esse respeito. Embora aprovando no geral sua linha de argumentação, tenho duas observações a fazer a seu artigo, abaixo transcrito, uma de detalhe, mas que corrige um erro comum entre os acadêmicos brasileiros, e outra de fundo, que se dirige ao “demônio” particular do economista Nakano, a taxa de câmbio e seu papel no crescimento. Incidentalmente, cabe registrar que ele mistura em diversas passagens questões ligadas ao crescimento econômico e outras atinentes ao processo de desenvolvimento, que como todos sabem apresentam aspectos mais amplos.
Quanto ao primeiro tema, Nakano começa seu artigo dizendo que “O estudo sobre desenvolvimento econômico teve importantes avanços após o fracasso do Consenso de Washington”. Existem aí pelo menos três erros, de forma e de substância, que me permito corrigir de imediato.
1) O consenso de Washington (CW) NUNCA se referiu, nem teórica, nem praticamente, à área do desenvolvimento econômico, que é um ramo bem mais amplo da teoria e da prática econômicas, bem mais amplo, em todo caso, do que o modesto guia elaborado em 1989 por John Williamson, com suas pequenas regras ditas consensuais para a retomada do crescimento em países com graves disfunções e desequilíbrios acumulados. O consenso de Washington se refere, basicamente, a programas de ajuste e de reforma, e deveria ser visto no contexto dos processos de estabilização macroeconômica na América Latina depois de uma década de reformas empreendidas no contexto da, e como resposta à, crise da dívida em 1982 e seus reflexos em termos de descontrole inflacionário e estagnação nos anos seguintes. As regras não se propunham formular uma receita de desenvolvimento, longe disso, pois pretendiam apenas e tão somente estabelecer parâmetros e práticas de política econômica que pudessem recolocar os países da região no caminho do crescimento novamente.
2) Dizer que esse ramo da ciência econômica, que é o estudo do desenvolvimento, teve IMPORTANTES avanços DEPOIS de um suposto FRACASSO do CW, sem situar onde se situa esse fracasso, quando ele ocorreu e quais foram, exatamente, esses avanços, é uma afirmação triplamente temerária. Talvez Nakano esteja pensando na recente crise econômica, e cabe relembrá-lo que a crise não tem absolutamente nada a ver com o CW ou sua suposta crise. O CW se referia, como já lembrado, a ajuste e reforma na América Latina, podendo suas recomendações se estender a outros países ainda distantes de suas regras. A crise recente ocorreu no coração do capitalismo desenvolvido, países que supostamente já cumpriam varias de suas regras ou que não eram justamente visados pelo CW. Quanto aos avanços, ele cita apenas três trabalhos de síntese sobre condições e requisitos do crescimento, como pressuposto do processo de desenvolvimento. Esses trabalhos podem até servir como balizas teóricas e empíricas para o estudo do desenvolvimento de maneira geral, e na África em particular, mas eles não foram elaborados como resposta ou no contexto de um suposto fracasso do CW.
3) Quanto ao próprio suposto fracasso do CW, caberia recordar essas regras e solicitar ao economista Nakano que explicite onde está o seu fracasso. Vou resumir a partir do artigo de John Williamson, intitulado “What Washington Means by Policy Reform?”, incluído no livro editado por ele mesmo, Latin American Adjustment: How Much Has Happened? (Washington: Institute for International Economics, 1990, pp. 7-20):
1) controle dos déficits fiscais;
2) prioridades nas despesas públicas;
3) reforma tributária;
4) taxa de juros próxima do equilíbrio de mercado, na fixada politicamente;
5) taxa de câmbio flexível;
6) política comercial de abertura;
7) receptividade ao investimento direto estrangeiro;
8) privatizações de setores não essencialmente estatais;
9) desregulamentação da vida econômica; e
10) respeito aos direitos de propriedade (mais no terreno dos contratos do que propriamente na área de propriedade intelectual).

Seria o caso de perguntar a Nakano onde, como e por que qualquer uma dessas regras simples de boa conduta econômica falhou e qual foi, exatamente, a razão de seu fracasso? Em que sentido essas regras se opõem a um processo de crescimento sustentado e como elas poderiam ser um obstáculo ao desenvolvimento de qualquer país, inclusive daqueles que já as observam informalmente desde muito tempo? Se ele pudesse indicar o que, exatamente, constitui uma receita para o fracasso nessas regras, caberia dizer. Do contrário, vamos considerar que sua afirmação ou é ingênua, ou é mal informada, como, aliás, são quase todas as afirmações do gênero que se lêem no Brasil.

Quanto ao câmbio, bem aqui se trata da obsessão particular do economista Nakano e seu amigo Bresser Pereira. Para ambos, o câmbio no Brasil sempre está defasado, e necessitando correção para baixo, ou seja, no sentido da desvalorização. Embora saibamos que uma taxa de câmbio realista, e se possível ligeiramente desvalorizada, representa um poderoso aporte para as indústrias exportadoras, não podemos tomar esse elemento como absoluto, pois muito depende da estrutura econômica e do perfil de insumos desse país. Se ele for um grande importador de matérias primas e processador para o mercado externo, um câmbio neutro pode até ajudar, pois barateia importações e não penaliza as exportações. A estratégia asiática é única e não necessariamente compatível com a estrutura economia brasileira, nação que possui grande mercado interno e tem o preço de suas mercadorias de exportação fixadas pelo mercado internacional, não determinadas pelos “fabricantes” nacionais.
De resto, desenvolvimento não é apenas crescimento, e vários países cresceram e se desenvolveram com uma economia baseada seja em matérias primas seja em agricultura (Dinamarca, Nova Zelândia, e outros).
Voltarei ao assunto.

Paulo Roberto de Almeida
(Shanghai, 13.04.2010)


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O que falta para sustentar o crescimento
Yoshiaki Nakano
Valor Econômico, 13.04.2010

O estudo sobre desenvolvimento econômico teve importantes avanços após o fracasso do Consenso de Washington. Os mais interessantes são aqueles direcionados ao estudo de casos de sucesso - países com crescimento acelerado durante décadas - buscando encontrar empiricamente as características comuns que expliquem esses casos que, assim, poderão servir de benchmarking (veja, por exemplo, Andy Berg, Jonathan D. Ostry and Jeromin Zettelmeyer, What Makes Growth Sustained ? Washington: IMF, November 2006; Simon Johnson, Jonathan D. Ostry and Arvind Subramanian, The Prospect for Sustained Growth in África: Benchmarking the Constraints, Washington: IMF Working Paper 52, March 2007; e o Relatório da Comissão de Crescimento Desenvolvimento, formado por experts de 18 países e presidido pelo Nobel de Economia Michael Spence). Seria interessante analisar o atual surto de crescimento da economia brasileira utilizando esse benchmarking e verificar o que falta para o Brasil entrar numa trajetória de crescimento sustentado por décadas. É o que faremos neste artigo, selecionando dois aspectos que parecem relevantes no momento: reformas institucionais, por ser um ano eleitoral, e taxa de câmbio pelo déficit em transações correntes, que está aumentando fortemente pré-anunciando uma nova crise.
O relatório de Michael Spence aponta 13 casos de sucesso, de 7% ou mais de crescimento anual por pelo menos 25 anos, no período pós-Guerra, que podem nos servir de benchmarking. O Brasil está nesse grupo, mas esse relatório aponta que somos caso único e a parte, pois preenche o critério, mas que depois de quatro décadas de rápido crescimento, interrompeu esse processo a partir de 1980. Mais recentemente, a economia brasileira iniciou, no segundo semestre de 2003, um processo de recuperação que revelou, nos anos subsequentes, um novo dinamismo, com a expansão baseada num novo crescimento do mercado doméstico. Esse movimento de aceleração já foi interrompido por duas vezes: no terceiro trimestre de 2004, pela política monetária do Banco Central e no último trimestre de 2008, pela crise financeira nos Estados Unidos. O que os estudos citados encontram é que surtos de aceleração do crescimento são muito comuns e podem ser causados por uma infinidade de fatores domésticos e por choques externo. Mas os surtos de crescimento podem se converter ou não num processo de crescimento acelerado e sustentado por longo prazo, e aqui está a relevância desses estudos que revelam as características comuns dos casos de sucesso.
O primeiro aspecto relevante é que esses estudos enfatizam as boas instituições como fundamentais para o crescimento de longo prazo, mas constataram empiricamente que elas são mais resultado do que causa original. Em outras palavras, uma vez iniciado o surto de crescimento, por alguma razão específica ou mesmo acidental, todos os casos de sucesso mostram que, num período de cinco anos, iniciam importantes reformas removendo os entraves institucionais e desbloqueando as forças produtivas do país. Nesse particular, a nossa situação é preocupante, pois as instituições definem as regras do jogo, particularmente controlando os detentores de poder, protegendo os agentes econômicos contra expropriação do estado (carga tributária excessiva) e leis e práticas referentes ao cumprimento dos contratos entre partes privadas. Lei, ordem e burocracia eficiente também são fundamentais. As pesquisas empíricas no Brasil revelam que essas instituições são anêmicas, nas quais o povo não confia e ao invés de lei e ordem, o povo vive permanentemente sob pressão e medo. No que se refere a instituições que definem o ambiente de negócios e estimulam o investimento, a situação não é diferente, pesquisas tipo doing business revelam o altíssimo custo de fazer transações no Brasil.
Ainda há esperança, pois reformas das instituições não são pré-condição do crescimento, mas surtos de crescimento podem criar ambiente mais favorável para as reformas institucionais e aumentar fortemente a sua demanda. Os estudos mencionados mostram que se as reformas não forem iniciadas num prazo máximo de cinco anos, a transição para crescimento acelerado terá sido abortada. O que há de positivo no Brasil é que a demanda por reformas institucionais e de redução do custo Brasil, inclusive redução da carga tributária, vem aumentando fortemente, particularmente, pela classe empresarial. Nesse sentido, as eleições presidenciais deste ano serão decisivas, pois depois de dois períodos sem reformas institucionais, se o próximo presidente não iniciar o seu mandado fazendo as reformas institucionais, particularmente do estado, o atual surto de crescimento será efêmero.
Dos outros 12 casos de sucesso, 10 são classificados como modelos baseados nas exportações de manufaturados. De fato, a velha teoria do desenvolvimento já apontava que setor de manufaturados, além de empregos mais qualificados e elevada produtividade, geram externalidades, com retornos crescentes de escala e geração de encadeamentos dinâmicos na cadeia produtiva. Tem sido o setor que tem comandado a aceleração do crescimento, aumentando o seu valor agregado e participação no PIB, pelo menos até alcançar uma renda per capita de cerca de US$ 15 mil. O papel notável da exportação de manufaturados não significa que ela puxa toda a economia, mas a sua expansão e a sua diversificação são fundamentais para sustentar as crescentes importações necessárias para construir uma estrutura produtiva competitiva e dinâmica.
Nos casos de sucesso, o crescimento acelerado foi acompanhado de maior abertura comercial, com aumento na participação das exportações que viabiliza a transferência da fronteira tecnológica para dentro do país graças à importação de bens de capital e de novas tecnologias. E aqui a política chave é a cambial como mostram esses estudos. O crescimento acelerado e sustentado por longo período foi acompanhado de políticas que evitam a sobrevalorização da taxa de câmbio. E aqui a evidência empírica apresentada nos estudos mencionados é notável pois no grupo de países com crescimento sustentado não se verifica apreciação excessiva da taxa de câmbio, enquanto que nos países que assistem a surtos curtos de crescimento, mas não conseguem crescimento acelerado e sustentado por longo prazo, a apreciação excessiva tem incidência muito maior.

Yoshiaki Nakano, ex-secretário da Fazenda do governo Mário Covas (SP), professor e diretor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas - FGV/EESP, escreve mensalmente às terças-feiras.