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sexta-feira, 22 de abril de 2016

Comercio em moedas locais no Mercosul: avanco ou problema? - Parlamento do Mercosul e Paulo Roberto de Almeida

Transcrevo, em primeiro lugar, a posição de um parlamentar paraguaio do Parlamento do Mercosul, que se manifesta favoravelmente ao pagamento do comércio local em moedas nacionais, como aliás já se faz entre outros países do bloco.
Muitos consideram isso um avanço, por 'escapar' do dólar ou do euro, mas eu não tenho tanta certeza assim.
Primeiro transcrevo a "ponencia" do deputado, depois agrego meus comentários.
Paulo Roberto de Almeida 

Pago en monedas locales, un adelanto en la Integración Económica Regional
Parlamentario ALFONSO GONZÁLEZ NÚÑEZ
Presidente de la delegación de Paraguay
Fuente: Parlamento del Mercosur, Abril de 2016
http://www.parlamentodelmercosur.org/innovaportal/v/11611/2/parlasur/pago-en-monedas-locales-un-adelanto-en-la-integracion-economica-regional.html

En momentos en que el proceso de avenencia regional adolece de hechos explícitos que abonen un avance sostenido y aprovechable para sus miembros y el conjunto, la decisión de Brasil y Paraguay de adoptar el Sistema de Pago en Monedas Locales (SML), Guaraní y Real en este caso, como régimen para sufragar su comercio bilateral, es un anuncio positivo dirigido a estructurar paulatinamente una aún distante integración económica total en la zona, pero que con este paso se patentiza la voluntad colectiva de desarrollarse al interior del grupo, a partir del empleo de las divisas nacionales como intermediario financiero en el ámbito de las transacciones.
Este mecanismo que tiende a generalizarse en el MERCOSUR, visto que Argentina y Brasil lo utilizan desde octubre del 2008¸ Uruguay y Argentina, desde el 2014; en tanto que Uruguay y Brasil concertaron lo suyo en junio de 2015; Paraguay y Uruguay suscribieron el acuerdo en octubre de 2015. Estas muestras constituyen un empeño de los actores económicos por reducir la supremacía e incluso sustituir el dólar norteamericano y el euro en los intercambios recíprocos, además de valorizar el poder adquisitivo y operativo de las monedas de la comunidad frente a sus sinónimos de acentuada preponderancia internacional, y sortear las dificultades omnipresentes del tipo de cambio.

El SML que faculta a importadores y exportadores a costear sus respectivos negocios en signos monetarios de su país de origen, intensificará y mejorará la calidad de los vínculos comerciales, generará una apreciable reducción de los costos administrativos y financieros de la rutina aduanera y bancaria, y facilitarán la inserción de los pequeños y medianos empresarios de la producción a los esquemas bilaterales de comercialización, habida cuenta que éstos, por su menor liquidez y potencial de desembolso, preferentemente capitalizan en monedas locales.
El fortalecimiento y el sello de competitividad que se imprime a los diferentes instrumentos de pago de circulación legal en los territorios compartidos, es una certificación de jerarquía, un adelanto sustantivo con perspectivas de proyección exterior a plazo todavía impreciso, y tal vez el fundamento para la creación de la moneda única de MERCOSUR en un futuro no precisamente inmediato, sí en etapas más perfeccionadas de la integración, como se constata en la Unión Europea (UE).
La Presidencia de la Delegación de Paraguay en el Parlamento del MERCOSUR considera acertado que nuestra república se haya conectado a ese módulo conviniendo primeramente con Uruguay y luego con el Brasil, y posteriormente con los otros consocios, la legitimación del Guaraní como moneda operativa del Paraguay en el área común, aclarando que en principio tendrá carácter opcional para los agentes de compra/venta, en consonancia con la modalidad en vigor.

Sabido es que la unidad monetaria nacional destaca por su solidez y estabilidad comparativamente con algunos homólogos hostigados por periódicas depreciaciones y devaluaciones, motivo significante para conferirle confianza y crédito en los negocios pactados entre asociados.
Esta variante de pagos supondrá una evolución cualitativa del Guaraní en el espectro internacional, en tiempos en que la plaza paraguaya es objeto de creciente interés por parte de inversores e industriales foráneos, atraídos por las ventajas y concesiones puestas a disposición de la producción manufacturera.
En definitivas, el mercadeo de Paraguay con los demás socios y viceversa validos del SML comporta una señal de madurez, independencia y saludable empuje de los involucrados, que construyendo una identidad distintiva que los singularice escogen solventar sus actividades comerciales con circulantes propios, proporcionando un matiz de superación a la interacción intra bloque.

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Meu comentário (PRA): 

Não estou tão seguro que tenha sido uma boa decisão, não esta atual, que é mera consequência, mas a original, Brasil e Argentina em 2008.
Difícil fazer uma avaliação criteriosa sem informações fiáveis, ou seja, quanto do comércio intra-Mercosul é feito em divisas (dólar, provavelmente) e quanto em moedas locais. Seria preciso que a Secex e o Banco Central (que administra os pagamentos externos) fizessem um balanço completo dessas operações e explicassem os mecanismos de liquidação dos pagamentos.
Nenhuma das moedas do Mercosul é uma divisa, ou seja, livremente conversíveis, mas são utilizadas com maior liberdade do que no passado, para fins de turismo, de comércio local (ou seja, transfronteiriço) e mesmo para envio entre particulares.
Outra é a situação das transações correntes e das operações comerciais de importação e exportação, ao abrigo de cartas de crédito abertas por bancos privados ou mesmo por bancos estatais em cada um dos países.
Todos esses países possuem um registro dessas operações com o exterior, e procuram concentrar essas operações, e sua liquidação real, em pagamentos efetivos, em alguma moeda exclusiva, para fins de unidade, uniformização e homogeneidade dos registros.
Durante mais de um século, o Brasil operou em libras esterlinas, mas em 1939 passamos para a esfera do dólar, já que o cruzeiro não era, nunca foi (como foram seus sucessores) uma moeda totalmente conversível.
Ora, qualquer operação de pagamento externo, seja para comércio seja para qualquer outra finalidade, envolve certo risco cambial, ou seja, saber se ao contratar a operação a equivalência vai ser mantida ao liquidá-la efetivamente, isto é, a paridade de início e a paridade de finalização. Isso envolve certo risco, e perdas pequenas podem ser admitidas, mas perdas grandes podem ser um grande problema para quem garantiu o câmbio numa determinada paridade e depois precisa desembolsar bem mais para liquidar a operação.
Nos créditos comerciais, se costuma fazer um seguro, um pequeno percentual que fica com o agente encarregado da liquidação, qualquer que seja o câmbio real.
Mas, como as moedas locais do Mercosul são não conversíveis, e geralmente voláteis, quem é que vai liquidar essa operação se os agentes fogem do dólar, e dos seguros comerciais e se refugiam nas moedas locais que precisam ser operadas pelos bancos centrais, que garantiram que essa operação pode ser feita?
Será que é função dos bancos centrais garantir riscos comerciais (isto é, assumi-los, de verdade) de agentes privados? Ou seja, os bancos centrais, ademais de todos os gastos administrativos -- pois precisam abrir novas janelas de contabilização de operações comerciais em outras moedas que não o dólar -- vão passar a garantir também o câmbio para essas operações privadas, ou seja, puramente comerciais? Eles assumem os riscos e cobrem os custos?
Não creio que seja uma boa solução. Preferiria que os países trabalhassem no sentido de tornar suas moedas plenamente conversíveis, o que implica diminuir a inflação, os riscos de volatilidade excessiva, ou simplesmente deixar tudo como está: o dólar é, de fato, uma moeda internacional, e todo mundo sabe quanto vale a todos momento.
Deixem os agentes privados comerciar nas moedas que quiserem, mas os bancos centrais vão continuar registrando em dólares, e o risco fica com os particulares e com os bancos, não com os bancos centrais.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 22/04/2016

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Contra a hegemonia do dolar: uso de moedas nacionais - o que pensar dessa coisa? Paulo Roberto de Almeida

Alguém aí falou em dispensar o dólar -- uma moeda certamente arrogante, que dispõe de um "privilégio exorbitante", como diria um francês -- e passar a usar moedas nacionais para as mais diferentes transações e investimentos, enfim, como um ativo como outro qualquer?
Ah, parece que foi num recente encontro em algum lugar deste nosso planetinha redondo...
Quando eu ouço certas coisas, vocês me desculpem, mas me dá um comichão, desses que ficam coçando no cérebro, eu eu me pergunto onde foi mesmo que eu ouvi a mesma coisa antes?
Ah, me lembrei: foi aqui mesmo, neste cantinho irrelevante de inteligência, neste quilombo de resistência intelectual contra certas ideias, as ruins e as más, as desajeitas e as feias...
Em 2009, vejam vocês, algum desses gênios da Unicamp deve ter falado novamente em comércio em moedas locais.
Eu logo saquei do meu coldre o meu Moleskine e uma caneta e anotei a sugestão; chegando em casa perpetrei essa peça de desatino que segue abaixo, e que por acaso encontrei hoje, no pré-cambriano deste blog (OK, foi um pouco mais tarde, foi no Ordoviciano, não importa).
Transcrevo novamente agora, sem sequer ler o que escrevi antes. Não devo ter mudado muito de ideias. Os outros é que continuam repetindo bobagens...
Paulo Roberto de Almeida

O grande retrocesso Monetário e cambial:
comércio em moedas locais

Paulo Roberto de Almeida
18.06.2009

Existem coisas que escapam à compreensão de economistas, ou até de pessoas normais.
Refiro-me, por exemplo, à febre ou frenesi em torno do comércio internacional feito em moedas locais, ou seja, dispensando o dólar, que desde a Segunda Guerra Mundial converteu-se no padrão de referência e veículo efetivo da maior parte das transações monetárias, financeiras, cambiais e, sobretudo, comerciais no mundo.
Isso não impede, obviamente, que outras moedas sejam usadas, como é o caso do euro nos países membros da UE e entre esta e uma multiplicidade de parceiros. O iene, a libra e algumas outras moedas também são utilizadas para determinadas transações ou entre número seleto de países.
O dólar não foi imposto a todos os demais países do mundo por alguma medida de força, ou de direito, dos EUA. Trata-se apenas do simples reconhecimento da importância econômica dos EUA, da confiança que os agentes econômicos e os próprios países têm na sua manutenção como instrumento confiável, que responde aos três critérios básicos de uma moeda.


Não custa nada lembrar quais são:
1) unidade de conta
2) instrumento de troca
3) reserva de valor


Ponto. Apenas isso. Claro, toda moeda é antes de mais nada uma questão de confiança: se você acredita que aquele papel pintado possui efetivamente poder de compra, que você poderá utilizá-lo de diferentes formas, para as mais variadas transações, ao longo do tempo, isto é, preservando o seu poder de compra, então você decide, em total liberdade, utilizar aquele papel pintado. Se você não confia, faz qualquer outra coisa, mas se desfaz desse papel pintado que não merece a sua confiança.

Pois bem: o mundo demorou anos, décadas, para construir um sistema multilateral de pagamentos e um regime de trocas que facilite as transações entre os países, com o mínimo de restrições possível. O multilateralismo monetário, por imperfeito que seja -- posto que as autoridades monetárias americanas podem decidir dar um calote no mundo, deixando de honrar seus compromissos externos, com os compradores de títulos do Tesouro, por exemplo -- é o melhor sistema possível, pois permite que a mesma moeda seja usada com os mais diferentes parceiros em todas as transações que eles desejem, sem se amarrar em um instrumento único, como ocorria ainda com o bilateralismo estrito dos anos 1930, baseado em compensações diretas entre os países.

À luz destas reflexões, eu não consigo compreender como se deseja recuar do multilateralismo -- ou seja, da liberdade cambial e monetária -- para o bilateralismo, no qual só poderemos utilizar a moeda de um parceiro com esse mesmo parceiro.
Me desculpem os mais bem informados, mas não consigo encontrar nenhuma explicação racional para esse tremendo equívoco conceitual, para esse imenso retrocesso econômico, para essa servidão voluntária, como já disse um filósofo.

Será que a inteligência econômica está recuando no mundo, ou em determinados países?

Paulo Roberto de Almeida

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Mais uma das invencoes economicas geniais do governo: regressismo patina ate para tras...

Fabuloso: eu já sabia que não ia dar certo (como diria o Harry), desde quando anunciaram a medida mais reacionária dos últimos oitenta anos: sair da multilateralização dos pagamentos externos para a bilateralização, e justamente com um vizinho que é um manipulador cambial contumaz. 
Como é que o Brasil, com seus competentes economistas no Banco Central - mas muitos outros incompetentes na Fazenda -- consegue dar um passo atrás, de mais ou menos 80 anos (para ser gentil), e reverter um sistema tão simples quanto a contabilidade uniforme em dólares, segundo regras já testadas intensamente por dezenas de países e pelo FMI?
Como e por que diabos, o Brasil resolve abandonar o dólar, numa relação comercial altamente instável -- como ocorre com a errática e protecionista Argentina -- e introduzir um sistema de dupla contabilidade, que só obriga o BC a ter custos administrativos acrescidos, ao ter de fazer contabilidades paralelas, em pesos e em reais, para registrar fluxos de comércio que estavam sendo perfeitamente registrados em dólares, inclusive aqueles que são cursados ao abrigo do Convênio de Créditos Recíprocos da Aladi?
Por que diabos um BC tem de ser responsável por garantir riscos cambiais e comerciais de exportadores privados? Onde mais, em quais outros países malucos, os BCs se afastam de suas funções monetárias e cambiais para adentrar em regimes privados de garantias comerciais, assumindo prejuízos para exportadores privados?
Quem é o maluco que mantém a ficção do comércio em moedas locais, quando, no final de cada dia, os valores correspondentes precisam ser referidos ao dólar, para que os Bancos Centrais respectivos liquidem suas posições superávitárias ou deficitárias?
Quem foi o idiota que, por preconceito contra o dólar, ordenou todas essas bobagens?
Quem é o economista maluco que acha que as empresas exportadoras também vão gastar dinheiro à toa -- como faz o governo, mas com o nosso dinheiro -- mantendo duas contabilidades paralelas, uma, normal, a que é feita em dólares há décadas, para todas as finalidades, e uma outra, especialíssima e exclusiva, em reais, ou pior, em pesos, pagando o dobro de contabilistas, para fazer o mesmo trabalho dobrado, e inútil?
Qual é o banco estúpido, que vai montar um sistema paralelo para também lidar com reais voláteis, e pesos, altamente voláteis, quando ele o faz tranquilamente em dólares, sendo que todo o financiamento comercial internacional é mesmo contabilizado em dólar?
Quem foi o idiota que propôs tudo isso, para nada, ou quase nada? 
Deve ter sido o mesmo idiota que queria fazer livre comércio com a China e que também queria comércio em moedas nacionais com a China. INACREDITÁVEL!!! Todo o saldo que conseguiríamos com a China, num sistema maluco como esse, teria de ser revertido em compras obrigatórias no próprio mercado chinês, já que receberíamos em yuan, uma moeda inconvertível (como o real, aliás, e o peso argentino também). Incrível.
Esses economistas geniais do governo deveriam merecer o Darwin Award, se ele existisse para economistas. 
O Brasil avança rapidamente para trás em matéria econômica. Consegue voltar ao tempo das moedas inconversíveis e do intercâmbio equilibrado...
Mais um pouco ele volta ao tempo das diligências e vai passar a usar a Western Union...
Paulo Roberto de Almeida 

Patina o comércio 'sem dólar' entre Brasil e Argentina

O Estado de S. Paulo, 26/12/2011


Sistema que permite trocas comerciais entre países sem utilização de dólar cresceu em 2011, mas ainda é pouco representativo.

O sistema que permite trocas comerciais entre o Brasil e a Argentina sem utilização do dólar cresceu em 2011, mas ainda representa um porcentual pequeno dos negócios entre os dois países. Para especialistas em mercado de câmbio e comércio exterior, esse sistema é pouco atrativo para grandes empresas, mas pode representar redução de custos e burocracia para companhias de pequeno e médio porte, que respondem hoje pela maior parte dos negócios em moedas locais.
Lançado há três anos, o Sistema de Pagamentos em Moeda Local (SML) entre Brasil e Argentina tem como objetivo reduzir a dependência do dólar e servir de base para a criação, no futuro, de uma moeda única para o Mercosul. Os resultados alcançados até agora, no entanto, são pouco relevantes em relação à corrente de comércio entre as duas nações.
As exportações para o país vizinho por esse sistema cresceram 40% entre janeiro e outubro deste ano, de acordo com dados do Banco Central e do Ministério do Desenvolvimento, mas ainda representam somente 1,3% das vendas totais. Do lado das importações, os negócios caíram 20% no mesmo período e continuam com uma participação próxima de zero.
No sistema de moeda local, o exportador brasileiro fecha o negócio em reais com o importador do país vizinho. A empresa argentina deposita o equivalente em pesos em um banco local que opera o sistema.
A instituição financeira registra a operação no banco central argentino, que faz a compensação com a autoridade monetária brasileira. Posteriormente, o exportador recebe em conta corrente o valor correspondente já transformado em reais.
Uma desvantagem neste sistema é que o exportador não tem a possibilidade de deixar o dinheiro depositado fora do País para fazer o pagamento de outras despesas ou trazê-lo em um momento de câmbio mais favorável.
A ausência de um contrato de câmbio, fator que reduz custos e burocracia no SML, é um problema para empresas que precisam desse instrumento para usá-los como lastro para empréstimos em moeda estrangeira.
Para exportadores que não têm acesso a essas linhas de financiamento, não têm depósitos fora do País e têm poder menor de negociação com os bancos, entretanto, o sistema que elimina o dólar pode representar uma alternativa, segundo José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).
“Há uma série de restrições que acabam afastando as grandes companhias. Por isso, a participação majoritária no SML é de pequenas em médias empresas”, diz Castro.
Moeda americana. Outra barreira para o avanço desses negócios é a falta de confiança na moeda do país vizinho. O SML reduz, mas não elimina totalmente o risco cambial, pois há defasagem entre o fechamento do negócio e a realização da transação financeira.
Esse risco está relacionado sempre à variação da moeda do exportador, que serve de referência para a operação. Segundo especialistas consultados, isso explica porque praticamente todas as transações hoje no sistema são de vendas para a Argentina, em que as partes correm o risco de variação do real, e não o contrário.
João Medeiros, diretor da corretora de câmbio Pioneer, avalia que esse sistema só deve se disseminar quando e se o dólar deixar de ser a moeda de referência para os dois países.
Para ele, nem mesmo o fortalecimento do real foi suficiente para impulsionar esse sistema. “Ainda é um negócio muito incipiente. É relativamente pequeno nas exportações brasileiras, e o volume de importações é quase nada. Só teremos crescimento disso quando as moedas forem conversíveis”, ressalta.
Preferência. Mesmo que empresas brasileiras de menor porte queiram utilizar esse sistema para exportar, precisam encontrar importadores argentinos dispostos a correr o risco de variação do real e que prefiram receber pesos, em vez de dólares, o que é pouco provável no momento atual, já que o governo do país vizinho impõe restrições para compra da moeda americana.
Para Medeiros, a preferência das empresas por fechar negócios em dólar reflete o que acontece também com os turistas brasileiros que viajam para a Argentina.
“O brasileiro que leva reais para lá até consegue trocar a moeda. Também pode usar pesos, mas os argentinos querem mesmo é o dólar”, destaca o diretor da corretora.