O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

Mostrando postagens com marcador custos. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador custos. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 25 de junho de 2013

Empada de vento, suco de agua: as propostas fabulosas do novo Brasil (novo?)


Pão com pão, e pão velho
Coluna Carlos Brickmann, 25/06/2013


Dilma Rousseff poderia ter iniciado o controle de gastos públicos pelo corte da reunião com governadores e prefeitos: eles foram a Brasília só para ouvir. Poderiam ter recebido um vídeo por e-mail, seria a mesma coisa. Ou apenas o texto daquilo a que Dilma chamou de "pacto". Que pacto, se ninguém pactuou nada? Pacto é acordo. Não é um novo tipo de PAC, embora também não funcione.

Diria um cínico que há propostas boas e novas, sendo que as boas não são novas e as novas não são boas. Mas estaria errado: as propostas não são nem novas nem boas. A começar pela Constituinte exclusiva para a reforma política. O vice Michel Temer, jurista consagrado, professor de Direito Constitucional, já a considerou inconstitucional (http://www.brickmann.com.br/artigos.php). As demais:

1 - controle de gastos públicos. Seriam reduzidos o número de ministérios, de funcionários contratados sem concurso? Seria abolido o segredo do custo dos cartões corporativos, a redução de comitivas? Dilma não anunciou nada disso.

2 - royalties do petróleo para a Educação. Já combinou com os governadores? Como se gastaria esse dinheiro? Qual o projeto nacional de avanço da Educação?

3 - tipificar a corrupção como crime hediondo. Quem porá o guiso nos mensaleiros? Quem apoia a presença de condenados no Congresso irá prendê-los?
Anunciar bons propósitos é pouco; e fica ainda pior sem combinar primeiro com governadores e prefeitos que pagarão a conta. O pacto é apenas a opinião de Dilma.

É como um sanduíche de pão com pão, sem recheio. Não dá liga.

Os médicos e o PT

Dilma prometeu contratar médicos estrangeiros (já é um avanço: ao menos publicamente, ela considera que cubanos também são estrangeiros) para suprir a falta de profissionais brasileiros. Pois é: o líder do Governo na Câmara, Arlindo Chinaglia, do PT paulista, em 2003 apresentou projeto de lei que proíbe o aumento do número de vagas nas faculdades de Medicina e a criação de novos cursos, sob a justificativa de que a quantidade de médicos no Brasil é superior à recomendada por entidades internacionais.

Que é que Chinaglia vai dizer a Dilma?

===========

Comentário PRA: o deputado Chinaglia certamente estava atendendo, em 2003, a um pedido do sindicato corporativo dos médicos, que queria fechar o mercado e assim poder cobrar mais caro. Sempre a ganância capitalista, protegida pelos companheiros...

domingo, 23 de junho de 2013

A Copa que nao custaria NADA aos cofres publicos: a mais cara de todas as Copas...

A mais cara de todas as Copas

Editorial O Estado de S.Paulo

23 de junho de 2013

A Copa do Mundo de 2014 no Brasil será a mais cara de todas. O secretário executivo do Ministério dos Esportes, Luís Fernandes, anunciou que em julho seu custo total chegará a R$ 28 bilhões, um aumento de 10% em relação ao total calculado em abril, que era de R$ 25,3 bilhões. E supera em R$ 6 bilhões (mais 27%) o que em 2011 se previa que seria gasto.
Por enquanto, já se sabe que o contribuinte brasileiro arcará com o equivalente ao que gastaram japoneses e coreanos em 2002 (R$ 10,1 bilhões) mais o que pagaram os alemães em 2006 (R$ 10,7 bilhões) e africanos do sul em 2010 (R$ 7,3 bilhões).
O "privilégio" cantado em prosa e verso pelo ex-presidente Luiz Inácio da Silva, que se sentou sobre os louros da escolha em 2007, e entoado por sua sucessora, Dilma Rousseff, em cuja gestão se realizará o torneio promovido pela Fifa, custará quatro vezes os gastos dos anfitriões do último certame e três vezes os gastos dos dois anteriores.
O governo federal não justifica - nem teria como - este disparate. Mas, por incrível que pareça, os responsáveis pela gastança encontram um motivo para comemorar: a conta ainda não chegou ao teto anunciado em 2010, que era de R$ 33 bilhões. É provável, contudo, que esse teto seja alcançado, superando o recorde já batido, pois, se os custos cresceram 10% em dois meses, não surpreenderá ninguém que subam mais 18% em 12 meses.
Esta conta salgada é execrada porque dará um desfalque enorme nos cofres da União, que poderiam estar sendo abertos para a construção de escolas, hospitais, estradas, creches e outros equipamentos dos quais o País é carente. Como, aliás, têm lembrado os manifestantes que contestam a decisão oficial de bancar a qualquer custo a realização da Copa das Confederações, do Mundial de 2014 e da Olimpíada no Rio de Janeiro em 2016. E, além dos valores, saltam aos olhos evidências de que tal custo não trará benefícios de igual monta.
É natural que, no afã de justificar o custo proibitivo, o governo exagere nas promessas de uma melhoria das condições de vida de quem banca a extravagância. Segundo Fernandes, responsável pela parte que cabe ao governo na organização do torneio, "a Copa alavanca investimentos em saúde, educação, meio ambiente e outros setores". E mais: "Ou aproveitamos esse (sic) momento para o desenvolvimento do País ou perdemos essa (sic) oportunidade histórica".
A Nação aguarda, com muita ansiedade, que o governo, do qual participa o secretário executivo do Ministério dos Esportes, venha a público esclarecer quantos hospitais, escolas ou presídios têm sido construídos e que equipamentos têm sido adquiridos para melhorar nossos péssimos serviços públicos com recursos aportados por torneios esportivos que nos custam os olhos da cara.
Não é preciso ir longe para contestar esta falácia da "Copa cidadã": o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) previu um "legado inestimável" que ficaria da realização dos Jogos Pan-americanos de 2007 na mesma cidade onde será disputada a Olimpíada de 2016. O tal "legado" virou entulho: os equipamentos construídos para aquele fim estão sendo demolidos e reconstruídos e, enquanto não ficam prontos, os atletas simplesmente não têm onde se preparar para disputar os Jogos Olímpicos daqui a três anos.
A manutenção do estádio Green Point, na Cidade do Cabo, que custou R$ 600 milhões (menos da metade dos gastos na reforma do Maracanã, no Rio, e do Mané Garrincha, em Brasília) para ser usado na Copa da África do Sul, demanda, por ano, R$ 10,5 milhões em manutenção, o que levou a prefeitura local a cogitar de sua demolição. Por que os estádios de Manaus, Cuiabá e Natal terão destino diferente depois da Copa?
A matemática revela que o maior beneficiário da Copa de 2014 será mesmo a Fifa, e não o cidadão brasileiro, que paga a conta bilionária. Prevê-se que o lucro da entidade será de R$ 4 bilhões, o dobro do que arrecadou na Alemanha e o triplo do que lucrou na África do Sul. O resto é lorota para enganar ingênuos e fazer boi dormir.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Salvando os bancos e enterrando a economia (americana, por enquanto...)

Conclusões devastadoras do economista John Taylor, autor da famosa "Taylor Rule" -- procurem saber o que é isso, no Google, vocês vão gostar -- e ex-Secretário de Assuntos Internacionais do Tesouro dos EUA, em seu depoimento ao Congresso (Senate Committee on Banking...), em 17 de março, sobre os resultados decepcionantes, e até profundamente negativos, do TARP, ou seja, o programa oficial do Tesouro para salvar os grandes bancos (considerados "too big to fail"), na sequência da crise financeira de 2008-2009.
Transcrevo apenas partes de seu depoimento (que pode ser lido na íntegra aqui):

(...)
Recall that the original idea of TARP, upon which the TARP was sold, was to relieve certain financial institutions of their troubled assets by buying the assets from the institutions. Few understood how this idea would work—how the price would be determined for example—which added to the uncertainty. This original idea was changed after the TARP was enacted and the government announced that it would simply inject capital into the banks.
(...)
It should also be noted that many of those economists who view the TARP as having a beneficial effect argue that there were much better alternatives that could have avoided the financial panic and would have been far less costly with fewer long-term side effects.
(...)
In my view the TARP was not effective in stabilizing the financial system, especially if one takes into account the panic caused by its chaotic rollout and the fact that other actions could have been taken. Indeed other actions were taken, including the Fed’s support for the commercial paper market and money market mutual funds, and I believe these were effective in mitigating the panic, which evidence shows was in part caused by the TARP.
(...)
Legacy Costs
Although disagreement remains about whether TARP was destabilizing or stabilizing in the short run, there is very little disagreement about the longer-run legacy costs which are substantial, long-lasting, and already being felt.
In January [2011] the Special Investigator General of the TARP listed these costs:9
- “damage to Government credibility that has plagued the program,”
- “failure of programs designed to help Main Street rather than Wall Street,”
- “moral hazard and potentially disastrous consequences associated with the continued
existence of financial institutions that are ‘too big to fail’”
(...)
And just yesterday [March 16, 2011] the Congressional Oversight Panel released its final report listing these additional effects of TARP:
- “continuing distortions in the market”
- “public anger toward policymakers,”
- “a lack of full transparency and accountability.”
To these I would add that the TARP established an unfortunate precedent of heavy government intervention in the operations of private businesses along with the use of a great deal of power.
(...)
Most of these legacy costs will be a drag on the U.S. financial system and economy for years to come unless the precedents are reversed, perhaps through legislation. Some argue that the costs of TARP are small because estimates show that the government will lose less money than budget experts originally thought. But government programs can cause much harm to the economy and to people even if they raise revenue. For example, inflation is enormously costly to society even though it is a source of revenue to the government.
Conclusion
In sum, in my view there is no convincing evidence to support the view that the TARP had a stabilizing effect on the financial markets or the U.S. economy. On the contrary there is evidence that the chaotic rollout of the TARP exacerbated the crisis. Even if one can find some stabilizing effects, it is clear that other actions could have been taken that did not have these rollout costs. Finally, there is a considerable consensus among economists that the legacy costs of TARP are large, especially the perpetuation and amplification of the destabilizing “too big to fail” problem in our financial system caused by the expectations of more bailouts in the future.
===========

Aos que desejarem ler mais sobre John Taylor e seus trabalhos acadêmicos, recomendo uma visita ao seu blog: http://johnbtaylorsblog.blogspot.com/

Não é preciso lembrar que o governo brasileiro pratica TARPs a torto e a direito, entregando dinheiro alegremente a quem já é rico -- Eike Batista acaba de levar 800 milhões do BNDES --, concedendo mais de 250 bilhões ao BNDES para este entregar aos industriais amigos a 6% e outras benesses do gênero.
Nós somos os salvadores contumazes do capitalismo tupiniquim, com TARP ou sem TARP...