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quarta-feira, 15 de novembro de 2023

Diabetes: informação do Instituto Sabin

 O diabetes é uma doença que pode trazer sérias consequências para a saúde do organismo, se não tratada corretamente. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o número global de pessoas com diabetes quadruplicou nos últimos 40 anos, aumentando também o risco de morte precoce devido às consequências da doença.

No Brasil, estima-se que em torno de 17 milhões de brasileiros sofram com diabetes. No entanto, uma grande parcela dessas pessoas não é diagnosticada, pois o diabetes é uma doença silenciosa e que se desenvolve ao longo dos anos.

Dessa forma, é fundamental conscientizar a população acerca dos riscos da doença e incentivar o diagnóstico precoce e sua prevenção. Neste conteúdo, você encontrará informações relevantes sobre os tipos de diabetes, suas causas, sintomas, diagnóstico e como realizar a prevenção.

O QUE É O DIABETES?

O diabetes é uma doença metabólica crônica caracterizada por níveis elevados de glicose no sangue (glicemia), levando, com o passar do tempo, a sérios danos em órgãos como rins, coração, vasos sanguíneos e olhos.

O controle da glicemia é realizado, em parte, por um importante hormônio chamado insulina, produzido por células especializadas no pâncreas. Dentre suas funções, a insulina atua ajudando no transporte da glicose presente no sangue para dentro das células, a qual será utilizada para produção de energia.

Após uma refeição, os níveis de glicose (açúcar) aumentam consideravelmente. Para regular os níveis, mais insulina é produzida e liberada pelo pâncreas, ocasionando uma diminuição da quantidade de glicose no sangue. Em pessoas com diabetes, esse processo é prejudicado devido a falhas na produção ou na ação da insulina, o que gera um aumento da glicemia.

QUAIS OS TIPOS?

Existem basicamente dois tipos de diabetes (tipos 1 e 2), que diferenciam-se principalmente quanto à origem da doença. A seguir, apresentaremos cada um deles e suas principais características.

DIABETES TIPO 1

O diabetes do tipo 1 é uma doença autoimunecrônica caracterizada pelo aumento dos níveis de glicose no sangue, motivado pela deficiência na produção de insulina por células do pâncreas.

Nesse tipo de diabetes, as células são destruídas por uma reação do sistema imune, que as reconhece como algo nocivo ao organismo e, portanto, as ataca. Como resultado, o pâncreas da pessoa passa a não produzir mais a insulina ou produz muito pouco, sendo incapaz de controlar a glicemia.

O diabetes do tipo 1 é uma doença que ocorre já na infância, causando consequências para o resto da vida, especialmente pela necessidade de uso de injeções de insulina para controle da glicemia.

DIABETES TIPO 2

No diabetes do tipo 2, embora o pâncreas continue produzindo insulina, o corpo acaba desenvolvendo resistência à sua ação. Assim, a insulina existente não é suficiente para atender as necessidades do organismo e controlar a glicemia, resultando em aumento dos níveis de glicose no sangue (hiperglicemia).

Conforme o diabetes avança, pode ocorrer também diminuição da capacidade de produção de insulina pelo pâncreas, agravando ainda mais o quadro. Esse é o tipo mais comum de diabetes e acomete, em sua maioria, adultos, principalmente obesos. Contudo, cresce, cada vez mais, o número de jovens diagnosticados com diabetes do tipo 2, em virtude do sedentarismo aliado a hábitos alimentares não saudáveis.

PRÉ-DIABETES 

O pré-diabetes é um termo utilizado quando o paciente apresenta níveis de glicose acima dos parâmetros considerados normais, mas ainda sem caracterizar um quadro de diabetes do tipo 2.

Ter pré-diabetes representa um risco mais elevado para desenvolvimento do diabetes do tipo 2, principalmente em pessoas obesas e hipertensas. Por outro lado, identificar o problema ainda nesse estágio representa uma boa oportunidade de reversão do quadro clínico, além de retardar a evolução da doença e suas complicações.

DIABETES GESTACIONAL

gravidez é um período marcado por muitas mudanças corporais e hormonais na mulher com o intuito de possibilitar o desenvolvimento do bebê. Todas essas flutuações hormonais podem atrapalhar a ação da insulina, forçando o pâncreas a aumentar a produção desse hormônio.

Ocorre que em algumas mulheres não há uma compensação adequada e a insulina produzida torna-se insuficiente para regular a glicemia. Dessa forma, surge o quadro chamado diabetes gestacional, caracterizado pelo aumento das concentrações de glicose durante a gestação.

Mulheres que apresentam diabetes gestacional possuem maiores chances de desenvolver diabetes do tipo 2 tardiamente. Além disso, a elevação dos níveis de glicose na mãe pode trazer consequências para a saúde do bebê.

QUAIS AS CAUSAS DO DIABETES?

O diabetes, de modo geral, é uma doença que pode ser desencadeada por um conjunto de fatores genéticos e ambientais. Além disso, as causas variam também de acordo com o tipo da doença.

No diabetes do tipo 1, a reação autoimune de destruição das células produtoras de insulina pode ocorrer em indivíduos geneticamente suscetíveis. Ou seja, variações genéticas, especialmente em células de defesa, ajudam a desencadear o processo autoimune característico da doença.

Apesar da influência genética, no diabetes do tipo 1, a hereditariedade parece não ser um fator decisivo. Mesmo que haja histórico familiar, as chances da criança desenvolver diabetes são relativamente baixas. 

Fatores ambientais também podem contribuir, como infecções virais no início da infância e eventos e infecções gestacionais. Entretanto, a ciência ainda busca compreender completamente quais seriam os fatores decisivos para o desenvolvimento do diabetes do tipo 1.

Já o diabetes do tipo 2 é uma doença fortementeassociada à genética e hereditariedade. As chances podem aumentar de duas a três vezes, se houver histórico familiar da doença.

A presença de comorbidades, como a obesidade, também são fatores decisivos. A obesidade e a inatividade física podem levar à resistência à insulina, que, em conjunto com uma predisposição genética, acaba levando a falhas na produção e liberação de insulina. Outros fatores incluem envelhecimento, tabagismo e doenças como a hipertensão arterial.

QUAIS OS SINTOMAS DA DOENÇA?

Os sintomas mais comuns do diabetes estão diretamente relacionados com o aumento da glicose sanguínea e incluem: sede e fome excessiva, cansaço, vontade de urinar com frequência, mau hálito e perda de peso sem motivo aparente

Em geral, essa sintomatologia é mais acentuada no diabetes do tipo 1. No diabetes do tipo 2, que possui evolução mais lenta, os sinais e sintomas costumam demorar anos para aparecer, sendo o diagnóstico precoce um dos principais desafios no seu combate.

Caso não haja o tratamento adequado, a hiperglicemia decorrente da doença pode provocar lesões em vários tecidos e órgãos do corpo, como olhos, rins e coração. Outras complicações podem surgir, como distúrbios da coagulação e cicatrização de lesões e feridas, cegueira, acidente vascular cerebral, doenças cardíacas e problemas em nervos.

A hiperglicemia descontrolada pode levar, ainda, a quadros de coma e convulsões, chegando a ser fatal em alguns casos.

DIABETES INFANTIL

O diabetes mais prevalente em crianças é o tipo 1. O tipo 2 é considerado mais raro na infância, estando geralmente associado a adolescentes obesos. É importante que os pais estejam atentos aos sinais e sintomas mencionados, principalmente fome e sede em excesso, além da perda de peso.

Outro ponto de destaque é que algumas crianças com diabetes do tipo 1 apresentam uma condição conhecida como cetoacidose diabética. Como a insulina não está sendo produzida pelo pâncreas, as células do corpo não recebem glicose como fonte de energia, sendo necessária a mobilização e utilização dos estoques de gordura do corpo para esse fim.

No entanto, a utilização dessa gordura produz substâncias ácidas chamadas corpos cetônicos, que se acumulam no sangue e, em excesso, podem alterar o pH sanguíneo. Essa condição pode evoluir para um quadro clínico grave, podendo resultar em coma ou, até mesmo, levar a criança a óbito, se não houver assistência médica emergencial. 

A cetoacidose costuma surgir quando a glicemia encontra-se muito descontrolada. Seus sinais e sintomas mais comuns são náuseas, vômitos, confusão mental e mau hálito provocado pelo excesso de corpos cetônicos.

COMO É REALIZADO O DIAGNÓSTICO?

O diagnóstico do diabetes é feito por meio de avaliação clínica pelo médico especialista, em que são avaliados os sinais e sintomas apresentados, exame físico e histórico do paciente. Além disso, são necessários exames complementares para verificação dos níveis de glicose sanguínea.

Um dos principais exames laboratoriais utilizados é o exame de glicemia de jejum. Nesse exame, a glicemia é dosada através de uma amostra de sangue coletada pela manhã, e énecessário que o paciente fique sem se alimentar por, no mínimo, oito horas, uma vez que a alimentação interfere no resultado.

Outro exame bastante solicitado é a dosagem de hemoglobina glicada. A hemoglobina glicada é um importante exame laboratorial de avaliação do diabetes, pois representa um parâmetro muito fidedigno para avaliar o controle da glicemia em longo prazo.

Pode ser solicitado, ainda, o teste oral de tolerância à glicose. Esse exame é realizado inicialmente com a pessoa em jejum, coletando-se uma amostra de sangue para determinar a glicemia de jejum. Em seguida, a pessoa bebe um líquido que contém uma grande quantidade de glicose, e, posteriormente, são coletadas amostras de sangue em tempos pré-definidos. Assim, é possível verificar se o controle da glicemia do paciente está adequado frente a uma sobrecarga de glicose.

É importante destacar que a interpretação desses exames deve ser feita pelo profissional médico, que irá definir o diagnóstico final da doença com base nos resultados dos exames e em outros parâmetros clínicos.

COMO É O TRATAMENTO DO DIABETES?

O tratamento do diabetes varia de acordo com a gravidade e o tipo da doença. Em pessoas acometidas pelo diabetes do tipo 1, o tratamento inclui a utilização de injeções de insulina. Como o pâncreas da pessoa não produz mais o hormônio, é necessário realizar essa reposição por meio de injeções subcutâneas.

É importante destacar que esse tipo de tratamento acompanha o paciente para o resto da vida. Embora o diabetes do tipo 1 não tenha cura, pode ser controlado. Além disso, o paciente deve realizar um controle rígido da alimentação e contagem de carboidratos para adequar a quantidade de insulina suficiente para normalizar os níveis glicêmicos.

Em pacientes diagnosticados com diabetes do tipo 2, a depender da gravidade do quadro clínico, o tratamento inclui a utilização de medicamentos para controle glicêmico e readequação alimentar. Em casos mais graves, também pode ser necessária a utilização de insulina pelo paciente.

O acompanhamento dos níveis de glicose deve ser constante, com medições diárias e consultas médicas de rotina. Dessa maneira, é possível monitorar o controle da glicemia e realizar ajustes na medicação, quando necessário. Sem falar que, com o acompanhamento médico, é possível identificar precocemente outros problemas de saúde decorrentes da doença. A prática de exercícios físicos também é uma forte aliada para o controle glicêmico, sendo recomendada para pacientes diabéticos.

EXISTE PREVENÇÃO PARA O DIABETES?

A prevenção do diabetes está fortemente ligada ao cultivo de hábitos saudáveis de vida, especialmente aqueles relacionados à alimentação e à prática de exercícios físicos.

É muito importante adotar hábitos alimentaresque incluam alimentos naturais, fugindo dos ultraprocessados. O consumo excessivo de alimentos ricos em carboidratos e açúcares contribui para o desenvolvimento do diabetes.

É fato que a obesidade e o sedentarismo são dois dos principais fatores relacionados com o diabetes do tipo 2. Portanto, procure manter o peso corporal dentro de parâmetros saudáveis e esteja ativo fisicamente.

Outra recomendação é manter as consultas médicas e exames de rotina em dia. Só assim é possível identificar precocemente um possível quadro de pré-diabetes, por exemplo, no qual uma simples reeducação alimentar e atividades físicas podem ser suficientes para readequar a sua saúde.

Lembre-se: o diagnóstico precoce continua sendo a melhor maneira de prevenção. Por isso, sugerimos a leitura do nosso conteúdo sobre Como cuidar da saúde de jovens adolescentes, que orienta os pais sobre os impactos fisiológicos e psicológicos durante a fase de transição entre infância, adolescência e juventude de seus filhos.

REFERÊNCIAS:

DeFronzo, R., Ferrannini, E., Groop, L. et al. Type 2 diabetes mellitus. Nat Rev Dis Primers 1, 15019 (2015). https://doi.org/10.1038/nrdp.2015.19

Katsarou, A., Gudbjörnsdottir, S., Rawshani, A. et al. Type 1 diabetes mellitus. Nat Rev Dis Primers 3, 17016 (2017). https://doi.org/10.1038/nrdp.2017.16

WHO. Diabetes. Disponível em: https://www.who.int/health-topics/diabetes#tab=tab_3 Acesso em: 02/11/2022.

Sociedade Brasileira de Diabetes. Diabetes. Disponível em: https://diabetes.org.br/ Acesso em: 02/11/2022


terça-feira, 26 de maio de 2020

Covid-19 mais grave para diabéticos - Grupo de pesquisadores brasileiros (Fapesp)


Pesquisadores desvendam mecanismo que torna COVID-19 mais grave em diabéticosMaior nível de glicose no sangue é captado por células de defesa e serve como fonte de energia que permite ao vírus se replicar mais, desencadeando resposta imunológica que mata células pulmonares e desregula sistema imune (imagem: Wikimedia Commons)

Pesquisadores desvendam mecanismo que torna COVID-19 mais grave em diabéticos

25 de maio de 2020

André Julião | Agência FAPESP – Um grupo brasileiro de pesquisadores desvendou uma das causas da maior gravidade da COVID-19 em pacientes diabéticos. Como mostraram os experimentos feitos em laboratório, o teor mais alto de glicose no sangue é captado por um tipo de célula de defesa conhecido como monócito e serve como uma fonte de energia extra, que permite ao novo coronavírus se replicar mais do que em um organismo saudável. Em resposta à crescente carga viral, os monócitos passam a liberar uma grande quantidade de citocinas [proteínas com ação inflamatória], que causam uma série de efeitos, como a morte de células pulmonares.
O estudo, apoiado pela FAPESP, é liderado por Pedro Moraes-Vieira, professor do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (IB-Unicamp), e por pesquisadores que integram a força-tarefa contra a COVID-19 da universidade, coordenada por Marcelo Mori, também professor do IB-Unicamp e coautor do trabalho.
O artigo encontra-se em revisão na Cell Metabolism, mas já está disponível em versão preprint, ainda não revisada por pares.
“O trabalho mostra uma relação causal entre níveis aumentados de glicose com o que tem sido visto na clínica: maior gravidade da COVID-19 em pacientes com diabetes”, diz Moraes-Vieira, pesquisador do Experimental Medicine Research Cluster (EMRC) e do Centro de Pesquisa em Obesidade e Comorbidades (OCRC), um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) apoiado pela FAPESP, com sede na Unicamp.
Por meio de ferramentas de bioinformática, os pesquisadores analisaram inicialmente dados públicos de células pulmonares de pacientes com quadros médios e severos de COVID-19. Foi observada uma superexpressão de genes envolvidos na chamada via de sinalização de interferon alfa e beta, que está ligada à resposta antiviral.
Os pesquisadores observaram ainda no pulmão de pacientes graves com COVID-19 uma grande quantidade de monócitos e macrófagos, duas células de defesa e de controle da homeostase do organismo.
Monócitos e macrófagos eram as células mais abundantes nas amostras e as análises mostraram que a chamada via glicolítica, que metaboliza a glicose, estava bastante aumentada.
As análises por bioinformática foram realizadas pelos pesquisadores Helder Nakaya, professor da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (FCF-USP), e Robson Carvalho, professor do Instituto de Biociências de Botucatu da Universidade Estadual Paulista (IBB-Unesp).
Glicose e vírus
O grupo da Unicamp realizou, então, uma série de ensaios com monócitos infectados com o novo coronavírus, em que eles eram cultivados em diferentes concentrações de glicose. Os experimentos foram feitos no Laboratório de Estudos de Vírus Emergentes (Leve), que tem nível 3 de biossegurança – um dos mais altos –, e é coordenados por José Luiz Proença Módena, professor do IB-Unicamp apoiado pela FAPESP e coautor do trabalho.
“Quanto maior a concentração de glicose no monócito, mais o vírus se replicava e mais as células de defesa produziam moléculas como as interleucinas 6 [IL-6] e 1 beta [IL-1β)] e o fator de necrose tumoral alfa, que estão associadas ao fenômeno conhecido como tempestade de citocinas, em que não só o pulmão, como todo o organismo, é exposto a essa resposta imunológica descontrolada, desencadeando várias alterações sistêmicas observadas em pacientes graves e que pode levar à morte”, diz Moraes-Vieira.
Os pesquisadores usaram então, nas células infectadas, uma droga conhecida como 2-DG, utilizada para inibir o fluxo de glicose. Eles observaram que o tratamento bloqueou completamente a replicação do vírus, assim como o aumento da expressão das citocinas observadas anteriormente e da proteína ACE-2, aquela pela qual o coronavírus invade as células humanas.
Além disso, usaram uma droga que está sendo testada em pacientes com alguns tipos de câncer. Assim como alguns análogos, a 3-PO inibe a ação de um gene envolvido no aumento do fluxo de glicose nas células. O resultado da sua aplicação foi o mesmo da 2-DG: menos replicação viral e menos expressão de citocinas inflamatórias.
Os resultados que indicaram maior atividade da via glicolítica frente à infecção foram obtidos por meio de análises proteômicas dos monócitos infectados, realizadas em colaboração com Daniel Martins-de-Souza, professor do IB-Unicamp apoiado pela FAPESP.
Por fim, as análises mostraram que o mecanismo era mediado pelo fator induzido por hipóxia 1 alfa. Como é estudada em diversas doenças, é sabido que essa via é mantida estável, em parte pela a presença de espécies reativas de oxigênio na mitocôndria, a usina de energia das células.
Os pesquisadores usaram então antioxidantes nas células infectadas e viram que a hipóxia 1 alfa  diminuía a sua atividade e, assim, deixava de influenciar o metabolismo da glicose. Como consequência, fazia com que o vírus parasse de se replicar nos monócitos, as células de defesa infectadas, que não mais produziam citocinas tóxicas para o organismo.
“Quando intervimos no monócito com antioxidantes ou com drogas que inibem o metabolismo da glicose, nós revertemos a replicação do vírus e também a disfunção em outras células de defesa, os linfócitos T. Com isso, evitamos ainda morte das células pulmonares”, diz Moraes-Vieira.
Os estudos com linfócitos T e a análise da expressão de hipóxia 1 alfa em pacientes foram realizados em colaboração com Alessandro Farias, professor do IB-Unicamp e coautor do trabalho.
Como as drogas usadas nos experimentos com células estão atualmente em testes clínicos para alguns tipos de câncer, poderiam futuramente ser testadas em pacientes com COVID-19.
O trabalho tem como primeiros autores Ana Campos Codobolsista de mestrado da FAPESP; Gustavo Gastão Davanzo, que tem bolsa de doutorado da FAPESP e Lauar de Brito Monteiro, também bolsista de doutorado, todos no IB-Unicamp sob orientação de Moraes-Vieira.
“Esse trabalho só foi possível devido às colaborações, ao empenho dos alunos de pós-graduação, que tem trabalhado noite e dia nesse projeto, e ao financiamento rápido do FAEPEX [Fundo de Apoio ao Ensino, à Pesquisa e à Extensão] da Unicamp e da FAPESP”, diz Moraes-Vieira.
O artigo Elevated glucose levels favor SARS-CoV-2 infection and monocyte response through a HIF-1α/glycolysis dependent axis pode ser lido em: https://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=3606770.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Com acucar, sem afeto...: o avanco do diabetes pelo mundo afora

Provavelmente os mais açucólatras do mundo são os habitantes da Micronésia, numa das raras demonstrações de suicídio coletivo que possa existir...

Charts, maps and infographics
Daily chart - Diabetes
Sugar rush

The Economist, June 27th 2011
The progress of a disease over thirty years

THE number of adults with diabetes more than doubled between 1980 and 2008, according to a new study led by Professor Majid Ezzati of Imperial College London and Goodarz Danaei at Harvard University and published in the Lancet. This jump is not quite as horrific as the numbers might initially suggest, because ageing helped push up rates. But a good 30% of the increase was caused by higher prevalence of diabetes across age groups. Obesity seems to be a main culprit; the authors found a high correlation between rising rates of diabetes and a rise in body mass index. The global leap masks considerable variation between the sexes and among regions. Across the world the rate of diabetes rose by 18% for men and by 23% for women, to 9.8% and 9.2% respectively. In some countries the gap between the sexes was more dramatic. In Pakistan, for example, rates jumped by 46% for men and by 102% for women. The highest incidence of all is found in the Marshall Islands, where more than a quarter of all adults had diabetes in 2008. America has lived up to its hefty reputation. Women’s rate of diabetes jumped 79%, something that has contributed to a decline in life expectancy among some groups. And once again, French women are the envy of the world. Rates there fell by 11.2%.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Diabetes: melhor prevenir do que remediar (Servico de utilidade publica)

Uma matéria interessante, e aparentemente fiável (ou seja, responsável) sobre uma enfermidade que pode atingir a todos e a cada um, sobretudo pessoas que se movimentam pouco (como eu), que têm tendência a comer demais (idem) e que se esquecem de medir seus teores ou fazer exames apropriados.
Vai postado como informação geral, de utilidade pública
Paulo Roberto de Almeida

SAÚDE
Prevenção é ainda a melhor arma contra o diabetes
Por Camilla Muniz
Opinião e Notícia, 6/02/2011

Avanços no tratamento permitem aos diabéticos levar uma vida normal, mas ainda não trouxeram cura para a doença.

Caracterizada pelo acúmulo de glicose no sangue, o diabetes é hoje uma doença que já atingiu o status de epidemia. Segundo estimativas da Federação Internacional de Diabetes, 285 milhões de pessoas em todo o mundo são diabéticas. Dentro de 20 anos, esse número deve aumentar para 438 milhões, já que mais de 7 milhões de novos casos da doença surgem a cada ano.

No Brasil, a tendência de avanço é a mesma, e embora não haja cura para o diabetes, o controle da doença, quando bem feito, permite que o diabético leve uma vida praticamente normal. A favor dos pacientes está a atualização constante dos tratamentos disponíveis, garante o endocrinologista Saulo Cavalcanti, presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes e do Departamento de Diabetes da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia.

Segundo o médico, a introdução das gliptinas na terapêutica do diabetes tipo 2, há cerca de três anos, foi muito benéfica, contribuindo até para a redução dos riscos do paciente desenvolver hipoglicemia (baixo nível de glicose no sangue). Essa possibilidade existe porque as drogas que ajudam a controlar a quantidade de açúcar na corrente sanguínea do diabético atuam continuamente, mesmo quando não é necessário.

As gliptinas são uma classe de medicamentos orais que inibem a ação da enzima DPP-4, que destrói o hormônio incretina. Produzida pelo intestino, a incretina potencializa a produção de insulina pelo pâncreas. Dessa forma, as gliptinas melhoram a síntese e a liberação de insulina e ainda reduzem a produção de glicose pelo fígado.

Para os pacientes com diabetes do tipo 1, as insulinas de ação prolongada foram um ganho significativo. Surgidas há aproximadamente oito anos, elas são feitas através de técnicas de recombinação genética e podem diminuir a quantidade de aplicações diárias do hormônio. “Além disso, os aparelhos medidores de glicose ficaram mais modernos e as agulhas, mais finas, o que reduz a dor na hora da aplicação”, explica Cavalcanti.

Inovações são bem-vindas, mas é preciso cautela
Os médicos agora esperam o lançamento comercial de um medicamento que promete ajudar os diabéticos a excretarem glicose pela urina, facilitando a eliminação do excesso de açúcar da corrente sanguínea. Segundo Saulo Cavalcanti, a droga se mostrou eficaz em testes e deve estar disponível dentro de um ano. No entanto, é preciso ter cautela com essas novidades.

“Quando surge uma nova droga, é como se aparecesse uma nova luz no fim do túnel para o diabético. Mas é preciso ter calma, porque os medicamentos se revelam mais ou menos vantajosos aos poucos, à medida que vão sendo usados pelos próprios pacientes”, destaca o endocrinologista.

Já o transplante de células-beta (células do pâncreas responsáveis pela produção de insulina) e as pesquisas com células-tronco, que ajudariam muito os diabéticos do tipo 1, ainda representam apenas uma esperança. Para Cavalcanti, iniciativas e estudos têm de ser estimulados; no entanto, não podem ser considerados como uma real opção neste momento.

O que já está sendo realizado, mas somente em casos especiais aprovados por comitês de ética e em caráter experimental, é a cirurgia metabólica. No procedimento, é feita a transposição de uma parte do intestino delgado chamada íleo, o que proporciona o aumento da produção das incretinas — substâncias reduzidas no organismo dos diabéticos — e, consequentemente, de insulina.

Evite o diabetes
Como não há cura para o diabetes, pelo menos por enquanto, a prevenção ainda é o melhor remédio, sobretudo porque o tipo 2 (quando o organismo apresenta resistência à insulina, o que impede as células de metabolizarem quantidades suficientes de glicose) é o mais comum e representa 90-92% dos casos.

Enquanto o tipo 2 pode e deve ser prevenido, o diabetes tipo 1 (doença auto-imune caracterizada pela destruição das células-beta) é desencadeado por fatores genéticos — não há prevenção, portanto — e atinge de 8% a 10% dos pacientes.

Segundo Saulo Cavalcanti, a melhor forma de prevenir o diabetes tipo 2 é seguir uma educação alimentar e esportiva, já que a doença tem origem, muitas vezes, na obesidade. O endocrinologista salienta que, hoje, é preocupante que 52% dos brasileiros estejam com excesso de peso.

Além disso, aqueles que pertencem ao grupo de risco — pessoas com hipertensão, colesterol alto, triglicérides elevado, obesidade ou algum caso de diabetes na família — devem fazer o teste de medição de glicemia frequentemente. “Cerca de 40% a 50% dos diabéticos do tipo 2 não sabem que tem a doença, que pode ficar até dez anos sem manifestar sintomas”, afirma Cavalcanti. “Por isso é tão importante ter o controle dos níveis de açúcar no sangue, porque, às vezes, o diabetes é descoberto em um estágio já muito avançado, o que contribui para o desenvolvimento de complicações como perda da visão, disfunção erétil e infarto.”

De acordo com um ranking divulgado pela Federação Internacional de Diabetes em 2004, o Brasil ocupava a oitava posição entre os países com maior número de pacientes diabéticos. Em 1988, o Censo Nacional de Diabetes revelou que 7,6% da população urbana entre 30 e 69 anos sofria da doença.