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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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segunda-feira, 26 de abril de 2021

Pensamentos do chanceler acidental - Paulo Roberto de Almeida, Metropoles

 Pensamentos do chanceler acidental

Paulo Roberto de Almeida

Antigamente, no tempo em que os animais falavam, havia o famoso livrinho vermelho dos “Pensamentos do Presidente Mao”, a bíblia dos jovens estudantes que estavam à frente da Revolução Cultural que o tirano chinês promoveu para se defender das acusações de seus adversários no PCC de que havia provocado a morte de 40 milhões de concidadãos com seu plano demencial do Grande Salto Para a Frente (1959-62).

Mao conseguiu matar mais 4 milhões de chineses (inclusive membros do partido) e destruir as universidades chinesas, superando largamente Stalin e Hitler (juntos) na sua sanha genocida.

Esqueçam tudo isso: depois, sob Deng Xiaoping, o PCC se transformou na maior máquina de construção do capitalismo num só país de toda a história econômica mundial, e conseguiu triunfalmente.

Agora, um poder mais alto se alevanta: o “Pensamento do Camarada Ernesto”, o patético chanceler acidental que conseguiu DESTRUIR uma das mais cultas instituições do Estado brasileiro, o Itamaraty, que afundou na lama o prestígio da diplomacia profissional brasileira, que rebaixou a níveis inimagináveis a imagem do Brasil no mundo e que ainda insiste em propagar a mediocridade sumamente ridícula de seu “pensamento” (sic três vezes), fazendo sua escolinha da pataquadas — no que ele transformou a Funag — publicar suas pérolas demenciais em referência de leitura para os diplomatas.

Mas isso ele vinha costurando desde o final de 2020, da mesma forma como já tinha feito uma coleção das bobagens que proclamou ao longo de 2019 no início do ano seguinte.

Nunca, em nenhum tempo na história do Itamaraty e da Funag, se tinha empenhado o tempo e o esforço de funcionários das duas instituições no esforço rigorosamente inútil de coletar tantas bobagens por centimetro quadrado, para tentar imitar a demência do presidente Mao. 

Nunca antes na história deste país, a loucura de um diplomata desequilibrado conseguiu ser difundida sob o abrigo, não de um, mas de dois ISBNs, que são os códigos sob os quais se catalogam os livros, esses discretos objetos de propagação de pensamentos úteis ao progresso da Humanidade.

Ainda falta mais uma contribuição da Funag para a difusão da mais demencial obra de confusão mental que um chanceler destrambelhado conseguiu imprimir ao já constrangido Itamaraty: coletar e publicar mais três meses (janeiro a março de 2021) do “pensamento” do camarada Ernesto, sem esquecer a culminação dessa loucura, que foi o seu mentiroso “balanço de gestão”, que eu estraçalhei numa avaliação que fiz e tornei disponível aos curiosos (neste link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2021/04/mentiras-falcatruas-e-falacias-do-ex.html?m=1).

O infeliz, patético e destruidor ex-chanceler acidental não se peja de se expor ao ridículo e de arrastar em sua demência precoce uma instituição tão respeitável quanto o Itamaraty. Mas não passa pelo meu crivo de resenhista implacável.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 26/04/2021


Itamaraty publica livro com o pensamento de Ernesto Araújo

Volume disponível para download gratuito traz discursos, entrevistas e artigos do ex-chanceler ao longo de 2020

Raphael Veleda

Metropoles, 25/04/2021 20:27

Demitido do cargo de ministro das Relações Exteriores há quase um mês, no dia 29 de março, o diplomata Ernesto Araújo está divulgando um livro que o Itamaraty publicou. Na obra “Política externa: soberania, democracia e liberdade”, figuram discursos, textos e entrevistas concedidas pelo então ministro ao longo de 2020.

Segundo a apresentação, trata-se de “fonte primária fundamental para todos os que se interessem por conhecer e estudar a nova política externa brasileira, baseada nos eixos da democracia; da transformação econômica e do desenvolvimento; da soberania; e dos valores da nação brasileira, eixos conjugados pelo conceito de liberdade”.

Entre os registros no livro está uma entrevista ao canal Terça Livre, do influenciador bolsonarista Allan dos Santos, investigado pelo Supremo Tribunal Federal no inquérito dos atos antidemocráticos e no das fake news, ambos sob a relatoria do ministro Alexandre de Morais.

Nessa entrevista, em fevereiro de 2020, Ernesto falou sobre “tecno-totalitarismo”, “democracias pós-nacionais” e “aliança liberal conservadora”, além de atacar o globalismo ao estilo de seu guru intelectual, o escritor Olavo de Carvalho.

Na época, o então chanceler compartilhou um trecho em vídeo de sua fala.

O volume traz ainda um dos textos mais famosos (e polêmicos) do ex-chanceler, intitulado “Chegou o comunavírus“, que ele publicou em seu blog em abril do ano passado, fazendo comparações entre a quarentena contra o coronavírus e os campos de concentração nazistas, gerando protestos da comunidade judaica no Brasil e até nos Estados Unidos.

O livro está disponível para download gratuito e foi editado pela Fundação Alexandre Gusmão (Funag), um braço do Itamaraty voltado à documentação.

Veja a divulgação que Ernesto fez de seu livro neste domingo (25/4):

Pensamento completo do ex-chanceler

A Funag já havia editado um livro com textos e entrevistas de Ernesto em 2019, o “A nova política externa brasileira: seleção de discursos, artigos e entrevistas do Ministro das Relações Exteriores”.

O link para baixar o novo livro do ex-chanceler é este. São, ao todo 62 textos, que ocupam mais de 700 páginas.

https://www.metropoles.com/brasil/itamaraty-publica-livro-com-o-pensamento-de-ernesto-araujo


sexta-feira, 3 de maio de 2019

Dia do diplomata: Chanceler de Bolsonaro chora e diz que diplomacia precisa de 'sangue nas veias'

Chanceler de Bolsonaro chora e diz que diplomacia precisa de 'sangue nas veias'

Em discurso com a presença do presidente, Ernesto Araújo rebate críticas à política externa do país

segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

Livro de discursos de Michel Temer: O Brasil no Mundo (Funag)

O Brasil no mundo: abertura e responsabilidade - Escritos de diplomacia presidencial (2016-2018)


O Brasil no mundo: abertura e responsabilidade - Escritos de diplomacia presidencial (2016-2018)

Download gratuito

 
Modelo: Livro
Disponibilidade: online
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A presente obra traz uma seleção de artigos, mensagens públicas e discursos sobre política externa assinadas ou pronunciadas pelo presidente da República, Michel Temer. Esses textos permitem uma visão abrangente das posições defendidas pelo Brasil e uma amostra representativa dos resultados alcançados no período (2016-2018).
O BRASIL NO MUNDO: ABERTURA E RESPONSABILIDADE Escritos de diplomacia presidencial (2016-2018)
Sumário: 
Prefácio........ 11 
Introdução........ 17 
I. Fundamentos da política externa: valores e interesses.... 25 
Discurso na abertura do Debate Geral da LXXI Sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas....27 
Uma diplomacia presidencial a serviço do Brasil.........37 
Discurso no Dia do Diplomata .......41 
Paz, desenvolvimento e democracia .........49 
Discurso na abertura do Debate Geral da LXXII Sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas...53 
O Brasil voltou aos trilhos..........63 
Discurso na VIII Cúpula das Américas..........67 
Discurso na abertura do Debate Geral da LXXIII Sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas......71 
II. América do Sul.............. 81 
Discurso na Reunião do Cone Sul sobre Segurança nas Fronteiras...........83 
Brasil e Argentina: tempo de convergência pragmática .....87 
Mercosul: caminhos para o futuro .......91
Brasil e Paraguai: vizinhos, sócios e irmãos....97 
Discurso em almoço oferecido ao Presidente da Bolívia, Evo Morales..........101 
Um Mercosul de resultados.....103 
Discurso na abertura do Fórum Econômico Mundial sobre a América Latina.............107 
Discurso em almoço oferecido ao Presidente do Chile, Sebastián Piñera ..........115 
Discurso em almoço oferecido ao Presidente do Suriname, Desiré Bouterse ..........119 
No Chile, por mais abertura e integração ..................121 
III. Universalismo............... 125 
Discurso em sessão de diálogo do BRICS com a Iniciativa da Baía de Bengala.........127 
Discurso em sessão plenária da VIII Cúpula do BRICS ......131 
Discurso em jantar oferecido pelo Primeiro-Ministro do Japão, Shinzo Abe .......137 
Discurso oferecido aos Chefes de Estado e de Governo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa ..........139 
Discurso na cerimônia de abertura da I Conferência Latino-Americana “O Potencial da Diáspora Libanesa”...143 
Discurso em almoço oferecido ao Rei e à Rainha da Suécia...........149 
Discurso em jantar oferecido pela União Cultural Brasil - -Líbano e pela Câmara de Comércio Brasil-Líbano.....153 
Brasil e Espanha: uma nova parceria entre velhos amigos........157 
Discurso em almoço oferecido ao Presidente de Governo da Espanha, Mariano Rajoy............161 
Discurso na cerimônia de inauguração da Casa do Japão........165 
O Brasil na Rússia e na Noruega...........167
Discurso na XXII Reunião Ordinária do Conselho de Ministros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa..171 
China: uma visita em três tempos..............175 
Discurso em sessão plenária da IX Cúpula do BRICS .........181 
Discurso em diálogo do BRICS com mercados emergentes e países em desenvolvimento............185 
Discurso em reunião de coordenação de mandatários da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa ...189 
Discurso em almoço oferecido ao Presidente da Macedônia, Gjorge Ivanov .....193 
Discurso no Fórum Econômico Brasil-Países Árabes: Construindo o Futuro..............195 
Cooperação e desenvolvimento em bom português.........199 
Discurso na abertura da XII Conferência de Chefes de Estado e de Governo da Comunidade de Países de Língua Portuguesa................203 
Parceria para a prosperidade..............207 
Dois destinos, um só objetivo...........211 
Discurso em jantar da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira ....215 
Discurso em reunião informal dos líderes do BRICS à margem da Cúpula do G20 na Argentina ......221 
IV. Crescimento e empregos ................. 227 
Discurso em seminário empresarial em Xangai...............229 
Discurso na Cúpula do BRICS em Goa, em reunião do Conselho Empresarial do BRICS .......233 
Discurso em cerimônia de posse do Conselho de Administração da Câmara de Comércio Americana......237 
Discurso em encontro de investidores do Conselho das Américas...................241
Discurso no encerramento do Fórum de Líderes Empresariais Brasil-Suécia...........247 
Discurso no Fórum de Investimentos Brasil 2017 ............253 
O Brasil no G20: responsabilidade e abertura ..........259 
Discurso na cerimônia de encerramento do seminário “Oportunidades de Investimento no Brasil”...........263 
Discurso no Fórum Empresarial do BRICS...........269 
Discurso em Diálogo com o Conselho Empresarial do BRICS......275 
Discurso na sessão de abertura da XI Conferência Ministerial da Organização Mundial do Comércio.........279 
Davos: o Brasil voltou.................283 
Discurso na sessão plenária do Fórum Econômico Mundial .........289 
Discurso em evento empresarial da Câmara de Comércio dos EUA..................295 
Cooperação, prosperidade e crescimento no século XXI...............301 
V. Direitos humanos............. 305 
Discurso em reunião das Nações Unidas sobre grandes movimentos de refugiados e migrantes........307 
Discurso em cerimônia do Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto ......311 
O Brasil e os direitos humanos: diálogo e engajamento..................315 
Discurso na abertura do Fórum Global da Criança na América do Sul................319 
Mensagem para a Conferência Mundial Contra Bombas Atômicas e de Hidrogênio........325 
Mensagem sobre o compromisso democrático do Mercosul.................327
VI. Meio ambiente....................................................................... 329 
Discurso na Cúpula do G20 na China, em sessão sobre energia..............331 
Discurso no Dia Mundial do Meio Ambiente ..............335 
Discurso em reunião com os coordenadores das câmaras temáticas do Fórum Brasileiro de Mudança do Clima ....339 
Mensagem para a Cúpula dos Oceanos..............343 
Discurso na abertura do VIII Fórum Mundial da Água ........345 

Álbum de fotografias .................. 349 
2016..............351 
2017...........363 
2018................381 
Índice onomástico.............. 405 
Agradecimentos .......................................................................... 415

terça-feira, 24 de abril de 2012

Dia do diplomata: os discursos como eles foram...

Os links abaixo retomam toda a cerimônia de formatura do Itamaraty, o que é melhor do que simplesmente ler os discursos, pois o que vai falado é o que corresponde efetivamente à verdade, com as emoções e reações do momento, não o que pode ter sido consignado oficialmente a posteriori:
1) Discursos iniciais: http://www.youtube.com/watch?v=T04TtI70Nl4
2) Discurso da presidente: http://www.youtube.com/watch?v=ak51lm3-QMo&feature=related
Em todo caso, foi feita a transcrição do discurso da presidente, reproduzido abaixo, o que deve resumir, segundo alguns, as diretrizes efetivas para a política externa do Brasil. Ainda que se afirme que ele transmite exatamente o que foi dito, comparando-se o que ela falou, no video, com o texto aqui abaixo transcrito, podem-se detectar pequenas diferenças gramaticais. Apenas curiosidade...



Discurso da Presidenta da República, Dilma Rousseff, na cerimônia de formatura da Turma de 2010-2012 do Instituto Rio Branco 

Eu queria iniciar cumprimentando, e quebrando o protocolo – porque o Itamaraty também tem de quebrar o protocolo -, cumprimentando a turma dos formandos, porque essa turma é o presente e é o futuro do Brasil. Então, começo por cumprimentar a todos.
Cumprimentar também o embaixador Antonio Patriota, ministro de Estado das Relações Exteriores, e aproveito e cumprimento o decano dos diplomatas, o Antonio Patriota pai.
Queria cumprimentar as senhoras e os senhores chefes de missão diplomática aqui presentes,
O embaixador Ruy Nogueira, secretário-geral das Relações Exteriores,
Queria dirigir um cumprimento muito especial ao Samuel Pinheiro Guimarães, paraninfo da turma,
Milena Oliveira de Medeiros,
E também a uma pessoa que deu grandes contribuições para o nosso país, no que se refere a uma visão de Brasil e de presença do Brasil no mundo, de forma bastante inovadora, e que sempre lutou pelo desenvolvimento deste país.
Queria cumprimentar a senhora Raimunda Carneiro, mãe da secretária Milena Oliveira de Medeiros, que dá nome à turma 2011-2012 [2010-2012], e dizer a ela que nós temos na Milena um exemplo deste novo Brasil que está surgindo. E a mim comove imensamente que essa turma tenha escolhido a Milena. Porque a Milena representa este Brasil de oportunidades, este Brasil que, de fato, poderia ter na Milena uma ministra, uma grande diplomata e uma presidenta.
Queria também cumprimentar aqui o senhor embaixador Georges Lamazière, diretor do Instituto Rio Branco,
A secretária Maria Eugênia Zabotto Pulino, oradora da Turma de 2010-2012, que evidenciou algo que nós temos muito orgulho. Primeiro, a boa formação, a clareza na elaboração de suas ideias, e também mostrou a força do que este nosso Brasil, que está surgindo, é capaz de desempenhar e, portanto, é capaz de ajudar a essas mudanças tão necessárias no país.
Queria cumprimentar os senhores e as senhoras embaixadores aqui presentes,
As senhoras e senhores familiares.
Dirigir um especial cumprimento aos pais e às mães por terem este orgulho de verem seus filhos aqui se formando.
Queria também cumprimentar os senhores jornalistas, os senhores fotógrafos e cinegrafistas.

Senhoras e senhores,

A minha palavra inicial é de apreço, como eu disse, às alunas e aos alunos que concluem sua formação no Instituto Rio Branco e passam a integrar, formalmente, o corpo diplomático brasileiro. Eu quero dirigir uma saudação a cada um deles, pela responsabilidade, pelo papel que eles vão desempenhar daqui para frente para o nosso país. Associo-me mais uma vez à perda e ao pesar que nós todos temos pela perda da Milena Oliveira de Medeiros, morta no cumprimento das suas responsabilidades.
Queridas formandas e queridos formandos,
O lugar que um país ocupa no mundo está muito ligado e está prioritariamente vinculado ao papel que esse país ocupa em relação ao seu povo. Enfim, está vinculado às mudanças internas que ele é capaz de realizar ou que ele realizou. E o Brasil não foge a essa regra. A importância que nós temos decorre de todas nossas ações que, de uma forma ou de outra, são reconhecidas nesse mundo absolutamente interconectado, por redes sociais, por jornais, enfim, por todos sistemas de comunicação modernos. E as transformações recentes na nossa economia, a afirmação da nossa sociedade, através do processo de desenvolvimento que distribuiu renda, que abriu oportunidades para o nosso povo, dá uma dimensão a um país firmemente comprometido com a questão da democracia, firmemente comprometido com os direitos humanos, firmemente comprometido com a igualdade e os princípios da distribuição de renda e da melhoria de vida do povo.
Essa visão que transforma hoje o Brasil numa grande nação, numa nação – e aí eu vou divergir um pouco do Samuel – eu acredito que nós temos uma imensa capacidade de nos relacionarmos, não só na América Latina, mas na África, na Ásia, na Europa, inclusive na América do Norte. E creio que esse posicionamento do Brasil é um reconhecimento por duas coisas. Num mundo crescentemente desigual, num mundo em que todo o desenvolvimento, todo o crescimento tem levado não a uma diminuição das diferenças, não a uma diminuição das diferenças sociais, nem territoriais, mas numa ampliação, num mundo em que, por exemplo, 1% controla 40% por cento da riqueza, e isso tende a se ampliar, num mundo em que a saída da crise tem levado à perda de direitos, à precarização do trabalho e a imensas chagas sociais, o Brasil corre em trilha completa e totalmente diferente.
Primeiro, nesse mundo, nós provamos que no Brasil e não era só no Brasil, algo que era de uma certa forma uma visão distorcida e muito especializada para países em desenvolvimento, que não era possível crescer e distribuir renda. Nós rompemos com isso. O grande respeito que nós temos é porque nós não governamos sem olhar o nosso povo. Um país que deixa seu povo à margem do seu desenvolvimento e do seu crescimento, não é respeitado por ninguém. Nós temos a nossa capacidade de produzir respeito, porque produzimos antes melhorias econômicas e sociais. Estabilizamos a economia brasileira. Não somos mais dependentes do Fundo Monetário. Temos mais de US$ 360 bilhões em reserva. Controlamos a inflação, mas, sobretudo, tiramos 40 milhões e os elevamos, de situações de miséria, e os elevamos à classe média. Além disso, temos hoje uma política muito clara de continuar o trabalho e prosseguir no rumo de incluir na sociedade brasileira os 16 milhões que ainda vivem à margem, em situação de extrema miséria.
Tudo isso mostra que não somos só um país que valoriza o desenvolvimento econômico – valorizamos sim, até porque precisamos dele. Precisamos crescer mais rápido para poder distribuir renda, mas, sobretudo, porque melhoramos a vida do nosso povo e transformamos um povo, que era marginalizado e não podia participar dos benefícios do desenvolvimento econômico. Transformamos esse povo em consumidor, em trabalhador, em pequeno empresário e demos a ele oportunidades, através de programas estratégicos, como é o programa de educação, que permitiu que mais jovens tivessem acesso à educação profissional. E garantimos a internalização no nosso país de universidades através do ProUni, que é o acesso do estudante mais pobre a escolas privadas universitárias. Ampliamos as universidades públicas. E mais, hoje percebemos, cada vez mais, que o grande motor para mudar é ciência, tecnologia e inovação.
Nós temos que fazer as duas atividades. As duas tarefas muito diferentes, mas, por isso, que mostram a complexidade do nosso país. Ao tempo que nós combatemos a miséria, nós temos de ser capazes a responder aos desafios do Século XXI: ciência, tecnologia e inovação.
Nós temos, hoje, um bônus que se chama, um bônus ligado à nossa distribuição etária, à nossa matriz de idades, vamos dizer assim. O fato de que durante, até em torno de 2030, nós seremos um país que todos os trabalhadores, todos os empresários, enfim, todas as pessoas ativas, o número delas ultrapassará aqueles que dependem socialmente como as crianças, os jovens em idade de não trabalho e, sobretudo, os idosos. Esse bônus demográfico do país, ele permitirá que o país se desenvolva, e mais do que isso, se nós formos capazes de capacitar a nossa força de trabalho, se nós formos capazes de dar educação de qualidade a todos, de transformar este país, de fato, numa grande potência.
Nós somos, hoje, e isso é algo extremamente volátil, nós somos a sexta potência. Depende da taxa de câmbio, tem uma variável taxa de câmbio. Mas não é isso que importa. O que importa é que nós sejamos, do ponto de vista do nosso país, do ponto de vista da nossa população, de fato, a sexta economia em matéria de renda per capita e de acesso à educação e aos serviços públicos de qualidade.
É esse país que nós estamos projetando internacionalmente, é esse país que tem o pré-sal, é esse país que é uma potência alimentar, é esse país que não vai deixar a sua indústria, que é uma indústria razoavelmente complexa, ser sucateada por nenhum processo de desvalorização de moedas e nem por guerras comerciais, que usam métodos não muito, eu diria assim, não muito éticos.
Esse país tem uma imensa capacidade de projeção internacional, porque esse país se encontrou internamente. Isso é extremamente importante. É só por isso que nós, hoje, temos extrema capacidade de projeção internacional. Deve-se a nós mesmos. Não se deve a nenhuma simpatia ou nenhuma preferência. Deve-se à força do próprio país. Por isso, eu acredito que é muito importante perceber as relações entre política interna e política externa no Brasil. O que nós defendemos lá fora é o que nós fazemos aqui dentro. E isso é crucial.
Ao mesmo tempo, vivemos num mundo em transformação, num mundo multipolar, um mundo que está mudando, que mudou. Primeiro de uma situação bipolar para uma situação de quase hegemonia unipolar, mas que hoje, percebe-se claramente a multipolarização que existe. Neste mundo, o Brasil tem um papel especial, extremamente complexo. Não é um papel simples que nós podemos fazer uma lista e falar: “primeiro isso, segundo aquilo, terceiro aquilo”. Não é assim, é simultâneo. Simultaneamente, nós temos de ter uma presença fortíssima na América Latina e uma presença que transforma as fronteiras da América Latina e as responsabilidades do Brasil em relação à América Latina na responsabilidade do país com maior PIB, com maior poder econômico e, ao mesmo tempo, um país que tem de mostrar que uma outra política, de relacionamento internacional é possível. Uma outra política não imperialista, não de subordinação do país menor, não de aproveitamento da força e da imposição de modelos.
Nós temos de mostrar, aqui na América Latina, que é possível uma relação econômica mais equilibrada. Uma relação econômica de integração de cadeias produtivas e que os países, diferenciadamente, ganhem, reconhecendo o papel de cada país nesse cenário, sabendo, inclusive, que há diferenças. Sabendo que há relações diferenciadas também desses países com o mundo.
É importantíssimo que, simultaneamente, saibamos que os BRICS são estratégicos para o Brasil. Nós, os BRICS, somos quase hoje responsáveis por 56%, se não me falha a memória, da taxa de expansão da economia internacional. Os BRICS são diferentes. Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, somos completamente diferentes, mas somos representantes de continentes diversos. Implica num reconhecimento da presença do Brasil em um fórum em que países bastantes significativos e com presença internacional ocupam na cena. Significa que o Brasil tem um diálogo especial e uma relação com, tanto dentro dos BRICS, quanto dentro dos IBAS, que é Índia, Brasil e África do Sul, nós temos um fórum no qual o Brasil não é só ouvido, o Brasil é protagonista.
Acredito que a relação com os países da Ásia é estratégica para o Brasil. É estratégica, porque o Brasil é um grande fornecedor e será sempre um grande fornecedor de commodities, mas será, e eu asseguro a vocês, um grande fornecedor também de manufaturas.
Nós temos de equacionar três amarras do país e construir o caminho, o chamado quarto caminho. As três amarras são: taxa de juro, taxa de câmbio e impostos altos. E o caminho é a educação de qualidade.
Nós temos, porque somos mais homogêneos, uma grande de possibilidade de presença no mundo. Além disso, nós temos de manter os nossos relacionamentos com a União Europeia e com os Estados Unidos. Nós não só temos, como devemos e podemos. E, hoje, temos também um fórum muito importante que é o G-20, no qual essas discussões podem, em alguns momentos parecer que não saem do lugar, mas elas constituem um espaço completamente diferente do G-8, do G-7 ou do G-9, que várias vezes ocorria no passado. É inimaginável que nós não estejamos sentados na mesa, na negociação. Hoje, é inimaginável.
O Brasil também tem uma característica que nós temos de preservar, de respeitar nós mesmos. O fato de nós sermos um país com uma tradição muito forte de paz, de democracia. Agora, no passado não foi, mas agora, nós construímos o nosso processo democrático.
Temos de respeitar os direitos humanos. Esse processo é um valor. É um valor por que? É um valor, porque o nosso povo é um povo que tem espaço de manifestação, a nossa imprensa tem liberdade e nós estamos acostumados com a diferença.
Nós não nos assustamos quando alguém tem uma posição diversa, nós não deixamos de convidá-lo para comparecer às reuniões. Nós não achamos que nós temos de nos reunir só com as pessoas que pensam igual a nós. É essa característica profunda do Brasil que nos torna um país respeitado em todas as áreas, porque somos um país capaz de diálogo. E isso é um valor que nós temos, um grande valor que nós temos.
Eu queria dizer que todo esse cenário mais complexo vai exigir dos diplomatas brasileiros duas características. Vocês têm, de fato, de ser generalistas, mas não se iludam. Vocês tem de ser também especialistas. É impossível debater, no plano internacional, se você não souber do que você está falando. Se isso é exigido para um presidente, quanto mais do diplomata, que é fundamental para o presidente ter as informações necessárias. Então, eu digo para vocês o seguinte: não tem só generalista, não. Eu perguntei há pouco para o Patriota: “Patriota, quantos engenheiros?”. Sabe por que eu perguntei quantos engenheiros? Porque nós vamos discutir ciência, tecnologia e inovação. Eu quero saber quem é melhor em biotecnologia. Eu quero saber como é que eu faço a ponte. Isso é fundamental. A gente não precisa, eu perguntei para o Patriota, mas quero dizer a vocês que a gente não precisa ser formado em engenheiro para entender de algumas coisas. Mas é importante que o Itamaraty tenha engenheiros. É importante. É importante que o Itamaraty tenha físicos. É importante. É importante que o Itamaraty tenha matemáticos. É importante. Porque nós vamos entrar no Século XXI a partir de toda uma situação em que nós já estamos, mas será mais exigida daqui para frente. Esse é o século do conhecimento. Esse é, sobretudo, o século do conhecimento. É o século da capacidade de se dominar certas tecnologias e é o século da capacidade nossa de inventar, de criar. É o século, também, que permitirá que aqueles países que tenham na sua força de trabalho, no seu povo, a sua maior riqueza, seja o país que estará mais bem condicionado internacionalmente. Apesar de nós termos tudo aquilo, petróleo, indústria, nós temos de apostar na qualidade do ensino da população brasileira. Isso é o estratégico e isso vale para o Itamaraty também. E eu acredito que nós temos um caminho de muitas transformações que nós temos que entender rapidamente e estar prontos para atuar. Essa flexibilidade também é característica do Brasil. Eu acho que é essa combinação de criatividade com imensa capacidade, ser flexível, de entender rapidamente, de conviver com a diferença que distingue esse país. E torna ele imbatível.
Queria dizer a vocês que para mim foi muito emocionante o fato de vocês escolherem a Milena e não o Barão [do Rio Branco]. Eu acho o Barão uma das personagens mais importantes desse país, porque o Barão foi responsável pelo mapa do país, pela definição do nosso território sem guerra. O Barão foi, talvez, um dos mais hábeis diplomatas que o mundo já viu. Nós sabemos, todos nós, da importância dele, mas eu acho que o ato de escolha não é um ato em detrimento do Barão, é um ato de afirmação das oportunidades que esse país tem de dar para as pessoas.
A Milena Oliveira de Medeiros, e aqui eu encerro dizendo, que esse país, ele tem que ter muitas mulheres. E que eu espero que nós todos aqui, presidentes, diplomatas, alunos, enfim, todos nós aqui presentes sejamos capazes de permitir que esse país tenha muitas Milenas.
Muito obrigada.