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domingo, 10 de março de 2024

Onde andará o chanceler acidental dos primeiros dois anos do governo Bolsonaro? - Paulo Roberto de Almeida

 4599. “Onde andará o chanceler acidental dos primeiros dois anos do governo Bolsonaro?”, Brasília, 10 março 2024, 2+8 p. Retomada do trabalho n. 3750, de 9 de setembro de 2020, em postagem no blog Diplomatizzando, efetuada ainda na gestão Ernesto Araújo no Itamaraty, relembrando os absurdos vividos no Brasil na época da “franja lunática”, como os caracterizou o embaixador Rubens Ricupero. 

Onde andará o chanceler acidental dos primeiros dois anos do governo Bolsonaro?

 

Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.

Retomada do trabalho n. 3750, de 9 de setembro de 2020, em postagem no blog Diplomatizzando, efetuada ainda na gestão Ernesto Araújo no Itamaraty, relembrando os absurdos vividos no Brasil na época da “franja lunática”, como os caracterizou o embaixador Rubens Ricupero.

 

Com as investigações em curso sobre a tentativa de golpe contra o governo eleito em outubro de 2022, tivemos a surpresa de ver o então assessor especial para assuntos internacionais na primeira fase do governo Bolsonaro, autor presumido de uma das minutas golpistas entregues ao presidente ainda antes das eleições, Felipe Martins, preso pela Polícia Federal durante pouco menos de um mês. Por ocasião de sua prisão, efetuei pequena postagem dizendo que o ex-subordinado de Felipe Martins, chanceler acidental de Bolsonaro, diplomata Ernesto Araújo, havia tido sorte, pelo fato de a então senadora Kátia Abreu o ter expelido do governo em março de 2021, e de assim ter possivelmente escapado do mesmo infausto destino do “chanceler paralelo” (stricto e lato sensi). 

Muita gente tende a esquecer o que foram aqueles anos, de loucuras inéditas na política externa brasileira, e de arroubos na política interna, potencializando uma divisão do país que tinha começado lá atrás, antes e durante os governos petistas no Brasil. Continuamos divididos, pois isso corresponde aos interesses de cada um desses dois extremos ideológicos, um supostamente à esquerda – mas com muitos amigos de direita, apenas por serem, como eles, antiamericanos confirmados –, o outro supostamente à direita, mas estupidamente à extrema-direita, ambos reacionários na prática. 

Permito-me retomar aqui, uma das últimas postagens que fiz na gestão do infeliz e patético chanceler acidental, antes que ele fosse defenestrado, após o que ele desativou seu famoso blog “Metapolítica 17: contra o globalismo”, do qual arquivei praticamente todas as postagens, antes que presumivelmente desaparecessem, com a saída do tresloucado diplomata. Ela tem a ver com as recomendações para os diplomatas para as eleições daquele ano, 2020, municipais, como agora, como se o próprio personagem, ainda antes de se tornar diplomata acidental, não tivesse infringido todas e cada uma das normas prescritas aos funcionários. Ele o fez de forma clandestina, antes de ser denunciado, e a partir daí de forma aberta, uma vez garantido o cargo prometido, por ter sido um dos mais aguerridos cruzados da causa bolsonarista. Acompanhei toda a trajetória do desequilibrado colega diplomata, o que pode ser ainda hoje revisitado pelos diversos livros digitais que elaborei durante esses anos desafiadores para os diplomatas profissionais, e para todos os cidadãos democratas.


(...)


Ler a íntegra nesta postagem na plataforma Academia.edu: 

https://www.academia.edu/116052112/4599_Onde_andar%C3%A1_o_chanceler_acidental_dos_primeiros_dois_anos_do_governo_Bolsonaro


sábado, 6 de janeiro de 2024

O maldito legado econômico do governo Bolsonaro - Ricardo Bergamini

 O maldito legado econômico do governo Bolsonaro

Ricardo Bergamini

1 - Aumento criminoso do patrimônio líquido negativo da União

Sem considerar números, gráficos e tabelas divulgados pelo governo, a estupidez coletiva brasileira comemora um governo que, em apenas quatro anos, aumentou o nosso buraco (patrimônio líquido negativo, ou passivo a descoberto) em R$ 2,8 trilhões, ou seja: 116,67% maior do que o ano de 2018. 

Estudo completo clique abaixo:

 

https://sisweb.tesouro.gov.br/apex/f?p=2501:9::::9:P9_ID_PUBLICACAO:46468

 

2 - Aumento criminoso da renúncia fiscal para os amigos e aliados

Em 2018, a união teve um gasto tributário (renúncia fiscal) da ordem R$ 333,0 bilhões (4,75% do PIB). Em 2022 para alimentar as propinas para a eleição atinge R$ 581,5 bilhões (5,86% o PIB). Crescimento criminoso de 23,37% em termos reais em relação ao PIB.

Estudo completo clique abaixo

 

https://www.gov.br/planejamento/pt-br/assuntos/avaliacao-de-politicas-publicas-1/arquivos/orcamento-de-subsidios-da-uniao/orcamento-de-subsidios-da-uniao-7a-edicao.pdf

 

3 - Aumento criminoso da carga tributária 

 

A carga tributária de 2022 é a maior desde 2010, ou seja: 33,71% do PIB. 

Estudo completo clique abaixo:

 

https://sisweb.tesouro.gov.br/apex/f?p=2501:9::::9:P9_ID_PUBLICACAO:46589

 

4 – Movimentação de capitais estrangeiros do Brasil

 

De 1995 até 2002 (FHC) o Brasil gerou uma saída líquida (fuga) de US$ 22,2 bilhões; de 2003 até 2010 (Lula) o Brasil gerou uma entrada líquida (captação) de US$ 210,5 bilhões; de 2011 até 2018 (Dilma/Temer) o Brasil gerou uma entrada líquida (captação) de US$ 65,7 bilhões; de 2019 até 2022 (Bolsonaro) o Brasil gerou uma saída líquida (fuga) de US$ 71,4 bilhões. Até novembro de 2023 (Lula) houve entrada líquida (captação) de US$ 24,5 bilhões.

 

Estudo completo clique abaixo (Anexo 16)

 

https://www.bcb.gov.br/estatisticas/estatisticassetorexterno -  

 

 

Ricardo Bergamini

www.ricardobergamini.com.br


domingo, 31 de julho de 2022

A economia socialmente regressiva do degenerado moral - Ricardo Bergamini

 Ricardo Bergamini fuzila a economia socialmente regressiva do desgoverno do degenerado moral:

A aberração da concentração de renda entre os indivíduos

A parcela dos 10% com os menores rendimentos da população detinham 0,7% da massa, vis-à-vis 42,7% dos 10% com os maiores rendimentos em 2021. Além disso, cabe destacar que este último grupo possuía uma parcela da massa de rendimento maior que a dos 80% da população com os menores rendimentos (41,4%). Contudo, entre 2020 e 2021, o grupo dos 10% com maiores rendimentos ganhou participação na massa de rendimento domiciliar per capita (1,1 ponto percentual), enquanto os décimos de menor rendimento tiveram variação negativa.

Prezados Senhores

Bolsonaro, de forma cristã, aprovou o Auxílio Brasil que concede R$ 600,00 mensais aos milhões de brasileiros miseráveis, que detém apenas 0,7% da renda nacional.

Ao mesmo tempo, nos porões do palácio, faz um pacto com o demônio para que os bancos sequestrem 47,47% ao ano (3,29% ao mês) de juros da falsa caridade concedida de R$ 600,00.

Finalmente acusa os bancos de lutarem contra o seu plano de golpe por vingança da austeridade fiscal do governo. 

Se Deus não estiver morto, alguém vai se foder muito nesse governo de milicianos.

O que é o Empréstimo Auxílio Brasil? 

O Empréstimo Auxílio Brasil é um novo tipo de crédito consignado para beneficiários do Auxílio Brasil. O valor do empréstimo comprometerá até 40% do benefício, descontado diretamente da folha de pagamento do segurado. 

E na meutudo você poderá solicitar o seu Empréstimo Auxílio Brasil com a menor taxa do mercado, a partir de 3,29% a.m! 

Para fazer o pedido clique abaixo:

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Ricardo Bergamini”

sábado, 12 de fevereiro de 2022

Assédio institucional no setor público brasileiro: a demolição do bolsonarismo - Livro em fase de publicação

Um livro em preparação, sobre o assédio institucional, praticado em diversas instâncias de governo e fora dele, a ser publicado ainda no primeiro semestre de 2022, graças à boa iniciativa de José Celso Cardoso, presidente da associação dos funcionários do Ipea, Afipea, do qual participo com um capítulo sobre o caso do Itamaraty.

Paulo Roberto de Almeida

 

ASSÉDIO INSTITUCIONAL NO SETOR PÚBLICO BRASILEIRO:

EVIDÊNCIAS DE DESREPUBLICANIZAÇÃO E DESDEMOCRATIZAÇÃO

Organizador: José Celso Cardoso Jr.

 (Brasília, AFIPEA, 2022)

 

Sumário


Prefácio 1: Autoritarismo Líquido e Assédio Institucional no Setor Público Brasileiro

Pedro Serrano, PUC-SP

 

Prefácio 2: Antropologia do Poder e Assédio Institucional no Setor Público Brasileiro

Carla Teixeira, UnB

 

Apresentação do Livro e Introdução Geral ao Tema

Frederico A. Barbosa da Silva; José Celso Cardoso Jr. (AFIPEA); Monique Florencio de Aguiar (UNESP)

 

 

Parte I – A Escalada contra a Democracia e o Assédio Institucional

 

1.         A Gênese e o Funcionamento do Governo Bolsonaro e o Assédio Institucional no Brasil

Deborah Duprat (Subprocuradora Geral da República aposentada, advogada e membro do Observatório Pesquisa, Ciência e Liberdade da SBPC)

 

2.         Assédio Institucional no Setor Público e o Processo de Desconstrução da Democracia e do Republicanismo no Brasil de Bolsonaro

Frederico A. Barbosa da Silva; José Celso Cardoso Jr. (AFIPEA)

 

3.         Reflexões sobre a Tradição Autoritária Brasileira e a Desdemocratização no Governo Bolsonaro

Bruna Santos, Bruna Eduarda Rocha, Felipe Freitas, Elaine Gomes, Isabella de Souza Teixeira, Julia Palmeira, Juliana Vieira dos Santos, Lucas Moraes Santos (Projeto Rede Liberdade)

 

4.         Assédio Institucional, Neoliberalismo e Reforma da Constituição no Governo Bolsonaro

Cláudio Souza Neto (UFF)

 

Parte II – A Ofensiva Autoritária contra as Liberdades Fundamentais

 

5.         Liberdade Acadêmica no Brasil: estudos de casos e seus desdobramentos recentes

Conrado Hübner Mendes, Adriane Sanctis de Brito, Anna Carolina Venturini, Bruna Angotti, Danyelle Reis Carvalho, Fernando Romani Sales, Luciana Silva Reis, Maria Fernanda Silva Assis, Natalia Pires de Vasconcelos (LAUT)

 

6.         Uma Agenda de Censura e Autoritarismo na Cultura: os casos analisados pelo MOBILE

Guilherme Varella, Denise Dora e Raisa Cetra

 

7.         Liberdade de Expressão dos Servidores Públicos: Nota Técnica n. 1556 da CGU e Assédio Institucional

Cláudio Pereira de Souza Neto (UFF), Fernando Luís Coelho Antunes (UnB), José Celso Cardoso Jr. (IPEA)

 

8.         Assédio Institucional contra a Liberdade de Expressão

João Marcos Fonseca de Melo (Fonseca de Melo & Brito)

 

9.         Assédio Institucional no Itamaraty: breve abordagem e depoimento pessoal

Paulo Roberto de Almeida (MRE)

 

Parte III – A Transversalidade do Assédio Institucional no Setor Público e seus Impactos sobre a Burocracia Federal

 

10.       Clima Autoritário em Plena Democracia: percepções da burocracia federal

Carla Borges (Instituto Vladimir Herzog) e Michelle Morais de Sá e Silva (Universidade de Oklahoma)

 

11.       Burocracia na Mira do Governo: os mecanismos de opressão operados para moldar a burocracia

Gabriela Spanghero Lotta (FGV EAESP); Iana Alves de Lima (FGV EAESP); João Paschoal Pedote (FGV EAESP); Mariana Costa Silveira (FGV EAESP); Michelle Fernandez (IPOL/UnB); Olívia Landi Corrales Guaranha (FGV EAESP)

 

12.       Do Serviço ao Trabalho Público: formas contratuais e assédio moral institucional

José Antônio Peres Gediel (UFPR), Lawrence Estivalet de Mello (UFBA), Fernando Cesar Mendes Barbosa (UFPR)

 

13.       Reforma Administrativa (PEC 32/2020) e Assédio Institucional no Setor Público Brasileiro

César Rodolfo Sasso Lignelli (Sintrajud, Sindsef-SP e Sindicato dos Metroviários SP); Regiane de Moura Macedo (Sindsef-SP e Sindicato dos Metroviários SP)

 

Parte IV – Assédio Institucional contra Organizações e Servidores Públicos no Nível Federal Brasileiro

 

14.       Assédio institucional na Saúde: o impacto da política de disseminação da Covid-19

Rossana Rocha Reis, Deisy Ventura, Fernando Aith

 

15.       Universidade Pública Brasileira: autonomia sob assédio

Rossana Silva (UnB)

 

16.       “Sem Norte” e “Destruída por Dentro”: a Capes rumo ao “Estado Zero”

Monique Florencio de Aguiar (Unesp)

 

17.       “Querem Destruir”: entre “cortes” e “ingerências”, o “esvaziamento” das instituições de fomento do MCTI (CNPq e Finep)

Monique Florencio de Aguiar (Unesp)

 

18.       Assédio Institucional nas Instituições do Executivo Federal ligadas a áreas da Cultura

Francisco Miguel (UnB)

 

19.       O Caso da Fundação Casa de Rui Barbosa: assédio institucional na Cultura.

José Almino de Alencar e Colaboradores

 

20.       Etnografia do Assédio Institucional na Funai

Frederico A. Barbosa da Silva; Isabella Lunelli (IPEA)

 

21.       Assédio Institucional e Cerceamento no Ministério do Meio Ambiente: a liminaridade do poder político e da burocracia especializada na proteção ao meio ambiente

Marcelo Mourão Motta Grossi (CEUB); Rodrigo Augusto Lima de Medeiros (CEUB)

 

Posfácio: Cartilha Afipea + Andeps

Cards Afipea + INA

 

quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

Bolsonaro está sem sorte no plano da política externa: sua diplomacia está em frangalhos (a despeito do Itamaraty) - matérias de imprensa

 


Bastidores: Alemanha se soma à França como dor de cabeça para diplomacia bolsonarista

Diplomatas preveem tensão com novo novo governo alemão e reclamam de embaixador em Brasília
 
Felipe Frazão, O Estado de S.Paulo
08 de dezembro de 2021 | 15h00

BRASÍLIA - A França, de Emmanuel Macron, não está mais sozinha. Com a posse do novo chanceler Olaf Scholz nesta quarta-feira, 8, a Alemanha se junta à condição de alvo internacional da ira bolsonarista. O motivo da insatisfação contra Paris, que agora já se estende a Berlim, é o tom das cobranças europeias ao governo Jair Bolsonaro, por causa da destruição ambiental na Amazônia.

Em Brasília e em Berlim, a expectativa diplomática é que o novo governo alemão aumente a pressão sobre Bolsonaro. Ouvidos reservadamente pelo Estadão, embaixadores dos dois países dizem que a situação tende a "piorar".

A maior economia europeia vai ser governada por uma coalização à esquerda, se comparada com a da democrata-cristã Angela Merkel, que ficou 16 anos no poder como chanceler. O bloco que compõe o governo é formado por social-democratas, liberais e verdes. A coalizão foi apelidada de "semáforo", pela ordem das cores dos partidos - vermelho, amarelo e verde. Olaf Scholz já compunha a gestão de Merkel como vice-chanceler e ministro das Finanças.

Um problema foi acrescido após a COP 26, em Glasgow, na Escócia. A delegação brasileira chefiada pelo ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, deixou de apresentar os dados mais recentes de desmatamento na Amazônia, um recorde de 13 mil km² devastados, e assegurou que o cenário seria positivo. Nos bastidores, diplomatas brasileiros reconhecem que a credibilidade foi prejudicada e que seus pares estrangeiros saíram com a percepção de que foram enganados.

Berlim, assim como parte das capitais da União Europeia, entende que a confiança em Bolsonaro foi perdida. Não por outro motivo, o embaixador alemão em Brasília, Heiko Thoms, disse ao Estadão que os compromissos anunciados pelo Brasil na Cúpula do Clima eram só palavras e manifestou descrédito na capacidade de o governo cumprir a meta de zerar o desmatamento ilegal até 2028. Ele negou a possibilidade de o país retomar contribuições ao Fundo Amazônia.

O embaixador e sua equipe têm manifestado em conversas preocupações com direitos humanos, ameaças à liberdade de imprensa e às instituições democráticas e com o desmantelamento de órgãos ambientais brasileiros. Para eles, o governo Bolsonaro não percebeu que a pauta climática virou preocupação de toda a sociedade alemã e se vê refletida no espectro político mais amplo, à exceção da extrema-direita. As eleições internas ocorreram meses após enchentes históricas que provocaram quase 200 mortes na Alemanha.

O tom mais duro do diplomata alemão acendeu o sinal amarelo no Itamaraty. Dois embaixadores ligados à cúpula do Ministério das Relações Exteriores (MRE) manifestaram restrições ao novo comportamento de Thoms. Por enquanto, as respostas públicas serão dadas por ministros do primeiro escalão bolsonarista, como virou costume.

Um diplomata ligado à área econômica disse que o embaixador alemão vestiu a camisa do novo governo antecipadamente para "mostrar serviço" a Berlim, deixando em segundo plano relações de mais longo prazo que norteiam as duas diplomacias. O outro, responsável pela agenda de meio ambiente, afirmou que as críticas de Thoms eram uma atitude inadequada diplomaticamente e que ele deveria optar por canais formais junto ao MRE. "Imagine se nosso embaixador em Berlim (Roberto Jaguaribe) comentasse assuntos domésticos deles… Não cabe", protestou.

Apesar das reclamações com a eloquência de Thoms, o tom deve escalar alguns níveis acima, e o embaixador certamente tem respaldo superior.  A nova ministra das Relações Exteriores será a advogada Annalena Baerbock, de 40 anos, ex-candidata a chanceler e uma das líderes do Partido Verde. Ela é uma política ecologista, ex-atleta e crítica do presidente Bolsonaro, favorável a movimentos de pressão global sobre a Amazônia, que podem impactar o comércio.

Outro líder do partido, Robert Habeck, vai chefiar o novo ministério do Clima e da Economia. Também ficaram com os verdes as pastas de Agricultura e do Meio Ambiente.

Do outro lado da fronteira, a França vai passar por eleições nacionais no ano que vem, depois de os verdes assumirem mais protagonismo nas municipais de 2020, o que joga pressão para a reeleição de Macron como presidente. Os franceses também irão assumir a presidência de turno do Conselho da União Europeia, o que pode deixar ainda mais longe progressos no acordo comercial com o Mercosul.

Posse de Scholz encerra Era Merkel
A posse do líder social-democrata Olaf Scholz nesta quarta-feira, 8, pôs fim a um dos capítulos mais importantes da história contemporânea da Alemanha: os 16 anos de Angela Merkel como dirigente da maior economia da zona do euro. Primeira mulher a governar o país, Merkel deixou o cargo após 5.860 dias, apenas nove a menos do que seu mentor, o ex-chanceler Helmut Kohl.

Aos 63 anos, Scholz foi escolhido como novo chanceler pelo Parlamento alemão nesta quarta, após conquistar 395 votos dos 736 possíveis na atual composição do Bundestag. A eleição era certa após a coligação com os Verdes (que conquistaram 118 cadeiras na eleição de setembro) e com os liberais (92 cadeiras) ser anunciada na terça-feira, 7.

Scholz respondeu "sim" à presidente do Parlamento, Bärbel Bas, ao ser questionado se aceitava o resultado da votação, e recebeu  o documento que oficializa sua nomeação e marca o início de seu mandato do presidente Frank-Walter Steinmeier. Ele prestou juramento, ao lado dos seus ministros, diante dos deputados e leu o artigo 56 da Lei Fundamental, no qual promete "dedicar suas forças ao bem do povo alemão".

Merkel também esteve presente na votação e recebeu muitos aplausos em sua despedida. Nas últimas semanas, a agora ex-chanceler recebeu várias homenagens, reconhecendo importantes avanços de seu governo e o papel central que desempenhou como liderança na União Europeia.

"Angela Merkel foi uma chanceler que teve êxito", elogiou Scholz recentemente, ao homenagear uma governante que "permaneceu fiel a ela mesma durante 16 anos marcados por várias mudanças"./ Com informações da AFP

https://internacional.estadao.com.br/noticias/geral,bastidores-alemanha-se-soma-a-franca-como-dor-de-cabeca-para-diplomacia-bolsonarista,70003920390


"Brasil deve esperar cobranças mais duras da Alemanha", diz professor da Universidade de Berlim

Novo governo alemão promete mais proteção ao clima. Má notícia para Bolsonaro, avalia professor Sérgio Costa

Cristiane Ramalho DW
08 de Dezembro de 2021 às 13:35

Professor da Universidade Livre de Berlim, e observador da política alemã há mais de 20 anos, o sociólogo Sérgio Costa aposta que a mudança de governo na Alemanha terá impacto direto sobre o Brasil, tanto nas relações diplomáticas quanto comerciais: "O Brasil deve ganhar mais espaço na agenda política alemã - mas com sinal negativo. Não como aliado de primeira instância, mas como um dos governos com os quais é difícil trabalhar."

Três ministérios que interessam diretamente ao Brasil passarão para as mãos do Partido Verde: Economia e Clima; Meio Ambiente; e Relações Exteriores. O novo governo promete uma política externa voltada para a defesa do meio ambiente e das minorias. A pressão sobre o governo brasileiro vai aumentar: "Haverá um endurecimento nas relações", avalia Costa.

O novo enfoque no combate às mudanças climáticas pode levar, por exemplo, a restrições à importação de produtos que contribuam para o aumento do efeito estufa, como a carne e a soja - inclusive do Brasil.

Em relação ao acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia (UE), as perspectivas também não são boas. "As coordenadas já não são favoráveis, e agora pode ter uma reviravolta", diz Costa. Pelo menos, enquanto o atual governo estiver no poder: "O grande fantasma para o acordo entre a UE e o Mercosul se chama Bolsonaro."

Já o Ministério para a Cooperação e Desenvolvimento, responsável pelo Fundo Amazônia, ficará com os social-democratas do SPD – o que também deve evidenciar ainda mais as diferenças em relação ao governo Bolsonaro, segundo o professor.

Também diretor do Instituto de Estudos Latino-Americanos, em Berlim, Costa lembra que SPD, verdes e liberais se comprometeram ainda a apoiar os movimentos sociais "que defendem a democracia" e a "fortalecer as lutas contra populistas e autocratas" na América Latina e Caribe. O que pode ser uma boa notícia para organizações que trabalham com os mesmos valores na região.

Com 20 livros publicados como autor ou coeditor, o sociólogo diz que não só a Alemanha vai mudar, mas também a União Europeia - que passará a ter papel mais pronunciado na proteção do clima e do meio ambiente: "Esta passa a ser uma agenda europeia."

Nesta quarta-feira, o Parlamento alemão confirmou o nome de Olaf Scholz como novo chanceler federal, colocando fim à era Merkel. É a primeira vez que o país sera governado por numa coalizão formada por social-democratas, verdes e liberais.

DW Brasil: Como o Brasil será visto pela nova coalizão de governo nessa era pós-Merkel que se inicia?

Sérgio Costa: O Brasil deve ganhar mais espaço na agenda política alemã – mas com sinal negativo. Não como um aliado de primeira instância, mas como um dos governos com os quais é difícil trabalhar.

Com a nova coalizão, teremos partidos que são muito mais programáticos do que a CDU (União Democrata Cristã, de Angela Merkel) – especialmente o Partido Verde. Devemos esperar, portanto, mudanças tanto nas relações diplomáticas quanto nas relações comerciais entre o Brasil e a Alemanha.

O ministério das Relações Exteriores – uma pasta que interessa diretamente ao Brasil – ficou justamente com o Partido Verde. Haverá um endurecimento nas relações bilaterais?

Com a copresidente do Partido Verde (Annalena Baerbock) à frente do Ministério das Relações Exteriores, haverá uma linha geral de política externa que enfatize o multilateralismo, e o fortalecimento dos direitos humanos e de minorias, tais como indígenas, negros, mulheres e LGBTQ, e uma posição muito clara em relação a temas de meio ambiente e clima, no sentido da mudança climática.

E o Partido Verde não estará sozinho. Esses itens são uma pauta importante também para os social-democratas e os liberais. Em todos esses campos, haverá realmente um endurecimento nas relações com o Brasil.

Os verdes vão assumir ainda dois ministérios que também dizem respeito ao Brasil: o de Meio Ambiente e o superministério de Economia e Clima. Como isso deve afetar as relações entre o governo alemão e o governo Bolsonaro, em meio a recordes de desmatamento na Amazônia?

É de se esperar cobranças mais duras do governo brasileiro. Com o novo enfoque no clima pode haver, por exemplo, mais controle sobre as emissões de gases do efeito estufa na cadeia produtiva – o que pode levar a restrições na importação de produtos do Brasil, como a carne, e também a própria soja, na medida em que fique configurada a correlação entre o desmatamento e a expansão da soja.

Mesmo que o governo brasileiro tente negar, essa relação é óbvia. Tudo vai depender da capacidade do partido Verde de impor os seus valores na disputa interna de poder entre os diferentes ministérios. [Continua após o vídeo.]

O Partido Liberal Democrático, que assumirá a pasta das Finanças no novo governo, não poderá frear essa pressão em nome dos interesses comerciais da Alemanha – que tem no Brasil seu maior parceiro na América do Sul?

Nós vamos ver um jogo de forças. O novo ministro das Finanças, Christian Lindner, é a favor da liberdade completa da economia. E o partido liberal é, por definição, muito favorável aos atores econômicos. Em que medida esses interesses poderão ser contrariados para atender aos interesses do respeito ao meio ambiente e das minorias, e à contenção da mudança climática, para que lado vai pender a balança entre essas duas forças, é algo que ainda está em aberto.

Mas os liberais ratificaram, no acordo de coalizão, a proposta de fortalecimento das sociedades na luta contra o populismo, os movimentos autoritários e as ditaduras na América Latina. Nesse aspecto, pelo menos, eles não estão afinados?

Com certeza. Ainda que possa haver diferenças em relação à economia, no que diz respeito à proteção da democracia e das liberdades individuais, como na manifestação da sexualidade, o Partido Liberal é tão rigoroso e intransigente quanto os social-democratas e os verdes.

Nesse sentido, eles têm nos liberais um aliado muito forte. E a parte que se refere à América Latina e ao Caribe diz claramente que uma das prioridades é apoiar os movimentos sociais que defendem a democracia, e fortalecer as lutas contra populistas ou autocratas nessa região. Isso indica que o novo governo irá incentivar movimentos que trabalhem com os mesmos valores que ele, buscando alianças. E isso pode ter consequências, obviamente, em relação ao Brasil. Sob esse ponto de vista, pode ser esperar uma clareza maior do que nos governos comandados por Merkel.

::Análise | O fim da Era Merkel e a volta da centro-esquerda ao poder na Alemanha: e agora?::

O acordo de coalizão condiciona o acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia a compromissos vinculantes nas áreas de meio ambiente e direitos humanos. Haverá impacto sobre a ratificação desse acordo?

Sim, as coordenadas já não são favoráveis, e agora pode haver uma reviravolta. Não existe a menor dúvida de que o grande fantasma – mesmo que não seja mencionado o nome dele – para o acordo entre a União Europeia (UE) e o Mercosul se chama Bolsonaro.

O medo do que Bolsonaro significa em termos de clima, direitos humanos e democracia é que impede esse acordo de já estar completamente consolidado e assinado. É de se esperar que a nova coalizão seja ainda mais intransigente na exigência de compromissos com relação à proteção do meio ambiente e dos direitos humanos. Não só a Alemanha vai mudar, como a UE deve ter um papel mais pronunciado em relação à proteção do clima e ao meio ambiente. Com a influência da Alemanha, essa passa a ser uma agenda europeia.

O Ministério para Cooperação e Desenvolvimento, responsável pelo Fundo Amazônia, vai passar para as mãos dos social-democratas. As diferenças em relação ao governo Bolsonaro devem se aprofundar ainda mais?

Sem dúvida. Simbolicamente, esse é um ministério muito importante. Ele tem capilaridade e penetração social, e atinge desde instituições de caridade até ONGs, inclusive na região Amazônica. Nele se define qual o desenvolvimento que se quer promover e cofinanciar.

E é claramente o desenvolvimento sustentável, não só socialmente, mas também ambientalmente. A discussão sobre o Fundo Amazônia estava nas mãos do partido CSU (União Social Cristã, conservadora), que detinha o ministério, e endureceu a relação a ponto de cortar esses recursos.

Duas pautas frequentes das negociações com o Brasil eram a proteção do meio ambiente e de minorias - sobretudo da população indígena. Mas sempre houve um cuidado de não provocar rupturas. Sob a regência do partido social-democrata essas exigências devem ser ainda mais enfáticas, com programas de cooperação e transferência de recursos sendo usados para pressionar o governo brasileiro.

Um novo governo na Alemanha seria capaz de influenciar, de alguma forma, as eleições no Brasil em 2022, levando em conta a antiga relação entre os social-democratas, que estarão no poder, e Luiz Inácio Lula da Silva, que hoje desponta como favorito?

Não acredito que a política externa possa ter uma importância tão grande nas eleições do Brasil, um país continental onde os eleitores se preocupam pouco com a política externa. Nas últimas eleições, a Venezuela ganhou importância. Mas era muito mais porque as pessoas temiam que o Brasil se tornasse uma Venezuela.

Episódios recentes, porém, dão uma boa medida das relações entre Brasil e Alemanha hoje. Por exemplo, a liderança de um partido de extrema-direita, a AfD, foi recebida no Brasil por Bolsonaro. Este é um partido marginal na política alemã. Nenhum ator democrático aceita qualquer cooperação com a AfD na Alemanha e na Europa.

Ao mesmo tempo, Lula foi recebido pelo futuro chanceler federal (Olaf Scholz) quando veio à Europa. Isso tem uma importância simbólica. Pode ressaltar as diferenças entre Lula e Bolsonaro, que nunca conseguiu ter receptividade na Europa - a não ser da extrema direita. E pode até ter algum impacto para um eleitorado mais escolarizado e atento. Mas a influência disso na eleição será muito pequena.

SAIBA MAIS: Encontro de Bolsonaro com extremista alemã expõe "articulação global da extrema direita"

Bolsonaro também não foi recebido por Angela Merkel – que, por sua vez, nunca visitou o Brasil durante o  governo dele. Esse distanciamento tende a piorar?

O Brasil, do ponto de vista da política exterior, ficou completamente isolado, sobretudo depois da derrota do Trump (Donald Trump, ex-presidente americano), que não foi reeleito. Seus parceiros internacionais são hoje países sem grande expressão. Ninguém quer se aproximar do Brasil na arena internacional. Não é, obviamente, pelo país, nem pela sociedade, nem pela sua potencialidade econômica e social. É pelo governo que ele tem. Há um distanciamento claro do governo Bolsonaro.

Os diplomatas, inclusive embaixadores brasileiros no exterior, estão isolados, porque nenhum país democrático quer cooperar estreitamente com o Brasil. O governo da Merkel não foi diferente. Colocou o Brasil na geladeira.

Apesar do histórico de relações bastante intensas, não só econômicas, mas também políticas e diplomáticas, essa cooperação estratégica perdeu a importância nos últimos anos. O que pode acontecer agora, com a nova coalizão, é que esse distanciamento passe a ser ativo. Não como no governo Merkel, que evitou as relações com o Brasil. Com a nova coalizão, pode haver uma cobrança de fato em relação ao Brasil.

https://www.brasildefato.com.br/2021/12/08/brasil-deve-esperar-cobrancas-mais-duras-da-alemanha-diz-professor-da-universidade-de-berlim

quinta-feira, 14 de outubro de 2021

O brasileiro voador e a marcha da insensatez - Paulo Roberto de Almeida (OESP)

O brasileiro voador e a marcha da insensatez

 

 

Paulo Roberto de Almeida

Diplomata, professor

O Estado de S. Paulo (14/10/2021; ISSN: 1516-2931; página de Opinião; link: https://opiniao.estadao.com.br/noticias/espaco-aberto,o-brasileiro-voador-e-a-marcha-da-insensatez,70003867264?fbclid=IwAR2CtQC_VxSzKho3HV5DS5skHx0OEPogkC7WxsvUz716DoccM06I3eEzl9A). Relação de Originais n. 3978.

  



O título evoca uma lenda e um livro de história. A lenda é a do Holandês Voador, um veleiro holandês do século 18, cujo capitão enlouqueceu ao singrar os mares sem destino, passando a atrair outros navios, arrastando-os a uma destruição certeira no fundo do oceano. O livro é o da historiadora americana Barbara Tuchman, A Marcha da Insensatez(1984), que trata dos erros, falhas, ilusões e até crimes de governos que insistem em se afastar da realidade dos fatos para perseguir suas alucinações na condução dos negócios do Estado. 

O presidente brasileiro é o holandês voador, que leva o veleiro do Brasil a uma destruição quase certeira, ao insistir em loucuras e erros de administração. Em lugar de tratar dos problemas do país – inflação, falta de crescimento, desemprego, pandemia, déficits orçamentários e aumento da dívida pública –, insiste em perseguir suas obsessões: armamentismo, voto impresso, devastação de reservas indígenas pela mineração e pelo garimpo ilegal, defesa de notícias falsas para seduzir e manter sua clientela, desprezo pela vida humana em face da pandemia e reeleição a todo custo, para escapar de processos por crimes cometidos, seus e da família. 

O Brasil é o veleiro desgovernado, levado ao vórtice de um afundamento por uma administração não apenas caótica, mas totalmente desprovida de direção, tendo no timão um desequilibrado, fixado apenas em suas obsessões. A insensatez do capitão do navio fantasma insiste em submeter dois outros poderes à sua agenda destrambelhada, na qual todos devem ceder à miragem de um crescimento imaginário, bastando explorar as fabulosas riquezas escondidas da Amazônia, liberdade total em meio à pandemia, sem limites às despesas do Estado, cada qual cuidando de sua segurança por meio de suas próprias armas. 

A visão do capitão do navio é a de uma guerra de todos contra todos, concepção hobbesiana da política, na qual ganha quem se impõe pela força das armas, não pela via do funcionamento das instituições, pelo respeito às leis estabelecidas, dentro dos limites do Estado. Tal visão confrontacionista foi pela primeira vez exposta no jantar na embaixada em Washington, em 2019, quando o capitão confessou sua visão peculiar como gestor, como sendo a de destruir muito do que existia, antes de se pensar em construir qualquer coisa. O que existia eram: direitos dos indígenas sobre suas reservas, limites à capacidade financeira do Executivo, preservação dos recursos naturais ou exploração sustentável, controle de armas, normas para tráfico e a segurança dos passageiros, inclusive crianças, livre trabalho de uma imprensa investigativa numa democracia sem adjetivos, enfim, o império da lei em lugar da imposição da vontade individual de um dirigente de plantão. 

O Brasil vem sendo levado à marcha da insensatez nos palanques eleitorais do capitão – sustentados com dinheiro público – assim como ao isolamento no plano internacional por sua postura desvinculada das boas normas do relacionamento diplomático e de compromissos internacionais já aceitos pelo Brasil, sobretudo nas áreas ambiental e de direitos humanos. A maior loucura foi o caos no enfrentamento da pandemia, levando o Brasil, com apenas 2,7% da população mundial, a exibir mais de 12% das vítimas da Covid, atrás apenas dos Estados Unidos, penalizado por uma mentalidade antivacinal. O capitão é o último negacionista do planeta. 

Até quando as instituições continuarão sendo atacadas pelo capitão, num desrespeito que beira o insulto e os ataques mais insidiosos? Até quando brasileiros ingênuos serão levados à morte pelo seu comportamento irresponsável na pandemia? Até quando continuará a comprar o apoio dos legisladores, violando o processo orçamentário? Até quando a diplomacia suportará as atitudes irresponsáveis do capitão no plano externo, deixando o Brasil isolado no diálogo com todos os seus grandes parceiros? 

A marcha da insensatez levou o veleiro do Brasil ao vórtice de um afundamento pela inflação crescente, pela fuga de capitais e de investimentos, pelo descontrole dos gastos públicos por motivos eleitoreiros, fatores que nada têm a ver com a agenda da retomada econômica. O desrespeito às instituições resulta da obsessão eleitoral de um capitão que navega errante, ao sabor das correntes políticas. O veleiro está perdido num oceano de incertezas, sem bússola e sem mapas de navegação, levado pelos ventos erráticos da vontade de um capitão que não tem a menor noção dos deveres dos governantes para com os governados. O declínio é visível e encomendado, dada a ausência de qualquer objetivo compatível com os interesses do país, um velejar incessante pelos mares da loucura autoproduzida por quem tomou a direção do veleiro nacional. 

Até quando a sociedade brasileira vai navegar ao sabor dos ventos, sem qualquer atenção a seus problemas mais prementes? Até quando vamos permitir essa marcha ao desastre? 


[Brasília, 3978: 20 setembro 2021, 2 p.]


Versão original:


O brasileiro voador e a marcha da insensatez

  

Paulo Roberto de Almeida

Diplomata, professor

(www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com)

 

 

O título evoca tanto uma lenda quanto um livro de história. A lenda é a do Holandês Voador, o capitão de um veleiro holandês do século XVIII, que enlouqueceu ao singrar os mares sem destino, passando a atrair outros navios com sua luz bruxuleante e arrastando-os a uma destruição quase certeira no fundo do oceano. O livro é o da historiadora americana Barbara Tuchman, A Marcha da Insensatez (1984), que trata, da guerra de Troia ao Vietnã, dos erros, falhas, ilusões e até crimes de governos que insistem em se afastar da realidade dos fatos para perseguir suas próprias alucinações na condução dos negócios do Estado. 

O presidente brasileiro é o nosso holandês voador, que leva o veleiro do Brasil a uma destruição quase certeira, ao insistir em suas loucuras e erros de administração: em lugar de tratar dos problemas reais do país – inflação, falta de crescimento, desemprego, efeitos da pandemia, déficits orçamentários e aumento da dívida pública –, ele insiste em perseguir suas mais loucas obsessões: armamentismo, voto impresso, devastação de reservas indígenas pela mineração e pelo garimpo ilegal, defesa e promoção de notícias falsas para seduzir e manter sua clientela eleitoral, desprezo pela vida humana no enfrentamento da pandemia e reeleição a todo custo, para escapar de possíveis processos por crimes cometidos, seus e da sua família. 

O Brasil é o veleiro desgovernado que está sendo levado ao vórtice de um possível afundamento por uma administração não apenas caótica, mas totalmente desprovida de direção, conduzida por um desequilibrado que tem apenas em mente aquelas suas obsessões, em lugar da correta gestão do Estado. A insensatez do capitão do nosso navio fantasma insiste em submeter os dois outros poderes à imposição de sua agenda destrambelhada, na qual tudo e todos deveriam ceder à miragem de um crescimento fantástico, bastando que se explorassem fabulosas riquezas escondidas no fundo da Amazônia, que se deixassem todos livros para trabalhar em meio a uma pandemia, que não houvesse limites às despesas do Estado e onde todos seriam livres para garantir sua própria segurança individual e se defender com suas próprias armas às ameaças representadas pelos meliantes habituais das nossas cidades, ou que honestos agricultores possam enfrentar tropas do MST decididos a invadir suas terras. 

A visão bélica do presidente é a de uma guerra de todos contra todos, uma concepção hobbesiana da vida política, na qual ganha sempre aquele que se impõe com a força da vontade, não com o funcionamento correto das instituições, o respeito às leis estabelecidas e o atendimento dos limites das possibilidades do Estado. Essa visão confrontacionista foi pela primeira vez exposta no célebre jantar, em 2019, na embaixada do Brasil em Washington, na qual o presidente confessou sua visão peculiar de sua obra de gestor, como sendo, primeiro, a de destruir muito do que existia, antes de se pensar em construir qualquer coisa. O que existia eram os direitos dos indígenas sobre suas reservas, limites aos poderes administrativos e financeiros do Executivo, a preservação dos recursos naturais ou sua exploração de modo sustentável, o controle dos meios de matar, simples normas para a circulação de automóveis e a segurança dos passageiros, inclusive e sobretudo crianças, o livre trabalho de uma imprensa investigativa numa democracia sem adjetivos, enfim, o império da lei em lugar da imposição da vontade individual de um dirigente de plantão. 

O Brasil vem sendo levado a uma marcha da insensatez pelos palanques eleitorais contínuos do presidente – sustentados pelo dinheiro público – assim como ao isolamento completo no plano internacional por uma postura absolutamente desvinculada das boas normas do relacionamento diplomático e em relação a compromissos internacionais já aceitos pelo Brasil, sobretudo nas áreas ambiental e de direitos humanos. A maior loucura foi, evidentemente, o caos existente no enfrentamento da pandemia o que levou o Brasil, tendo apenas 2,7% da população mundial, a exibir mais de 12% das vítimas da Covid registradas no planeta, atrás apenas dos Estados Unidos, igualmente penalizado por uma mentalidade antivacinal e contrária aos cuidados sanitários básicos, que aqui é constantemente estimulada pelo próprio chefe de Estado, possivelmente o último negacionista do planeta. 

Até quando as instituições consentirão em ser atacadas por quem dirige um dos três poderes e deveria respeitar a independência dos dois outros, num desrespeito que beira o insulto e os ataques mais insidiosos? Até quando brasileiros ingênuos ou subservientes às loucuras do chefe de Estado serão levados à morte por um comportamento irresponsável na pandemia? Até quando os cuidados com os estratos mais frágeis da população continuarão a ser deixados de lado, ao mesmo tempo em que o chefe do Executivo insiste em comprar o apoio dos legisladores violando o processo orçamentário por condutos paralelos, clandestinos das verbas públicas? Até quando a cidadania responsável suportará as atitudes irresponsáveis do chefe de Estado no plano internacional, o que deixou o Brasil completamente isolado no diálogo com seus grandes parceiros tradicionais? 

A marcha da insensatez no Brasil levou o veleiro do país ao vórtice de seu possível afundamento pela inflação crescente, pela fuga continuada de capitais e de investimentos, ao descontrole dos gastos públicos por motivos puramente eleitoreiros, por uma série de outros fatores que nada têm a ver com uma agenda inadiável de recuperação econômica e de respeito ao funcionamento normal das instituições, em função da obsessão eleitoral de quem passa por chefe de um Executivo que navega errante, ao sabor das correntes da política. O Brasil está perdido num oceano de incertezas, sem bússola e sem mapas de navegação, levado pelos ventos erráticos da vontade de um homem que não tem a menor noção dos deveres dos governantes para com os governados. O declínio é visível e aparentemente encomendado, dada a ausência de qualquer objetivo compatível com os interesses do país, um velejar incessante pelos mares da loucura autoproduzida por quem tomou a direção do veleiro nacional. 

Até quando a sociedade brasileira vai navegar ao sabor dos ventos, sem qualquer atenção a seus problemas mais prementes? Até quando vamos permitir essa marcha ao desastre? 

 

 

Paulo Roberto de Almeida

[Brasília, 17 setembro 2021, 3 p.; 1000 palavras.]


sábado, 4 de setembro de 2021

Ricardo Bergamini ataca o falso liberalismo do capitão e diz que o Grande Capital já se cansou dele

 Em 2018, a união enterrou R$ 24,1 bilhões (0,34% do PIB) nas lixeiras das estatais. Em 2020, enterrou R$ 46,9 bilhões (0,63% do PIB). Crescimento real em relação ao PIB de 85,29%. Avança Brasil para o abismo.

 

Prezados Senhores

 

O ‘Talibã’ brasileiro prega golpe militar, ditadura e AI-5, com liberdade de expressão e opinião para 'violências, mentiras e ameaças',

 

Se existir algum aloprado talibã com um mínimo de inteligência deveria saber que um possível golpe militar seria sem Bolsonaro, mas sim sob o comando de um general de exército da ativa. Assim sendo, em quaisquer das hipóteses possíveis, Bolsonaro voltará para sua origem, qual seja, o comando das milícias no Rio das Pedras e na Muzema, no Rio de Janeiro.

 

Os brasileiros honestos pensam conforme Roberto Campos.  Os canalhas, vagabundos, pilantras, moleques e vigaristas pensam em golpe. 

 

Graças a Deus podemos comemorar antecipadamente a vitória da democracia, do saber e do conhecimento, da razão e da lógica, conforme pregava o mestre Roberto Campos, livrando o Brasil desse maldito pesadelo do governo desses milicianos aloprados, que serão julgados e condenados com base na lei e na ordem por todos os crimes cometidos contra o Brasil.

 

O Brasil não merece a pureza e a santidade do clã Bolsonaro.

 

 

Casa-grande pede divórcio de Bolsonaro

 

O liberalismo e o capital dão um aviso ao presidente: basta de intervenção estatal, ataques à democracia e manobras golpistas. Parece sina do País: o Leviatã sempre a engolir a proposta liberal

Crédito: Divulgação

Antonio Carlos Prado/ISTOÉ

 

03/09/21 - 09h30

 

Não é pouco o que o golpista presidente Jair Bolsonaro conseguiu em cerca de novecentos e oitenta dias de mandato. Em um fato inédito na jornada republicana brasileira, e lá se vão cento e trinta e dois anos de história, Bolsonaro atraiu contra a sua gestão toda a Casa-Grande que abriga as elites dos setores produtivos e de sustentação do País — até o agronegócio, que sempre lhe teceu loas, arrefeceu no apoio. De fato, não é pouca coisa. Há de se esforçar muito para exercer tanto desgoverno, a ponto de lhe virarem as costas empresários, banqueiros, agentes financeiros, operadores de serviços, comércio e lideranças do agronegócio, categorias sempre dispostas a se manterem pragmaticamente alinhadas com todos os governos pela manutenção do status quo — hoje, fazem abaixo-assinado contra o mandatário. Houve um Bolsonaro no palanque, mentindo sobre as suas convicções liberais. Há um Bolsonaro no Planalto, que, desde o primeiro bocejo com a incumbência do mandato, promoveu um Estado intervencionista e foi, dia após dia, tentando solapar o regime democrático – liberalismo não existe sem democracia, democracia não sobrevive sem liberalismo. A Casa-Grande se divorcia agora do presidente, feito um aviso contra os seus reincidentes atos antidemocráticos. Veio o estágio do rompimento devido a tais atos contra o Judiciário e o Legislativo, sugestivos de vocação golpista, e a partir de crescente intervencionismo estatal, a ferir os princípios liberais da liberdade individual, econômica, religiosa e intelectual.

 

Falou-se em dia após dia… chega-se à semana passada. A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) organizou o manifesto “A Praça é dos Três Poderes”, alusão ao republicano poema de Castro Alves, que diz: “a praça é do povo assim como o céu é do condor”. Tal manifesto, encabeçado pelo presidente da Fiesp, Paulo Skaf, e endossado pela Federação Brasileira dos Bancos (Frebaban), é vago; se sacudido derruba ao chão expletivos por todos os lados; é meramente protocolar. Defende o óbvio do republicanismo proposto por Charles-Louis de Secondat: a necessidade de “harmonia entre os três poderes” diante da escalada das ameaças de ruptura à ordem democrática”.

 

Com mais de duzentos signatários o texto transitou pela Frebaban, e o governo passou a acusá-la de enrijecê-lo com ataques ao mandatário (isso não ocorreu), tese que ganhou o apoio do ministro da Fazenda, Paulo Guedes. O dramaturgo Terêncio, desde o século II a.C, ensina que, também em matéria de economia, “nada que é humano me é estranho” (reflexão que ganhou cores filosóficas com William Shakespeare). Há quem diga que a frase encarnou em Guedes,… mas isso é maledicência, voltemos aos fatos… Bolsonaro e Guedes já guardavam a intenção de fazerem a Caixa e o Banco do Brasil se excluírem da Febraban. Veio o momento. A interferência em tais bancos públicos será investigada pelo TCU. Quanto ao Terêncio do século 21, será ele chamado pela Câmara dos Deputados para explicar se na Escola de Chicago, em aulas do doutor Milton Friedman, um dos pais do liberalismo, defendia-se a ingerência política em instituições financeiras.

 

Skaf, no estilo Skaf, negociou isoladamente com o presidente da Câmara, Arthur Lira, no estilo Lira. Acordaram de divulgar o manifesto somente após o Sete de Setembro. O acordão se deu sem que Skaf tenha consultado a Frebraban ou as mais de duzentas entidades que assinam “A Praça é dos Três Poderes”. Essa autonomia que Skaf deu a si mesmo fez a coisa pegar fogo. O presidente da Febraban, Isaac Sidney, declarou que a instituição manteria o seu nome no manifesto. E vê-se, assim, o máximo da sandice do governo federal: achar que no capitalismo dá para governar sem apoio do capital. A tonalidade em bemol saltou para sustenido. Nunca se vira tamanho divórcio litigioso do PIB com o governo — sequer em 1964, quando a balbúrdia da gestão do então presidente João Goulart empurrava o País ao socialismo. Naquela época, a maioria dos empresários queria Jango fora do poder, mas havia lideranças empresariais que defendiam a sua manutenção em nome da democracia. Bolsonaro conseguiu reunir, na Casa-Grande, mais adversários que o próprio presidente estancieiro. De volta ao presente, banqueiros e agentes financeiros falaram, preservando seus nomes. Damos-lhes voz: “o mercado financeiro se divorciou de Bolsonaro”. Outro: “não há mais relação”. Fala um agente financeiro: “o presidente vai radicalizar. Fará de tudo para derrubar o regime democrático”. Na quinta-feira 2, Bolsonaro contou com uma aliada: a Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg) disparou um manifesto criticando o STF e em apoio a sites que espalham fake news. Houve troco: duzentos poderosos empresários mineiros lançaram um documento condenando a Fiemg.

 

Retornando ao cenário anterior e mais amplo, a lambança de Skaf e Lira fez com que sete entidades representativas do agronegócio se pronunciassem: “Em uma palavra, é de liberdade que precisamos para empreender, gerar e compartilhar riqueza, para contratar e comercializar no Brasil e no exterior”. O agronegócio passou a falar em desemprego e fome. Falou em povo. Na verdade, todos os setores produtivos e de sustentação, em uma comparação bem livre, hoje se assemelham a uma espécie de Terceiro Estado da Revolução Francesa, a um “renascer da burguesia” liderando os cuidados com os interesses de brasileiros famintos. Bolsonaro é o Segundo Estado, antiga avara nobreza dos tempos do absolutismo a esmagar a sociedade. O capitão quer a ditadura? Deveria saber que o ditatorial Estado Novo de Getúlio Vargas só se viabilizou em 1937 porque aglutinou o apoio do capital agrário, industrial e comercial. E mesmo em 1930, quando perdeu a eleição realizada em um sábado de carnaval (o povo preferiu ver o desfile da “Deixa Falar”, primeira escola de samba, criada por Ismael silva), Getúlio promoveu e ganhou o poder pela revolução, porque a incipiente industrialização assim precisava. Triunfou com a Aliança Liberal. Sete anos depois, esse liberalismo foi engolido pelo Leviatã — aí tudo começou dar errado, parece sina nacional. Ou seja, sem a parceria dos mais diversos setores da economia, das finanças, das empresas, do comércio, dos serviços, do agronegócio — sem o capital, enfim — não se governa. E Estado abelhudo e agigantado atrapalha.

 

Em Goiânia, no último final de semana, Bolsonaro, achando-se Getúlio Vargas, dramatizou: “em meu futuro só cabem cadeia, morte ou vitória final”. Vamos analisar: a última hipótese já dançou. A morte, isso ninguém quer não, todos optam por Bolsonaro vivo e responsabilizado judicialmente por genocídio. Quanto à cadeia, aí é só trocar. “O céu é do condor”, de Castro Alves, vira “a Papuda é de Bolsonaro”. E o Brasil prosperará com um liberalismo de verdade.