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segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Eleicoes 2014: a anti-politica de Reinaldo Azevedo (1): postando o postado (voltarei...)

Transcrevo abaixo postagem do conhecido jornalista e polemista político Reinaldo Azevedo, desta segunda-feira 25 de agosto (dia do soldado, e da renúncia de Jânio Quadros, para relembrar), dizendo que não votará em Marina Silva de jeito nenhum, se por acaso ela chegar ao segundo turno. Como ele também não vota de jeito nenhum nos petistas, a sua opção é pela: (a) abstenção; (b) voto nulo; (c) voto em branco.
Em qualquer das três hipóteses ele está se eximindo de uma escolha entre os candidatos possíveis no segundo turno, e recusando qualquer um dos dois, no caso provável das duas, presidentes. Ele não terá candidato e não se sentirá representado, portanto.
Como escrevi no título desta postagem, considero isso uma anti-política, e vou dedicar uma segunda postagem para explicar porque eu considero que esse jornalista está sendo contraditório com suas próprias posições, e está se colocando como um juiz de uma disputa, quando ele é apenas um eleitor a mais, dentre os 140 milhões que podem legalmente votar. Ele está se colocando como juiz moral de uma disputa, e como juiz diz que não pode decidir, o que seria virtualmente, ou totalmente impossível numa situação real de justiça: o juiz sempre tem de decidir por alguma solução: absolve, condena, ou no caso de um réu condenado por um juri, atribui a pena, segundo sua apreciação do caso, e SEGUNDO AS LEIS.
Reinaldo Azevedo está dizendo que as leis não lhe servem, e considero isso uma anti-política.
Mas, vou me explicar mais tarde, numa segunda postagem.
Por enquanto fiquem com a postura do jornalista.
Paulo Roberto de Almeida
Hartford, 25/08/2014

Por que jamais votaria em Marina Silva — nem que ela viesse a disputar o segundo turno com Dilma. Ou: Voo cego de um avião sem dono
// Reinaldo Azevedo | VEJA.com

Jamais votaria em Marina Silva. Já expus aqui alguns dos meus motivos. E também na minha coluna de sexta na Folha. Vou avançar. Desde que me ocupo da política, como jornalista, meu esforço é para tirá-la do terreno da mitologia e trazê-la para o da razão — inclusive o da razão pratica. “Poderia votar em Dilma contra Marina, Reinaldo?” Também é impossível. Os petistas me incluíram numa lista negra de jornalistas. Eles querem a minha cabeça e, se pudessem, pediriam a meus patrões que me botassem na rua. Desconfio até que já tenha pedido — não sei. Mas não levaram. Não sou suicida. Não me ofereço àqueles que se pretendem meus feitores. Mas, reitero, nem tudo o que não é PT me serve — e Marina não me serve. Mais: acho que alguns de seus ditos “conselheiros” estão perdendo o juízo e querendo se comportar como os Catões da República. Já chego lá.

Os cardeais da papisa
Marina Silva não é candidata a presidente da República, mas a papisa de uma seita herética — e suas heresias são praticadas contra a democracia representativa. Ela não concede entrevistas. Seus cardeais falam por ela. À Folha, quem garantiu a independência do Banco Central foi Maria Alice Setúbal. Já expliquei e insisto: se o sócio de um grande banco viesse a fazer tal promessa como porta-voz do tucano Aécio Neves ou da petista Dilma Rousseff, nós, da imprensa, não perdoaríamos o deslize. Como se trata de Marina, parece evidência de sabedoria. Tenham paciência! Banqueiros não podem fazer política? Podem e devem. Mas convém não misturar carne com leite nessas coisas. E ponto.

Na Folha desta segunda, mais um cardeal do “marinismo”, Eduardo Giannetti, fala em nome de Marina. Também ele acena para os mercados com a independência do Banco Central, mas o centro de sua entrevista é outro: quer a conciliação política “dos bons”, entendem? Marina, diz ele, pretende governar com o apoio de Lula e de FHC. Ninguém lhe perguntou — e não sei se vão perguntar — por que não se fez antes se é tão fácil. A rigor, em todos os conflitos do mundo, dos mais amenos aos mais sangrentos, sempre se poderia fazer esta indagação: “Por que não, então, juntar os opostos, juntar os litigantes?”

Giannetti teve uma ideia que poderia, enfim, ter evitado todas as guerras, até a de Troia, como num poema de Mário Faustino: “Estava lá Aquiles, que abraçava/ Enfim Heitor, secreto personagem/ Do sonho que na tenda o torturava”. No seu mundo, como no do poema, Saul não briga com Davi, os seteiros não matam Sebastião, e o “Deus crucificado” beija uma segunda vez o enforcado (Judas). Pode ser literatura. Pode ser religião. Uma coisa é certa: política não é.

Há mais: Giannetti resolveu, em sua entrevista, todas as dificuldades e só ficou com as facilidades. Imaginar que PT e PSDB possam estar juntos num governo implica ignorar, logo de cara, o fato de que esses partidos têm vocações e fundamentos que são inconciliáveis. Se o ideário, hoje, dos tucanos é um tanto nebuloso aqui e ali — especialmente na área de valores —, os do PT são muito claros. Ora, ora, ora… Então Marina Silva, a Puríssima, não aceita nem mesmo subir no palanque com Geraldo Alckmin ou com Beto Richa — acordos feitos por Eduardo Campos —, mas aquele que se candidata a ser seu orientador intelectual (já que diz não querer cargo caso ela se eleja) sonha com um governo que possa unir… Aquiles e Heitor. Giannetti é uma pessoa lida, que tem experiência com as palavras. Uma tolice dita por ele parece de qualidade superior à dita por um petista tosco qualquer. Mas é apenas isto: uma tolice dita com charme.

O PMDB
E o homem vai adiante. O sonho de Giannetti — que não me parece muito distante, mutatis mutandis, de todos aqueles que sonharam com um Rei Filósofo, com um Déspota Filósofo… — é juntar os bons de um lado para isolar os maus de outro. Ele pega carona na fácil demonização do PMDB. Dá a entender que essa é a força que tem de ficar do outro lado da trincheira. Marina, então, seria eleita pelo PSB, com o apoio de FHC e Lula e outras almas superiores do Congresso, uma conspiração dos éticos se formaria e pronto! Tudo estaria resolvido. Tao fácil que a gente lamenta que tantos estúpidos não tenham pensado nisso antes, né?

É mesmo? Será que o PMDB, ao longo da história, tem sido só um problema? Então vamos ver. Marina Silva apoia o Decreto 8.243, aquele que nem é exatamente de Dilma, mas de Gilberto Carvalho. No horizonte da turma que defende esse lixo autoritário, está, inclusive, o controle da imprensa, sim, senhores!, por conselhos populares. Marina não vê mal nenhum nisso porque, afinal, já deixou claro, não dá bola para partidos ou para instâncias formais de representação. O PMDB pode não ser exatamente um convento de freiras dos pés descalços, mas lembro que o partido, em seu congresso, apoiou uma das mais claras e fortes resoluções contra qualquer forma de censura à imprensa. Sugerir que o PMDB atrapalha a democracia ou a torna ingovernável é mais do que um erro; é uma mentira.

O avião
Hoje é dia 25 de agosto. Eduardo Campos morreu no dia 13. Até agora, ninguém sabe a quem pertence o avião. Marina, que voou muitas vezes naquele jatinho e que herda, pois, os instrumentos aos quais recorreu o PSB para fazer campanha, se nega a falar do assunto, como se ele não lhe dissesse respeito. Diz, sim!

Quem se pronunciou foi Beto Albuquerque, candidato a vice. Curiosamente, cobra explicações da Polícia Federal. Como? Aquele que era um dos homens mais próximos do presidenciável morto está exigindo respostas em vez de dá-las? O PSB, vejam vocês, inventou o avião sem dono.

Marina, a mais ética entre os éticos, não aceita doação, no caixa um — o oficial e registrado — de empresas disso e daquilo, mas faz ares de santa da floresta quando se questiona a quem pertencia um jatinho que custava alguns milhões. É essa a “nova política” de que tanto se fala? Vamos ver o que vem por aí: candidaturas e mandatos já foram cassados por muito menos. Que se apure tudo, mas há um cheiro fortíssimo de caixa dois na campanha, não é mesmo?

Messianismo
Marina carrega nas tintas de uma espécie de messianismo pós-moderno, assim, meio holístico-maluco-beleza. A VEJA desta semana a traz na capa. A reportagem, qualquer um pode constatar, não lhe é nada hostil. A figura desenhada nas páginas chega a ser simpática. Um trecho, no entanto, chamou especialmente a minha atenção.

No dia 18, 30 membros da Rede se reuniram em São Paulo para discutir a morte de Campos. Debate político? Claro que não! Isso é coisa superada. Era um papo de outra natureza. Depois de cada um dizer o que sentia, eles se dividiram em trios para escrever palavras para confortar… Marina!!! É, gente… Na Rede — que Giannetti quer ver no governo com o apoio de Lula e FHC —, não existem vitoriosos e derrotados quando se debate uma ideia. Há um troço chamado “consenso progressivo”. A exemplo do Cassino do Chacrinha, a reunião “só acaba quando termina” — e todos ganham. Em maio, para definir os dois porta-vozes da Rede, eles ficaram reunidos por 18 horas. Tinha de ser um homem e uma mulher para contemplar as diferenças de gênero… Tenham paciência!

Conheço gente que já frequentou esse círculo de iniciados. A coisa parece ser mesmo do balacobaco. Marina é o Pablo Capilé da floresta, e sua Rede lembra, em muitos aspectos, o tal grupo Fora do Eixo. As pessoas lhe dedicam um silêncio reverente e estão certas de que ela mantém mesmo uma certa comunicação com entes que não estão exatamente entre nós.

Estou fora
Não caio nessa, sob pretexto nenhum — nem mesmo “para tirar o PT de lá”. Na democracia, voto útil é voto inútil. Se Deus me submetesse à provação — espero que não aconteça — de ter de escolher entre Dilma e Marina, escolheria gloriosamente “nenhuma”! Se a turma do coquetel Molotov estava sem candidata e agora encontrou a sua, eu, que sou um partidário da democracia representativa e das instituições democráticas, deixarei claro, nessa hipótese, que estarei sem candidato no segundo turno. Mas torço e até rezo para que o Brasil seja poupado.

De resto, vou insistir numa questão: Marina Silva é governo no Acre há 16 anos. Seu marido deixou um cargo no secretariado de Tião Viana na semana passada. Mas a sua turma está lá, aboletada na gestão petista. Digam-me cá: quando Viana, seu aliado, começou a despachar haitianos para São Paulo, de uma maneira indigna, escandalosa, Marina disse exatamente o quê, além de nada? Qualquer bagre teria merecido dela mais atenção! Pareceu-me uma reação muito pouco caridosa a sua.

E não tenho como esquecer o fato de que, há menos de dois anos, Marina estava lutando por um Código Florestal que iria reduzir a área plantada no país. Como alternativa para seu desatino, ela tirava das dobras de seus numerosos xales um certo “ganho de produtividade” que compensaria a perda. Propunha isso, com o desassombro e a retórica caudalosa de sempre, como se o Brasil não tivesse hoje uma agricultura e uma pecuária entre as mais produtivas do mundo. Do mesmo modo, incentivou a crítica verdolengo-obscurantista a Belo Monte, num país que enfrenta escassez de energia.

Marina Silva? Não! Muito obrigado! Não quero! “Ah, mas ela pode ser eleita e fazer um grande governo…” É, tudo pode acontecer. Não tenho bola de cristal. Quando voto, levo em conta o passado dos candidatos, suas utopias, suas prefigurações, sua visão de mundo, o apreço que têm pela democracia, a factibilidade de suas propostas.

Se eu tivesse alguma dúvida — já não tinha —, ela teria se dissipado com a entrevista concedida por Giannetti nesta segunda: Marina quer governar com o apoio de FHC e Lula… Então tá! É até possível que os dois, por elegância ou sei lá o quê, venham a dizer que, se isso acontecer, tudo bem. Ocorre que o Brasil não é um país comandado por aqueles líderes de clãs do Afeganistão. O Brasil sofreu um bocado para ter uma democracia gerida por partidos e por instituições. Ainda não chegou a hora de sermos um Brasilstão, governado por uma santa rodeada de conselheiros de fino trato. Isso nada tem a ver com democracia. Isso é só mais um delírio de intelectuais, ainda e sempre os mais suscetíveis às tentações autoritárias.

Os idiotas que acham que sou antipetista a ponto de votar até num sapo se o PT estiver do outro lado nunca entenderam direito o que penso. Em dilemas que são de natureza moral, não havendo o ótimo, a obrigação é escolher o caminho menos danoso. Na democracia, felizmente, temos a possibilidade de recusar o ruim e o pior.

De todo modo, espero que a onda passe e que o destino do país não seja definido pelo cadáver de alguém que não havia se explicado o suficiente em vida. É isso.

#prontofalei

Texto publicado originalmente às 4h30

domingo, 30 de junho de 2013

O julgamento que descontentou as mulheres e arrepiou os homens...

Ops, as mulheres acharão injusto, os homens pensarão duas vezes...
Catherine Kieu decepou o membro de seu marido e o jogou no triturador de lixo
O Globo, 29/06/2013

Um juiz sentenciou à prisão perpétua com possibilidade de condicional uma mulher no sul da Califórnia que decepou o pênis de seu marido e o jogou no triturador de lixo. Catherine Kieu, 50, foi considerada culpada por um júri de Orange County em abril por mutilação grave e tortura após a agressão contra seu ex-marido em julho de 2011.
Ela drogou o ex-marido antes de atá-lo e decepar seu pênis com uma faca. Ela então jogou o órgão genital em um triturador de lixo. Um advogado de Catherine, nascida no Vietnã, argumentou no julgamento que ela havia sofrido abuso sexual em sua infância, o que a deixou com estresse pós-traumático. Ela demonstrou remorso sobre o ataque, disse ele.
Após a audiência, a vítima - identificada apenas como Glen - disse que desejava que o juiz Richard Toohey tivesse aplicado uma sentença mais dura, noticiou o City News Service.
- No fundo, eu esperava uma sentença mais pesada, mas dadas as restrições da lei, é o que ele tinha de fazer - disse ele. - Pode haver uma situação em que eu possa ser feliz. Mas completamente? Nunca - afirmou.

terça-feira, 31 de julho de 2012

Mensalao (2): um julgamento historico - Reinaldo Azevedo

De fato, o mensalão existe, e não apenas sob a forma daquele processo espúrio de compra de votos, denunciado em 2005. Ele continua todos os dias, com as transferências de dinheiro para a UNE, para os sindicatos, para ONGs de fachada, para supostos movimentos sociais, e sobretudo para esse conjunto de mercenários das comunicações, que mantém uma rede de difamação e ofensas, a favor de certas causas.
Abaixo mais um comentário apropriado. 
Paulo Roberto de Almeida 

Reinaldo Azevedo, 31/07/2012

Qual é o artigo do Código Penal que prevê pena para o “mensalão”? Nenhum! Esse crime não está tipificado, mas corrupção ativa, corrupção passiva, peculato e formação de quadrilha, ah, estes estão, sim! O Globo trouxe ontem uma entrevista com o ex-procurador-geral Antonio Fernando de Souza, e ele faz justamente essa observação. De saída, vamos notar uma coisa: quando o ex-deputado Roberto Jefferson cravou o termo “mensalão”, criava-se ali uma marca, que contribuiu para popularizar o escândalo. Mas também se abriu uma janela devidamente aproveitada por Márcio Thomaz Bastos, então ministro da Justiça e hoje advogado de um dos acusados — o que é, convenham!, do balacobaco! Além disso, é uma espécie de mentor espiritual de muitos defensores. Adiante!
Há espertinhos por aí que tentam negar a existência do mensalão afirmando que não havia o pagamento regular, todo mês… Ora, todo mundo sabe disso! “Mensalão” é aquele que as estatais pagam para a rede suja da Internet, né? Sigamos. Também se sustenta que o imbróglio nunca existiu porque não faria sentido pagar parlamentares da base, que estariam com o governo de qualquer jeito. Huuummm… Estariam, é? O fato é que receberam dinheiro na boca do caixa. O que faziam com o seu voto não tem a menor importância.
Assim, é evidente que o crime, em si, não é o “mensalão”. Não existe um artigo pra ele. As práticas criminosas têm outros nomes. E com que objetivo? Arrecadar dinheiro para pagar a súcia. Atenção para isto: ainda que aqueles patriotas tivessem usado toda a grana para construir creches para as criancinhas pobres ou  abrigos para os velhinhos desamparados, teriam incorrido nas mesmas ilegalidades. A destinação do dinheiro não muda a natureza do que se praticou. Os fins não alteram a natureza do assalto aos cofres públicos. Como disse Antonio Fernando Souza, mesmo que tivessem queimado o dinheiro, o fato criminoso continuaria na origem dos recursos.
Quando Bastos tirou do colete a tese do “caixa dois de campanha”, pretendeu, com ela, admitir um crime eleitoral, mas não os outros. Vamos ver. Se  aquelas práticas eram inaceitáveis ainda que o intento fosse proteger criancinhas e velhinhos, por que haveriam de ser admitidas com o propósito de pagar as dívidas eleitorais dos companheiros e seus aliados? Entenderam o ponto? Negar o caráter mensal dos pagamentos ou a sua relação com votações no Congresso é puro diversionismo, coisa para distrair tolos.
O que importa é saber como o dinheiro do Banco do Brasil, por exemplo, foi usado para constituir o fundo do mensalão, por intermédio das agências de Marcos Valério, segundo constatou a CPMI dos Correios. Transcrevi ontem um trecho do relatório. Trata-se de uma lambança asquerosa. Se o dinheiro ilegal que chegou às mãos das pessoas indicadas por Delúbio Soares foi usado para comprar Chicabom ou para pagar dívidas, isso não tem a mais remota importância.
A propósito: quando estava na corda bamba, Lula admitiu os erros do PT — também era uma tática; fazia de conta que não tinha nada a ver com o rolo — e pediu desculpas. Desculpou-se, afinal de contas, por qual coisa? Por algo que nunca existiu?
Na Folha de hoje, Janio de Freitas volta a defender os mensaleiros. Acusa a imprensa de parcialidade — menos ele próprio e, suponho, aqueles que pensam como ele e que negam não a existência do mensalão (isso é só um nome e não tem importância), mas dos crimes. Mais uma vez, volta a sugerir que estamos diante de um confronto entre progressistas (os réus) e conservadores. De novo, Carlos Lacerda (???) apanhou. Talvez eu tenha notado aquele grão de loucura no texto que Machado de Assis narraria com enorme graça, mas não me estenderei a respeito.
A tese de Janio é menos inocente do que parece. Nada poderia estar mais afinado com José Dirceu, o “chefe de quadrilha” (segundo a PGR). Ao se inventar a patacoada de que estamos, no fundo, diante de um confronto de natureza ideológica, pretende-se forçar os ministros a deixar de lado os crimes e os criminosos em favor de uma escolha política, que só seria justa e legítima se buscasse, então, uma saída à esquerda.
Sabem o mais nojento disso tudo? O mensalão continua. Hoje ele sustenta o subjornalismo a soldo, regiamente pago com dinheiro público para difamar a oposição, a imprensa livre e parte do Judiciário. E para defender criminosos.

sábado, 16 de junho de 2012

O Stalin sem Gulag, 2 (ainda bem) - Augusto Nunes


Coluna de Augusto Nunes
12/06/2012
 às 21:49 \ Direto ao Ponto

Para mostrar a força da tropa, Dirceu planeja a Marcha pela Impunidade dos Bandidos

Vencido pelo padeiro de Ibiúna em 1968, paralisado pelo medo nos anos 70, debilitado pela arrogância crescente nas décadas seguintes, José Dirceu foi definitivamente derrotado pelo tamanho do prontuário em 2005, quando se descobriu que o chefe da Casa Civil do governo Lula também chefiava a quadrilha do mensalão. Mas o revolucionário de araque está sempre pronto para perder mais uma, constatou o post publicado neste espaço em junho de 2010.
Continua o mesmo, avisa a discurseira beligerante no congresso nacional de uma certa União da Juventude Socialista. Assustado com a aproximação de 1° de agosto, quando o Supremo Tribunal Federal começará a decidir o destino dos mensaleiros, Dirceu pediu à plateia, como Fernando Collor às vésperas da queda, que não o deixe só. “Todos sabem que este julgamento é uma batalha política”, fantasiou o réu soterrado por provas que permitem condená-lo por corrupção ativa e formação de quadrilha.
Depois de tirar do armário o trabuco imaginário, declarou-se pronto para a guerra. “Essa batalha deve ser travada nas ruas também, porque senão a gente só vai ouvir uma voz, a voz pedindo a condenação, mesmo sem provas”, caprichou Dirceu na pose de inocente injustiçado. “É a voz do monopólio da mídia. Eu preciso do apoio de vocês”. O combatente que nunca lidou com balas de chumbo não se emenda.  Ele vive reprisando o blefe que inaugurou em 2005, logo depois de perder o emprego por excesso de patifarias.
”Vou percorrer o país para mobilizar militantes do PT, dos sindicatos e dos movimentos sociais”, preveniu o então deputado federal num encontro do partido em São Paulo. ”Temos de defender o governo de esquerda do presidente Lula do golpe branco tramado pela elite e por conservadores do PSDB e do PFL”. Passou as semanas seguintes mendigando socorro até aos contínuos da Câmara, teve o mandato cassado em dezembro e deixou o Congresso chamando o porteiro de “Vossa Excelência”.
Passados sete anos, o sessentão que finge perseguir o socialismo enquanto caça capitalistas com negócios a facilitar assumiu formalmente o comando do regimento de mensaleiros que luta para livrar-se da cadeia. Sempre dedilhando a lira do delírio, promete liderar mais uma ofensiva do que chama de “forças progressistas e movimentos populares”, expressões da novilíngua lulista que abrangem os pelegos da União Nacional dos Estudantes Amestrados, os vigaristas das centrais sindicais, os blogueiros estatizados e outras aberrações que só esbanjam competência no assalto aos cofres públicos.
E que ninguém se atreva a acionar os instrumentos de defesa do Estado de Direito, determina o manual do stalinismo farofeiro. Usar a polícia para conter badernas é “repressão política”. Lembrar que, por determinação constitucional, figura entre as atribuições das Forças Armadas a neutralização de ameaças à ordem democrática é coisa de golpista. No país que Lula inventou, a corrupção institucionalizada só existe na imaginação da mídia golpista.
Nesse Brasil Maravilha, Erenice Guerra é uma dama de reputação ilibada, Antonio Palocci prosperou honestamente, Dilma Rousseff é uma pensadora, Lula é o gênio da raça e o partido segue honrando a frase que Dirceu declamava fantasiado de vestal: “O PT não róba nem deixa robá”. O  mensalão, claro, é uma farsa montada pela imprensa. E os que ousam defender o Código Penal não sabem com quem estão falando.
“Como se trata de uma batalha política, mostraremos nossa força”, avisou aos velhacos da Juventude Socialista. O mais recente surto reafirma que, para o mitômano sem cura, o País do Carnaval não consegue enxergar diferenças entre fato e fantasia. Como Dirceu não para de repetir-se, faço questão de repetir-me: um ataque de tropas comandadas pelo guerrilheiro de festim só consegue matar de rir.
Qualquer torcida organizada de time de futebol mobiliza mais militantes que o PT. As assembleias sindicais são tão concorridas quanto uma reunião de condomínio. Sem as duplas sertanejas, os brindes e a comida de graça, as comemorações do 1° de Maio juntariam menos gente que quermesse de lugarejo. Os movimentos sociais morreriam de inanição uma semana depois de suprimida a mesada federal.
“Dirceu, guerreiro do povo brasileiro!”, berram os milicianos durante os palavrórios do general da banda podre. Estão todos convidados a exibir seu poder de fogo com um desfile paramilitar na Avenida Paulista. Puxada pelo revolucionário de festim e engrossada por todos os alistados no exército fora-da-lei, seria a primeira Marcha pela Impunidade dos Bandidos desde a chegada das caravelas em 1500.