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quarta-feira, 10 de maio de 2017

Novos olhares sobre a Política Externa brasileira - Gustavo Westmann (livro)


Gustavo Westmann
       Nascido em São Paulo, Gustavo Westmann é Bacharel em Direito pela USP-SP e em Relações Internacionais pela PUC-SP. Diplomata desde 2007, já atuou nas áreas cultural, comercial e de energia do MRE e, nos últimos quatro anos, foi Chefe do Setor Comercial da Embaixada do Brasil na Itália. Atualmente é Chefe do Setor Econômico e Comercial da Embaixada do Brasil na Indonésia, onde vem aprofundando seus estudos sobre o processo de formação da sociedade global. Mestre em Diplomacia pelo Instituto Rio Branco e em Política Internacional pela Escola de Governo da Luiss Guido Carli (Roma), Gustavo Westmann também é especialista em Direito Internacional Público pela UC Berkeley e pela The Hague Academy of International Law. Já foi professor visitante nas Universidades Tor Vergata (Roma) e Luiss (Roma). Antes da carreira diplomática, atuou como consultor jurídico na área de direito ambiental.

segunda-feira, 17 de abril de 2017

TV Senado faz documentario sobre Roberto Campos; links

Recebido, links do Senado:





Roberto Campos além do tempo: uma voz dissidente e profética do Brasil

   
Patrícia Oliveira | 17/04/2017, 08h34
“O mundo está ficando cada vez mais parecido com as minhas ideias”, disse o cuiabano Roberto Campos em referência às mudanças que ocorriam no final da década de 90. Se estivesse vivo, completaria cem anos este mês e constataria que suas ideias estão mais atuais do que nunca. O economista, diplomata e parlamentar antecipou os grandes debates que dominariam o cenário político e econômico do país e do mundo neste século.
Nesta segunda-feira (17), a pedido do senador Cidinho Santos (PR-MT), o Senado Federal faria sessão especial destinada a comemorar o centenário de nascimento do ex-senador. Em decorrência de requerimento do deputado Paes Landim (PTB-PI), a iniciativa foi transformada em sessão solene do Congresso Nacional. A sessão está prevista para começar às 11h.
Roberto Campos ajudou a criar o atual Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o Banco Central do Brasil, o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e o Estatuto da Terra. Participou da Comissão Mista Brasil-Estados Unidos, importante estágio na construção do pensamento brasileiro em planejamento econômico.
Frequentou as principais conferências mundiais que estabeleceram as regras para as relações comerciais e financeiras entre os países: Bretton Woods (1944), que criou o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial; Conferência de Havana (1947), que deu origem à Organização Mundial de Comércio (OMC).
Liberal, defendia a privatização e as reformas, a educação, a tecnologia e o acesso aos mercados externos. Pragmático e polêmico, cultivou muitos admiradores e desafetos. Os críticos que o acusavam de ser “entreguista” e “americanizado” cunharam-lhe o famoso apelido “Bob Fields”. Para ele, no entanto, o antiamericanismo era “a moléstia infantil do nosso nacionalismo”. E em entrevista na TV cravou: “O dinheiro não tem cor e se ele toma a forma de investimento é útil. Seja providenciado por Deus ou pelo diabo”.
Embaixador em Londres e também em Washington, no governo João Goulart (1961-1964), Roberto Campos passou boa parte da vida diplomática na tentativa de negociar empréstimos para o Brasil.
Foi autor (e coautor) de diversas obras, entre elas destacam-se: O Mundo que Vejo e não DesejoA Lanterna na Popa, livro de memórias; e os últimos ensaios do Na Virada do Milênio.

Dissidente

Voz sempre dissidente, demitiu-se no segundo governo de Getúlio Vargas (1930-1945) por condenar o que considerava “demagogia e populismo”, e não hesitou em se demitir também sob Juscelino Kubitscheck, com quem colaborou na elaboração do Plano de Metas. Chamou Brasília de “a capital do deficit e da inflação”, construída “contra o orçamento”.
Foi figura de destaque como ministro do Planejamento de Castello Branco, no período do regime militar, com medidas que levariam ao milagre econômico; mas contra o qual depois fez críticas pelo tamanho do Estado.
Também combateu a Constituição de 1988, que julgava “desnecessária”, e não poupava os pares no Congresso. Desse período restaram as recordações do senador Edison Lobão (PMDB-MA), seu colega na Constituinte.
— Ele tinha verdadeiras cólicas de decepção com algumas emendas que eram aprovadas na Constituinte que, a juízo dele, mais prejudicavam o país que ajudavam — relembra.
A ironia fina, que era marca registrada de Campos, também ficou na lembrança de Lobão.
— Certa vez ele me disse: 'Olha Lobão, hoje eu fiquei feliz porque a Constituinte aprovou uma emenda que me beneficia diretamente. Eu sempre tive muito medo de morrer e com essa emenda aprovada aqui eu não vou morrer nunca mais'. Eu disse:'Como assim?' E ele respondeu: 'Está dito lá que todos os brasileiros têm direito à vida' — relatou.

Trajetória

A trajetória desse personagem fundamental para o país, falecido em 2001, está descrita no livro O Homem que Pensou o Brasil, lançado em comemoração ao seu centenário e organizado pelo diplomata Paulo Roberto de Almeida, diretor do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais. Para escrever metade da obra, ele leu toda a bibliografia de Roberto Campos desde a dissertação de mestrado e artigos para jornais, até textos póstumos e outros ainda inéditos.
— O trabalho de mestrado dele foi considerado por um grande economista austríaco da época, Joseph Schumpeter, como uma tese de doutorado, dada a profundidade da análise sobre flutuações e ciclos econômicos — observa.
O livro destaca o saneamento financeiro promovido por Roberto Campos no final da década de 60 para a construção das bases de crescimento do país.
— O Brasil alcançou taxas que, nós diríamos hoje, chinesas. De 10% a 14% ao ano em 1973. Eram os asiáticos que vinham até aqui tomar receitas de crescimento econômico — comenta Paulo Roberto de Almeida.
As ideias de Roberto Campos são realçadas no livro de modo a revelar o “homem do mundo”, um tanto insurgente, mas depois legitimado pela história na defesa das liberdades econômicas e da racionalidade política.
— Ele se batia contra cinco “ismos”: populismo, nacionalismo, protecionismo, patrimonialismo e prebendalismo. Para sair da “miséria dispensável” e caminhar para uma riqueza aceitável e possível — explica.
Almeida lembra que apesar do papel importante que teve na construção do Estado forte dos militares, Roberto Campos se arrependeria depois.
— Nos últimos 20 anos de sua vida, praticamente foi um obstrutor do Estado promotor do desenvolvimento. Ele achava que o Estado controla todo o setor privado, mas não controla a si próprio. Ele teve razão antes do tempo — avalia.
Autointitulado “diplomata herege”, Roberto Campos também tem, apontado no livro, seu lado contestador no Itamaraty , como nas questões nucleares e de desenvolvimento.

Vida parlamentar

As obras sobre Roberto Campos ainda têm a colaboração de outros autores importantes, entre eles Antonio José Barbosa, professor de História na Universidade de Brasília (UnB), que traçou o perfil parlamentar e leu todos os discursos de Campos no Congresso.
Quando foi eleito senador por Mato Grosso, Campos já era uma figura nacional conhecida.
— Ele chega ao Senado em um momento de crise aguda. Era o último governo do regime militar, de João Figueiredo, com a dívida externa que crescia exponencialmente e a inflação cada vez mais descontrolada — explica.
A atuação no Senado — entre 1983 e 1991 — foi marcada pelas proposições na área da economia, a partir da própria experiência acadêmica, intelectual e profissional. Os grandes discursos que fazia lotavam o Plenário. E alguns se tornaram históricos.
— O primeiro, de posse, quando ele fez uma espécie de confissão de seu ideário. E o último discurso, de despedida do Senado, é também impressionante, pois atesta a sua extrema coerência; mostra que os problemas apontados oito anos antes continuavam existindo, porque o Brasil teimava em não ter coragem de tomar as decisões necessárias — diz.
Famosos também eram os embates com os colegas parlamentares, como Fernando Henrique Cardoso, por quem tinha admiração.
— Ele não levava desaforo para casa. Muitas vezes quando era atacado de forma grosseira e não estava no Plenário, em viagens ao exterior, voltava e fazia questão de responder, mas sem baixar o nível da discussão.
Suas propostas não foram aprovadas. Projetos como o de combate à Lei de Informática ou da flexibilização da CLT não foram adiante. O mesmo se repetiria em seu último cargo público, na Câmara dos Deputados.
— Na verdade, ele se orgulhava das derrotas. Uma personalidade extremamente controversa, sobretudo porque refletiu o grande embate intelectual que acontecia no Brasil — ressalta o professor.
Roberto Campos é retratado nessa parte do livro não como homem de direita, ortodoxo, enclausurado na conjuntura, mas um homem prático e racional. No seu texto, o professor Antonio José Barbosa também destaca a “clarividência” de Campos.
— Problemas que estão na ordem do dia da agenda política brasileira em 2017 como as reformas tributária, previdenciária e trabalhista, tudo isso foi alertado por Roberto Campos lá nos anos 80 na tribuna do Senado.

Homenagem

O senador Cidinho Santos (PR-MT) é o autor do requerimento para a sessão especial do Senado em homenagem ao centenário de Roberto Campos.
— Meu primeiro voto foi em Roberto Campos, para senador pelo Mato Grosso. Sempre fui um admirador dele. Todos os mato-grossenses ansiavam pela oportunidade de fazer essa homenagem — disse.
Cidinho também é defensor das ideias do homenageado com relação à economia.
— Ele lá atrás já dizia que o Brasil só teria jeito se cada um tivesse a oportunidade de trabalhar e vencer na vida. E se naquele momento o Brasil tivesse seguindo um pouco  o pensamento do Roberto Campos, talvez nós estivéssemos numa situação muito melhor hoje — opina. 
O ex-seminarista e intelectual retraído — que defendeu o livre mercado, a racionalidade política e a eficiência econômica no Brasil — não prometeu igualdade e foi duramente contestado. Se soubesse que hoje muita gente sente sua falta, Campos talvez repetisse satisfeito que “É excelente ser bem falado na saída. Melhor do que ser bem recebido na entrada”.
Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)
“O mundo está ficando cada vez mais parecido com as minhas ideias”, disse o cuiabano Roberto Campos em referência às mudanças que ocorriam no final da década de 90. Se estivesse vivo, completaria cem anos este mês e constataria que suas ideias estão mais atuais do que nunca. O economista, diplomata e parlamentar antecipou os grandes debates que dominariam o cenário político e econômico do país e do mundo neste século.


quinta-feira, 6 de abril de 2017

Lanterna na Proa: Roberto Campos 100 anos - livro Paulo Rabello de Castro, Ives Gandra Martins

Eis o livro que também será lançado na Livraria Argumento, dia 17 de abril, na Livraria Argumento do Leblon, às 19:00hs, e do qual também participei (aliás, com três textos: Bretton Woods, BNDE e receita para desenvolver o Brasil).
Sejam todos bem vindos.
Paulo Roberto de Almeida 



Lanterna na proa – Roberto Campos Ano 100
Org. Ives Gandra da Silva Martins / Paulo Rabello de Castro
(São Luís: Resistência Cultural, 2017, 340 p.; ISBN: 978-85-66418-13-2)

Sinopse A lanterna na proa
Em comemoração ao centenário de Roberto de Oliveira Campos (1917-2001), a Livraria Resistência Cultural Editora entrega ao público este Lanterna na proa – Roberto Campos Ano 100, obra organizada por Ives Gandra da Silva Martins e Paulo Rabello de Castro. Mais de sessenta personalidades do mundo literário, diplomático, político e empresarial se debruçam sobre a vida e a obra do admirável brasileiro, apontando, a partir das suas ideias de liberdade, os caminhos que o Brasil deve trilhar para o desenvolvimento. Depois do sucesso de O homem mais lúcido do Brasil – as melhores frases de Roberto Campos, organizado por Aristóteles Drummond – um dos colaboradores do presente livro –, a Resistência Cultural, com este Lanterna na proa, firma-se como editora comprometida com a divulgação do pensamento do grande economista e estadista, sobretudo em seu centenário, proclamando 2017 o Ano Roberto Campos.

Autores
Adolfo Sachsida
Agatha Justino
Alberto Venancio Filho
Alex Catharino
André Burger
Aristóteles Drummond
Armínio Fraga Neto
Arnaldo Niskier
Arnoldo Wald
Augusto Cattoni
Augusto Nardes
Bernardo Cabral
Bonifácio Andrada
Candido Mendes
Carlos Alberto Teixeira de Oliveira
Carlos Rodolpho Schneider
Cezar Roedel
Eduardo dos Santos
Ernane Galvêas
Ernesto Lozardo
Francisco Müssnich
Gastão Alves de Toledo
Gastão Reis Rodrigues Pereira
Gilberto Simões Pires
Guilherme Afif Domingos
Gustavo H. B. Franco
Gustavo Loyola
Irapuan Costa Junior
Ives Gandra da Silva Martins
João Guilherme Sabino Ometto
João Paulo dos Reis Velloso
José Gregori
José Luiz Alquéres
José Sarney
Lucas Berlanza
Luiz Jardim
Luiz Lemos Leite
Marcel Domingos Solimeo
Marcondes Gadelha
Marcos Cintra
Merval Pereira
Miro Teixeira
Ney Prado
Paulo Rabello de Castro
Paulo Roberto de Almeida
Percival Puggina
Rafael Jordão M. Vecchiatti
Rafael Pavão
Reginaldo Teixeira Perez
Ricardo Vélez Rodriguez
Roberto Fendt
Roberto Macedo
Roberto Teixeira da Costa
Rodrigo Constantino
Rogério de Souza Farias
Rossini Corrêa
Rubens Barbosa
Rubens Penha Cysne
Sérgio Eduardo Moreira Lima
Sérgio Reze
Thomás Tosta de Sá
Ubiratan Iorio

quarta-feira, 29 de março de 2017

Convite para lancamento livro Roberto Campos: 17/04, RJ

Tal como recebido da Editora. Alguns dos autores-colaboradores estarão presentes, inclusive este organizador.
Eis os dados editoriais do livro:

 Paulo Roberto de Almeida (org.)
O Homem que Pensou o Brasil: trajetória intelectual de Roberto Campos
(Curitiba: Editora Appris, 2017, 373 p.; ISBN: 978-85-473-0485-0).

Assim que ele for impresso, estará simultaneamente disponível no formato e-book a um preço bastante acessível.
Paulo Roberto de Almeida 


terça-feira, 21 de março de 2017

Stefan Zweig e o Brasil: nota à imprensa



A Fundação Alexandre de Gusmão (FUNAG), o Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (IPRI) e o Instituto Rio-Branco (IRBr) promovem nesta data, 21 de março, no auditório Embaixador João Augusto de Araújo Castro, debate sobre a obra do escritor austríaco Stefan Zweig (1881-1942) e sua estada no Brasil.

O debate começará às 15h. A entrada é franca. Terá a participação do ex-ministro Celso Lafer, professor emérito da Universidade de São Paulo; de Kristina Michahelles, jornalista, tradutora e diretora da Casa de Stefan Zweig em Petrópolis; e do historiador Israel Beloch, que coordenou a edição do Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro, editado pela Fundação Getúlio Vargas.

Jornalista na juventude, Stefan Zweig tornou-se, a partir da década de 1920, um dos escritores mais famosos e vendidos em todo o mundo. Em 1936, visitou o Brasil pela primeira vez, sendo homenageado pelo Governo brasileiro. Pronunciou, no Rio de Janeiro, a palestra “A Unidade Espiritual do Mundo”, em que repudiava a visão xenófoba e intolerante à época dominante na sua própria patria e na Alemanha. Com a ascensão do nazismo, exilou-se, a partir de 1934, na Inglaterra, visitando novamente o Brasil, ainda que rapidamente, em 1940, quando recolhe elementos para escrever, em 1941, “Brasil, País do Futuro”, obra em que enaltecia a diversidade presente na formação do povo brasileiro. Depois de breve estada em Nova York, mudou-se para o Brasil no segundo semestre de 1941, mas decidiu-se pelo suicídio em fevereiro de 1942, em Petrópolis, onde tinha instalado residência, profundamente deprimido com o avanço do nazismo na Europa. Ali terminou suas memórias, “O Mundo de Ontem”, na qual descreve o ambiente de liberdade e segurança desfrutado na Europa antes da Grande Guerra. Em sua carta de despedida, reafirmou seu amor pelo Brasil, cuja diversidade e tolerância eram, para ele, motivo de admiração diante de uma Europa que se autodestruía com a Segunda Guerra Mundial.

Depois do debate, o Professor Celso Lafer e o Doutor Israel Beloch autografarão o livro universal (em cinco línguas) editado por este último a partir da conferência de Stefan Zweig no Brasil, sobre “A Unidade Espiritual do Mundo”, que será lançado na ocasião, e que conta com estudo de Lafer sobre o pacificismo de Zweig.

O auditório do Instituto Rio-Branco fica no SAFS Quadra 05, lotes 2 e 3. Tem capacidade para 117 pessoas.

sábado, 11 de fevereiro de 2017

Dez desafios da Politica Externa Brasileira - livro do CEBRI (Matias Spektor)

Um resumo, muito rápido e muito elementar, deste livro importante publicado recentemente, e que deveria merecer um debate mais aprofundado. Tenho, por mim, que alguns desses "desafios" não o são realmente -- por não se configurarem "problemas" da agenda diplomática brasileira, e sim percepções acadêmicas sobre a política externa brasileira -- e que outros ultrapassam a modesta capacidade operacional do Itamaraty (como a alegada fraqueza do nosso "pensamento estratégico"), por constituirem problemas mais amplos do Estado ou da nação brasileira. Nossos avanços institucionais não são tão avanços quanto gostaríamos, basta ver a virtual inadequação do Congresso para as grandes reformas transformadoras do país.
Em todo caso, segue uma seleção de "extratos" deste livro recente.
Paulo Roberto de Almeida


Dez desafios da politica externa brasileira - CEBRI

Resumo de livro por:
Paulo Roberto de Almeida


Spektor, Matias (editor executivo):
10 Desafios da Política Externa Brasileira
(Rio de Janeiro: Centro Brasileiro de Relações Internacionais; Fundação Konrad Adenauer, 2016, 144p.; ISBN: 978-85-89534-11-6); 
download do livro neste link: 
http://cebri.org/portal/publicacoes/cebri-dossi%C3%AA/desafios-da-politica-externa-brasileira-livro

O Cebri possui diferentes grupos de trabalho para pesquisar e debater assuntos relevantes da política internacional e das relações internacionais do Brasil. Um deles é especificamente voltado para a política externa e a diplomacia brasileira, coordenado pelo historiador Matias Spektor. Ele foi o editor executivo desta publicação, que reuniu colaborações de diferentes grupos de trabalho, reunidos sob o conceito que empresta seu título à publicação: desafios à política externa brasileira, que eles limitaram a dez (mas num sentido amplo).
Em sua “carta de Editor Executivo”, Spektor acredita que a política externa assume um papel central na recuperação econômica brasileira: “Se há uma tese central a unir os capítulos que seguem é esta: a política externa é um instrumento essencial para a recuperação do crescimento econômico com justiça social, pois o sistema internacional afeta em cheio a capacidade que as autoridades nacionais tem para conduzir políticas efetivas.”
A seguir uma apresentação sumária de seu conteúdo.

1. Por uma nova doutrina de política externa brasileira, Matias Spektor
            Spektor abre o volume com uma análise sobre as ideias e conceitos que guiam a política externa brasileira. Ele argumenta que a doutrina herdada dos 20 anos de condomínio entre PT e PSDB caducou, e tenta conceber uma nova doutrina. FHC teria aderido às teses da globalização, ao passo que Lula teria tentado aproveitar as brechas do sistema para projetar o Brasil. A nova doutrina precisaria emergir de um consenso suprapartidário, sem estar concentrada num ministério ou grupo particular. Para tal se necessitam estudos empiricamente embasados e debates em todos os setores da opinião pública, levando-se em conta os impactos redistributivos da política externa, dadas as enormes carências da sociedade brasileira.

2. Uma política externa para a atração de investimentos estrangeiros, Carlos Góes
            Analisa as reformas necessárias para que o Brasil possa atrair mais investimentos, sendo que o fator crucial é o aumento da produtividade do trabalhador brasileiro. A governança global dos investimentos é indissociável da regulação sobre o comércio internacional, e os fluxos globais de IED para países em desenvolvimento aumentam muito com sua participação em tratados de livre comércio, assim como com a qualidade de suas instituições. “Nesse aspecto, a política exterior brasileira parece estar defasada” (p. 33). O Brasil nunca aderiu, por exemplo, à Convenção 87, da OIT, e jamais considerou ingressar no ICSID.

3. O problema do comércio exterior, Diego Bonomo
            O Brasil é a economia mais fechada do G20, e os seus dirigentes impuseram ao país um fechamento incompatível com as necessidades de sua inserção global. O “custo Brasil” é um entrave a um maior crescimento econômico no país. A política comercial, por sua vez, padece de conflitos de competência entre diferentes órgãos nacionais. A recente onda de corrupção, evidenciada pela Operação Lava Jato também refreou a expansão dos interesses econômicos brasileiros no exterior. O Brasil precisar desonerar completamente suas exportações e melhorar as condições de logística e de infraestrutura. A burocracia e a legislação laboral também constituem grandes entraves a progressos nessa área. A prevalência do multilateralismo na diplomacia comercial também tornou mais lenta a negociação de acordos bilaterais de comércio.

4. Diplomacia anticorrupção, Marcos Tourinho
Por ter importantes componentes transnacionais, o combate à corrupção, ao desvio de recursos e à evasão fiscal é âmbito onde a política externa tem o potencial de oferecer contribuição concreta para o desenvolvimento e a democracia no país. Recomenda-se: 1) atuação concertada do Itamaraty com Ministérios da Fazenda, da Justiça, Polícia Federal, Judiciário e Ministério Público; 2) elaboração de guia de conduta de autoridades na promoção e proteção de interesses de empresas brasileiras no exterior; 3) recuperação da imagem de empresas brasileiras envolvidas em corrupção por meio de adesão a mecanismos como o Pacto Global da ONU; 4) adesão a mecanismos internacionais existentes e liderança na criação de novos regimes; 5) celebração de acordos bilaterais de combate à corrupção.

5. Segurança e defesa, Érico Esteves Duarte
            Depois de dez anos de ter elaborado uma estratégia nacional de defesa, é preciso revisar a estrutura atual do setor, com base em crédito público à indústria nacional, mas também com base nas novas ameaças emergentes. O mais grave problema é o tráfico internacional de cocaína. A articulação entre o MD e o MRE é insuficiente. “Recomenda-se que a Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) ganhe um corpo mais efetivo e estruturado no âmbito da Casa Civil” (p. 83). Ela deveria amparar e subsidiar um Conselho de Planejamento Nacional, incluindo um setor de inovação, incorporando quadros do Itamaraty e das FFAA.

6. Política externa brasileira e a nova geopolítica da energia, João Augusto de Castro Neves
            A diplomacia energética mudou bastante na era Lula, passando da tentativa de transformar o etanol e commodity global até a reversão para os combustíveis fósseis no pré-sal e novas incursões na energia nuclear, ambas iniciativas tingidas por forte corrupção. Está em curso uma reestruturação do setor elétrico que pode aumentar a participação do capital estrangeiro na provisão de energia. A decisão de alterar o marco regulatório no petróleo causou uma virtual paralisia no setor, a que se soma o protecionismo exacerbado, que diminuiu o fluxo de investimentos. A diplomacia brasileira pode atuar de forma relevante na captação de recursos para investimentos em energia no país.

7. Bens públicos, grupos de interesse e política externa, Eduardo Mello
            De que forma as opções de diplomacia acarretam ganhos e perdas para diferentes grupos sociais no Brasil? O autor sugere mensurar os efeitos domésticos das opções externas adotadas pelos diferentes governos.

8. Diplomacia da saúde global, Umberto Mignozzetti
            As epidemias do subdesenvolvimento colocaram novamente o Brasil no centro do debate internacional sobre doenças globais. As práticas nacionais podem dificultar a aplicação de normas internacionais de combate a essas epidemias. Seria preciso aumentar a cooperação regional para melhor combater epidemias.

9. Promoção da democracia e dos direitos humanos, Oliver Stuenkel
            Novas dúvidas surgiram sobre a resiliência da democracia na região, a partir de um aparente esgotamento do ciclo da esquerda nas políticas da região. A proteção dos direitos humanos apresenta implicações para as questões da não-intervenção e da soberania nacional. Mas o silêncio brasileiro em relação às crescentes violações à democracia e aos direitos humanos na Venezuela “criou uma fissura na imagem do Brasil como líder regional” (p. 125). Empréstimos do BNDES deveriam levar em conta esses aspectos na concessão de créditos subsidiados.

10. Análise estratégica para as relações internacionais do Brasil, Matias Spektor
            Qual seria o papel da análise estratégica em política externa? “Não existe hoje uma instância com poderes delegados da presidência da República para coordenar o trabalho de reflexão prospectiva dos numerosos órgãos governamentais que conduzem algum tipo de atividade internacional. Ou seja, não há uma estrutura análoga ao National Security Council (Estados Unidos), ao Prime Minister’s Strategy Unit (Reino Unido) ou aos conselhos mais ou menos informais que alimentam com análises estratégicas o processo decisório dos chefes de governo em países como Rússia, Índia e China” (p. 135). Ou seja, o trabalho de análise estratégica é pulverizado em diversas agências.
            “A cultura diplomática é rica e fonte de enorme vantagem comparativa para o Brasil no sistema internacional. No entanto, cinco de suas principais características distintivas dificultam o nascimento de uma cultura arraigada em análise estratégica” (p. 136). 1) valoriza a ação prática em detrimento do trabalho analítico; 2) existe um culto das gerações mais antigas e pouca interação com instituições de fora do país; 3) existe aversão ao dissenso e adesão ao pensamento grupal; 4) existe mais burocracia administrativa do que reflexão estratégica no dia a dia do diplomata; 5) a hierarquia estrita traz coerência mas também enormes custos: “Existem barreiras tácitas e explícitas à cultura de questionamento e criatividade que é essencial a qualquer trabalho sério de análise estratégica” (p. 137).


Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 10 de fevereiro de 2017

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Brasil e Argentina na Grande Guerra - Olivier Compagnon (livro)

Acabo de comprar este livro em Buenos Aires, na edição em espanhol, sem saber (porque estava fora do Brasil até recentemente) que ele já tinha sido traduzido e publicado no Brasil mais de dois anos atrás. Seria o caso de convidar o autor para um debate em torno do Brasil na Grande Guerra, justamente.
Paulo Roberto de Almeida

O ADEUS À EUROPA

por Maria Helena Rolim Capelato6 de agosto de 2014

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Soldados da artilharia francesa. [Fotografia de autor desconhecido.]
No ano do centenário da Primeira Guerra Mundial, o historiador francês Olivier Compagnon propõe, no lançamento O adeus à Europa uma nova reflexão sobre a importância do conflito para a América Latina, tópico pouco explorado pela historiografia tradicional. Baseado em extensa pesquisa, incluindo fontes como romances, canções e manifestos da época, o professor da Universidade Sorbonne-Nouvelle demonstra como a Grande Guerra  impactou especialmente a vida política e cultural do Brasil e da Argentina.
A historiadora Maria Helena Rolim Capelato introduz, no prefácio de O adeus à Europa aqui reproduzido, os temas explorados no livro e destaca a importância de Compagnon para o desenvolvimento da historiografia latino-americana:
O adeus a Europa“Além de poético, o título deste livro indica a abrangência da pesquisa realizada pelo historiador francês Olivier Compagnon.* Transitando entre América Latina e Europa, o autor aborda um tema de especial relevância para a historiografia latino-americana, mas pouco estudado entre nós. Analisa o impacto da Primeira Guerra no Brasil e na Argentina e as transformações que ocorreram nesses países no entreguerras.
Optando pela história comparada, por si só de difícil abordagem, o autor ampliou seu voo de análise adentrando o campo da “história transnacional” e das “histórias conectadas”: dedicou-se ao estudo das relações econômicas, políticas, diplomáticas entre os dois países e a Europa e se empenhou na reconstituição de “redes de contato” entre intelectuais e produtores culturais brasileiros, argentinos e europeus ao longo de todo o período em foco.
Antes de apresentar os resultados de sua pesquisa, Olivier Compagnon se refere ao contexto que deu origem à Primeira Grande Guerra na Europa. Também menciona aspectos importantes do passado brasileiro e argentino que revelam momentos de rivalidades e cooperação mútua ocorridos a partir das independências nacionais. Essas referências históricas são importantes para que o leitor possa acompanhar as análises comparativas sobre os períodos subsequentes.
Valendo-se de fontes muito diversificadas, o autor reconstituiu os intensos debates que ocorreram nos dois países acerca da neutralidade ou adesão à guerra, mostrando os efeitos econômicos dessas decisões e também os transtornos provocados pela guerra no cotidiano das pessoas. São apresentadas ao leitor manifestações sobre a guerra expressas em canções, poemas, literatura de cordel, letras de tango, jogos de guerra para crianças, dados sobre as doações à Cruz Vermelha Francesa, pedidos de alistamento de voluntários que queriam “vencer o Kaiser” ou enfrentar o “perigo alemão”. Além dessas referências, são analisadas na obra a participação de grupos “neutralistas”, “pacifistas”, aliadófilos e germanófilos que entraram em conflito provocados pelas posições antagônicas.
Nas passagens em que analisa as condições que propiciaram a entrada do Brasil na guerra, o autor apresenta dados e fatos que elucidam a decisão de quebra da neutralidade, mostrando a seguir suas consequências. Também elucidativas são as análises referentes às propagandas de apoio à causa da Entente, que atestam a força dos imaginários sociais expressos a partir de visões dicotômicas do conflito. Em relação a este aspecto, são mencionados, como exemplo, mensagens que se referiam à França e à Inglaterra como defensoras do direito e da liberdade e à Alemanha como expressão da barbárie.
Com o desenrolar do conflito, segundo Olivier Compagnon, ocorreu uma paulatina rejeição a esse imaginário que resultou numa crise de identidade nacional no Brasil, na Argentina e em outros países latinoamericanos. A discussão deste tema é privilegiada pelo autor.
jornal do brasil_primeira guerraNa introdução do livro fica explicitada a preocupação central da pesquisa: ela consiste em averiguar em que medida o conflito contribuiu para a renovação dos debates sobre a Europa como modelo para as Américas e em que medida o “suicídio da Europa” provocou questionamentos sobre a identidade nacional predominante na primeira metade do século XX na América Latina. O autor partiu da hipótese, consistentemente demonstrada, de que o conflito concorreu para a cristalização de um nacionalismo político e cultural específico, fruto das crises de identidade afloradas no subcontinente em decorrência da percepção dos “Horrores da Guerra” que ocorreu no âmago da Civilização Europeia.
O autor procura mostrar que novas formas identitárias foram sendo construídas a partir de uma crítica à cultura cosmopolita que orientara as elites latino-americanas desde o século XIX. Para fazer frente a essa perspectiva era preciso que ocorresse a emancipação do “modelo” europeu.
A análise sobre as transformações que ocorreram nos dois países em relação à imagem da Europa nesse contexto é surpreendente: o leitor acompanha, com perplexidade, a passagem radical do culto cego à Europa ao sentimento de desilusão profunda com relação ao “Velho Mundo”. O desmoronamento da imagem da “civilização europeia” que orientara a configuração da modernidade nos países da América Latina provocou, como mostra o autor, uma redefinição do sentido das nacionalidades no “Novo Mundo”. As referências a intelectuais que desenvolveram ideias sobre o declínio da Europa, sobretudo as que foram expressas na obra de Spengler sobre a Decadência do Ocidente, permitem aquilatar a grande repercussão dessas teses nos países latino-americanos.
O capítulo intitulado “Noturno europeu” interpreta a reação de intelectuais argentinos e brasileiros frente a uma Europa que fracassara. Ao discorrer sobre este tema, o autor chama a atenção para o contraste entre a decepção dos latino-americanos em relação à guerra que explicitou o fim da “civilização europeia” e a crença nas possibilidades positivas que esse declínio oferecia para o Novo Mundo: a América.
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Tropas britânicas [Foto dos arquivos da AP; Hulton-Deutsch Collection; CORB; Alamy]
Ao término da leitura dessa obra tão instigante, constatamos que as preocupações de Olivier Compagnon em se distanciar das visões sobre a América Latina como um todo homogêneo e das concepções “essencialistas” sobre as identidades nacionais contribuíram para a realização de uma análise comparativa modelar. Além desse mérito, cabe salientar que o autor se preocupou em dar visibilidade à atuação de atores brasileiros e argentinos que, durante um período de transformações profundas resultantes do conflito mundial, conseguiram modificar a percepção que tinham sobre seu lugar no mundo. Essa mudança de perspectiva, como indica a análise, incentivou revisões profundas sobre as identidades nacionais por parte dos atores que se empenharam na construção de um “Novo Mundo” americano distante do modelo da civilização europeia que servira como guia para os construtores da modernidade latino-americana no período anterior.
Mas, como se constata a partir das indicações do autor, a busca de uma nacionalidade autêntica, original não significou a interrupção dos contatos com a Europa. Naquele passado, como nos dias de hoje, pessoas, ideias e mercadorias continuaram circulando entre os dois lados do Atlântico: a tradução deste livro constitui um exemplo muito positivo dessa possibilidade de trânsito.
* Não poderia deixar de mencionar, na apresentação deste livro, as contribuições do autor para o desenvolvimento da historiografia latino-americana na França. Professor e pesquisador do Institut des hautes études de l’Amérique latine (Université Sorbonne Nouvelle), suas pesquisas demonstram grande sensibilidade e competência na abordagem de temas relacionados à história da América Latina. Seus pares “americanos” reconhecem não apenas a qualidade de seus trabalhos, mas também seus esforços para o estabelecimento de “redes de contato” entre historiadores franceses e latino-americanos.”
Maria Helena Rolim Capelato é doutora em História Social pela Universidade de São Paulo e especialista na área de História da América. Atualmente é professora titular do Departamento de História da USP.