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sábado, 9 de maio de 2015

Livros de RI e PExtBr do inicio dos anos 1990 - Paulo Roberto de Almeida (RBPI, 1993)

Recuperando das catacumbas dos meus arquivos, ou do sótão dos meus alfarrábios eletrônicos, whatever.
Acho que eu não diria a mesma coisa hoje, de certos trabalhos, mas vale o registro...


Estudos de Relações Internacionais do Brasil:
novos trabalhos e projetos coletivos

Paulo Roberto de Almeida

Os trabalhos de relações internacionais do Brasil, durante longo tempo o domaine reservé de um punhado de especialistas, vem desenvolvendo-se com maior intensidade nos últimos tempos, tanto dentro da academia como nos próprios meios profissionais. Ainda assim, a bibliografia pertinente permanece extremamente restrita, já que a maior parte dos estudos continua a ser veiculada através de revistas especializadas, reconhecidamente muito poucas no Brasil. Em geral os pesquisadores atuam de forma isolada e raras vezes seus trabalhos são objeto de divulgação ampla, o que só seria permitido mediante sua publicação em forma de livro. Um livro lançado recentemente e dois projetos coletivos permitem, nesse campo, suprir algumas das lacunas existentes na documentação à disposição dos estudiosos.
O historiador Moniz Bandeira, já sobejamente conhecido por seus trabalhos sobre as relações do Brasil com os Estados Unidos (Presença dos Estados Unidos no Brasil, 1973, A Rivalidade Emergente, 1989) e com os vizinhos do Prata (O Expansionismo Brasileiro, 1985, O Eixo Argentina-Brasil, 1987), acaba de lançar uma obra fundamental para se conhecer a história recente das relações entre o Brasil e a Argentina: Estado Nacional e Política Internacional na América Latina: O Continente nas Relações Argentina-Brasil, 1930-1992 (São Paulo-Brasília. Editora Ensaio-Editora da UnB, 1993). Trata-se de um minucioso trabalho de pesquisa histórica que acompanha o itinerário político, nacional e internacional, de ambos os países, tanto no âmbito bilateral, como no que se refere ás relações respectivas com os Estados Unidos e os demais países da América do Sul.
Quanto aos projetos coletivos, eles são desiguais em sua natureza, mas igualmente importantes pelo escopo e abrangência dos trabalhos coletados. O primeiro resulta de trabalho de pesquisa conduzido por professores da Universidades de Brasília e da UNESP e já foi concluido exitosamente sob a forma de um volume de textos a ser editado pela UnB, também em coedição com a Editora Ensaio, inaugurando aliás uma coleção de estudos de Relações Internacionais. Essa obra, provisoriamente intitulada O Desafio Internacional: a política exterior do Brasil de 1930 a nossos dias, apresenta uma divisão temática e geográfica, com capítulos bem definidos a cargo de especialistas conhecidos. O coordenador, historiador Amado Luiz Cervo, abre com uma Introdução de caráter histórico e discute as tendências da política externa no período. Moniz Bandeira assina um texto sobre as relações do Brasil com os vizinhos do continente, o que obviamente inclui o relacionamento com os Estados Unidos (“uma tendência em baixa”) e com os demais parceiros latinos (“a caminho do encontro”). O cientista político León Enrique Bieber apresenta um estudo sobre as relações entre o Brasil e a Europa, enquanto que os professores de história José Flávio Sombra Saraiva e Antonio José Barbosa prepararam trabalhos sobre, respectivamente, as relações com a África negra e com a Ásia (aqui incluída a África do Norte). Da UNESP, o historiador Clodoaldo Bueno, que já tinha assinado com o professor Amado Cervo um manual de História da Política Exterior do Brasil (São Paulo, Ática, 1992) encaminha um trabalho sobre a política multilateral do Brasil no período do pós-guerra. O volume deve estar sendo lançado até o mês de novembro de 1993.
Numa outra vertente, mais ambiciosa, mas talvez menos uniforme do ponto de vista metodológico, o Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (IPRI), do Itamaraty, e o Departamento de Ciência Política da USP vêm coordenando um ciclópico esforço de mapeamento sistemático das relações internacionais do Brasil desde os anos 30 até o presente, através do projeto “60 Anos de Política Externa Brasileira”. De outubro de 1991 a abril de 1993 foram realizados quatro seminários nacionais, com a apresentação de mais de 40 ensaios temáticos por especialistas acadêmicos e funcionários diplomáticos (algumas das colaborações destes últimos consistindo de depoimentos fundamentados sobre episódios importantes da diplomacia brasileira contemporânea). Sob a coordenação dos Profs. Ricardo Seitenfus e José Augusto Guilhon de Albuquerque, os resultados do projeto serão consolidados numa só obra, em quatro volumes, cobrindo praticamente todas as áreas de atuação da diplomacia brasileira no período estudado. Os diplomatas profissionais assinam grande parte dos trabalhos apresentados, muitos deles reunindo esforço de pesquisa e participação direta nos eventos narrados e analisados, o que os converte em “fonte primária” de muitos dos episódios focalizados. Além dos comentários preliminares por um relator designado pela Comissão Editorial, todos os trabalhos foram submetidos a exame e debate coletivos nos seminários de avaliação. A publicação dessa obra coletiva ocorrerá, provavelmente no decorrer de 1994.
Ambos os projetos marcam uma nova etapa no processo de pesquisa e divulgação de trabalhos sobre a diplomacia brasileira, representando possivelmente a lenta emergência e a progressiva consolidação de uma comunidade de especialistas em relações internacionais do Brasil cuja estruturação orgânica é apenas uma questão de tempo. 

356. “Estudos de Relações Internacionais do Brasil: novos trabalhos e projetos coletivos”, Brasília: 6 julho 1993, 2 p. Apresentação do livro de Moniz Bandeira (Estado Nacional e Política Internacional na América Latina: o continente nas relações Argentina-Brasil, 1930-1992) e das obras coletivas O Desafio Internacional: a política internacional do Brasil de 1930 a nossos dias (Coordenador Amado Luiz Cervo) e 6o Anos de Política Externa Brasileira (Projeto IPRI-USP). Publicado na Revista Brasileira de Política Internacional (nova série: Brasília: ano 36, n. 1, 1993, p. 143-144). Relação de Publicados nº 137.

quarta-feira, 29 de abril de 2015

Boletim ADB: miniresenhas de livros de diplomatas - Paulo Roberto de Almeida

Acabo de receber este boletim da Associação dos Diplomatas Brasileiros, com capa e matéria principal dedicadas aos 450 anos do Rio de Janeiro (com algumas rugas aqui e ali, ao que parece):

Como também sempre acontece, traz as minhas seis mini-resenhas habituais de livros de diplomatas, até aqui publicadas clandestinamente, e que agora passam a ter autoria identificada (agora os autores poderão envenar o resenhista, se não gostarem do que eu falei sobre os seus respectivos livros...).
Estes são os livros resenhados, já postados aqui, mas agora na ordem correta em que foram publicados.

2773. “Prata da Casa, Boletim ADB – 1ro. trimestre 2015”, Hartford, 15 fevereiro 2015, 3 p.;. Notas sobre os seguintes livros: 1) Diogo Ramos Coelho: Mundo em crise: a história da crise financeira, seus impactos nas relações internacionais e os atuais desafios (Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2014, 324 p.; ISBN 978-85-230-1137-6); 2) Elias Luna Almeida Santos: Investidores soberanos, política internacional e interesses brasileiros (Brasília: Funag, 2013, 345 p.; ISBN: 978-85-7631-426-4); 3) Celso Amorim: Breves Narrativas Diplomáticas (São Paulo: Benvirá, 2013, 168 p.; ISBN: 978-85-8240-025-8); (4) Watanabe Patriota, Erika Almeida: Bens Ambientais, OMC e o Brasil (Brasília: Funag, 2013, 452 p.; ISBN 978-85-7631-476-9; Coleção CAE); 5) Santos, Luís Cláudio Villafañe G.: A América do Sul no discurso diplomático brasileiro  (Brasília : FUNAG, 2014, 248 p.; ISBN 978-85-7631-525-4; Coleção CAE); 6) Centro de História e Documentação Diplomática: II Conferência da Paz, Haia, 1907: a correspondência telegráfica entre o Barão do Rio Branco e Rui Barbosa (Brasília : FUNAG, 2014, 272 p.; ISBN 978-85-7631-508-7). Mini-resenhas 2 e 3, elaboradas originalmente sob n. 2498, colocadas novamente por terem sido censuradas pelo Diretor da ADB à época. Boletim da Associação dos Diplomatas Brasileiros – ADB (ano 22, n. 88, janeiro-fevereiro-março 2015, p. 31-32; ISSN: 0104-8503). Postado no Blog Diplomatizzando (4/04/2015; link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2015/04/prata-da-casa-mini-resenhas-de-livros.html). Relação de Publicados n. 1170.

 Agora as resenhas, para quem ainda não tinha lido:


Watanabe Patriota, Erika Almeida:
Bens Ambientais, OMC e o Brasil
(Brasília: Funag, 2013, 452 p.; ISBN 978-85-7631-476-9; Coleção CAE)


            Bens ambientais parecem estar no centro das angústias comerciais das próximas décadas, já que o planeta agora, para estar politicamente correto, precisa se guiar pelas regras do desenvolvimento sustentável. O Brasil tem, justamente, uma grande interface com o assunto, pelo seu potencial produtor e exportador desses bens (ainda que existam dúvidas sobre sua competitividade e avanços tecnológicos em energia solar e eólica). A tese mapeia as discussões multilaterais a respeito, a atuação da China e da Índia, as posições assumidas pelo Brasil e as implicações da regulação no lado doméstico da equação. A autora acha que as premissas da OCDE, entre elas a liberalização comercial, tendem a prejudicar os países em desenvolvimento: seria mais uma manifestação da velha teoria conspiratória que sempre coloca os ricos contra os interesses dos pobres?



Santos, Luís Cláudio Villafañe G.:
A América do Sul no discurso diplomático brasileiro
 (Brasília : FUNAG, 2014, 248 p.; ISBN 978-85-7631-525-4; Coleção CAE)


            A América do Sul é a nossa circunstância regional, imposta pela geografia; nem sempre essa evidência foi traduzida na agenda diplomática, mas desde a criação do Mercosul a região foi sendo incorporada ao discurso e nas prioridades nacionais, com altos e baixos no processo de integração regional, que assume, aliás, variadas formas. Esta tese de CAE, defendida em 2005, e agora publicada com nova introdução, percorre a evolução do conceito e seus aspectos práticos no relacionamento externo do Brasil. A região, como projeto político, também sofre o efeito das mudanças de orientação política no contexto interno, o que ficou amplamente evidenciado a partir de 2003, quando se fez tudo para afastar a região do Big Brother ao norte e deixá-la circunscrita aos próprios vizinhos do Sul: foi uma boa escolha? O livro deixa a questão em aberto.
 
Centro de História e Documentação Diplomática:
II Conferência da Paz, Haia, 1907: a correspondência telegráfica entre o Barão do Rio Branco e Rui Barbosa
(Brasília : FUNAG, 2014, 272 p.; ISBN 978-85-7631-508-7)


            Carlos Henrique Cardim, que apresentou tese e tem livro publicado sobre Rui diplomata, assina um prefácio de 18 páginas para introduzir o intercâmbio mantido a propósito do que ele chama de “estreia do Brasil no mundo”, consubstanciada na defesa da “dignidade da nação”, nas palavras de Rio Branco, que Rui interpretou como defesa intransigente da igualdade soberana das nações, entrando por isso em choque com as posições das nações mais poderosas. Seguem 240 páginas de telegramas entre os dois homens, desde 13 de março, ainda no Brasil, até 26 de dezembro, no Recife, a caminho do Rio, depois dos meses passados em Scheveningen, com trocas diárias de mensagens, informações e impressões de ambos sobre as posições dos demais participantes e sobre a que convinha ao país adotar. Matéria prima indispensável para os estudiosos.



Diogo Ramos Coelho:
Mundo em crise: a história da crise financeira, seus impactos nas relações internacionais e os atuais desafios
(Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2014, 324 p.; ISBN 978-85-230-1137-6)


O capitalismo está em crise, à beira da morte? Muitos pensam assim. O livro trata da crise financeira e das reações dos governos; o autor acha que as democracias não têm sabido realizar as reformas necessárias, pois existem custos políticos e sociais, que também atingem países em desenvolvimento. A diversidade de interesses dificulta uma globalização plena e a coordenação de respostas. Quais são os desafios? Conciliar democracia e mercados, o que não é fácil, como demonstra cada nova crise. E o Brasil? Se ele não sofreu tanto com a crise de 2008 (a despeito da queda em 2010), sofre agora com erros de política econômica doméstica. Mas o Brasil aparece mais no prefácio de Matias Spektor, e brevemente na introdução do autor, do que no resto do texto. Trata-se, em todo caso, de excelente introdução ao estudo da grande depressão que anda por aí.



Elias Luna Almeida Santos: Investidores soberanos, política internacional e interesses brasileiros (Brasília: Funag, 2013, 345 p.; ISBN: 978-85-7631-426-4)


O trabalho tem qualidades inegáveis, ao apontar as inúmeras dificuldades no tratamento dos fundos soberanos. Mas, à diferença do que diz o prefaciador, o FSB não está voltado para o gerenciamento das reservas brasileiras (tarefa a cargo do Banco Central), e sim tem sido usado mais para fins de economia doméstica (como a sustentação da Petrobras). O Brasil, aliás, tem todas as condições para NÃO ter um fundo desse tipo, já que não tem excedentes fiscais ou de transações correntes. Seja como for, esta tese de CAE ilumina o funcionamento desses fundos e os problemas a eles associados. Se e quando o Brasil dispuser de um fundo verdadeiro, a obra oferece desde já um panorama muito claro de como se movimentar no intrincado cenário de ganhos econômicos e ambições políticas que caracteriza sua existência corrente.


Celso Amorim: Breves Narrativas Diplomáticas (São Paulo: Benvirá, 2013, 168 p.; ISBN: 978-85-8240-025-8)


Dos cadernos do ex-ministro, notas sobre momentos cruciais, de 2002 a 2004 (e alguns desdobramentos ulteriores), da diplomacia “ativa e altiva”, como ele designa a sua gestão; mais adiante se acrescentou “soberana” à dita política externa. Trata-se de uma explicação e uma justificativa, pro domo sua, de alguns episódios desses anos: a invasão do Iraque pelos EUA, as tribulações do coronel Chávez, a implosão da Alca, o golpe de truco em Cancun, a aliança com a Índia e a África do Sul, as origens da Unasul e as andanças pela África. A história completa ainda vai ser contada, mas os escritos do ministro, entre eles Conversas com Jovens Diplomatas (2011), podem ser fontes primárias, desde que se confronte interpretações pessoais com análises independentes: a historiografia serve, justamente, para filtrar tais tipos de relatos.


 Durmam tranquilos, até o segundo trimestre. Ops, já estamos nele, preciso terminar a minha segunda Prata da Casa do ano...
Paulo Roberto de Almeida

sábado, 4 de abril de 2015

Prata da Casa: mini-resenhas de livros de diplomatas: Boletim ADB 1/2015 - Paulo Roberto de Almeida

Saindo do Forno agora...
Paulo Roberto de Almeida


1170. “Prata da Casa, Boletim ADB – 1ro. trimestre 2015”
Notas sobre os seguintes livros: 
1) Diogo Ramos Coelho: Mundo em crise: a história da crise financeira, seus impactos nas relações internacionais e os atuais desafios (Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2014, 324 p.; ISBN 978-85-230-1137-6); 
2) Elias Luna Almeida Santos: Investidores soberanos, política internacional e interesses brasileiros (Brasília: Funag, 2013, 345 p.; ISBN: 978-85-7631-426-4); 
3) Celso Amorim: Breves Narrativas Diplomáticas (São Paulo: Benvirá, 2013, 168 p.; ISBN: 978-85-8240-025-8); 
(4) Watanabe Patriota, Erika Almeida: Bens Ambientais, OMC e o Brasil (Brasília: Funag, 2013, 452 p.; ISBN 978-85-7631-476-9; Coleção CAE);  
5) Santos, Luís Cláudio Villafañe G.: A América do Sul no discurso diplomático brasileiro (Brasília : FUNAG, 2014, 248 p.; ISBN 978-85-7631-525-4; Coleção CAE);  
6) Centro de História e Documentação Diplomática: II Conferência da Paz, Haia, 1907: a correspondência telegráfica entre o Barão do Rio Branco e Rui Barbosa (Brasília : FUNAG, 2014, 272 p.; ISBN 978-85-7631-508-7). 
Boletim da Associação dos Diplomatas Brasileiros – ADB 
(ano 22, n. 88, janeiro-fevereiro-março 2015, p. 30-32; ISSN: 0104-8503). 
Relação de Originais n. 2773.

Prata da Casa - Boletim ADB: 1ro. trimestre 2015

Paulo Roberto de Almeida
Boletim da Associação dos Diplomatas Brasileiros - ADB
(ano 22, n. 88, janeiro-fevereiro-março 2015, p. 30-32; ISSN: 0104-8503)

(1) Diogo Ramos Coelho:
Mundo em crise: a história da crise financeira, seus impactos nas relações internacionais e os atuais desafios
(Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2014, 324 p.; ISBN 978-85-230-1137-6)


O capitalismo está em crise, à beira da morte? Muitos pensam assim. O livro trata da crise financeira e das reações dos governos; o autor acha que as democracias não têm sabido realizar as reformas necessárias, pois existem custos políticos e sociais, que também atingem países em desenvolvimento. A diversidade de interesses dificulta uma globalização plena e a coordenação de respostas. Quais são os desafios? Conciliar democracia e mercados, o que não é fácil, como demonstra cada nova crise. E o Brasil? Se ele não sofreu tanto com a crise de 2008 (a despeito da queda em 2010), sofre agora com erros de política econômica doméstica. Mas o Brasil aparece mais no prefácio de Matias Spektor, e brevemente na introdução do autor, do que no resto do texto. Trata-se, em todo caso, de excelente introdução ao estudo da grande depressão que anda por aí.

(2) Elias Luna Almeida Santos: Investidores soberanos, política internacional e interesses brasileiros (Brasília: Funag, 2013, 345 p.; ISBN: 978-85-7631-426-4)


O trabalho tem qualidades inegáveis, ao apontar as inúmeras dificuldades no tratamento dos fundos soberanos. Mas, à diferença do que diz o prefaciador, o FSB não está voltado para o gerenciamento das reservas brasileiras (tarefa a cargo do Banco Central), e sim tem sido usado mais para fins de economia doméstica (como a sustentação da Petrobras). O Brasil, aliás, tem todas as condições para NÃO ter um fundo desse tipo, já que não tem excedentes fiscais ou de transações correntes. Seja como for, esta tese de CAE ilumina o funcionamento desses fundos e os problemas a eles associados. Se e quando o Brasil dispuser de um fundo verdadeiro, a obra oferece desde já um panorama muito claro de como se movimentar no intrincado cenário de ganhos econômicos e ambições políticas que caracteriza sua existência corrente. 

(3) Celso Amorim: Breves Narrativas Diplomáticas (São Paulo: Benvirá, 2013, 168 p.; ISBN: 978-85-8240-025-8)


Dos cadernos do ex-ministro, notas sobre momentos cruciais, de 2002 a 2004 (e alguns desdobramentos ulteriores), da diplomacia “ativa e altiva”, como ele designa a sua gestão; mais adiante se acrescentou “soberana” à dita política externa. Trata-se de uma explicação e uma justificativa, pro domo sua, de alguns episódios desses anos: a invasão do Iraque pelos EUA, as tribulações do coronel Chávez, a implosão da Alca, o golpe de truco em Cancun, a aliança com a Índia e a África do Sul, as origens da Unasul e as andanças pela África. A história completa ainda vai ser contada, mas os escritos do ministro, entre eles Conversas com Jovens Diplomatas (2011), podem ser fontes primárias, desde que se confronte interpretações pessoais com análises independentes: a historiografia serve, justamente, para filtrar tais tipos de relatos.

(4) Watanabe Patriota, Erika Almeida:
Bens Ambientais, OMC e o Brasil
(Brasília: Funag, 2013, 452 p.; ISBN 978-85-7631-476-9; Coleção CAE)


            Bens ambientais parecem estar no centro das angústias comerciais das próximas décadas, já que o planeta agora, para estar politicamente correto, precisa se guiar pelas regras do desenvolvimento sustentável. O Brasil tem, justamente, uma grande interface com o assunto, pelo seu potencial produtor e exportador desses bens (ainda que existam dúvidas sobre sua competitividade e avanços tecnológicos em energia solar e eólica). A tese mapeia as discussões multilaterais a respeito, a atuação da China e da Índia, as posições assumidas pelo Brasil e as implicações da regulação no lado doméstico da equação. A autora acha que as premissas da OCDE, entre elas a liberalização comercial, tendem a prejudicar os países em desenvolvimento: seria mais uma manifestação da velha teoria conspiratória que sempre coloca os ricos contra os interesses dos pobres?

(5) Santos, Luís Cláudio Villafañe G.:
A América do Sul no discurso diplomático brasileiro
 (Brasília : FUNAG, 2014, 248 p.; ISBN 978-85-7631-525-4; Coleção CAE)


            A América do Sul é a nossa circunstância regional, imposta pela geografia; nem sempre essa evidência foi traduzida na agenda diplomática, mas desde a criação do Mercosul a região foi sendo incorporada ao discurso e nas prioridades nacionais, com altos e baixos no processo de integração regional, que assume, aliás, variadas formas. Esta tese de CAE, defendida em 2005, e agora publicada com nova introdução, percorre a evolução do conceito e seus aspectos práticos no relacionamento externo do Brasil. A região, como projeto político, também sofre o efeito das mudanças de orientação política no contexto interno, o que ficou amplamente evidenciado a partir de 2003, quando se fez tudo para afastar a região do Big Brother ao norte e deixá-la circunscrita aos próprios vizinhos do Sul: foi uma boa escolha? O livro deixa a questão em aberto.



(6) Centro de História e Documentação Diplomática:
II Conferência da Paz, Haia, 1907: a correspondência telegráfica entre o Barão do Rio Branco e Rui Barbosa
(Brasília : FUNAG, 2014, 272 p.; ISBN 978-85-7631-508-7)


            Carlos Henrique Cardim, que apresentou tese e tem livro publicado sobre Rui diplomata, assina um prefácio de 18 páginas para introduzir o intercâmbio mantido a propósito do que ele chama de “estreia do Brasil no mundo”, consubstanciada na defesa da “dignidade da nação”, nas palavras de Rio Branco, que Rui interpretou como defesa intransigente da igualdade soberana das nações, entrando por isso em choque com as posições das nações mais poderosas. Seguem 240 páginas de telegramas entre os dois homens, desde 13 de março, ainda no Brasil, até 26 de dezembro, no Recife, a caminho do Rio, depois dos meses passados em Scheveningen, com trocas diárias de mensagens, informações e impressões de ambos sobre as posições dos demais participantes e sobre a que convinha ao país adotar. Matéria prima indispensável para os estudiosos.



Paulo Roberto de Almeida
Hartford, 15 de fevereiro de 2015

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Recomendacoes de leituras, para curiosos...


Algumas recomendações de leituras: lista seletiva

Paulo Roberto de Almeida

Sergio Florencio: Os Mexicanos (São Paulo: Contexto, 2014, 240 p.)
   
         Você sabia que os mexicanos têm uma lista dos mais amados (Benito Juarez e Pancho Villa, entre eles), mas também dos mais odiados (Cortez, obviamente, e também Porfírio Díaz) personagens da sua história? Sabia que somos parecidos com eles? Este livro, por quem foi embaixador no México, apresenta uma história diferente do país que é apresentado como competidor do Brasil; de fato é, mas não como esperado: buscam os dois a prosperidade, a partir de bases sociais e comportamentos econômicos similares. Uma análise exemplar, feita do ponto de vista de um brasileiro que é fino observador das qualidades e idiossincrasias de um povo dotado de uma rica história de realizações, mas também de frustrações. Os desafios parecem semelhantes; serão também as soluções? Descubra um México diferente num livro em que o Brasil está presente.


Paulo Estivallet de Mesquita: A Organização Mundial do Comércio (Brasília: Funag, 2013, 105 p.)
       
     Parece difícil resumir em menos de 100 pequenas páginas a teoria do comércio internacional, a evolução prática do próprio, o estabelecimento do sistema multilateral de comércio, desde o Gatt e seus caminhos tortuosos, até chegar na OMC e todos os seus acordos e funcionamento. Uma proeza realizada por este engenheiro agrônomo que se fez diplomata, e que aplica o rigor da sua ciência de origem à análise dos problemas das relações econômicas internacionais, com ênfase no comércio e nos seus conflitos. O sistema parece uma bicicleta: é preciso avançar, pois qualquer parada pode significar retrocesso, não estabilidade. A interrupção da Rodada Doha, o recuo no protecionismo em alguns grandes países (alguns até próximos) são desafios graves, mas os acordos de livre comércio não são a resposta ideal. Só faltou a bibliografia para uma obra perfeita.


Lauro Escorel: Introdução ao Pensamento Político de Maquiavel (3a. ed.; Rio de Janeiro: Ouro Sobre Azul, FGV, 2014, 344 p.)
          
  Escrito em 1956, publicado pela primeira vez em 1958, novamente em 1979, este clássico da maquiavelística brasileira é agora apresentado por um acadêmico e complementado por uma conferência de 1980 do autor, que se tornou “maquiavélico” ao servir na capital italiana em meados dos anos 1950. Para Escorel, “as observações de Maquiavel sobre a política externa dos Estados continuam a apresentar... uma extraordinária atualidade”. O florentino foi o primeiro grande teórico da política do poder.  Mas no plano interno também, Escorel segue Maquiavel em que a política é um “regime de precário equilíbrio entre as forças do bem e as forças do mal, em que estas muitas vezes superam aquelas...”. Os dois colocam o “problema cruciante das relações da política com a moral”, que está no centro da obra do italiano.


Paulo Roberto de Almeida: Nunca Antes na Diplomacia...: a política externa brasileira em tempos não convencionais (Curitiba: Appris, 2014, 289 p.)
          
  Tudo o que você sempre quis saber sobre a diplomacia companheira e nunca teve a quem perguntar? Agora talvez já tenha, sobre quase tudo. Em todo caso, figura aqui uma avaliação do que representaram, para a política externa, os anos do lulo-petismo, com a independência de um acadêmico que também integra a diplomacia. Existem episódios que ainda vão requerer pesquisa em arquivos para saber como foram exatamente decididos, e provavelmente lacunas subsistirão, tendo em vista justamente as características especiais de uma diplomacia que não partiu essencialmente de sua casa de origem, mas andou combinada a outros estímulos, não arquivados. Parece que ela foi ativa, altiva e soberana, como nunca antes tinha acontecido. Outros traços emergirão num futuro balanço, ainda sem data. A História a absolverá? A ver...


Rogério de Souza Farias: A palavra do Brasil no sistema multilateral de comércio (1946-1994) (Brasília: Funag, 2013, 885 p.)
Uma coletânea, de alta qualidade, dos mais importantes pronunciamentos feitos por representantes brasileiros desde as negociações que precederam a constituição do Gatt (1946-47), passando pela Unctad (1964), até a criação da OMC (1994). O livro representa um repositório de grande relevância para todos os pesquisadores da história econômica brasileira, uma vez que compila documentos originais e outros materiais de referência (fotos, resumos biográficos dos negociadores brasileiros, etc.), mas constitui, igualmente, um instrumento de trabalho para os negociadores diplomáticos de nossos livros. O livro vem acompanhado por informações e fotos dos representantes e de notas de rodapé explicativas de cada contexto negociador. O denso prefácio e a longa introdução merecem leitura atenta; os temas abordados em cada capítulo constituem matéria prima indispensável para conhecer a história econômica e diplomática brasileira no plano do comércio internacional. Parece que pouco mudou...

Eugênio Vargas Garcia: Conselho de Segurança das Nações Unidas (Brasília: FUNAG, 2013, 133 p.)
         
   Tudo o que você sempre quis saber a respeito do CSNU e nunca teve a quem perguntar, ou onde ler. Agora já tem: neste pequeno grande livro de um historiador diplomata que já escreveu sobre o itinerário frustrado do Brasil na Liga das Nações e sobre as tentativas novamente frustradas para ser admitido no inner sanctum da sua sucessora. Mais que isso: a obra refaz não apenas a trajetória histórica desse órgão central da ONU, como percorre a geopolítica de sua atuação e funcionamento político (com algumas tinturas jurídicas), sempre focado nas reais alavancas de poder, isto é, o monopólio dos cinco membros permanentes (mas a China só ingressou em 1971). Uma síntese bem sucedida, uma bibliografia atualizada e uma reflexão sobre as realidades do poder atual, que reflete a posição brasileira em importantes questões da agenda da ONU e do seu desejado CS.



Carlos Márcio B. Cozendey: Instituições de Bretton Woods (Brasília: FUNAG, 2013, 181 p.)
       
     Cada linha da obra está impregnada de um triplo conhecimento: histórico, teórico e prático, sobre as origens, o desenvolvimento, nas décadas seguintes, e sobre o funcionamento atual dos dois irmãos de Bretton Woods, o Banco e o Fundo, que foram criados em 1944 na pequena cidade do New Hampshire para presidir à ordem econômica do pós-guerra. O autor é o secretário de Assuntos Internacionais da Fazenda, e como tal segue, no G20 e em outras instâncias, as negociações para a reforma do sistema monetário, que já passou por fases melhores do que a atual. Depois das paridades cambiais estáveis, o regime de flutuação não ajuda a manter a estabilidade mundial, mas o maior perigo advém dos desequilíbrios fiscais nacionais, um tema que todavia foge do escopo deste livro.



Harvey J. Kaye: The Fight for the Four Freedoms: What Made FDR and the Greatest Generation Truly Great (New York: Simon & Schuster, 2014, 292 p.).
O livro foi feito a partir dos papeis deixados por Franklin Delano Roosevelt em seus arquivos de Hyde Park: o eixo central é dado pelas quatro liberdades que Roosevelt proclamou no State of the Union de janeiro de 1941, logo após conquistar o seu terceiro mandato, antes, portanto, que os Estados Unidos fossem atacados e entrassem na guerra. Roosevelt, que já vinha procurando superar as resistências isolacionistas do Congresso, para converter os EUA no “Arsenal da Democracia”, insistiu na tecla de que seria ilusório tentar esconder-se atrás de muralhas defensivas. Os quatro grandes conceitos, em torno dos quais os americanos deveria estar unidos, não apenas para si mesmos, mas para todo o mundo, foram os seguintes: liberdade de expressão, de religião, da penúria e do medo. Esses princípios seriam inscritos na Carta do Atlântico, que Roosevelt assinou com Winston Churchill, em agosto de 1941, nas costas do Canadá, e foram consagrados no ano seguinte na Carta das Nações Unidas, uma espécie de “New Deal for the world”, que seria a base da Carta da ONU, assinada em San Francisco, em 1944.

Neill Lochery: Brazil: The Fortunes of War, World War II and the Making of Modern Brazil (New York: Basic Books, 2014, 314 p.)
O autor é um historiador britânico, professor de Mediterranean and Middle Eastern Studies do College University of London, e seu livro está dedicado ao envolvimento do Brasil na guerra, o que é feito de maneira minuciosa e competente. A introdução da obra já começa destacando o famoso documento-guia que Oswaldo Aranha preparou para as conversas de Vargas com Roosevelt, no encontro que ambos tiveram no Rio Grande do Norte, em janeiro de 1943, uma lista de objetivos de guerra que o Brasil declarava aos EUA, mas que também podem ser vistos como uma espécie de planejamento estratégico feito pelo grande chanceler para assegurar uma posição de realce para o Brasil na ordem internacional que estaria sendo desenhada pouco mais à frente para assegurar a paz e reconstruir o mundo. Oswaldo Aranha acreditava, pragmaticamente, que a política tradicional do Brasil, de apoiar os Estados Unidos no mundo, em troca do seu apoio na América do Sul, deveria ser mantida “até a vitória das armas americanas na guerra e até a vitória e a consolidação dos ideais americanos na paz.” Os Estados Unidos iriam liderar o mundo quando a paz fosse restaurada e seria um grave erro se o Brasil não estivesse do seu lado. Ambas nações eram “cósmicas e universais”, com características continentais e globais. Ele tinha plena consciência de que o Brasil era uma “nação economicamente e militarmente fraca”, mas o seu crescimento natural, ou as migrações do pós-guerra, lhe dariam o capital e a população que o fariam tornar-se, “inevitavelmente um dos grandes poderes políticos do mundo”. Pena que Oswaldo Aranha não se tornou presidente do Brasil.

Henry Kissinger: World Order (New York: Penguin Press, 2014, 433 p.)
Trata-se, provavelmente, do último livro, de tipo conceitual, de um dos mais destacados intelectuais americanos (de origem germânica), acadêmico de longa carreira, que também se destacou em atividades executivas, primeiro como conselheiro de segurança nacional, depois como Secretário de Estado, ator de primeiro plano das relações exteriores dos Estados Unidos e das próprias relações internacionais, consultor de quase todos os presidentes americanos desde os anos 1950 e de alguns governos estrangeiros também. Frustrante para os leitores de nossa região, o livro não devota nem mesmo um capítulo, sequer uma mísera seção, à América Latina ou ao Brasil, nas dez grandes unidades da obra, todas elas dedicadas aos grandes atores ou aos problemas percebidos como relevantes para o estabelecimento ou a preservação de uma ordem que de fato não existe. Após uma introdução de tratamento conceitual da questão título, ele dedica dois capítulos à ordem europeia surgida com a paz de Westfália e o sistema de balanço de poder daí resultante, um ao mundo islâmico e às desordens do Oriente Próximo, outro voltado exclusivamente para as relações entre os Estados Unidos e o Irã, dois outros sobre a Ásia (sua multiplicidade e a emergência de uma ordem “asiática”), dois capítulos inteiros sobre a diplomacia dos Estados Unidos (a ideia de uma ordem internacional na tradição wilsoniana e o seu papel atual como “superpotência ambivalente”) e, finalmente, dois capítulos finais voltados para questões tecnológicas e de informação e de proliferação, e sobre a evolução provável de uma ordem mundial ainda largamente indefinida. Para ser mais preciso, a América Latina não aparece sequer no índice remissivo do livro, embora nele exista a entrada western hemisphere. O Brasil só é mencionado duas vezes, ambas en passant e de maneira irrelevante: a primeira para falar sobre o impacto mundial das revoluções europeias de 1848, a segunda na companhia da Índia (que recebe tratamento mais amplo nos capítulos asiáticos da obra) como exemplo de nações emergentes. Fora isso, um grande livro.

Francis Fukuyama: The Origins of Political Order: From Prehuman Times to the French Revolution (New York: Farrar, Straus and Giroux, 2011, 620 p.) e Political Order and Political Decay: From the Industrial Revolution to the Globalization of Democracy (New York: Farrar, Straus and Giroux, 2014, 660 p.)
  
          Dois volumes que resumem o pensamento de um dos mais influentes cientistas políticos dos EUA, que retoma o trabalho seminal que tinha sido conduzido por um de seus mestres, o finado autor do “conflito de civilizações” (não um de seus melhores livros), Samuel Huntington, em seu clássico Political Order in Changing Societies (New Haven: Yale University Press, 1968), que tinha sido traduzido no Brasil por Heitor Ferreira Lima, um dos assessores do “guru” do regime militar no Brasil, Golbery do Couto e Silva em seus esforços de distensão e de transição política para uma ordem pós-autoritária durante a presidência Geisel. Os dois livros valem por um tratado de política, mas que praticamente confirmam um tese pré-concebida: o “fim da história”, se existir, se parece muito com o modelo político americano, que é a culminação das possibilidades democráticas nas sociedades liberais e avançadas de mercado. Mas o próprio Fukuyama reconhece que a democracia americana está sendo gradualmente conduzida a impasses institucionais pela rigidez do sistema bipartidário polarizado atualmente existente.


Bom proveito.
Paulo Roberto de Almeida 

Hartford, 2782: 16 dezembro 2014

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Prata da Casa: finalmente o último trimestre, mas ainda não publicado

Como prometido no post anterior, reproduzo aqui as mini-resenhas do último trimestre de 2014, que devem estar sendo publicadas incessantemente, como diriam os franceses.

Prata da Casa - Boletim ADB: 4ro. trimestre 2014
Hartford, 1 outubro 2014, 3 p. 
Notas sobre os seguintes livros: (1) Mesquita, Paulo Estivallet de: A Organização Mundial do Comércio (Brasília: Funag, 2013, 105 p.; ISBN 978-85-7631-472-1; Coleção Em Poucas Palavras); (2) Mariz, Vasco: Nos bastidores da diplomacia: memórias diplomáticas (Brasília: Funag, 2013, 296 p.; ISBN 978-85-7631-471-4; Coleção Memória Diplomática); (3) Florencio, Sergio: Os Mexicanos (São Paulo: Contexto, 2014, 240 p.; ISBN 978-85-7244-827-7); (4) Goertzel, Ted; Almeida, Paulo Roberto de (eds.): The Drama of Brazilian Politics: From Dom João to Marina Silva (Amazon; Kindle Book, 2014, 278 p.; ISBN: 978-1-4951-2981-0); (5) Almino, João: Free City (Londres: Dalkey Archive Press, 2013, 206 p.; ISBN 978-1-56478-900-6; trad. De Rhett McNeil, de Cidade Livre; Rio de Janeiro: Record, 2010); (6) Escorel, Lauro: Introdução ao Pensamento Político de Maquiavel (3a. ed.; Rio de Janeiro: Ouro Sobre Azul, FGV, 2014, 344 p.; ISBN: 978-85-88777-59-0). Publicado no Boletim da Associação dos Diplomatas Brasileiros – ADB ano 21, n. 87, outubro-novembro-dezembro 2014, p. xx-xx; ISSN: 0104-8503). Relação de Originais n.  2682.
 
Prata da Casa - Boletim ADB: 4ro. trimestre 2014

Paulo Roberto de Almeida
Boletim da Associação dos Diplomatas Brasileiros
(ano 21, n. 87, outubro-novembro-dezembro 2014, p. xx-xx; ISSN: 0104-8503)

(1) Mesquita, Paulo Estivallet de:
A Organização Mundial do Comércio
(Brasília: Funag, 2013, 105 p.; ISBN 978-85-7631-472-1; Coleção Em Poucas Palavras)


            Parece difícil resumir em menos de 100 pequenas páginas a teoria do comércio internacional, a evolução prática do próprio, o estabelecimento do sistema multilateral de comércio, desde o Gatt e seus caminhos tortuosos, até chegar na OMC e todos os seus acordos e funcionamento. Uma proeza realizada por este engenheiro agrônomo que se fez diplomata, e que aplica o rigor da sua ciência de origem à análise dos problemas das relações econômicas internacionais, com ênfase no comércio e nos seus conflitos. O sistema parece uma bicicleta: é preciso avançar, pois qualquer parada pode significar retrocesso, não estabilidade. A interrupção da Rodada Doha, o recuo no protecionismo em alguns grandes países (alguns até próximos) são desafios graves, mas os acordos de livre comércio não são a resposta ideal. Só faltou a bibliografia para uma obra perfeita.

(2) Mariz, Vasco:
Nos bastidores da diplomacia: memórias diplomáticas
(Brasília: Funag, 2013, 296 p.; ISBN 978-85-7631-471-4; Coleção Memória Diplomática)



(3) Florencio, Sergio:
Os Mexicanos
(São Paulo: Contexto, 2014, 240 p.; ISBN 978-85-7244-827-7)
  

            Você sabia que os mexicanos têm uma lista dos mais amados (Benito Juarez e Pancho Villa, entre eles), mas também dos mais odiados (Cortez, obviamente, e também Porfírio Díaz) personagens da sua história? Sabia que somos parecidos com eles? Este livro, por quem foi embaixador no México, apresenta uma história diferente do país que é apresentado como competidor do Brasil; de fato é, mas não como esperado: buscam os dois a prosperidade, a partir de bases sociais e comportamentos econômicos similares. Uma análise exemplar, feita do ponto de vista de um brasileiro que é fino observador das qualidades e idiossincrasias de um povo dotado de uma rica história de realizações, mas também de frustrações. Os desafios parecem semelhantes; serão também as soluções? Descubra um México diferente num livro em que o Brasil está presente.

(4) Goertzel, Ted; Almeida, Paulo Roberto de (eds.):
The Drama of Brazilian Politics: From Dom João to Marina Silva
(Amazon; Kindle Book, 2014, 278 p.; ISBN: 978-1-4951-2981-0)


            O ebook, editado por um brasilianista, já autor de biografias dos presidentes FHC e Lula, e por um diplomata conhecido por seus muitos outros livros, parece aproveitar a conjuntura para reunir artigos sobre a política brasileira. Não é bem assim; a despeito da maioria dos capítulos tratar da situação presente, desde as manifestações de 2013, o capítulo inaugural por Goertzel cobre o que o subtítulo promete: o drama político brasileiro desde o Império até as eleições atuais. O segundo capítulo, pelo diplomata Almeida, segue as mudanças de regime econômico em função das políticas econômicas adotadas desde a abertura dos portos até o atual baixo crescimento. De certa forma, constitui uma continuidade de seus outros trabalhos de pesquisa histórica sobre as relações econômicas internacionais do Brasil, aliás, um país muito introvertido.

(5) Almino, João:
Free City
(Londres: Dalkey Archive Press, 2013, 206 p.; ISBN 978-1-56478-900-6; trad. De Rhett McNeil, de Cidade Livre; Rio de Janeiro: Record, 2010)


            Depois de ter iniciado uma carreira de “escritor” de ciência política, João Almino enveredou pela arte da novela (As Cinco Estações do Amor) e pelo ensaísmo literário – Escrita em contraponto: ensaios literários, por exemplo – mas é nos romances semi-biográficos que ele se expressa melhor, como nesta tradução de seu aclamado relato em torno da construção de Brasília. Trata-se, na verdade, de uma ampla obra, enfeixada sob o rótulo comum de Quarteto de Brasília, talvez para aproximá-lo do autor do Quarteto de Alexandria. Free City é o terceiro do ciclo, um romance vibrante, no qual coexistem tanto os modestos construtores da cidade quanto personagens da política mundial ou do universo literário (vinculadas de alguma forma a Brasília), em idas e vindas entre o passado e o presente. Um dos melhores novelistas diplomatas...

(6) Escorel, Lauro:
Introdução ao Pensamento Político de Maquiavel
(3a. ed.; Rio de Janeiro: Ouro Sobre Azul, FGV, 2014, 344 p.; ISBN: 978-85-88777-59-0)


            Escrito em 1956, publicado pela primeira vez em 1958, novamente em 1979, este clássico da maquiavelística brasileira é agora apresentado por um acadêmico e complementado por uma conferência de 1980 do autor, que se tornou “maquiavélico” ao servir na capital italiana em meados dos anos 1950. Para Escorel, “as observações de Maquiavel sobre a política externa dos Estados continuam a apresentar... uma extraordinária atualidade” (329-30). O florentino foi o primeiro grande teórico da política do poder.  Mas no plano interno também, Escorel segue Maquiavel em que a política é um “regime de precário equilíbrio entre as forças do bem e as forças do mal, em que estas muitas vezes superam aquelas...” (34). Os dois colocam o “problema cruciante das relações da política com a moral”, que está no centro da obra do italiano.

Paulo Roberto de Almeida
Hartford, 1 Outubro 2014