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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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quarta-feira, 23 de agosto de 2017

A Corrupcao da Inteligencia: intelectuais e poder no Brasil - Flavio Gordon

Ao abrir as primeiras páginas deste livro, que estou lendo agora na versão Kindle, minha mente foi imediatamente levada para uma tarde da primavera de 2012, quando, na condição de professor convidado à Sorbonne para um curso de pós-graduação, viajei à Alemanha, com Carmen Lícia Palazzo, para visitar alguns novos museus que ainda não conhecia.
Fomos, assim, ao Museu dos Congressos do Partido Nazista, no subúrbio de Nuremberg, nos mesmos locais nos quais o NASPD, o Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores da Alemanha realizava seus congressos anuais, entre meados dos anos 1920 até quase o final da guerra.
Passei alguns minutos assistindo a documentários da época, transmitindo, por exemplo, discursos de Hitler à massa dos militantes do partidos reunidos no congresso, entre tochas e bandeiras, num clima que poderia ser apropriadamente descrito como de "fascínio doentio".
Não me guiei obviamente pelas palavras exatas de Hitler, em alemão, língua que conheço precariamente, e ative-me às legendas em inglês, absolutamete fieis ao que ele discursava. Independentemente, porém, da "gramática política", o que mais me chamou a atenção foi o ambiente geral do discurso, as invectivas de Hitler contra as "elites", as ameaças vindas do exterior, a "defesa do povo alemão" contra os inimigos que queriam humilhar a Alemanha e os alemães, seus olhos brilhando, e o fascínio das massas.
Impossível não lembrar, no mesmo momento, e o fiz involuntariamente, dos discursos de Lula, antes e depois de ter chegado ao poder, e do fascínio das massas presentes em Brasília, em 1o. de janeiro de 2003, quando de sua posse. As invectivas de Lula contra "eles", as "elites" que impediam o povo de resgatar a sua "dignidade", os "inimigos do povo" tinham uma inevitável semelhança com os discursos de Lula, sua postura, as mensagens que sempre veiculou em suas arengas intermináveis.
Esta foi a associação mais perturbadora que me deixou a visita ao Museu dos congressos do Partido Nazista, a despeito de todo o horror que nos provoca a mostra da degradação moral a que foi levado o povo alemão durante o domínio hitlerista.
Essa degradação moral está presente, creio, no livro de Flávio Gordon, que estou lendo agora.
Convido todos a também ler este volume, que talvez preencha uma função semelhante àquela provocada, muitos anos atrás, pelo livro de Harold Bloom, The Closing of American Mind.
Sim, a mente brasileira se fechou durante todos esses anos, e de certa forma ainda continua fechada, e essa obra nefasta é inteiramente devida aos nossos "subintelequituais", aqueles que eu  chamo de "acadêmicos gramscianos".
Recuso-me a chamar esses mistificadores universitários de "intelectuais", como o faz Flavio Gordon.
Com esta única restrição, convido à leitura do livro.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 23 de agosto de 2017


A Corrupção da Inteligência: intelectuais e poder no Brasil

Rio de Janeiro: Record, 2017 (versão Kindle)
 
O livro que explica, com clareza e precisão, a atual crise brasileira

Na última década, os brasileiros viram-se submetidos a um processo de corrupção endêmica e institucionalizada sem precedentes. Entre mensalões e petrolões, a nação assistiu embasbacada enquanto corruptos e corruptores descreviam, em tom de banalidade, alguns dos esquemas que possibilitaram o desvio de bilhões de dólares dos cofres públicos e, mais do que isso, a transformação do Estado e de suas instituições em instrumentos úteis aos interesses partidários mais sórdidos.
O Brasil que o PT criou é perigoso, feio, miserável e insustentável. Mas o que tornou tudo isso possível? O que possibilitou a chegada de figuras como Lula e Dilma Rousseff ao poder? O que entorpeceu a alma da sociedade brasileira tão profundamente para que ela se permitisse representar por personalidades tão toscas e malformadas? Quais são as raízes mais profundas da crise que aflige a nação? E qual foi o papel dos intelectuais brasileiros nisso tudo?
Estas são algumas das perguntas que o antropólogo e analista político Flávio Gordon busca responder, com invejável coragem e brilhantismo, nesta investigação vigorosa que o leitor tem em mãos. Dentre os muitos livros que buscam explicar a atual crise brasileira, nenhum tem a clareza, a precisão e a força explicativa que encontramos em A corrupção da inteligência.

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Mercosul fortalecido??? Em que planeta vivem certos professores?

Por vezes eu me deparo com entrevistas que eu não hesito  em classificar de alucinates.
Como este trecho, por exemplo, de uma entrevista sobre o Mercosul dada por um professor de RI em alguma universidade deste nosso Brasil.

"Pergunta: Como os países do Mercosul, agora com a Bolívia integrando a organização como um Estado-parte, podem fazer frente aos avanços políticos e econômicos dos EUA?
Resposta: Na última década, o fortalecimento do Mercosul foi visto como uma alternativa à expansão econômica norte-americana. E o próprio fato de a Aliança de Livre Comércio das Américas, a Alca, não ter sido implementada simboliza um pouco isso, esse freio a uma integração que beneficiasse os interesses econômicos norte-americanos. Neste sentido, como a própria pauta que levou a que o projeto da Alca se estancasse, o fortalecimento do Mercosul fez parte deste processo e quando a gente pensa o Brasil, o Fernando Henrique Cardoso, principalmente nos últimos dois anos do seu segundo mandato, revitalizou uma política externa brasileira direcionada a fortalecer o Mercosul. A ascensão de governos de esquerda, ou de centro-esquerda, nos países sul-americanos, na primeira década do século XXI, destacadamente a Venezuela, a Bolívia, a Argentina, com os Kirchner, contribuiu para que o Mercosul fosse fortalecido e, muito mais do que isso, ganhasse novos adeptos, no caso a Venezuela e a Bolívia, o que deu mais capilaridade ao bloco. O fortalecimento do Mercosul é uma forma de fortalecer os países sul-americanos contra os interesses econômicos dos EUA, e isso contribuiu decisivamente para que o projeto Alca fosse enterrado ou paralisado, a gente não sabe o que pode vir a acontecer, mas de fato fortaleceu o Mercosul. E fortalecer a relação do bloco com os BRICS ou com os países asiáticos como a China é uma forma de frear possíveis dependências da economia norte-americana, uma forma de quebrar esta dependência histórica que a América Latina tem em relação aos EUA. Neste aspecto, quanto mais fortalecido o Mercosul, melhor para o Brasil e para os demais países da América do Sul. Por mais que tenha força econômica, ainda é necessário que o Mercosul se amplie e consiga atrair outros países da América do Sul para dentro do bloco, ainda que seja difícil, já que sabemos que Peru e Chile se alinhavaram junto com o México e com a Colômbia na Aliança do Pacífico. Quem sabe no futuro poderemos ter um grande bloco – quer seja com a denominação do Mercosul ou com uma outra denominação – que contribua com o fortalecimento das economias sul-americanas e diminua a dependência em relação às transações econômicas e comerciais com os EUA."

Sinceramente, eu nem sei o que dizer...
Dependência de transações??? Já ouviram algo semelhante?
Tenho dó dos alunos, apenas isso...
Paulo Roberto de Almeida

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Miseria da academia: mensagem (quase incognita) recebida de um aluno

Recebi hoje, e quase apago (pois entrou direto na minha caixa de Junk mail), a mensagem abaixo de um aluno, a propósito de um entrevero recente que mantive com alguns professores que não merecem esse nome:



On Oct 23, 2014, at xx:xx, Xxxx Xxxxx <xxxxx@hotmail.com> wrote:

Mensagem enviada pelo formulário de Contato do SITE.

Nome: Xxxx Xxxxx
Cidade: Xxxx
Estado: XX
Email: xxxxxx@hotmail.com
Assunto: Opiniao
Mensagem: Prezado Sr. Paulo Roberto,

Meu nome é Xxxxx e sou estudante de Xxxxxxxxx da Universidade Federal de XX. Eu gostaria de agradecê-lo por ter defendido, o que nós, poucos alunos de Xxxxxxx da UFXX não podemos expressar. O partidarismo político do meu curso tem sido extremamente abusivo e perverso. As aulas são praticamente somente para explicar os porquês que o governo da Dilma são benéficos à população. Os Professores Fulano e Beltrano que deveriam nos ensinar xxxxxxx, nos ensinam somente sobre o comunismo. Eu e mais três alunos do curso somos liberais e já sofremos com atos abusivos por tal. Nossos colegas e professores nos ridicularizam. Como estou no meu último semestre, infelizmente não posso defender as ideias que julgo como justas e honestas. E por tal motivo, senti a necessidade de agradecê-lo por ter apontado o abuso que nossos professores fizeram e têm feito diariamente através da publicação daquele "manifesto". Fica aqui o meu muito obrigada.

Respeitosamente,

Xxxxx Xxxxxx.

 ===========

Respondi o que segue:

    Xxxxx,
    Muito grato pela sua mensagem e pelas palavras sensatas que voce me escreveu.
    Toda a minha ação, como professor, todas as minhas atividades, como profissional da diplomacia, têm sido sempre no sentido da informação de boa qualidade, do questionamento crítico de qualquer argumento ou informação que lemos ou que recebemos, de reflexão ponderada sobre esses temas, e de tentativa de educar, didaticamente, os mais jovens, com base nas minhas leituras, na minha experiência de vida, no meu conhecimento do mundo, como o conheci, diverso e contraditório, todos os socialismos (reais e surreais) e todos os capitalismos, ideais, periféricos, miseráveis, e alguns fascismos também (o que temo para o Brasil).
    Infelizmente, atravessamos, no plano cultural, educacional, e até mental, uma fase muito difícil para o Brasil, com essa miséria da academia, com esse recuo da inteligência, com essa renúncia a pensar.
    Isso um dia passa, mas deixa marcas, e nos deixa para trás na simples escala da inteligência humana.
    Persistiremos, com alunos como você e seus colegas.
    Somos hoje, um quilombo de resistência intelectual, mas a verdade sempre acaba prevalecendo no final.
    É por isso que lutamos, se mais não fosse apenas para preservar nossa dignidade como cidadãos conscientes.
    Cordialmente,

PS.: Se você não se incomoda, vou apagar as referências reais e postar a sua bela mensagem para que outros a leiam. Quem sabe, alguém gostará, quem não sabe, se interessará, e talvez ajude a pensar...
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Paulo Roberto de Almeida

sábado, 5 de julho de 2014

Historia: entre o o fato e a versao, esta tende a prevalecer

A matéria se refere à imagem que ficará da presidência Obama -- passavelmente medíocre pelo seu desempenho efetivo, salvo na retórica do próprio - na História, mas ela também pode servir para o Brasil, onde temos a mesma propaganda maciça a favor dos companheiros, isto porque dois quintos dos jornalistas e dos acadêmicos são governistas, por razões que não têm nada a ver com a realidade e sim com a predisposição desses indivíduos que influenciam a opinião pública de modo decisivo.
Paulo Roberto de Almeida

Eye on the News

MATTHEW HENNESSEY
Obama and the Verdict of Posterity
Thanks to liberal historians, the 44th president will probably get much higher marks than he deserves.
The City Journal, 4 July 2014

Conservatives have a low opinion of President Obama. So low, in fact, that most are convinced his presidency will ultimately be viewed as a failure—and at least one recent poll gives them good reason to feel confident About that. They see a moribund economy and Obamacare’s many snafus and presume historians will call the Obama administration incompetent. They see chaos in Iraq, Syria, and Ukraine and think future generations will judge his foreign policy a disaster. They see the Bowe Bergdahl and IRS/Lois Lerner affairs—not to mention the Benghazi and V.A. administration episodes—and expect the Obama years to be remembered as scandal-plagued. Conservatives think history will be unkind to President Obama, but they’re wrong. History will more likely revere the first black president, ignoring his failures and amplifying his successes.
Journalism, it’s often said, serves as the rough draft of history, and American journalists, to an overwhelming degree, adore Obama. Their first drafts of the history of the Obama years will likely be laudatory. But more important, in the long term, than the opinion of today’s journalists is the attitude of historians—most of whom make their living in academia. It’s no secret that the American college campus is a bastion of leftism. A 2005 survey of faculty members at 183 four-year colleges found that 81 percent of politics professors and 77 percent of historians considered themselves liberals. The watchdog group Campus Reform examinedFederal Election Commission data and found that 96 percent of political donations by faculty and staff at Ivy League colleges went to Obama in 2012.
Some say history is written by the victors. That may have been true in antiquity, but in the modern world, history is written by left-wing journalists and professors. And the presidential historians of tomorrow will likely give Obama credit for attempting to reform the American health-care system, even if that reform proves costly, inadequate, or disastrous. They will praise him as the president who ended George W. Bush’s wars in Iraq and Afghanistan, even if those countries ultimately revert to authoritarianism (as they seem to be doing). They will hail him for trying to close the military prison at Guantanamo Bay and pass comprehensive immigration reform, even if those campaign promises go unfulfilled. When it comes to his failures, history will say that it wasn’t Obama’s fault. History will say that Obama tried. Don’t believe me? Check your history. History has done it before.
Franklin D. Roosevelt tried to pack the Supreme Court and subvert the checks and balances that our political system has always relied on to keep presidents from behaving like kings. Some say his economic policies prolonged the misery of the Great Depression. While FDR has been justly lauded for his military leadership during the Second World War, his administration hadprior warning about the possibility of a Japanese attack in the Pacific and perhaps could have prevented the deaths of 2,400 Americans on December 7, 1941. FDR also issued an executive order forcing more than 110,000 Japanese Americans into internment camps. Yet, FDR is routinely ranked by historians as one of our greatest presidents. Why? Because history is written by historians, and historians love the New Deal and the welfare state.
John F. Kennedy’s presidency was abbreviated by assassination; he didn’t live to complete three full years in office, during which his accomplishments were slim. Yet in 2012, he showed up in a Newsweek survey of historians selecting the 10 best modern presidents. (Also on that list? Barack Obama, of course.) Why should Kennedy rank among the twentieth-century’s best? Because JFK is the personification of compassionate, paternalistic liberalism, and American journalists are, for the most part, compassionate, paternalistic liberals.
Consider, too, how history has treated Lyndon B. Johnson. The architect of military escalation in Vietnam, Johnson left the presidency in disgrace. He was so despised by the Left that his own party hounded him into surrendering the nomination in 1968. But many on the Left have lately forgiven LBJ for the sins of Vietnam, because he gave us the Great Society and the War on Poverty. So LBJ gets a pass. Instead, Richard Nixon gets blamed for Vietnam, when he isn’t taking heat for everything from the Clinton impeachment to the obesity epidemic. History hates the Republican Nixon, who got us out of Vietnam. History loves the Democrat LBJ, who gave us the Gulf of Tonkin Resolution. Funny how that works.
Think I’m exaggerating or cherry-picking? Compare the recent media commemorations of the 50th anniversaries of the Civil Rights Actand the Great Society with those of the 50th anniversary of the start of the Vietnam War. Actually, you won’t find many articles commemorating the start of the Vietnam War—possibly because those articles would have to acknowledge how the Kennedy and Johnson administrations entangled us in that bloody and controversial conflict. Best to wait until the Nixon-era anniversaries start rolling around for a full-color spread on Vietnam and its tragic legacy. History likes to keep things tidy.
Conservatives expecting the light of history to illuminate Barack Obama’s missteps and expose his presidency as a failure should prepare to be disappointed. If history is any guide, history will love this guy.

terça-feira, 3 de junho de 2014

Crise do Capital e Fundo Publico: uma pesquisa recusada pela Capes, porser uma piada pronta...

...mas iria custar muito aos fundos publicos: mais de 430 mil reais do seu, do meu, do nosso dinheiro.
O argumento indignado dos autores do projeto aloprado representa uma confirmação do acertado da recusa da Capes.
Leiam.
Paulo Roberto de Almeida 

Compas
Divulgar amplamente
Abs [Fulana]


A tod@s
Todo apoio às (aos) companheir@s pesquisadorxs. Inadmissível uma Agência de fomento à pesquisa dar um parecer pautada em preconceito e negação de um método de conhecimento, análise e interpretação da realidade, o materialismo histórico e dialético. Sugiro além dos questionamentos à Capes, um posicionamento de nossas entidades contrários à essa postura obscurantista que nega a possibilidade do pluralismo, da crítica e da contribuição científica ao pensamento e à práxis.
Lamentável a postura dos pareceristas da CAPES, destituida de qualquer argumento científico Pela liberdade de expressão, manifestação e perspectiva crítica face a realidade social.
Professora Xxxxxxxxx Xxxxxxxxx - Coordenadora do NEAM-Núcleo de Estudos e Aprofundamentos Marxistas-Pós Graduação da PUCSP
===========
Prezados/as Pesquisadores/as do Serviço Social Brasileiro,

É com muita tristeza e indignação que socializamos com todos/as vocês o parecer da CAPES relativo ao Projeto "Crise do Capital e Fundo Públioco: Implicações para o Trabalho, os Direitos e as Políticas Sociais", apresentado ao Edital Procad 071/2013.
O Projeto envolve a UnB, UERJ e UFRN, 19 docentes, 09 doutorandos/as, 15 mestrandos/as e 27 graduados/as

Nossa indignação não se refere à não recomendação em si, mas à justificativa utilizada pelo parecerista: o projeto não teria mérito técnico-científico porque fundamentado no método dialético-materialista histórico, o qual o parecerista não considera científico. A partir deste posicionamento ideológico e político, e não científico, todos os demais quesitos foram desqualificados superficial e inconsistentemente pelo parecerista, como vcs podem ler no parecer que socializamos em anexo.

No dia 30 de maio, conforme o Edital, impetramos recurso na plataforma Sicapes. Contudo, o espaço disponível de apenas 5000 caracteres com espaço não nos permitiu a exposição de motivos que demonstra, em detalhes, o caráter anticientífico, sectário e desrespeitoso para com as Ciências Humanas e Sociais, o projeto e seus autores. Por isso, enviamos um documento de recurso mais detalhado ao presidente da CAPES e o socializamos em anexo. 
 
A equipe de docentes do Projeto decidiu denunciar este inaceitável patrulhamento ideológico e tratamento desrespeitoso a todos que adotam o método crítico dialético, dentro e fora da nossa área.  

Vocês verão que não se trata apenas de recusar um projeto, mas de desqualificar qualquer pesquisa fundada nessa perspectiva, tratada como não científica e, portanto, desprovida de mérito técnico científico.

Neste momento, nos importa fundamentalmente denunciar esse impropério e defender veementemente a pluralidade, liberdade ideopolítica e o respeito ao método dialético marxista, e a todo seu legado científico, que tanto vem contribuindo para pensar criticamente a sociedade brasileira, a crise contemporânea e seus dilemas.

Vale registrar, também, que nenhum projeto do Serviço Social foi aprovado neste Edital, e que dos 62 aprovados, mais de 90% são das áreas de exatas e biomédicas.

Por fim, pedimos que este email e seus anexos sejam amplamente divulgados nas ciências sociais em geral, pois este fato mostra o ambiente hostil ao pensamento crítico.

O parecer: 

Instituição Proponente: Crise do Capital e Fundo Público: implicações para o trabalho, os direitos e a política social
Valor solicitado: R$ 437.203,37

Etapa realizada: Análise de Mérito
Observação do item: Projeto afirma basear-se no método marxista histórico-dialética. Julgo q a utilização deste método não garante os requisitos necessários para que se alcance os objetivos do método científico

Observação do item: Considerando a metodologia a ser empregada - cujos requisitos científicos não tem unanimidade - a proposta pode ser considerada pouco relevante.

Item: Contribuição para a Educação Básica
Observação do item: Não se aplica
Item: Formação e aperfeiçoamento de recursos humanos
Observação do item: Sim, entretanto, a formação proposta estaria no âmbito do método marxista histórico-dialético, cuja contribuição 'a ciencia brasileira parece duvidosa.
Item: Importância do projeto em níveis institucional, regional e nacional
Observação do item: O consenso sobre a importância científica do projeto não é consensual

Observações da Coordenação: Justificativa para a não recomendação da proposta: as equipes proponentes e associadas acabaram de participar de um PROCAD com duração de 4 anos; diante do elevado número de propostas com mérito que ainda não participaram do Programa, parece de bom senso que esta não seja contemplada.

O recurso das "pesquisadoras": 

Recurso ao Parecer de Análise de Mérito Emitido pela CAPES/PROCAD ao Projeto “Crise do
capital e fundo público: implicações para o trabalho, os direitos e as políticas sociais”

Ref. Edital n. 071/2013 – Programa Nacional de Cooperação Acadêmica 2013
Projeto: Crise do capital e fundo público: implicações para o trabalho, os direitos e as políticas sociais
N0 da Proposta: 163936

Contestação ao Parecer Geral
A equipe do Projeto “Crise do capital e fundo público: implicações para o trabalho, os direitos e as políticas sociais” - composta por 03 Instituições de Ensino Superior Públicas (UnB, ERJ e UFRN), 19 docentes pesquisadores (sendo 4 pesquisadores bolsistas PQ do CNPq), 09  doutorandos/as, 15 mestrandos/as e 27 discentes da graduação, vem apresentar recurso ao parecer negativo à recomendação da proposta apresentada.
O parecer da análise do mérito não recomenda a Proposta sob a seguinte justificativa: “as equipes proponentes e associadas acabaram de participar de um PROCAD com duração de 4 anos; diante do elevado número de propostas com mérito que ainda não participaram do Programa, parece bom senso que esta não seja recomendada”. A nota atribuída à Proposta foi 77,5.
Este parecer foi repetido nas “Observações da Coordenação” e validado pela Coordenação Geral, que se pronuncia: “De acordo com o parecer de mérito”. Ou seja, com base no disposto no parecer disponibilizado na plataforma SICAPES, fica evidente que a avaliação de mérito foi emitido por um (ou mais de um, o que não fica claro no formulário) parecerista e avalizado por duas instâncias de Coordenação da CAPES.
A equipe considera que o argumento acima apontado não tem fundamentação legal, além de ser improcedente, e não pode ser utilizado para justificar a não recomendação da referida Proposta, pelos seguintes motivos:
1. O Edital 071/2013 não apresenta como critério de recomendação e/ou não recomendação a participação anterior em outros editais PROCAD. Se a CAPES tivesse por política priorizar grupos e/ou docentes que não tiveram projetos aprovados por mérito em outros editais, este deveria ser um item estabelecido neste edital. Nenhum concurso público, seleção ou edital público pode se reger pelo “bom senso”, de caráter eminentemente subjetivo. Introduzir o “bom senso” como critério de não recomendação ao final do processo, inclusive penalizando...

(seguem mais páginas e páginas de besteirol, inclusive o que vai abaixo)

Parecer: “Sim, entretanto, a formação proposta estaria no âmbito do método marxista histórico-dialético, cuja contribuição `a ciência brasileira parece duvidosa” (erro de digitação está no texto do parecer)
Questionamento: A natureza deste parecer é absolutamente tendenciosa, ideologicamente posicionada e preconceituosamente desrespeitosa com as ciências humanas e sociais e sua incorporação histórica do método dialético materialista. Não podemos aceitar que a CAPES mobilize pareceristas e avaliadores que desconheçam a importância de contribuições históricas fundadas neste método para a compreensão da realidade brasileira e mundial. E mais do que isso, que avalize posições que negam, desconsideram e desrespeitam uma importante tradição teórico-metodológica no Brasil e no mundo. Não se trata aqui de solicitar que o parecerista e a CAPES concordem com tal abordagem, mas de questionar o desconhecimento e/ou desrespeito a este Método. Já argumentamos suficientemente sobre seu caráter científico quando questionamos o item 1 do parecer. Aqui, vamos nos deter na argumentação que afirma que o uso deste método teria uma contribuição “duvidosa” para a ciência brasileira. Podemos começar perguntando à CAPES o que seria das ciências sociais e do estudo da Formação Social, Econômica e Política Brasileira se não dispusessem de obras de autores como Florestan Fernandes, Caio Prado, Octávio Ianni, Paulo Freire, Carlos Nelson Coutinho, Francisco de Oliveira, Leandro Konder, Roberto Schwarz, Antonio Cândido, Jacob Gorender, Nelson Werneck Sodré, Marilena Chauí, Emir Sader e José Paulo Netto, para citar alguns autores que fizeram e fazem ciência social baseados no Método do Materialismo Histórico
Dialético? São autores reconhecidos mundialmente como essenciais na formação de gerações que pensam criticamente a realidade social e contribuíram e contribuem enormemente para desvendar o Brasil e as reais e múltiplas determinações da desigualdade econômica e social, para explicar os processos de estratificação social e concentração de propriedade, renda e poder, além do amplo universo de reivindicações de direitos presentes em praticamente todas as cidades brasileiras, bem como em nível mundial.

Por aí vai...
Assim anda a nossa academia...
Paulo Roberto de Almeida 



terça-feira, 1 de abril de 2014

Pequeno retrato das nossa deformacoes academicas: a Unasul e o caso da autonomia dificultada pelas elites

Que as nossas faculdades de ciências sociais sejam um perfeito retrato dos retrocessos mentais que vêem ocorrendo no âmbito universitário brasileiro disso ninguém mais duvida. Eu venho repetindo isso desde algum tempo, e as pessoas podem achar que se trata de simples arrogância intelectual (pecado que, confesso, devo cometer regularmente). Mas poucas vezes se pode trazer as provas desse tipo de involução intelectual.
Não neste caso.
O artigo abaixo, do qual retirei o nome do autor, condensa alguns dos defeitos mais evidentes do estado atual dos nossos estudiosos de relações internacionais (mas não restrito a esse campo).
O tema é canhestro, mas ao estilo companheiro: autonomia da Unasul.
Parece que é um problema, quando não é, nunca foi, e não deveria ser.
Mas, o autor se angustia com essa busca desesperada de autonomia (em relação ao império se entenda) de um organismo criado e alimentado pelos novos totalitários potenciais da região.
Parece que o império não gosta dessa autonomia, por isso é tão difícil e tão angustiante essa busca, que parece um exercício espiritual à la Wittgenstein.
E quem seria oposto a que isso ocorra?
Ora, leitores, as zelites, como sempre, essas criaturas malvadas, perversas, que estão sempre complotando com o império para impedir a liberdade, a autonomia, a soberania, o desenvolvimento, o progresso e o bem estar das nossas populações antes oprimidas e que agora estão buscando redenção com os tais representantes da Unasul.
Todo o artigo se concentra num editorial do Estadão, como se esse representante da imprensa golpista (sim, o famoso PIG) tivesse o poder de cercear a busca de autonomia por parte da pobrezinha da Unasul.
Eu fico pensando o seguinte: se artigos como esse encontram acolhimento em veículos das nossas academias, o que estará acontecendo com o resto, que não é publicado?
Confesso que ando pessimista com o andar da carruagem, ou com o desandar da academia...
Paulo Roberto de Almeida


1 Apr 2014

A recente crise na Venezuela, marcada pela polarização entre os setores da população, por protestos contra e a favor do governo de Nicolás Maduro e por repressão à oposição suscitou discussão em diferentes fóruns multilaterais. No dia 07 de março, foi abordado em reunião da Organização dos Estados Americanos (OEA) o envio de uma missão de observadores ao país, mas os países da América do Sul votaram contra a iniciativa e definiram que o melhor órgão para discutir a questão seria a União das Nações Sul-Americanas (Unasul), a qual se organizou e enviou seu próprio grupo de observadores ao país.
Independentemente dos resultados da missão sul-americana, a busca de uma solução regional para a crise na Venezuela mostra uma mudança de comportamento. Ao contrário do que ocorria durante o período da Guerra Fria e nos anos 90, o órgão responsável por atuar na crise não será liderado pelos Estados Unidos, mas a condução das negociações será realizada pela América do Sul.
Ao buscar uma coordenação dos países sul-americanos em questões políticas e estratégicas e uma contraposição da região aos Estados Unidos e às organizações lideradas por este país, como a OEA, a Unasul reflete uma busca de autonomia por parte da América do Sul. Neste âmbito, a criação de um Conselho dedicado exclusivamente aos temas de Defesa mostra a determinação da região em resolver os problemas de maneira autônoma e de questionar a visão apresentada pelos EUA (SAINT-PIERRE, 2011, p. 418). De acordo com Maria Regina Soares de Lima, o Conselho de Defesa Sul-americano (CDS) representa um ineditismo, por se apresentar como a primeira configuração sul-americana, sem a presença dos EUA. Segundo a autora, a criação do CDS mostra tanto a busca de autonomia pela região como a incapacidade dos EUA de responder às demandas sul-americanas (2013, p. 169).
Neste sentido, a posição dos países sul-americanos de buscar que a crise venezuelana seja discutida no âmbito da Unasul e não a partir da OEA é coerente com a estratégia regional, pois tratar essa questão a partir da Unasul mostra a consolidação do bloco e apresenta-se como uma meio importante para tornar a região mais autônoma.
Além da busca pela autonomia, o processo de construção da Unasul ainda mostrou a disposição brasileira em construir um espaço geopolítico no qual sua influência pudesse ser exercida. O país foi um dos mais atuantes na construção do bloco, tendo convocado a primeira reunião de chefes-de-Estado da América do Sul, em 2000, ainda durante o período do governo de Fernando Henrique Cardoso, a qual teria como desdobramento o início do processo de construção da Casa, que em 2008 seria convertida na Unasul.
O Brasil ainda se engajou na construção do Conselho de Defesa Sul-Americano, tendo criado o projeto inicial e o apresentado aos países da região através de viagens realizadas pelo então Ministro da Defesa, Nelson Jobim. De acordo com Lima, a configuração do Conselho está conectada com a Estratégia Nacional de Defesa, que aponta a necessidade de criar um complexo científico-militar-empresarial sobre Defesa e de aumentar a produção nacional e internacional da indústria de Defesa (2013, p.185).
Assim, nota-se que o processo de construção da Unasul foi em parte decorrente de iniciativa brasileira e que a concretização do bloco vincula-se de maneira clara aos interesses nacionais, podendo aumentar o poder regional brasileiro e sua autonomia no plano global.
Entretanto, no Brasil, percebe-se que a valorização do bloco não é consensual, sendo que a mídia tem apresentado duras críticas a essa forma de cooperação regional. Em editorial publicado no dia 13 de março, o periódico O Estado de S. Paulo criticou veementemente a posição brasileira de se opor à atuação da OEA e defender que a situação deveria ser resolvida através da Unasul. Segundo o periódico, o Brasil teria tornado improdutiva a única iniciativa capaz de repreender o governo de Maduro, através da OEA, e teria agido contaminado por ares bolivarianos (O ESTADO DE S. PAULO, 13 /03/2014).
O jornal ainda criticou fortemente a convocação de uma reunião da Unasul, a qual classificou como um passo escandaloso e qualificou o bloco como um instrumento dos governos bolivarianos, desimportante e cuja a única utilidade seria dar respaldo a governos não democráticos. O periódico ainda defendeu que o envio de uma comissão da Unasul para a Venezuela tem como finalidade única ser conivente com o governo de Maduro e legitimá-lo. O Estado de S. Paulo concluiu afirmando que o Brasil está tratando a situação de maneira leviana e está tornando-se corresponsável pela consolidação de um regime delinquente (O ESTADO DE S. PAULO, 13 /03/2014).
A mesma posição foi apresentada pelo jornal o Globo, o qual em editorial publicado no dia 14 de março criticou a postura da Unasul frente à situação na Venezuela. De acordo com o jornal, a comissão criada pelo bloco seria apenas um jogo da cena diplomática para Maduro ter tempo de sufocar as manifestações que acometem o país. O Globo ainda argumentou que o grupo de países apoiadores do chavismo, dentre os quais o Brasil, havia impedido uma ação mais energética por parte da OEA. Para o periódico, a posição da Unasul seria de apoio a Maduro e não poderia ser diferente, pois o bloco teria sido criado com uma essência de chavismo. Para o Globo, a Unasul seria “fruto de uma fertilização in vitro do chavismo com o lulopetismo e teria sido criada para ser uma OEA sem a presença dos Estados Unidos” (O GLOBO, 14 /03/2014).
Em tais editoriais o bloco é criticado como ideológico, o que significaria que se oporia a políticas pragmáticas. Entretanto, como apontado, apesar de ter uma ideologia de valorização da América do Sul e de negar a hegemonia dos EUA, as políticas brasileiras a partir do mesmo possuem motivações pragmáticas, uma vez que o objetivo seria aumentar o poder de influência brasileiro e também diminuir a influência extra-regional na solução de problemas locais.
Ademais, em tais editoriais fica clara a percepção de que seria mais importante para o Brasil valorizar suas relações com os países do Norte do que promover a cooperação Sul-Sul. Esse contexto mostra que a ideia de cooperação regional e valorização da América do Sul não foram absorvidas pelas elites brasileiras. De acordo com Vigevani et al, o interesse reduzido da sociedade brasileira por integração regional é constante e foi um dos fatores que colocou importantes obstáculos ao aprofundamento das instituições do Mercosul (2008, p. 19). Assim, nota-se que um dos maiores empecilhos à consolidação e ao fortalecimento da Unasul pode vir não de fora, de condicionantes externas provocadas pelo poderio estadunidense, mas internamente, da percepção de parte da elite brasileira, que entende o relacionamento com a América do Sul como menos importante que as relações com os países do Norte.
Bibliografia
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