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quarta-feira, 20 de maio de 2015
(Des)educacao brasileira: freireanos ideologicos reclamam do ministro aloprado
Os freireanos, como é de seu hábito, agitam outros grandes conceitos -- como esse da tal "educação inclusiva", que não quer dizer absolutamente nada, se não incluir as matérias essenciais -- para se opor ao ministro que acham vendido para perigosas ideias empresariais.
Que pecado! De ambos os lados: os freireanos por estarem destruindo a educação brasileira, o ministro por ser um mero acadêmico, ainda que eivado de boas intenções.
O ponto de vista, que considero especialmente nefasto, dos freireanos vai exposto abaixo, apenas para confirmar o que sempre disse: não há nenhum risco de a educação brasileira melhorar no futuro previsível.
Paulo Roberto de Almeida
Abaixo da média
Educação: Diagnóstico e propostas do ministro Mangabeira Unger são mal recebidos por especialistas do setor
Por Cinthia Rodrigues
Carta Capital, 18/05/2915
Com a reeleição de Dilma Rousseff, lideranças e ativistas da área de educação previam um 2015 de muito trabalho e poucas novidades. Após 42 meses de exaustivo debate, o Plano Nacional de Educação (PNE) e suas 20 metas e 250 estratégias para a década havia sido aprovado sem vetos pela presidenta. O passo natural seria a execução do plano. Seria. Um projeto assinado pelo ministro Mangabeira Unger, da Secretaria de Assuntos Estratégicos, tem provocado celeumas entre os especialistas e parece pretender atropelar o PNE.
Educadores, muitos ligados ao PT, reclamam da visão excessivamente "empresarial" do documento, intitulado Pátria Educadora. Para elaborar o texto de 29 páginas, divulgado em 22 de abril, Unger consultou fundações bancadas pelo setor privado e pesquisadores que trabalharam em campanhas adversárias, entre eles Maria Helena Guimarães, autora do programa de governo de Aécio Neves para o setor. Deixou de lado, no entanto, grupos de pesquisa consolidados e que oferecem visões diferentes. A reação foi instantânea e dura. "Nesta reflexão há certa dose de indignação, pois não poderíamos imaginar que uma proposta com esse conteúdo conservador e excludente pudesse vir de um governo que queremos que seja nosso"; escreveu o doutor em Educação pela Universidade de São Paulo e ex-secretário da pasta no Rio Grande do Sul, José Clóvis de Azevedo, no início do texto de 31 páginas em resposta ao projeto Unger.
O presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados, Paulo Pimenta, em outras 19 páginas, disse tratar-se de um retrocesso a um processo até então democrático e inclusivo. "Afronta os objetivos mais importantes da educação construídos em décadas que visam a superação da escola seletiva", anotou.
O documento é composto de duas partes. A primeira, intitulada "A Tarefa", reconhece melhoras na universalização do acesso ao ensino básico, mas classifica a situação geral como "dramática". Na segunda ("Iniciativas"), lista sugestões, entre elas a adoção do Enem digital, a proliferação de tecnologias nas salas de aula, a criação de centros de formação para diretores e professores, um programa para oferecer novas bolsas do ProUni em cursos de formação docente e a revisão do currículo das instituições particulares.
Há quem enxergue no plano Unger a intenção de substituir o PNE. Não é o caso. O documento da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) também defende a criação de uma base curricular comum nacional e a reorganização das responsabilidades entre os entes federativos. O fato de o programa elaborado pela SAE ter sido apresentado em São Paulo sem a presença de Renato Janine Ribeiro, empossado ministro da Educação três semanas antes, deixou claro o caráter autoral da proposta. Daniel Cara, coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, reuniu-se com Unger na quarta-feira 13 e saiu satisfeito do encontro: "Ele prometeu esclarecer que o PNE é maior que o projeto e o nível do debate foi muito bom".
Um dia antes, o ministro expôs suas ideias em uma conversa com CartaCapital. Segundo ele, a proposta foi encomendada por Dilma Rousseff e trata-se da "primeiríssima prioridade" da presidenta. Unger minimizou os avanços na qualidade do ensino nos últimos anos: "Foram episódicos, localizados e inspirados em um paradigma empresarial. Mas nosso ideário não pode ser somente com o paradigma empresarial, do qual sou um crítico".
O Ministério da Educação não quis comentar o texto de Unger. O ministro Janine e sua equipe, informou a assessoria de imprensa, dedicam-se no momento à implementação do PNE. Unger afirma, no entanto, que seu parecer recebeu o apoio do secretário-executivo do MEC, Luiz Cláudio Costa, ministro-interino entre a saída de Cid Gomes, em 18 de março, e a posse de Janine, em 6 de abril.
Sobre o meio consultado, o secretário de Assuntos Estratégicos citou "mais de cem interlocutores", a maioria especialistas de fundações privadas, como o Instituto Ayrton Senna, a Fundação Lemann e o Instituto Natura, além de dirigentes do Conselho Nacional dos Trabalhadores na Educação, do Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Educação e acadêmicos como Maria Helena Guimarães e o sociólogo Simon Schwartzman.
Professor da Universidade Federal de Minas Gerais e diretor do Centro de Pesquisa, Memória e Documentação da Faculdade de Educação, Luciano Mendes classificou a proposta de "madrasta deseducada", por seu "desconhecimento da pesquisa e dos esforços na área no Brasil, autoritarismo e distorção dos fatos históricos". Segundo ele, o documento é a "recuperação das propostas derrotadas nas urnas e muito mais".
O diretor da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação, Paulo Carrano, definiu a proposta como um "atropelo" na formulação de política nacional. O documento, admite, até possui um "núcleo de bom senso", mas não reconhece a pesquisa realizada e os fóruns democráticos. "E um olhar de cima com tom salvacionista. Revigora conceitos superados como a seletividade de se tratar os mais pobres de forma diferente e premiar os melhores alunos com escolas melhores."
Um dos críticos mais contundentes é o professor titular de Educação da Universidade de Campinas Luiz Carlos Freitas, autor de 20 textos contraproposta. Sobre a convocação do ministro de uma "vanguarda pedagógica", ironiza: "Ele quer alguém que concorde com suas ideias e as implemente. No máximo, admite melhorar as ideias postas. Ocorre que o documento não comporta melhora, a não ser dentro de sua própria lógica". E acrescenta: "Diferentemente do mercado, onde há ganhadores e perdedores, em educação só devem existir ganhadores. Não é pela pressão sobre a escola e o professor que se melhora".
O documento, prossegue Freitas, usa termos para disfarçar preconceitos. Cita a disposição de "organizar a diversidade" e a proposta de criação de escolas de referência. "Está em curso a montagem de uma grande máquina de segregação escolar colocando cada um no seu lugar segundo suas expectativas sociais, origem social, sequências de capacitação e, claro, espelhando quanto dinheiro se carrega no bolso. Exceções são admitidas. Está em curso, igualmente, o alinhamento das escolas com as necessidades dos empresários por qualificação de quadros talentosos e pela disseminação de habilidades fundamentais para o consumo das massas."
A visão de Alejandra Velazco, coordenadora-geral do movimento Todos Pela Educação, entidade da sociedade civil mantida com recursos empresariais, não difere dos acadêmicos. Ela estava presente no lançamento da proposta Unger em São Paulo e diz não ter entendido onde ela se encaixa. "Fica a impressão de falta de organização. E difícil compor um quadro de quais são os planos e quem é o articulador. Há conceitos ali já debatidos e ultrapassados, entre eles a ideia de exclusão."
Unger afirma encarar com naturalidade as críticas despertadas pelo documento. O ministro tem se esforçado para ouvir os críticos em reuniões fechadas, entre eles o deputado Pimenta. O documento, afirma, é um ponto de partida, não de chegada. "Estamos botando a mão na ferida. A controvérsia é um sinal de que estamos no caminho correto. Um projeto forte que enfrenta um problema estrutural e propõe uma resposta estrutural suscita controvérsias. Se não fosse assim, seria um embuste." Ou seria?
segunda-feira, 27 de abril de 2015
Viva a DESeducacao brasileira: nos salva; continue assim, MEC dinossauro...
Está certo que os Correios são a porcaria que são, corruptos e contaminados pelo partido totalitário além do mais, mas de vez em quando alguém distraído poderia cair no conto do vigário, e clicar no lin que vem junto da mensagem.
Mas, como eu dizia antes, se a pessoa for medianamente alfabetizada, vai perceber que a linguagem que ali futura, se ela está um pouco melhor do que certa pessoa que pretende dar ordens neste país, mas que não consegue se expressar direito (porque não pensa direito, ou sequer torto), não preenche, por assim dizer os critérios, já não digo da Academia Brasileira de Letras, mas do curso de massinha III, e do pré-primário, onde alguns nerdzinhos já saem lendo Dostoievski.
Pois é: acho que devemos agradecer ao MEC por preservar nossa educação no estado em que se encontra atualmente (e regredindo).
MEC, por favor, não mude nada, não faça nada.
Pois esse pessoal (não só os bandidos bandidos, mas certos bandidos da outra banda, compreendem?) pode melhorar o Portugueis, e aí vai ferrar alguns de nós, incautos e distraídos.
Uma coisa eu garanto: eles vão ter de piorar muito para chegar ao nível de indigência vocabular de certo personagem que anda por ai atarantada...
Paulo Roberto de Almeida
Vejam a mensagem recebida dos "Correios" (ipsis verbis):
Prezado Cliente,
devido a grave iniciada pelos nossos servidores no dia 12 de abril de 2015 não consiguiremos entregar sua encomenda, informamos que a mesma se encontra retida em nosso Centro de Distribuição.
Para retirada da sua encomenda prossiga até a agência informada tendo em mãos seu RG e o número de encomenda em um prazo de 7 dias úteis a partir de hoje, caso não retire a mesma retornaram para seu destinatário.
sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015
Educacao brasileira: o bom, o mau e o feio (e bota feio nisso) - Claudio Moura Castro (entrevista)
Ou seja, creio que o sistema vai evoluir no sentido da sua fragmentação: algumas escolas públicas, de prefeitos ou governadores motivados vão melhorar milimetricamente, várias privadas também vão melhorar, e algumas universidades, depois de cairem de podre, vão ter alguma reforma, mas a legislação, a inércia, o CNE, as milhares de disciplinas obrigatórias, e mais as que ainda vão ser obrigatórias, o politicamente correto, o racialismo estúpido, os mitos e as bobagens, tudo isso vai obstar a reformas consequentes na educação em geral, na básica em particular, que serão, portanto, esporádicas, erráticas, aos trancos e barrancos, como dizia o Darcy Ribeiro...
Em todo caso, recomendo a leitura de cada uma de suas respostas às perguntas que lhe fizeram.
Vejam aqui:
http://educarparacrescer.abril.com.br/iniciativa/claudio-moura-832400.shtml
quinta-feira, 20 de novembro de 2014
Paulo Freire e a miseria educacional brasileira: subsidios para um debate
Paulo Roberto de Almeida
Paulo Freire: a bomba atomica educacional brasileira?; um exchange preliminar
Eu, como todos sabem, e nunca escondi isso, não sou um apreciador do personagem, ao contrário: eu o considero a coisa mais nefasta a jamais ter ocorrido na educação brasileira.
Mas, apenas escrevi tangencialmente a respeito do deseducador em questão.
Não sou um especialista nele ou em temas pedagógicos, mas como escrevi abaixo, sei reconhecer uma fraude quando vejo uma.
Acho que está mais do que na hora de começar a desmontar esse mito, essa fraude, essa empulhação, que é responsável, em grande medida, pelo estado lamentável da educação brasileira.
Mas não poderei fazer isto sozinho, por falta de tempo, mais do que outra coisa.
Tenho muita coisa dispersa em meus blogs e working files do computador. Vai me dar um trabalho danado juntar tudo.
Por isso peço aos leitores interessados no tema que me escrevam, dando bibliografia -- a favor e contra, não sou preconceituoso, e leio de tudo -- e depois os próprios materiais.
Existe um formulário de contato no meu site, mas os mais espertos saberão como me encontrar. Só espero que um freireano fanático não queira me eliminar...
Abaixo, a mensagem recebida de um leitor que não conheço -- e do qual caberia confirmar sua boa-fé -- seguida de minha resposta interlocutória.
Mais um trabalho, mais uma pesquisa, mais uma análise.
Sempre para melhorar o Brasil.
Paulo Roberto de Almeida
José Mário Ribeiro Silva
17 horas atrás - Compartilhada publicamente==========
José Mario Ribeiro Silva,
Se vc está escrevendo um artigo científico, deve já ter juntado documentação a respeito, e pelo menos ter lido as obras do dito cujo. De fato, você vai ter 99% de elogios ditirâmbicos e menos de 1% de análises críticas. Eu tenho muito material disperso a respeito, pois, diferente de você, não sou especialista em Paulo Freire ou sequer em educação. Mas eu sei reconhecer uma fraude quando a vejo, e ele é uma das maiores, talvez até pior, em suas consequências, do que os erros de política econômica que estão sendo cometidos pelos companheiros nesses anos todos, inclusive os crimes econômicos perpetrados ao longo dos últimos 12 anos.
Eu lhe proponho o seguinte: vou tentar recolher o material que eu tenho, disperso em meus blogs, pastas de working files, documentos e matérias de imprensa coletados ao longo dos anos.
De sua parte peço que me envie seu artigo em preparação, pois poderei ter uma ideia de como vc está abordando o assunto. E também os materiais que voce coletou.
(...)
Cordialmente,
Paulo Roberto de Almeida
terça-feira, 28 de outubro de 2014
Educacao no Brasil: como vai essa coisa? - um texto de 2007, Paulo Roberto de Almeida
Alertado disso, fui buscar o texto em questão para saber se o aluno em questão teria mesmo motivos para se mostrar tão horrorizado.
Confesso que não sei, pois não reli ainda esse texto, que transcrevo abaixo. Vou reler em seguida, mas alerto que ele já SETE anos, e suponho que a situação, desde então, só fez piorar.
Duvidam? Basta conferir notas de ENEM, ENAD, provas do PISA e outros referenciais sobre a qualiadade (ou falta de) da educação brasileira.
A situação é muito pior, mas muito mais pior, como diria alguém, do que sequer poderíamos imaginar.
Paulo Roberto de Almeida
O afundamento da educação no Brasil
(observações angustiadas do ponto de vista dos estudantes)
Paulo Roberto de Almeida
É uma obviedade, quase uma tautologia, aos olhos de qualquer pessoa medianamente bem educada, afirmar-se que a educação constitui um elemento essencial na qualificação produtiva e na prosperidade de qualquer país, avançado ou em desenvolvimento. Ela constitui, também, o principal fator de inserção nos mercados de trabalho, no plano individual, e um elemento chave do perfil distributivo nacional, quando se considera a repartição social da renda.
Parece haver um acordo tácito na sociedade quanto a isso. Mas esse consenso é falso. Não existe terreno comum entre duas abordagens opostas quanto ao papel da educação no processo de desenvolvimento. O Brasil constitui uma prova viva disso. O desentendimento começa no próprio enunciado das finalidades da educação, tal como expresso acima. De um lado, um grupo, mais identificado com os próprios educadores, considera que a educação tem um papel “libertador”, no plano pessoal, e que os indivíduos têm de ser educados numa visão humanista, acima e além das exigências “do mercado”, que no mundo capitalista pretenderia apenas, segundo representantes desse grupo, que a escola seja “produtora” de trabalhadores treinados para as empresas. De outro lado, pesquisadores identificados com o desempenho adequado do processo produtivo pretendem, justamente, que a mão-de-obra seja a mais qualificada possível, não apenas para atender às necessidades das empresas, mas também para melhorar os níveis de produtividade da economia como um todo, pois isto se traduziria em riqueza social e prosperidade para o país e para a sua população, com reflexos na distribuição de renda. Posso estar simplificando a dicotomia, mas ela representa, grosso modo, duas visões do mundo que parecem contrapor-se na atualidade.
Parece evidente, aos olhos de quem observa a realidade presente no Brasil, que os rumos da educação no país vêm sendo determinados pelo primeiro grupo, uma grande comunidade de trabalhadores dos setores público e privado, formada por burocratas do MEC, por pedagogos de várias afiliações, por professores, administradores, sindicalistas, pesquisadores ou por simples curiosos, sem contar os políticos e outros líderes comunitários que “vivem” da educação. Não é tampouco novidade para ninguém que a qualidade da educação no Brasil vem se deteriorando a olhos vistos nos últimos tempos. Pode ser que não exista nenhuma relação de causa a efeito entre essas duas realidades, mas o tema é suficientemente grave para merecer uma reflexão.
Tendo estas realidades em mente, pretendo tratar, neste texto, de alguns problemas atuais da educação no Brasil, com um enfoque ligeiramente negativo, ou razoavelmente pessimista como o próprio título deixa sugerir. Isto não deve causar espanto, uma vez que fazer elogios por algum sucesso não contribui em nada para a melhoria daquilo que está indo bem, apenas fazem com que os seus responsáveis se acomodem nas situações estabelecidas, deixando de introduzir as mudanças necessárias para que um desempenho determinado se dê de maneira ainda mais efetiva (pelo menos, até que alguma surpresa desagradável desponte no horizonte à frente). Apenas aprendemos com erros e fracassos, que nos ajudam a corrigir nossas insuficiências mais gritantes. O que me parece ocorrer atualmente, no caso da educação brasileira, é justamente um quadro de resignação e de acomodação com os péssimos resultados do setor, em vários níveis, evidentes em quaisquer tipos de medidas objetivas que possam ser feitas.
Não pretendo ocupar-me da educação superior, um setor bem conhecido dos leitores, pois todos eles são pessoas bem informadas, aliás, formadas e graduadas, razoavelmente conhecedoras da triste realidade pedagógica e da lamentável situação material que atinge, hoje em dia, a maior parte das IFES, em grande parte por sua própria incapacidade de reformar-se e de justificar repasses de recursos adicionais por parte dos poderes públicos. Tenho apenas uma palavra sobre elas, independentemente de que sejam públicas ou privadas: salvo poucas conhecidas exceções de praxe, a maior parte dessas instituições caminha rapidamente para uma decadência substantiva, digna de nota, visível, por exemplo, na disseminação de cursos de pós-graduação e de extensão, que tentam cobrir a posteriori as lacunas de uma graduação cada vez mais medíocre.
Pretendo tratar de três aspectos, apenas, que atingem os ciclos fundamental e médio do ensino básico no Brasil. Três exemplos de desperdício de recursos, de desorientação quanto aos objetivos fundamentais da escola, de desvio de finalidades educativas, de equívocos cruciais que podem comprometer ainda mais a qualidade do ensino e o funcionamento das instituições do ciclo fundamental, por anos e anos à frente. Esses três aspectos, que poderiam facilmente ser enquadrados naquilo que eu chamo de “teoria da jabuticaba” – para uma versão resumida deste “mal brasileiro”, ver este link: http://institutomillenium.org/2006/07/05/teoria-da-jabuticaba-ii-estudos-de-casos/ –, estão consubstanciados, respectivamente, na obrigatoriedade de ensino de temas afrobrasileiros e de espanhol, no ciclo fundamental, e de filosofia e de sociologia, no médio. Elas foram introduzidas a partir de 2003 e expressam de maneira fiel a “visão do mundo” a que me referi ao início deste ensaio. Esclareço que o meu ponto de vista é o dos estudantes.
1) Estudos afrobrasileiros
Considerando-se que a sociedade brasileira é extremamente diversa em sua composição étnica e em suas manifestações culturais, com intensa osmose entre suas comunidades imigrantes e um processo crescente de “cross-fertilization” – termo que se poderia aproximar de “fundição recíproca” –, qualquer tentativa de separar e apresentar como mais relevante, no plano histórico ou populacional, qualquer um desses componentes sociais equivale, à falta de melhor conceito, a uma tentativa de construção de um “apartheid” cultural e social, quando não diretamente racial.
Não encontro outro equivalente funcional para designar essa tentativa mal concebida, mal inspirada e, sobretudo, terrivelmente mal implementada no sentido de destacar nossas supostas raízes “africanas” no cadinho multicultural e multirracial brasileiro. Tendo já tratado em outro ensaio dos problemas acarretados pelo novo apartheid representado pela ideologia afrobrasileira (ver: http://www.espacoacademico.com.br/040/40pra.htm), não vou aprofundar a discussão de um problema que ultrapassa de muito a dimensão estrita de sua aplicação nas salas de aula do primeiro grau. Gostaria apenas de confirmar que vejo essa iniciativa funesta como uma semente de racismo e de intolerância, gerando possíveis distorções nos conteúdos curriculares, em função da manipulação anti-histórica que esse infeliz conceito é suscetível de receber por parte de seus promotores. Sem entrar em suas especificidades substantivas, é presumível que o conteúdo de tal “disciplina”, num país dotado de raras pesquisas de boa qualidade sobre a história da África ou seu possível legado transatlântico, sofra deformações de tal ordem por parte dos encarregados da matéria que o conteúdo será um arremedo de protesto social, eivado de ideologia antiescravista, com fortes colorações políticas e tênue embasamento histórico. Imagino que toda uma mitologia da resistência negra será igualmente servida a descendentes de colonos europeus, nas escolas do sul do país, sem que estes recebam sequer alguma informação sobre sua cultura “eurobrasileira”.
Os resultados, obviamente, não poderiam ser mais perniciosos do ponto de vista da boa formação escolar de crianças que teriam o direito de se considerar apenas brasileiras, sem outro prefixo falsamente identificador de alguma origem étnica ou geográfica. Não hesito em afirmar que tal iniciativa contribui poderosamente para a construção do racismo em nosso país.
2) Ensino de espanhol
Outro resultado de um equívoco fundamental – o de que o processo de integração será necessariamente beneficiado com o estudo obrigatório da língua espanhola para as crianças do primeiro grau –, essa medida unilateral, sem reciprocidade nos demais países da região (o português é ignorado nos currículos nacionais), vem acarretar apenas despesas adicionais sem que se antevejam resultados práticos, ou sequer “lingüísticos”, para o processo de integração. Este já padece de conhecida tendência à introversão e ao enclausuramento recíproco – quando o correto seria a abertura ao exterior e a utilização das complementaridades existentes para maior inserção no processo de globalização – e esse tipo de medida apenas reforça suas características “hacia adentro”. Como no caso dos estudos brasileiros, ela demandará a formação improvisada de centenas, ou mais provavelmente milhares, de mestres supostamente capacitados em “portunhol”, carregando ainda mais um currículo já penetrado por várias outras inutilidades “disciplinares”.
Supõe-se que um bom ciclo fundamental seja constituído de estudos de boa qualidade na língua pátria, na matemática elementar, nas ciências naturais fundamentais e nos estudos sociais básicos (história e geografia), apenas isto. Se alguma outra língua tiver de ser aprendida, nos primeiros anos de estudo, supõe-se que a escolhida seja a língua franca da ciência moderna e da globalização, isto é, a que mais usualmente é utilizada para pesquisa na internet, ou seja, inglês. A obrigatoriedade do espanhol servirá apenas para desviar recursos humanos e materiais voltados para a formação de primeiro grau, num país tão carente de ambos. Trata-se de um falso espírito integracionista e um equívoco educacional de conseqüências potencialmente danosas para seus supostos beneficiários. A integração regional, aliás, nunca padeceu de “déficit lingüístico”.
3) Sociologia e filosofia no ciclo médio
A aprovação dessa outra obrigatoriedade pelo Conselho Nacional de Educação, em 2006, foi saudada pelos sindicatos de professores e pelas associações profissionais da área como uma indiscutível vitória para a categoria. Pode até ser. O fato é que se trata de uma indiscutível derrota para os estudantes do ciclo médio, desde que se adote o ponto de vista dos próprios estudantes, é claro. Como isso nunca esteve em causa no tratamento da matéria, eles, que obviamente nunca foram ouvidos, verão reduzidos os horários alocados a outras disciplinas fundamentais para a sua formação, para acomodar as duas novas obrigatoriedades oficiais, que já eram facultativas numa infinidade de estabelecimentos escolares em todo o Brasil, segundo suas próprias conveniências.
O Brasil, como é sabido, adora criar obrigatoriedades no papel. O mesmo se dá, por exemplo, no caso da contratação obrigatória de “jornalistas” para qualquer empreendimento que se possa conceber que trate de “comunicação social”, ademais da absurda reserva de mercado, sancionada em lei, para toda e qualquer empresa classificada como de comunicação de massa. O resultado é uma multiplicação de faculdades medíocres dedicadas à fabricação de canudos para pessoas medianamente alfabetizadas que encontram um mercado garantido apenas em virtude do reconhecimento profissional. Não será surpresa, assim, se novos cursos de “sociologia” e de “filosofia” passarem a ser oferecidos pelas conhecidas “indústrias universitárias” apenas como resultado do novo mercado cativo introduzido por uma legislação irracional e dispensável.
Cria-se, assim, uma verdadeira reserva de mercado para sociólogos desempregados e para filósofos em disponibilidade, a um custo inimaginável para as secretarias estaduais de educação e para as escolas privadas. Como as carências já detectadas para professores secundários em física, biologia, matemáticas ou mesmo português são propriamente astronômicas, imagine-se o que tal medida vai acarretar em termos de desorganização ainda maior do ciclo médio de ensino. Isso obviamente não importa para o sindicato dos ideólogos, perdão, sociólogos, que visa apenas garantir a já referida reserva de mercado para a formação dos jovens secundaristas na perspectiva da “escola crítica”. Como já imaginamos o que possa haver de “crítico” nessa escola, o único resultado possível será a extensão do marxismo vulgar que já é ensinado em outras matérias – como geografia e história, quando não em literatura – para as duas novas debutantes do ensino médio. Quando digo marxismo vulgar, o sentido é o mais vulgar possível, pois não conheço mais marxistas universitários ou secundaristas que verdadeiramente tenham lido Marx-Engels, apenas a vulgata que se transmite em nome dos dois profetas e seus epígonos. (Parênteses para os que me pretendem acusar de direitista ou reacionário: como bom marxista, não religioso, eu li Marx e sei exatamente do que estou falando, e lamento que muitos dos que se pretendem hoje seguidores dessa ideologia estejam servindo de correias (inúteis?) de transmissão para novas formas de fascismo educacional, baseado numa visão do mundo ultrapassada, justificando autoritarismos e incentivando confrontos classistas e raciais que já deveriam estar na lata de lixo da história.)
Numa apreciação geral, surpreende-me que os “planejadores educacionais” – supondo-se que eles existam neste país e não só trabalhem como tenham voz no MEC – não tenham avaliado os custos e as dificuldades vinculados às obrigatoriedades para os ciclos de ensino pertinentes. Pergunto-me se as avaliações catastróficas efetuadas a cada ano quanto à qualidade do ensino no Brasil – inclusive e principalmente em escala internacional – não ajudaram ainda os pedagogos oficiais a refletir sobre o que anda errado no ensino brasileiro e o que poderia ser feito para remediar (já não digo melhorar radicalmente) esse estado de coisas. É propriamente estarrecedor constatar que, com tantos problemas já detectados nos módulos mais elementares de educação – vinculados ao ensino correto da língua, ao domínio da matemática simples e das noções mais corriqueiras das ciências físicas e naturais –, os responsáveis pelo setor se permitam ainda fazer novos experimentos com as crianças e os jovens, sobrecarregando os currículos com excrescências tão terríveis como as mencionadas aqui.
É óbvio que os adeptos dessas “inovações curriculares” julgarão o que estou dizendo uma demonstração inequívoca de tradicionalismo, de rejeição à integração ou de aversão ao “espírito multidisciplinar” envolvido nas novas ideologias servidas como menu obrigatório nas escolas de todo o país. Pode ser. Mas apenas porque eles não se colocaram do ponto de vista das crianças e jovens, ou do simples ponto de vista do reforço da qualidade educacional nas disciplinas básicas. Quando pretendem fazê-lo, se equivocam novamente de objetivos e de métodos, como as duas soluções “milagre” que vêm sendo aventadas ultimamente: a “inclusão digital”, via laptop de cem dólares, e o aumento das verbas para educação no orçamento, de 5% para 7% do PIB.
Duas pequenas palavras sobre essas propostas. Computador portátil a cem dólares – que não será conectado e não custará cem dólares – não é garantia de qualidade de ensino, cuja base é, como nunca deixou de ser, a boa formação do próprio corpo docente, algo hoje dificultado pela mentalidade sindical-corporativa da categoria. A ferramenta – ou seja, o hard do computador – jamais poderá substituir o soft do conteúdo ministrado em classe. Quanto à maior participação dos gastos com educação no PIB, ela não é tampouco garantia de melhoria: o Brasil já gasta na média da OCDE, mas gasta mal e administra de forma errada sua distribuição entre os ciclos.
Com essas três “inovações” nos currículos, apenas posso prever novos retrocessos na qualidade do ensino oficial (público e privado) do Brasil. Em outros termos, teremos com elas a garantia segura de que o país continuará andando para trás nos anos à nossa frente. Lamentável que isto ocorra, mas trata-se de uma escolha consciente dos atuais dirigentes dessa área, na mais completa indiferença da sociedade. O preço a pagar será certamente alto, em termos de atrasos e novos desvios na formação de base, na capacitação para o mercado de trabalho e nos ganhos de produtividade para o sistema econômico do país. De certa forma, esse preço já começou a ser descontado, sob a forma de desempenhos cada vez mais desastrosos nos exercícios de avaliação. Infelizmente, não há nada que salve nossas crianças das opções desavisadas dos adultos...
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 18 fevereiro 2007
sábado, 6 de setembro de 2014
Educacao piora, como era de se esperar sob os companheiros
VEJA.com, 5/09/2014
O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), órgão ligado ao Ministério da Educação, divulgou na tarde desta sexta-feira os resultados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) relativos a 2013. O Ideb mede a qualidade do ensino nos ciclos fundamental (1º a 9º ano) e médio de escolas públicas e privadas de todo o Brasil.
Os dados revelam que há estagnação nas duas etapas. Nos anos finais do fundamental e no médio, todos os indicadores gerais ficaram abaixo das metas previstas: isso inclui as médias nacional e das redes públicas (estaduais e municipais) e privadas. A exceção foi registrada nos anos iniciais do ensino fundamental, em que a única constatação negativa ficou na rede privada, que não atingiu a meta estabelecida (confira os dados nos gráficos abaixo).
O Ideb tem dupla função. Por um lado, avalia (em uma escala de 0 a 10) a qualidade da educação que já é oferecida. Por outro, propõe metas que escolas e redes de ensino devem atingir até 2021. As metas, contudo, são modestíssimas. O Ideb prevê, por exemplo, que o conceito médio nos primeiros anos do ensino fundamental atinja só em 2021 a nota 6 — correspondente, segundo cálculo do Inep, à média alcançada em 2003 pelos alunos de nações desenvolvidas noPisa, mais importante avaliação educacional do planeta. Ou seja, se o brasileiro médio chegar a esse patamar em 2021, estará quase duas décadas atrasado.
Dentro das limitações desse cenário, o Ideb 2013 confirmou tendências dos anos anteriores. Na média, o ensino avança vagarosamente, em geral atingindo metas propostas ao país e redes de ensino. Outra tendência clara é o rebaixamento das médias a cada ciclo escolar. Assim, as notas do 5º ano são superiores às do 9º, que, por sua vez, superam as do ensino médio. “De maneira geral, o Brasil está se organizando no ensino primário. Depois disso, no segundo ciclo, quando exige-se mais sofisticação, professores mais preparados, estamos patinando”, diz Ilona Becskeházy, mestre e consultora em educação, sobre a tendência já delineada em anos anteriores.
“A melhora nas notas do ensino fundamental se deve, em primeiro lugar, à própria existência do índice. As escolas estão cada vez mais conscientes da importância das avaliações nacionais e preocupadas em não ter uma pontuação ruim. Há Estados como Minas Gerais em que a nota é divulgada na porta da escola: ninguém quer passar vergonha”, diz Claudio de Moura Castro, especialista em educação e colunista de VEJA. “Se observarmos os dados detalhadamente, contudo, veremos que as iniciativas para melhorar a qualidade do ensino e aumentar a aprovação são pulverizadas. Ou seja, nem todo mundo está avançando.”
Atraso nas notas
Neste ano, a divulgação dos dados do Ideb demorou mais do que em edições anteriores. Em 2010, os dados relativos a 2009 foram publicados no dia 1º de julho; em 2012, os números relativos a 2011 saíram no dia 14 de agosto.
Reportagem do jornal O Globo publicada na quarta-feira afirmou que o governo federal havia retido os dados na Casa Civil por razões eleitorais: um eventual resultado ruim no Ideb poderia afetar campanhas aliadas. MEC, Inep e Casa Civil se pronunciaram sobre a reportagem. Por meio de notas de conteúdo semelhante, negaram que a divulgação dos dados tivesse sido retardada deliberadamente.
O ministro da Educação, José Henrique Paim, afirmou que o atraso na divulgação dos dados foi provocado pelo aumento no número de recursos apresentados por Estados e municípios — que pediam revisão de suas notas. “Tivemos um conjunto muito grande de recursos, 30% a mais (do que em 2012). Nós queremos ter toda a segurança para divulgar esses números”, disse.
Educacao brasileira: indo de mal a pior - IDEB mostra recuo no desempenho
Alguma supresa com essas notícias?
Acho que nenhuma...
Paulo Roberto de Almeida
quarta-feira, 3 de setembro de 2014
Educacao: nao existe nenhum risco de melhorar; vai continuar afundando
Agora, o que faz o governo, ao reter os resultados -- que devem ser negativos, como esperado -- do Ideb 2014, só tem um nome: calhordice, pura e simples. O que aliás combina com os companheiros.
A um mês da eleição, Planalto retém resultado de avaliação da educação
- Autor: Comunicação Millenium
- em Blog, Eleições 2014
- 03/09/2014
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