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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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domingo, 1 de março de 2020

Olavetes e bolsonetes em novas boquinhas no cerrado central - The Intercept

Todos nessa foto prometeram jamais receber dinheiro do governo. A maioria recebeu.


A maioria dos presentes nesta foto recebe ou recebeu, direta ou indiretamente, dinheiro público após a posse de Bolsonaro.
Reprodução: Twitter
No dia em que Bolsonaro tomou posse, os principais expoentes da militância virtual que disseminaram mentiras durante a campanha foram recebidos no Planalto com tapete vermelho. Foram credenciados como “mídia alternativa” e tiveram acesso VIP, podendo circular por várias áreas do evento. Enquanto isso, os jornalistas da imprensa ficaram em áreas restritas, sem acesso à comida, água e banheiro.
Allan dos Santos do site Terça Livre, o influenciador digital mais próximo do presidente, juntou seus colegas para publicar o primeiro ataque e a primeira mentira com o intuito de descredibilizar a imprensa. Enquanto pipocavam os relatos de jornalistas sobre o tratamento recebido no Planalto, Santos gravou um vídeo dizendo que eles estavam “mentindo descaradamente”. Mostrou bebedouros, a mesa do café e os banheiros. Mas, claro, era só mais uma mentira para jogar a tropa contra a imprensa. Allan mostrou apenas o espaço que havia sido reservado para a imprensa bolsonarista, ao qual os jornalistas não tinham acesso.
Depois de fabricar a sua primeira mentira após a chegada de Bolsonaro no poder, Allan dos Santos publicou o seguinte tweet:

Viemos para ficar e nossa fonte de renda NÃO É E NUNCA SERÁ o Governo.
Na foto: @terca_livre, @brasilparalelo, @conexaopolitica, @reaconaria e @pauloap.

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Percebam que o Allan usou letras maiúsculas para reforçar que aquela turma jamais receberia dinheiro do governo. Passado pouco mais de um ano de bolsonarismo no poder, é possível confirmar a promessa dele? Como você já deve suspeitar, é claro que não. Direta ou indiretamente, todas as arrobas citadas nesse tweet foram de alguma forma beneficiadas pela eleição de Jair Bolsonaro. Todos eles se deram bem com a extrema direita no poder, seja com uma parceria, uma viagem para o exterior, uma propaganda grátis feita pelo presidente ou um carguinho esperto.
O canal Brasil Paralelo (@brasilparalelo) é um projeto alinhado ao bolsonarismo que foi para outro patamar depois da última eleição. A especialidade do grupo é produzir documentários sobre filosofia, política e economia, sempre deturpando a História e fazendo abordagens com viés de extrema direita. A divulgação incessante dos vídeos pela máquina bolsonarista ampliou o alcance do site. O Brasil Paralelo hoje, além de faturar com a monetização dos vídeos no YouTube, onde conta com mais de 1 milhão de seguidores, está vendendo cursos a preços bem salgados. O grupo conta com uma plataforma própria, exclusiva para assinantes. Durante a última campanha presidencial, o canal ajudou na tática bolsonarista de descredibilizar as eleições, publicando um vídeo repleto de informações falsas que supostamente comprovariam uma fraude nas eleições de 2014. A mentira foi desmascarada pelo Projeto Comprova, mas já tinha sido vista por mais de 2 milhões de pessoas.
Com Bolsonaro no poder, o Brasil Paralelo passou a ganhar muito espaço no MEC. A TV Escola, aquela que Bolsonaro pretendia fechar, tem transmitido o conteúdo do canal em sua programação. A série “Brasil: a última cruzada”, do Brasil Paralelo, foi transmitida na íntegra pela TV Escola. O bolsonarismo aparelhou uma emissora pública para divulgar revisionismo histórico de quinta categoria, sempre com o viés católico e reacionário ensinado por Olavo de Carvalho.
O fundador do site Reaçonaria, Osmar Bernardes Jr., tentou ser deputado federal pelo PSL em São Paulo, mas não se elegeu. Para não ficar de mãos abanando, ganhou um carguinho esperto no Ministério da Educação. Mas o que era bom durou pouco tempo. Osmar, que é aluno de Olavo de Carvalho, foi exonerado do cargo de assessor executivo do MEC quando uma turma de olavistas foi colocada para correr logo nos primeiros meses.
Paulo Roberto de Almeida Prado Junior, o @pauloap, é um influenciador digital do bolsonarismo. Antes da vitória de Bolsonaro, ele agitava as redes como um aguerrido militante na luta contra as mamatas no serviço público.


Nós estamos acordados por um bom motivo. Mas imagina os milhares de FDP sem sono, sabendo que vão perder a boquinha e o $ público HAHAHAHAHA

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Mas, apesar das dúvidas de Olavo de Carvalho, o mundo é esférico e dá voltas. É claro que com a eleição do seu mito, Paulo conseguiu o espaço que lhe cabia. O rapaz foi agraciado com o cargo de secretário parlamentar de Eduardo Bolsonaro, recebendo em torno de R$ 12 mil por mês. É verdade que esse dinheiro não vem do Executivo (o “Governo”), como Allan escreveu no tweet. Mas não deixa de ser dinheiro público pago pelo gabinete do filho do presidente. Antes da eleição do seu candidato, Paulo choramingava por não ter grana para ir até Brasília para acompanhar a posse do presidente. Mas esse tempo acabou. Hoje, o influenciador digital pode realizar sonhos grandiosos:

Não é todo dia que você conhece alguém que realmente mudou a história...

Nigel Farage, responsável pelo Brexit e gente boa demais 🇬🇧

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Dois pastores evangélicos são os responsáveis pela Gospel Prime, que se diz um site de notícias voltado para evangélicos. Mas basta uma breve visita ao sitepara atestar que se trata também de mais um espaço de propaganda bolsonarista. Praticamente todas as notícias são sobre política, sempre com viés bolsonarista e com uma linguagem sedutora para o público evangélico. Jarbas Luiz Lopes de Aragão, um dos pastores que comandam o site, conseguiu um cargo na pasta de Damares. Ele foi nomeado como secretário comissionado da Secretaria Nacional de Políticas de Promoção da Igualdade Racial.
Com ascensão do governo extremista, o jornalista Allan dos Santos viu seu pequeno blog começar a bombar em audiência e se transformar em um site que hoje comercializa cursos dos mais variados. Segundo ele, o Terça Livre se tornou “o maior canal conservador de informação e cultura da América Latina”. A amizade com o presidente e seus filhos foi a melhor coisa que poderia ter acontecido na vida profissional de Allan. O Terça Livre é o canal reacionário mais divulgado pelos filhos de Jair, principalmente por Eduardo Bolsonaro, que vive compartilhando conteúdo do site.
A divulgação da família do presidente ajuda a elevar a audiências dos seus vídeos, que costumam ser monetizados no YouTube. Não restam dúvidas de que Allan dos Santos se beneficiou com o bolsonarismo no poder. Hoje, além do aumento de audiência e da venda de cursos, ele tem livre acesso a vários integrantes do Planalto, é convidado a viajar para o exterior e ainda conta com a família presidencial para ajudar na divulgação do seu trabalho. Ano passado, Allan foi convidado para ir aos EUA com Eduardo Bolsonaro e lá pôde entrevistar o guru da extrema direita internacional Steve Bannon que, até pouco tempo atrás, era diretor-executivo do site de extrema direita americano Breitbart News, dedicado a publicar conteúdo racista, xenófobo, mentiras e teorias da conspiração.
Assim como o Terça Livre, o Conexão Política (@conexaopolitica) também é um site pró-Bolsonaro. Depois de militar muito durante a campanha, o responsável pelo site, Davy Albuquerque da Fonseca, de 20 anos, ganhou um cargo no serviço público. Ele foi agraciado pelo deputado Alexandre Knoploch, um bolsonarista eleito pelo PSL em 2018 e que hoje integra a “bancada pitbull” do partido no Rio de Janeiro. Fonseca virou assessor parlamentar do deputado, um cargo que lhe garantia R$ 3.331,05 por mês. Durante todo esse tempo em que seu chefe de redação esteve como assessor, o Conexão Política, claro, continuou atuando em defesa do bolsonarismo. Não se trata, como no caso do Paulo Almeida Prado Jr., de verba vinda do Executivo, mas não deixa de ser grana pública paga pelo partido pelo qual o presidente foi eleito. Fonseca ficou no cargo até junho do ano passado, quando foi exonerado.
Como se vê, a promessa de que todos citados naquele tweet jamais receberiam verba do governo era tão verdadeira quanto as mamadeiras de piroca que o PT distribuía para as crianças. Todos ali, de uma forma ou de outra, foram beneficiados pela eleição de Bolsonaro depois de terem militado durante anos ao seu lado. Todos esses veículos hoje têm mais audiência, privilégios para entrevistar políticos do governo e são tratados com muito respeito por um presidente que odeia o jornalismo. Os bolsonaristas da informação são beneficiados, direta ou indiretamente, por ações do governo federal e da família do presidente.

terça-feira, 23 de abril de 2019

A batalha ridícula do momento: o Rasputin de subúrbio conta os militares - Estadão

Nem se deveria emprestar qualquer importância a esses enfrentamentos ridículos, mas tudo é motivo de divertimento...
Paulo Roberto de Almeida

Sob pressão de militares, Bolsonaro critica Olavo de Carvalho

Após ataque ao vice e representantes das Forças no Planalto, presidente afirma em nota que declarações de ‘guru’ ‘não contribuem’ com os objetivos do governo

Tânia Monteiro e Mariana Haubert, O Estado de S.Paulo 
22 de abril de 2019 | 18h57 
Atualizado 23 de abril de 2019 | 00h48

BRASÍLIA  – A constante troca de acusações e provocações entre o “guru” bolsonarista Olavo de Carvalho e o vice-presidente Hamilton Mourão levaram o presidente Jair Bolsonaro a se posicionar nesta segunda-feira, 22, pela primeira vez, contra as manifestações do escritor. Em nota lida pelo porta-voz, general Rêgo Barros, Bolsonaro reconheceu que as “recentes declarações” de Olavo “não contribuem para a unicidade de esforços e consequente atingimento de objetivos propostos” no “projeto de governo”. O comunicado do presidente tenta cessar os ataques do escritor que têm provocado divisões na base bolsonarista e no núcleo central do governo.  
O presidente, no entanto, não quis criticar seu filho, o vereador Carlos Bolsonaro (PSC), responsável pelas suas postagens em redes sociais e defensor fiel de Olavo. Nesta segunda-feira, o consenso no Planalto, a despeito das publicações do filho de Bolsonaro, é de que o escritor “passou do ponto”. Ele fez uma série de acusações aos militares por meio de um vídeo veiculado nas redes sociais. 
Já no fim de semana, a postagem incomodou o presidente, que passou parte do feriado no Guarujá (SP). Bolsonaro foi surpreendido com a mensagem que trazia ataques aos militares, publicada no canal do presidente no YouTube. Ele mandou apagar o post, mas a polêmica prosseguiu com o compartilhamento do vídeo por seu filho.  
O fato provocou reação da cúpula militar, que já havia alertado Bolsonaro da inconveniência de o guru ficar alimentando “polêmicas descabidas” em um momento em que todos os esforços estão voltados para a aprovação da reforma da Previdência no Congresso. 
Nesta segunda, desde cedo, o tema tomou conta das reuniões no Planalto, inclusive aquelas das quais participaram o próprio presidente. O primeiro a reagir publicamente foi Mourão, que já havia dito reservadamente estar “de saco cheio” das “agressões” e avisado que não aguentaria mais calado novos ataques. 
No vídeo, o escritor faz duras críticas aos militares e questiona: “Qual a última contribuição das escolas militares à alta cultura nacional? As obras do Euclides da Cunha. Depois de então, foi só cabelo pintado e voz impostada. E cagada, cagada”, disse, acrescentando que eles entregaram o País aos “comunistas”. 
Em resposta, Mourão afirmou que Olavo deveria se concentrar no exercício da “função de astrólogo”, por ser a que ele “desempenha bem”.  
Sabedor da personalidade explosiva de seu apoiador, Bolsonaro mediu as palavras ao se referir a ele na nota, fazendo questão de reconhecer sua contribuição para seu triunfo eleitoral.  
“O professor Olavo de Carvalho teve um papel considerável na exposição das ideias conservadoras que se contrapuseram à mensagem anacrônica cultuada pela esquerda e que tanto mal fez ao País”, afirmou o presidente, passando a se queixar dos ataques e citando a divisão provocada pela sua fala no seu governo. No mesmo comunicado, Bolsonaro afirmou que “tem convicção de que o professor, com seu espírito patriótico, está tentando contribuir com a mudança e com o futuro do Brasil”. 
O porta-voz do Planalto evitou responder se o presidente foi quem postou o vídeo no YouTube ou se sabia de seu conteúdo. Limitou-se a dizer que “o presidente entende que é muito importante ele assumir a responsabilidade por sua redes sociais”. De acordo com fontes ouvidas pelo Estado, Bolsonaro não sabia do conteúdo e, por isso, mandou retirá-lo do ar. 
Desde o início do governo, tem aumentado a tensão entre a ala olavista e os militares. Houve um enorme descontentamento quando, um dia após Olavo xingar Mourão de “idiota” e dizer que o seu governo ia mal, o presidente compareceu a um evento em Nova York no qual se sentou o lado do “guru”.  
A divisão entre olavistas e militares atingiu até a administração do Ministério da Educação, o que levou à demissão de Ricardo Vélez Rodríguez, alinhado com as ideias do escritor. Mesmo com a disputa, um outro seguidor de Olavo, Abraham Weintraub, acabou alçado ao cargo de ministro. Em inúmeras reuniões, Bolsonaro foi advertido dos problemas que a influência do escritor e as seguidas postagens de Carlos na internet têm causado ao Planalto.  
Bolsonaro já chegou a sinalizar que poderia limitar a ação de seu filho em suas redes sociais. No entanto, sempre que surgia algum novo problema, o presidente reiterava que só tinha vencido a eleição por causa da “expertise” de Carlos nessas mídias. 

Carlos Bolsonaro volta defender Olavo

Após as críticas de Mourão, Carlos voltou ao Twitter para dizer que Olavo “é uma gigantesca referência do que vem acontecendo há tempos no Brasil”. Segundo ele, desprezar isso significa “total desconhecimento, se lixando para os reais problemas do Brasil” ou achar “que o mundo gira em torno de seu umbigo por motivos que prefiro que reflitam”. 
. @opropriolavo é uma gigantesca referência do que vem acontecendo há tempos no Brasil. Desprezar isto só têm três motivos: total desconhecimento, se lixando para os reais problemas do Brasil ou acha que o mundo gira em torno de seu umbigo por motivos que prefiro que reflitam. — Carlos Bolsonaro (@CarlosBolsonaro) 22 de abril de 2019
Mais tarde, o vereador recorreu a um tuíte que Mourão curtiu e compartilhou no qual a jornalista Rachel Sheherazade elogia uma palestra do vice. Trata-se do mesmo tuíte que levou o deputado Marco Feliciano (Podemos-SP) a pedir o impeachment de Mourão. Carlos postou a curtida do general com a frase: “Tirem suas conclusões”. 
A mensagem de Rachel diz: “Finalmente um representante do governo que não nos causa vergonha. O vice mostrou como ele e o presidente são diferentes, um é o vinho, o outro vinagre”. 
Tirem suas conclusões: pic.twitter.com/48x9xRpWCX — Carlos Bolsonaro (@CarlosBolsonaro) 23 de abril de 2019

Carlos ainda demonstrou indignação com um convite para uma palestra de Mourão. O documento, em inglês, diz que o País vive uma crise generalizada, mas que o vice surge como “voz da razão e da moderação”. “Inacreditável!”, afirmou o vereador. 
Olavo também manteve o enfrentamento com o general. “Não estranho que a direita anti-Bolsonaro faça frente única com o general Mourão. O oposto disso é que seria espantoso”, postou o escritor na noite de ontem. / COLABORARAM FELIPE FRAZÃO E ANDRÉ BORGES

domingo, 10 de março de 2019

A crise entre olavistas e militares - Alon Feuerwerker

O que é a contradição entre ‘o olavismo’ e ‘os militares’, diz Alon Feuerwerker

Polarização inicial tende a ser interna
Poder precisa tirar elementos radicais
Olavo de Carvalho é um dos mentores de propostas do integrantes do governo Bolsonaro, como o chanceler Ernesto Araújo Reprodução/Youtube
10.mar.2019 (domingo) - 5h50

É erro político acreditar que alguém conseguirá tutelar um presidente da República recém-instalado e com a popularidade essencialmente preservada. Outro equívoco é imaginar que o presidente, por isso, pode fazer o que dá na telha. Ele decide, mas dentro de limites definidos, em última instância, pela correlação de forças no governo, nos demais poderes e na sociedade.
Costumam levar vantagem nas disputas internas do poder os núcleos mais organizados, disciplinados e dotados de clareza estratégica. E, sempre, mais conectados aos grupos de pressão social influentes. Outro detalhe: é comum a polarização em início de governo ser intestina ao próprio governo. Pois a oposição não carrega expectativa de poder.
O que acontece na administração Bolsonaro? Quadros provenientes das Forças Armadas estão, no popular, comendo pelas beiradas e ganhando espaço. “Os militares” vai propositalmente entre aspas no título desta análise. Não há no Planalto um “Partido Militar” atuando com comando centralizado e hierarquia, paralelamente ao presidente da República.
O bolsonarismo enxerga-se como uma revolução. E toda revolução costuma trazer duas tendências, que em certo momento entram em choque mortal: 1) a revolução precisa e quer expandir-se e 2) o novo poder, para consolidar-se e governar, precisa expurgar seus elementos mais “radicais”. E alguma hora precisa fazer a velha superestrutura trabalhar para o novo status quo.
A crise entre o “olavismo” e “os militares” é indicação de que a 2ª tendência vai aos poucos prevalecendo sobre a 1ª, e o processo nunca é linear ou indolor. Mas costuma ser irreversível. Num paralelo histórico que talvez desagrade ao bolsonarismo, este parece estar transitando da “revolução permanente” para o “bolsonarismo num só país”.
Não é casual que o choque mais visível e agudo apareça na política externa. O governo precisa decidir se a prioridade é 1) alinhar-se a –ou seguir a diretriz de– uma “internacional trumpista” ou 2) adotar para valer a linha de “o Brasil primeiro”. E isso vem sendo exposto na crise venezuelana. Como já vinha dando as caras em demais temas externos.
O desfecho ideal para o bolsonarismo na Venezuela seria uma “Revolução dos Cravos” de sinal trocado. A cúpula militar degolar o governo bolivariano sem derramamento de sangue, e promover rapidamente a transição pacífica para um regime constitucional alinhado ao “Ocidente”. Mas a coisa não parece estar tão à mão, ainda que cautela analítica em situações voláteis seja bom.
Mas, se tal saída não rolar, até onde o Brasil está disposto a ir na colaboração com o “regime change” em Caracas? A questão, de ordem prática, talvez seja o foco mais emblemático da tensão entre as duas tendências. Que algumas vezes é explicada como oposição entre alas “adulta” e “infantil”, ou “racional” e “irracional”. São descrições insuficientes.
Uns parecem acreditar que a sobrevivência do bolsonarismo depende centralmente de livrar a América do Sul de qualquer núcleo de poder relacionado aos partidos do Foro de São Paulo. Outros talvez achem que é melhor cuidar de consolidar o poder por aqui mesmo, a arriscar um conflito de consequências políticas, regionais e internas, potencialmente desestabilizadoras.
As duas correntes têm argumentos. A favor da 2ª, há duas coisas que governos precisam pensar muitas vezes antes de fazer: convocar um plebiscito e começar uma guerra. #FicaaDica.