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quarta-feira, 12 de junho de 2019

Seminario (Anti)Globalismo no Itamaraty: palestra do ministro de estado

Nesta manhã de 12 de junho de 2019, Dia dos Namorados, fui despertado não por alguma chamada da família Bolsonaro – cujo chefe vive falando em casamentos estranhos –, mas por um aviso de um dos meus leitores no sentido em que não conseguiu mais acessar o famoso vídeo da alocução nietzscheana do nosso chanceler, culpando aquele bizarro filósofo alemão do final do século XIX pelo fato de que a humanidade (pelo menos a ocidental) tenha sido privada da presença de Deus, embora ele seja suficientemente lido para confirmar que a afirmação de que "Deus está morto" já aparecia em Dostoievski.
Fui conferir agora, pois eu tinha colocado o link para a palestra inaugural do ministro em minha postagem-resumo do seminário, neste link: 
http://diplomatizzando.blogspot.com/2019/06/seminario-sobre-globalismo-no-itamaraty.html
e de fato não mais achei, pelo menos não no link originalmente fornecido.
Acessando, porém, o canal YouTube do Itamaraty, lá está, efetivamente, a rica palestra do chanceler. Caso os interessados também estejam interessados em minhas parcas notas, apressadas, que consegui tomar, enquanto ele passava de suas folhas dispersas a uma edição em alemão de Nietzsche (que ele se eximiu de mencionar bibliograficamente), transcrevo abaixo o resumo que consegui fazer durante a palestra, remetendo ao link acima para minha avaliação inicial (e final) do seminário.
O vídeo agora encontra-se neste link: 
https://www.youtube.com/watch?v=mWajQ0NBeio

segunda-feira, 10 de junho de 2019


Seminário sobre Globalismo no Itamaraty - resumo por Paulo Roberto de Almeida

Seminário sobre globalismo no Itamaraty
Notas de Paulo Roberto de Almeida
Seminário “Globalismo”, Palácio Itamaraty, Brasília, DF
Auditório Wladimir Murtinho 10 de junho de 2019
  
Introdução: Paulo Roberto de Almeida
(...)

Resumo das palestras por Paulo Roberto de Almeida
10:00-10:30 Abertura:
Embaixador Ernesto Araújo, Ministro de Estado das Relações Exteriores
(Nota PRA: se o texto aparece muito confuso, a culpa não é minha: a confusão mental, as hesitações, as idas e vindas são próprias do palestrante: o vídeo pode confirmar isso: https://m.youtube.com/watch?feature=youtu.be&v=PpNNLl4wZXw)

Addendum em 12/06/2019: 
Depois de postado o link acima, não mais funciona: 
Vídeo indisponível

Abre com leitura de Nietzsche: “vou contar a história dos próximos 200 anos”, ou seja, o niilismo, em Vontade de Poder. O pensamento de Nietzsche, famoso pela sua frase, “Deus está morto”, é uma descrição e uma superação do niilismo. Essa ideia de que Deus está morto se tornou o postulado central de todo o pensamento posterior; uma ruptura radical, que explica o marxismo-leninismo e o comunismo; trata-se da destruição da moral burguesa, anunciada por Marx, que é responsável pelo leninismo e pelo fascismo; isso já está na Ideologia Alemã, de Marx e Engels, e na Genealogia da Moral, de Nietzsche, são obras paralelas; o comunismo e o nazi-fascismo dependem da morte de Deus; ambos instalam um antropocentrismo radical. Mais interessante é uma frase do psicanalista Jacques Lacan, “se Deus não existe, nada é permitido”, eu [EA] me identifico com essa frase, pois ela transmite essa falsa liberdade trazida pelo niilismo moral.
Frase do Nietzsche: para um cristão isso não representa um problema. O próprio Nietzsche é um profeta herético, desse renascimento/ Existem cartas que ele escreveu no período de sua loucura, a partir de 3 de janeiro de 1889; ele assina como “crucificado”, diz “o mundo está esclarecido porque Deus está sobre a terra”; existem cartas para Cosima Wagner, que Nietzsche assina como Dionísio, o deus da morte e do renascimento na Grécia antiga; essa oposição entre apolíneo e dionisíaco é típica do pensamento de Nietzsche; de certa forma, Nietzsche se apresenta como o próprio crucificado, se entrega ao abismo da angústia intelectual, como uma figura para-cristã: Ecce Homo. Nietzsche anuncia o século XXI, que é tempo que nós estamos vivendo. Nos últimos dias antes da sua loucura, um dos textos diz: “eu trago a guerra, não a guerra entre povo e povo, entre classe e classe, mas entre a subida e a descida, entre a vontade da vida e a vingança contra a vida”. Nietzsche já nega a concepção da luta nacional, e nega também a luta de classes, concepção do comunismo. Podemos ler a história posterior entre a subida e a descida. Trata-se da história do espírito (aqui entramos em Hegel), é uma prosopopeia da história posterior; uma maneira de ver a história do século XX e XXI, de qual participamos.
Nesse texto, Nietzsche prega uma quebra da história total, como Lênin faria depois. Coloca o desdobramento da luta entre a subida e a descida, como os passos onde se desdobrarão esse movimento; trata-se da história do homem como pura fisiologia, como Lênin e o NSAPD (partido nazista) tentam implementar. O que existe ao longo do século XX é esse terrível mergulho sem Deus; é preciso saber se um dia conseguiremos emergir desse mergulho. Essas duas ideologias, comunismo e nazismo lutaram por sua preeminência durante o século XX. Mas quem lutou contra? Foram as democracias liberais, quando ainda existia um pouco da ordem antiga, quando não se tinha rompido com a ideia de Deus; onde havia liberdade e espaço para a ideia de Deus; no corpo das democracias liberais continuava a bater um coração conservador; essa foi a espinha dorsal do Ocidente que lhe permitiu vencer primeiro o nazi-fascismo, depois o comunismo. Ao longo da Guerra Fria, esse modelo acabou se impondo ao modelo totalitário; o Plano Reagan, por exemplo, foi uma epitome dessa fé e desse liberalismo: ele não teve problema em chamar o comunismo de “mal”; o papa João Paulo II também lutou contra essa tendência niilista. Caráter conexo das duas dimensões da crença de João Paulo II.
Depois de 1989, da vitória do Ocidente, linha da fé cristã venceu; mas logo se afirmou: “ninguém mais precisa de Deus” e resolveram expulsar Deus das democracias liberais. O comunismo já vinha se preparando para ocupar por dentro as democracias liberais, com o marxismo cultural, o gramscismo, eles foram ocupando o coração das sociedades liberais; e isso é o globalismo. É a ocupação das sociedades liberais; de 1889 a 1989 foi o baluarte da Niedergang, descida no sentido nietzscheano. A sociedade liberal achou que a disputa tinha sido exclusivamente econômica, e quase perderam a luta contra o niilismo, por terem perdido a ideia de Deus.
Palestrantes vão falar de alguns dos mecanismos do fisiologismo do globalismo, o desconstrucionismo linguístico, o nominalismo, a ideologia de gênero, o racialismo e o ecologismo, que é a ecologia transformada em ideologia. Áreas de pensamento que deixam de ter contato com a realidade e se impõem como absolutas. Todos esses instrumentos pressupõem a ausência de Deus, e criam uma nova moral, de opressão psicológica. Nietzsche previa isso: uma moral sem a base de uma ordem estruturada.
No ápice desses movimentos que vivemos, estamos vivendo um caráter opressivo, um moralismo pesado; o globalismo tenta formular de maneira canhestra, uma nova espécie de religião; ideologias que são o oposto dos valores antigos, da ideia de Deus. Existe um problema na concepção de uma falsa religião globalista, o globalismo abre a porta para um tipo de retorno de Deus, se cria um estranho humanismo, que desmerece o homem; a Inteligência Artificial significa a máquina aprendendo a pensar como o ser humano, isso é um programa globalista, pode ser o contrário: o homem sendo subjugado pela concepção mecanicista. O globalismo é o niilismo, o triunfo daquela concepção ateia proposta por Nietzsche.
Estamos num momento de recomposição; o fisiologismo é a estrutura filosófica dessa dominação; o liberalismo dispensou Deus. Estamos tentando reintroduzir Deus na sociedade liberal no seio da sociedade liberal politicamente correta; o Brasil está engajando nesse combate. Em Davos, o presidente Jair Bolsonaro reintroduziu a ideia de Deus em seu discurso, deve ter sido a primeira vez na história de Davos que um chefe de Estado introduziu Deus em Davos; isso significa uma mudança nos últimos 100 e tantos anos.
“Então é isso, Deus em Davos”. Muito obrigado.
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Todo o resto, minha introdução e palestra do assessor presidencial, pode ser visto no link já indicado: http://diplomatizzando.blogspot.com/2019/06/seminario-sobre-globalismo-no-itamaraty.html