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segunda-feira, 31 de julho de 2023

A política externa companheira e a diplomacia partidária (2014) - Paulo Roberto de Almeida

 A política externa companheira e a diplomacia partidária

Paulo Roberto de Almeida

Mundorama (4/10/2014; ISSN: 2175-2052)

 

O início ou o término de um mandato presidencial sempre é uma boa ocasião para se efetuar um balanço das realizações ou das frustrações que nele possam ter ocorrido. Por deformação de ofício, mas também por inclinação pessoal, tenho feito esse tipo de avaliação ao final e até no início de novos mandatos, num terreno que por acaso é o meu pelas últimas décadas: os das relações internacionais do Brasil e da política externa dos governos que se sucederam desde o final dos anos 1970 (em plena ditadura, portanto), até a atualidade. Uma lista nominal de todos os ensaios de avaliação que escrevi a esse respeito ao longo dessas décadas seria provavelmente enfadonha, mas talvez possa ser útil aos que manifestem o desejo, e o interesse, de conhecer, ainda que seletivamente, o que produzi de mais relevante nessa área. Por isso, permito-me enumerar os mais representativos desse tipo de produção ao final deste breve ensaio.

O que me motiva a realizar esse tipo de exercício é o continuísmo diplomático, ou seja, o fato de se afirmar que a política externa companheira, é a única suscetível de defender a soberania do Brasil, e que ela deve ser preservada com todo o ativismo e altivez que supostamente a caracterizam (segundo a figura de estilo, pro domo sua, de um ex-chanceler). Como eu acho que isso nada mais representa do que propaganda enganosa a serviço do partido no poder, vou apresentar outros elementos de discussão, ao alinhar alguns argumentos em favor de uma outra visão, que pelo menos tem a vantagem de oferecer uma perspectiva “interna” da diplomacia companheira, e sem que ninguém me tivesse encomendado tal tarefa. 

 (...)


Ler a íntegra deste trabalho neste link: https://www.academia.edu/105090867/A_pol%C3%ADtica_externa_companheira_e_a_diplomacia_partid%C3%A1ria_2014_

 


Lista seletiva de trabalhos do autor sobre política externa do Brasil:

Nunca Antes na Diplomacia...: A política externa brasileira em tempos não convencionais (Curitiba: Appris, 2014, p. 289; ISBN: 978-85-8192-429-8; link: http://www.pralmeida.org/01Livros/2FramesBooks/NuncaAntes2014.html). 

“O Brasil e a integração regional, da Alalc à Unasul: algum progresso?”, Mundorama (11/06/2014; ISSN: 2175-2052; link: http://mundorama.net/2014/06/11/o-brasil-e-a-integracao-regional-da-alalc-a-unasul-algum-progresso-por-paulo-roberto-de-almeida/).

“Mercosul, do otimismo à resignação”, Boletim de Economia e Política Internacional (Ipea: n. 16, jan.-abr. 2014, p. 43-56; ISSN: 2176-9915; link: http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/boletim_internacional/140512_boletim_internacional016.pdf).

“Rumos adequados à política externa brasileira na próxima década”, blog Diplomatizzando (link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2014/07/rumos-adequados-politica-externa.html).

 “Pensamento diplomático brasileiro: introdução metodológica às ideias e ações de alguns dos seus representantes”, in: José Vicente Pimentel (org.), Pensamento Diplomático Brasileiro: Formuladores e Agentes da Política Externa (1750-1964). (Brasília: FUNAG, 2013, 3 vols.; ISBN: 978-85-7631-462-2; vol. 1, p. 15-38; link: http://funag.gov.br/loja/download/1057-1058-1059-pensamento-diplomatico-brasileiro-colecao.epub).

“A diplomacia da era Lula: balanço e avaliação”, Política Externa (vol. 20, n. 3, dez./jan./fev. 2011-2012, p. 95-114; ISSN: 1518-6660; link: www.pralmeida.org/05DocsPRA/2344DiplomEraLulaBalRevPolitcaExterna.pdf).

Relações internacionais e política externa do Brasil: a diplomacia brasileira no contexto da globalização (Rio de Janeiro: LTC, 2012, 330 p.; ISBN 978-85-216-2001-3; http://www.pralmeida.org/01Livros/2FramesBooks/RelaIntPExt2011.html)

“Continuidade e Mudança na Política Externa Brasileira”, Mundorama (1/04/2011; link: http://mundorama.net/2011/04/01/continuidade-e-mudanca-na-politica-externa-brasileira-por-paulo-roberto-de-almeida/).

“A diplomacia brasileira numa nova conjuntura política”, Mundorama (29.12.2010; link: http://mundorama.net/2010/12/29/a-diplomacia-brasileira-numa-nova-conjuntura-politica-por-paulo-roberto-de-almeida/). 

“Never Seen Before in Brazil: Lula’s grand diplomacy”, Revista Brasileira de Política Internacional (vol. 53, n. 2, 2010, p. 160-177; ISSN: 0034-7329; link: http://www.scielo.br/pdf/rbpi/v53n2/09.pdf).

“La diplomatie de Lula (2003-2010): une analyse des résultats”, In: Denis Rolland, Antonio Carlos Lessa (coords.), Relations Internationales du Brésil: Les Chemins de La Puissance; (Paris: L’Harmattan, 2010, vol. 2: Représentations Globales, p. 249-259; ISBN: 978-2-296-13543-7). Postado no blog Diplomatizzando (link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2010/10/relations-internationales-du-bresil.html).

“Pensamento e ação da diplomacia de Lula: uma visão crítica”, Política Externa (vol. 19, n. 2, set.-out.-nov. 2010, p. 27-40; ISSN: 1518-6660; link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2010/09/pensamento-e-acao-da-diplomacia-de-lula.html).

 “Lula’s Foreign Policy: Regional and Global Strategies”, In: Werner Baer and Joseph Love (eds.), Brazil under Lula (New York: Palgrave-Macmillan, 2009, 326 p.; ISBN: 970-0-230-60816-0; chap. 9; p. 167-183; link: http://www.pralmeida.org/05DocsPRA/1811BrForPolicyPalgrave2009.pdf).

“A diplomacia do governo Lula em seu primeiro mandato (2003-2006): um balanço e algumas perspectivas”, Carta Internacional (São Paulo: Nupri-USP, vol. 2, n. 1, jan-mar 2007, p. 3-10; ISSN: 1413-0904; link: http://www.pralmeida.org/05DocsPRA/1733DiplomLula1roMandCartaInter2007.pdf).

“¿Una nueva ‘arquitectura’ diplomática? Interpretaciones divergentes sobre la política exterior del Gobierno Lula (2003-2006)”, Entelequia: revista interdisciplinar (2, Otoño 2006, p, 21-36; ISSN: 1885-6985; link: http://www.eumed.net/entelequia/es.art.php?a=02a02);

“A política internacional do PT e a diplomacia do governo Lula”, In: Guilhon de Albuquerque, José Augusto; Seitenfus, Ricardo; Nabuco de Castro, Sergio Henrique (orgs.), Sessenta Anos de Política Externa Brasileira (1930-1990) (2. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006, ISBN: 85-7387-909-2;  v. I: Crescimento, Modernização e Política Externa; p. 537-559),

“La politique internationale du Parti des Travailleurs: de la fondation du parti à la diplomatie du gouvernement Lula”, In: Denis Rolland et Joëlle Chassin (orgs.), Pour Comprendre le Brésil de Lula (Paris: L’Harmattan, 2004, ISBN: 2-7475-6749-4; p. 221-238; link: http://www.pralmeida.org/01Livros/2FramesBooks/73BresilLula.html).

“A política internacional do Partido dos Trabalhadores: da fundação do partido à diplomacia do governo Lula”, Sociologia e Política (Curitiba: UFPR; n. 20 jun. 2003, p. 87-102; ISSN: 0104-4478; link: www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-44782003000100008).

 

[Muitos outros materiais, e comentários tópicos, podem ser encontrados, geralmente sob a rubrica “diplomacia companheira” ou “política externa companheira”, no blog Diplomatizzando, desde vários anos, onde também tenho registrado os artigos dos companheiros de viagem do novo pensamento único, os acadêmicos gramscianos.]


quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

Brazilian Foreign Policy under Lula - Paulo Roberto de Almeida (2010)

Foreign Policy of Brazil under Lula

Paulo Roberto de Almeida
June 28, 2010; First draft; to be revised.

1. Formulation and implementation of the Foreign Policy: decision making under the influence of the Workers’ Party (PT)
For the first time in decades, or ever, Brazilian foreign policy is being conceived and conducted without the dominant presence of professional diplomats. PT’s “foreign policy” has been the dominant element in current Brazilian foreign policy, but not in a structured manner, as PT never “produced” a complete set of conceptions and solutions for Brazil’s international relations. It always had a poor theoretical elaboration, simply relying on “Gramscian” people from the academy – fellow travelers or compagnons de route – for the preparation of more sophisticated papers and proposals relating to economics and political life. But the core of its “thinking” – if one can indulge with such a concept – is a confuse mixture of typical (and stereotypical) Latin-American leftism, with brushes of Guevarism, Castroism, Stalinism, classical Marxism and Theology of Liberation beliefs.
From the standpoint of its organizational structures, PT is a quasi-like Bolchevist party, but without all the old apparatchik apparatus of the Soviet-style communist party. It’s core was formed, at the origin, by “alternative trade-unionists” – refusing the traditional trade-unions linked to the Ministry of Labour, but that have adapted quickly to the facilities of the easy money provided by the compulsory “labor tax”, and forming a trade union became an industry in Brazil –, by the ancient guerrilleros recycled to party politics – that is, former dissidents from the old Communist Party, having adopted armed struggle Cuban style, defeated – and some groups from the progressive movements of the Church, the leftist Theology of Liberation, ecclesial communities, workers’ priests and so on. 
Their ideology is of course an old style socialist one, previous to the fall of Berlin wall, and many of the sects that integrate PT are still true believers in the socialism. In any case, they are anti-capitalists, anti-imperialists, and anti-Americans, as almost all of the leftist Latin-American parties are. In the case of PT, there are people who were trained by the Cuban DGS – Dirección General de Seguridad, or the Cuban intelligence – like José Dirceu. Others are totally reliable and subservient to the Cubans, like Marco Aurélio Garcia, the main organizer of the Sao Paulo Forum, the Cuban-sponsored coordinating mechanism for all leftist parties in LA (which included the Colombian FARCs), almost analogous to the old Cominform of the Soviet era. But, as PT has no structured thinking on Foreign Policy, the main guidelines are established by all those involved in “international relations” within PT, starting by Lula himself – who, as a trade unionist, developed links to other organizations, in Cuba, in the USA, in France, Germany, and elsewhere – and Marco Aurelio Garcia, PT’s “international secretary” for more than 15 years, speaking Spanish and French from his exile times. José Dirceu was also very influent in the definition of foreign policy, and still is, despite not being anymore in the Government.
PT was, and is, always a “consortium” of leftists, engaged actively in the their cause, sects’ or party’s cause, not a national cause according to normal lines of parliamentary democracy; their message always relied on “mass politics”, “popular organizations” (which they controlled, of course, like National Students Union, labor or peasant movements, and many others); their concept of democracy is instrumental: all that serves the major objective of holding power for the party fits its “philosophy” and practices. This is the major political component of the Brazilian foreign policy during Lula’s government.
The two other elements in the definition of Brazilian current foreign policy are the “bosses of the House” – minister Celso Amorim and ex-Secretary General Samuel Pinheiro Guimarães, this one even most important than the former, and the true ideological guide of PT’s foreign policy. Although Amorim is President Lula’s servile man-for-all-jobs-and-all-things, taking personally on him all that is needed to enhance the image and the figure of Lula on the world scenario, is Guimarães who is the ideological backbone of the new foreign policy. In fact, major initiatives of the Brazilian diplomacy since 2003 have all been taken with the main purpose to project Lula abroad, being indeed a superficial and rhetorical foreign policy, aimed at building a “great international leader” disguise to someone who has been, all his life, an opportunistic and “machiavellian” (in the bad sense of the word) trade unionist. Of all the major objectives of Brazilian foreign policy – gaining a permanent chair at UNSC, strengthen and expand Mercosur, and achieve multilateral trade negotiations – the sole to be achieved was to inflate the image of Lula at world level: this was a success of propaganda…
As for Guimarães, although not being a Marxist himself, only an old style nationalist and a “developmentalist” of the “structuralist” Latin-American economic school, he seemed perfect for the statist and dirigiste ideology of PT and leftist allies. He was chosen by the apparatchiks of the PT even before of Amorim, to be the “brain” behind the new, assertive, foreign policy of PT. He is the main “writer” and “penseur” of the new kids in the block, simply because PT had (and still does not have) nobody capable of articulating a meaningful foreign policy. Author of two books, and dozen of articles on a variety of subjects, he has operated a véritable retour en arrière in Brazilian diplomacy, bringing it again to the years of the “new international economic order” or the Seventies (perhaps even before that). 
The third, and less important, element of the current foreign policy is Itamaraty itself, but only as a technical basis for putting in place all the “prolific” ideas of the new group (and some follies of the president himself). Itamaraty has a good technical staff, with excellent intellectual preparation, and is a very professional service, although somewhat arrogant and it is, as already stated, too submissive to the powerful of the moment. With very few exceptions, Itamaraty has subjected itself to the worst initiatives of this government, diplomatic projects that would clearly be objected in the past: errors of judgment, gross mistakes of evaluation, failures of implementation and complete disasters in political manoeuvres. In its favor, most, if not all, of those initiatives were taken on request of the presidential advisor in foreign policy, aka “professor Marco Aurélio Garcia”, a total amateur in such things. 

2. An activist, and leftist, foreign policy as a compensation for a “neoliberal” economic policy making
Clearly, a “leftist” foreign policy is said to be a “compensation” for a neoliberal economic policy, but this is only a boutade by journalists. In fact, the leftist foreign policy is what the ideology of its commandeurs determined what it has to be: Lula, MAG, Amorim and Guimarães. Of course, the leftists followers, frustrated with the economic policy, find some respite in international affairs, but the mood is purely on the old style leftwing parties of LA: anti-imperialism, anti-Americanism, South-South solidarity, support for the oppressed everywhere, a North-South divide (and the perversity of the rich countries), strategic partnerships with developing or anti-hegemonic countries, in short, the periphery against the arrogant powers. 
This has represented a serious departure of an old tradition of Itamaraty: non-intervention, or non-interference in other countries’ internal affairs. Since the beginning, Lula proclaimed, in the middle of electoral processes, his support for his preferred leftist candidates in neighboring countries: Nestor Kirchner, Evo Morales, Rafael Correa, perhaps Ollanta Humala (Peru; preferred by Guimaraes, instead of Alan Garcia), and, especially, Hugo Chávez, always and in every circumstance. Luckily for Lula, they all have been elected or re-elected, otherwise Brazil could be in an awkward situation thereafter. Some moves were perhaps illegal and started even before the inauguration of Lula’s government, such as providing Hugo Chávez with gasoline during the worst of the strikes at PDVSA, in December 2002. Other moves represented a clear abandonment of sovereignty by Brazil, as in the cases of Bolivian oil and gas nationalizations, Ecuadorian illegal measures against Brazilian companies operating there, Paraguayan pressures against Itaipu treaty, and, much more serious and detrimental to Brazilian interests, complacency towards Argentinean abusive and illegal protectionist measures against Brazilian exports in the framework of the free-trade zone (and customs union) that represents Mercosur. 
In the other side of the political tableau, there was no complacency regarding the tragic situation in Colombia and its struggle against the narcoguerrilla – remember that FARC is allied with PT in the Foro de Sao Paulo – neither in connection with the pathetic and ridiculous case of Honduras, where Lula was totally in line with Hugo Chávez. Never before, in the Brazilian diplomatic history, our legalist tradition was so alienated and baffled than in those months during which Manuel Zelaya used the Brazilian Embassy in Tegucigalpa to incite rebellion and political unrest; Brazil breached all the inter-American conventions on political asylum and many other established diplomatic practices and procedures. 
Those moves and initiatives – among them the constant action to isolate USA in the region, and to create new political entities restricted to South or Latin American countries – have a direct connection with domestic politics and the desire, by Lula and PT, to accommodate the anti-American feelings of their supporters, as well as the files and ranks of all other leftist parties. Different is the case of Haiti, where Brazil inserted itself in complete agreement with the USA: the intention was to acquire an entrance ticket to the UNSC, one of the megalomaniac projects of Lula and Amorim, disregarding totally the negative reactions of some neighboring countries, among them Argentina. 
In short: a leftist foreign policy is no compensation for other issues such a as land redistribution, social welfare, or inequality, first of all because each one has many different publics or clients. Land redistribution is no more a vital question in Brazil, despite all the talk around it: agriculture is capitalist in Brazil, and many small families of peasants, in Southern Brazil, for instance, are totally integrated in rural markets; those poor peasants could be farm workers or maintain other types of labor relations (including tenancies), as not everyone is capable or do need to be a farmer owner. This is a false question. The “clients” of movements such as MST (so called Landless Movement) are not really peasants, but rather lumpen recruited to be a mass of manoeuvre of a neo-Bolchevik party, less interested in land reform than in “revolution” along Cuban line. Social welfare is directed to a very poor fraction of the society, people who do not care about foreign policy. Inequality, at last, is question which regards intellectuals only, not the people; it a too abstract a question to attract attention.
International questions have no real importance in terms of domestic politics; they can be important topically in elections only by virtue of a really pressing issue. Haiti never had any importance in Brazil, before Lula decided to send troops there, just as a kind of payment for possible acceptation of Brazil in UNSC; it became important since, only because Brazil has some 1,200 troops there (so a lot of families are involved) and government keeps sending money for the mission. 

3. There was such a thing as a conservative foreign policy, as opposed to the activist, leftist, diplomacy of PT? What to think about nuclear questions and security matters?
It is important to state, as a departure, that a ‘neocon’ foreign policy never existed in Brazil, either as a concept or a reality. Brazil has always been multilateralist, and South-South diplomacy is not a novelty in Brazil, but of course never had received such a label, which is mostly used for questions of publicity and to remember that PT is “committed to the “Third World”. There is much rhetoric, and a lot of investment in those issues, but there is little, if any, independent analysis on the real benefits of this kind of option for Brazil as such.
Some members of the government, in different positions, have expressed their opinions about nuclear issues in a confuse manner. Those remarks HAVE NO real importance for Brazilian policy, because either they are naïf or irresponsible, or represent only personal opinions, without bearing on actual government policies; in any case, they can be viewed as mistakes, but probably reveal that Lula’s government has some people who never accepted the fact that Brazil, at Cardoso’s presidency, decided to sign the NPT. Some people believe that it was a wrong decision, and they are inclined to revert it if possible.
Brazil has a nuclear program, and it develops around the full ability over the complete cycle of nuclear enrichment, allegedly for pacific purposes (energy and nuclear submarine). There is no news concerning a nuclear weapons program, but it is possible to think that if the same people referred above would have the opportunity, they would divert some of the acquired capacity to prepare a military program (that is: there is none, but if the decision is taken, probably there will be enough human resources and some equipment to start one). 

 4. Brazil and its international role and the aspirations that come together
Many of the questions in this connection have no simple answers to them, as they involve issues of political thinking and strategic planning at the upper levels of the decision-making echelons. It depends primarily on who are deciding what in Brazil. Nowadays, there is a confuse and ill-informed foreign policy, a mix of the political feelings of PT, and the personal choices of the leftists in power and of one or two diplomats only. The result of all that is a presidential diplomacy tailored to enhance, enlarge and publicize the figure of Lula, the only tangible result of this diplomacy in eight years. No question that Brazil is today much more important and visible than eight years before, but that is due to its economic stability (a policy that was preserved from previous Administration), to the size of its internal market and attraction of it to foreign investment, and the good performance of its exports and international presence. Other negative factors are also relevant: Argentina and Venezuela are clearly tarnishing their respective reputations, and other countries are failing to modernize, so Brazil appears as a relative successful case. It does not need any projection through nuclear policy to become more important. The fact that some people in government are being ambiguous regarding nuclear policy only reverts in disfavor of Brazil, which is regrettable. 

5. Influence of the military in Brazilian politics and in foreign policy in especial
Military do not have much influence in the political process as such, but they still have some importance in certain number of issues related to their own organization, or security matters (equipment and doctrine). There is little integration between civilians and military, despite the creation of a Ministry of Defense and the integration of certain services. Nevertheless, a document, called the National Defense Strategy was delivered in December 2008, but it is still early to see if it will be a concrete and enduring doctrine, or just a reflex of a particular moment in the political life of Brazil. I have commented twice on this document but my analyses exist only in Portuguese.

Shanghai-Hangzhou, May 27-30, 2010.
Revised: Beijing-Shanghai, 28 June 2010.

terça-feira, 18 de dezembro de 2018

Lula's Foreign Policy: Regional and Global Strategies (2008) - Paulo R. Almeida

Hi Paulo Roberto, 
Congratulations! You uploaded your paper 2 days ago and it is already gaining traction. 
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Thanks,
The Academia.edu Team

terça-feira, 31 de outubro de 2017

Ex-chanceler do governo lulopetista critica o governo atual - Brasil 247

O instrumento por excelência do lulopetismo jornalístico, 247 (somando...) reproduz declarações do ex-chanceler dos dois governos lulopetistas e ex-ministro da Defesa no desastrado governo da sucessora.
Má-fé, mentiras e deformações recheiam suas declarações, o que já é típico de quem afundou na submissão sem limites a um dos governos mais corruptos da nossa história, senão do hemisfério, quiçá do mundo.
Essa coisa de "projeto anti-nação" é típico dos comunistas de antigamente, distilando um stalinismo rastaquera, e obviamente mentiroso.
Um papel lamentável de quem serviu a diplomacia brasileira, mas de maneira oportunista preferiu colocar a mentira a serviço de interesses inconfessáveis
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 31 de outubro de 2017

Todo mundo pergunta onde está o Brasil, diz Celso Amorim
 https://www.brasil247.com/pt/247/brasil/324478/Todo-mundo-olha-hoje-e-pergunta-onde-est%C3%A1-o-Brasil-diz-Celso-Amorim.htm
Ex-ministro das relações Exteriores, Celso Amorim fez um diagnóstico sombrio da atual política internacional brasileira;  segundo o diplomata, o País era chamado para facilitar conversas na America Latina, na África e no Oriente Médio; “O Brasil estava a frente dessas conversas. Agora, não está nem a reboque. Está parado lá atrás. Todo mundo olha hoje e pergunta: onde está o Brasil? O Brasil hoje vai nas reuniões dos organismos internacionais para cumprir tabela, não apresenta nenhuma iniciativa"
Brasil 247, 27 de Outubro de 2017 às 06:50 // TV 247 no Youtube Youtube
Por Marco Weissheimer, do Sul 21
O Brasil deixou de ter uma política externa e um projeto nacional. Na verdade, o que existe hoje é um projeto anti-nação, um assustador processo de desnacionalização e de destruição de ativos nacionais. O diagnóstico é do ex-ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim, que participou nesta quarta-feira (25) da sétima edição do Fórum de Grandes Debates, promovido pela presidência da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul.
Amorim foi recebido, no final da tarde, pelo presidente da Assembleia, deputado Edegar Pretto (PT), conversou com jornalistas e, logo e seguida, proferiu uma conferência no auditório Dante Barone. O ex-chanceler do governo Lula criticou os rumos da política externa brasileira no governo Temer que, segundo ele, abandonaram completamente o protagonismo que o Brasil vinha exercendo nos últimos anos, voltando a assumir uma postura subalterna aos interesses econômicos e políticos de Washington.
Na avaliação de Celso Amorim, a política externa brasileira praticamente desapareceu. “O Brasil tem participado de certas reuniões, meio na lógica de cumprir tabela. Não se tem notícia de nenhuma iniciativa importante, como houve sobretudo no governo Lula. Pode ser que tenha alguma coisa acontecendo e o problema seja com o porta-voz que não está comunicando”, ironizou. “Nas poucas coisas em que parece haver uma orientação”, acrescentou, “eu não concordo com ela”. Celso Amorim citou o exemplo da Venezuela:
“Você pode ter a preferência que quiser, mas não pode, em uma situação grave envolvendo um país vizinho ao nosso, se dar ao luxo de não contribuir para a construção de um diálogo. Eu fico chocado quando ouço que o Brasil não pode participar de uma mediação na Venezuela porque tomou partido. Acusavam o presidente Lula de ter uma política externa ideológica, mas o Brasil ouvia a oposição da Venezuela da mesma forma que ouvia o governo. Quando havia uma disputa entre a Venezuela e a Colômbia, que tinha um governo de centro-direita, o Brasil participava tentando construir uma situação de diálogo, pois nos interessava a paz e esta se baseia no diálogo. O que o país não pode é se auto-excluir do diálogo, o que aconteceu confessadamente”.
O Brasil, acrescentou Celso Amorim, era chamado para facilitar conversas na America Latina, na África e no Oriente Médio. “O Brasil estava a frente dessas conversas. Agora, não está nem a reboque. Está parado lá atrás. Todo mundo olha hoje e pergunta: onde está o Brasil? O Brasil hoje vai nas reuniões dos organismos internacionais para cumprir tabela, não apresenta nenhuma iniciativa. Nós sempre tínhamos uma iniciativa nova. O próprio G-20 nasceu, entre outros fatores, pelo papel que o Brasil passou a desempenhar no cenário internacional. O nosso país tinha um papel muito importante no cenário internacional, tanto na parte econômica como na parte política. O Brasil foi chamado para intervir em questões envolvendo o Oriente Médio. Muita gente questionou o envolvimento do Brasil no Irã. Mas não foi o Brasil que quis se envolver no Irã. O presidente do Estados Unidos, Barack Obama, pediu que o Brasil ajudasse, apenas para dar um exemplo”.

Celso Amorim falou sobre as relações entre a política externa e o desenvolvimento, na Assembleia Legislativa. (Foto: Guilherme Santos/Sul21)
Falando sobre o cenário internacional, Celso Amorim avaliou que o mundo pode estar entrando, mais do que na era Trump, na “era Xi”, uma referência ao novo presidente da China, Xi Jinping. O grande fato novo, enfatizou, é o crescimento da China, não só o crescimento econômico, mas a disposição desse país em assumir uma postura de liderança. O ex-chanceler lembrou que, na primeira reunião dos BRICS (grupo que reúne Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul), a China não mostrava muito engajamento, ao contrário do Brasil e da Rússia. Hoje, a China desempenha um papel central, sendo a sede, inclusive, do banco dos BRICS. “No último congresso do Partido Comunista chinês ficou claro não só o fortalecimento do presidente Xi, como também uma disposição de atuar com liderança”.
Questionado sobre o futuro dos BRICS a partir da mudança política ocorrida no Brasil, Celso Amorim disse não acreditar que o país saia dessa iniciativa. “Por mais subserviente que a nossa classe empresarial possa ser, há fortes interesses econômicos em jogo, como os do agronegócio que exporta muito para esses países. Por mais voltado ideologicamente para Washington que possa ser o atual governo, não vejo a possibilidade de o Brasil sair dos BRICS. Acho que há aí um mínimo de pragmatismo que não permite que eles saiam. Só não vão tomar nenhuma iniciativa, até porque não têm nenhuma credibilidade para lançar alguma coisa nova. Vão indo na rabeira. Hoje, nestes encontros internacionais, ninguém quer tirar foto com o Temer. Na época do Lula, todo mundo queria aparecer na foto com ele”.
Amorim manifestou preocupação, por outro lado, com a destruição dos ativos nacionais, que estão sendo entregues a outros países. Para ele, o que está ocorrendo no governo Temer não é propriamente uma privatização, mas sim uma desnacionalização. “Comparando com o que está acontecendo hoje, Roberto Campos seria considerado um desenvolvimentista desvairado. “Muitos dos nossos ativos estão sendo comprados por estatais de outros países. O que não presta é a estatal brasileira, a estatal de outros países serve? As empresas brasileiras ficaram sob suspeita com essa questão da Lava Jato, de uma maneira que não se vê em país nenhum. A Volkswagen teve um problema sério recentemente com a falsificação de resultados envolvendo um software de meio ambiente. Você ouve falar que a Alemanha está destruindo a Volkswagen por isso? Aqui há uma autoflagelação que está a toda velocidade”.

“Quando os Estados quiseram vender os aviões F-18 para o Brasil teve carta da Condolezza Rice, da Hillary Clinton”. (Foto: Guilherme Santos/Sul21)
Na opinião do diplomata, a Lava Jato acabou provocando a criminalizando coisas que são absolutamente normais como oferecer subsídios para um investimento na África, por exemplo. “Está sendo colocado como tráfico de influência uma coisa que todos os países fazem. Pergunte ao rei da Suécia, ao presidente da França ou ao presidente dos Estados Unidos o que eles fazem? Quando os Estados quiseram vender os aviões F-18 para o Brasil teve carta da Condolezza Rice, da Hillary Clinton. Essas coisas são normais. No Brasil, tudo isso foi criminalizado. Fico até com pena dos diplomatas brasileiros. Eu não sei o que eu faria se eu fosse um diplomata brasileiro no exterior diante de uma oportunidade comercial para uma empresa brasileira. Ele vai pensar: melhor não falar nem fazer nada, senão vão dizer que estou sendo corrompido”.
Celso Amorim questionou também alguns mitos que ficam sendo repetidos pela grande imprensa como se fossem verdade, como o suposto fracasso do Mercosul. “Uma das mentiras mais repetidas é que o Mercosul deu errado. Desde a criação do Mercosul até 2014, o comércio envolvendo os países do bloco cresceu 12 vezes, enquanto, no mesmo período, o comércio mundial cresceu cinco vezes. Que fracasso é esse?”.

domingo, 22 de outubro de 2017

Hipoteses de Politica Externa: alternativas para um governo PT (outubro 2002) - Paulo Roberto de Almeida

Entre o primeiro e o segundo turno das eleições de outubro de 2002, quando já se dava por confirmada a vitória do candidato do PT, um jornalista conhecido da Gazeta Mercantil, então o mais importante jornal de economia do Brasil, contatou-me em Washington para pedir minha opinião sobre uma série de questões relativas à política externa do futuro governo. Concordei em expressar algumas ideias desde que fosse em caráter reservado, ou seja, não identificado. Ele mandou-me as questões, eu respondi, mas ignoro se foram ou não aproveitadas em alguma matéria daquele momento.
Como o texto nunca foi divulgado, e como o assunto agora não tem muita importância -- isso em termos práticos, pois continua a ser relevante pois vários dos temas continuam pendentes -- resolvi divulgar este trabalho, no momento em que faço uma revisão de todo o meu seguimento das relações entre partidos políticos e política externa. O tom geral é bastante otimista, talvez até demais. Uma das questões tocava no problema das esquerdas, ao que eu respondi da seguinte forma: “Não teremos um governo de “esquerda partidária” no Brasil, mas um governo identificado com forças progressistas. A ideologia política não deveria influenciar a ação governamental, ainda que algumas declarações de dirigentes políticos (não necessariamente na Chancelaria) possam induzir a essa identificação com “velhas amizades” nas ONGs progressistas.” Como se vê, enganei-me completamente: o que tivemos, justamente, foi uma política externa partidária, e até secretamente sectária (o que precisa obviamente ser provado).
Paulo Roberto de Almeida 
Brasília, 22/10/2017 

 
Hipóteses de Política Externa – Novo Governo do PT

[Paulo Roberto de Almeida
NÃO CITAR SEM AUTORIZAÇÃO DO AUTOR

1) Mostrar o quadro daqui pra frente, os principais desafios. O que terá que ser enfrentado pelo PT no campo externo, a partir de novembro? Algum desafio sério?
O principal seria o eventual recrudescimento da turbulência econômica, fuga de capitais e coisas do gênero. Creio que a equipe econômica de transição, que será suficientemente confiável, tem condições de, em pleno entendimento com a equipe atual, debelar esses focos, ainda que algum rescaldo (maior desvalorização, etc) possa ocorrer.
No plano negociador externo, creio que as tomadas de posição quanto à Alca, Mercosul, relações com os EUA, serão igualmente responsáveis e profissionais, sem qualquer ameaça de derrapagens verbais ou conflitos retóricos. Não creio, pessoalmente, que grandes mudanças possam ocorrer em relação à postura já adotada pelo Itamaraty (e que corresponde à orientação de FHC) na maior parte dos temas da agenda externa. Poderá haver alguma ênfase verbal na defesa do “interesse nacional”, na busca de resultados equilibrados na Alca e nas demais negociações comerciais, mas nada que destoe excessivamente do que já vem sendo dito ou praticado atualmente.

2) Haveria uma mudança de postura ou continuidade com mudança de tom e ritmo?
Depende de quem seria o chanceler. Se for um profissional da Casa, dificilmente haveria grandes mudanças, mesmo com alguma concessão à retórica dos novos tempos. Se for um político ou personagem partidário, haveria inevitavelmente mudança de estilo e na forma de atuação, mas não acredito que possa haver alteração substancial dos métodos e formas de trabalho diplomático do Itamaraty.

3) A Alca, o TNP, negociações com UE e na OMC, aproximação com a Asia, a Africa , o projeto de integração sul-americana etc.
Tenderá o discurso a ser mais afirmado nas relações com o Sul e outros grandes países “periféricos” (onde o programa coloca além da Índia, a China e a Rússia, sic), mas creio que não se voltará atrás no TNP (o mais razoável seria deixar como está, pois qualquer mudança seria não só contraproducente, como inutilmente desgastante). Na Alca e na OMC, será a retórica desenvolvimentista, ou seja, nada de muito extraordinário em relação ao que já tivemos no passado e de certa forma ainda hoje.

4) Importante: o relacionamento com os EUA. O que podemos prever? Sabemos que a embaixadora Donna Hrinak está fazendo um trabalho bom, em Washington, para convencer diferentes atores que o Lula e o PT não são bichos-papões.
Sem dúvida, a Embaixadora desempenha um importante papel “apaziguador”, junto aliás com o RAB em Washington. São profissionais, que sabem lidar com as pequenas ou grandes dificuldades de uma relação assimétrica. As relações continuarão boas no plano político (sem o calor dos tempos FHC-Clinton, ambos da Terceira Via), e com as dificuldades conhecidas, e todas identificadas, no plano comercial, bilteral, hemisférico ou multilateral. Mas, não há porque pensar que essas dificuldades redundarão em maior tensão ou desgaste adicional. Brasil e EUA presidirão as negociações da Alca com bastante profissionalismo e sentido da importância do processo. Mas, como o processo todo é muito complexo, e dependente de soluções a serem alcançadas em Genebra, poderá haver algum atraso no calendário originalmente estabelecido para a Alca (término no final de 2004 ou começo de 2005).
Algumas inconsistências americanas terão de ser resolvidas daqui até lá, como por exemplo, a recusa em discutir determinados “temas sistêmicos” (como subsídios à agricultura) na Alca, remetendo-se acertos a Genebra, e sua insistência em discutir outros temas sistêmicos na Alca, como propriedade intelecual ou compras governamentais. Se o assunto é acesso a mercados, por exemplo, nada impediria os EUA de reduzirem as barreiras tarifárias e não tarifárias em agricultura, para nossos produtos competitivos, na Alca, e deixar o tema subsídios para a OMC. Mas se nem isso eles querem conceder, então pode ficar difícil. Creio que o Brasil pode insistir nisso.

5) Nova doutrina de segurança dos EUA, Plano Colômbia, tudo isso significa desafios novos para a diplomacia brasileira?
Não, nada de novo a rigor, ainda que a doutrina do “pre-emptive strike” seja relativamente inédita nas relações internacionais (mas a Carta da ONU reconhece o direito a auto-defesa). No caso da Colombia, o elemento importante é mais a atitude do novo governo Uribe do que propriamente a ação americana, que continua interessada na ajuda ao governo daquele país para conter o problema do narcotráfico.
Quanto ao problema da pacificação do país, o Brasil deve continuar manifestando sua boa disposição para ajudar diplomaticamente no diálogo interno entre os grupos políticos colombianos, mas não temos intenção de oferecer cooperação militar. Isso os EUA entendem muito bem.

6) Cuba: O PT deve continuar com a postura tradicional da diplomacia brasileira? Regionalmente, como seria a politica do PT (México, Argentina em especial)?
Não haverá mudanças básicas, pois a postura do Brasil sempre foi favorável ao término do isolamento diplomático de Cuba. Poderá haver alguma retórica adicional, mas nada de substantivamente diferente. Cone Sul e América do Sul serão claramente prioritários, e com o México as relações devem continuar no patamar correto em que estão hoje.

7) A esquerda mundial, em especial na Europa, representaria alguma forma de apoio adicional ao projeto do PT, ou o PT é que exerceria influência na esquerda (latino-americana em especial), com nova forma de governar e conduzir processos de mudanças? Nesse aspecto, haveria então reflexos na política externa?
Não teremos um governo de “esquerda partidária” no Brasil, mas um governo identificado com forças progressistas. A ideologia política não deveria influenciar a ação governamental, ainda que algumas declarações de dirigentes políticos (não necessariamente na Chancelaria) possam induzir a essa identificação com “velhas amizades” nas ONGs progressistas.

8) Haveria algum modelo comparativo de politica externa já adotada e a que o PT pretende realizar?
Não conheço, e duvido que o PT atue segundo modelos genéricos. A fase de governar segundo “rótulos” já passou e nem o PT pretende ser guiado por algum princípio abstrato de política externa. Pelo que se tem visto nas últimas semanas, o novo governo será bastante pragmático em matéria de política externa, o que significa que não se diferenciará muito do atual, inclusive quanto à falta de um slogan unificador (e necessariamente redutor). Salvo um vago desenvolvimentismo (expressa na diretiva do programa de campanha, segundo a qual a política externa terá papel importante no processo de desenvolvimento do País), o PT atuará segundo as linhas tradicionais da política exerna do Brasil, que já se define como uma “diplomacia do desenvolvimento”.

9) Os barbudinhos do Itamaraty estariam de volta? O que isto significa?
Não se pode dizer que haverá um “grupo” coeso de diplomatas identificados com uma determinada linha. Isso era válido na época da “nova ordem econômica internacional”, em que o Brasil tinha uma grande identidade com as reivindicações transformistas do Terceiro Mundo. Tudo isso mudou e hoje o pragmatismo impera. Não há um grupo dominante que possa ser identificado por traços ideológicos, políticos ou sequer faciais.

10) No mais, como diria o Guerreirinho, a melhor tradição do Itamaraty e saber renovar-se...Como seria esta renovação?
Uma retórica mais afirmada na defesa dos interesses nacionais, a busca de benefícios econômicos claros nas negociações comerciais, um caráter mais operacional e destacado aplicado à diplomacia econômica e a renovação, com forte ênfase, do compromisso com o Mercosul e o Cone Sul. No resto, tudo segue igual.

PRA, 23/10/2002
SEM CITAÇÃO NOMINAL.

terça-feira, 14 de março de 2017

Dez grandes desafios da política externa brasileira (alternativos) - Paulo Roberto de Almeida


Dez grandes desafios da política externa brasileira
Uma visão alternativa dos problemas diplomáticos atuais, e constantes

Paulo Roberto de Almeida

Existem muitos desafios, claro, mas os meus são mais prosaicos, e nem são, na verdade, atuais, e sim permanentes, recorrentes, até invisíveis, ao que parece. Para ser mais exato, eles são característicos dessa coisa chamada psique nacional, mas que também podem impactar a sua política externa, das formas mais imprevistas. Ressalvo, entretanto: eles têm pouco a ver com o Itamaraty, enquanto burocracia relativamente impenetrável (et pour cause), e tem mais a ver com a sociedade como um todo, ou se quisermos, com o governo e o Estado, em especial. Somos um país construído pela superestrutura patrimonialista de velha extração lusitana, mas os portugueses não têm nenhuma culpa pelo que construímos nos últimos duzentos anos. Esses desafios são, como diria Nelson Rodrigues, coisas nossas…
Aqui vão os meus desafios (ou seriam obsessões?):
1)  Protecionismo: esse é tradicional, velho, anacrônico, mas, por mais que isto seja contraditório ou paradoxal, ele está sempre jovem e saudável, pronto para se exercer a cada viragem da política nacional;
2)  Preferência pela indústria, em detrimento de todos os demais setores, o que é uma inversão dos séculos anteriores, quando a agricultura era gloriosa e a salvação da nação; depois ele virou a danação, uma vergonha nacional, até ser novamente restabelecida para salvar a lavoura, mas continua mal amada;
3)  Substituição de importações: uma decorrência dos anteriores, mas bastante alimentada pela ideologia cepaliana, de muito sucesso no Itamaraty, desde sempre;
4)  Desenvolvimentismo superficial, uma obsessão histórica, geralmente apenas um slogan, que esconde políticas frequentemente anti-desenvolvimentistas; se essa ideologia funcionasse, depois de mais de meio século de aplicação, o Brasil deveria já ter se convertido numa grande potência;
5)  Isolacionismo: os brasileiros, em geral, amam o capital estrangeiro, mas detestam o capitalista estrangeiro; eles querem o capital, mas não os seus donos; eles acham que vão proteger as nossas riquezas proibindo os estrangeiros de comprarem terras e explorá-las honestamente; eles são contra a exportação de 100% da soja…;
6)  Forte teologia estatal, quase fundamentalista: os brasileiros amam o Estado, querem mais Estado, para tudo e qualquer coisa eles pedem mais Estado (coitados); assim é, se me parece: 95% dos meus alunos querem fazer concurso público;
7)  Inflacionismo burocrático, ou seja, aquele que alimenta a si próprio e se transforma num sanguessuga impérvio a todos os remédios: até para combater a corrupção, em lugar de subtrair responsabilidades a cargo do Estado, os brasileiros criam mais uma burocracia para combater os golpes contra a burocracia; isso atinge a política externa também, pois os diplomatas estão sempre querendo reforçar o dinossauro onusiano;
8)  Nacionalismo rastaquera, aquele do último refúgio dos canalhas (que na verdade é mais o patriotismo, mas que é muito parecido), que tem orgulho de preservar os fabulosos recursos nacionais contra a sanha da exploração estrangeira; o pessoal fica orgulhoso ao impedir estrangeiros de explorar os brasileiros;
9)  Solidariedade com os pobres, o que acaba se traduzindo num mínimo denominador comum com base nas políticas mais intervencionistas supostamente em favor da soberania nacional e de outros mitos desenvolvimentistas, ou seja, elas conseguem preservar os pobres na pobreza (como aquele papa peronista);
10)          Conservadorismo imobilista, o que significa preservação de todas as opções, escolhas e iniciativas anteriores, inclusive aquelas mais irracionais e deformadas, legadas pelos companheiros, com todas as consequências nefastas derivadas dessas escolhas mal concebidas, mal implementadas e apenas suportadas; ou seja, falta coragem para ficar sozinho no mundo.

Sei que vou ser criticado pelas minhas alternativas de desafios, mas é porque as pessoas consideram que eu estou falando sério, quando eu estou apenas me divertindo.
Ou tudo isso não seria engraçado, quando adotamos o ponto de vista de princípio de que temos sempre, em qualquer circunstância, a melhor política externa possível no melhor dos mundos que nos é oferecido? Pangloss concordaria…

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 14 de março de 2017.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

O fracasso da politica externa lulopetista - Fabio Zanini (Contexto)

O livro ainda não está disponível, mas já estou encomendando...


EUFORIA E FRACASSO DO BRASIL GRANDE

política externa e multinacionais brasileiras da Era Lula

Autor: Fábio Zanini
São Paulo: Editora Contexto, 2017; R$ 39,00
  • ISBN 978-85-7244-988-5
  • Formato 16 x 23
  • Peso 0.500 kg
  • Acabamento Brochura
  • Páginas 224
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  • Leia um trecho: 
  • http://editoracontexto.com.br/downloads/dl/file/id/1828/euforia_e_fracasso_do_brasil_grande_leia_um_trecho.pdf 
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  • Na era Lula, quase 50 novas embaixadas foram abertas.
    O projeto de poder do presidente no exterior incluiu também empreendedores e aproveitadores na construção civil, no agronegócio e no setor petrolífero. Para tanto, o dinheiro público rolou solto: entre 2003 e 2015, o BNDES liberou US$ 14 bilhões para 575 projetos no exterior, em 11 países da África e América Latina.
    Uma década depois da eleição de Lula, as rachaduras causadas por essa euforia desmedida se tornaram evidentes.
    O financiamento público a obras de infraestrutura no exterior passou a ser investigado por integrar um esquema de tráfico de influência e pagamento de propina. E o Brasil ainda ganhou fama de imperialista. É essa história de euforia e fracasso que o experiente jornalista Fábio Zanini nos conta. 
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  • Video com entrevista do autor: 
  • https://editoracontexto.com.br/euforia-e-fracasso-do-brasil-grande.html?euforia%20e%20fracasso  
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