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segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Propaganda Companheira: como atuam certos companheiros (inclusive diplomatas)

Um colega, cujo nome não preciso levar ao conhecimento público -- mas que vez se expondo ele mesmo, aliás bem antes do exchange abaixo transcrito, por meio da disseminação de propaganda companheira -- efetuou uma postagem no Facebook, como centenas de outras a que assistimos todos os dias, todas as horas, cada minuto, que tinha a ver com um artigo do conhecido jornalista Elio Gaspari, sobre escândalos na era do ancien régime tucanês.
[TUDO O QUE DIGO ESTÁ TRANSCRITO IN FINE]

Esse diplomata -- de quem aliás já resenhei um livro, que integra meu Kindle recém publicado, Polindo a Prata da Casa -- simplesmente transcreveu, como parte da propaganda companheira, esse artigo, cujo teor li, e verifiquei que não havia nada que já não tínhamos lido na imprensa, à época de cada escândalo.
Como a postagem estava aberta a comentários, efetuei um primeiro comentário, que transcrevo aqui:
Passaram-se 12 ANOS, e os companheiros não puderam, não conseguiram ou não quiseram investigar e punir esse prato cheio de falcatruas tucanas? O que é isso? Prevaricação, incompetência ou conivência? Que coisa feia, em qualquer hipótese! Em todo caso, eles continuam chafurdando no passado...

 O diplomata respondeu de forma confusa, evadindo o problema. Voltei a escrever a esse colega:
Seu comentário não toca em NADA do que eu disse. 12 anos se passaram. E????

Veio uma resposta ainda mais vaga, como se pode verificar aqui:
Lembremos que o supremo STF extraditou uma mulher grávida, judia, alemã e comunista para a Alemanha de Hitler. Que o mesmo STF julga com régua distinta petistas e tucanos, ricos e pobres. Há ainda muito o que avançar institucionalmente no País. E partidos fortes, como o PT, fazem parte desse avanço. Só não vê quem não quer. Quem quer o atraso, o retrocesso, a pequenez que o Brasil era anos atrás.

Voltei a insistir no tema que era objeto da sua postagem original:
Vc fez uma postagem com acusacoes de um jornalista. Eu perguntei pq os companheiros não fizeram nada em 12 anos. Eu nao pedi a vc um tratado de sociologia das taras brasileiras. Apenas fiz uma pergunta. Dá para responder, ou comentar? Ou vem mais Faoro por aí?

Vendo que eu não obteria resposta a minha questão, até tentei interromper o exercício:
Nao precisa responder mais. Estou apenas registrando um fato.

E assim continuamos num diálogo de surdos, o que pode ser seguido abaixo, com ele terminando como segue:
Todos vêm que respondi. PS1: os argumentos são meus. PS2: pelo desrespeito e ofensas, apagarei futuras mensagens.

Reparem que eu não o ofendi, apenas coloquei a pergunta lógica que se poderia fazer após a postagem acusatória: os companheiros tiveram 12 anos para desengavetar todas as sujeiras tucanas, e investigar, processar e condenar os tucanos envolvidos. POR QUE NÃO O FIZERAM? Foi por incompetência, conivência ou prevaricação?
Sem resposta...

Minha conclusão:
Não tenho nada contra quem defende seus pontos de vista políticos e suas opções eleitorais. Apenas que, por uma questão de respeito à lógica, às boas normas da convivência e da tolerância cidadã, acredito que pessoas de caráter precisam ser responsáveis, e não deveriam se envolver em certas atividades  suspeitas como podem ser essas propagandas maldosas feitas para denegrir oponentes.
Como o diplomata em questão tem o direito de postar o que postou, e que eu reproduzo inteiramente abaixo, acredito dispor de igual direito para interrogá-lo das razões de por que o caso não foi levado às consequências lógicas, como deixam supor as insinuações.
Quem se envolve ativamente no jogo político, pode esperar ser interrogado sobre suas opiniões e motivações sobre o objeto em pauta.
Trata-se e do livre exercício da cidadania democrática.
Não fiz e não faço propaganda por qualquer candidato.
Mas tenho horror à desonestidade intelectual.
Paulo Roberto de Almeida 
Hartford, 20/10/2014

TRANSCRIÇÃO DO EXCHANGE:
11 hrs ·
Elio Garpari [sic], hoje na FSP 19/10/2014:
...Dilma listou os cinco escândalos tucanos, todos do século passado, impunes até hoje. Vale relembrá-los.
CASO SIVAM
Em 1993 (governo Itamar Franco), escolheu-se a empresa americana Raytheon para montar um sistema de vigilância no espaço aéreo da Amazônia. Coisa de US$ 1,7 bilhão, sem concorrência. Dois anos depois (governo FHC), o "New York Times" publicou que, segundo os serviços de informações americanos, rolaram propinas no negócio. Diretores da Thomson, que perdera a disputa, diziam que a gorjeta ficara em US$ 30 milhões. Tudo poderia ser briga de concorrentes, até que um tucano grampeou um assessor de FHC e flagrou-o dizendo que o projeto precisava de uma "prensa" para andar. Relatando uma conversa com um senador, afirmou que ele sabia "quem levou dinheiro, quanto levou".
O tucano grampeado voou para a Embaixada do Brasil no México, o grampeador migrou para o governo de São Paulo e o ministro da Aeronáutica perdeu o cargo. Só. FHC classificou o noticiário sobre o assunto como "espalhafatoso".
PASTA ROSA
Em agosto de 1995, FHC fechou o banco Econômico. Estava quebrado e pertencia a Ângelo Calmon de Sá, um príncipe da banca e ex-ministro da Indústria e Comércio. Numa salinha do gabinete do doutor, a equipe do Banco Central que assumiu o Econômico encontrou quatro pastas, uma da quais era rosa. Nelas estava a documentação do ervanário que a banca aspergira nas eleições de 1986, 1990 e 1994. Tudo direitinho: 59 nomes de deputados, 15 de senadores e 10 de governadores, com notas fiscais, cópias de cheques e quantias. Serviço de banqueiro meticuloso. Havia um ranking com as cotações dos beneficiados e alguns ganharam breves verbetes. No caso de um deputado, registravam 43 transações, 12 com cheques.
Nos três pleitos, esse pedaço da banca deve ter queimado mais de US$ 10 milhões. A papelada tornara-se uma batata quente nas mãos da cúpula do Banco Central. De novo, foi usada numa briga de tucanos e deu-se um vazamento seletivo. Quando se percebeu que o conjunto da obra escapara ao controle, o assunto começou a ser esquecido. FHC informou que os responsáveis pela exposição pagariam na forma da lei: "Se for cargo de confiança, perdeu o cargo na hora; se for cargo administrativo, será punido administrativamente". Para felicidade da banca, deu em nada.
COMPRA DE VOTOS PARA A REELEIÇÃO DE FHC
Em maio de 1997, os deputados Ronivon Santiago e João Maia revelaram que cada um deles recebera R$ 200 mil para votar a favor da emenda constitucional que criou o instituto da reeleição dos presidentes e governadores. Ronivon e Maia elegiam-se pelo Acre e pertenciam ao PFL, hoje DEM. Foram expulsos do partido e renunciaram aos mandatos. Ronivon voltou à Câmara em 2002. De onde vinha o dinheiro, até hoje não se sabe.
MENSALÃO TUCANO MINEIRO
Em 1998, Eduardo Azeredo perdeu para o ex-presidente Itamar Franco a disputa em que tentava se reeleger governador de Minas Gerais. Quatro anos depois, elegeu-se senador e tornou-se presidente do PSDB. Em 2005, quando já estourara o caso do mensalão petista, o nome de Azeredo caiu na roda das mágicas de Marcos Valério. Quatro anos antes de operar para o comissariado, ele dava contratos firmados com o governo de Azeredo como garantia para empréstimos junto ao banco Rural (o mesmo que seria usado pelos comissários.) O dinheiro ia para candidatos da coligação de Azeredo. O PSDB blindou o senador, abraçou a tese do "caixa dois" e manteve-o na presidência do partido durante três meses.
Quando perdeu a solidariedade de FHC, Azeredo disse que, durante a disputa de 1998, ele "teve comitês bancados pela minha campanha". Em fevereiro passado, o Supremo Tribunal Federal aceitou a denúncia do procurador-geral contra Azeredo e ele renunciou ao mandato de deputado federal (sempre pelo PSDB). Com isso, conseguiu que o processo recomeçasse na primeira instância, em Minas Gerais. Está lá.
COMPRA DE TRENS EM SP
Assim como o caso Sivam, o fio da meada da corrupção para a venda de equipamentos ao governo paulista foi puxado no exterior. O "Wall Street Journal" noticiou em 2008 que a empresa Alstom, francesa, molhara mãos de brasileiros em contratos fechados entre 1995 e 2003. Coisa de US$ 32 milhões, para começar. O Judiciário suíço investigava a Alstom e tinha listas com nomes e endereços de pessoas beneficiadas. Um diretor da filial brasileira foi preso e solto. Outro, na Suíça, também foi preso e colaborou com as autoridades.
Um aspecto interessante desse caso está no fato de que a investigação corria na Suíça, mas andava devagar em São Paulo. Outras maracutaias, envolvendo hierarcas da Indonésia e de Zâmbia, resultaram em punições. Há um ano a empresa alemã Siemens, que participava de consórcios com a Alstom, começou a colaborar com as autoridades brasileiras e expôs o cartel de fornecedores que azeitava contratos com propinas que chegavam a 8,5%.
Em 2008, surgiu o nome de Robson Marinho, chefe da Casa Civil do governo de São Paulo entre 1995 e 2001, nomeado ministro do Tribunal de Contas do Estado. Em março passado, os suíços bloquearam uma conta do doutor num banco local, com saldo de US$ 1,1 milhão. Ele nega ser o dono da arca, pela qual passaram US$ 2,7 milhões. (Marinho tem uma ilha em Paraty.) O Ministério Público de São Paulo já denunciou 30 pessoas e 12 empresas. Como diz a doutora, "todos soltos".
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  • Paulo Roberto de Almeida Passaram-se 12 ANOS, e os companheiros não puderam, não conseguiram ou não quiseram investigar e punir esse prato cheio de falcatruas tucanas? O que é isso? Prevaricação, incompetência ou conivência? Que coisa feia, em qualquer hipótese! Em todo caso, eles continuam chafurdando no passado...
    9 hrs · Like · 2
  • Diplomata: Como disse, a diferença de forças não é pequena. E a "justiça imparcial" tem feito as vezes das elites no Brasil historicamente... "Os Donos do Poder"?! Vergonhosos são os entraves ao avanço democrático no País...
  • Paulo Roberto de Almeida Seu comentário não toca em NADA do que eu disse. 12 anos se passaram. E????
  • Diplomata: Lembremos que o supremo STF extraditou uma mulher grávida, judia, alemã e comunista para a Alemanha de Hitler. Que o mesmo STF julga com régua distinta petistas e tucanos, ricos e pobres. Há ainda muito o que avançar institucionalmente no País. E partidos fortes, como o PT, fazem parte desse avanço. Só não vê quem não quer. Quem quer o atraso, o retrocesso, a pequenez que o Brasil era anos atrás.
  • Diplomata: Aliás, o mesmo judiciário que toma posição conservadora no tema do direito à verdade e à memória, decidindo por interpretação à revelia do sistema internacional dos direitos humanos no caso da
    lei da anistia...
  • Diplomata: Enfim, não se condenam os tucanos não por incompetência, prevaricação ou inépcia do PT nos últimos 12 anos. Mas única e tão somente por uma correlação de forças que conhecemos bem. Claro que opino pessoalmente que valeria os governos desses anos por o dedo na ferida, mas aí seria por fogo no palheiro, dizem os mais pragmáticos...
  • Paulo Roberto de Almeida vc fez uma postagem com acusacoes de um jornalista. Eu perguntei pq os companheiros não fizeram nada em 12 anos. Eu nao pedi a vc um tratado de sociologia das taras brasileiras. Apenas fiz uma pergunta. Dá para responder, ou comentar? Ou vem mais Faoro por aí?
    8 hrs · Like · 1
  • Diplomata: Mas as taras brasileiras fazem parte da realidade, estão aí, e explicam os 12 anos. Não? Abraço saudoso e sempre admirador
  • Diplomata: Aliás, explicam os 514 anos...
  • Paulo Roberto de Almeida Continua tergiversando. Nao precisa responder mais. Estou apenas registrando um fato.
  • Diplomata: Não estou tergiversando. Para mim, é a explicação . A correlação de forçar impôs os fatos, os avanços possíveis e as dificuldades de se ir além, inclusive no combate à corrupção. Aliás, convenhamos, este é um problema lateral, historicamente vêm à tona questões como essas para atacar governos de cunho popular e soberano no Brasil. Abaixo udnismos...
  • Paulo Roberto de Almeida Menas, Murilo, menas, como diria o chefe dos chefes do governo popular e soberano. Vc continua não respondendo à minha questão e agora insisto nela: por que em 12 anos não denunciaram a roubalheira tucana? POR QUE?
  • Diplomata: Já respondi
  • Paulo Roberto de Almeida Still circumventing. Minha pergunta era simples, no macro ou no micro. Os companheiros tiveram 12 anos para soterrar os corruptos tucanos sob uma montanha de acusaçōes, processos, investigações. Por que nao o fizeram? POR QUE?
  • Diplomata: Acho que o Procurador Geral, ou, como se dizia há época, o Engavetador Geral da
    República há época deveria responder à pergunta...
  • Paulo Roberto de Almeida SE HOUVE um engavetador, por que os companheiros nao DESENGAVETARAM?
  • Diplomata: Todos vêm que respondi. PS1: os argumentos são meus. PS2: pelo desrespeito e ofensas, apagarei futuras mensagens.

    So, be it...

    Addendum, 20/10/2014, 12:04hs: 

    Um esclarecimento do principal interessado:  

    Em carta, ex-presidente FHC presta esclarecimentos sobre escândalos em seu governo

    Resposta vem após coluna de Élio Gaspari no jornal Folha de S. Paulo, em que destacou os escândalos do governo do tucano

    SÃO PAULO - Em carta enviada à “Folha de S. Paulo” e divulgada nesta segunda-feira pelo jornal, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso responde a artigo recente do colunista Elio Gaspari em que lembrava de escândalos noticiados durante o governo do tucano.
    Dentre eles, estão o "Caso Sivam", "Pasta Rosa", "Compra de votos para a reeleição do presidente", entre outros. Gaspari aponta que todos os envolvidos estão soltos até hoje.
    FHC contestou na carta, dizendo que a alegada compra de votos para sua reeleição, os acusados não eram do PSDB e que nunca houve acusação formal a “ministro aludido”.
    Já em relação ao "mensalão mineiro", ele disse que, desde o início, defendeu a apuração e julgamento. "Diga-se que, quando surgiu o caso, eu não era mais presidente".
    Sobre o "cartel do PSDB" de São Paulo na compra dos trens ou do metrô, ele afirmou que “provavelmente houve suborno de funcionários desses dois níveis de governo, mas não há acusação a partidos”.
    Confira a carta na íntegra:

    A propósito do esclarecedor artigo de Elio Gaspari "Todos soltos, todos soltos até hoje", que começa a desfazer o slogan de escândalos do PSDB, desejo esclarecer:
    a) Quanto ao caso Sivam, não só que a contratação da Raytheon se deu no governo Itamar, como que ao governo nunca foi atribuído haver participado de malfeitos. A "prensa" para que o processo andasse se referia à aprovação do mesmo pelo Senado, posto que o relator do caso demorava em se pronunciar. Houve inquérito, o servidor mostrou inocência (havia sido afastado das funções por mim) e, posteriormente, foi muito justamente nomeado embaixador na Colômbia pelo presidente Lula.
    b) A "pasta rosa", como dito no artigo, se refere a supostos recursos de campanha destinados, antes de meu governo, a candidatos parlamentares de vários partidos; o inquérito, no caso, competia à Justiça Eleitoral e a legislação nas eleições até 1994 era diferente da atual, não sendo fácil, de serem verdadeiras as suposições, tipificar os atos como crimes eleitorais.
    c) Quanto à alegada compra de votos para a reeleição, além dos acusados não serem do PSDB e terem sido objeto de inquérito no Congresso que os levou à renúncia, quanto à insinuação vaga de que teria havido envolvimento de um ministro no processo de suborno, o ministro aludido foi espontaneamente à Comissão de Justiça da Câmara e rechaçou as aleivosias. Nunca houve acusação formal ao ministro, que eu saiba.
    d) No que se refere ao chamado "mensalão mineiro", ainda "sub judice", minha opinião, independentemente de endossar as acusações, foi, desde o início, de que deveria haver apuração e julgamento. Diga-se que, quando surgiu o caso, eu não era mais presidente.
    e) Por fim, não existe um "cartel do PSDB" de São Paulo na compra dos trens ou do metrô. Segundo o relatório técnico do Cade, há acusação a empresas que formaram cartel para operar tanto em obras federais como estaduais. Provavelmente houve suborno de funcionários desses dois níveis de governo, mas não há acusação a partidos.
    Ficarei grato se esta carta for publicada para assim complementar as informações do jornalista Elio Gaspari.
    Cordialmente,
    Fernando Henrique Cardoso

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Primeira companheira tenta fazer do papa um cabo eleitoral - Editorial Estadao

Seria apenas ridículo, se não fosse triste, ao recepcionar um dirigente estrangeiro, qualquer estrangeiro, mas sendo o papa acaba sendo patético...
Certas coisas os companheiros não percebem.
Alguém aí deve saber a razão...
Paulo Roberto de Almeida

O papa e o palanque de Dilma

Editorial O Estado de S.Paulo, 24 de julho de 2013
Fiel à ideia, por ela mesma proclamada, de que em campanha eleitoral é permitido fazer "o diabo", a presidente Dilma Rousseff transformou seu encontro protocolar com o papa Francisco num ato de palanque. Esse comportamento condiz perfeitamente com um governo fundado em artimanhas marqueteiras e disposto a fazer de tudo para recuperar a popularidade perdida.
Em lugar de dirigir algumas palavras de boas-vindas ao papa e desejar-lhe sucesso na Jornada Mundial da Juventude, Dilma fez um discurso mais longo que o do próprio pontífice, o que já foi, em si, um despropósito. Em seu pronunciamento, a presidente Dilma Rousseff empenhou-se não em recepcionar o papa, mas em explorar a figura do pontífice para fazer o elogio dos governos lulopetistas e reafirmar sua missão quase mística de salvar os miseráveis de todo o mundo.
"O Brasil muito se orgulha de ter alcançado extraordinários resultados nos últimos dez anos na redução da pobreza, na superação da miséria e na garantia da segurança alimentar à nossa população", discursou Dilma, reafirmando o evangelho petista segundo o qual só houve avanços sociais "nos últimos dez anos" e que, antes disso, só havia trevas.
Investida da condição de missionária, Dilma destacou também que seu governo "tem buscado apoiar a disseminação das experiências brasileiras em outros países", como o Bolsa Família, o programa assistencialista que deveria ser apenas temporário, mas que vai se perpetuando graças à incapacidade do governo de criar condições para que seus beneficiários possam dele abrir mão.
Em seguida, a presidente achou adequado convidar Francisco a integrar uma "ampla aliança global de combate à fome e à pobreza, uma aliança de solidariedade, uma aliança de cooperação e humanitarismo", naturalmente liderada pelo messianismo lulista.
A título de dar razão à voz dos jovens que saíram às ruas em protestos, Dilma tornou a dizer que as manifestações foram o efeito da melhoria de vida dos brasileiros, pois "inclusão social provoca cobrança de mais inclusão social, qualidade de vida desperta anseios por mais qualidade de vida". E então a presidente e candidata à reeleição fez escancaradas promessas de campanha: "Para nós, todos os avanços que conquistamos são só um começo. Nossa estratégia de desenvolvimento sempre vai exigir mais, tal como querem todos os brasileiros e todas as brasileiras. Exigem de nós aceleração e aprofundamento das mudanças que iniciamos há dez anos". Só faltou entregar um santinho a Francisco e pedir-lhe voto.
O contraste com o sereno discurso do papa acentuou ainda mais o deslocamento da fala eleitoreira de Dilma. Em seu rápido pronunciamento, Francisco não fez menção aos protestos nas ruas nem a questões políticas, preferindo dirigir-se aos jovens e deixando claro que sua visita tem caráter eminentemente religioso. Ele disse que a juventude é "a janela pela qual o futuro entra no mundo" e cobrou de sua geração que dê aos jovens condições para seu pleno desenvolvimento intelectual, material e moral.
"Não trago nem ouro nem prata", disse Francisco, repetindo fala de São Pedro, o primeiro papa, para enfatizar o despojamento de seu papado e a necessidade de retomar a essência dos valores espirituais. Segundo o Vaticano, essa mensagem norteará os discursos de Francisco sobre temas políticos, nos quais refutará "a opressão de interesses egoístas".
Em outras oportunidades, quando ainda era o cardeal Jorge Mario Bergoglio, o papa já criticou a substituição da política pela mera propaganda. "Endeusamos a estatística e o marketing", disse Bergoglio, no que poderia ser uma descrição dos governos lulopetistas. Para ele, "seria necessário distinguir entre a Política com P maiúsculo e a política com P minúsculo".
Como Francisco deve ter percebido logo em seu primeiro dia no Brasil, é longo o caminho para o resgate da política como atividade nobre, para, em suas palavras, acentuar valores "sem se imiscuir na pequenez da política partidária".

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Interrupcao eleitoral (13): certas coisas sao dificeis de acreditar

A gente, todo mundo, recebe muita porcaria na caixa de entrada. Nem se sabe bem de onde vem. Não adianta, cada vez entra mais spam, mais bobagem que é preciso marcar como junk e deletar.
Foi o que fiz com a mensagem abaixo, inclusive porque me pareceu tão inacreditavelmente forte que imaginei ser falsa, uma conspiração. Cliquei lixo (ou como se diz em Português: Delete).
Depois, fiquei encucado e fui verificar. Primeiro o remetente para ver se era algo existente e parece que é.
Reproduzo aqui:

From: PT 20 Anos
Subject: A igreja é contra o PT, vamos combatê-la
Date: October 19, 2010 11:06:27 PM GMT+08:00
To: Paulo R. Almeida
[deleto para evitar mais spams]
Reply-To: pt20anos@gmail.com

Depois o cabeçalho da mensagem, toda enquadrada em vermelho forte, com os dizeres:

PT + 20 anos no poder Onda Vermelha

Agora o conteúdo, inacreditável, mas real:

A igreja é contra o PT, vamos combatê-la!
O PT não pode se calar diante da onda de calúnias que tem surgido contra a candidatura de Dilma Rousseff nestas eleições.
A direita reacionária usa aquela mesma parcela da Igreja Católica que apoiou o golpe de 64 para espalhar boatos sobre as posições do nosso partido e de nossa candidata. Não iremos nos calar diante de calúnias ditas por padres suspeitos de servir a interesses escusos de nossos adversários.
Precisamos salvar o Brasil do atraso, e fazer a defesa enfática de um Estado laico, que só será possível com a eleição de Dilma Rousseff. A Igreja é que deve se submeter ao Estado, e não o contrário.
Este caminho já foi traçado pelo companheiro Hugo Chávez na Venezuela: depois de sofrer uma campanha sórdida como a que estamos sofrendo agora, decretou a laicidade do Estado, e agora é o governo venezuelano que controla sua própria Igreja. O PT já está processando a Diocese de Guarulhos (SP) por conta da tentativa de interferir no processo eleitoral, mandando imprimir panfletos que denigrem nosso partido e nossa candidata.
Não podemos permitir esse tipo de abuso, e faremos o combate de todas as maneiras possíveis. Precisamos continuar pressionando o comando do partido, dito moderado, para que continue defedendo os valores que historicamente são bandeiras do PT.
Nós acreditamos na liberdade religiosa, desde que a fé não seja usado como instrumento de dominação da vontade do povo por parte do Vaticano, como vemos acontecer desde as Cruzadas. Pesquisem o histórico dos chamados sacerdotes que se opõem ao PT e tentam manipular a opinião pública contra nós. Está claro que D. Paulo já não tem mais a capacidade de liderar sua Igreja, e uma intervenção se mostra cada vez mais necessária.
Temos que agir para que lideranças progressistas, como Leonardo Boff, ganhem espaço na hierarquia católica.Do que a Igreja Católica tem tanto medo? Será da nossa proposta de incluir padres na CPI da Pedofilia?
Repasse esse e-mail para 13 amigos! Vamos à luta http://pt20anos.wordpress.com


Finalmente fecha em tom grandioso:

Vamos à luta! [Punhos cerrados para cima, em negro sobre o fundo vermelho]

Eu fui então verificar o site em questão, pois desconfiava que se tratasse de uma armação dos tucanos, da CIA, dos arapongas do finado regime militar, todos conspirando contra o PT e sua criatura eleitoral, enfim, um verdadeiro complô maquiavélico -- não, deixemos o Maquiavel fora disso, pois acho que ele não seria tão estúpido -- para retirar votos da candidata oficial.
Pois não era: o site existe, nesse mesmo endereço, com banners e logos de apoio à candidata, e tem todas essas mensagens, como direi?, edificantes, inspiradoras, começando por essa ai de cima, já recheada de 78 comentários quando visitei.

Acrescentei mais um comentário, apenas para testar, ainda desconfiado de que poderia ser uma armação direitista, uma conspiração tucana. Se fosse, não daria em nada, seria descontinuado, ou algo assim. Escrevi apenas que achava tudo isso "muito interessante. Altamente revelador do momento que estamos vivendo no Brasil". Clique, pronto, sem moderação, foi ao post. Aliás, a maior parte dos comentários são negativos, pois acredito que mesmo o petista mais obtuso ainda tem uma leve noção do que é razoável e do que não é, em termos de campanha eleitoral.

Termino com o quadro de apoios neste blog do PT + 20 anos no poder. Além dos links com a campanha da candidata, figuram todos os sites e blogs recomendáveis, se ouso dizer. São eles:

Blogroll
* 45 motivos para não votar em Serra
* Amigos da Presidente Dilma
* Amigos do Presidente Lula
* Anais Políticos
* Blog da Dilma
* Blog Dilma
* Blog Zé Dirceu
* Carta Capital
* Carta Maior
* Escrevinhador
* Luis Nassif
* Mulheres com Dilma
* Vermelho.org
* Viomundo


Como diria um escritor surpreendido: não tenho palavras! Sim, não tenho mais nada a dizer.
Acho apenas que o Brasil enlouqueceu. Corrijo: alguns brasileiros enlouqueceram.
Ponto, acho que fico aqui no número 13 desta série...

Paulo Roberto de Almeida
(20.10.2010)