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terça-feira, 30 de julho de 2013

Joaquim Barbosa: "O Itamaraty é uma das instituições maisdiscriminatórias do Brasil."

Trecho de entrevista concedida por Joaquim Barbosa, ministro-presidente do STF, a Miriam Leitão, Globo, 28/07/2013:

O senhor foi discriminado no Itamaraty?
Discriminado eu sempre fui em todos os trabalhos, do momento em que comecei a galgar escalões. Nunca dei bola. Aprendi a conviver com isso e superar. O Itamaraty é uma das instituições mais discriminatórias do Brasil.
O senhor não passou no concurso?
Passei nas provas escritas, fui eliminado numa entrevista, algo que existia para eliminar indesejados. Sim, fui discriminado, mas me prestaram um favor. Todos os diplomatas gostariam de estar na posição que eu estou. Todos.


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Itamaraty rebate Barbosa e cita programa de bolsas que beneficia afrodescendentes

  • ‘Folha de S.Paulo’ e‘O Estado de S.Paulo’ também responderam ao ministro

RIO - O Ministério das Relações Exteriores, procurado pelo GLOBO, disse que não comentaria as declarações do presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa. Em nota, o órgão classificou as acusações de discriminação “a título pessoal”.
Recorda-se, por oportuno, que o Itamaraty mantém programa de ação afirmativa — a Bolsa Prêmio Vocação Para a Diplomacia —, instituída com a finalidade de proporcionar maior igualdade de oportunidades de acesso à carreira de diplomata e de acentuar a diversidade nos quadros da diplomacia brasileira. Lançado em 2002, o programa já concedeu 526 bolsas para 319 bolsistas afrodescendentes. Dezenove ex-bolsistas foram aprovados no “ Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata e integrados ao Serviço Exterior Brasileiro. As bolsas concedidas têm atualmente o valor anual de R$ 25.000,00 e devem ser utilizadas na compra de materiais de estudo e no pagamento de cursos preparatórios. Esse programa tem melhorado, de forma concreta e decisiva, as possibilidades de ingresso na carreira diplomática por candidatos afrodescendentes”, diz a nota do ministério.
"Ademais, desde 2011, o Ministério das Relações Exteriores adotou reserva de 10% das vagas na primeira fase do Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata, com vistas a promover o acesso de candidatos afrodescendentes ao Serviço Exterior Brasileiro”, acrescenta o órgão.
Já a direção do jornal “Folha de S.Paulo”, que para Barbosa atua de maneira intolerante, afirma em nota que “o presidente do STF não desmente nem corrige nenhuma das informações publicadas pela ‘Folha de S.Paulo’, que as reafirma. O ministro Joaquim Barbosa ainda não está acostumado ao cargo, que o expõe ao escrutínio público e reduz sua privacidade.”
Sobre o episódio em que Barbosa sugere a um jornalista de “O Estado de S.Paulo” que chafurdasse no lixo, o jornal, em nota, informou que “a manifestação atual do presidente do STF parece mostrar que seu pedido de desculpas, à época do episódio, foi no mínimo insincero.”
Ainda de acordo com o jornal paulista, “segundo nota oficial emitida pelo Supremo, o ministro Joaquim Barbosa reafirmava “sua crença no importante papel desempenhado pela imprensa em uma democracia” e “seu apego à liberdade de opinião”.


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segunda-feira, 15 de julho de 2013

Cronica do racismo ordinario, por um politico italiano ordinario (sim, ainda existe gente desse tipo)

Apenas reproduzindo, pois dispensa qualquer comentario, à exceção do já feito no título deste post.
Paulo Roberto de Almeida

Roberto Calderoli is condemned after speech in which he also said Cécile Kyenge should work as minister 'in her country'
Lizzy Davies in Rome
The Guardian, Sunday 14 July 2013

The Italian prime minister, Enrico Letta, has condemned as unacceptable comments made by a senior rightwing senator in which he suggested the country's first black government minister had "the features of an orangutan".
Cécile Kyenge, an eye surgeon who was born in the Democratic Republic of the Congo but has Italian citizenship, has faced repeated racial slurs and threats since being appointed minister for integration by Letta in April.
She was once again on the receiving end of grossly offensive comments on Saturday when Roberto Calderoli, a former minister under Silvio Berlusconi and senate vice-president of the Northern League, told a rally in the northern town of Treviglio that Kyenge would be better off working as a minister "in her country".
According to the Corriere della Sera, which reported the event, he added: "I love animals – bears and wolves, as is known – but when I see the pictures of Kyenge I cannot but think of the features of an orangutan, even if I'm not saying she is one."
The remark provoked horror from the rest of the Italian political class, especially in Kyenge's centre-left Democratic party. In a statement, Letta said the remarks were unacceptable. "Full solidarity and support to Cécile," he added.
Asked about the comments, Kyenge said it was not up to her to call on Calderoli to resign, but hoped all politicians would "reflect on their use of communication". "I do not take Calderoli's words as a personal insult but they sadden me because of the image they give of Italy," she told the Ansa news agency.
Ever since she was made minister in Letta's fractious grand coalition government, Kyenge, 48, has been the target of much criticism from the League. Some of it has been directed at her policies, particularly her desire to change a harsh citizenship law to make it easier for Italian-born children of foreigners to gain full nationality before they are 18.
But some of it has been very personal and vitriolic. Mario Borghezio, a member of the European parliament for the League, said in April that Kyenge wanted to "impose her tribal traditions from the Congo" and branded Letta's coalition a "bongo bongo" government. "She seems like a great housekeeper but not a government minister."
In June a local councillor for the League was ejected from the party after she posted a message on Facebook suggesting Kyenge should be raped. Referring to an alleged attempted rape in Genoa, Dolores Valandro wrote: "Why does no one rape her, so she can understand what the victim of this atrocious crime felt?"
Asked on Sunday to explain the latest slur, Calderoli insisted he had been joking. "I was speaking at a rally and I made a joke, an unfortunate one perhaps," he told Ansa. "I did not want to cause offence and if Minister Kyenge has been offended I apologise but my joke came in the context of a much broader political speech that criticised the minister and her politics."
This is not the first time that the 57-year-old has caused controversy. In 2006 he quit the government after going on television in a T-shirt emblazoned with cartoons of the prophet Muhammad – a move credited with inspiring deadly riots outside the Italian consulate in Libya.
Later that year, after Italy's football team beat France in the World Cup, he said the opposing side had been made up of "niggers, Muslims and communists". In 2007, he called for a "Pig Day" protest against the construction of a mosque in Bologna.

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sábado, 27 de abril de 2013

Eis o Racismo que os companheiros querem promover...

New York Times, April 27, 2013
QUOTATION OF THE DAY

"These are people I see in class every day. What's wrong with dancing with me, just because I have more pigment?"

MARESHIA RUCKER, a black senior at Wilcox County High School in Georgia, who was not invited to the school's "white prom."

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

A construcao do Apartheid no Brasil - Percival Puggina

Construção não. Para todos os efeitos já está construído: agora só estão implementando.
A bem da verdade, a construção começou no governo FHC, com as tais políticas de ação afirmativa. Depois, os companheiros simplesmente ampliaram desmesuradamente o alcance, a extensão, o escopo, a intensidade, o volume, a desfaçatez, a cara-de-pau, a vergonha dessa política racista, racialista, declaradamente aparteísta, que constitui um racismo ao inverso, a separação mental da população brasileira entre os negros, ou afrodescendentes, de um lado, e todos os demais, do outro.


PASSA UM BOI, PASSA A BOIADA
Percival Puggina
Zero Hora, 04 de novembro de 2012

            Volto ao assunto porque, malgrado venha suscitando pouco interesse, ele é política e socialmente relevante em todos os seus aspectos. Quando o STF declarou constitucional o sistema de cotas raciais adotado pela UnB, ocorreu algo extraordinário. Ficou óbvio que os ministros queriam aprovar o sistema. A Constituição, não obstante, vedava a discriminação racial. Coube ao relator, Ricardo Lewandowski, esgueirar seu voto favorável às cotas por uma estreita ponte pingente (daquelas que balançam mas não caem). E sobre ela cruzou a insuperável barreira constitucional. Como? Elementar, meu caro Toffoli: as cotas raciais só devem viger enquanto necessárias, doutrinou ele. Ou seja, provisoriamente. Pronto! Passou o boi.

            Naquela ocasião, escrevi um artigo afirmando que, a partir de tão destrambelhada decisão, todo certame intelectual, toda prova de habilitação,  todo exame de ordem, todo concurso para magistratura, que não previsse cotas raciais seria provisoriamente inconstitucional. Com efeito, se a necessidade de discriminar impunha-se sobre o cristalino óbice da Carta, então deveria prevalecer para tudo mais. Não deu outra. Está passando a boiada. Vários concursos já enveredaram por aí. Tenho recebido mensagens de pessoas queixosas com a discriminação sofrida em processos seletivos. Afinal, se haver cursado tal ou qual curso superior era pré-requisito do concurso, que diferença pode haver entre o diploma de um branco e o diploma de um negro? Ambos superaram as barreiras de entrada e saída da Universidade. Por que, então, continuar levando em conta a cor da pele? Considerá-los hipossuficientes, mesmo com diplomas sob o braço, insulta os negros! Isso, para mim, é racismo da pior espécie, ofensivo, aviltante.

            Por trás de tanta falta de juízo há política e ideologia. Há a completa submissão dos prejudicados, incapazes de levantar um dedo e balançá-lo para a esquerda e para a direita dizendo não. Há a multidão dos que creem que nada têm a ver com isso, embora paguem religiosamente todas as contas. E há a demagogia, que é, sempre, um sucesso de público, notadamente quando distribui agrados e favores. Por mais que os fatos se encarreguem de desacreditá-los, sempre surgem novos demagogos e novas formas de sedução para atrair eleitores. Aliás, não nos faltariam estadistas se a mentira e a demagogia não fossem mais sedutoras do que a verdade. Mas, pelo jeito, jamais precisaremos, nas funções de Estado, criar cotas para os menos capazes nem para os menos responsáveis.

            Reconheço que as diferenças reais entre ricos e pobres, sadios e enfermos, jovens e idosos, entre outros, exigem tratamento correspondente de parte do poder público. Mas não vejo sentido em discriminações raciais. Estabelecê-las é de uma gravidade extrema! No meu ponto de vista, os defensores das cotas raciais podem ser classificados em três grupos: a) o grupo dos demagogos que as concedem (PT e partidos de esquerda); b) o grupo dos interessados que delas se beneficiam direta ou potencialmente; c) o grupo dos racistas que não sabem o quanto são racistas. (*)
           
            Fui dar uma olhada no ministério de dona Dilma, que anuncia para dezembro a adoção da política de cotas para os concursos públicos federais. São 25 ministérios de fato, mais nove secretarias e seis órgãos com status de ministério, ligados, também, diretamente à Presidência da República. Total, para fins protocolares: 40 senhores ministros e ministras. Quantos negros? Lamento informar que apenas um. Aliás, uma. Não por acaso, a ministra da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial.

            Não sei por que, após essa constatação, me sobreveio a sensação de que alguém, em algum lugar, estava sendo hipócrita. Se o governo vê com tão bons olhos uma política de cotas raciais, por que não a adota no próprio governo? Uma ministra cotista entre 40 colegas?

* O texto que enviei para a coluna de Zero Hora não inclui este parágrafo por exceder o limite de palavras possibilitado pela diagramação.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Cronicas do racismo ordinario: no STF, no dia da posse de um presidente negro


FSP, 12/10/2012 - 09h58

Leia carta de diplomatas negros barrados no STF


Os diplomatas Carlos Frederico Bastos da Silva, 45, e Fabrício Prado, 31, ambos negros,foram barrados pela segurança do STF (Supremo Tribunal Federal) no dia em que o ministro Joaquim Barbosa foi eleito presidente da corte. Só conseguiram entrar autorizados por um superior.
Desconfiados de racismo, os diplomatas pediram explicações ao secretário de segurança institucional do STF, José Fernando Martinez. Leia, na íntegra, a carta dos diplomatas.

LEIA A CARTA DOS DIPLOMATAS
Brasília, 11 de outubro de 2012

Nós, Carlos Frederico Bastos Peres da Silva e Fabrício Araújo Prado, viemos registrar nossa indignação com o tratamento que recebemos da equipe de segurança do Supremo Tribunal Federal.
O Senhor Carlos Frederico dirigiu-se, por volta das 14 horas do dia 10 de outubro, ao Supremo Tribunal Federal, a fim de assistir à eleição dos novos Presidente e Vice-Presidente da Egrégia Corte. Ao chegar ao Tribunal, passou pelo detector de metais, sem que houvesse nenhuma anormalidade, e seguiu em direção à mesa de identificação e registro do público, a qual dá acesso ao salão plenário. Ao entregar sua identidade funcional de diplomata, foi informado, pela atendente, de que havia um problema no sistema eletrônico de identificação. Ato contínuo, um segurança aproximou-se e reiterou que o sistema de registro havia sofrido pane, razão pela qual não seria possível autorizar a entrada do Senhor Carlos Frederico à plenária.
Causou estranheza que ele tenha sido o único visitante a ser afetado pela pane, uma vez que diversas outras pessoas, brasileiras e estrangeiras, entraram no salão sem empecilho algum.
Diante da demora em ver o problema resolvido, o Senhor Carlos Frederico reiterou a pergunta ao segurança sobre o que estava acontecendo. O segurança repetiu o argumento da pane do sistema e conduziu o Senhor Carlos Frederico até a saída do STF, pedindo que ele aguardasse lá enquanto o problema estava sendo resolvido.
Por volta das 14:10 horas, o Senhor Fabrício Prado chegou ao STF para encontrar-se com o Senhor Carlos Frederico (ambos diplomatas e colegas de trabalho). Ao ver seu colega do lado de fora, o Senhor Fabrício Prado perguntou a um segurança que se encontrava na entrada se haveria algum problema. O mesmo segurança esclareceu que a situação já estaria sendo resolvida e que o Senhor Fabrício Prado poderia passar pelo detector de metais e proceder à identificação. Assim o fez. Ao chegar à mesa de identificação, foi comunicado pela atendente que, também no seu caso, havia um problema no sistema. Logo depois, o Senhor Carlos Frederico foi novamente conduzido por outro segurança (não o senhor Juraci) à mesa de registro e lá se juntou ao Senhor Fabrício, enquanto aguardavam pela solução da "pane". Passado algum tempo, durante o qual outras pessoas se identificaram e entraram no salão plenário, o segurança Juraci fez ligação telefônica e informou que a entrada havia sido autorizada. Questionado sobre a razão do problema, mencionou "razões internas de segurança".
Já dentro da plenária, tivemos a oportunidade de conversar com o chefe da segurança, salvo engano, chamado Cadra. Ele explicou que as restrições à entrada remontavam à nossa primeira visita ao salão plenário ao Supremo Tribunal Federal, no dia 3 de outubro. Não entrou em maiores detalhes, mas disse que teríamos demonstrado comportamento suspeito naquela ocasião. No dia 3 de outubro, chegamos juntos ao STF, de ônibus, e passamos por três controles de segurança do STF, a saber: o externo, localizado na Praça dos Três Poderes (a cerca de 10 a 20 metros de distância do ponto de ônibus); o de metais, na entrada do Palácio do STF; e o interno, na mesa de identificação e registro do público geral. Assistimos a parte da sessão de julgamento da Ação Penal 470 e saímos separados.
Ao final da eleição do dia 10 de outubro, deixamos o STF e retornamos ao Ministério das Relações Exteriores. Inconformados com o tratamento constrangedor e sem entender o fundamento da alegação de "comportamento suspeito", retornamos ao STF, por volta das 16:45 horas, em busca de esclarecimentos. Fomos, então, recebidos pelo Secretário de Segurança Institucional do STF, o senhor José Fernando Nunez Martinez, em seu gabinete. Este último esclareceu que estava ciente de nosso caso desde a primeira visita ao STF, no dia 3 de outubro, ocasião na qual teríamos sido classificados como "dupla de comportamento suspeito".
No dia 3 de outubro, a "suspeição" teria sido registrada em nossos cadastros pessoais do sistema de segurança da Corte, disse o Senhor Martinez. Esclareceu que, ao retirar o Senhor Carlos Frederico das dependências do STF, o Senhor Juraci teria desobedecido a suas ordem diretas, as quais determinariam que ninguém poderia ser retirado daquelas dependências sem aval da chefia de segurança. O Senhor Martinez afirmou, ainda, que o assunto deveria ter sido conduzido de outra maneira. Disse, literalmente, que a equipe de segurança teria visto "fantasmas", os quais teriam crescido ao longo do tempo e provocado o incidente do dia 10 de outubro.
Não satisfeitos com a explicação oferecida pelo Secretário de Segurança, perguntamos qual teria sido o "comportamento suspeito" de nossa parte. Após ressalvar que esse é um julgamento subjetivo dos agentes de segurança e que não teria sido ele próprio a formar esse juízo, enumerou os supostos motivos que lhe foram relatados pela equipe de segurança:
1- Que nós teríamos aparência "muito jovem" para ser diplomatas. Registre-se, aqui, que o Senhor Carlos Frederico tem 45 anos e que o senhor Fabrício Prado tem 31 anos de idade, como atestam as carteiras de identidade emitidas pelo Ministério das Relações Exteriores, apresentadas à mesa de identificação já no dia 3 de outubro
2- Que os seguranças suspeitaram da veracidade dos documentos de identidade apresentados
3- Que, na saída da sessão do dia 3 de outubro, as suspeitas teriam sido reforçadas por termos, supostamente, saído "juntos" do STF, "com o passo acelerado", comportamento interpretado como tentativa de despistar os seguranças que nos seguiam.
Cumpre esclarecer que, no dia 3 de outubro, deixamos o STF em momentos distintos, o que não condiz com o relato que, segundo o Secretário de Segurança, lhe teria sido feito por sua equipe. Além disso, nunca nos demos conta de que estávamos sendo seguidos nem apressamos passo algum. Todas estas revelações nos causaram desconforto ainda maior com relação aos incidentes.
Perguntado se o incidente teria relação com o fato de sermos afrodescendentes, negou veementemente que o comportamento da equipe de segurança tivesse tais motivações. Também pediu desculpas em nome de sua equipe pela sucessão de incidentes.
Diante da gravidade dos fatos relatados, manifestamos nossa indignação com os injustificados constrangimentos aos quais fomos submetidos, a saber: registro no cadastro de entrada como "suspeitos"; remoção temporária do Senhor Carlos Frederico das dependências do STF; obstruções a nossa entrada na plenária; e perseguição por seguranças após nossa saída do STF.
Sentimos-nos discriminados pelo tratamento recebido --e no caso do Senhor Carlos Frederico, profundamente humilhado por ter sido retirado do STF no dia 10 de outubro.
Dada a natureza "kafkiana" dos incidentes, as explicações insuficientes e desprovidas de qualquer lógica razoável prestadas pela Secretaria de Segurança Institucional não nos satisfazem, razão pela qual não nos furtaremos a adotar as medidas cabíveis para fazer valer nossos direitos.
Não poderíamos deixar de expressar nossa tristeza com o fato de termos sido submetidos a tal constrangimento na data da eleição do primeiro negro a assumir a Presidência do Supremo Tribunal Federal, pelo qual temos profundo respeito e admiração.
_Atenciosamente,_
Carlos Frederico Peres Bastos da Silva
Fabrício Araújo Prado

sábado, 28 de abril de 2012

Apartheid racial made in France: Miss Black France

Seria ridículo se não fosse também uma evidência de mais uma deriva do politicamente correto: para integrar, os novos racistas separam...
Parece que se trata de uma enfermidade contagiosa, mas antes de indicar racismo explícito ela indica apenas estupidez...
Paulo Roberto de Almeida 

Miss Black France, un concours de "beautés noires" qui fait polémique

Le Monde.fr |  • Mis à jour le 
"Célébrons la beauté noire !" C'est l'ambition d'un concours de beauté original, organisé samedi 28 avril salle Wagram, à Paris. La particularité de Miss Black France : recruter en fonction de la couleur de peau. Sélectionnées sur casting parmi 1 000 candidatures, dix-huit jeunes femmes noires, de 17 à 28 ans, sont en compétition.
Pour Frédéric Royer, journaliste et organisateur de l'événement, mettre la "beauté black" à l'honneur, n'est en rien une dérive communautariste : "On n'a jamais dit que les candidates blanches étaient exclues. Si une femme blanche se présente l'année prochaine, on ne pourra pas la refuser. On essaye juste de valoriser les belles filles noires car on ne les voit pas assez dans les médias et sur les couvertures des journaux."
DES CONCOURS DE BEAUTÉ NON REPRÉSENTATIFS ?
"Cela fait longtemps que j'ai remarqué que l'élection de Miss en France n'est pas représentative de la population d'aujourd'hui, ajoute Frédéric Royer. Il y a très peu de noires. Et elles viennent souvent des DOM et ne sont presque jamais d'origine africaine." Frédéric Royer ne se présente pas comme un précurseur du genre. Il cite d'autres concours réservés aux femmes noires, comme Miss Black Beauty, Miss Afro Ethnic, Miss Sénégal France.
En décembre, le site Slate avait suivi les sélections du concours. Brenda, jeune candidate de 20 ans, est métisse. Elle expliquait au jury que dans les élections, dites "classiques", la beauté noire n'est pas toujours considérée à sa juste valeur : "J'ai fait Miss Oise, j'étais la seule fille de couleur, je me sentais isolée. Le maquillage n'était pas adapté à ma couleur de peau." Dialika, sénégalaise de 26 ans, en France depuis 2003, reconnaissait que Miss Black France n'est pas qu'un simple concours. "Les filles qui ont le teint foncé et les cheveux naturels ne sont pas mises en valeur, disait-elle. J'espère que ma candidature fera avancer les mentalités. C'est du militantisme esthétique."
Le Conseil représentatif des associations noires (CRAN) soutient l'évènement car"on a pour mission de mettre en avant les populations noires, ce que fait ce concours", explique son président, Louis-Georges Tin. "Il favorise la visibilité dont ces jeunes femmes sont privées en France. Le problème ce n'est pas le communautarisme, mais la discrimination sur les podiums de mode. Et puis, ces concours sont organisés dans d'autres pays, comme en Allemagne, en Espagne et en Angleterre, sans que cela ne pose de problème."
GENEVIÈVE DE FONTENAY, MARRAINE DU CONCOURS
"On a toujours eu des candidates noires, se défend Geneviève de Fontenay, ancienne présidente du comité Miss France et créatrice de Miss Prestige National.Mais c'est normal de ne pas avoir la moitié des candidates qui ne soient pas noires lorsque l'on organise des concours régionaux comme Miss Bretagne, Lorraine ou Alsace, parce qu'elles ne représentent pas la moitié de la population de la région."Depuis la création du concours Miss France, en 1920, cinq femmes noires ont été couronnées : Véronique de la Cruz (1993, Guadeloupe), Sonia Rolland (2000, Bourgogne), Corinne Coman (2003, Guadeloupe), Cindy Fabre (2005, Normandie) et Cholé Mortaud (2009, Midi Albigeois Midi-Pyrénées).
L'experte en Miss n'est pas rancunière. Geneviève de Fontenay a accepté le rôle de marraine du concours : "C'est un aimable concours. Je ne pensais pas que cela allait faire un tel bruit. Ce n'est pas du communautarisme, mais c'est la société qui provoque ce genre d'initiative. Ces jeunes filles veulent montrer qu'elles existent, surtout dans une période électorale où le Front national essaye de dresser les Français les uns contre les autres. Cela ne fait pas de mal à la cohésion de la France."
Si Patrick Lozès, fondateur et ancien président du CRAN ne met pas en doute les intentions louables des organisateurs, il s'élève contre ce concours : "Cette élection est une défaite de nos valeurs, de la lutte contre les discriminations et représente un repli communautaire. On ne rend pas service à ces filles en leur disant qu'elles ne réussiront qu'en empruntant des voix parallèles."
Au-delà du symbole, Patrick Lozès ne pense pas qu'il faille dissocier l'origine ethnique et la nationalité : "Ces jeunes filles doivent se sentir Française, et non noire dans la société française. Et puis, je sais ce qu'est une malienne ou une sénégalaise. Une noire non. C'est un concours qui consacre une apparence en la transformant en une identité associée à une couleur."
"LE MOMENT EST MAL CHOISI"
L'historien Pascal Blanchard, spécialiste des immigrations au CNRS et auteur de La France noirese dit "choqué". Il juge cette initiative "stupide" et "dangereuse" : "Je sais qu'aux Etats-Unis il existe des concours de beauté ethniques. Le fait qu'on les tolère ne change rien à ma pensée. Chaque fois que l'on me parlera, n'importe où dans le monde, d'un concours réservé à une catégorisation raciale, je bondirai !"
Le moment serait mal choisi, dans l'entre-deux-tours de l'élection présidentielle."Cela braque encore plus les Français sur les conséquences de l'immigration,explique Patrick Lozès. Toutes les manifestations qui sont considérées comme étant communautaires donnent du grain à moudre aux populistes." Patrick Lozès ne nie pas qu'il existe des problèmes d'intégration mais "il faut d'abord mieuxaccompagner les jeunes filles qui veulent participer à ces concours et que le concours de Miss France n'oublie personne".
Pour Louis-Georges Tinau contraire, cette date est symbolique : "Avec les scores qu'a fait le Front national au premier tour de la présidentielle, voulez-vous que les noirs se mettent à raser les murs ? Si ce parti devient de plus en plus fort, il faut lecombattre au lieu de s'enterrer."
Malgré cette polémique, l'événement veut rester glamour. Pour départager les candidates, le jury réunira notamment Kareen Guiock, Mokobé ex-113, Vincent MacDoom ou Carine Lima.


quinta-feira, 5 de abril de 2012

O fascismo em construcao no Brasil: mentalidades fascistas

O assunto é tão absurdo, tão monstruoso, tão ridiculamente fascista, que eu me permito colocá-lo aqui uma vez mais, para que leitores sensatos, inteligentes, como os que frequentam estas páginas (ops, estes posts), se dêem conta de como isso representa, além do absurdo de pretenderem revogar a lei da oferta e da procura, além da violência anticonstitucional que significaria obrigar uma artesã, e um comerciante privado, a fixarem preços ao bel prazer de militantes racistas, uma mentalidade finalmente FASCISTA, que é a de pretender obrigar pessoas normais a terem tal tipo de comportamento.
Não sei se vocês se dão conta de como isto representa, sim, um grão de fascismo embutido na mente de pessoas potencialmente totalitárias.
Aqui vai o conjunto da obra:


QUARTA-FEIRA, 4 DE ABRIL DE 2012

Militantes Negros querem revogar a lei da oferta e da procura

Eu às vezes me pergunto se é só estupidez, mesmo, ou se é racismo puro,  entranhado na mente desses militantes da causa negra, que pretendem obrigar comerciantes privados -- não necessariamente formados em altas escolas de comércio ou em cursos de administração, mas que devem ter algum instinto de mercado -- a fixarem preços administrados, segundo sua concepção idiota de valores econômicos, em patamares que eles julgam serem politicamente aceitáveis, mas que não são, provavelmente, economicamente realistas.
Certas pessoas acham que pelo fato de as bonecas "serem praticamente iguais", elas deveriam ter o mesmo preço: elas querem eliminar as preferências dos consumidores e o direito dos comerciantes realizarem um lucro maior sobre a procura dos clientes, o que é humanamente compreensível (menos para certos energúmenos).
Elas querem fazer o MP obrigar os comerciantes a "igualar os preços" das bonecas. 
Mas a minha sugestão é melhor: os comerciantes deveriam cobrar mais caro pelas bonecas negras, pois assim os militantes da causa receberiam a distinção -- embora duvidosa econômicamente -- de terem "suas" bonecas mais "valorizadas".
Não é uma solução perfeita para um problema perfeitamente estúpido?
Em todo caso, creio que o Brasil está se encaminhando para uma dupla trajetória muito triste: crescente estupidez nacional e racismo explícito, ao contrário.
Paulo Roberto de Almeida 

Conselho vai investigar caso de bonecas em feira
O Globo, 3/04/2012

Entidade pode recorrer ao MP se artesã não igualar preços de brancas e negras em Ipanema

RIO - O Conselho Estadual dos Direitos do Negro (Cedine) enviará três representantes à Feira Hippie de Ipanema, no domingo, para checar a diferença de preço entre bonecas de pano negras e brancas. Como noticiou na terça-feira Ancelmo Gois em sua coluna no GLOBO, uma barraca cobra R$ 85 pelas brancas e R$ 65 pelas negras, embora as duas sejam praticamente iguais.

Presidente da entidade, Paulo Roberto dos Santos disse que os conselheiros tentarão conseguir com a dona da barraca uma explicação para a diferença de preços. Se os argumentos não forem convincentes, e se a proprietária se recusar a rever os valores, o conselho poderá encaminhar ao Ministério Público uma denúncia de discriminação:

— Nós resolvemos que, antes de qualquer atitude, vamos lá no domingo ver de perto essa situação, se tem a ver com algum preconceito. E vamos, primeiramente, convencer a pessoa a tratar com isonomia, com igualdade (brancas e negras). Se ela se recusar, vamos fazer uma denúncia formal ao Ministério Público e procurar a Defensoria Pública — disse Paulo.

A decisão de ir à feira foi tomada em reunião do Cedine, à qual estiveram presentes representantes do Conselho de Entidades Negras do Interior do Estado do Rio e da Associação das Comunidades Quilombolas do Estado do Rio.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Militantes Negros querem revogar a lei da oferta e da procura

Eu às vezes me pergunto se é só estupidez, mesmo, ou se é racismo puro,  entranhado na mente desses militantes da causa negra, que pretendem obrigar comerciantes privados -- não necessariamente formados em altas escolas de comércio ou em cursos de administração, mas que devem ter algum instinto de mercado -- a fixarem preços administrados, segundo sua concepção idiota de valores econômicos, em patamares que eles julgam serem politicamente aceitáveis, mas que não são, provavelmente, economicamente realistas.
Certas pessoas acham que pelo fato de as bonecas "serem praticamente iguais", elas deveriam ter o mesmo preço: elas querem eliminar as preferências dos consumidores e o direito dos comerciantes realizarem um lucro maior sobre a procura dos clientes, o que é humanamente compreensível (menos para certos energúmenos).
Elas querem fazer o MP obrigar os comerciantes a "igualar os preços" das bonecas. 
Mas a minha sugestão é melhor: os comerciantes deveriam cobrar mais caro pelas bonecas negras, pois assim os militantes da causa receberiam a distinção -- embora duvidosa econômicamente -- de terem "suas" bonecas mais "valorizadas".
Não é uma solução perfeita para um problema perfeitamente estúpido?
Em todo caso, creio que o Brasil está se encaminhando para uma dupla trajetória muito triste: crescente estupidez nacional e racismo explícito, ao contrário.
Paulo Roberto de Almeida 

Conselho vai investigar caso de bonecas em feira
O Globo, 3/04/2012

Entidade pode recorrer ao MP se artesã não igualar preços de brancas e negras em Ipanema

RIO - O Conselho Estadual dos Direitos do Negro (Cedine) enviará três representantes à Feira Hippie de Ipanema, no domingo, para checar a diferença de preço entre bonecas de pano negras e brancas. Como noticiou na terça-feira Ancelmo Gois em sua coluna no GLOBO, uma barraca cobra R$ 85 pelas brancas e R$ 65 pelas negras, embora as duas sejam praticamente iguais.

Presidente da entidade, Paulo Roberto dos Santos disse que os conselheiros tentarão conseguir com a dona da barraca uma explicação para a diferença de preços. Se os argumentos não forem convincentes, e se a proprietária se recusar a rever os valores, o conselho poderá encaminhar ao Ministério Público uma denúncia de discriminação:

— Nós resolvemos que, antes de qualquer atitude, vamos lá no domingo ver de perto essa situação, se tem a ver com algum preconceito. E vamos, primeiramente, convencer a pessoa a tratar com isonomia, com igualdade (brancas e negras). Se ela se recusar, vamos fazer uma denúncia formal ao Ministério Público e procurar a Defensoria Pública — disse Paulo.

A decisão de ir à feira foi tomada em reunião do Cedine, à qual estiveram presentes representantes do Conselho de Entidades Negras do Interior do Estado do Rio e da Associação das Comunidades Quilombolas do Estado do Rio.

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terça-feira, 27 de março de 2012

O racismo avanca no Brasil: pouco a pouco se instala em todos os lugares

Qualquer que seja a área, atividade, iniciativa, programa, público ou privado, os novos racistas estão sempre querendo proclamar, não a igualdade, como proclamam, mas a desigualdade, o privilégio, a indicação, não o mérito.
Triste país que passa a ser dividido entre negros, ou afrodescendentes, e todos os demais, normais, ou quem sabe até culpados por essa situação?
Paulo Roberto De Almeida 



Senado promove audiência pública por um Ciência sem Fronteiras plural

Sessão debateu a necessidade do governo de promover o acesso igualitário de negros e brancos no ensino superior, a começar adotando um plano de cotas específico para o CsF.
Nesta segunda-feira (26), foi realizada audiência pública no Senado Federal para discutir a inclusão de cotas para negro no Programa Ciência sem Fronteiras (CsF). A sessão conduzida pelo senador Paulo Paim (PT-RS) e promovida pela Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH), debateu a necessidade do governo de promover o acesso igualitário de negros e brancos no ensino superior, a começar adotando um plano de cotas específico para o CsF.

Participaram da audiência o diretor de Engenharias, Ciências Exatas e Humanas e Sociais (DEHS) do CNPq, Guilherme Sales Melo, o presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Jorge Guimarães, o frei David Santos, diretor da Educação Para Afrodescendentes e Carentes (Educafro), o reitor da Faculdade Zumbi dos Palmares, José Vicente, o secretário executivo da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), Mário Lisbôa Theodoro, e o coordenador do Centro de Convivência Negra da Universidade de Brasília (UnB), Ivair Augusto dos Santos.

Durante a plenária Frei David Santos, destacou a importância do Ciência sem Fronteiras para o desenvolvimento do Brasil, mas ressaltou que o País não pode mais aceitar repetir vícios velhos baseados em uma meritocracia injusta e desigual. "A presidente Dilma Rousseff acertou em cheio quando criou o programa, porém devido uma compreensão equivocada de meritocracia continuamos a perpetuar a exclusão racial. Não podemos mais compactuar com vícios velhos e excludentes, não considerando a violenta exclusão que o povo negro sofreu. É preciso conscientizarmos que o País só avançará verdadeiramente quando nossa sociedade for justa e igualitária, e para isso temos um longo caminho a percorrer", declarou.

A inclusão de cotas no CsF foi defendida também pelo secretário executivo da Seppir, órgão vinculado à Presidência da República. Theodoro argumentou que as cotas não prejudicam o caráter meritocrático da seleção de bolsistas, desde que se exijam requisitos mínimos dos candidatos beneficiados. O secretário apresentou ainda um breve e triste panorama da desigualdade que permeia nosso País.

"A população brasileira é 51% constituída por afrodescendentes, porém apenas 20% da população negra tem acesso ao ensino superior. A educação é o aspecto mais importante para acabarmos com a diferença entre negros e brancos no Brasil e se não combatemos e mitigarmos essa diferença iremos reproduzir apenas miséria e injustiça. E isso é inaceitável. Por isso, sem sombra de dúvida, é preciso que o programa Ciência sem Fronteiras esteja em sintonia com as políticas e ações afirmativas adotadas nas instituições de ensino superior e na Lei 12.288/2010 que institui o Estatuto da Igualdade Racial", ressaltou.

Representando o CNPq, Sales Melo disse que a inclusão de cotas no programa é uma questão que pode e deve ser discutida pelo governo. Para ele, há intenção dos setores envolvidos com o programa de bolsas "de trabalhar juntos" com as representações dessa população a fim de minimizar as diferenças que dificultam sua participação no programa.

O diretor pontuou ainda que o CNPq, por meio de diversas ações como - Pibic nas Ações afirmativas; apoio ao Prêmio Igualdade de Gênero em parceria com a Seppir; 30% dos recursos dos editais voltados para as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, entres outras iniciativas - já vem buscando ampliar a participação de grupos sociais em espaços tradicionalmente por eles não ocupados, quer seja em razão de discriminação direta, quer seja por resultado de um processo histórico a ser corrigido.

Já o coordenador do Centro de Convivência Negra da UnB, Ivair dos Santos, apesar de defender as cotas no CsF, alertou para a necessidade de investimentos que vão além das bolsas. Disse que "também é preciso acompanhar e monitorar e, por isso, é preciso investimentos, inclusive porque os estudantes negros são muito pobres e os que chegam à faculdade sofrem com a falta de recursos". Santos sugeriu um encontro com os ministros da Educação, Aloizio Mercadante, e da Ciência, Tecnologia e Inovação, Marco Antonio Raupp, para discutir a questão.

O reitor da Faculdade Zumbi dos Palmares, José Vicente, disse que o programa talvez seja a única possibilidade, de num futuro próximo, capacitar os jovens negros. Na opinião dele, os jovens negros que estão nos programas de cotas das universidades e os que são beneficiados pelo Programa Universidade para todos (Prouni) não podem ficar fora do CsF.

O presidente da Capes, Jorge Guimarães, também se mostrou muito favorável à inclusão de cotas no programa. Ele declarou que, apesar das dificuldades, "há um alento, porque o Ciência Sem Fronteiras não vai parar pelos próximos quatro anos, seja porque o programa tem uma ótima receptividade nacional e mundial, seja porque o orçamento de 2015 será feito pelo atual governo".

Guimarães frisou ainda que todas as ponderações destacadas na audiência serão levadas ao ministro Raupp, para que este, juntamente com a Capes, o CNPq, e o MEC tracem um novo panorama que oportunize aos negros maior inserção na ciência e no desenvolvimento do País.

O programa - O CsF visa a oferecer, até 2015, um total de 100 mil bolsas de estudo no exterior, financiadas pelo governo, para que os melhores talentos entre os estudantes de graduação, pós-graduação e pesquisadores possam realizar estágios nas melhores universidades do mundo, em um ambiente educacional e profissional onde inovação, empreendedorismo e competitividade já são o padrão.

Com este Programa busca-se investir na formação de pessoal altamente qualificado nas competências e habilidades necessárias para o avanço da economia do conhecimento, com foco nos grandes desafios nacionais, em particular nas engenharias e demais áreas tecnológicas. Além disso, o Programa busca atrair pesquisadores do exterior que queiram se fixar no Brasil, bem como criar oportunidade para que pesquisadores de empresas recebam treinamento especializado no exterior.

Desde janeiro deste ano, 1,5 mil estudantes foram contemplados com bolsas de estudo em universidades dos Estados Unidos e do Canadá pelo CsF. Até o final do ano, a expectativa é que esse número chegue a 20 mil.
(Ascom do CNPq)

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

O racismo em construcao: genocidio da juventude negra?; por brancos?


Ou muito me engano, ou a mão que pratica o genocídio contra a juventude negra é branca, o que já denota um viés racial que só poderia advir de pessoas racistas, ou então de gente absolutamente inconsciente, ou de má-fé, quanto às verdadeiras causas desse pretenso genocídio.
Como políticas e atividades desse tipo, o governo e seus militantes da causa negra só podem querer estimular o racismo antibranco.
Revelador, em todo caso.
Paulo Roberto de Almeida 

II Espaço de Diálogo Estratégico da Juventude Negra

II Conferência Nacional de Políticas Públicas para Juventude Convite à participação

Dialogar sobre a conjuntura da juventude negra, a participação e incidência em políticas, ações e programas voltados para a juventude negra, são os eixos principais do II Diálogo Estratégico da Juventude Negra, que será realizado no próximo dia 09 de dezembro em Brasília – DF.

Com o objetivo de articular a juventude sobre as principais agendas de participação política no país, a segunda edição deste evento será celebrada no marco da II Conferência Nacional de Políticas Públicas para Juventude, que acontecerá na cidade de Brasília, no período de 9 a 12 de dezembro, e discutirá três temas principais: Juventude – Democracia, Participação e Desenvolvimento Nacional; Plano Nacional de Juventude: prioridades 2011-2015; e Articulação e Integração das Políticas Públicas de Juventude.
A idéia central do II Diálogo visa proporcionar uma participação qualificada da juventude negra nas proposições e encaminhamentos da Conferência, compartilhando bandeiras de luta, definindo prioridades e estratégias de ação.
O I Diálogo Estratégico aconteceu na cidade de Salvador, Bahia, em ocasião do afroxxi: Encontro Ibero-americano do Ano Internacional dos Afrodescendentes, e possibilitou um espaço de análises sobre as principais questões da juventude negra brasileira, apontando diretrizes para a agenda de participação e incidência nos espaços de tomada de decisão, além de dialogar sobre os temas de combate a violência e fortalecimento das organizações de juventude negra, reunindo organizações de juventude negra das cinco regiões brasileiras. A primeira edição contou com o apoio do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) e da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR).
O Espaço de Diálogo Estratégico da Juventude Negra Brasileira afirma e reconhece a autonomia das organizações juvenis e suas agendas de incidência, com o propósito de promover análises, debates e acordos que favoreçam a intervenção e as conquistas a favor das juventudes, sempre que houver agendas nacionais e internacionais que dialoguem temas étnico-raciais e geracionais realizadas no país.
Convocam a segunda edição do Espaço de Diálogo Estratégico: Articulação Política de Juventudes Negras, Associação da Comunidade Remanescente de Quilombo Morro do Fortunato, Coletivo de Entidades Negras, Coletivo Kilombagem, Instituto Cultural Steve Biko, Instituto Mídia Étnica, Movimento Negro Unificado, Movimento Pela Paz na Periferia-MP3, Negra Sim, Negras Ativas, ONG Criola, Rede Mulheres Negras do Paraná e UJIMA – Trabalho Coletivo e Responsabilidade. Apóia: Fundo de Populações das Nações Unidas (UNFPA, Secretaria Nacional de Juventude e Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Um negro contra cotas, qualquer tipo de cotas: Walter Williams

Eu já tinha lido esta entrevista nas Páginas Amarelas da Veja desde sábado, mas não conseguia postar a matéria pois a Veja aderiu a uma política estúpida de consulta digital que impede cópias, mesmo aos assinantes. O idiota que fez isso precisa voltar atrás...

Mas, passemos ao que interessa. Aproveito o resumo que fez da entrevista o jornalista Reinaldo Azevedo (que trabalha na Veja), para postar aqui o essencial dessa entrevista que se poderia chamar de genial, mas eu apenas chamaria de sensata, com Walter Williams.
Paulo Roberto de Almeida

Um negro contra cotas e contra as leis que proíbem a discriminação! Sua crença: individualismo, escola de qualidade, igualdade perante a lei e liberdade de expressão
Reinaldo Azevedo, 09/03/2011

Walter Williams é negro, tem 74 anos e dá aula de economia na Universidade George Manson, na Virginia. Já foi engraxate e carregador de taco de golfe. Na juventude, chegou a preferir o radical Malcom X ao pacifista Martins Luther King. Williams está convencido: quem vence o racismo é o mercado, não a política de cotas. Num momento em que o assistencialismo, no Brasil, virou uma categoria de pensamento incontrastável e em que se dá a isso o nome de “redistribuição de renda”, vocês precisam ler a entrevista que ele concedeu a André Petry, publicada nas páginas amarelas da VEJA desta semana. Como todos nós, o economista tem as suas convicções, mas, antes de mais nada, tem alguns números um tanto desconcertantes sobre o tal “estado de bem-estar social”.

Williams se considera um libertário e é um crítico ácido da interferência do Estado na vida dos indivíduos. O indivíduo, diga-se, está no centro de suas preocupações. Ah, sim: ele acha que Barack Obama acabará “sendo ruim para os negros”. Por quê? Porque “seu governo, na melhor das hipóteses, será um desastre igual ao de Jimmy Carter”. Abaixo, reproduzo trechos da entrevista, em que se encontram frases como estas:

- AVANÇO DOS NEGROS - “Os negros, em geral, estão muito melhor agora do que há meio século. Mas os negros mais pobres estão pior.”
- ESTADO E FAMÍLIA - “Há anos, os Estados Unidos subsidiam a desintegração familiar”.
- MÃE SOLTEIRA PREMIADA - “Antes, uma menina grávida era uma vergonha para a família. Hoje, o estado de bem-estar social premia esse comportamento. O resultado é que, nos anos da minha adolescência, entre 13% e 15% das crianças negras eram filhas de mãe solteira. Agora, são 70%.”
- SALÁRIO MÍNIMO - “O salário mínimo, que as pessoas consideram uma conquista para os mais desprotegidos, é uma tragédia para os pobres. Deve-se ao salário mínimo o fim de empregos úteis para os pobres.”
- AÇÕES AFIRMATIVAS - “O ritmo do progresso dos negros entre as décadas de 40 e 60 foi maior do que entre as décadas de 60 e 80.”
- COTAS RACIAIS NO BRASIL - “A melhor coisa que os brasileiros poderiam fazer é garantir educação de qualidade. Cotas raciais no Brasil, um país mais miscigenado que os Estados Unidos, são um despropósito.”
- LIVRE MERCADO E DISCRIMINAÇÃO - “A melhor forma de permitir que cada um de nós - negro ou branco, homem ou mulher, brasileiro ou japonês - atinja seu potencial é o livre mercado. O livre mercado é o grande inimigo da discriminação”.
- LIBERDADE DE EXPRESSÃO - “É fácil defendê-la quando as pessoas estão dizendo coisas que julgamos positivas e sensatas, mas nosso compromisso com a liberdade de expressão só é realmente posto à prova quando diante de pessoas que dizem coisas que consideramos absolutamente repulsivas”.
- AFRO-AMERICANOS - “Essa expressão é uma idiotice, a começar pelo fato de que nem todos os africanos são negros. Um egípcio nascido nos Estados Unidos é um ‘afro-americano’?”
- ÁFRICA - “A África é um continente povoado por pessoas diferentes entre si. Os vários povos africanos estão tentando se matar uns aos outros há séculos. Nisso a África é idêntica à Europa, que também é um continente, também é povoada por povos distintos que também vêm tentando se matar uns aos outros há séculos”.

*
Leia mais um pouco da explosiva sensatez de Walter Williams. A íntegra da entrevista está na revista.

(…)
Em que aspectos a vida dos negros hoje é pior [nos Estados Unidos]?
Cresci na periferia pobre de Filadélfia entre os anos 40 e 50. Morávamos num conjunto habitacional popular sem grades nas janelas e dormíamos sossegados, sem barulho de tiros nas ruas. Sempre tive emprego, desde os 10 anos de idade. Engraxei sapatos, carreguei tacos no clube de golfe, trabalhei em restaurantes, entreguei correspondência nos feriados de Natal. As crianças negras de hoje que vivem na periferia de Filadélfia não têm essas oportunidades de emprego. No meu próximo livro, “Raça e Economia”, que sai no fim deste mês, mostro que, em 1948, o desemprego entre adolescentes negros era de 9.4%. Entre os brancos, 10.4%. Os negros eram mais ativos no mercado de trabalho. Hoje, nos bairros pobres de negros, por causa da criminalidade, boa parte das lojas e dos mercados fechou as portas. (…)
Os negros, em geral, estão muito melhor agora do que há meio século. Mas os negros mais pobres estão pior.

O estado de bem-estar social, com toda a variedade de benefícios sociais criados nas últimas décadas, não ajuda a aliviar a situação de pobreza dos negros de hoje?
(…)
Há anos, os Estados Unidos subsidiam a desintegração familiar. Quando uma adolescente pobre fica grávida, ela ganha direito a se inscrever em programas habitacionais para morar de graça, recebe vale-alimentação, vale-transporte e uma série de outros benefícios. Antes, uma menina grávida era uma vergonha para a família. Muitas eram mandadas para o Sul, para viver com parentes. Hoje, o estado de bem-estar social premia esse comportamento. O resultado é que nos anos da minha adolescência entre 13% e 15% das crianças negras eram filhas de mãe solteira. Agora, são 70%. O salário mínimo, que as pessoas consideram uma conquista para os mais desprotegidos, é uma tragédia para os pobres. Deve-se ao salário mínimo o fim de empregos úteis para os pobres. (…)

As ações afirmativas e as cotas raciais não ajudaram a promover os negros americanos?
A primeira vez que se usou a ex-pressão “ação afirmativa” foi durante o governo de Richard Nixon [1969-1974]. Os negros naquele tempo já tinham feito avanços tremendos. Um colega tem um estudo que mostra que o ritmo do progresso dos negros entre as décadas de 40 e 60 foi maior do que entre as décadas de 60 e 80. Não se pode atribuir o sucesso dos negros às ações afirmativas.
(…)
Num país como o Brasil, onde os negros não avançaram tanto quanto nos Estados Unidos, as ações afirmativas não fazem sentido?
A melhor coisa que os brasileiros poderiam fazer é garantir educação de qualidade. Cotas raciais no Brasil, um país mais miscigenado que os Estados Unidos, são um despropósito. Além disso, forçam uma identificação racial que não faz parte da cultura brasileira. Forçar classificações raciais é um mau caminho. A Fundação Ford é a grande promotora de ações afirmativas por partir da premissa errada de que a realidade desfavorável aos negros é fruto da discriminação. Ninguém desconhece que houve discriminação pesada no passado e há ainda, embora tremendamente atenuada. Mas nem tudo é fruto de discriminação. O fato de que apenas 30% das crianças negras moram em casas com um pai e uma mãe é um problema, mas não resulta da discriminação. A diferença de desempenho acadêmico entre negros e brancos é dramática, mas não vem da discriminação. O baixo número de físicos, químicos ou estatísticos negros nos Estados Unidos não resulta da discriminação, mas da má formação acadêmica, que, por sua vez, também não é produto da discriminação racial.

Qual o meio mais eficaz para promover a igualdade racial?
Primeiro, não existe igualdade racial absoluta, nem ela é desejável. Há diferenças entre negros e brancos, homens e mulheres, e isso não é um problema. O desejável é que todos sejamos iguais perante a lei. Somos iguais perante a lei. Mas diferentes na vida. Nos Estados Unidos, os judeus são 39% da população, mas ganham 35% dos prêmios Nobel. Talvez sejam mais inteligentes, talvez sua cultura premie mais a educação, não interessa. A melhor forma de permitir que cada um de nós - negro ou branco, homem ou mulher, brasileiro ou japonês - atinja seu potencial é o livre mercado. O livre mercado é o grande inimigo da discriminação. Mas, para ter um livre mercado que mereça esse nome, é recomendável eliminar toda lei que discrimina ou proíbe discriminar.

O senhor é contra leis que proíbem a discriminação?
Sou um defensor radical da liberdade individual. A discriminação é indesejável nas instituições financiadas pelo dinheiro do contribuinte. A Universidade George Manson tem dinheiro público. Portanto, não pode discriminar. Uma biblioteca pública, que recebe dinheiro dos impostos pagos pelos cidadãos, não pode discriminar. Mas o resto pode. Um clube campestre, uma escola privada, seja o que for, tem o direito de discriminar. Acredito na liberdade de associação radical. As pessoas devem ser livres para se associar como quiserem.

Inclusive para reorganizar a Ku Klux Klan?
Sim, desde que não saiam matando e linchando pessoas, tudo bem. O verdadeiro teste sobre o nosso grau de adesão à idéia da liberdade de associação não se dá quando aceitamos que as pessoas se associem em torno de idéias com as quais concordamos. O teste real se dá quando aceitamos que se associem em torno de ideais que julgamos repugnantes. O mesmo vale para a liberdade de expressão. É fácil defendê-la quando as pessoas estão dizendo coisas que julgamos positivas e sensatas, mas nosso compromisso com a liberdade de expressão só é realmente posto à prova quando diante de pessoas que dizem coisas que consideramos absolutamente repulsivas.

O senhor exige ser chamado de “afro-americano”?
Essa expressão é uma idiotice, a começar pelo fato de que nem todos os africanos são negros. Um egípcio nascido nos Estados Unidos é um “afro-americano”? A África é um continente, povoado por pessoas diferentes entre si. Os vários povos africanos estão tentando se matar uns aos outros há séculos. Nisso a África é idêntica à Europa, que também é um continente, também é povoada por povos distintos que também vêm tentando se matar uns aos outros há séculos.
(…)

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

As diferenças entre Racismo e Escravismo - José Augusto Conceição

Encontrei este texto postado como comentário a um outro texto sobre racismo, no blog da Revista Espaço Acadêmico, com a qual colaboro regularmente.
Encontrei o texto particularmente esclarecedor e por isso o estou transcrevendo aqui, como informação e como formação sobre duas questões igualmente importantes na história e no presente da sociedade brasileira.
Não consegui contactar o autor, para pedir sua autorização, mas admito que ela está dada implicitamente, já que o texto se encontrava num espaço público, ao alcance de qualquer leitor.
Paulo Roberto de Almeida

As diferenças entre Racismo e Escravismo
José Augusto Conceição

O escravismo (moderno) e o racismo nada têm em comum.
As razões porque se adotou o regime de trabalho escravo foram de ordem econômica e, repousaram, basicamente no custo da empresa colonizadora. Assalariar a mão-de-obra a inviabilizaria dado o contingente necessário a sua realização.
Convém lembrar que nas Américas espanhola e portuguesa a primeira opção foi recorrer a mão-de-obra indígena que, já disponível no lugar, poupava o valor da compra, do transporte e da tributação. No entanto, especialmente em razão da tributação, se optou, sobremaneira na América portuguesa, pela importação de mão-de-obra africana.
A questão tributária parece explicar, inclusive, a defesa que fez a Igreja contra a escravidão dos indígenas. Visto que de todo tributo pago à Coroa a Igreja obtinha uma parcela (a redízima). O africano, sendo um “produto” importado era tributado; o ameríndio (já disponível na colônia) não o era.
Não houve, pois, nenhuma razão racial nisto, mesmo porque a ideologia racial ainda não se havia desenvolvido. Até, então, os principais elementos de distinçao se fundavam na religião e no estatudo do sangue.
O racismo se liga à consolidação dos Estados nacionais e à II Revolução Industrial, posto que o primeiro evento consolidou o princípio das nacionalidades (cada povo uma nação, cada nação um território), seguido do princípio da não-intervenção (nos assuntos internos dos Estados estrangeiros). Ao passo que o segundo evento, correspondente ao espraiamento do industralismo para a Europa continental e EUA, impôs a estes povos a necessidade de novos mercados de matérias-prima, mão-de-obra e consumo o que, no limite, obrigava (como continua obrigando) a que um invadisse os domínios do outro, em franca ofensa aos princípios expostos acima.
As teorias do chamado racismo científico serviram de fundamento preciso à intervenção dos “mais capazes” sobre os domínios territoriais e, via de consequência, econômicos, dos “menos capazes”, sob argumentos salvacionistas.
Em países como o Brasil, o racismo científico pavimentou o caminho para a reestruturação da pirâmide social no pós-abolição. Com ele se pode retardar, em coisa de 50 anos, o impacto que a igualdade legal concedida aos ex-escravos teria sobre a estratificação social, mais especificamente sobre a distribuição de benefícios sociais, renda e riqueza.
A questão mais importante para as populações negras na atualidade se situa precisamente neste ponto que trato agora. Já a partir da década de 1920 se vêem sinais de esgotamento das teorias racistas. A publicação de Macunaíma é um exemplo disto. Porém, de 30 em diante este processo ganha vigor, de um lado pelos trabalhos de Gilberto Freyre e seus pares, de outro pela política getulista, notadamente a que se desenvolveu durante os anos do Estado-Novo.
Já em fins da década de 50, especialmente em virtude do desfecho da guerra racial que consumiu o mundo entre 1939 e 1945, o racismo já havia perdido quase que totalmente sua força como demarcador social.
Ocorre que somado os séculos que o escravismo impediu os negros de participar do processo de acumulação primitiva de capitais, com o século que o racismo obstou ao negro o mesmo empreendimento, o tempo de que dispomos para tanto foi muito curto. A bem dizer, se restringe ao período que se inaugura em 1960 e que se estende aos dias de hoje. Isto explica a exclusão social do negro, sua ausência dos postos de comando do setor público e privado, sua recente ascenção à classe média etc.
Com isso, estou a afirmar que não é mais o racismo o que oblitera a mobilidade social ascendente das populações negras. O racismo é, sim, um problema que persiste no âmbito do imaginário social brasileiro exigindo, pois, instrumentos psicossociais para seu enfrentamento. Por exemplo, ações educativas e culturais como a inclusão, no currículo escolar, de conteúdos sobre a história da África e dos negros no Brasil. No entanto, o problema da mobilidade social das populações negras não se vai resolver com medidadas anti-racistas, posto que tal problema já não se relaciona mais com o racismo, desde os fins da década de 50. Tal problema só se resolverá quando completado o processo de acumulação primitiva de capital por parte desta população que por 4 séculos dele ficou excluída.
Sem termos clareza da distinção destes dois problemas que ora enfrentam as populações negras brasileiras, tendemos a propor soluções inócuas. Pior de tudo isso, tem sido acreditar que soluções bem-sucedidas em países estrangeiros serão, igualmente, bem-sucedidas no Brasil. Sem se considerar, por exemplo, que os EUA (de onde vem a idéia de affirmative action [ação efetiva]) teve, até o movimento dos direitos civis, um racismo de natureza institucional (jurídico/legal); enquanto o Brasil, desde sempre tem um racismo de natureza estrutural (psicossocial/cultural).
Por fim, devemos ainda atentar para o dado de que as populações negras já se encontram bastante diversificadas em classes, o que implica em variações expressivas de demandas sociais. Pois que a toda evidência, as demandas dos negros proletários não são as mesmas da classe média negra.

José Augusto Conceição