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terça-feira, 19 de setembro de 2023

A ditadura equivocada na China - Carlos Alberto Sardenberg

A ditadura equivocada na China

Carlos Alberto Sardenberg

O Globo, 16/09/2023


Como não há debate sobre a falência de certas políticas, não há base para a procura das mais corretas

O governo da China enfrenta sérias dificuldades naquilo que parecia ser sua especialidade: botar o país para crescer. Há problemas econômicos específicos — como o endividamento das administrações regionais e o esgotamento de grandes projetos de infraestrutura —, mas a questão básica é mais profunda. Trata-se da perda de eficiência do sistema político, aquele que se poderia chamar de ditadura esclarecida.

Ditadura, pelo óbvio. A sociedade vigiada e controlada pelo Partido Comunista. Na economia, ampla abertura para o investidor privado nacional e estrangeiro. Por trás disso, o comando de uma burocracia formada nas melhores universidades ocidentais e treinada em grandes companhias.

Um pequeno exemplo: a política monetária é aplicada pelo Banco do Povo da China. O povo não manda nada. Mandam economistas que trabalham exatamente como os mais eficientes banqueiros centrais do mundo.

Há uma ideologia por trás disso. Sustenta que a democracia política, estilo ocidental, não funciona e, pior, atrapalha o crescimento econômico. Muito debate, parlamentos atrasando a aplicação dos programas, imprensa incomodando, sociedade reclamando e resistindo a medidas do governo — não há como ter eficiência, diz essa doutrina. Mas, para que isso seja verdade, é preciso admitir que a tecnocracia é eficiente e sabe claramente os interesses atuais e futuros dos cidadãos e do país. Logo, não erra.

Pois o governo do presidente Xi Jinping vem cometendo erros sucessivos. O mais desastroso foi o programa Covid Zero. A ideia era bloquear a transmissão do vírus. Um teste positivo numa fábrica — e se fechava toda a fábrica, trabalhadores e funcionários lá dentro, por quantos dias fosse necessário para testar todo mundo e isolar os doentes. Um caso num bairro, e todos os moradores eram simplesmente trancados em suas casas, com barricadas à frente dos prédios. Se o vírus escapava do bairro mesmo assim, regiões inteiras eram isoladas. Um caso num porto, e se fechavam todas as operações ali.

Sendo essa a política, o governo se descuidou da vacinação — e deu tudo errado. A Covid Zero paralisou seguidamente a economia e não impediu a transmissão. Quando, finalmente, se abandonou a política, a economia estava desorganizada, a sociedade cansada e não vacinada. Depois o governo se equivocou em várias tentativas de recuperação, e o resultado aí está: a China crescendo muito pouco, os ganhos de renda bloqueados.

Como se chegou a esse ponto? Pela natureza do regime. Sem democracia, sem livre debate, os médicos e cientistas que alertavam sobre os erros da Covid Zero eram simplesmente presos ou trancados em casa. Incipientes debates em alguma imprensa regional, reportando reclamações de moradores, foram rapidamente abafados.

O mesmo acontece nas decisões de política econômica. Quando o presidente e a administração central erram, a burocracia mantém esse erro, insiste, até que as próprias instâncias superiores, o presidente e a cúpula do partido percebam a besteira. De novo, como não há debate sobre a falência de certas políticas, não há base para a procura das mais corretas. Erro atrai erro.

E quer saber? É bom que isso esteja acontecendo. O povo chinês paga um preço e também muitos países cujas economias se ligaram mais fortemente à China. Mas era preciso desmistificar o sistema e derrubar a ideia de que a democracia atrapalha. É notável também a perda de prestígio da China como parceiro econômico e geopolítico. Se o governo lá muda suas políticas sem consultar seu próprio povo, por que consultaria outros governos?

Assim é que os países ocidentais no sentido amplo, democráticos e desenvolvidos — incluindo Japão, Austrália e Coreia do Sul —, buscam parceiros confiáveis. Países emergentes democráticos são candidatos. Alguns pularam na frente. O México ultrapassou a China como maior fornecedor dos Estados Unidos. Canadá também. A União Europeia, outro exemplo, procura fontes de energia fora da Rússia.

Enquanto isso, o Brasil de Lula, antiamericano, se alinha com China e Rússia.

quinta-feira, 15 de setembro de 2022

Alemanha caminha para a recessão: começou pela siderurgia (ArcelorMittal), vai se propagar a outros setores

 Alemanha

O caos econômico, provocado pela alta exorbitante da Energia elétrica e do gás, chegou na maior siderúrgica na Europa, que avisou que vai fechar as portas. 

Em comunicado aos investidores a ArcelorMittal, disse que está fechando uma siderúrgica na Espanha e paralisando outras duas empresas na Alemanha, nas cidades Bremen e outra em Hamburgo. A medida vai colapsar o preço do aço na Alemanha e causar uma destruição da cadeia produtiva. Em nota a empresa disse que o alto preço do gás e da energia elétrica foi o motivo, pois o "aumento exorbitante dos preços da energia", que está afetando devastadoramente a "competitividade da produção de aço". A empresa deve começar as demissões no final de setembro. 

Abaixo o comunicado da empresa:

https://germany.arcelormittal.com/icc/arcelor/broker.jsp?uMen=7a770135-5051-5e71-9945-be470aa06ac3&uCon=b611ba70-782e-2810-a61e-481f0ad3a7b3&uTem=aaaaaaaa-aaaa-aaaa-aaaa-000000000042

Estamos prestes a enfrentar uma situação preocupante no fornecimento do aço mundial. A Europa está hoje sofrendo enormes problemas  devido a decisões estratégicas tomadas em sua matriz energética. Isto está tendo um impacto severo no custo da energia, que em alguns lugares já subiu mais que 1300%.

A consequência para o mercado do aço é o fechamento e desligamento de usinas e fábricas como jamais visto antes .

São no total 14 desligamentos e fechamentos de usinas por toda a Europa, incluindo 7 da ArcelorMittal.

O resultado lógico será um sobrecarregamento dos demais produtores e um potencial aumento nos preços do aço.

Nossa avaliação é que não se trata de uma situação de fácil solução para o curto e médio prazo, afinal é um problema de direcionamento de matriz energética na Europa.

Recomendamos aos amigos que façam uma análise profunda e considerem todos os fatores macro, para as decisões nos meses que virão. E desejamos à todos que tomem decisões sábias e acertivas para os seus negócios para enfrentar os próximos meses.


How Bad Will the German Recession Be? - Der Spiegel

A Alemanha, a maior economia da Europa, pode entrar em recessão, em função da guerra na Ucrânia e seu impacto nos preços e no fornecimento de insumos para sua indústria.

Der Spiegel, Hamburgo – 14.9.2022

How Bad Will the German Recession Be?

The first German companies have begun throwing in the towel and consumption is collapsing in response to the fallout from exploding energy prices. The economy is sliding almost uncontrolled into a crisis that could permanently weaken the country.

Michael Brächer, Matthias Kaufmann, Florian Diekmann, Simon Hage, Martin Hesse, Isabell Hülsen, Henning Jauernig, Kristina Gnirke, Simon Book, Gerald Traufetter and Cornelia Schmergal

 

To get a better idea of what lies ahead for the German economy, you can go out and talk to executives in the automotive industry and scholars of the economy; you can study inflation data and share prices. But it's probably also enough just to take a look at an indispensable, everyday product: toilet paper.

In the early days of the coronavirus pandemic, the product served as a gauge of the level of Germans' anxiety. The steeper the rate of infection, the emptier the shelves. Manufacturers of the hygiene product were even among the beneficiaries of the pandemic. Now, worries are once again growing across the country about potential shortages of toilet paper, only this time for completely different reasons. Hakle, a household brand name in Germany founded almost 100 years ago, last week filed for bankruptcy in self-administration.

The medium-sized paper manufacturer is one of the first victims of the crisis that is eating through the entire country. You need energy to turn wood into toilet paper – quite a lot of it. Hakle uses 60,000 megawatt hours of natural gas and 40,000 megawatt hours of electricity annually at its Düsseldorf plant alone. And the company can no longer afford it. Skyrocketing energy and raw material prices combined to push Hakle over the edge.

And they're not alone. Bad news from companies all over the country is piling up.

Company CEOs and union leaders are now speaking openly about their fears. "The worst is yet to come," says CEO Klaus-Dieter Maubach of the German natural gas import giant Uniper, referring to energy prices. And Yasmin Fahimi, head of the powerful DGB union, warned in an interview with DER SPIEGEL that if the government doesn't take swift countermeasures, there is a risk of domino effect that could lead to the de-industrialization of Germany. "That would be a disaster."

The question is no longer whether the crisis will come. The question is how bad it will be and how long it will last.

This tragedy has five acts, and it begins with the energy price shock. Its first victims have been manufacturers that are highly dependent on electricity and gas: paper manufacturers, fertilizer producers, steelmakers. They pass on the price increases – the second act – to other sectors, from industrial companies to small and medium-sized enterprises. For many companies, it is now a matter of sheer survival: More than 90 percent of companies see the increased prices for energy and raw materials as a strong or even existential challenge, according to a recent survey conducted by the Federation of German Industries (BDI).

Companies usually have no choice but to pass on the price increases to consumers, who are already having to save money to cover their skyrocketing electricity and gas bills. And that raises the curtain on the third act, the one with the makings of an economic disaster: Consumer sentiment is worse than it has ever been in postwar German history.

Vacation? A dinner out? New furniture? "These are purchases that millions of people in Germany will now postpone," warns economic researcher Sebastian Dullien, director of the trade union-affiliated Macroeconomic Policy Institute (IMK). Skyrocketing energy prices, he says, are a "gigantic macroeconomic shock." Some households don't know how they are going to pay the next heating bill, the economist warns. If the heater even works at all – a certainty is beginning to waiver in the face of looming shortages .

Consumption goes down, the first companies throw in the towel and, at some point, unemployment rises. Welcome to acts four and five of the economic drama. There is a word for this horror scenario that awakens age-old fears: recession. And it looks like the country will soon be right in the middle of one.

In the second quarter of 2022, the German economy grew by a paltry 0.1 percent. Economic researchers and policymakers alike are convinced that the next quarterly numbers will be negative. The question is whether politicians will manage to mitigate the consequences – or if there is a threat of an economic crisis that may last for several years with "losses of prosperity on a previously unimaginable scale," as Peter Adrian, the president of the Association of German Chambers of Commerce and Industry (DIHK) put it. In other words, a crisis that could eat away at the country's substance, undermining social security funds and the state's ability to act. It could also lead to the permanent disappearance of many companies. A crisis that would make Germans poorer.

These days, it's difficult to tell where to draw the line between pessimism and justified panic. What is certain is that Putin's economic war is hitting Germany where it hurts most: a gas price that has already more than quadrupled is crushing competitiveness, across pretty much all industries.

The current gas crisis has all the "ingredients for this to be the energy industry's Lehman Brothers," Finnish Economic Affairs Minister Mike Lintilä said recently. Back in 2008, investment banks triggered a global financial and economic crisis by selling toxic home mortgages tied up in wild securities constructs. This time, it is high gas and electricity prices that could trigger a systemic collapse.

 

Act One: Freezing Production

 

Alexander Becker is desperate. "We really don't know what to do anymore," says the CEO of the Georgsmarienhütte Group (GMH). "We're in a state of shock."

The company is one of Germany's larger steel producers. With 21 facilities, 6,000 employees, its own foundries and forgers – and a power requirement of 1 terawatt hour of electricity a year. That's more than the electricity consumption of 300,000 single-family homes.

Last year, the company paid 120 million euros for electricity and gas. If prices remain at current levels, costs will rocket to 1.2 billion euros next year. At worst, a loss of 1 billion euros would be incurred in the coming year. "We would be bankrupt immediately," Becker says.

To avoid that, GMH would have to raise its steel prices by 50 percent. "Customers won't go along with that," Becker says. Even the 20 percent boost in prices that have already been applied can't be implemented at two locations because customers have long since started buying their steel from China and India, where energy costs have so far risen only moderately, if at all. Becker has even instructed his own forges, which normally process domestic steel, to buy cheaper in Asia, a move that is particularly painful for him. "If policymakers don't take action quickly, Germany's energy-intensive industrial companies won't survive," Becker warns.

 

Para acessar a íntegra:

https://www.spiegel.de/international/business/energy-crisis-fallout-how-bad-will-the-german-recession-be-a-9e1f479e-5fef-4e62-b5ca-2f9e87b9bbca

sexta-feira, 5 de agosto de 2022

O debate sobre se os EUA estão, ou não, em recessão: a opinião (fundada em números) de Robert Barro

Yes, The U.S. Economy Is Likely In Recession

Robert J. Barro

 Financial Advisor, Shrewsbury, NJ  – 2/08/2022


The latest figures from the Bureau of Economic Analysis (BEA) show that the U.S. economy has experienced two consecutive quarters of negative real (inflation-adjusted) GDP growth. That accords with a popular definition of a recession. But economists have noted that any official declaration of a U.S. recession must come instead from the National Bureau of Economic Research (NBER), which carefully assesses various monthly macro economic indicators observed over extended periods.

 

Given the intensity of this debate in the media, one might think that the popular and official assessments often contradict each other. But that is not the case. Since 1948, and prior to the current episode, BEA data on real GDP reveal ten periods with two or more consecutive quarters of negative growth—in 1949, 1954, 1958, 1970, 1975, 1980, 1982, 1991, 2009, and 2020—all of which correspond to the NBER’s eventual declaration of a recession.

 

 In other words, the “two-consecutive-quarters” metric has had no false positives since 1948. If one takes the eventual NBER verdict as truth, one must also accept that two consecutive quarters of negative real GDP growth have consistently forecasted a recession for the past 74 years.

To be sure, there have been a couple of cases since 1948 in which the NBER has declared a recession without an associated two-quarter fall in real GDP: namely, the mild recessions of 1960-61 and 2001. These were false negatives, where the absence of two consecutive quarters of declining GDP did not guarantee the absence of a recession. But, of course, this consideration is not pertinent for 2022.

 

Going back to before 1948, there was a false positive in 1947, when consecutive quarters of GDP decline did not result in the NBER declaring a recession. But in this case, the NBER presumably (and reasonably) was accounting for the fact that the GDP reduction in 1946-47 was driven by the demobilization from World War II. It recognized that with the release of economic resources due to decreased military spending, the economy was operating well despite a fall in real GDP. In any case, this consideration also does not apply in 2022.

 

The NBER’s business-cycle analysis goes beyond real GDP to consider monthly data on personal income, employment, consumer expenditure, wholesale and retail sales, and industrial production. But while the benefits of considering monthly data are clear, it is not obvious that this array of variables is otherwise superior to GDP, which is already a broad economic measure that weights sectors in accordance with their contributions to production and income generation.

 

Now calculations consider a wide array of high-frequency data, but only to the extent that they help forecast (or “nowcast”) real GDP. A good research strategy for business cycles, then, is to focus on the size and duration of movements in real GDP itself, as the economist James D. Hamilton does in his Econbrowser Recession Indicator Index. In any event, the inferences about recessions from GDP data are similar to those presented by the NBER.

 

One argument that has come up in the current debate is that the US GDP numbers for the first two quarters of 2022 may eventually be revised up to the point that they will no longer show two consecutive declines. (My calculations above are based on the latest available revised data on real GDP.) Such revisions are possible, of course; but they are unpredictable.

 

Out of all the GDP data revisions since 1965 (available from the Federal Reserve Bank of Philadelphia), the only time that one of the 10 aforementioned cases of two-quarter GDP declines was changed was in 1980. Because the initial data for the third quarter of 1980 did not show a GDP fall, this case would not be classed as a two-quarter GDP decline based on the initial data. But this modification would not alter the takeaway from seeing a two-quarter fall in GDP.

 

Another argument, offered by U.S. Secretary of the Treasury Janet Yellen, is that the strong U.S. labor market precludes the NBER from designating the current downturn as a recession. But while it is true that employment is one of the data series that the NBER consults, there is no reason to think that this variable—even if it remains strong—will single-handedly determine the ultimate call of a recession. Although employment usually falls during a recession, there have been several cases when payroll employment grew or remained roughly stable well after the start of an NBER-designated recession: from December 2007 to March 2008; January to April 1980; November 1973 to October 1974; and December 1969 to April 1970.

One clear advantage of the two-consecutive-quarter measure is that it is timely and does not require waiting for the NBER’s announcement that a recession has begun. Since the formation of the NBER’s Business Cycle Dating Committee in 1978, the lag between the start of a recession (as gauged eventually by the NBER) and the announcement of the start of a downturn averaged seven months. This delay might be appealing to U.S. President Joe Biden’s administration if it goes beyond the midterm elections in November, but it is otherwise unattractive.

 

The bottom line is that, with the announcement on July 28 of a two-quarter GDP decline, we can be highly confident that the U.S. economy entered a recession early in 2022.

 

Robert J. Barro, professor of economics at Harvard University, is a visiting scholar at the American Enterprise Institute. 

 

sábado, 30 de abril de 2022

Latin America Faces Unusually High Risks - Santiago Acosta-Ormaechea, Ilan Goldfajn and Jorge Roldos (IMF)

 IMF 

Latin America Faces Unusually High Risks

April 26, 2022

By Santiago Acosta-OrmaecheaIlan Goldfajn and Jorge Roldos


The War in Ukraine, higher inflation, tighter financial conditions, economic decelerations of key trading partners, and social discontent may dim growth prospects.

The war in Ukraine is shaking the global economy and raising uncertainty about the outlook for Latin America and the Caribbean.

The impact is being felt in Latin America through higher inflation that is affecting real incomes, especially of the most vulnerable. Policymakers are reacting to this challenge by tightening monetary policy and implementing measures to soften the blow on the most vulnerable and contain the risks of social unrest.

But there are other risks looming. A possible escalation of the war could eventually lead to global financial distress and tighter financial conditions for the region.

In addition, the ongoing tightening of monetary policy in the United States, as the Federal Reserve takes a more hawkish stance, could eventually affect global financial conditions.

Higher global and domestic financing costs can accelerate capital outflows and represent a challenge for the region, given large public and external financing needs in some countries and the limited resources to finance investment in the region.

Any greater growth deceleration in China, because of the pandemic or other reasons, could also have an impact on key export prices and trade in the region. All these risks cloud growth prospects for Latin America and require policy action.

Latin America’s rebound poised to slow

Even before the war, the region’s recovery from the growth-sapping pandemic was losing momentum. After a sharp rebound last year, growth is returning to its pre-pandemic trend rate as policies shift, slowing to 2.5 percent for 2022. Exports and investment are resuming their role as main growth drivers, but central banks have had to tighten monetary policy to combat an increase in inflation.

We forecast Brazil’s expansion will slow to 0.8 percent this year following last year’s growth of 4.6 percent. Mexico will decelerate to 2 percent. Colombia will likely post a lower deceleration with growth at 5.8 percent. Growth in Chile and Peru will be 1.5 percent and 3 percent, respectively, pointing to very significant reductions relative to their prior year’s double-digit rates.

Responding to higher food and energy prices 

Poverty and inequality remain key concerns as well given that the increase in inflation has an uneven impact on the population. The most vulnerable groups in the region are being hit hard by the increase in basic food and energy prices, while still struggling to recover from the economic impact of the pandemic.

Indeed, since the war began, several countries in the region have acted to contain the effects of rising prices on vulnerable groups—ranging from tax and import tariff reductions to price caps or social transfers.

Close to 40 percent of countries have introduced new measures, mostly on the tax side, with an estimated average fiscal cost equal to 0.3 percent of gross domestic product for this year.

To ensure social cohesion and reduce the risk of social unrest, governments should provide targeted and temporary support to low-income and vulnerable households, while allowing domestic prices to adjust to international prices. This would help vulnerable groups and contain fiscal costs, while also incentivizing production and restraining consumption. In countries with well-developed social safety nets, access could be expanded to temporarily cover larger groups of the population.

Where safety nets are not well developed, governments can implement temporary mechanisms to smooth the pass-through of international price surges to domestic prices. Although this strategy would protect households from the volatility of commodity prices, it may also have a significant fiscal cost while distorting price incentives for consumers and producers.

Countries benefiting from improvements in their terms of trade—a measure of prices for a country’s exports relative to its imports—may find it easier to finance these new measures. However, any additional fiscal space should be used wisely given the unusually high risks surrounding the global recovery and the evolution of commodity prices, as well as the increasing costs for government financing.

Inclusive consolidation is needed

With public debt-to-GDP ratios above pre-pandemic levels and borrowing costs rising amid higher local and global interest rates, countries will need to ensure the sustainability of public finances to help preserve credibility and rebuild fiscal space. However, it will be equally important to implement measures that protect the most vulnerable.

This will require a strategy that focuses on inclusive consolidation. Spending on social programs, health, education, and public investment should be protected, while implementing tax reforms (such as strengthening personal income taxes) that will bolster growth in an inclusive manner and help countries maintain fiscal sustainability.

domingo, 19 de dezembro de 2021

PIB e PIB per capita do Brasil, de 2008 a 2020; tendência histórica ao declínio

 O desastre econômico do PIB per capita dos brasileiros na última década (perdida): não sei se os petistas e bolsonaristas gostariam de comentar algo...




quarta-feira, 14 de abril de 2021

Vida e morte - Ana Carla Abrão (OESP)

Vida e morte

Ana Carla Abrão
O Estado de S. Paulo, 13 de abril de 2021


O Brasil é Severino. Severino de Maria, do finado Zacarias. A obra-prima de João Cabral de Melo Neto nunca foi tão nossa, tão real, tão ampla como em 2021. Como o retirante de Morte e Vida Severina, que vai da Serra da Costela ao Recife no extraordinário poema regionalista publicado em 1955, hoje vivemos a vida que não se vive, mas que se defende.

A realidade se estampa nos números da nossa tragédia social, a começar pela triste marca de mais de 350 mil mortos por covid-19. Na mesma esteira, seguem-se outros tristes números. O PIB per capita (que funciona como um indicador de riqueza da população) encolheu em média 0,6% ao ano na última década, segundo o Ibre/FGV.

Quando comparado ao PIB per capita dos Estados Unidos, voltamos ao início dos anos 2000, com nosso PIB per capita equivalendo de volta ao mesmo Å do norteamericano de então. Ou seja, em termos absolutos e relativos, ficamos mais pobres.

Também corremos o risco de sermos menos pessoas ativas economicamente no futuro. Não só porque se morre muito hoje, mas também porque o desalento leva a menos nascimentos. Isso significa um risco de termos menor capacidade de produzir riqueza e de financiar aqueles que não são produtivos â crianças e aposentados â lá na frente. Não só o País já perdeu a oportunidade de se beneficiar do bônus demográfico, que reduziu a razão de dependência entre os segmentos economicamente dependentes e o segmento classificado como produtivo a 44% (44 brasileiros com menos de 15 e mais de 64 anos dependentes de 100 pessoas em idade de trabalhar), como podemos vir a ter uma aceleração adicional dessa razão. Pela primeira vez na nossa história, conforme noticiado pelo Estadão no último domingo, algumas regiões do Brasil registraram mais mortes do que nascimentos. Os dados se referem aos primeiros dias de abril e, embora preliminares e explicados pelo elevado número de mortes, expõem a inversão de uma relação que mostrava nascimentos superando em mais que o dobro os óbitos. A depender dessa tendência, da sua intensidade e duração, o desafio da produtividade â já tão grande â será ainda maior no futuro.

Nessa esteira de números de tristeza e de piora nas perspectivas futuras, a educação surge como mais uma grande tragédia. O impacto da pandemia sobre a aprendizagem e sobre o aumento na evasão escolar pode significar o comprometimento de uma geração de crianças e jovens. Esse, sim, é o mais grave dos tristes legados, pois significa enraizar ainda mais a pobreza e a desigualdade que já tanto castigam. Os dados do IBGE mostravam um retrato ruim em 2019. Ali, mais da metade dos adultos brasileiros não havia concluído o ensino médio, segundo a Pnad Contínua, divulgada em meados do ano passado.

Dentre os nossos 50 milhões de jovens entre 14 e 29 anos, 10 milhões abandonaram ou nunca frequentaram a escola. Desses, 71,7% são pretos ou pardos.

Com a pandemia e a assimetria dos seus impactos por renda, gênero e raça, não haverá o que se comemorar nesse campo nos próximos anos. Ao contrário, contrata-se assim a manutenção da pobreza, além de subemprego, criminalidade e aumento da desigualdade social.

Outros números se juntam para compor esse triste mosaico. Desemprego elevado â em particular, mais grave entre mulheres, pretos e pardos ; aumento na concentração de renda (acentuada pela discrepância na trajetória de salários nos setores público e privado) e nos níveis de pobreza; agravamento da situação fiscal dos Estados e municípios e o consequente enfraquecimento da sua capacidade de provisão de serviços públicos de qualidade. Dentre outros que se misturam com a agenda populista e fisiológica que há muito nos tomou de assalto.

Mas não quero aqui deprimir ainda mais meu leitor. Afinal, a esperança, última a morrer e única ainda viva quando até o otimismo já se foi, vem em outra esteira. Paralela à esteira da morte, ela surge em reação à atual distopia e celebra a vida. É o Mestre Carpina de João Cabral, que responde a esse Brasil retirante ser o espetáculo da vida a melhor resposta para a morte.

Ao mesmo tempo que o Brasil sucumbe, abre-se na urgência o espaço para uma agenda que, ainda franzina, deverá fazer convergir ao centro uma alternativa que trará de volta o País dos brasileiros. Essa agenda deverá colocar a justiça social e a redução das desigualdades no topo das suas prioridades, e buscá-las por meio de políticas públicas que carregarão não a marca da ideologia, mas, sim, a da ciência e a do rigor. Isso, sim, é convergência. Isso, sim, será recolocar o Brasil nos trilhos. Afinal, somos todos, como em Morte e Vida Severina, irmãos das almas num País que hoje chora suas mortes. Mas que tem tanta vida que faz valer a pena buscar uma saída.

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ECONOMISTA E SÓCIA DA CONSULTORIA OLIVER WYMAN. O ARTIGO REFLETE EXCLUSIVAMENTE A OPINIÃO DA COLUNISTA

sábado, 13 de março de 2021

A nova década perdida brasileira e o resto do mundo – resultados per capita - Claudio Considera, Juliana Trece (IBRE)

 A nova década perdida brasileira e o resto do mundo – resultados per capita

 
 
IBRE-FGV-RJ, 12/03/2021

 

 

 

O Brasil passou por uma profunda recessão entre 2014 e 2016, o que, de acordo com o Codace, mostrou-se o período com o pior biênio de crescimento econômico dos últimos 120 anos. Após a recessão, a recuperação nos três anos posteriores se arrastou com resultados medíocres. Adicionalmente, ocorreram outros choques negativos nesses anos, tais como a greve dos caminhoneiros em 2018, o desastre de Brumadinho, a crise argentina e a incerteza internacional, com a guerra comercial entre EUA e China, em 2019,[1] que tiraram alguns pontos percentuais do crescimento brasileiro. E, em 2020, veio a pandemia da Covid-19, paralisando a economia brasileira e mundial. O resultado final desse conjunto de desastres foi para o Brasil, mais uma década perdida na economia

Ao se olhar para o crescimento do PIB per capita, o Brasil apresentou o pior desempenho dos últimos 120 anos, “empatando” com os anos 80, conhecidos como década perdida, com um recuo médio de 0,6% do PIB per capita, por ano (Gráfico 1).[2]

Numa comparação internacional, ao se olhar para as taxas de crescimento do PIB per capita (em moeda local),[3]82% (156, numa amostra de 191) dos países do mundo apresentaram um desempenho melhor do que o Brasil na década passada (2011-20).

O Gráfico 2 mostra as taxas médias reais de crescimento do PIB per capitaentre os anos de 2011 e 2020[4] para um conjunto de 13 países, que correspondem a 60,0% do PIB mundial.[5] A amostra contém os países do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), países da América Latina que geralmente são comparados com o Brasil (Chile, Colômbia, México e Peru) e quatro países desenvolvidos selecionados (EUA, Reino Unido, Japão e Alemanha). O Brasil foi o “segundo pior país”, à frente apenas da África do Sul. No extremo oposto, de melhores desempenhos, estão China e Índia com as taxas de crescimento mais robustas.

Em resumo, na década 2011-20, o PIB per capita brasileiro recuou, em média, 0,6% ao ano, mesma queda dos anos 80, conhecidos como década perdida. O Brasil ficou atrás de 82% dos países do mundo no crescimento da renda per capita nesse período. É preciso vacinar logo a maior parte da população, para acabar a pandemia, e a economia poder voltar a normalidade, dando continuidade a agenda de reformas. Ou seja, é preciso a diminuição das incertezas políticas, econômicas e sanitárias para o Brasil poder voltar a crescer e não ter mais uma década perdida.

ANEXO

Neste anexo os países são agregados em três grupos (Mundo, Economias Emergentes e América Latina e Caribe) e comparados com o Brasil. Nota-se, no Gráfico A-1 abaixo, que o PIB per capita (US$, PPP) das economias emergentes cresceu, por ano, 2,5% na década 2011-20. O PIB da América Latina recuou 0,6% por ano, em média, resultado bastante influenciado pelo peso médio do PIB do Brasil no PIB da AL que foi de 1/3 na década passada, portanto com bastante impacto no agregado latino-americano. Em US$, PPP, o recuo médio do PIB per capita brasileiro foi de 0,2% ao ano, um pouco menor do que a queda em R$ que foi de -0,6%. É possível, então, calcular um “PIB per capita mundial”, ponderado pelo peso das economias emergentes e avançadas, chegando-se no resultado de um crescimento médio anual para o Mundo de 0,4% na década 2011-20.


As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva dos autores, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.

[1] Segundo estimativas do Banco Central, os três eventos tiraram 0,67 p.p. do PIB de 2019. Ou seja, ao invés da taxa de crescimento do PIB ser de 1,1%, seria de 1,8%.

[2] De acordo com o IBGE, o PIB do Brasil recuou, em termos reais, 4,1% em 2020, e -4,8% para o PIB per capita.

[3] Nível do PIB per capita = nível do PIB, em preços constantes e moeda local, dividido pela população.

[4] Para 2020, o dado do Brasil é o efetivo, divulgado pelo IBGE. Para os demais países, projeções do FMI de outubro de 2020.

[5] PIB em US$, PPP.


quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

Nota sobre as crises econômicas que atingem o Brasil - Paulo Roberto de Almeida

 Um comentário rápido sobre as crises econômicas que atingem o Brasil 

Paulo Roberto de Almeida


A atual, da Covid-19, não pode entrar em linha de conta, pois atinge a todos os países indistintamente, com maior ou menor acuidade dependendo da gestão feita sobre os efeitos da pandemia pelos seus dirigentes. Já sabemos que os dois negacionistas maiores provocaram os MAIORES números de mortos, independentemente da maior ou menor recessão ou desemprego, que possuem outras variáveis. Estou falando do número de VIDAS PERDIDAS, grande parte podendo ser atribuídas ao comportamento IRRESPONSÁVEL dos dois dirigentes mentecaptos, Trump e Bolsonaro.

Mas 2020 é um ano perdido para o mundo inteiro, e isso ficará na História.

Com relação ao Brasil, cabe relembrar que, de 2016 a 2019, já vínhamos de uma lenta e difícil recuperação de uma trajetória de gastos públicos em aumento desde 2005, quando Dona Dilma assumiu a Casa Civil e que não era sustentável mesmo que o lulopetismo continuasse por mais dois governos, sem impeachment em 2016.

A expansão de gastos públicos era generalizada em todos os setores, era insustentável, como foi, e que terminou provocando a Grande Destruição de 2015-16, a maior recessão econômica de toda a nossa história, inteiramente “made in Brazil”, que se deve em sua maior parte a causas fiscais e que não tem nada a ver com qualquer crise externa (como alegado pela inepta dirigente e seus petistas amestrados) e que continua a ser a maior de toda a nossa história mesmo em face da pandemia, que é totalmente exógena.

Mesmo que não houvesse a pandemia, o Brasil continuaria numa trajetória de lenta e medíocre recuperação, que faria com que em 2022, o ano do bicentenário da Independência, nós estaríamos exibindo uma renda per capita menor que DEZ ANOS antes, e com uma previsão de retomada dos superávits primários (para pagar unicamente os juros da dívida pública) apenas no final da década e o prosseguimento de taxas medíocres de crescimento econômico até a década de 2030 em adiante. 

Isso sem falar da mediocridade dos ganhos de produtividade, pela ausência completa de melhorias significativas na educação.

Ou seja, não estou sendo pessimista, ou minimizando a pandemia. Estou sendo realista: nossa situação é muito PIOR do que o que é normalmente falado.

Desculpem por estragar a quarta-feira, 9/12/2020.

Paulo Roberto de Almeida

quinta-feira, 19 de novembro de 2020

Economia brasileira: desenvolvimento histórico e perspectivas futuras - Paulo Roberto de Almeida

Meu trabalho mais recente, para fins de aula na Faculdade e debate em Grupo de Pesquisas Brasil Global: 

3794. “Economia brasileira: desenvolvimento histórico e perspectivas futuras”, Brasília, 19 novembro 2020, 19 p. Síntese histórica, analítica e prospectiva sobre a economia brasileira, com breve exercício de planejamento estratégico, com base nos trabalhos 3381 e 3662, e atualizações pertinentes. Distribuído aos alunos do Grupo de Pesquisas Brasil Global, como última preleção e debate. Disponível na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/44537361/3794_Economia_brasileira_desenvolvimento_historico_e_perspectivas_futuras_2020_)


Economia brasileira: desenvolvimento histórico e perspectivas futuras

  

Paulo Roberto de Almeida

Professor de Economia Política no Centro Universitário de Brasília.

(www.pralmeida.orghttp://diplomatizzando.blogspot.com)

  

Sumário: 

1. A economia brasileira em perspectiva histórica

2. Características atuais e desenvolvimentos futuros

3. Desafios da economia brasileira: equilíbrio fiscal, investimentos, produtividade

4. Dúvidas e questionamentos sobre o futuro: o que falta ao Brasil?

4.1. Estabilidade macroeconômica (políticas macro e setoriais)

4.2. Competição microeconômica (fim de monopólios e carteis)

4.3. Boa governança (reforma das instituições nos três poderes)

4.4. Alta qualidade do capital humano (revolução educacional)

4.5. Abertura ampla a comércio e investimentos internacionais

 

Resumo: Síntese do desenvolvimento histórico da economia brasileira, com ênfase na trajetória recente, marcada pelo declínio das taxas de crescimento e uma incapacidade multifatorial de retomada de um nível sustentado de crescimento, com a preservação de indicadores notoriamente negativos de desenvolvimento social. Identificação dos principais desafios a essa retomada, nos planos fiscal, produtividade e de investimentos, com exposição sumária dos elementos mais relevantes para a reforma da governança econômica no país, em cinco grandes áreas de reformas estruturais: macro e microeconomia, governança política e jurídica, recursos humanos e abertura externa.

Palavras chave: Economia brasileira; elementos do atraso; obstáculos às reformas; objetivos de reformas estruturais.

 


1. A economia brasileira em perspectiva histórica

A economia brasileira tem uma longa trajetória de desenvolvimento desde a incorporação de toda a costa atlântica do continente sul-americano às possessões coloniais portuguesas no início do século XVI. Portugal, a despeito de seu tamanho diminuto e de um relativo atraso econômico, comparativamente a outros Estados nacionais em formação na Europa ocidental do começo da era moderna, chegou a possuir um enorme império marítimo nos quatro séculos seguintes, no qual a colônia brasileira ocupava, certamente, uma posição de destaque, chegando a representar, na época da mineração de ouro e diamantes – séculos XVII e XVIII –, praticamente dois terços dos haveres no Tesouro real português. No início limitada à exploração de “pau-brasil”, extraído das florestas atlânticas, a colônia logo desenvolve uma pujante economia do açúcar, que ainda hoje, mais de cinco séculos depois, ainda ocupa parte relevante no grande e estratégico agronegócio brasileiro. Esse ciclo, limitado à costa atlântica do Nordeste, abastecido pela produção de carne do interior, se prolongaria em outros ciclos oportunamente surgidos nas demais regiões da colônia portuguesa.

Durante quatro séculos essa economia se desenvolve em torno de poucos produtos básicos de exportação, à base da mobilização de mão-de-obra escrava – o componente africano na população brasileira é extremamente relevante –, que foram sucessivamente assumindo papel de destaque nos chamados “ciclos de produtos”: junto com a cana de açúcar, o algodão, os metais preciosos (hoje representados apenas pelo minério de ferro, extremamente abundante no planalto central), o gado (para o abastecimento interno da população, atualmente um dos principais componentes das exportações), o cacau, a borracha amazônica, mas sobretudo o café, que durante dois séculos foi central na economia brasileira, desde a formação do Estado independente até praticamente os anos 1960, tendo justamente servido para financiar a industrialização. Desde os anos 1970, a soja foi ocupando papel central na produção agrícola, chegando a representar, a partir do século XXI, o principal sustentáculo competitivo do setor, com produtividade comparável aos melhores índices internacionais.

No último meio século o Brasil conheceu um processo intenso e bem sucedido de fortalecimento de sua base industrial, ao mesmo tempo em que a revolução agrícola nas terras centrais sustentou a constituição de uma potente agricultura comercial, cujo principal produto, a soja, rivaliza em vendas no comércio internacional com quaisquer outros grandes concorrentes nas exportações agrícolas. O Brasil é um dos poucos países do mundo perfeitamente habilitados a fornecer alimentos – carnes, grãos, possivelmente lácteos – à ainda crescente população mundial, ao mesmo tempo em que o agronegócio investe pesadamente em energias renováveis com base na biomassa. Junto com as demais energias alternativas – eólica e solar –, o Brasil promete sustentar igualmente a demanda futura nessas duas vertentes do abastecimento estratégico para o mundo do século XXI: a segurança energética e a segurança alimentar. 

As taxas médias de crescimento do PIB ao longo desse período real variaram muito em função da conjuntura econômica, do contexto internacional, mas basicamente em virtude das políticas econômicas implementadas pelos sucessivos governos, que perderam qualidade intrínseca progressivamente. A partir dos anos 1980, o Brasil enveredou por tendências declinantes na taxa de crescimento do PIB, permanecendo abaixo da média mundial e bem abaixo dos emergentes dinâmicos como revelado nos indicadores econômicos de crescimento da tabela abaixo: 

 

Taxas médias de crescimento anual do PIB, 1950-2009

Período

Taxas

Período

Taxas

1950-59

7,1

1980-89

3,0

1960-69

6,1

1990-99

1,7

1970-79

8,9

2000-09

3,3

Fonte: IPEA data, contas nacionais

 

(...)


Ler a íntegra neste link: https://www.academia.edu/44537361/3794_Economia_brasileira_desenvolvimento_historico_e_perspectivas_futuras_2020_ 


domingo, 16 de agosto de 2020

Irresponsabilidade fiscal no governo Bolsonaro - Affonso Celso Pastore

A irresponsabilidade fiscal e o 'efeito Thaler'
Affonso Celso Pastore
O Estado de S. Paulo, 16/08/2020

(O) plano inicial do governo Bolsonaro era sustentado por duas estacas: satisfazer seus eleitores mais fiéis com o discurso típico da direita populista que assumiu o poder em muitos países e, para garantir a sua reeleição, executar algumas reformas que mantivessem, nos últimos anos do primeiro mandato, a inflação baixa e o crescimento econômico elevado. Vem mantendo a primeira estaca, mas além da aprovação da reforma da Previdência a sua equipe econômica nunca foi além de manifestar intenções, algumas boas, e outras péssimas.
Seguíamos este caminho quando chegou a pandemia. Como manter a popularidade diante de uma crise sanitária que acarreta grandes custos econômicos? Governos que dão valor ávida humana optaram por um rígido lockdown seguido de uma testagem com ampla cobertura para abrir controladamente a economia. Buscavam, ao mesmo tempo, poupar vidas e reduzir os danos econômicos. Porém, com pouco apreço à vida humana Bolsonaro optou pela negação do problema sanitário, conspirando contra o afastamento social. A intensidade da negação não derrotou a pandemia, e ele foi forçado a enfrentar consequências fiscais, dentre as quais estava uma ajuda emergencial a dezenas de milhões de brasileiros próximos da linha da pobreza.
Para sua surpresa, o que inicialmente foi percebido como um custo transformou-se em um ganho político. Aajuda emergencial aumentou a sua popularidade, animando-o a iniciar viagens pelo País, dando os primeiros passos na campanha para sua reeleição. Mas o que ocorrerá quando terminarem as transferências?
Uma das contribuições de Richard Thaler, o ganhador do Nobel de Economia em 2017, foi revelar que as pessoas são muito mais afetadas por perdas inesperadas do que por ganhos inesperados. Se ele estiver certo, e não tenho dúvidas de que esteja, quando a ajuda emergencial terminar, a frustração da perda por parte dos beneficiados será maior do que a satisfação decorrente do ganho inesperado, provocando uma queda da popularidade de Bolsonaro que, por sua vez, sentirá um custo dessa perda bem maior do que o benefício do ganho, que já terá ido embora.
Como é tarde para desfazer o erro no combate à pandemia, ele será tentado a: encontrar um substituto da ajuda emergencial que sustente sua popularidade e encontrar razões para flexibilizar o teto de gastos, estimulando o crescimento. Provavelmente proporá um programa de renda mínima, mas não tenho esperanças de que alcançará objetivos socialmente desejáveis como o de eliminar a pobreza extrema, e que ao mesmo tempo seja fiscalmente neutro. Para livrar-se do "efeito Thaler", sustentando sua popularidade junto aos menos favorecidos, precisa de algo próximo à extensão da ajuda emergencial, que seria o "cavalo de Troia" usado para derrotar os argumentos em defesa do teto de gastos. Na sequência viria o que para ele é mais importante: a aprovação de um programa de investimentos em infraestrutura com recursos do governo federal, também fora do teto de gastos.
Os erros cometidos nos últimos anos no campo da infraestrutura nos convenceram que com leilões competitivos e uma regulação eficiente, os investimentos realizados pelo setor privado através de concessões geram retornos sociais muito mais elevados do que os realizados diretamente pelo governo. Se o governo estiver em busca da eficiência, e não de ganhos políticos, poderemos manter o compromisso com o teto de gastos e reduzir os prêmios de risco, preservando a capacidade do mercado de capitais financiar os investimentos a taxas de juros baixas, sem precisar da ajuda do governo.
Porém, o que o Bolsonaro busca não é maximizar os retornos sociais, e sim consolidar alianças que o ajudem atingir seu objetivo: a reeleição. Se, de um lado, terá que enfrentar a resistência à flexibilização do teto de gastos por parte de alguns deputados e senadores, contará com a influência sobre os congressistas exercida por governadores aos quais serão oferecidos alguns dos projetos de infraestrutura com recursos federais, incentivando-os a pressionar em favor de mais gastos.
A sociedade tem que se mobilizar pressionando os congressistas para que se busquem retornos sociais elevados e o respeito ao teto de gastos, caso contrário viveremos uma versão mambembe da malfadada saga de que "gasto é vida".
EX-PRESIDENTE DO BANCO CENTRAL E SÓCIO DA A.C. PASTORE & ASSOCIADOS. ESCREVE QUINZENALMENTE

quarta-feira, 24 de junho de 2020

Mercado estima recuo de 6,5% no PIB este ano; provavelmente será maior (FMI: -9,1%) -


IMF forecasts deeper Latin America recession in 2020

The International Monetary Fund is forecasting a nearly double-digit recession for Latin America and the Caribbean in 2020 – a contraction of 9.4% – as the region is dragged down by its two largest economies, which continue to suffer from the coronavirus


DAVID BILLER and MARK STEVENSON Associated Press
ABC News, June 24, 2020

RIO DE JANEIRO -- The International Monetary Fund is forecasting a nearly double-digit recession for Latin America and the Caribbean in 2020 – a contraction of 9.4% – as the region is dragged down by its two largest economies, which continue to suffer from the coronavirus.
The updated outlook for the region, released Wednesday, is down sharply from the 5.2% recession forecast in April, which already would have been the worst performance since at least 1980, the first year in the IMF’s World Economic Outlook database.
The multilateral lending agency said in its report that in Latin America, “most countries are still struggling to contain infections.”
The new forecast includes a 10.5% dive for Mexico, which has lost about a million jobs during the pandemic.
The country’s industrial activity plunged nearly 30% in April compared to a year earlier amid its lockdown.
Prodded by the United States, Mexico reopened its automotive, mining and construction industries starting in June, but plans for a broader restart of the economy have been delayed due to the continued high rates of new COVID-19 cases.
The IMF predicts a 9.1% plunge for Brazil, which is Latin America’s biggest economy and most populous nation. That would be the deepest single-year tumble since at least 1901, when national accounts data from the government’s economics institute begin. Brazil contracted 2% in 1918, the year of the Spanish flu pandemic, according to the institute.
Brazilian President Jair Bolsonaro has argued that hardship inflicted by shutting down economic activity would ultimately be worse than that caused by the virus, even as the nation’s death toll rose to the second highest in the world. Mayors and governors responsible for when and how to restart their economies mostly ignored Bolsonaro’s desire for a swift reopening. Following extended restrictions, cities and states have begun gradually resuming activity.
In late April, Economy Minister Paulo Guedes was still projecting a V-shaped recovery and said Brazil was “going to surprise the world.”
Brazil’s central bank said in the minutes to its most recent monetary policy meeting, released Tuesday, that data indicate economic activity reached its low point in April. Industrial production that month fell 18.8% from the prior month, including an 80% decline in output of durable goods, according to data published June 3. From January to April, Brazil’s economy shed 763,000 formal jobs, a report by the federal government said May 27.
Economists surveyed by Brazil’s central bank currently forecast a 6.5% contraction this year.
Stevenson reported from Mexico City

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FMI prevê recuo maior: (O Globo, 24/06/2020, 20:00hs)

A economia brasileira vai encolher 9,1% em 2020, prevê o Fundo Monetário Internacional (FMI). Se confirmada, a queda representará o pior resultado desde 1900. Para 2021, no entanto, a projeção é de crescimento de 3,6%, patamar que aumentou desde o último relatório da entidade.

Em foco: 9,7 milhões de trabalhadores brasileiros estavam sem remuneração em maio, segundo o IBGE. O contingente corresponde a 11,7% da população empregada no país. A perda de renda está relacionada à suspensão temporária dos contratos de trabalho, autorizada pelo governo.