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segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

Eleições 2022: Do jeito que as coisas vão… (dando uma de astrólogo) - Paulo Roberto de Almeida

 Do jeito que as coisas vão…

Paulo Roberto de Almeida

Pronto: os milicos já se conformaram. Para não perder nenhuma das vantagens que conseguiram com o imbecil do Bozo, prometeram bater continência para o Lula e ficar caladinhos. Quem é que está faltando se alinhar? O Centrão? Ah, esse é o mais fácil: virá correndo no 2. turno, depois de extrair até o tutano dos ossos do capitão.

Alguém aí acha que o grande capital vai ficar de fora? Esqueçam: vai ter porta-voz da CNI, Febraban, FIESP, CNA e outros sindicatos de ladrões (do povo) receptivos ao máximo, dizendo que Lula sempre os protegeu. E é a pura verdade. Lula ama os capitalistas, sempre amou. De onde mais conseguiria extrair dinheiro?

Fica faltando quem? Os evangélicos? Eles não são bestas de comprar briga com o próximo chefão da Receita Federal e da PF, não é? Vão se enquadrar, tenham certeza disso: a indústria religiosa precisa continuar; acalmam muita gente, nos subúrbios, nas prisões, até na classe média.

Só sobra mesmo uma extrema-direita burra, dentro dela os olavistas, que vão desaparecer aos poucos, acreditem.

É isso aí, gente: melhor se acalmar e assistir ao espetáculo da democracia.

Nem precisaria gastar 5 bilhões em inúteis campanhas eleitorais. Essa é uma tunga de políticos velhacos que o democrata do Lula vai enquadrar dentro do aceitável.

E quando o Lula começar a viajar pelo mundo, como ele gosta de fazer, até aqueles petistas bestas, que hoje fazem aquele ar de nojo, vão bater continência para o Alkmin. Podem crer! Quem é que vai querer perder uma boquinha no grande convescote do Grande Guia?

Já tô achando que o psicopata vai renunciar antes para não ter de passar a faixa para o ex-presidiário. O Mourão saberá fazê-lo com muito mais educação e bonomia.

É isso aí, gente: até janeiro de 2023!

Até lá vou me ocupar de coisas mais interessantes, como terminar um livro ou dois. 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 31/01/2022

terça-feira, 25 de janeiro de 2022

Mini reflexão sobre mais do mesmo - Paulo Roberto de Almeida

 Mini reflexão sobre mais do mesmo

Paulo Roberto de Almeida

O Brasil vai saltando de salvador em salvador, continuando a afundar na mediocridade de esperar que um presidente “dê jeito nas coisas”. Construímos nós mesmos essa gaiola de ferro que não leva a nada, a não ser a novas frustrações. 

Ainda não crescemos o suficiente. Custa pensar?

Por que, como é que toda uma sociedade, que possui gente capaz, pesquisadores e professores que produzem obras magníficas de saber consistente, empresários inteligentes e batalhadores, e até alguns políticos sagazes, como é que tanta gente se deixa aprisionar e levar por um punhado de aproveitadores, mentirosos e incompetentes, que são saudados como “líderes”, dos quais se espera a solução a tantos problemas criados pelos mesmos mentirosos aproveitadores?

A sociedade como um todo, em sua grande maioria formada de cidadãos contribuintes e votantes, se deixa levar por alguns poucos pilantras, que continuam a praticar falcatruas a prazos regulares?

Mais de dez mil anos de “civilização”, religiões salvadoras, maravilhas da modernidade tecnológica, e até economistas competentes, para no final nos deixarmos levar por alguns espertinhos, que possuem a retórica adequada em face das dificuldades da vida e que continuam a apregoar falsas soluções? 

Somos tão crédulos assim, ou apenas passivos e acomodados?

Estamos no limiar de um novo exercício do mesmo gênero, mais um autoengano, que vai beneficiar velhos e novos espertinhos, e deixar a maioria mais ou menos como ela estava antes. 

Até a próxima vez…

É, parece que, finalmente, a humanidade, as sociedades nacionais, os povos constituídos em forma de Estados, nós não avançamos tanto assim: continuamos ingênuos e incapazes de cuidar de nós mesmos, e temos de recorrer a outros para organizar a bagunça. Tem um preço em tudo isso: não avançamos tanto quanto poderíamos: conflitos de opinião continuam possíveis. As paixões e os interesse ainda nos dominam.

Finalmente, não estamos tão longe assim da guerra de Troia. Acho que vou voltar para a minha Ítaca: o caminho será longo, e semeado de escolhos.

Mas há outra via?

Paulo Roberto de Almeida 

Brasília, 25/01/2022


terça-feira, 4 de janeiro de 2022

Daria para acelerar a marcha da história? - Paulo Roberto de Almeida

 Começo o ano de 2022, desejando, na verdade, já estar em 2023. 

Qualquer coisa que aconteça doze meses adiante, qualquer gajo que assuma a presidência, um ano à frente, não conseguirá, mesmo que tente, reproduzir os anos loucos dos novos bárbaros, em especial este último ano do degenerado. Acelera máquina do tempo!

Vamos apressar o término da boçalidade ambiente, da miséria cultural, da estupidez cultuada como governança, da notória incompetência erigida por ineptos como se fosse política de Estado, do retrocesso generalizado como norma, do adesismo oportunista da milicada aproveitadora, da destruição do ensino e da pesquisa e da crueldade evidente no lugar das políticas de saúde pública.

Quero fazer rodar mais rápido o relógio do tempo, para fazer cessar o sofrimento mental de ter uma cavalgadura, cercada por meliantes da política, no comando da nação. Nada é mais humilhante para um diplomata do que ter um sujeitinho tão desprezível conspurcando a imagem do Brasil no plano internacional.

Paulo Roberto de Almeida

3/01/2022


sábado, 11 de maio de 2019

Demetrio Magnoli e nossos militares "gregos" - como Lenin, eles perguntam "O que fazer?"

Demetrio Magnoli parece acreditar que os militares que se encontram atualmente no governo possuem algum acordo consensuado entre eles sobre o que fazer com essa administração maluca na qual se meteram, um pouco por preocupação real com a coisa pública no Brasil – desde muitos anos dominada por uma corja de corruptos oportunistas –, outro tanto por terem entendido, com base em conversas de um período recente, que poderiam convencer (ou até obrigar) o personagem que hoje ocupa a presidência a se comportar de maneira conveniente, de maneira a retirar o Brasil da trajetória desastrosa na qual se meteu (ou na que foi metido) tanto antes, no regime mafioso do lulopetismo, quanto no regime de transição do vice-presidente e, atualmente, no regime confusionista que reina no governo e em torno dele.
Considero que Demetrio Magnoli está equivocadamente otimista quanto à capacidade dos militares graduados em postos chave do governo de entender adequadamente o que se passa, realmente, nas entranhas e nas mentes desse governo dirigido por aloprados fundamentalistas, e de formular estratégias e táticas ajustadas às necessidades do momento e da conjuntura histórica de transformação.
Sempre é interessante, para o público leitor, ler histórias cativantes sobre grandes feitos militares e políticos do passado, como essa "teoria" da "retirada tática" (supostamente para aplicar a "estratégia correta" de ocupação de terreno e de manobra bem-sucedida, permitindo aos "homens bons" alcançar a vitória nessa atmosfera contaminada como parece ser o governo bolsonarista-olavista. Mas, permito-me discordar. Essas analogias não servem para muita coisa; aliás, nenhuma analogia histórica serviu para qualquer coisa, a não ser para encher folhas de papel e depois publicações apreciadas pelo distinto público leitor, feito de acadêmicos com algum sentido e conhecimento da história.
Os militares tinham sim um acordo com o personagem em questão, mas os filhos do capitão não entraram nesse pacto informal, e continuam escapando ao controle dos adultos da sala.
Por outro lado, os militares sabiam o que não queriam – a continuidade do caos anterior, com seu festival de bandalheiras e de corrupção, de estagnação e desprestígio do Brasil, aqui dentro e no exterior – mas não tinham ainda um planejamento adequado sobre o que queriam exatamente, ou não tinham ainda formulado o seu plano de governo pós-vitória eleitoral. Agora fica difícil obrigar todos os personagens a se encaixarem nos seus cenários mais ou menos racionais.
Enquanto não tiverem claro o que desejam, vai ser difícil corrigir o caos do atual governo, supondo que consigam ver claro e que tenham os métodos adequados para enquadrar os guris que estão perturbando o ambiente.
Paulo Roberto de Almeida 
Brasília, 11/05/2019 


Retirada tática
Demétrio Magnoli
Folha de S. Paulo, 11/05/2019

É provável que a 'revolução' bolsonaro-olavista provoque a implosão do governo.

A vitória de Temístocles em Salamina (480 a.C) preservou o mundo grego ameaçado pela Pérsia. O triunfo do macedônio Filipe 2º em Queroneia (338 a.C) unificou as cidades gregas e assentou as bases para a difusão cultural do helenismo. A invasão normanda foi concluída por William, o Conquistador na batalha de Hastings (1066), fonte mítica da moderna Britannia. Segundo uma interpretação exagerada, a civilização ocidental deve sua existência a esse trio de batalhas icônicas. Os generais do alto escalão do governo Bolsonaro certamente as estudaram —e, com elas, aprenderam o valor militar da retirada tática. É hora de aplicar a manobra à política.
O pacto dos generais com o capitão reformado nasceu de um equívoco fatal: os primeiros não entenderam a natureza do segundo. Bolsonaro jamais deixou de ser o fanfarrão estéril, turbulento e indisciplinável, afastado da corporação em 1988. A novidade é que, na curva final rumo ao Planalto, acercou-se de correntes populistas de extrema direita fundamentalmente hostis às mediações institucionais da democracia. Os generais pretendiam participar de um governo "normal", enquadrado na moldura do Estado de Direito. De fato, participam de um governo cujo núcleo almeja subverter o Estado de Direito.
Na rua ao lado, uma faixa da vovó Jurema promete trazer seu amor de volta. A "filosofia política" do Bruxo da Virgínia vale tanto quanto os búzios da vovó —e sua pregação era, até há pouco, um mero golpe de charlatanismo, com implicações exclusivas para seus seguidores ignorantes. Desde a ascensão de Bolsonaro, converteu-se em programa de governo. Os generais começam a entender que o conflito não é com o espalhafatoso bobo da corte, mas com o presidente e seu clã familiar. Falta-lhes, ainda, entender que a conciliação é impossível.
O bolsonaro-olavismo deplorou o "impeachment parlamentar" de Dilma Rousseff. Naquela hora, eles clamavam por uma "intervenção militar" definida não como golpe de Estado clássico mas como uma "marcha sobre Brasília" do povo e dos militares. Hoje, sonham transformar o governo Bolsonaro no ato inaugural de um Estado-movimento: um poder estatal não submetido ao limite das leis e consagrado à luta política permanente. Nessa ordem tresloucada de ideias, a barragem de artilharia virtual sobre o STF, a imprensa e os generais destina-se a preparar a "marcha sobre Brasília" —isto é, a ruptura do Estado de Direito.
Os populismos certamente são capazes de matar as democracias por dentro (Turquia, Hungria, Venezuela). No Brasil, porém, mais provável é que a "revolução" bolsonaro-olavista provoque a implosão do próprio governo Bolsonaro. Se os generais não querem aparecer como cúmplices do desastre, resta-lhes apelar à retirada tática.
Salamina foi uma simulação de retirada, que atraiu os barcos persas ao estreito da armadilha. Em Queroneia, uma breve ofensiva seguida por retirada da ala direita das forças macedônias abriu a cunha fatal entre as falanges gregas. Hastings tem algo de Queroneia, mas é difícil saber se a decisiva retirada temporária das forças normandas foi uma manobra planejada ou o resultado de um insucesso na ofensiva inicial. De qualquer modo, para os generais brasileiros, a solução não requer excessiva inventividade.
O governo Bolsonaro sustenta-se sobre o tripé formado pela equipe econômica, o superministério de Moro e a chamada "ala militar". A remoção do terceiro pilar, pela entrega coletiva dos cargos, destruiria a estabilidade do edifício. A queda encerraria o levante dos extremistas, que confundem os ecos de seus tuítes com a voz do povo. Depois dela, ainda sobraria Mourão --e, portanto, a chance de construção de uma vereda política para o futuro.
Generais, mirem-se em Temístocles, o ateniense, Filipe 2º, o macedônio, e William, o normando. Retirem-se, antes que seja tarde.
*Demétrio Magnoli, sociólogo, autor de “Uma Gota de Sangue: História do Pensamento Racial”. É doutor em geografia humana pela USP.