O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

Mostrando postagens com marcador subintelequituais. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador subintelequituais. Mostrar todas as postagens

sábado, 1 de setembro de 2018

"Intelequituais" criticam Lula no poder (1/05/2003) - Paulo Roberto de Almeida

As contestações feitas ao “neoliberalismo” do PT no poder continuaram durante toda a primeira metade do seu primeiro mandato, e até recrudesceram, com a saída de dissidentes, que depois fundariam o PSoL. No dia 1o. de maio de 2003, data simbólica para os trabalhadores e para o PT, um grupo de “intelectuais” (assim foram autodesignados) divulgou uma carta ao Presidente com fortes críticas à sua política econômica, ao presidente do Banco Central (Henrique Meirelles) e ao próprio ministro da Fazenda, Antonio Palocci, um trotsquista da boa cepa – dizem que os trotsquistas fazem os melhores capitalistas, quando convertidos – e a vários outros aspectos da condução do governo, que eles certamente esperavam “revolucionária”, e que estavam achando reformista, ou burguesa demais. Pela primeira vez explicitamente saí em defesa do presidente, não por ele, claro, mas em defesa da racionalidade da política econômica. Esse texto ficou inédito, ou teve circulação extremamente restrita, o que me leva a divulgá-lo neste momento (trabalho n. 1044).
Paulo Roberto de Almeida 
Brasília, 1 de setembro de 2018

Uma segunda carta de 1º de maio ao Presidente Lula (Comentando algumas idéias expostas na “Carta ao Presidente Lula”)

Washington, 3 de maio de 2003.

Senhor Presidente Luis Inácio Lula da Silva,

            No dia 1º de maio de 2003, um grupo de personalidades, identificadas pela imprensa como sendo “intelectuais”, resolveu ajudá-lo na dura tarefa de governar o Brasil, oferecendo-lhe, sem terem sido solicitados ao que sei, algumas “recomendações” de caráter negativo: não faça isto, não faça aquilo. Nesse manifesto ideológico em forma de carta (transcrita em sua íntegra ao final), o Brasil aparece como imerso nos perigos da globalização e submetido aos ditames do império e das empresas multinacionais, o que suspeito não corresponda à sua própria posição sobre a situação do País. Esses perigos, segundo o texto da carta, seriam representados pelos projetos da Alca e de autonomia do Banco Central, vistos por seus autores como ameaças à soberania do Brasil. 
            Como não estou seguro de que essas “recomendações” estejam de acordo com as suas próprias orientações de governo e como entendo que os autores da carta, ao divulgá-la simultaneamente pela imprensa, estejam na verdade mais interessados em exercer pressão sobre as diretrizes de política econômica e de política externa de seu governo do que em manter um diálogo leal e aberto sobre os problemas nela levantados, resolvi comentar trechos dessa carta com a única intenção de tentar oferecer à opinião pública uma melhor compreensão das implicações dessas questões. Minhas observações tópicas, muitas delas sob a forma de perguntas adicionais, devem ser lidas como uma tentativa de exegese preliminar dessa carta que contém posições e argumentos que reputo confusos e desencontrados. Voltarei a esses temas se assim julgar necessário.
            Transcrevo em primeiro lugar trechos dessa carta-manifesto, agregando logo em seguida meus próprios comentários críticos.


1) “Caro Presidente
Essa carta lhe é endereçada por pessoas que o prezam, admiram sua trajetória política e desejam prestar-lhe toda ajuda, a fim de que o Senhor possa corresponder às enormes esperanças que sua vitória despertou no povo brasileiro.”

Comentário: Explicando as reais intenções dos missivistas: Nós que passamos as últimas décadas tentando explicar o Brasil e o mundo para os nossos alunos, para o público em geral e para o PT em especial, achamos que podemos lhe dar alguns conselhos sobre como melhor governar o Brasil. Não estamos certos de que o governo que diz representar o povo brasileiro tenha bem compreendido a complexidade da tarefa que tem pela frente. Nós estamos aqui para lhe ajudar.
  
2) “Cientes da situação econômico-financeira do país temos uma clara percepção das dificuldades internas e externas que tem levado o governo a editar medidas de restrição de gastos e elevação de juros.” 

Comentário: Traduzindo: Que coisa é essa de continuar praticando a mesma política econômica neoliberal do seu predecessor? Quando, finalmente, começará a ser cumprido a promessa explicitada na “Carta ao Povo Brasileiro” (26.06.02) de que “se vencermos as eleições começaremos a mudar a política econômica desde o primeiro dia”? Somos bastante compreensivos mas não estamos totalmente de acordo com as medidas adotadas.


3) “Sabemos, além disso, que a globalização provocou modificações substantivas na economia mundial e que será muito difícil desenvolver o país sem participar de algum modo da comunidade financeira internacional.”

Comentário: Imaginando o que poderia ser: Teríamos preferido que não existisse esse processo de globalização capitalista, desigual e excludente, e que o Brasil estivesse totalmente livre para determinar o seu destino, mas, já que é assim, façamos que a nossa dependência financeira seja a menor possível.


4) “Contudo, esses constrangimentos não podem significar renúncia à nossa soberania. Duas medidas são particularmente preocupantes em relação a este aspecto: a negociação da ALCA e a pretendida autonomia do Banco Central.”

Comentário: Tentando corrigir o itinerário: Mal suportando essa inserção na globalização, vamos pegar os dois assuntos da atualidade política e apresentá-los como ameaças à soberania do povo brasileiro.


5) “A primeira, como alguns de nós já argumentaram em extensos e repetidos arrazoados, exporá nossos produtores industriais, agrícolas e de serviços a uma concorrência absolutamente desigual, cuja primeira conseqüência será uma desnacionalização ainda maior do nosso parque produtivo. E por sua abrangência que extrapola acordos comerciais, mas envolve a agricultura, investimentos, compras estatais, moeda, serviços, deixa clara a intenção do Governo Estadunidense em recolonizar o continente de acordo com seus interesses apenas.”

Comentário: Um acordo de comércio com intenções políticas: Apesar de nossos extensos e repetidos (talvez enfadonhos?) arrazoados, ainda não conseguimos convencer a todos de que a Alca representará, de fato, o desmantelamento de nossa indústria e a desnacionalização da nossa economia. Mas uma vez que se trata de projeto americano só pode ser malévolo e prejudicial aos nossos interesses enquanto Nação. Muito melhor o acordo com a UE, uma entidade sem malícia, totalmente comprometida com o nosso bem-estar e que propôs um acordo comercial de outro tipo, sem reciprocidade e não-assimétrico, e sem nada daquilo que vem sendo exigido pelos americanos. Como os europeus já nos colonizaram uma vez, eles não podem querer repetir os velhos erros, apenas novos, de resto não intencionais. Mas, quem foi mesmo o idiota que nos disse que a Alca envolve “moeda” entre seus objetivos?


6) “A segunda implica a entrega do controle da nossa moeda aos capitais externos e, portanto, a renúncia ao projeto nacional. Não se pode ocultar que, estando os setores mais dinâmicos da nossa economia em mãos de empresas estrangeiras, a autonomia do Banco Central significa transferir para elas a fixação do valor da nossa moeda.”

Comentário: Tentando entender: O Dr. Meirelles está sabendo que a autonomia da sua “caixa preta” (literalmente) significa entregar o“controle da nossa moeda aos capitais externos”? Ele tem consciência dessas enormes consequências de uma simples medida administrativa? Ele sabe, pelo menos, que a fixação do valor da moeda tem tudo a ver com o caráter mais ou menos (des)nacional da nossa economia? São essas empresas estrangeiras que vão passar a ter assento no Conselho de Política Monetária? E será que elas vão querer valorizar o real, para poder remeter mais dólares para o exterior nos lucros e dividendos, ou será que elas vão preferir desvalorizá-lo para poder assim afastar a concorrência estrangeira e exportar mais para poder ganhar mais dinheiro? 
Meus Deus, que dilema! E logo agora que o mercado vinha se encarregando ele mesmo de determinar a paridade do real, vem essa autonomia estragar tudo, jogando incertezas no que já nos parece muito confuso. Melhor voltar aos manuais de economia para ler um pouco sobre câmbio, sobre a fixação do “valor” da moeda pelo Banco Central e sua relação com a desnacionalização.
E o que seria mesmo esse tal de “projeto nacional” ao qual estaríamos renunciando com a autonomia do BC? Está publicado em algum sitede fácil acesso? Foi elaborado pelo mesmo grupo de “intelectuais”? Como renunciar a algo pouco explícito?


7) “Por estas razões, tomamos a decisão de enviar-lhe esta carta. Em nosso entender, tanto a ALCA quanto a autonomia do Banco Central são questões inegociáveis, posto que implicam na intocabilidade da própria soberania da Nação.” 

Comentário: Um pouco de Português e algo de lógica: se essas questões fosse “negociáveis” elas implicariam ipso factona “tocabilidade” da soberania? O caráter mais ou menos “tocável” da soberania depende de que uma questão seja negociável ou não? Mas, se elas já vem sendo negociadas, isso significa que nossa soberania já foi “tocada” e sendo assim ela já está danificada, fissurada, diminuída? Dá para medir quanto?
Em que medida o acordo do Mercosul “tocou” a nossa soberania? E o antigo acordo do GATT, pelo qual o Brasil se obrigava a tratar todos os parceiros comerciais da mesma forma, imperialistas e subdesenvolvidos? E os novos acordos da OMC, que trouxeram novas obrigações em campos antes não cobertos pelos velhos acordos comerciais, eles também comprometem nossa soberania? Daria para retornar à velha e boa “intocabilidade” anterior?
            Nessa lógica, os países membros da UE, que é uma Alca super-desenvolvida, renunciaram a muito mais soberania do que os membros do Nafta: eles estão todos tocados por isso, inclusive por essa tremenda renúncia de soberania que é a adoção de uma moeda única? E aqueles países que já têm bancos centrais autônomos, por acaso os mesmos membros da UE, por exemplo, ou ainda os EUA, com o Federal Reserve, eles seriam menos soberanos do que o Brasil pretende ser quando der autonomia ao BC?
            Fazendo um último esforço para entender: com que diabos um órgão formalmente autônomo mas de fato controlado pelo Senado ameaça tanto a soberania do País? O BC deveria trazer este aviso em seu frontão: “Não me toques”?


8) “Decisão de tamanha magnitude deve ser tomada pelo detentor dessa soberania: o povo brasileiro. Assim, cada brasileiro e cada brasileira deveriam ser chamados a se pronunciar sobre ambas questões em um plebiscito convocado para esse expresso fim.
O plebiscito ensejaria um grande debate nacional sobre os dois temas, dando assim fundamento a uma decisão verdadeiramente democrática sobre os mesmos.”

Comentário: Plebiscitos: Se a intenção é essa mesma, porque não aproveitar os resultados do anterior, também sobre Alca, e poupar o esforço de fazer uma nova consulta popular para chegar a resultados tão previsíveis e bem conhecidos? No de setembro de 2002, houve pelo menos 98% de “não”, com alguns poucos indecisos e um número ridículo de mal informados ou de irredutíveis neoliberais que votaram pelo “sim”. Com base nessa consulta, sabemos que a Alca já foi explicada, reexplicada, esconjurada e banida nos altares da CNBB e supostamente rejeitada pelo povo brasileiro. Para que fazer repeteco de unanimidade? (A menos, é claro, que as perguntas sejam formuladas de outra forma e não da maneira intencionalmente malévola como da primeira vez.)
            Falando aliás de consultas por sim ou não, será que questões complexas como a autonomia do BC e o acordo da Alca (que terá provavelmente mais de 500 páginas) se prestam a respostas tão definitivas e conclusivas? Como acomodar todas os matizes das vantagens e desvantagens de um acordo comercial, com concessões e benefícios sendo trocados num espaço de tempo superior a 15 anos, no âmbito de uma simples resposta negativa ou positiva? A complexidade de um acordo desse tipo, cujos resultados aliás vão depender de um número enorme de variáveis que estarão sendo movimentadas antes, durante e depois de ter sido ele concluído, conseguiria ser acomodada no esquema maniqueísta de uma consulta plebiscitária?
            Da mesma forma, como encaixar todas as implicações da autonomia do BC num simples jogo de sim ou não? Por fim, esse “grande debate nacional sobre os dois temas” já não estaria sendo irremediavelmente comprometido – quando não contaminado – pela decisão pré-anunciada de se resolver tudo pelo sim ou não?
Que tal fazer antes um plebiscito para saber se se vai mesmo fazer um plebiscito para resolver esses dois problemas? E que tal fazer um plebiscito preliminar sobre o tipo de questões que estariam sendo colocadas no verdadeiro plebiscito ulterior? Mas será que não seria melhor fazer eleições para esse tipo de consulta, uma vez que as questões que colocariam os partidários do “não” seriam presumivelmente muito diferentes daquelas que seriam formuladas pelos adeptos do “sim”? E que tal fazer antes um plebiscito para tentar saber quantos partidários do “não” poderia haver nesse tipo de plebiscito, e quantos já se deixaram “tocar” pelo abandono de soberania, para assim poder formular as questões do futuro plebiscito com algum tipo de conhecimento prévio do que estão esperando os eleitores (perdão, plebiscitores) desse tipo de consulta?
Mas todas essas perguntas pouco plebiscitárias me parecem muito confusas: o ideal talvez seria encomendar ao mesmo grupo de redatores da carta-manifesto um julgamento “definitivo” sobre a Alca e a autonomia do BC: o resultado é igual de previsível e nos pouparia algum esforço, muita saliva e um certo dinheiro com um debate e uma consulta tão inúteis quanto viciados. 


9) “Estamos convencidos de que uma atitude firme do Brasil mudará a postura das forças que nos estão pressionando e abrirá caminho para que possamos construir autonomamente os caminhos que mais convém ao nosso desenvolvimento.”

Comentário: Ufa!: É isso aí Brasil: cresça, apareça e faça uma cara bem feia que essas forças não identificadas se assustarão e nos deixarão tranquilos, construindo nosso próprio processo de desenvolvimento na santa paz da anti-globalização. Mas, por que esses intelectuais, tão sapientes que já sabem dizer quais serão os resultados catastróficos da Alca e da autonomia do BC, não nos dizem claramente que forças são essas? São aquelas mesmas “forças terríveis” que levaram os presidentes Getúlio Vargas ao suicídio e Jânio Quadros à renúncia? São forças tão ocultas que não podem ser desvendadas nem num manifesto de “intelectuais”? Elas serão capazes de também provocar a queda do presidente Lula, tão simpático a ponto de recolher a adesão de seus antigos adversários políticos?
É pena que eles não nos dizem isso claramente, pois até já sabem que uma atitude firme do Brasil bastará para mudar a postura dessas forças, mesmo desconhecidas. Eu sugeriria, aliás, que esses “intelectuais” fossem colocados na linha de frente do processo negociador da Alca e nas tribunas do Congresso onde estará sendo debatido a questão da autonomia do BC: eles saberão como impedir qualquer consequência negativa de uma atitude mais pusilânime que por acaso diplomatas e parlamentares queiram ostentar no tratamento desses dois problemas. Afinal, eles têm o segredo das “forças ocultas”.


10) “Porém, se assim não for, e o governo vier a ser colocado na contingência de romper com as forças que o estão pressionando, creia Sr. Presidente, que as represálias não serão insuportáveis. Nossa economia já é suficientemente forte para resistir a elas e nosso povo suficientemente politizado para dar-lhe o apoio necessário nesse enfrentamento.”

Comentário: Explicando uma vez mais: Veja Senhor Presidente, tudo o que dissemos antes sobre as fraquezas de nossa economia já não vale mais, pois ela é suficientemente forte para suportar quaisquer represálias, que aliás não se sabe bem de onde virão, pois tomamos o cuidado de ocultar essa informação desta carta-manifesto pública. Apenas revelaremos a fonte do mal em caráter reservado, para não afetar a nossa estratégia de fazer cara feia.
Mas ainda estamos discutindo entre nós de que maneira a politização do nosso povo afeta a revelação do inimigo e da estratégia a ser empregada para derrotá-lo. Tudo o que podemos dizer neste momento é que este enfrentamento será terrível e que ele consumirá a maior parte de nossas energias mentais, religiosas, acrobáticas, sociológicas, literárias, arquitetônicas, psicanalíticas, geográficas, jurídicas, musicais, filosóficas, econômicas, educacionais, militares, teatrais e, por último mas não menos importante, humorísticas.


PS.: Senhor Presidente: Acredito sinceramente que não se deve prestar muita atenção a essa carta-manifesto de um punhado de personalidades que raramente tiveram a seu encargo dirigir um país, um ministério ou sequer uma empresa ou escola, obtendo seu ganha-pão, no mais das vezes, de aulas dadas a alunos que não sabem avaliar quantas bobagens eles falam sobre assuntos que desconhecem inteiramente, e que só se distinguem na mídia porque estão sempre prontos a assinar sem ler o próximo manifesto “progressista” que lhes é apresentado. Continue a dirigir o Brasil com o bom-senso e o pragmatismo que lhe são peculiares e não se preocupe sequer em responder a esse amontoado de bobagens. Seus assessores poderão apresentar argumentos em defesa de seu governo e das políticas adotadas com a sua concordância. Seu único avaliador que conta, finalmente, é o próprio povo brasileiro, que votará da próxima vez em função do bem-estar que seu governo for capaz de lhe trazer, não em razão desses “argumentos” totalmente irrelevantes agitados por um bando de ideólogos. 

Pela leitura crítica:
[sem identificação]
3 de maio de 2003

----------------------

Transcrição do teor integral da:

CARTA AO PRESIDENTE LULA

Caro Presidente
Essa carta lhe é endereçada por pessoas que o prezam, admiram sua trajetória política e desejam prestar-lhe toda ajuda, a fim de que o Senhor possa corresponder às enormes esperanças que sua vitória despertou no  povo brasileiro.
Cientes da situação econômico-financeira do país temos uma clara percepção das dificuldades internas e externas que tem levado o governo a editar  medidas de restrição de gastos e elevação de juros. Sabemos, além disso, que a globalização provocou modificações substantivas na economia mundial e que será muito difícil desenvolver o país sem participar de algum modo da comunidade financeira internacional.
Contudo, esses constrangimentos não podem significar renúncia à nossa soberania.
Duas medidas são particularmente preocupantes em relação a este aspecto: a negociação da ALCA e a pretendida autonomia do Banco Central.
A primeira, como alguns de nós já argumentaram em extensos e repetidos arrazoados, exporá nossos produtores industriais, agrícolas e de serviços a uma concorrência absolutamente desigual, cuja primeira conseqüência será uma desnacionalização ainda maior do nosso parque produtivo. E por sua abrangência que extrapola acordos comerciais, mas envolve a agricultura, investimentos, compras estatais, moeda, serviços, deixa clara a intenção do Governo Estadunidense em recolonizar o continente de acordo com seus interesses apenas.
A segunda implica a entrega do controle da nossa moeda aos capitais externos e, portanto, a renúncia ao projeto nacional. Não se pode ocultar que, estando os setores mais dinâmicos da nossa economia em mãos de empresas estrangeiras, a autonomia do Banco Central significa transferir para elas a fixação do valor da nossa moeda.
Por estas razões, tomamos a decisão de enviar-lhe esta carta. Em nosso entender, tanto a ALCA quanto a autonomia do Banco Central são questões inegociáveis, posto que implicam na intocabilidade da própria soberania da Nação. Decisão de tamanha magnitude deve ser tomada pelo detentor dessa soberania: o povo brasileiro. Assim, cada brasileiro e cada brasileira deveriam ser chamados a se pronunciar sobre ambas questões em um plebiscito convocado para esse expresso fim.
O plebiscito ensejaria um grande debate nacional sobre os dois temas, dando assim fundamento a uma decisão verdadeiramente democrática sobre os mesmos.
Estamos convencidos de que uma atitude firme do Brasil mudará a postura das forças que nos estão pressionando e abrirá caminho para que possamos construir autonomamente os caminhos que mais convém ao nosso desenvolvimento.
Porém, se assim não for, e o governo vier a ser colocado na contingência de romper com as forças que o estão pressionando, creia Sr. Presidente, que as represálias não serão insuportáveis. Nossa economia já é suficientemente forte para resistir a elas e nosso povo suficientemente politizado para dar-lhe o apoio necessário nesse enfrentamento.

Carta-manifesto feita no Brasil, em 1 de maio de 2003 e assinada pelos “intelectuais”:
Alfredo Bosi; Ana Maria Freire; Ana Maria Castro; Ariovaldo Umbelino de Oliveira;Augusto Boal; Benedito Mariano; Bernardete de Oliveira; Carlos Nelson Coutinho; Chico Buarque; Dom Demetrio Valentini; Dom Paulo Arns; Dom Pedro Casaldaliga; Dom Tomas Balduino; Emir Sader; Fabio Konder Comparato, Fernando Morais; Francisco de Oliveira; Haroldo Campos; Joanna Fomm, Leonardo Boff; Luis Fernando Verissimo, Margarida Genovois; Maria Adelia de Souza; Manuel Correia de Andrade; Marilena Chauí; Nilo Batista; Pastor Ervino Schmidt/IECLB; Plínio Arruda Sampaio; Oscar Niemeyer; Ricardo Antunes; Sergio Haddad; Sergio Ferolla, brigadeiro; Tatau Godinho; Valton Miranda.


terça-feira, 5 de abril de 2016

Quando "intelectuais" se tornam sub-intelequituais de aluguel: cegos? sectarios? inocentes inuteis? - Mansueto Almeida, Paulo Roberto de Almeida

Eu já tinha registrado, e repercutido, o "manifesto" (uma peça de subserviência ao partido totalitário no Brasil) da Brazilian Studies Association (da qual também já fui membro do comitê executivo) sobre a tragédia política no Brasil, que está se convertendo em farsa surrealista.
Agora Mansueto Almeida comenta o assunto, a partir da matéria da FSP -- eu já tinha transcrito todo o "manifesto", só preciso achar o link --, e eu transcrevo sua postagem abaixo.
Nas últimas duas semanas, tive de "denunciar" (sem efeitos jurídicos, claro) outros manifestos desses seres estranhos que são os gramscianos de academia. Aproveitei para me desfiliar dessas associações profissionais, pois considero que o que as suas respectivas diretorias fizeram foi uma calhordice, aproveitando sua posição (temporária) nas chefias dessas entidades para proclamar "solidariedade" com corruptos e bandidos, sendo que em NENHUM momento eles se referem aos casos concretos de corrupção, mentiras, fraudes políticas, apenas uma fantasmagórica ameaça à "legalidade" e outra fantástica "defesa da democracia", contra um hipotético, e mentiroso, "golpe". 
Acho que vou ter de escrever um contra-manifesto denunciando a farsa que são esses "manifestos" gramscianos, uma vergonha para o que significa ser universitário.
Pergunto de imediato: esses caras que assinaram esses manifestos mentirosos se olham no espelho e perguntam por acaso para si mesmos, toda manhã, em quem eles vão acreditar, se nos traficantes do poder, ou na cidadania que protesta nas ruas, em apoio aos defensores da moralidade que são os membros da República de Curitiba?
Paulo Roberto de Almeida

Brazilian Studies Association – BRASA
5 de abril de 2016 por mansueto

É muito estranho que um grupo de acadêmicos tome partido quanto ao processo de impeachment no Brasil. Segundo o jornal Folha de São Paulo (ver aqui), a Brasa aprovou um manifesto dizendo que a democracia brasileira está ameaçada pela crise política.

De acordo com a Folha de São Paulo, o manifesto gerou um racha entre brasilianistas e o ex-presidente da associação, o cientista político Anthony Pereira, renunciou a seu cargo no Comitê Executivo da Brasa e solicitou sua desfiliação da entidade.

Conheci o Tony Pereira há cerca de três anos por meio do cientista politico Marcus Melo da UFPE e Carlos Pereira da FGV. Um excelente pesquisador que conhece bem o Brasil. Fico feliz de saber que ele foi critico dessa postura da Brasa e pediu sua desfiliação.

Uma pena que a “Brazilian Studies Association” tenha feito opção por um manifesto inapropriado. Os professores poderiam falar o que quisessem sobre o assunto, mas quando isso se torna algo institucional de uma entidade que supostamente é formada por intelectuais que estudam o Brasil de forma isenta, confesso que isso para mim é uma grande decepção. Talvez a mesma que tenho quando vejo reitores de universidades federais usarem a página institucional das universidades para se pronunciar contra o impeachment e sobre a possibilidade de golpe.

O Brasil terá ainda que piorar muito para que as pessoas, em especial, os “intelectuais”, que parecem entender muito de direitos e pouco ou nada de restrição orçamentária, comecem a ter noção do tamanho dos problemas que o governo criou no últimos anos.

 https://mansueto.wordpress.com/2016/04/05/brazilian-studies-association-brasa/

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Petrolao e Petralhabras: intelequitualoides veem complo estrangeiro na roubalheira dos petralhas

Eu me pergunto como é que devem ser classificadas as pessoas que assinaram um manifesto que pretende, entre outras coisas, isto:

Está à vista de todos a voracidade com que interesses geopolíticos dominantes buscam o controle do petróleo no mundo, inclusive através de intervenções militares. Entre nós, esses interesses parecem encontrar eco em uma certa mídia a eles subserviente e em parlamentares com eles alinhados.
 
Bem, elas já foram classificadas no título desta postagem, e creio que basta isso.
De resto, merece registro de quão baixo pode ser o "intelequito" de certas pessoas para se conformarem em assinar um lixo como este que segue abaixo.
Elas devem achar que os companheiros roubaram e dilapidaram a Petralhabras porque foram obrigados por "interesses políticos dominantes".
Ou eles são muito sedentos por dinheiro, ou eles são muito calhordas e vendidos. Eu fico com as duas hipóteses.
Paulo Roberto de Almeida

Manifesto de intelectuais defende Petrobras e “governo legitimamente eleito”

“O Brasil viveu, em 1964, uma experiência da mesma natureza. Custou-nos um longo período de trevas e de arbítrio. Trata-se agora de evitar sua repetição”, diz trecho do documento


Ichiro Guerra/Blog do Planalto
Manifesto denuncia golpe e visa proteger patrimônio nacional
Um manifesto foi divulgado nesta sexta-feira (20) e subscrito por 48 intelectuais e personalidades dos mais diversos setores com o objetivo de defender a Petrobras e o “governo legitimamente eleito” da presidenta Dilma Rousseff. O texto denuncia o que chama de “campanha” para enfraquecer a estatal e, consequentemente, a gestão Dilma. Estão entre os signatários o filósofo e teólogo Leonardo Boff; o jurista e escritor Fábio Konder Comparato; o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Sepúlveda Pertence; o sociólogo e cientista político Emir Sader; a economista e professora Maria da Conceição Tavares, e o documentarista Silvio Tendler. Na argumentação, os autores do documento fazem uma analogia entre a ação de instituições da República, setores da imprensa e parlamentares, na esteira da Operação Lava Jato, e o golpe de 1964, que tirou o então presidente João Goulart do poder e deu início ao regime de exceção da ditadura militar (1964-1985). Segundo o texto, a derrocada da petrolífera representaria a extinção de cerca de 500 mil empregos diretor e indiretos, e reconduziria o Brasil a uma situação “subalterna e colonial” frente ao mercado financeiro internacional.
“Com efeito, há uma campanha para esvaziar a Petrobras, a única das grandes empresas de petróleo a ter reservas e produção continuamente aumentadas. Além disso, vem a proposta de entregar o pré-sal às empresas estrangeiras, restabelecendo o regime de concessão, alterado pelo atual regime de partilha, que dá à Petrobras o monopólio do conhecimento da exploração e produção de petróleo em águas ultraprofundas. Essa situação tem lhe valido a conquista dos principais prêmios em congressos internacionais”, registra o manifesto.
Intitulado “O que está em jogo agora”, o texto não menciona nomes, mas deixa claro o papel das hostes oposicionistas nas investigações da Lava Jato, da Polícia Federal, que desvendou um bilionário esquema de corrupção na Petrobras. Para os autores do documento, os opositores de Dilma apostam na invenção de uma “comoção nacional” para tirá-la do poder.
“Por outro lado, esses mesmos setores estimulam o desgaste do Governo legitimamente eleito, com vista a abreviar o seu mandato. Para tanto, não hesitam em atropelar o Estado de Direito democrático, ao usarem, com estardalhaço, informações parciais e preliminares do Judiciário, da Polícia Federal, do Ministério Público e da própria mídia, na busca de uma comoção nacional que lhes permita alcançar seus objetivos, antinacionais e antidemocráticos”, diz outro trecho do manifesto.
Confira quem o assina e leia sua íntegra abaixo:
“Manifesto:
O que está em jogo agora
A chamada Operação Lava Jato, a partir da apuração de malfeitos na Petrobras, desencadeou um processo político que coloca em risco conquistas da nossa soberania e a própria democracia.
Com efeito, há uma campanha para esvaziar a Petrobras, a única das grandes empresas de petróleo a ter reservas e produção continuamente aumentadas. Além disso, vem a proposta de entregar o pré-sal às empresas estrangeiras, restabelecendo o regime de concessão, alterado pelo atual regime de partilha, que dá à Petrobras o monopólio do conhecimento da exploração e produção de petróleo em águas ultraprofundas. Essa situação tem lhe valido a conquista dos principais prêmios em congressos internacionais.
Está à vista de todos a voracidade com que interesses geopolíticos dominantes buscam o controle do petróleo no mundo, inclusive através de intervenções militares. Entre nós, esses interesses parecem encontrar eco em uma certa mídia a eles subserviente e em parlamentares com eles alinhados.
Debilitada a Petrobras, âncora do nosso desenvolvimento científico, tecnológico e industrial, serão dizimadas empresas aqui instaladas, responsáveis por mais de 500.000 empregos qualificados, remetendo-nos uma vez mais a uma condição subalterna e colonial.
Por outro lado, esses mesmos setores estimulam o desgaste do Governo legitimamente eleito, com vista a abreviar o seu mandato. Para tanto, não hesitam em atropelar o Estado de Direito democrático, ao usarem, com estardalhaço, informações parciais e preliminares do Judiciário, da Polícia Federal, do Ministério Público e da própria mídia, na busca de uma comoção nacional que lhes permita alcançar seus objetivos, antinacionais e antidemocráticos.
O Brasil viveu, em 1964, uma experiência da mesma natureza. Custou-nos um longo período de trevas e de arbítrio. Trata-se agora de evitar sua repetição. Conclamamos as forças vivas da Nação a cerrarem fileiras, em uma ampla aliança nacional, acima de interesses partidários ou ideológicos, em torno da democracia e da Petrobras, o nosso principal símbolo de soberania.
20 de fevereiro de 2015”
Alberto Passos Guimarães Filho
Aldo Arantes
Ana Maria Costa
Ana Tereza Pereira
Cândido Mendes
Carlos Medeiros
Carlos Moura
Claudius Ceccon
Celso Amorim
Celso Pinto de Melo
D. Demetrio Valentini
Emir Sader
Ennio Candotti
Fabio Konder Comparato
Franklin Martins
Jether Ramalho
José Noronha
Ivone Gebara
João Pedro Stédile
José Jofilly
José Luiz Fiori
José Paulo Sepúlveda Pertence
Ladislau Dowbor
Leonardo Boff
Ligia Bahia
Lucia Ribeiro
Luiz Alberto Gomez de Souza
Luiz Pinguelli Rosa
Magali do Nascimento Cunha
Marcelo Timotheo da Costa
Marco Antonio Raupp
Maria Clara Bingemer
Maria da Conceição Tavares
Maria Helena Arrochelas
Maria José Sousa dos Santos
Marilena Chauí
Marilene Correa
Otavio Alves Velho
Paulo José
Reinaldo Guimarães
Ricardo Bielschowsky
Roberto Amaral
Samuel Pinheiro Guimarães
Sergio Mascarenhas
Sergio Rezende
Silvio Tendler
Sonia Fleury
Waldir Pires
Mais sobre a Petrobras
Mais sobre a Operação Lava Jato

domingo, 28 de dezembro de 2014

Janer Cristaldo sovre o Silencio dos Vendidos (2005) - adivinhe quem?

Janer Cristaldo, terça-feira, agosto 30, 2005

O SILÊNCIO DOS VENDIDOS
 
Triste sina a da direita no Brasil. Em países mais civilizados, ser de direita é apenas não concordar com as propostas da esquerda, direito legítimo de todo cidadão. No Brasil, direita significa portar toda a infâmia do mundo. Que o diga Clóvis Rossi. Em recente crônica, afirmou: "É um caso de estudo para a ciência política universal. Já escrevi neste espaço uma e outra vez que o PT fez a mais radical e rápida guinada para a direita de que se tem notícia na história partidária do planeta".
Isto é: se o PT se revela corrupto, ele não é mais esquerda. É direita, porque só a direita é corrupta. Mesmo que o PT seja hoje o mesmo desde que nasceu, mesmo que os grandes implicados na corrupção - Genoíno, Mercadante, Zé Dirceu, Lula - sejam seus pais fundadores. Segundo Rossi, o PT guinou para a direita. E por que guinou para a direita? Porque suas falcatruas foram trazidas à tona. Permanecessem submersas, o partido continuaria sendo de esquerda.
É o que os franceses chamam de glissement idéologique. O conceito de esquerda sempre muda, à medida em que se corrompe. A direita é a boceta de Pandora, o repositório de todos os males do mundo, inclusive os das esquerdas. Pois quando as esquerdas cometem crimes - ou "erros", como preferem seus líderes - é que não eram de esquerda, mas de direita.
O PT, partido que nasce do ventre de uma mentira secular, mesmo ao tentar reerguer-se continua mentindo. Em recente sabatina organizada pela Folha de São Paulo, Tarso Genro, o novo presidente do partido, foi buscar situações análogas em outros partidos de centro-esquerda no mundo, como os democratas cristãos italianos e o partido socialista espanhol. "Isso tem algumas explicações que são de natureza histórica e que diz respeito a questões filosóficas, teóricas, profundas e questões relacionadas com responsabilidades individuais", disse o mago das palavras. Em verdade, não disse nada, sua explicação e explicação nenhuma são a mesma coisa. Mas conseguiu um milagre de retórica: mesmo sem dizer nada, mentiu. As situações análogas às do PT não devem ser buscadas nas sociais-democracias européias, pois nelas não estão nem nunca estiveram as origens de seu partido.
As origens do PT estão nas ideologias que empestaram o século passado, no bolchevismo, maoísmo, trotskismo, polpotismo, no comunismo albanês. Os quadros do partido eram egressos destas doutrinas e sempre condenaram as sociais-democracias, às quais atribuíam a pecha de revisionistas. O que está sendo derrubado, hoje, no Brasil, é o muro de Berlim mental das esquerdas tupiniquins, dezesseis anos após a queda do muro de concreto. A estrela vermelha, hoje cadente no Brasil, que Lula houve por bem trocar por uma medalha de Nossa Senhora Aparecida, nunca foi símbolo de social-democracia alguma, mas insígnia do Exército Soviético. Nos anos 90, foi arrancada de todos os prédios do poder na ex-URSS. Mas permaneceu pregada no peito das esquerdas latino-americanas.
O PT - ou o que dele resta - quer renovar-se. Mas só da boca pra fora. Jamais renunciará ao culto de seus deuses tutelares, Fidel Castro, Che Guevara, Prestes, Lamarca ou Marighella. Tarso Genro considera o assassino Prestes como o mais excelso herói que o Brasil já teve e Lula, sexta-feira passada, ainda citava Che Guevara: "Os poderosos podem matar uma, duas ou três rosas, mas não podem deter a chegada da primavera". O PT quer renovar-se, mas ainda sente saudades das primaveras sangrentas prometidas pelo guerrilheiro argentino.
Em meio a isso, os intelectuais responsáveis pela ascensão do PT ao poder se reúnem em seminário para carpir o passado. O seminário, eufemisticamente, intitula-se O Silêncio dos Intelectuais. Melhor definido seria se se intitulasse o Silêncio dos Vendidos. Pois os intelectuais brasileiros, desde o início do século passado, venderam suas consciências ao socialismo soviético, a tal ponto que a palavra intelectual vinha sempre carimbada com um complemento: "de esquerda". Oswald de Andrade, hoje leitura obrigatória nos vestibulares, começa sua carreira nos anos 20, louvando o comunismo e o fascismo. No que aliás era muito coerente, comunismo e fascismo são as duas faces de uma mesma moeda. Seguiram-lhe os passos Jorge Amado, Graciliano Ramos, Dyonélio Machado, Raquel de Queiroz, Carlos Drummond de Andrade e uma miríade de escritores menores, todos militantes marxistas ou no mínimo compagnons de route, a tal ponto que não existe grande diferença entre a história da literatura brasileira no século passado e a história das idéias comunistas no Brasil. Até mesmo um escritor tido como liberal, como Erico Verissimo, não resistiu ao canto das sereias. Nos anos 60, recomenda a Sérgio Faraco não publicar suas memórias de Moscou, que denunciavam seu internamento forçado numa clínica psiquiátrica.
Nem Machado de Assis foi inocente. Marx morreu em 1883, o último volume de O Capital foi publicado em 1894. Machado, que tinha acesso a línguas estrangeiras e a publicações do Exterior, jamais disse um pio sobre a doutrina que começava a fazer carreira. Ora, o gaúcho Qorpo Santo, tido como louco e morto justamente em 1883 - 15 anos antes de Machado e 24 anos antes da Revolução de 17 - já denunciava o comunismo em sua obra. Que permaneceu por um século inédita, é verdade. Mas a denúncia já estava lá, em sua Ensiqlopédia ou seis mezes de huma enfermidade, como alerta aos pósteros. Machado não viu nada. Melhor para sua fortuna, ou não seria hoje leitura obrigatória nos vestibulares. Qorpo Santo só poderia ser louco, ao denunciar antecipadamente a peste que dominou o século XX.
Quase cem anos se passaram desde então, e a intelligentsia tupiniquim - ou talvez melhor disséssemos burritsia - não aprendeu nada com o século. Marilena Chauí, a filósofa mater do PT, como a qualifica o Estadão, considera que o silêncio da intelectualidade no mundo não se trata de uma recusa, mas de uma impossibilidade de interpretar a realidade presente. E o que resta, neste caso, é o silêncio. "Manifestar-se sobre tudo, mudar de atitude conforme mudem os ventos, abandonar a obra já feita, desdizendo-a e desdizendo-se, é irresponsabilidade, não é liberdade. Muitas vezes o verdadeiro engajamento exige que fiquemos em silêncio, que não cedamos às exigências cegas da sociedade". O chofer de táxi, a faxineira, o barbeiro, o padeiro da esquina já têm elementos suficientes para interpretar a realidade presente. A douta PhDeusa uspiana, especialista em Spinoza, que muito escreveu sobre ética e política, ainda não sabe o que pensar. Se tiver de fazer coro às denúncias de corrupção do PT, terá de jogar no lixo boa parte de sua biografia. Árvore velha não se dobra. Pode até quebrar, mas não cede. A crise hoje vivida pelo governo está demonstrando a senilidade mental de seus defensores.
Luís Fernando Verissimo matou a Velhinha de Taubaté. Seria difícil manter vivo um personagem que sempre acredita no governo. Mas... matá-la é suficiente? Verissimo não vai pedir desculpas a seus leitores pelas décadas em que os induziu a votar no mais corruptor partido do Ocidente? Não vai penintenciar-se por ter sido um dos mais influentes escritores a apoiar Lula e seus asseclas? Quando ruiu o regime comunista na Polônia, velhos militantes crucificaram-se simbolicamente por uma hora, para manifestar em público seu arrependimento. Verissimo não poderia dar-nos o prazer de pelo menos cinco minutinhos de contrição, não digo numa cruz, mas numa tribuna qualquer?
Chico Buarque, pobre alminha ferida, declarou-se "triste' com a situação. Quando o país todo está revoltado, o poeta das esquerdas, com seus enternecedores olhos verdes, se declara... triste. E nisso ficamos. Diz ainda esperar que crise não provoque "apenas a alegria raivosa de quem não votou em Lula". Velho tique das esquerdas, muito do agrado de Genoíno e Mercadante: quando se faz qualquer crítica ao PT, a crítica não é crítica. É ódio. Engana-se o vate cubanófilo. A alegria de quem não votou em Lula é a mesma e saudável alegria dos franceses quando se libertaram do jugo alemão, dos alemães quando caiu o muro, dos russos quando Ieltsin deu um canhonaço na Duma, dos povos soviéticos quando viram cair as estrelas vermelhas de seus prédios públicos. Estamos alegres, sim senhor. Principalmente porque nem foi preciso lutar para derrubar o PT. Os petistas se encarregaram disto.
Na 11ª Jornada Nacional de Literatura, em Passo Fundo, Frei Betto deplorou que "nem sob os anos da ditadura a direita conseguiu desmoralizar a esquerda como núcleo petista fez em tão pouco tempo (...) esses dirigentes desmoralizaram o partido e respingaram lama por toda a esquerda brasileira". Ocorre que as esquerdas brasileiras têm suas raízes no lamaçal ideológico do século passado.
Nada demais, meu caro Betto: as esquerdas estão voltando às origens.
às 

segunda-feira, 12 de maio de 2014

O subintelequitual da USP e sua revolta contra o pai: Freud explica - Leandro Narloch (via Orlando Tambosi)

Tomo carona nesta postagem de meu amigo de resistência intelectual e colega blogueiro Orlando Tambosi, que postou o artigo abaixo de Leandro Narloch a propósito de um subintelequitual uspiano, para fazer algumas considerações sobre o que pode ter motivado esse indivíduo -- um fake Lênin de pacotilha -- a recusar-se a ver a realidade do crescimento econômico, e seu papel na redução da pobreza, como indica o texto de Narloch.
Não pode ter sido por ignorância, ainda que essa espécie de gente costuma ser caracterizada por uma cegueira voluntária, por viseiras ideológicas auto-impostas, mas se supõe que essa gente leia jornal todos os dias, não é, pelo menos a Folha de S.Paulo, que costuma publicar esse tipo de lixo confusionista.
Não deve ser por estupidez primária, digamos assim, ainda que a estupidez seja congenital a certos tipos de ideólogos anacrônicos.
Vou arriscar uma outra hipótese, que tem ver com os arcanos da alma humana, como diria Freud.
No fundo, no fundo, esse sujeito, se ele não é totalmente estúpido, sabe que deve sua existência, seu salário, sua existência mesmo, aos capitalistas que ele tanto despreza (por estupidez, aqui sim). Ele deve saber, ou pelo menos deveria, que toda a USP, todas as academias do Brasil (e em boa parte do mundo) vivem de impostos, ou seja, da riqueza produzida pelos capitalistas (que ele tanto despreza, como já dito) e pelos trabalhadores (que ele pensa ajudar, pregando que os trabalhadores deveriam tomar o "poder" dos capitalistas e implantar a sua "ditadura do proletariado", uma bobagem monumental).
Ele sabe disso, e não gosta, pois seu papel -- para fazer figura de ideólogo de esquerda -- é pregar contra o capitalismo, contra os mercados, contra o "Estado burguês".
Isso nos remete a Freud, e suas teorias, geralmente inadequadas, mas algumas até razoáveis.
Freud dizia que toda criança apresenta, instintivamente, uma revolta contra o pai, aquele que possui a mãe, que é, sempre segundo Freud (esse pessoal acredita em qualquer coisa), o desejo secreto de todo garoto inseguro.
Esse cara, no fundo, é uma criança, e se revolta contra o pai capitalista que lhe paga os salários, e possui toda a riqueza e poder (pelo menos ele acredita nisso), e ele, secretamente, tem inveja de tudo isso.
Acho que a minha "teoria freudiana" pode explicar o fato desse Lênin subtropical publicar uma besteira desse tamanho, como relata Narloch.
Pode ser uma razão plausível.
Se não for isso, então o cara é deliberadamente de má-fé, um fraudador consciente. Seria esse o caso?
Paulo Roberto de Almeida

SEGUNDA-FEIRA, 12 DE MAIO DE 2014

Safatle e a filosofia de palanque

Vladimir Safatle, o Lênin da USP, leva uma boa sarrafada do jornalista Leandro Narloch. O pupilo de Marilena Chaui - aquela que odeia a classe média e se sente iluminada diante de Lula - gosta mesmo é de ideologia. É um típico representante da miséria acadêmica reinante no Brasil lulista, com espaço garantido na Folhona:


Por que intelectuais como Vladimir Safatle desprezam a receita mais eficaz, testada e aprovada para a redução de pobreza? Falo do crescimento econômico. Qualquer país que vive uma ou duas décadas de altas consecutivas do PIB vê massas humanas deixarem a miséria.

China: 680 milhões de miseráveis a menos desde que as fábricas capitalistas apareceram, há 35 anos. Indonésia: redução de pobreza de 54% para 16% em 18 anos. Coreia do Sul: tão pobre quanto a Índia em 1940, virou um dos países mais ricos do mundo depois de crescer em média 8% ao ano entre 1960 e 1980.

Essa receita deu tão certo que levou o mundo a superar, cinco anos antes do previsto, a meta estabelecida pela ONU, em 2000, de cortar pela metade o número de pessoas que viviam com menos de US$ 1,25 por dia. Quase tudo isso aconteceu sem cotas sociais, sem Bolsa Família, sem alta de impostos. Só com geração de riqueza.

É uma excelente notícia, que deveríamos comemorar --mas por que Safatle não participaria da festa conosco? No artigo "Demagogia" (29/4), na Folha, ele reclama de quem prefere discutir o crescimento econômico em vez de se concentrar no "caráter insuportável" dos arcaísmos brasileiros (mas a expansão da economia é melhor arma contra esses arcaísmos!). Noutro artigo, diz que a atividade econômica só faz produzir desigualdade.

Dá pra entender o desprezo. Admitir a importância da alta do PIB na redução da pobreza implica em reconhecer verdades dolorosas. A primeira é que quem atrapalha o crescimento da economia atrapalha os pobres. Afugentar investidores resulta em menos negócios, menos vagas, menores salários.

Outra é que os interesses das classes nem sempre divergem. PIB em alta faz bem para pobres, remediados e magnatas. Os anos recentes do Brasil são um exemplo disso. Entre 2007 e 2012, vivemos uma impressionante redução da miséria. Enquanto isso, o número de milionários subiu de 120 mil para 165 mil. Não há motivo para fomentar conflito entre motoboys e donos de jatinhos.

Mas o fato mais difícil de reconhecer é que os filósofos de palanque e os bons mocinhos tiveram um papel irrelevante na redução da pobreza. Se crescimento da economia ajuda os pobres, isso se deve a seus protagonistas, ou seja, os homens de negócio, alguns deles ricos, quase todos interessados somente em botar dinheiro no bolso.

Pior ainda, Safatle teria que admitir que os negociantes aliviaram a condição dos pobres fazendo justamente aquilo que mais incomoda os intelectuais ressentidos: lucrar explorando mão de obra barata. Capitalistas costumam atrair competidores, criando uma concorrência por empregados, elevando salários.

Intelectuais costumam reservar para si um lugar mais elevado que o de comerciantes na sociedade. É difícil terem generosidade para admitir que uma de suas causas mais nobres depende de negociantes mundanos. Por isso, o filósofo prefere ficar do lado da ideologia, e não do lado dos pobres, o que me faz acreditar que ele é movido por um ressentimento contra os ricos, talvez um desejo puritano de conter seus excessos. E não uma vontade genuína de reduzir a pobreza. (Folha de São Paulo).

Bookmark and Share

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Vladimir Lenin Safatle: o professor mais caro do mundo, pela indigencia teorica de seus artigos...

Leiam o artigo abaixo, de um professor da USP que tem um certo ar leninista, com sua barbicha ruiva e sua careca frontal. Não creio que tenha escrito nada comparável ao Estado e a Revolução, ou mesmo ao Que Fazer?, mas certamente escreveu, continua escrevendo e ainda escreverá muitas outras bobagens, do tamanho ou maior desta que segue abaixo, e que vocês podem tentar entender (mas não se preocupem se não conseguirem: não tem nenhuma importância).
Para mim se trata do professor mais caro do mundo, no sentido em que existe uma enorme desproporção entre o que ele recebe, como professor da USP, ou até da Folha, por seus artigos mal escritos, e o que valem, de fato, suas aulas e artigos, que não valem nada, este abaixo, pelo menos, não vale o papel em que foi impresso.
O neoleninista pretende contradizer aqueles que acham que o Brasil está caro -- o que é um fato, relativa e absolutamente, e qualquer um que viaje ao exterior pode comprovar, até ele mesmo, que certamente já comprou eletrônicos no exterior, talvez o seu iPhone ou o seu iPad -- e por isso ele tenta descartar os fatores habituais: carga tributária, custo do trabalho, etc.
Como seu mestre Lênin -- que era um gênio em política, mas um idiota completo em economia -- Vladimir Safatle também é um idiota em economia, ou melhor, um ignorante crasso, sem obviamente ser um gênio em política; longe disso, pois ele demonstra cabalmente sequer conhecer que Lula nunca teve qualquer "engenharia econômica", mas roubou todo o software de política econômica do governo anterior, sem pagar direitos autorais, e ainda chamando aquela política, que ele aplicou sem pestanejar, de neoliberal. Vladimir Safatle deve exibir a mesma desonestidade fundamental e também achar que Lula era um neoliberal enrustido, e que o Brasil merece mesmo uma política econômica de esquerda, que obviamente não pode ser a NEP dos neoliberais petralhas e seus economistas keynesianos de botequim. O novo Lênin tropical passa por cima disso, demonstrando que é também, como o Lênin original, um total rústico em economia, para não dizer um ignaro completo.
Ele acha, por exemplo, que a razão dos preços altos no Brasil tem apenas duas explicações, e nenhuma delas tem a ver com os impostos, que ele acha moderados, comparados com outros países (de forma completamente estúpida, registre-se desde já).
As duas explicações dele são: oligopólios -- que de fato existem no Brasil, mas ele não diz quais são e onde estão -- e a desigualdade (não sabe bem como a desigualdade causaria preços altos, mas isso o nosso Lênin de cera de sebo também não explica).
Ele compara alhos com bugalhos, ou maçãs e bananas, ou ainda, pretende equiparar um rato a uma montanha.
Vejamos. Para ele, o brasileiro até paga pouco imposto, apenas 4 mil dólares, per capita, quando o americano paga 13.550. Parece uma diferença enorme, não é?
A matemática desse professor é de alienado mental, ou ele exibe um grau de indigência mental que arrisca ser transmitido para os seus alunos. Neste caso, se trata de simples aritmética, ou seja reportar esses valores a seus contextos de PIB per capita.
Talvez ele não saiba que a renda per capita de um brasileiro é de 10 mil dólares, o que faz com que a carga fiscal represente exatamente 40 por cento desse valor (na prática é maior, pois com 40% ou mais de carga fiscal, um sueco, ou francês ou alemão, recebem de volta serviços públicos compatíveis, enquanto um brasileiro precisa ainda gastar um pouco-bastante mais de sua renda para comprar esses serviços no mercado). Ou seja, o brasileiro deixa mais de dois quintos de tudo quanto produz, de toda a sua renda, para o novo ogro famélico da derrama nacional.
Já o americano que (segundo a informação do nosso gênio matemático) paga 13.550, tem uma renda per capita de mais de 50 mil dólares, o que faz com que sua carga fiscal seja quase duas vezes menor do que a do brasileiro, para um renda cinco vezes maior, mas não estou seguro que seja bem isso ( pois seria preciso separar taxação sobre os fluxos de renda pessoal e os impostos indiretos, como o sales tax); de toda forma, como sabe todo brasileiro que já viajou aos EUA (menos o nosso Lênin, que deve ter preconceito contra o império), os preços dos produtos vendidos nos EUA são bem mais em conta, por ser aquele mercado totalmente aberto e competitivo e ter um sales tax (na faixa  de 4 a 6%) inferior à TVA europeia (como sabe qualquer viajante ao velho continente, onde nosso Lênin já deve ter ido, pelo menos para visitar o seu êmulo embalsamado).
As outras considerações "econômicas" que ele faz em seu artigo são de chorar de rir, tamanho o grau de delírio que ele exibe ao falar de preços, rendas e salários. Eu recomendaria um simples manual elementar de economia, que os imperialistas chamam de Economics 101 (mas pode ser também o Economy for Dummies, ou o Idiot's Guide to Economics).
Concluindo.
Para mim, esse professor é o mais caro do mundo: jamais mereceria o salário que recebe, nem os honorários da Folha de S. Paulo tamanha a indigência "subintelequitual" de sua argumentação.
Chego a sentir pena dos seus alunos, e vergonha por aquela que foi a minha primeira faculdade, a "Fefelech", da USP, que já teve professores melhores, ou que, pelo menos, na época, não abrigava estupores desse quilate.
Esse professor não vale meio salário mínimo, ou, no máximo, vale meia Bolsa-Família, já que este seria o seu valor máximo de mercado... (se alguém se dispuser a pagar por baboseiras, claro...).
Paulo Roberto de Almeida
Hartford, 4 de dezembro de 2013

O mais caro do mundo
Vladimir Safatle
Folha de S.Paulo, 03/12/2013

Ao que parece, chegou a hora de saudar o Brasil como o novo país "do mais caro do mundo". Foram necessárias décadas para alcançar tamanha conquista e, ao que parece, desta vez ela veio para ficar. Afinal, anos de trabalho árduo permitiram aos brasileiros ter o prazer de pagar o dobro no mesmo carro que outros mortais compram sem tanto sacrifício.
Atualmente, ser brasileiro é ter a satisfação de levar para casa o console Xbox mais caro do mundo. É poder humilhar os estrangeiros ao dizer o preço que pagamos em passagens aéreas, escolas, aluguéis e imóveis arrebentados em lugares com fios elétricos na frente da janela.
Para chegar a este estágio, foi necessário não apenas um conjunto substantivo de equívocos econômicos. Foi preciso muita cegueira ideológica para engolir a ladainha de que nosso troféu de "o mais caro do mundo" foi conquistado exclusivamente através dos impostos mais elevados e dos altos custos trabalhistas.
Não, meus amigos. Só em um mundo (como esse em que alguns liberais vivem) sem países como França, Alemanha ou Suécia o Brasil teria os impostos mais altos. Se nos compararmos aos EUA, veremos que a contribuição fiscal per capita de um brasileiro (US$ 4.000) é bem menor do que a de um norte-americano (US$ 13.550).
Na verdade, depois que se inventa o inimigo, é mais fácil esconder o verdadeiro responsável. Nosso troféu de "o mais caro do mundo" deve ser dedicado a esses batalhadores silenciosos do desastre econômico, a esses companheiros de todos os governos brasileiros: o oligopólio e a desigualdade.
A desigualdade econômica, esta tudo mundo conhece. Ela fingiu por um momento que estava se deixando controlar, mas deu não mais que uma unha para permanecer com todos os gordos dedos. Sempre se combateu desigualdade com revolução fiscal que taxasse os ricos, punisse radicalmente a evasão fiscal e limitasse os grandes salários. Mas, no país "do mais caro do mundo", o tema é tabu. Assim, uma classe de milionários pode empurrar alegremente os preços para cima porque não tem problema algum em pagar pelo mesmo o seu dobro, desde que as lojas ofereçam manobrista VIP e água com gás na saída do estacionamento.
Já a nova onda de oligopólios é uma das grandes contribuições da engenharia econômica do lulismo: os únicos governos de esquerda da galáxia que contribuíram massivamente para a cartelização de todos os setores-chaves da economia. Com uma política de auxiliar a formação de oligopólios via empréstimos do BNDES, o governo conseguiu fazer uma economia para poucos empresários amigos. Nela, não há concorrência. Assim, os preços descobriram que, no Brasil, o céu é o limite.

Vladimir Safatle é professor livre-docente do Departamento de filosofia da USP (Universidade de São Paulo). Escreve às terças na Página A2 da versão impressa.

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Pseudo-artistas e subintelequituais saem em defesa de mensaleiros, fraudadores, quadrilheiros...

Os soi-disant artistas e os pseudo-inteliquituais abaixo relacionados, e muitos outros claro -- pois eles sempre são a favor de certas causas, menos das certas -- sairam em defesa de quadrilheiros condenados pelo Supremo Tribunal Federal.
Eles são livres, obviamente, de apoiar os bandidos que desejam apoiar, e se congratular com o espetáculo de malversações, de falcatruas, de mentiras e de roubo declarado praticado pelos mensaleiros em questão.
O gesto apenas nos confirma quão baixo desceram esses indivíduos no terreno da moral pública e da ética individual, o que para eles não deve valer muita coisa, desde que possam mamar, como milhares, ou milhões de outros, nas tetas gordas do Estado companheiro, alimentado com o nosso dinheiro.
Eu me pergunto se nenhum deles tem vergonha, ao se olhar no espelho pela manhã e se perguntar se deveriam mesmo ter seguido os outros babacas nessas assinaturas mecânicas em favor de péssimas causas...
O gesto em si não significa muito, pois se supõe que os quadrilheiros vão mesmo pagar pelos seus crimes (bem menos do que deveriam, muito menos do que espera certamente a maior parte dos brasileiros honestos), mas isso nos permite identificar as pessoas normais, e distingui-las dos calhordas que assinam esse tipo de manifesto.
Paulo Roberto de Almeida
PS.: A fonte da notícia é a conhecida como o jornal particular do chefe da quadrilha, o mafioso-mor...

Artistas e intelectuais brasileiros saem em apoio a José Genoino

Correio do Brasil, 9/9/2013 15:05
Por Redação, com ABr - de São Paulo e Brasília

Cerca de mil pessoas subscreveram, até agora, um abaixo-assinado em defesa do deputado JoséGenoino, ex-presidente nacional do PT, condenado a 6 anos e 11 meses de prisão por envolvimento no processo que gerou a Ação Penal 470, no Supremo Tribunal Federal, e terminou no julgamento do caso que ficou conhecido como ‘mensalão’. A lista de personalidades inclui desde o crítico literário Antonio Candido, à filósofa Marilena Chaui, e o escritor Fernando Morais. O músico Jorge Mautner, o economista Ladislau Dowbor, os cineastas Lucy e Luiz Carlos Barreto, a psicanalista Maria Rita Kehl, a ministra da Cultura, Marta Suplicy, o presidente nacional do PT, Rui Falcão, o jornalista Ricardo Kotscho, o prefeito de Sao Bernardo, Luiz Marinho, o estudante de direito Frederico Haddad, filho do prefeito Fernando Haddad, e o ex-sindicalista Frei Chico, irmão mais velho do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, também assinam o documento.
Abalado com o julgamento e enfrentando problemas de saúde, Genoino pediu aposentaria por invalidez. O abaixo-assinado foi uma iniciativa de amigos de Genoino e foi disponibilizado em uma página de moradores do Butantã, bairro onde vive o deputado. O texto não faz nenhuma reivindicação específica, apenas uma defesa da reputação de Genoino.
“Estamos aqui para dizer em alto e bom som que José Genoino é um homem honesto, digno, no qual confiamos. Estamos aqui porque José Genoino traduz a história de toda uma geração que ousa sonhar com liberdade, justiça e pão. Estamos aqui, mostrando nossa cara, porque nos orgulhamos de pessoas como ele, que dedicam sua vida para construir a democracia. Genoino personifica um sonho. O sonho de que um dia teremos uma sociedade em que haja fraternidade e todos sejam, de fato, iguais perante a lei”, diz o documento.
Embora não tenha a pretensão de alterar o resultado do julgamento no Supremo Tribunal Federal, o abaixo-assinado é visto por pessoas próximas a Genoino como uma peça importante na estratégia de sobrevivência política do petista após o julgamento. Segundo amigos, o deputado que passou três anos preso na década de 70 por participar da guerrilha do Araguaia está abalado emocionalmente com o resultado do julgamento. Além disso, ele se recupera de uma operação cardíaca delicada. Por orientação médica ele tem evitado ler jornais e noticiários sobre o mensalão. Isso não impediu que um grupo de amigos fosse à casa dele na quinta-feira prestar solidariedade durante a sessão do STF que decidiria sobre os embargos declaratórios.