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quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Interpretacoes das RI da America Latina - Raul Bernal-Meza (Mundorama)



Concepts, ideas and methodologies in the interpretation of LatinAmerican international relations, by Raúl Bernal-Meza
International relations studies and analyzes foreign policy in Latin America during much of the first half of the twentieth century were dominated by the influence of international law and the visions of diplomatic history. The first scientific analytical approach was structuralism, based on the thought Prebisch-ECLAC. From there a debate between the new influences of American thought in international relations and the efforts of Latin American thinkers to study international relations from the perspective of political economy. In some ways, this debate, after sixty years, still continues. The drafting of a Latin American line of thinking on international affairs also had to face the influence of –and dependence on – foreign (mainly Anglo Saxon) theoretical and methodological reflections.
Authors from within and outside the region note that this is an issue of concern to any policy making that aim at a more autonomous international insertion. In Latin America there are currently three major lines of work on thinking in international affairs. The first one, whether having an own thinking in order to interpret reality and nature of the international insertion from our own perspectives make any sense; the second one is about the appropriateness of applying theories that are produced by the epistemic thinking of the “North” in the interpretation of the international system and in the analysis of foreign policy, given its higher level of sophistication; and the third issue is whether the theory produced in the core countries should be replaced by concepts developed by Latin American epistemology, according to the idea that they would better explain the nature of our foreign relations. In recent years there has been an interesting discussion between those who consider the use of theoretical and methodological tools from schools and lines of Anglo-Saxon thinking is right and positive, and those who rather consider that theoretical, epistemological, conceptual and methodological tools produced in Latin America should be used.
In Argentina, the socio-historical, structuralist political economy, and autonomic lines of interpretation participate, and in Brazil, with a predominance of history are the main representatives of the second group, in which influences of the English and French schools of international relations are also observed. Among the main criticisms that this group addresses the followers of Anglo-Saxon theories, it is argued that the US theory –for example, realism and idealism- replace the historical investigation of the facts for prescriptions and foundations of the theory. The authors who followed this line subsequently argued that the theory produced in intellectuals scenarios outside the region, when being incorporated in the interpretation of international relations in Latin America, reproduced the dominant ideology of the producing sources, and therefore an analysis of the international insertion and foreign policy from our own interpretations was needed, thus rejecting the theories developed in the core and implementing concepts that would enable substantiate and explain foreign policy.
In this debate, scholars influenced by the conventional American thought, criticize Latin American production because they assume that it does not claim to universality.
There are two errors in the view of academics who follow only American thought. The first is to believe that Latin American contributions do not claim to universality, which is false if we review structuralist ideas, the exemplary construction core-periphery (updated the global system at the stage of capitalism of the 1970s by Arrighi, and Wallerstein, which added to the semi-periphery analysis) and interest for autonomy against the hegemonic power, which is a concern with global reach. The second mistake is to assume that those who follow the political economy approach reject the entire American theoretical thought, which is also false, because many authors take the “institutionalism” and “constructivism” to better understand processes of international cooperation and integration economic and regionalism.
In the current context of international processes and against the rise of China as a great power, but especially by the structure of economic, trade, financial and political relations between the powerful and Latin America, the Latin American thought precedent still has much to contribute to better understand the new realities between the rising centers and peripheries and semi-peripheries. This also extends to the understanding of relations between the hegemonic power and decision-making autonomy. Recent Latin American contributions contribute to this goal, with new concepts, analytical categories, theoretical reflections and methodological contributions.
The transition from economic hegemony between new “cores” and the old peripheries, and the challenges imposed by the new political and security of the international system point out that the search for new theoretical and methodological approaches should follow scenarios to be a priority for analysts in international relations. Because all the international dynamics it leads to a permanent challenge between change and continuity.


Read the article:
Contact:
Raúl Bernal-Meza – Universidad Arturo Prat, Instituto de Estudios Internacionales, Santiago, Chile (bernalmeza@hotmail.com).

sábado, 4 de junho de 2016

Teorias de relacoes internacionais, blocos comerciais - Paulo Roberto de Almeida


Teorias de relações internacionais, blocos comerciais
Mais algumas questões colocadas por estudantes...

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 4 junho 2016, n. 2990.

Na continuidade do exercício anterior, figuram aqui mais algumas das questões colocadas quase um ano atrás, em relação a preocupações tipicamente estudantes, ou seja, teorias (sempre esses bizarros animais universitários, até mesmo científicos) e problemas do mundo real, como comércio, investimentos, vida prática...

Questões colocadas:
As [suas] posições econômicas (...) não poderiam ter ficado mais claras, mas gostaríamos de saber como [você] se enquadraria, por exemplo, nas teorias de relações internacionais. A [sua] aproximação (...) é realista, neo-realista (ou realismo estrutural), liberal ou construtivista? Pode parecer irônico, mas, pelo que eu vi nas respostas (...), acho que o marxismo é o que mais se aproximaria do que [você] defenderia, uma vez que (...) não vê os Estados como atores principais no cenário internacional.
Ademais, todo o mundo está se organizando em blocos econômicos. Você acha que o Brasil, sozinho, poderia enfrentar o mercado protecionista da União Europeia, NAFTA, etc.? Que poder de barganha teríamos para pedir a abertura deles, uma vez que abrirmos nosso mercado?

PRA: As perguntas colocadas (...) se desdobram em duas questões, totalmente distintas em sua natureza e problemática: de um lado temos um questionamento essencialmente teórico, ou acadêmico, a saber, como [eu me] posiciono em termos de teorias de relações internacionais, qual seria [minha] abordagem teórica na interpretação dessas relações, paralelamente a uma afirmação (aliás equivocada) segundo a qual [eu] teria uma postura teórica aparentada ao marxismo, por não privilegiar os Estados como principais atores do jogo internacional. De outro lado, uma questão prática, relativa ao posicionamento que (...) adotaria caso estivesse sob [minha] responsabilidade a definição da política comercial do Brasil num mundo (aparentemente) dividido em blocos comerciais, presumivelmente excludentes, ou protecionistas. Vamos tratar das duas questões separadamente, pois assim determina sua natureza respectiva.

Teorias de Relações Internacionais e partidos políticos
Existe aqui interpretação puramente acadêmica do papel dos partidos políticos em relação aos temas de relações internacionais. Os partidos políticos podem ter, pela postura de seus dirigentes, por suas opções programáticas fundamentais, pelas tomadas de posição nos debates parlamentares ou por suas responsabilidades ministeriais nos executivos, posições mais ou menos nítidas, ou fluídas, em relação aos principais temas da agenda internacional de um país. Mas raramente eles o fazem em função de teorias de RI que são simplesmente escolas de pensamento acadêmico que possuem escassa influência, se alguma, nos programas partidários e em suas posturas práticas, que se guiam mais pelas questões objetivas que se colocam ao país no cenário internacional do que por princípios teóricos, que são sempre vagos com respeito aos problemas reais. Em geral, partidos não se guiam por esses conceitos que dividem as escolas de pensamento em RI, ainda que os partidos possam ter posturas bem claras e definidas na área da política externa e em relação às principais questões da agenda internacional.
Assim, é possível afirmar, por exemplo, que um partido liberal adotaria, em princípio, uma postura aberta relativamente ao comércio internacional e aos movimentos de capitais, sendo potencialmente favorável a acordos de livre comércio, ao câmbio flutuante, à abertura econômica, aos investimentos estrangeiros, e a uma liberalização maior no que respeito a fluxos financeiros transfronteiriços. Um partido mais identificado com os pressupostos práticos do keynesianismo provavelmente recomendaria controles de capitais, intervenções do Estado nos mercados cambiais e certas restrições aos capitais estrangeiros. Um partido socialista clássico poderia ser, ainda teoricamente, totalmente favorável ao controle pelo Estado do comércio exterior, dos movimentos de capitais e das paridades cambiais. Mas tudo isso tem pouco a ver, e provavelmente nada a ver, com as escolas de pensamento em RI, que só encontram um suporte claro no âmbito das academias, que não são o terreno de atuação dos partidos.
A afirmação de uma suposta identidade [minha] com o marxismo, por uma alegada postura comum em relação ao Estado, tampouco encontra suporte na realidade.  [Eu] certamente privilegio um Estado menos ativo no plano econômico produtivo, mas não deixo de reconhecer o papel central dos Estados nas relações internacionais contemporâneas, qualquer que seja a escola teórica a que [eu] possa aderir (...). Não se trata de uma questão de escolas teóricas e isso não tem nada a ver com o marxismo, com o liberalismo, ou qualquer outra corrente de opinião ou movimento político. Os Estados são os atores principais das relações internacionais, ponto. Essa é uma realidade a que (...) não [se] pode escapar, por mais que [alguém] prefira um mundo de livres mercados, de intercâmbios não administrados por governos, de livre circulação de capitais e de mais liberdade para os investimentos estrangeiros.
Em conclusão para essa questão: se [eu] for convidado para um debate na academia sobre escolas de pensamento em RI, (...) não teria nenhuma preferência de princípio, pois se trata de [uma] questão que escapa às [minhas] preocupações práticas. [Acredito que possa], e deva ter, posicionamentos claros sobre questões internacionais em geral, sobre a política externa brasileira em particular, e sobre como a diplomacia pode e deve ser potencializada para melhor servir aos interesses do Brasil no plano externo e no das principais questões inscritas na agenda internacional quanto aos grandes temas: comércio, meio ambiente, segurança, cooperação, etc. Nenhum desses temas práticos [me] obriga (...) adotar qualquer escola de pensamento em RI, tanto porque essas escolas se referem a um debate conceitual que não é [o meu] terreno de atuação (...), já que [eu me] posiciono no terreno da prática, da ação externa governamental neste caso. Acredito que as diferenças tenham ficado claras.

O Brasil, o comércio internacional e os blocos regionais
Não parece correto dizer que “todo o mundo está se organizando em blocos econômicos”, ou pelo menos não absolutamente. Países específicos – primeiro na Europa, depois nas Américas – começaram a estabelecer zonas de livre comércio (como é o caso do Nafta, ou de dezenas de outros acordos de tipo no mundo, geralmente bilaterais ou plurilaterais), ou uniões aduaneiras (que é o caso da União Europeia, que já chegou ao estágio do mercado comum, e do Mercosul, ainda em formação), ou quaisquer outros arranjos, em grande medida de simples áreas de preferências tarifárias, ou seja, derrogação parcial e negociada de algumas tarifas, mas não todas. Todos esses arranjos são regulados pelo GATT, o Acordo Geral de Tarifas Aduaneiras e Comércio, atualmente administrado pela OMC, a Organização Mundial de Comércio, que hoje conta com quase 160 países membros.
Ocorre que é difícil negociar, nesse âmbito e com essa amplitude, acordos comerciais multilaterais – ou seja, abrangendo todos os membros – pois os países possuem interesses muito diversos, devido a seus níveis muito diferentes de desenvolvimento e de capacitação industrial (e, portanto, de competitividade). Daí a tendência de alguns poucos países, mais interligados por fluxos de comércio, de negociarem em escala restrita, acordos comerciais de liberalização, o que acaba discriminando contra os não membros. É o caso, por exemplo, da União Europeia, que protege seus mercados agrícolas, por meio de subsídios e tarifas altas, discriminando contra exportações brasileiras nessa área. O mesmo ocorre, com variações, no caso dos Estados Unidos, que também possuem certa proteção à sua agricultura e diversos mecanismos de subsídios internos à produção, e, em alguns casos, até à exportação de bens agrícolas. Tudo isso prejudica o Brasil, que possui uma pujante economia agrária, altamente competitiva e não subsidiada; mas é preciso igualmente afirmar que outros países em desenvolvimento, supostamente “aliados” do Brasil na luta contra os subsídios e mecanismos de proteção dos países ricos, como a China ou Índia, por exemplo, também possuem seus próprios instrumentos de proteção, de subsídios, e também defendem o mercado interno contra maiores exportações brasileiras.
O Brasil, junto com outros países, exportadores agrícolas não subvencionistas – como Austrália, Nova Zelândia, Argentina, Chile, e vários outros – vem tentando, no âmbito da OMC e em acordos comerciais bilaterais ou plurilaterais, desmantelar esses mecanismos de proteção e de subvenções, para abrir os mercados agrícolas à livre competição (embora o Brasil seja um grande protecionista industrial, por exemplo). Trata-se de um processo lento e difícil, que avança muito gradualmente, pois muitos países – inclusive o Brasil – colocam como critério essencial de suas posturas negociadoras a chamada segurança alimentar e o abastecimento do mercado interno preferencialmente pela produção doméstica. Os avanços são e serão muito lentos.
Aqui justamente se coloca a barganha possível: os países ricos pedem que, em contrapartida da abertura de seus mercados internos a maiores importações agrícolas, os países em desenvolvimento e grandes produtores agrícolas abram seus mercados aos produtos manufaturados, permitam maior liberdade de investimentos estrangeiros, concedam maior proteção à propriedade intelectual – inclusive, por exemplo, o fato de se chamar de Champagne exclusivamente o vinho espumante dessa região da França, e coisas do gênero. Toda barganha comercial é um jogo de ofertas e concessões, contra acesso a mercados para bens e serviços nos quais os países se julgam mais competitivos (geralmente nos mercados agrícolas, mas não todos, e nos bens industriais). Nem todos os países produzem banana, por exemplo, mas a maior parte deles pretende ter suas indústrias domésticas cobrindo o essencial da demanda interna.
[Acredito] – tanto porque essa é a experiência concreta dos países mais ricos, que são igualmente os maiores comerciantes do planeta – que um mundo aberto às trocas internacionais irrestritas, mercados livros, competição aberta (sem subsídios ou mecanismos de proteção) é mais suscetível de criar riquezas para todos. Existe uma correlação muito clara entre grau de abertura comercial e nível de renda per capita: quanto mais aberto ao comércio internacional é um país, mais rico ele se torna. O Brasil é um país especialmente fechado ao comércio internacional, tendo apenas 25% do seu PIB formado no comércio exterior, para uma média internacional que é quase o dobro disso; os países mais ricos, em geral, possuem um coeficiente superior a 60% do PIB.
As questões ficaram claras assim?

Paulo Roberto de Almeida
[Brasília, 4 junho 2016, com base no trabalho feito em Hartford, 3 de outubro de 2015]

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Teorias das Relaçoes Internacionais - Thales de Castro (apresentacao PRA)

Este livro acaba de ser publicado: 



Teoria das Relações Internacionais – Apresentação

Paulo Roberto de Almeida
Apresentação ao livro de Thales Castro
Teoria das Relações Internacionais
(Brasília: Funag, 2012)

A literatura brasileira no campo das relações internacionais não é, reconhecidamente, abundante em trabalhos teóricos, sendo bem mais prolífica em estudos de casos ou em análises e na história da política externa brasileira. Os poucos livros que comportam o termo “teoria” em seu título apresentam, na verdade, uma síntese das teorias mais correntes, e tradicionalmente consagradas, na academia americana ou europeia; eles dedicam-se, na verdade, a expor os méritos e insuficiências dessas elaborações conceituais, sem necessariamente conter uma aplicação concreta da teoria em causa ao caso brasileiro, ou sem oferecer uma teoria própria, adaptada ou adequada à situação do Brasil ou de outros países ocupando um locus semelhante no sistema de relações internacionais.
Por estes, e por muitos outros motivos mais, pode-se (na verdade, deve-se) saudar a publicação desta obra, cujos méritos são ressaltados a partir de uma visualização, mesmo que perfunctória, de seu próprio índice. Dispensemos aqui os clichês, no sentido de dizer que ela “preenche uma lacuna”, ou que ela “inova metodologicamente” no campo das relações internacionais, já que esses lugares comuns nada dizem e podem até representar um capitis diminutio em relação a uma obra ainda precoce, no contexto de seu público-alvo, mas já densa em suas diversas vertentes substantivas. Ela não preenche uma lacuna, pois que, para sermos exatos, esta obra ocupa todo um espaço, um campo inteiro, no domínio teórico das relações internacionais; para não dizer que ela lavora em terrenos pouco devassados pela academia brasileira, que prefere arar naqueles terrenos mais tradicionais apontados acima.
Outra consulta à bibliografia, ainda que rápida, confirma a amplitude do trabalho de pesquisa conduzido pelo autor, a imensa quantidade e a diversidade de leituras efetuadas, base de uma argumentação densa articulada inclusive com base em neologismos conceituais. O autor “conviveu” com teóricos, historiadores, analistas, observadores e praticantes das relações internacionais, ou melhor, da política internacional, já que é no terreno da prática que “sua” teoria proposta vem encontrar embasamento e sustentação na realidade. São inúmeros, não apenas os autores, mas também os exemplos retirados da prática dos Estados, ou melhor, dos homens de Estado, combinando técnica e arte das negociações, das pressões, das chantagens, da persuasão, quando não fazendo apelo à ultima ratio da guerra, para dirimir conflitos potenciais ou efetivos.
Esta obra promete firmar-se como marco teórico e reflexão analítica de primeira grandeza na parca literatura brasileira (e até internacional), oferecendo, em seus oito capítulos (distribuídos em cinco partes e dois livros e em dezenas de seções), uma visão abrangente do que vem a ser não apenas a teoria das relações internacionais, mas também a própria “ciência da política”, tão rica e tão volúvel nas mãos dos homens de Estado e nas plumas dos intelectuais que delas se ocuparam. A despeito de suas mais de 400 páginas, não se pense que o autor se declare satisfeito com uma obra que deve ser seguida por outras, já que ele declara expressamente que pretende continuar se debruçando sobre esses fenômenos complexos em trabalhos setoriais ulteriores, provavelmente uma série de reflexões ao longo de uma rica jornada de elaborações intelectuais que recebe aqui seu marco inicial.
Trata-se aqui, como também proposto explicitamente, de um esforço de interpretação que vem acompanhado de objetivos prescritivos, como, aliás, já presente nas obras de grandes sociólogos e cientistas políticos, da linhagem de um Raymond Aron e muitos outros. Por exemplo: o Brasil é descrito como país semiperiférico, mas dotado de elevado quociente de poder internacional, e por isso mesmo o autor não se limita a comentar teorias e propostas de teóricos dos países centrais, mas participa da, e contribui decisivamente para a, criação de uma teoria especificamente adaptada às circunstâncias e às peculiaridades de um país como o nosso.
Na verdade, reflexões teóricas e considerações práticas se entrelaçam neste livro que pode assustar o leitor iniciante pela sua terminologia (e também pela densidade analítica e pela “volumetria” dos argumentos), mas que certamente será capaz de satisfazer o pesquisador mais exigente nesse campo relativamente pouco explorado da academia brasileira. O autor vem a propor, criativa e provocadoramente, como ele mesmo reconhece, uma nova ciência, ou talvez um ramo da “ciência” das relações internacionais: a “internacionametria”, uma tentativa de quantificar e formalizar, com a ajuda do ferramental especializado da matemática e da econometria, os fenômenos mais correntes da política internacional.
Poder e dominação são dois fenômenos típicos das relações sociais, e também das relações estatais, que estão sempre presentes em qualquer sistema político, nacional ou internacional, e que permeiam qualquer nível de análise e de reflexão sobre os mecanismos de funcionamento das sociedades e dos Estados membros da comunidade internacional. Numa paráfrase, poder-se-ia dizer que o autor possui um imenso poder de síntese – o que, aliás, transparece na proliferação de citações e referências autorais – e uma capacidade exemplar de dominar o campo que ele se propôs examinar teoricamente, atributos que vão determinar a permanência estrutural de sua obra e sua provável transmutação em paradigma analítico da academia brasileira nesse campo de reflexão ainda relativamente rarefeito em nosso ambiente universitário.
Deve-se, assim, saudar como extremamente auspicioso o fato de estarmos em presença de uma obra ao mesmo tempo sólida, erudita e brasileira, no sentido mais amplo desses conceitos. Meus votos para uma longa jornada de realizações intelectuais no domínio da política internacional e a expressão de meu desejo de sucesso em todos os empreendimentos intelectuais ulteriores nos quais se aventurar este jovem autor tão prometedor no cenário nacional (e provavelmente internacional), no desafiador terreno da teoria das relações internacionais. Esta obra passa a ser referência nesse campo; que ela seja seguida de outras contribuições tão ricas quanto esta. Vale!

Paulo Roberto de Almeida
Diplomata de carreira, professor de Economia Política Internacional.
Autor de Relações Internacionais e Política Externa do Brasil (2012).
Brasília, outubro de 2011.

 Eis seu índice
LIVRO I – ESTÁTICA: ANALITICIDADE PONTUAL DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
PRIMEIRA PARTE - FENOMENOLOGIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Capítulo I. Fenômeno das Relações Internacionais
Capítulo II. Estatologia - teoria do Estado nas Relações Internacionais
Capítulo III. Cratologia - teoria do poder nas Relações Internacionais
SEGUNDA PARTE – METODOLOGIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Capítulo IV. Metodologia das Relações Internacionais como ciência autônoma
TERCEIRA PARTE – EPISTEMOLOGIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Capítulo V – Epistemologia das Relações Internacionais
LIVRO II – DINÂMICA: INTERAÇÃO E PRÁXIS DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
QUARTA PARTE – ONTOLOGIA E PRAXEOLOGIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Capítulo VI – Ontologia das Relações Internacionais
Capítulo VII – Praxeologia das Relações Internacionais
QUINTA PARTE – PARA ALÉM DE UMA TEORIA GERAL DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Capítulo VIII - Conclusões e perspectivas: novas fronteiras, velhos desafios e alémteorias
APÊNDICES






APRESENTAÇÃO – Prof. Dr. Paulo Roberto de Almeida, Diplomata
PREFÁCIO – Embaixador Fernando Martínez
INTRODUÇÃO
LIVRO I – ESTÁTICA: ANALITICIDADE PONTUAL DAS RELAÇÕES
INTERNACIONAIS
PRIMEIRA PARTE - FENOMENOLOGIA DAS RELAÇÕES
INTERNACIONAIS
Capítulo I. Fenômeno das Relações Internacionais
1.1 Configurações preliminares: o campo de estudo e sua importância
1.2 A relação sujeito-objeto: entre o monismo e o dualismo
1.3 A noção de pré-ordem e sua nomologia
1.4 Elementos constitutivos da pré-ordem
1.5 Ferramentas conceituais do saber internacional
1.6 Fenômeno e ciência: inteligibilidade das Relações Internacionais
1.7 Fenomenologia do nome – objetos propedêuticos do macroambiente:
comunidade, sistema, sociedade e cenário internacional
Capítulo II. Estatologia - teoria do Estado nas Relações Internacionais
2.1 Origens, constitutividade e operacionalidade – Os debates de primeira e de
segunda geração: formalidade e substancialidade do Estado
2.1.1 Sobre as origens do Estado
2.1.2 Teoria formal do Estado: Elementos constitutivos e reconhecimento
2.1.3 Teoria substancial do Estado: Estados falidos e os Quase-Estados
2.2 Taxonomia dos Estados sob o ponto de vista do desenho institucional
2.2.1 Forma de Estado: unitário, federal e confederal
2.2.2 Forma de governo: república e monarquia
2.2.3 Sistema de governo: presidencialismo, parlamentarismo e os
sistemas mistos
2.2.4 Regimes políticos: democracia, semidemocracia e autoritarismo
2.3 Morfocomposição: o (des)encaixe Estado-nação
2.3.1 Isocomposição e pluricomposição
2.3.2 Rupturas estatais: separatismo, irredentismo e desmembracionismo
2.4 Sobre geopolítica: a relação polis e locus nas Relações Internacionais
2.4.1 Princípios das escolas determinista, possibilista e da geopolítica
integralizada
2.4.2 Tipologia territorial do Estado segundo Renner e o estudo das
fronteiras em Ratzel e Vallaux
2.4.3. Quociente de maritimidade e o coeficiente de pressão de Supan:
aplicações e cenários
2.5 Relação entre política interna e externa: linkages e vetores
10
Capítulo III. Cratologia - teoria do poder nas Relações Internacionais
3.1 Dos fundamentos do poder
3.1.1 Poder no sentido amplo e restrito
3.1.2 Estruturas de autoridade
3.1.3 Semântica da contabilidade cratológica: passivo e ativo de poder
3.2.Condicionantes, premissas e mensuração cratológica: os capitais de forçapoder-
interesse (KFPI) e os padrões de dissuasão-normas-valores (PDNV)
3.2.1 Índices de mensuração do poder: O poder perceptível de Cline, o
índice de Organski-Kugler e o IEPG
3.2.2 A fórmula do poder internacional (PI) de Castro
3.3 A gramática do poder internacional: liderança, supremacia e hegemonia;
polaridade e lateralidade; governança e ordem mundial
3.4 Análises cratológicas futuras: da unipolaridade pura à unipolaridade híbrida;
da tripolaridade à multipolaridade hexagonal
3.4.1 Panorama cratológico no início do século XXI: novas e velhas
hegemonias, BRICS, G-8 e as Relações Internacionais
3.4.2 Previsões e radiografias cratológicas futuras: encaixe e difusão de
polaridades redefinidas
3.5 A espacialidade interrelacional: as esferas de influência e a teoria
gravitacional de poder
3.6 Taxonomia cratológica dos Estados: análise sobre a distribuição dos ativos
de poder mundial
3.6.1 Ciclos hegemônicos e os fatores para mudanças nas ordens
mundiais
3.6.2 As ondas de longa duração de Kondratief (K-cycles) e as
alternâncias de poder global
3.7 Ato e fato internacionais: correlações e dinâmicas
3.8 Isolando o objeto-ambiente de estudo: o conceito de sistemia (níveis de
análise)
3.8.1 Do foco no globo e nas regiões mundiais: a macrossistemia e a
mesossistemia
3.8.2 Do foco no Estado, nas suas unidades subnacionais e no indivíduo
(policymaker): a microssistemia e suas subclassificações
3.8.3 A noção de antissistemia e paragovernança global
SEGUNDA PARTE – METODOLOGIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Capítulo IV. Metodologia das Relações Internacionais como ciência autônoma
4.1 Metodologia das Relações Internacionais como ciência autônoma
4.1.1 Do método dedutivo cartesiano
4.1.2 Do método indutivo no experimentalismo de Bacon
4.1.3 Do método hipotético-dedutivo em Popper
4.2 Pesquisas em Relações Internacionais: manuseio das variáveis e propósitos
4.3 Posicionamento e relações com o Direito Internacional
4.4 Sobre teoria, modelo, realidade e discursos metateóricos
4.5 Notas sobre metodologia e a metarrealidade: os graus de aderência à
realidade (GAR)
4.6 Do racionalismo dogmático e do empirismo cético à síntese do criticismo
kantiano: base da cientificidade das Relações Internacionais
11
4.7 As funções de descrição, explicação, previsão e prescrição
4.8 Disciplinas das Relações Internacionais – o debate monodisciplinaridade
versus interdisciplinaridade; quantitatividade versus qualitatividade
4.9 Nova proposta: internacionametria e seus desdobramentos
TERCEIRA PARTE – EPISTEMOLOGIA DAS RELAÇÕES
INTERNACIONAIS
Capítulo V – Epistemologia das Relações Internacionais
5.1 Saber e epistemologia internacional: teorias, metateorias, premissas e
discursos
5.2 Da escola realista
5.2.1 Do realismo clássico: categorizações iniciais
5.2.2 Principais teóricos e premissas do realismo clássico
5.2.3 O realismo neoclássico de Morgenthau
5.2.4 O neorrealismo de Waltz
5.2.5 Debates pós-bipolaridade: o realismo ofensivo (pessimista) de
Mearsheimer e o realismo de choque civilizatório de Hungtington
5.3 Da escola do liberalismo e suas múltiplas vertentes
5.3.1 O liberalismo clássico
5.3.2 O liberalismo de vertente sociológica e da perspectiva
democrático-republicana (pax democratica )
5.3.3 O liberalismo de linha jurídica (Idealismo). Da jurisdicidade do
ideal. O “semidireito internacional”
5.3.4 O institucionalismo liberal-internacionalista (ILI) e o
neoliberalismo institucional
5.4 Da escola da economia política internacional (EPI) e seus campos
5.4.1 Historicidade e eixos da economia política internacional: da
interdependência complexa e do pragmatismo
5.4.2 Relações Internacionais, ideologias e doutrinas econômicas: breve
trajetória do mercantilismo, do capitalismo liberal, do marxismo e
do neoliberalismo
5.4.3 A economia política da dualidade integração-desterritorialização:
a União Europeia e seus desdobramentos
5.5 Da escola crítica (teoria radical) – pós-positivismo, neomarxismo e Relações
Internacionais
5.6 Da escola inglesa da sociedade internacional
5.7 Do construtivismo e seus postulados – o terceiro grande debate das Relações
Internacionais
5.8 Da escola pós-colonialista: análises discursivas e desdobramentos
5.9 Da escola ecopolítica: o ambientalismo e as Relações Internacionais
5.10 Debates paradigmáticos alternativos: gênero e pós-modernidade –
feminismo, relativismo e os sujeitos fragmentados na agenda das Relações
Internacionais contemporâneas
5.11 Do sintetismo de equilíbrio normativo dinâmico: nova proposta ao debate
teórico das Relações Internacionais
5.11.1 Fundamentos e propósitos
5.11.2 A orto-ontopraxia como conduta internacional (KFPI, PDNV,
Síntese e Possíntese)
5.11.3 Premissas maiores e menores
12
LIVRO II – DINÂMICA: INTERAÇÃO E PRÁXIS DAS RELAÇÕES
INTERNACIONAIS
QUARTA PARTE – ONTOLOGIA E PRAXEOLOGIA DAS RELAÇÕES
INTERNACIONAIS
Capítulo VI – Ontologia das Relações Internacionais
6.1 Debates conjunturais: atores, agentes ou sujeitos internacionais?
6.2 Tipologia dos atores internacionais
6.2.1 Atores estatocêntricos: O Estado e sua summa potestas como
cerne da dinâmica internacional – a competência primária
6.2.1.1 Estatalidade e suas dinâmicas derivadas: a
supraestatalidade e a infraestatalidade
6.2.1.2 A estatalidade redefinida no contexto dos desafios da
política internacional contemporânea
6.2.2 Atores não-estatais
6.2.2.1 Do segundo setor: as GCTs (Grandes Corporações
Transnacionais)
6.2.2.2 Do terceiro setor: as redes, a esfera pública não-estatal e as
ONGs globais
6.2.3 Atores individuais – a pessoa humana como agente-paciente
Capítulo VII – Praxeologia das Relações Internacionais
7.1 Breve dinâmica histórico-evolutiva (não-paramétrica) – convergência
multidisciplinar da práxis das Relações Internacionais
7.1.1 O sistema pré-westphaliano e a gênese de Westphalia: a Paz de
Augsburgo (1555)
7.1.2 O marco do sistema estatocêntrico westphaliano (1648) e as
ordens mundiais subsequentes
7.1.3 Os séculos XIX e XX: Entre Viena (1815), Versalhes (1919) e
Yalta (1945) – a construção das Relações Internacionais
contemporâneas
7.1.4 Final do século XX e suas relativizações pós-westphalianas
7.1.5 A summa potestas partilhada macroestatal, fragmentações e o
comunitarismo no século XXI
7.2 Espectro de comportamento e interação (ECI) dos Estados: alianças,
coalizões, apatia, distanciamentos e rupturas
7.3 A dialética irenè-polemos: O irenismo e a polemologia nas Relações
Internacionais
7.3.1 Da segurança internacional: entre a guerra, a paz e o status mixtus
7.3.2 Casus belli e o princípio de rejeição da monocausalidade dos
conflitos armados
7.3.3 Da institucionalidade garantidora da ordem mundial: papel e
atuação do Conselho de Segurança da ONU
7.4 Da práxis diplomática e consular – os órgãos do Estado nas Relações
Internacionais
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QUINTA PARTE – PARA ALÉM DE UMA TEORIA GERAL DAS RELAÇÕES
INTERNACIONAIS
Capítulo VIII - Conclusões e perspectivas: novas fronteiras, velhos desafios e alémteorias
APÊNDICES
APÊNDICE I – CÁLCULOS, EVIDÊNCIAS E APLICAÇÕES DA FÓRMULA DO
PODER INTERNACIONAL (PI) DE CASTRO PARA OS PAÍSES DO G-8
APÊNDICE II – PAÍSES-MEMBROS DA ONU EM 2011
APÊNDICE III - A POLÍTICA INTERNACIONAL PÓS-1945 E OS SECRETÁRIOS GERAIS DA ONU: SÍNTESE, CLASSIFICAÇÕES E ANÁLISES
APÊNDICE IV – DADOS GERAIS MACROSSISTÊMICOS: UMA RADIOGRAFIA
DO MUNDO PELA CIA WORLD FACTBOOK - 2011
APÊNDICE V – CRUZAMENTO DE DADOS ENTRE OS P-5, BRICS, G-8, G-20 E
IBAS
BIBLIOGRAFIA