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quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Analfabetismo funcional no Brasil - Antonio Matias


O desafio da alfabetização plena
Antonio Matias
O Estado de S.Paulo, 26 de julho de 2012

A publicação do Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf) 2011, pesquisa realizada pelo Instituto Paulo Montenegro/Ibope e pela Ação Educativa, evidencia um triste diagnóstico cujo conhecimento é de fundamental importância para mobilizar a sociedade a desenvolver estratégias que superem esse grave problema: o aumento de escolarização, embora tenha sido essencial nas últimas décadas, não foi suficiente para assegurar a alfabetização plena.
A análise da série histórica do estudo, que vem sendo realizado periodicamente nos últimos dez anos, mostra que apenas um em quatro brasileiros atinge nível pleno nas habilidades de leitura, escrita e Matemática. Ou seja, é capaz de ler e interpretar textos mais longos, analisar e relacionar suas partes, realizar inferências e sínteses, além de resolver problemas que exigem maior planejamento e controle.
Além disso, apesar de ter ocorrido uma redução do analfabetismo absoluto e da alfabetização rudimentar, só 62% dos que têm curso superior e 35% dos que têm ensino médio completo estão no patamar dos plenamente alfabetizados. Em ambos os casos, essa proporção é inferior à observada no início da década.
O Inaf também revela que um em cada quatro brasileiros que cursam ou cursaram até o Ensino Fundamental II ainda está classificado no nível rudimentar, sem avanços em todo o período, ou seja, consegue ler apenas textos curtos e fazer operações simples, como manusear dinheiro para o pagamento de pequenas quantias.
Olhar a estagnação dos dados de plena alfabetização entre 2001 e 2011 nos permite vislumbrar a situação de uma geração: são poucas as chances de um jovem que concluiu o ensino médio ter alterado na última década sua proficiência linguística, adquirindo, assim, condições para se desenvolver no mundo profissional e social e desfrutar todas as possibilidades de uma sociedade que exige cada vez mais capacidade de expressão e de absorção de conhecimento.
Importante valorizar a mobilização crescente que envolve os setores público, privado e as organizações sociais para que a educação pública se torne prioridade nacional, o que já está dando frutos. A ampliação do acesso ao ensino fundamental, a crescente inserção de programas de educação integral nas escolas públicas e a utilização de sistemas de avaliação que ajudam a estabelecer metas e a mensurar resultados de aprendizado foram pontos essenciais para o desenvolvimento de políticas públicas mais eficazes na educação.
Divulgado na semana passada, o National Assessment of Educational Progress , estudo do Programa de Política de Educação e Governança da Universidade Harvard que analisa 49 países, mostrou que o Brasil ocupa a terceira posição no ranking daqueles em que a qualidade do ensino mais avançou entre 1995 e 2009 (de 2000 a 2009 no caso brasileiro). Contudo os brasileiros continuam com desempenho inferior ao de países que tiveram até retrocesso na qualidade do ensino.
Os dados resultantes dessa pesquisa convergem com os resultados do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) em 2010, em que o Brasil ocupou o terceiro lugar em crescimento entre todos os participantes. Mas não se pode esquecer que saímos do penúltimo lugar, portanto, todos os esforços ainda não podem ser considerados suficientes para oferecer a crianças e jovens brasileiros educação pública de qualidade.
Não há dúvida de que a reversão desse quadro demanda dos investidores sociais privados sensibilidade para essa questão, tão essencial ao desenvolvimento humano. Exige ainda um olhar atento para aprofundar o entendimento dessas informações como ponto de partida para escolhas estratégicas de atuação, buscando sinergia e potencializando as intervenções, para evitar sobreposições e fortalecer áreas de ação conjunta.
A constatação de que o grande avanço na cobertura da educação nesta década não tem representado maior aprendizado nas competências de alfabetização plena aponta a necessidade de repensar formas de ensino para os que frequentam hoje as escolas públicas. Nesse ponto, institutos e fundações empresariais podem ser parceiros importantes do poder público, contribuindo com o desenvolvimento de metodologias inovadoras, aproveitando sua possibilidade de trabalhar com pequenos grupos, sem o compromisso inicial de ganho de escala.
É necessário ainda estruturar estratégias de mobilização social em favor do tema e fortalecer ações de advocacy junto ao poder público, com o intuito de contribuir para dar suporte a boas iniciativas políticas, que passam a ser respaldadas pela demanda qualificada da sociedade. Torna-se cada vez mais necessário, tendo em vista a busca por bons resultados educacionais, que os projetos sejam realizados em estreita parceria com os desenvolvedores e implantadores das políticas dessa área. Para isso é preciso repensar a forma de atuação, fortalecendo o trabalho junto às equipes técnicas das secretarias e deixando o protagonismo para as equipes responsáveis pelas escolas públicas. Vínculo e aproximação são palavras-chave para que a iniciativa privada realmente possa contribuir para os avanços necessários.
O conhecimento dos dados do Inaf aponta para uma reorientação importante na forma de atuação do investimento social na educação. Sendo essa a área de maior investimento privado no Brasil, a expectativa de resultados também deve ser grande. Para isso há que investir com foco em resultados, com a expectativa de gerar retorno. E o retorno social esperado do investimento na área educacional é, em primeiro lugar, a boa formação humana das novas gerações, garantido suas condições de desenvolvimento pleno. E nosso país só será plenamente desenvolvido se enfrentar seu mais importante desafio, fazendo da educação a grande prioridade nacional.
* VICE-PRESIDENTE DA FUNDAÇÃO ITAÚ SOCIAL, É MEMBRO DO CONSELHO DE GOVERNANÇA DO MOVIMENTO TODOS PELA EDUCAÇÃO

quinta-feira, 29 de março de 2012

O MEC confirma a pior das expectativas: sao as sauvas freireanas...


Sim, eu sei, eu escrevo coisas horriveis sobre o MEC, mas nenhuma que não tenha alguma justificativa nos fatos, e nos processos, que contemplo, à distância, como um espectador interessado no triste espetáculo da educação brasileira, uma tragédia anunciada muitos anos atrás, e que vai se prolongar pelo futuro indefinível vários anos à frente, para maior desgraça do Brasil.
Abaixo, transcrevo o que escrevi algumas meses atras, a propósito da posse do novo (des)ministro da Educação (talvez com "e" minúsculo seria melhor), aproveitando um editorial do Estadão, postado logo em seguida. Acho que preciso ratificar, e para pior, o que escrevi abaixo. E por que isso?
Bam, acaba de ser nomeado para uma das secretarias do MEC um militante da causa dos companheiros que sequer conseguiu terminar um curso superior (não importa qual), desde 21 anos que se inscreveu pela primeira vez numa universidade federal.
O fidelíssimo companheiro das causas justas deve ter ficado fazendo política companheira durante esse tempo todo, e agora é premiado com um cargo para a qual a competência técnica deveria primar, mas isso é o que menos importa para a política companheiro não é verdade?
No lugar da competência e da expertise, o que temos é a fidelidade companheira, sabuja, disciplinada, a todos os propósitos do gramscianismo anacrônico, na perfeita linha do comitê central (na mais pura tradição bolchevique, claro).
Aliás, o fato de que tenha sido designado um companheiro para uma secretaria do MEC, em lugar de um acadêmico competente, está de pleno acordo com a fraude que já presidiu à nomeação de seu chefe como primeiro ministro de Ciência e Tecnologia do atual governo, atual ministro da (des)educação, e que montou uma banca expressamente dedicada a atribuir-lhe, ao arrepio das mais elementares regras da moralidade acadêmica, uma titulação doutoral que desonra a UniCamp e todos os que participaram dessa verdadeira farsa (com perdão pela contradição nos termos, mas ela se aplica, cada vez que tratamos desse tipo de "coisa").
Creio que isso confirma que estamos afundando cada vez mais em matéria de educação. Com vocês, um post anterior, que merece upgrade e lifting, para empregar uma língua odiada pelos companheiros.
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Paulo Roberto de Almeida

sábado, 18 de fevereiro de 2012
MEC: um antro de sauvas freireanas e de "perdidos no espaço"

Acho que este editorial do Estadão, transcrito abaixo, peca por condescendência.
O novo ministro da Educação não é o novo regente do MEC, no máximo um ocupante desocupado, e um passageiro de ocasião, sem qualquer noção do que deve ser feito, e como deve ser feito.
O MEC, hoje, é uma montanha dessas fofas, construídas pelas formigas, neste caso uma espécie particular, as saúvas.
Lembram-se de Monteiro Lobato, aquele que dizia, 90 anos atrás, que "ou o Brasil acaba com as saúvas, ou as saúvas acabam com o Brasil"?
Pois bem, as saúvas não acabaram com o Brasil, pois a agricultura se modernizou e liquidou as malvadas.
Mas poucos sabem que as saúvas -- uma nova espécie, resistente -- se mudaram todas, de mala e cuia, se ouso dizer, para o MEC, e lá proliferaram de modo extraordinário; essas são mais duras de serem extirpadas: são as saúvas freireanas, ou seja, aquelas pedagogas -- e pedagogos também, pois idiotas é um adjetivo que não tem gênero -- que seguem o besteirol do supremo mestre idiota de todas as bobagens pedagógicas que fomos capazes de oferecer ao mundo desde os anos 1960, Paulo Freire, e que hoje ainda continua infernizando a vida de alunos, de mestres, de pais, de todo o Brasil.
Pois eu digo que, ou o Brasil acaba com as saúvas freireanas, ou elas vão acabar com o Brasil, como já estão acabando, há muito tempo, e prometem continuar fazendo estragos pelas próximas gerações, se deixarmos. Acho que vamos deixar...
Sou moderadamente pessimista quanto à economia brasileira, como sempre digo: acho que vamos continuar crescendo a taxas medíocres, graças à despoupança estatal e a todo o custo Brasil, que hoje se resume numa única palavra: o Estado. Sim é o Estado que se tornou um obstrutor do crescimento no Brasil, como constata qualquer um que tenha dois neurônios para observar a realidade brasileira.
Mas, sou ABSOLUTAMENTE pessimista quanto aos destinos da educação brasileira: acho que ela não só vai continuar ruim, péssima, horrivel, como vai piorar muito mais, tendente ao horripilante! A mediocridade tende a se instalar em todos os níveis, do kindergarten à pós-graduação.
Não digam que eu não avisei...
Paulo Roberto de Almeida 

O novo regente do MEC
Editorial O Estado de S.Paulo, 16 de fevereiro de 2012 

Desde que assumiu o Ministério da Educação (MEC), há três semanas, o ministro Aloysio Mercadante já deu várias entrevistas sobre as reformas que pretende promover numa das mais estratégicas áreas da máquina federal. Nessas entrevistas, ele falou muito e deixou claro que não tem projeto de gestão definido nem critérios técnicos para justificar a fixação de prioridades.

O novo ministro prometeu mudar a metodologia do Enem, adotando critérios mais rigorosos para a correção da prova. Disse que a escola não está "interessante" e que concederá bônus para as que alfabetizarem os alunos até os 8 anos. Também defendeu o uso de tecnologia digital pela rede pública de ensino fundamental e afirmou que o "arranjo social da sala de aula" e o quadro negro são do século 18, os professores são do século 20 e os alunos do século 21. "Nós, professores, somos analógicos e imigrantes digitais. Os alunos são nativos digitais. Não queremos um apartheid digital, como tivemos um apartheid educacional no passado."
Além disso, declarou-se favorável à aplicação de uma prova nacional de docentes, que definiu como instrumento de motivação dos professores que trabalham em redes municipais de ensino com baixo desempenho e em áreas de risco. Contudo, foi evasivo sobre o futuro do Plano Nacional de Educação (PNE), que está parado no Congresso há mais de um ano. A prova nacional é prevista pelo PNE, que estabelece diretrizes do setor para a década de 2010. Quanto a metas, o ministro disse que compartilha "a forma de ver" da presidente Dilma Rousseff. "Ela diz que sempre precisamos estabelecer metas como quem lida com arco e flecha: mira um pouco mais acima para acertar o alvo" (sic).
Questionado sobre as fontes de financiamento do setor educacional e sobre a reivindicação de associações de docentes, que pedem a elevação do investimento público em ensino para 10% do Produto Interno Bruto, Mercadante lembrou que o dinheiro poderá vir do pré-sal. "O que nós temos de novo para poder dar um salto é o pré-sal. Os royalties são para você preparar a economia pós-petróleo. Porque o pré-sal é uma energia não renovável. As futuras gerações não terão acesso. O que podemos fazer era vincular pelo menos 30% dos recursos do pré-sal para educação, ciência e tecnologia e fazer um grande pacto de que pelo menos durante uma década a prioridade vai ser investir em educação" (a citação do ministro da Educação é textual, segundo a versão do jornal O Globo da entrevista).
Com declarações vagas como essas, o novo ministro da Educação mostrou não ter o preparo necessário para o exercício do cargo, deixando os especialistas em pedagogia perplexos. Segundo eles, o País - que hoje tem cerca de 3,8 milhões de crianças e jovens fora da escola e padrões de ensino muito ruins - não pode esperar pelos dividendos da exploração do pré-sal para melhorar a qualidade de seu sistema educacional. Em outras palavras, condicionar o aumento do financiamento da educação ao pré-sal é apenas uma forma de furtar-se a uma definição sobre a questão fundamental do aumento dos investimentos de que o setor educacional tanto necessita. Por enquanto, eles deverão permanecer como hoje - ou seja, muito abaixo dos padrões necessários a uma economia competitiva e capaz de ocupar espaços cada vez maiores no mercado mundial.
Na realidade, a ideia de condicionar qualquer fonte de recursos para a educação ao pré-sal é absurda - a começar pelo fato de que os primeiros lucros da exploração desse tipo de petróleo demorarão décadas para aparecer. Até lá, se o Executivo não financiar com recursos próprios projetos de melhoria do ensino fundamental e do ensino médio, o Brasil terá perdido pelo menos uma geração. Além disso, Mercadante parece não compreender - o que demonstra surpreendente despreparo - que se o governo não começar a preparar desde já as crianças em idade pré-escolar, elas não terão a formação necessária para aprender matemática e ciências, os requisitos básicos de uma mão de obra capaz de trabalhar na exploração do pré sal e nos projetos de inovação científica e tecnológica inerentes àquele projeto.

sexta-feira, 23 de março de 2012

Manual do esperto oficial: a educacao tudo suporta

Como reclamar das universidades quando o MEC é uma fábrica de malversações e de erros monumentais na condução desse tipo de avaliação?
Paulo Roberto de Almeida 


 Mais 30 universidades são suspeitas de terem "inflado" as notas do Enade
O Estado de São Paulo, 23/02/2012

Ministério da Educação observou grandes disparidades nas notas das instituições.


Além da Universidade Paulista (Unip), outras 30 instituições são suspeitas de fraudes para inflar as notas no Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade), uma das ferramentas de avaliação do ensino superior. O Ministério da Educação (MEC) descobriu grandes disparidades nas notas dessas universidades de um ano para o outro.
 
Questionado, o MEC não revelou a lista das instituições. Também não há definição sobre quais serão as providências em relação a esses casos, mas o ministério afirmou que vai "agir com o mesmo rigor" que demonstrou com a Unip. De acordo com matéria publicada no jornal O Estado de São Paulo, o assunto tem sido tratado com cautela, porque a pasta não teria estrutura para uma intervenção mais decisiva em todas essas instituições.
 
Os casos não foram descobertos agora pelo MEC. Já eram conhecidos pela pasta ainda na gestão do ministro Fernando Haddad, que deixou o cargo em janeiro. A pasta não informou exatamente quando apurou as possíveis irregularidades e por que não tomou providências até agora ou se já pediu esclarecimentos às instituições.
 
As suspeitas recaíram sobre as universidades porque elas apresentaram melhoras consideradas incoerentes nos índices do exame. Esse salto nos índices foi o que ocorreu com a Unip.
 
Inflar - No início do mês, a Unip apresentou grandes saltos nas notas de alguns cursos. No curso de Nutrição, por exemplo, a nota subiu 207% do Enade de 2007 para o de 2010, muito acima da melhora na média nacional, de 25%. Segundo especialistas, seria impossível transformar e melhorar um curso superior em um prazo tão curto.
 
Para inflar as notas no exame, a Unip é acusada de lançar mão de um esquema para que apenas os melhores alunos façam a prova. Quanto menor o número de inscritos, melhor é o resultado da instituição. Estudantes de desempenho acadêmico médio para baixo ficam com notas em aberto na época em que as instituições devem fazer as inscrições dos alunos para o Enade.
 
Em 2010, estavam aptos a fazer o exame alunos do último ano que tivessem completado pelo menos 80% da carga horária do curso até o dia 2 de agosto. Com as notas em aberto, os piores não completam 80% da carga horária e só os melhores da classe fazem o exame.
 
A Unip nega selecionar os melhores alunos para os exames. Atribui a melhora no Enade à criação de uma comissão para analisar os cursos.
 
O MEC não sabe se as outras 30 instituições usaram a mesma estratégia da Unip, mas as suspeitas vão nessa direção. O Enade é feito pelos calouros e formandos do ensino superior para avaliar os estudantes. O exame também compõe o conceito de qualidade das graduações. Grande parte das universidades do País usam o desempenho no Enade em peças publicitárias para atrair novos alunos.
 
Mudanças - Após as denúncias, o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, alterou as regras do próximo Enade para tentar conter tentativas de fraudes. Além dos alunos que se formarem em dezembro de 2012, como previa a norma atual, terão de fazer a prova, em novembro, estudantes que concluírem o curso seis meses depois, em agosto de 2013. Isso resolveria o problema de postergar a formatura de um grupo de alunos por um semestre para fazer com que só os melhores façam o exame.
 
O MEC também estuda medida que diz respeito a alunos transferidos de uma universidade a outra no último ano da graduação. A ideia é fazer com que a nota do estudante seja atribuída à instituição onde ele estava originalmente matriculado. A medida visa a evitar que universidades reprovem em massa estudantes de baixo desempenho antes do Enade.

sexta-feira, 9 de março de 2012

Brasil dos companheiros: para tras, a toda velocidade...

Se há uma coisa que involuiu, no Brasil, esta foi a educação.
A julgar pelos esforços dos companheiros, ela ainda vai andar para trás durante vários anos.
E não só por causa deles, mas principalmente por causa deles.
Tem também as saúvas do MEC, as pedagogas freireanas.
A tragédia continua...
Paulo Roberto de Almeida


Agora, vai


O ministro da Educação, Aloízio Mercadante, criou as Diretorias de Políticas de Educação do Campo, Educação Indígena e Relações Étnico-Raciais.
Pelo jeito, só falta dinheiro na hora de cumprir a lei e pagar direito aos professores.

Educando menos
O editor Jayme Serva, da Neotropica, faz um comentário preciso sobre o esforço do Governo na Educação. Transcrevendo: "Nossos governantes são voltados prioritariamente para as políticas sociais, certo? Educação, por exemplo, certo?

Errado: a Universidade brasileira formou, em 2010, 24 mil pessoas A MENOS do que formou em 2004. ‘Ah, Jayme, seu elitista! O foco de um governo popular é o Secundário!’ Ah, bom! Pois entre 2003 e 2010, o número de diplomados no ensino médio caiu em média 0,5% ao ano. ‘Ah, Jayme, esses números são do Serra!’ Esses números são da Fapesp. ‘Pô, Jayme...’"

Da coluna do jornalista Carlos Brickmann, 09/03/2012

Tragedia educacional brasileira - uma historia real


Porto Alegre (RS), 16 de julho de 2011
 
Caro Juremir (CORREIO DO POVO/POA/RS)
Meu nome é Maurício Girardi. Sou Físico. Pela manhã sou vice-diretor no Colégio Estadual Piratini, em Porto Alegre , onde à noite leciono a disciplina de Física para os três anos do Ensino Médio. Pois bem, olha só o que me aconteceu: estou eu dando aula para uma turma de segundo ano. Era 21/06/11 e, talvez, “pela entrada do inverno”, resolveu também ir á aula uma daquelas “alunas-turista” que aparecem vez por outra para “fazer uma social”. Para rever os conhecidos. Por três vezes tive que pedir licença para a mocinha para poder explicar o conteúdo que abordávamos.
Parece que estão fazendo um favor em nos permitir um espaço de fala. Eis que após insistentes pedidos, estando eu no meio de uma explicação que necessitava de bastante atenção de todos, toca o celular da aluna, interrompendo todo um processo de desenvolvimento de uma idéia e prejudicando o andamento da aula. Mudei o tom do pedido e aconselhei aquela menina que, se objetivo dela não era o de estudar, então que procurasse outro local, que fizesse um curso à distância ou coisa do gênero, pois ali naquela sala estavam pessoas que queriam aprender' e que o Colégio é um local aonde se vai para estudar. Então, a “estudante” quis argumentar, quando falei que não discutiria mais com ela.
Neste momento tocou o sinal e fui para a troca de turma. A menina resolveu ir embora e desceu as escadas chorando por ter sido repreendida na frente de colegas. De casa, sua mãe ligou para a Escola e falou com o vice-diretor da noite, relatando que tinha conhecidos influentes em Porto Alegre e que aquilo não iria ficar assim. Em nenhum momento procurou escutar a minha versão nem mesmo para dizer, se fosse o caso, que minha postura teria sido errada. Tampouco procurou a diretoria da Escola.
Qual passo dado pela mãe? Polícia Civil!... Isso mesmo!... tive que comparecer no dia 13/07/11, na 8.ª (oitava Delegacia de Polícia de Porto Alegre) para prestar esclarecimentos por ter constrangido (“?”) uma adolescente (17 anos), que muito pouco frequenta as aulas e quando o faz é para importunar, atrapalhar seus colegas e professores'. A que ponto que chegamos? Isso é um desabafo!... Tenho 39 anos e resolvi ser professor porque sempre gostei de ensinar, de ver alguém se apropriar do conhecimento e crescer. Mas te confesso, está cada vez mais difícil.
Sinceramente, acho que é mais um professor que o Estado perde. Tenho outras opções no mercado. Em situações como essa, enxergamos a nossa fragilidade frente ao sistema. Como leitor da tua coluna, e sabendo que abordas com frequência temas relacionados à educação, ''te peço, encarecidamente, que dediques umas linhas a respeito da violência que é perpetrada contra os professores neste país''.
Fica cristalina a visão de que, neste país:
Ø NÃO PRECISAMOS DE PROFESSORES
Ø NÃO PRECISAMOS DE EDUCAÇÃO
Ø AFINAL, PARA QUE SER UM PAÍS DE 1° MUNDO SE ESTÁ BOM ASSIM
Alguns exemplos atuais:
· Ronaldinho Gaúcho: R$ 1.400.000,00 por mês. Homenageado pela “Academia Brasileira de Letras"...
· Tiririca: R$ 36.000,00 por mês. Membro da “Comissão de Educação e Cultura do Congresso"...
TRADUZINDO: SÓ O SALÁRIO DO PALHAÇO, PAGA 30 PROFESSORES. PARA AQUELES QUE ACHAM QUE EDUCAÇÃO NÃO É IMPORTANTE:CONTRATE O TIRIRICA PARA DAR AULAS PARA SEU FILHO.
Um funcionário da empresa Sadia (nada contra) ganha hoje o mesmo salário de um “ACT” ou um professor iniciante, levando em consideração que, para trabalhar na empresa você precisa ter só o fundamental, ou seja, de que adianta estudar, fazer pós e mestrado? Piso Nacional dos professores: R$ 1.187,00… Moral da história: Os professores ganham pouco, porque “só servem para nos ensinar coisas inúteis” como: ler, escrever, pensar,formar cidadãos produtivos, etc., etc., etc....
SUGESTÃO: Mudar a grade curricular das escolas, que passariam a ter as seguintes matérias:
Ø Educação Física: Futebol;
Ø Música: Sertaneja, Pagode, Axé;
Ø História: Grandes Personagens da Corrupção Brasileira; Biografia dos Heróis do Big Brother; Evolução do Pensamento das "Celebridades"
Ø História da Arte: De Carla Perez a Faustão;
Ø Matemática: Multiplicação fraudulenta do dinheiro de campanha;
Ø Cálculo: Percentual de Comissões e Propinas;
Ø Português e Literatura: ?... Para quê ?...
Ø Biologia, Física e Química: Excluídas por excesso de complexidade.
Está bom assim? ... eu quero mais!...
ESSE É O NOSSO BRASIL ...
Vejam o absurdo dos salários no Rio de Janeiro (o que não é diferente do resto do Brasil)
Ø BOPE - R$ 2.260,00....................... para ........ Arriscar a vida;
Ø Bombeiro - R$ 960,00.....................para ........ Salvar vidas;
Ø Professor - R$ 728,00.....................para ........ Preparar para a vida;
Ø Médico - R$ 1.260,00......................para ........ Manter a vida;
E o Deputado Federal?.....R$ 26.700,00 (fora as mordomias, gratificações, viagens internacionais, etc., etc., etc., para FERRAR com a vida de todo mundo, encher o bolso de dinheiro e ainda gratificar os seus “bajuladores” apaniguados naquela manobrinha conhecida do “por fora vazenildo”!).
IMPORTANTE:
Faça parte dessa “corrente patriótica” um instrumento de conscientização e de sensibilização dos nossos representantes eleitos para as Câmaras Municipais, Assembleias Estaduais e Congresso Nacional e, principalmente, para despertar desse “sono egoísta” as autoridades que governam este nosso maravilhoso país, pois eles estão inertes, confortavelmente sentados em suas “fofas” poltronas, de seus luxuosos gabinetes climatizados, nem aí para esse povo brasileiro. Acorda Brasília, acorda Brasil !...

P.S.: Divulgue logo esta carta para todos os seus contatos. Infelizmente é o mínimo que, no momento, podemos fazer, mas já é o bastante para o Brasil conhecer essa "pouca vergonha". As próximas eleições estão chegando!

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Miseria educacional brasileira: tres especialistas analisam...

Sou, como sempre digo, alguém moderadamente pessimista em relação à economia brasileira, ou seja, acho que vamos continuar crescendo a taxas medíocres, que é que nos permite um Estado extrator, extravista, espoliador, que arranca 38% da renda nacional, gasta 41%, não investe quase nada produtivamente, e só entrega serviços vagabundos, indignos do que pagamos para esse bando de assaltantes que tomou posse do Estado brasileiro, uma entidade que no passado já foi promotor do desenvolvimento (ou pelo menos do crescimento econômico), mas que atualmente se converteu em um elemento (um meliante, diríamos) obstrutor desse mesmo desenvolvimento (ou mero crescimento).
Bem, sou, portanto, um pessimista relativo em relação às chances de crescimento econômico.
Mas sou, leiam bem, um pessimista absoluto no que se refere à (má) qualidade da educação: acho que continuamos a caminhar pela via errada (graças às "saúvas freireanas" do MEC), e continuamos a afundar na mediocridade total no que concerne o funcionamento do aparelho (é o caso de empregar o mesmo conceito que o aparelho dos companheiros) educacional.
Enfim, não vou continuar pois não quero interferir na leitura deste artigo sobre os dilemas do ensino médio no Brasil, por três especialistas conhecidos.
Paulo Roberto de Almeida 



O CNE E O PESADELO DO ENSINO MÉDIO
João Batista Araujo e Oliveira, Claudio de Moura Castro e Simon Schwartzman
O Estado de São Paulo, 8 de fevereiro de 2012

Há um abismo separando o ensino médio no Brasil do que se faz no resto do mundo. Exemplo dessa distância é a Resolução 2, de 30 de janeiro de 2012, do Conselho Nacional de Educação (CNE). Ali se alarga o fosso que existe entre as elites brasileiras e o mundo das pessoas que dependem de suas decisões.
Comecemos com a realidade: muitos dos alunos que vêm da escola pública e entram no ensino médio não conseguem ler e escrever com um mínimo de competência. De fato, 85% chegam com um nível de conhecimentos equivalente ao que seria de se esperar para o 5.º ano. Desse total, 40% se evadem nos dois primeiros anos e menos de 50% concluem os cursos, com média inferior a 4 na prova objetiva do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e acumulando nas costas uma média de um ano e meio de repetência.
Além dos suspeitos usuais (por exemplo, mau preparo dos professores), várias pesquisas confirmam o que todos sabíamos: o ensino médio é chato! Os temas estão muito longe do mundo dos alunos, não permitindo que vislumbrem um bom uso para tais conhecimentos, e é descomunal a quantidade de assuntos tratados, não deixando entender nada em profundidade e obrigando os alunos a memorizar fórmulas, listas, datas e princípios científicos. O prazer do estudo é a sensação de entender, de decifrar os mistérios do conhecimento. Se as matérias fluem freneticamente, não há como dominar o que quer que seja. Convidamos o leitor a folhear um livro de biologia do ensino médio e contar os milhares de bichinhos e plantinhas citados.
Uma fração ínfima dos egressos de escola pública prossegue para o ensino superior. Para os demais é ensino técnico ou nada. Mas os que querem fazer ensino profissional precisam concluir primeiro a barreira do ensino médio. Ou, então, têm de estudar em outro turno, para aprenderem uma profissão. Isso contrasta com o que fazem muitos países, onde as disciplinas de cunho mais prático ou profissionalizante substituem as disciplinas acadêmicas – mantendo a carga horária.
Dos que vão para a escola técnica, dois terços estudam em instituições particulares pagas e sem subsídios públicos. São os cursos voltados para alunos mais modestos. Por que as bolsas e os créditos educativos não vão para os cursos que matriculam os menos prósperos?
Nos países desenvolvidos, o ensino médio tem três características. Em primeiro lugar, é diversificado, não existindo um currículo mínimo único ou obrigatório para todos. O grau de diversificação varia entre países, podendo ser diferente entre tipos de ensino médio e escolas. Muitas das alternativas oferecidas preparam para o trabalho. De fato, entre 30% e 70% dos alunos cursam uma vertente profissionalizante. A segunda característica é o ganho de eficiência. Com a existência de múltiplos percursos, os alunos podem escolher os mais apropriados para seu perfil e suas preferências. Assim, o índice de perdas é mínimo. Em contraste, a deserção ocorre com maior intensidade nos países onde há menor diversificação. A terceira característica é que, consistente com a diversificação, muitos países não utilizam um mesmo exame de fim de ensino médio, padronizado para todos. Os alunos tampouco precisam fazer provas em mais de quatro ou cinco disciplinas para obter um certificado de algum tipo de ensino médio.
O estilo gongórico da resolução do CNE dificulta sua compreensão. Por exemplo: “O projeto político-pedagógico na sua concepção e implementação deve considerar os estudantes e professores como sujeitos históricos e de direitos, participantes ativos e protagonistas na sua diversidade e singularidade”. Já que alguma força profunda empurra para esse linguajar, por que não publicar, simultaneamente, uma versão inteligível para o comum dos mortais?
E tome legislação: são quatro áreas de conhecimento e nove matérias obrigatórias – apelidadas de “componentes curriculares com especificidades e saberes próprios construídos e sistematizados” -, que são subdivididas, sempre na forma da lei, em 12 disciplinas. Não admira que os alunos abandonem os cursos. Como dizia Anísio Teixeira na década de 50, tudo legal, e tudo muito ruim!
Mas o pior está por vir. A resolução não define o que seja “educação geral”, mas no inciso V do artigo 14 afirma que “atendida a formação geral, incluindo a preparação básica para o trabalho, o Ensino Médio pode preparar para o exercício de profissões técnicas”. Instrutivo notar que a profissionalização é vista como um “pode”, e não como um caminho natural que alhures é seguido pela maioria.
Essa profissionalização se obtém adicionando 800 horas ao curso (o equivalente a um ano letivo). Ou seja, em primeiro lugar, é preciso sofrer as 2.400 horas da tal “educação geral”. Depois, para a profissionalização, são mais 800 horas de estudo. Na prática, os alunos dos cursos técnicos têm uma carga de estudos mais pesada do que os que fazem o acadêmico puro. Difícil imaginar maior desincentivo para a formação profissional. Nos países mais bem-sucedidos em educação os cursos técnicos têm carga horária igual ou menor que o acadêmico. Para valorizar o lado profissionalizante, o texto diz que o “trabalho é conceituado na sua perspectiva ontológica de transformação da natureza, como realização inerente ao ser humano e como mediação do processo de produção da sua existência”. Deu para entender? Traduzindo do javanês, é preciso aumentar a “educação geral”.
O novo ministro da Educação encontra-se diante de uma oportunidade ímpar. Ou seja, alinhar o ensino médio à realidade de seus alunos, de sua economia e à luz da experiência de quem fez melhor do que nós. Ou, então, perpetuar o genocídio pessoal e intelectual que caracteriza um ensino médio unificado e, por consequência, excludente.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Tragedia educacional brasileira: a farsa do computador a 100 dolares

Em 2005 ou 2006, quando eu trabalhava no Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, o guru da internet e promotor do programa "One Laptop Per Child", Nicholas Negroponte, visitou o presidente Lula e vendeu-lhe a ideia -- atrativa, mas equivocada -- do programa "um computador por criança", como a receita maravilha capaz de resolver de vez todos os problemas da educação brasileira.
O presidente ignorante, mas sempre adepto do stalinismo industrial, entusiasmou-se pela ideia, assim tão simples -- vejam vocês, não precisa mais nada, basta distribuir um computador a 100 dólares para cada criança e tudo estará resolvido -- e mandou fazer imediatamente. Os boçais que assessoram o presidente, na tal de inclusão digital -- outra bobagem monumental, que serve para dar cargos e dinheiro a companheiros analfabetos e a capitalistas espertos -- começaram imediatamente a se movimentar para fazer o tal de computador a 100 dólares.
Asi no más, sem qualquer estudo técnico de factibilidade, sem qualquer avaliação econômica, os companheiros decidiram premiar os capitalistas nacionais e encomendar algumas centenas de milhares de computadores a 100 dólares, para teste (depois seriam milhões, um para cada criança, claro).
Tentei argumentar, desde o início, que isso não iria JAMAIS resolver os problemas da educação brasileira, que isso era uma ilusão, que tecnologia, era apenas um instrumento, uma ferramenta, nunca a solução para problemas sistêmicos e estruturais, que estavam vinculados ao ensino, em si, não a simples métodos de aprendizagem.
De fato, me opus, frontalmente a esse programa, que achava – sempre achei e ainda acho – pernicioso para o ensino no Brasil, suscetível apenas de criar cargos, despesas, benesses para os burocratas no poder, e uma chuva de dinheiro para os capitalistas espertos.
Argumentei que o problema da educação brasileira não estava no hardware, nas ferramentas, e sim no software, no conteúdo, e isso nem mesmo o soft dos programas do tal de computador a 100 dólares, e sim o soft do professor, o simples conhecimento honesto, direto, das matérias, para transmitir aos alunos.
Argumentei ainda – e isso ainda antes de o programa ser deslanchado – que os capitalistas espertos diriam que não poderiam fazer o tal computador a 100 dólares, mas que poderiam fazê-lo a 200 dólares, desde que devidamente agraciados com isenções fiscais, proteção tarifaria, subsídios públicos, financiamento generoso, promessa de compra de tantos milhares, enfim, um programa inteiro para satisfazer capitalistas espertos, e que, no final, o computador iria sair a 300 dólares, mas que aí o Estado já se tinha comprometido a comprar tantos milhares (centenas de milhares) e que tudo isso iria sair muito caro.
[Nota sobre a matéria: Vejam o que ela diz: "Parte dos 150 mil laptops comprados pelo governo por R$ 82, 5 milhões está subaproveitada." Ou seja, cada computador custou mais de 300 dólares, ou bem mais de 500 reais...]
Argumentei ainda, encore et toujours, que esses computadores, se jamais fabricados a 300 dólares ou mais, seriam distribuídos sem critério a crianças – algumas milhares para teste, mas que depois políticos iriam reclamar e a benesse seria estendida a outras tantas dezenas de milhares – e que eles seriam usados para joguinhos e outras atividades lúdicas, mas jamais para educação – já que os professores estavam excluídos do processo – e que depois iriam se deteriorar nas casas e escolas dos alunos, por falta de software, por falta de interesse, por falta de tudo, e que seria um empreendimento inútil, portanto, mas altamente custoso.
Argumentei extensiva e intensamente contra esse tal de programa maluco, até o ponto da exaustão, provocando raiva e desprazer em meus companheiros de trabalho, militares que deviam acreditar nas benesses do capitalismo dirigista brasileiro, nesse stalinismo industrial que sempre caracterizou o Brasil, um stalinismo para os ricos, jamais para os pobres.
Sem argumentos para responder aos meus argumentos, eles responderam que o presidente tinha ordenado, e que tínhamos de cumprir. Argumentei em retorno que o presidente estava ABSOLUTA E RELATIVAMENTE ERRADO, e que tínhamos de fazê-lo ver que esse programa era uma ilusão absoluta, que jamais iria resolver os problemas da educação brasileira, necessitada de soluções mais simples e mais custosas – formação de professores, basicamente – e não de uma ferramenta que seria mal utilizada e perdida no caos total que era (e é) a educação brasileira, dominada pelas “saúvas freireanas” que são os funcionários do MEC, todos esses pedagogos e pedagogos absolutamente deformados pelas idiotices desse vendedor de ilusões que foi Paulo Freire.
Não preciso dizer que meus argumentos jamais foram aceitos, e que os companheiros prosseguiram com seu inútil, dispendioso, equivocado programa para premiar capitalistas espertos e companheiros mal intencionados (atrás apenas dos programas que o presidente mandava fazer, sem qualquer respaldo em estudos técnicos).
Um dia, um sistema de controle da racionalidade dos programas governamentais – que poderia ser o TCU – deveria fazer uma contabilidade de todas as bobagens cometidas ao longo do reino dos companheiros, de todo o custo imenso para a sociedade de programas equivocados, de todas essas bobagens cometidas contra o interesse público e o desenvolvimento nacional, alguns até sem aferição qualitativa ou qualitativa adequada.
Como aferir, por exemplo, o custo, absoluto e relativo, ou seja, o custo-oportunidade qualitativo, de programas idiotas como estudos afro-brasileiros e portunhol (sim, portunhol) obrigatórios no básico, de estudos de sociologia e filosofia obrigatórios no médio (um programa para marxistas desempregados), de todas as inutilidades “sociais” criadas por militantes ignaros e oportunistas espertos? A cifra deve montar a milhões, senão a bilhões de reais – quando computamos os programas para os capitalistas espertos – e os resultados são pífios magros, senão inexistentes.
Quero crer que este é mais um dos programas inúteis, custosos, totalmente equivocados. Quem paga o prejuízo?
Os companheiros idiotas que o conceberam, o presidente ignaro que mandou fazer, os capitalistas espertos que se oferecem para cumprir continuam por aí, sugando o dinheiro de todos nós e se apresentando como amigos da “inclusão social”. Idiotas completos é o que são.
Paulo Roberto de Almeida


Trocando nada por coisa nenhuma
domingo, 5 de fevereiro de 2012

Dilma Rousseff atrapalhou o programa "Um Computador por Aluno" apresentado pelo ex-presidente. A reportagem está no Estadão de ontem.
O projeto Um Computador por Aluno, apresentado com o costumeiro entusiasmo, (Vejam como sou dadivoso! deve ter pensado ele) - acabou virando sucata. Não só o projeto, mas muitos computadores que estão empilhados, quebrados e avariados.
Exemplos (péssimos exemplos):
Escola Basílio da Gama (Tiradentes-MG) - a internet não funciona, faltam armários e carteiras - avaliação encomendada pela Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE).
Santa Cecília do Pavão(PR) - Falta infraestrutura, não há capacitação adequada, e os professores "sentem a inovação como ameaça", palavras que estão no texto do relatório. Ameaça?!?  

Ao ser questionado sobre o desperdício, Aloizio Mercadante, que acabou de se transformar em ministro, entra em campo dizendo "Vamos mergulhar na reflexão". Anunciou a distribuição de tablets até o final de 2012. Pronto, está resolvido o problema.

Dilma trava programa de laptops de Lula

Relatório encomendado pela SAE avalia que situação do projeto Um Computador por Aluno ‘é caótica’

04 de fevereiro de 2012 | 20h 54
Marta Salomon, de O Estado de S. Paulo
Lançado com entusiasmo pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o projeto Um Computador por Aluno (UCA) praticamente foi abandonado na transição para o governo Dilma Rousseff. Parte dos 150 mil laptops comprados pelo governo por R$ 82, 5 milhões está subaproveitada. Há também registro de alto índice de laptops quebrados e avariados.
Dos 600 mil computadores oferecidos em 2010 a governadores e prefeitos, que supostamente dariam continuidade ao programa, pouco mais da metade foi comprada. O prazo da oferta venceu no final do ano passado e não houve nova licitação.
Na Escola Basílio da Gama, em Tiradentes (MG), os laptops do projeto continuavam encaixotados porque a internet não funciona e faltam armários e carteiras, relata avaliação encomendada pela Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE).
Em Santa Cecília do Pavão, no Paraná, outro dos cinco municípios alvo do projeto, a situação é "caótica", segundo o relatório ao qual o Estado teve acesso. Por falta de infraestrutura e sem capacitação adequada, os professores "sentem a inovação como ameaça", diz o texto do relatório, debatido reservadamente no governo.
"Vamos mergulhar na reflexão", reagiu o ministro da Educação, Aloizio Mercadante ao ser questionado sobre o destino do UCA. Na quinta-feira, o ministro anunciou da distribuição de tablets aos quase 600 mil professores do ensino médio, até o final de 2012.
"Começar pelo professor é mais seguro", repetiu o ministro Mercadante, marcando discretamente a mudança de rumo do programa de inclusão digital nas escolas.
Conclusão
Até aqui, o programa vem se comportando de forma errática, sugere o relatório encomendado pela Secretaria de Assuntos Estratégicos num contrato de R$ 1,7 milhão com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O trabalho investigou com profundidade o impacto da segunda fase do projeto de distribuição de laptops a 10.500 alunos de todas as escolas municipais e estaduais de cinco municípios pequenos em Estados diferentes.
"O desenho do projeto subestimou as dificuldades de apropriação da tecnologia pelos professores do ensino fundamental e médio em comunidades relativamente carentes, o que levou a um subaproveitamento do UCA em sala de aula", resume o relatório final da SAE de mais de 200 páginas.
Depois de um ano de implementação do projeto, os pesquisadores concluíram que cerca de 20% dos professores não usam o laptop distribuído pelo governo; 22% declararam não ter passado por nenhum tipo de capacitação.
"Muitos se sentiram humilhados e desmotivados", diz o relatório final do trabalho coordenado por Lena Lavinas, convidada por Mercadante para um debate, junto com outros técnicos, para avaliar o destino do projeto UCA. "Vamos espancar o projeto até a nona casa decimal", adiantou o ministro, repetindo a senha usada na administração Dilma Rousseff para preparar ações do governo.
Dificuldades
Problemas na capacitação dos professores foram mais agudos no município de São João da Ponta, no Pará. Lá, segundo o relatório, professores e diretores teriam manifestado decepção e desencanto.
"Os alunos, com a posse e o domínio sobre os equipamentos, usando-os a seu bel prazer, parecem revestidos de um poder que, somado à pouca capacitação dos professores e à falta de estrutura das escolas, confunde o processo ensino-aprendizagem, assombra e inibe a ação e a autoridade dos professores e diretores", analisa o relatório.
A avaliação não menospreza os aspectos positivos da distribuição de laptops. Parte dos alunos descobriu a informática por meio do UCA e a maioria aprova a inovação. "É impossível não se comover com o deslumbramento dos jovens e de alguns adultos, que se sentem definitivamente parte de um mundo novo, o mundo da era digital", relatam os pesquisadores sobre o uso dos laptops do UCA na praça central de São João da Ponta.
"Não há dúvida de que houve um processo de aprendizado sobre a inclusão digital, porém com custos elevados e efeitos aquém do esperado", resume.
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Comentário final PRA: O governo gasta mais de 82 milhões para comprar de maneira totalmente caótica 150 mil laptops, que permanecem subaproveitados, e depois gasta mais 2 milhões apenas para avaliar a burrice que fez? Eu já sabia desde o início que não iria dar certo.
Quanto a essa balela de inclusão digital, isso é besteirol de companheiro para justificar emprego público para não fazer nada e ainda custar mais alguns milhões para a sociedade.
Inclusão digital é ter computador barato para todo mundo -- o que poderia ocorrer se não houve uma tributação de 40% ou mais na cadeia setorial, e se não houvesse carteis na oferta de conexão, para que tudo custasse barato. Sendo barato o povo compra, e ele mesmo se inclui digitamente, sozinho, sem precisar de um bando de companheiros idiotas para lhe dizer como precisa se incluir digitalmente.
A estupidez dos companheiros, e a desonestidade econômica, são proverbiais.