O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

833) Nova debilidade vestibular: desta vez a UnB descamba para a burrice...

Depois do besteirol da UFRGS (vejam post 830, abaixo, neste link), a UnB também tem todo o direito de cometer o seu atentado à inteligência.
Apenas me limito a transcrever um post do Blog do Reinaldo Azevedo, 24.01.2008, substituindo as cores do seu blog pela indicação clara de quem escreve: UnB ou RA.

Esquerdopatia e burrice no vestibular na UnB

A Universidade de Brasília vai merecer, um dia, um estudo de caso. Em nenhuma outra instituição de ensino a esquerdização bocó foi tão longe. Basta lembrar que é o território de uma estrovenga chamada "O Direito Achado na Rua". Quem não sabe o que é deve procurar no arquivo do blog. Em síntese, é uma corrente de pensamento do direito que, na prática, manda a lei às favas em nome daquilo que os valentes consideram ser o justo e o legítimo.

A UnB fez vestibular. Trata-se de uma prova toda moderninha — e, com efeito, nada mais velho do que aquilo. Do candidato é cobrado o esforço supremo de dizer se as proposições estão certas (e, então, ele marca "C") ou erradas ("E").

Na página 12, o aluno é convidado a ler um texto. Em seguida, há oito questões (da 100 à 107) de interpretação. Acompanhem. A prova segue em vermelho (UnB), interrompida por observações minhas, em azul (RA).

UnB: O ano de 1979 pode ser tomado como marco da construção de uma nova ordem econômica mundial. Na seqüência, os governos de Thatcher e Reagan adotaram (linha 4) políticas neoliberais — privatização, desregulamentação e desmantelamento das conquistas sociais que estiveram na base do crescimento econômico com distribuição de (linha 7) renda que caracterizou os países do centro nos primeiros trinta anos do pós-guerra. E, com o fim do mundo socialista, elas tenderam a adquirir um âmbito (linha 10) efetivamente mundial. As políticas neoliberais abriram espaço para mudanças muito importantes que deram início a uma nova etapa de internacionalização do (linha 13) sistema capitalista, a fase do capitalismo mundializado.
Brasilio Salloum Jr. In: A condição periférica: o Brasil nos quadros do capitalismo mundial (1945-2000). Carlos Guilherme Mota (org.), op. cit., p.423-24 (com adaptações).

UnB: Julgue os itens que se seguem, tendo o texto acima como referência inicial.

UnB: 100 Na linha 9, o pronome "elas" retoma a idéia de "políticas neoliberais" (R.4).
RA: O aluno deve marcar C se quiser provar que não é um débil mental ou analfabeto. Não há ideologia nesse caso, só estupidez.

UnB: 101 Depreende-se do texto que a "nova ordem econômica mundial", que, como referido, teve no ano de 1979 seu marco inicial, reforçou as bases do Estado de bem-estar social surgido no pós-Segunda Guerra, ampliando-as de maneira global.
RA: O texto não é explícito, mas arreganhado, na afirmação de que a "tal nova ordem" desmantelou as conquistas sociais. O coitado do aluno deve marcar "E". De novo, é um teste de leitura ginasiano, ainda que o candidato ignore o assunto. O mais estupidamente divertido é a afirmação de que as políticas neoliberais só se expandiram com "o fim do mundo socialista" — logo, o mundo capitalista anterior, que o autor parecia até apreciar (aquele do "crescimento e da distribuição de renda") eram também, vejam só, conquistas indiretas do... socialismo!!!

UnB: 102 A China representa uma exceção ao "fim do mundo socialista" ao manter, ainda, seu regime de governo e sua economia alheia à possibilidade de investimentos externos.
RA: Deve ser "E", né, leitor amigo?, já que, como sabemos, a China é chegadita num investimento externo. E aqui surge um outro aspecto problemático da prova. Observem que a questão anterior busca verificar se o aluno entendeu o sentido do que está escrito. Feito isso, ele é conduzido, então, a uma espécie de armadilha, já que o texto de Salloum, por inepto, ignora a realidade chinesa.

UnB: 103 A fase do denominado "capitalismo mundializado", referido no texto, tem, entre seus fatores de expansão, o desenvolvimento da tecnologia da informação, que
propicia, por exemplo, o aumento na circulação de capitais.

RA: É Cêêêêêêê. Adoraria que a UnB definisse num livrinho o que entende, por exemplo, por "circulação de capitais". A tecnologia da informação não nos trouxe nada além dessa facilidade conferida aos capitalistas cúpidos e desalmados?

UnB: 104 No âmbito das mudanças decorrentes do que foi referido no texto como "nova etapa de internacionalização do sistema capitalista", observa-se a diminuição das disparidades socioeconômicas entre os países.
RA: É a mais dolosa de todas as questões. O aluno tem de responder "E" — ou seja, tem de asseverar que a afirmação está errada quando ela, de fato, está CERTA. A disparidade entre os países diminuiu brutalmente. A China saiu da fome para se tornar uma das maiores economias do mundo, aquela que mais cresce hoje. A Coréia do Sul se tornou uma potência econômica e exemplo de eficiência em educação e saúde. A Índia é uma das estrelas do mercado global. Só aí já estamos falando de um terço da humanidade.

UnB: 105 No Brasil, o governo Collor deu início às reformas neoliberais, concluídas nos anos do governo Fernando Henrique Cardoso com as privatizações da Vale do Rio Doce e da Petrobras.
RA: Pegadinha vagabunda. De fato, essa gente acha que Collor e FHC tocaram o projeto neoliberal no Brasil. Isso está em tudo o que é livro didático; isso é afirmado nos cursinhos de maneira obsessiva. Há dias, assistimos a uma campanha dos esquerdopatas para reestatizar a Vale do Rio Doce. Onde está o truque? A Petrobras não foi privatizada. E só por isso o examinador cobra que o aluno marque "E", embora torça para ele marcar "C"...

Unb: 106 Antecipando-se em cerca de uma década ao denominado socialismo do século XXI, do venezuelano Hugo Chávez, os governos de Menem (Argentina) e de Fujimori (Peru) adotaram ideais bolivarianos e teses socialistas.
RA: Está errado, claro! O aluno, aqui, tem de saber que Menem e Fujimori são dois porcos reacionários de direita, que nada têm a ver com o "grande" Hugo Chávez e seus "ideais bolivarianos e teses socialistas". A propósito: o que essa questão tem a ver com o texto?

UnB: 107 A dificuldade material de acompanhar os EUA com seu milionário projeto Guerra nas Estrelas, lançado por Reagan, foi fator significativo para a explicitação da
crise que levou ao desmantelamento da União Soviética.

RA: Que vontade de chorar ou de pegar o chicote! O aluno tem de marcar C, tem de dizer que essa porcaria está certa, embora seja uma mentira tosca, bisonha.
a - o projeto de Reagan não era milionário — pode-se dizer que era, sim, trilionário;
b – nunca existiu nada parecido com "Guerra nas Estrelas". Isso foi um termo criado pela imprensa anti-Reagan para dar um caráter delirante a um projeto de defesa;
c – de fato, o projeto original, bastante ambicioso, nunca saiu do papel;
d – o regime soviético já estava em crise, tanto que deu início à abertura, com Gorbatchev, e isso nada teve a ver com o tal Guerra nas Estrelas.

Por que o Brasil dá vexame em tudo o que é prova internacional? A resposta está no que vai acima. É a Universidade de Brasília, a mais petista das universidades brasileiras.

Por Reinaldo Azevedo, 16:01

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

832) Investindo em acoes da Apple...

Eu sou um macmaníaco fiel desde o começo -- só tive Macs em toda a minha vida informática, e posso dizer, não sei se com alguma ponta de orgulho, que NUNCA comprei um PC, DOS ou Windows based durante todo esse itinerário -- mas NUNCA investi em uma ação da Apple.
Talvez esteja ainda em tempo de fazê-lo, de acordo com os resultados abaixo:

"Announcing financial results for its fiscal 2008 first quarter, which ended December 29, 2007, Apple today posted revenue of $9.6 billion and net quarterly profit of $1.58 billion, or $1.76 per diluted share. These results compare to revenue of $7.1 billion and net quarterly profit of $1 billion, or $1.14 per diluted share, in the year-ago quarter. In attaining its highest revenue and earnings in company history, Apple shipped 2,319,000 Macs, a 44% unit growth and 47% revenue growth over the year ago quarter; sold 22,121,000 iPods, representing five percent unit growth and 17 percent revenue growth over the year-ago quarter; and sold 2,315,000 iPhones in the quarter."

831) Concurso do Itamaraty 2008: Correio Braziliense

Transcrevo abaixo matéria publicada nesta quarta-feira, 23 de janeiro de 2008, no jornal de Brasília, Correio Braziliense:

Diplomacia
Itamaraty espera recorde de inscritos em concurso

Correio Braziliense, 23 de janeiro de 2008, seção "Mundo".

Instituto Rio Branco anuncia novidades na prova de admissão para a carreira e prevê que mais de 8,6 mil candidatos façam o exame
Claudio Dantas Sequeira
Da equipe do Correio

Política de democratização do acesso ao Palácio do Itamaraty recebe críticas de diplomatas

O lançamento do edital do Concurso de Admissão da Carreira Diplomática (CACD) de 2008, na semana passada, reanimou a polêmica sobre o peso ideológico na formação dos novos quadros do Itamaraty. Diplomatas e acadêmicos consultados pelo Correio divergem sobre o caminho escolhido pelo chanceler Celso Amorim para “democratizar” o acesso a uma das carreiras mais elitistas do serviço público brasileiro. Nunca se ofereceram tantas vagas (115), e a cúpula ministerial espera bater o recorde de candidatos, superando os de 2007, quando 13.137 se cadastraram e 8.657 confirmaram a inscrição. Diplomatas estão sendo enviados a 20 capitais onde as provas serão aplicadas, para divulgar o concurso. Com a inscrição a R$ 120, a expectativa é que o Instituto Rio Branco (IRBr) arrecade R$ 1 milhão.

A surpresa também está no formato e no conteúdo das provas. Trata-se da sexta vez que o IRBr propõe mudanças no concurso. Começou com o fim do teste de francês, que voltou após protestos. Em 2005, a prova de inglês deixou de ser eliminatória. Todas as etapas apresentam novidade, como a redução da nota de corte da terceira fase: de 60% para 50%. Há quem diga que baixar a média nivela “por baixo” os candidatos. Outra alteração está no teste de segunda língua estrangeira, no qual o candidato poderá escolher entre sete idiomas.

Se no ano passado foram cobrados apenas francês e espanhol, agora sairá na frente quem tiver conhecimentos de alemão, árabe, chinês (mandarim), japonês ou russo — num esforço para cobrir o déficit de diplomatas com domínio dessas línguas. A primeira fase, ou Teste de Pré-Seleção (TPS), por exemplo, comporta sete matérias, em vez das quatro do ano passado. Recupera, dessa maneira, um perfil de provas aplicado na década de 1990. Na terceira, provas discursivas de história do Brasil, geografia, política internacional, inglês, noções de direito e direito internacional público, e noções de economia. O candidato poderá ser aprovado com aproveitamento menor em uma disciplina, desde que o rendimento seja compensado em outra.

“As mudanças evitam surpreender os candidatos com exigências que não sejam compatíveis com a própria natureza do certame”, esclarece o diretor do IRBr, embaixador Fernando Guimarães Reis (leia entrevista). A orientação de Amorim é para evitar os “concurseiros de plantão”. “A idéia é afastar quem não conhece a carreira a fundo ou não tem interesse”, avalia o diplomata Fábio Simão Alves, que entrou para o Rio Branco no concurso de 2007. Ele concorda com a democratização da carreira. “O Itamaraty está selecionando pessoas de diferentes origens sociais e de fora do eixo Rio-São Paulo-Brasília.”

Internet
Simão criou o blog dialogodiplomatico.blogspot.com, com dicas para candidatos. Na internet, os futuros diplomatas têm ferramentas para estreitar experiências. No Orkut, a comunidade “Coisas da Diplomacia” reúne 8,7 mil membros. O principal tópico é o Guia de Estudos, divulgado na segunda-feira pelo Rio Branco. Todos concordam que houve mudanças na bibliografia, algumas para evitar acusações de anti-americanismo ou ideologização contra o ministério. Um exemplo foi a retirada do livro Relações Internacionais do Brasil: de Vargas a Lula, de Paulo Vizentini. A obra era considerada “petista”.

“Celso Furtado, por exemplo, é uma referência metodológica, mas não serve para fundamentar uma história econômica”, disse à reportagem um diplomata. Doutor em história e professor do curso preparatório Clio, João Daniel Lima de Almeida não vê componente ideológico na escolha dos livros, mas acha que há títulos superados. “Os livros de Edgar Carone sobre história estão ultrapassados, têm mais de 30 anos e já foram revistos por outros historiadores”, avalia. Lima de Almeida considera infundadas as críticas sobre ideologização e cita a presença de autores considerados de direita, como José Murilo de Carvalho.

Entrevista - Fernando Guimarães Reis
Mudanças favorecem aposta na inteligência


Diretor do Instituto Rio Branco, o embaixador Fernando Guimarães Reis tem sido responsável por executar as polêmicas diretrizes emanadas pela cúpula do Itamaraty para a carreira diplomática. Em entrevista ao Correio, ele rebate as críticas às constantes mudanças no concurso de admissão. “O objetivo é tornar o processo mais isonômico, abrangente e democrático”, argumenta. Para Reis, a diplomacia brasileira precisa de “talento e conhecimento”.

O que há de novidade no concurso deste ano?
Ele mantém os traços fundamentais dos concursos anteriores, mas incorpora modificações que visam a torná-lo mais equilibrado e eqüitativo. Incorporaram-se à primeira fase todas as disciplinas cobradas na segunda (português) e na terceira (história do Brasil, geografia, política internacional, inglês, noções de direito e direito internacional público e noções de economia). As notas dessas provas passaram, a partir de 2005, a ser contabilizadas de forma conjunta. Isso favorece candidatos com formação mais ampla, permite que eventuais debilidades em alguma matéria sejam compensadas por desempenho acima da média em outras. Na terceira fase, houve redução do número de questões, do tempo de duração e da média para aprovação (de 60% para 50%). A prova da segunda língua estrangeira virou uma quarta fase, classificatória. Busca-se estimular e valorizar o domínio de diferentes línguas, sem enfraquecer o critério da isonomia.

Desde 2003, nenhum concurso foi igual ao anterior. Qual o objetivo dessas constantes mudanças?
As mudanças evitam surpreender os candidatos com exigências que não sejam compatíveis com a própria natureza do certame. Assim, pode-se afirmar que o concurso atual mantém alto grau de previsibilidade e, há décadas, concentra-se essencialmente no mesmo núcleo de disciplinas, que não diferem muito das que foram estabelecidas ainda no tempo do Império, no primeiro exame público para ingresso na carreira (1852). Por outro lado, a preocupação em conservar os traços básicos do concurso não deve redundar em imobilismo. As mudanças recentes têm o objetivo de tornar o processo mais isonômico, abrangente e democrático.

O concurso está mais difícil ou mais fácil?
O nível de exigência continua o mesmo. O que se tem buscado é uma sintonia fina na avaliação dos candidatos, de modo a torná-la cada vez mais adequada ao nível acadêmico do Curso de Formação do instituto e às futuras atribuições profissionais do diplomata. Para além da quantidade e da qualidade das informações cobradas nas provas, a avaliação privilegia a capacidade de raciocínio e argumentação dos candidatos, seu espírito crítico e sua maturidade intelectual. Não é por acaso que vem aumentando paulatinamente o número de candidatos com pós-graduação.

Na prática, o que significa “democratizar” a carreira?
A idéia foi a de ampliar o acesso para todos aqueles que tenham talento e conhecimento — é do que precisa a diplomacia brasileira. Exemplo: a ampliação de opções para a segunda língua estrangeira demonstra a importância dessas outras línguas nas atividades diplomáticas, seja como línguas de trabalho das Nações Unidas (árabe, chinês, russo), seja como línguas de importantes parceiros do Brasil no panorama internacional (japonês, alemão). No exame, o candidato deve demonstrar, sobretudo, que é capaz de pensar, isto é, de juntar idéias, que é o sentido etimológico da palavra inteligência. (CDS)

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

830) Vestibular da UFRGS: debilidade mental galopante?

Vejam a questão 24 da prova de história da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, versao 2008 (mas poderia ser qualquer ano a partir da Alca):

"24. Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas do texto abaixo, na ordem em que aparecem.

A América Latina ocupa posição periférica na economia mundial. Os países da região ora adotam políticas que reforçam esta sua posição, ora defendem propostas alternativas em relação às economias centrais.
Uma das políticas das economias centrais para manter a posição periférica dos demais países é a ...........; e um projeto internacional destinado a inibir as iniciativas de autonomia e integração dos países latino-americanos é .......

Aí a questão oferece as seguintes alternativas:

(A) neoliberal - o Acordo de Livre Comércio das Américas (ALCA)
(B) liberal - a Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL)
(C) populista - o Mercado Comum do Cone Sul (MERCOSUL)
(D) socialista - a Associação Latino-Americana de Livre Comércio (ALALC)
(E) nacionalista - a Organização dos Estados Americanos (OEA)
"


O candidato, é claro, deve assinalar a alternativa "A" se quiser "acertar".
Dispenso-me de comentar a debilidade implícita e explícita desta questão. Acho que a universidade brasileira não está caminhando para a decadência. Ela já está decadente há muito tempo, apenas não percebemos isto...

829) Crônicas de uma Viagem Ordinária (ou quase...) 3. De vuelta a la patria chica, malgré moi...

Crônicas de uma Viagem Ordinária (ou quase...)
3) De vuelta a la patria chica, malgré moi...


Paulo Roberto de Almeida
Punta del Este, Uruguai, 12 de janeiro de 2008

Sem que eu pretendesse, ou desejasse realmente fazê-lo, tive de render-me às evidências mais fortes da economia política argentina: fui mais uma vez “expulso” do país, em função das incertezas geradas por uma política absolutamente esquizofrênica de abastecimento e de organização de determinados mercados, tal como em vigor atualmente na pátria dos dois Kirchner.
A mesma política em vigor anteriormente sob o marido, de controle de preços e de “retenciones” – isto é, de impedimentos à exportação –, continua a ser operada agora pela esposa, que se faz chamar de “presidenta”. Essa política já provocou falta de produtos, mercados paralelos, aumentos preventivos de preços, desinvestimentos setoriais em atividades produtivas, mas tudo isso não deveria normalmente interessar um simples turista acidental, como eu, cabendo aos economistas argentinos fazer esse tipo de análise macroeconômica. Minha intenção inicial era apenas a de viajar de carro até o Chile, um país que não visito há cerca de 16 anos e que me parecia o mais “normal”, em termos de política econômica que possa existir numa América Latina que insiste em fazer experimentos já fracassados no passado.
Pois bem, parafraseando (mal) Pablo Neruda, confieso que he desistido...
Em lugar de atravessar o país a caminho da cordilheira, em um ou dois dias de viagem, desde Buenos Aires até Mendoza, de onde pretendia atravessa para o Chile, tive miseravelmente de fazer marche arrière, a caminho do Uruguai, país que conheço bem, por ter nele vivido no início dos anos 1990. Não pretendia voltar a ele agora, mas o destino nos prega peças inesperadas.
A razão, como todos podem adivinhar, foi falta de gasolina, não absoluta, mas potencial. Ainda na noite do dia 10 eu pretendia viajar direto a Mendoza, mas um relato de “terror turístico” me fez desistir. Um turista brasileiro, viajando de carro como eu, relatou as desventuras de um colega, retido durante três dias num vilarejo miserável qualquer bem no meio desse trajeto, impedido de seguir viagem por falta de gasolina (e, onde havia, não tinha eletricidade para impulsionar a bomba). Isso sem falar do desconforto da falta de paradas decentes – e de banheiros limpos, como já relatei em outra crônica – que tornam qualquer viagem de lazer um calvário federal (a expressão se aplica, neste país federalista).
Foi assim que decidi comprar uma passagem de primeira (não tenho certeza se o carro também “pagou” primeira), no chamado Buquebus, e atravessei o Rio de la Plata, em direção a Colonia del Sacramento, uma simpática cidadezinha fundada pelos portugueses no século XVII e várias vezes trocada de mãos, até ficar com os também simpáticos orientales. Dormimos lá mesmo, visitamos os museus e a cidade velha esta manhã, e viajamos a Punta del Este, depois de uma parada rememorativa em Montevidéu, visitando meu antigo edificio, a escuela Grecia, onde estudou meu filho (e que fez questão de se fazer fotografar frente a ela quase duas décadas depois).
Perto da Argentina, o Uruguai é um país assustadoramente “normal”. Enquanto escrevo, mais de 3hs da manha do domingo 13 de janeiro, está “todo mundo” passeando na Gorlero, a rua principal de Punta del Este, onde fica o meu hotel, um pequeno e despretensioso hotel médio em pleno centro da cidade (foi o que consegui achar, depois de peregrinar em dois ou três). A cidade tem muitos hotéis, dezenas de restaurantes, e quase nenhum parking ou estacionamento. Foi um sufoco achar lugar para o carro, concorrendo com centenas de veículos argentinos e brasileiros de todas as marcas e tamanhos (geralmente maiores e melhores do que o meu).
Para mim, está mais do que “normal”. Em qual outra cidade, eu disporia de livrarias abertas as 23hs? Comprei quatro livros, em questão de meia hora, antes de ir jantar no Garibaldi, um belo risotto ai frutti di mare. Não posso reclamar da decisão de entrar no que chamo, sem qualquer demérito, de “pátria pequena”, pois é isto o que o Uruguai representa, perto de um elefante e um cavalo, sem outros deméritos... Um pequeno país, mas bem organizado e preparado para o turismo, que constitui a sua segunda fonte de receitas, depois das vacas, ovelhas, cabras e outros animais de criação (inclusive os de passagem).
De um ponto de vista estritamente turístico, faz sentido este recuo, pois a “patria grande”, a Argentina, não me parece hoje um lugar muito saudável, ou normal. Lamento não ter chegado ao Chile, mas vou fazê-lo de avião, na primeira oportunidade, sem os inconvenientes de combustível, carnes, tangos démodés, e outros inconvenientes de um país que trata mal os seus próprios cidadãos. Eles talvez não tenham balas perdidas na Argentina, mas existem políticas “perdidas”, que por vezes causam tanto mal quanto...
Rio Grande, aqui me tens de regresso...
Punta del Este, 12-13 de janeiro de 2008.

domingo, 13 de janeiro de 2008

828) Concurso do Itamaraty, 2008

Concursos
O caminho do Itamaraty
Instituto Rio Branco abre inscrições de concurso para diplomatas
Zero Hora, Porto Alegre, 13 de janeiro de 2008

Dedicação, muita leitura, preparo psicológico para suportar uma rotina estressante de estudos e persistir mesmo após mais de uma reprovação, até ter sucesso. São essas algumas das prerrogativas para quem vai tentar a disputada carreira diplomática, começando como terceiro secretário no Instituto Rio Branco (IRBr), instituição de ensino ligada ao Ministério das Relações Exteriores.

Com inscrições abertas na próxima segunda-feira, a seleção já foi vencida por gaúchos como Rita de Curtis, 26 anos. Formada em direito e jornalismo há três anos e acostumada a estudar simultaneamente para dois cursos superiores, em 2005 decidiu que iria tentar a carreira diplomática. Pela imprensa, descobriu com um mês de antecedência que haveria seleção para o Rio Branco naquele ano e começou a se preparar para a prova de 2006. Em Brasília, fez curso preparatório. Reprovada na primeira fase do concurso, Rita voltou para Porto Alegre, onde ficou três meses, e seguiu estudando:

- Consegui bolsa de estudos em um curso no Rio de Janeiro. O curso preparatório é importante. É como um técnico para um atleta. Você se preocupa apenas em estudar, e alguém vai te orientando, dando dicas, passando os livros que são necessários ler.

Ela conta que chegou a estudar 14 horas por dia na preparação para algumas provas e aniquilou a vida social durante certo tempo para se dedicar à seleção. Foi aprovada em 2007. Muitos, porém, tentam meia dúzia de vezes até conseguir ou desistem pelo caminho.

Não menos sacrifícios fez Maurício Costa, 31 anos, formado em Letras, outro gaúcho aprovado na seleção do ano passado, na qual 8,6 mil pessoas concorreram a apenas 105 vagas - uma disputa de 82,5 candidatos por vaga. A aprovação veio depois de três tentativas. O horário de estudo disputava espaço com o trabalho e o mestrado.

- Meus cabelos branquearam naquela época. Não é fácil, mas é possível para quem se dedica. Eu sou de família humilde e sempre estudei em escolas públicas de periferia - diz Costa.

Hoje, além das atividades no IRBr, Costa dá aulas em um curso preparatório, em Brasília. Com dois amigos, criou um blog (dialogodiplomatico.blogspot.com) para ajudar quem quer seguir o caminho do Itamaraty:

- É para ajudar estudantes que estão fora dos grandes centros. Infelizmente, os cursos preparatórios específicos estão em Brasília, São Paulo e Rio.

Aberta a candidatos com graduação superior em qualquer curso, a seleção tem quatro etapas. A primeira será uma prova objetiva, em 27 de fevereiro, com temas como português, história, geografia, política internacional, inglês, noções de direito e economia.

- No conjunto das provas, procuramos avaliar muito mais a capacidade de articulação das idéias, verificar a maturidade intelectual do candidato do que fazer com que ele reproduza um conhecimento memorizado, inclusive na prova objetiva - diz o coordenador do concurso, Geraldo Tupynambá, do IRBr.
THIAGO COPETTI

O concurso
Prazo: 14 de janeiro a 14 de fevereiro
Cargo e vagas: terceiro secretário/diplomata (115)
Inscrições: pelo site www.cespe.unb.br/concursos
Taxa de inscrição: R$ 20
Informações: www.irbr.mre.gov.br
Carreira: o aprovado cursará o mestrado profissionalizante em diplomacia do IRBr e começará com salário inicial de R$ 7.751,97. Ao longo da carreira, fará cursos obrigatórios de aperfeiçoamento, podendo chegar ao cargo de ministro de primeira classe (embaixador).

As dicas de quem chegou lá
Não se limite a estudar uma ou outra matéria. É preciso ser bom em tudo.
Leia muito. De prioridade à bibliografia recomendada. Em três anos, até ser aprovado em 2007, Maurício Costa leu 87 livros, alguns mais de uma vez.
Esteja preparado para muito sacrifício. A resistência psicológica é tão importante como o estudo. Para reduzir o estresse, Rita de Curtis opta por não estudar nada na véspera.

Jornais e revistas são fundamentais para conhecer atualidades.
É preciso escrever bem e sobre tudo. Leia bons livros. Para quem está em Porto Alegre, Costa recomenda a biblioteca do Centro Universitário Metodista/Ipa (Cel. Joaquim Pedro Salgado, 80), que fica aberta 24 horas, incluindo sábados, domingos e feriados. Outra dica é utilizar as bibliotecas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Quando fez as provas, Costa encontrou toda a bibliografia nas bibliotecas da universidade.
No dia 21 de janeiro, o IRBr divulgará no site www.irbr.mre.gov.br um guia de estudos com orientação para as provas.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

827) Crônicas de uma Viagem Ordinária (ou quase...), 2

Crônicas de uma Viagem Ordinária (ou quase...)
2) Contrapunteo argentino del tango y de la carne...”


Paulo Roberto de Almeida
Buenos Aires, 9 de janeiro de 2008

Desfrutando de quatro dias em Buenos Aires, onde consegui chegar malgrado temores quanto à falta de gasolina – mas carecemos de banheiros limpos e de paradas decentes – dediquei-me a freqüentar as duas melhores coisas que esta capital federal (ooops) tem a oferecer: restaurantes e, sobretudo, livrarias. Volto ao turismo livresco-gastronômico depois, agora tenho de explicar a razão do meu ooops.
A expressão se aplica porque, segundo aprendi lendo o livro de Felix Luna – Breve Historia de los Argentinos – a Argentina padece de uma fatalidade geográfica que a condena ao centralismo de sua capital, porta obrigatória de entrada e de saída de praticamente tudo, o que pode ser uma maldição para o resto do país. Quem controla Buenos Aires, controla o país, e isso pode não ser bom para as províncias e seus caudilhos locais. O tirano Rosas, a despeito de teoricamente federalista e em luta contra os salvajes unitarios, acabou se rendendo às facilidades do centralismo de Buenos Aires e terminou escorraçado da capital federal pelas tropas do caudilho concorrente Urquiza, with a little help from his Brazilian friends. Felix Luna lamenta que a tentativa de se levar a capital federal para outro local, novo ou existente, tenha sido tão mal conduzida pelo presidente da redemocratização, Raul Alfonsin. Não sei se teria sido uma boa solução: eu estive lá alguns anos atrás e o local escolhido, Viedma (uns 400kms ao sul, na costa), não era nenhuma “Brasilia”: um frio de gelar os ossos, o vento cortante do mar penetrando até a alma. Teria sido uma Vladivostock sem qualquer charme...
Minhas incursões em livrarias tem sido moderadamente frustrantes. Num sebo velhíssimo no centro da cidade – La Libreria de Avila, calle Alsina y Bolivar, casa fundada em 1830, diz a propaganda – não encontrei quase nada de interesse para mim (história econômica, economia internacional, história regional etc.). Nas lojas modernas tampouco fiz a festa: comprei dois livros de história econômica mundial e a edição espanhola de Colossus, um ensaio histórico sobre o império americano, do historiador britânico Neill Ferguson (de quem já estou lendo, simultaneamente, Empire, sobre o império britânico, e The War of the World, sobre as mortandades do século XX). O Colosso também o era no preço: 89 pesos, ou seja, em torno de 25 dólares, quando eu o poderia ter comprado por apenas 4 ou 5 no maior sebo eletrônico do mundo (www.abebooks.com) e mesmo acrescentado 10 ou 12 de frete, ainda sairia mais barato.
As incursões gastronômicas tampouco representaram um prazer insuperável, se ouso arriscar o termo. Já não se fazem mais bifes de chorizo como antigamente, na Argentina, o que comprovei ainda agora à noite numa boa casa de tango tradicional (aliás, por um preço bem salgado). Fui à famosa “esquina Homero Manzi” – Av. San Juan, 3601, tel.: 4957-8488; www.esquinahomeromanzi.com.ar – do nome do famoso autor e compositor, que escreveu o belíssimo tango inspirado nesse local, chamado “Sur” (fui ouvindo no meu iPod, a caminho do local, na bela voz de Nelly Omar, que capturei na trilogia em CDs, The Complete Anthology of the Tango). Bem, o show era bonito, mas o meu bife de chorizo não valia, realmente, nem 10% dos 260 pesos pagos, individualmente, pelo espetáculo.
Lendo o La Nación do mesmo dia pode-se descobrir porque. O governo está empenhado em restringir as exportações de carne, para atender ao mercado local, que continua com preços controlados, ou pelo menos vigiados. “Doloroso adiós a las vacas” trazia a chamada de primeira página do jornal, com direito a matéria principal no caderno de economia. Segundo a matéria, “la crisis de la ganaderia por la intervención del gobierno y el boom de la soja siguen impulsando a los productores a cambiar de rubro. En Buchardo (sur de Cordoba), Benito Sánchez, que en 2003 ganó el Premio La Nación al Mejor Invernador, dejará de producir casi 2000 novillos por ano. Su campo será 100% soja y otros cultivos”.
De fato, a intervenção do governo, aqui na Argentina, como na Venezuela, está expulsando os produtores de suas atividades tradicionais, e eles simplesmente se refugiam em atividades (ainda) não controladas, ou se tornam rentistas, como acontece nesses países que praticam mais a cultura do déficit público do que a dos alimentos. A Argentina que já a maior exportadora mundial de carne e de processados de carne, nesse ritmo deve começar a importar carne do Brasil: a situação dos dois países nos mercados de processados conheceu uma exata inversão nos último anos, de 70 a 20% das exportações mundiais, num sentido e noutro. O mesmo pode estar se passando com outros setores, segundo leio.
Aliás, a inflação oficial, fechada em 8%, parece ser menos da metade da taxa real, segundo economistas. Não sei se foi por causa desse anúncio que encontrei hoje, ao ir a uma livraria, um pelotão de policiais em frente ao Instituto Nacional de Estadísticas y Censo, que parece ter sido obrigado a maquiar alguns de seus índices. O mesmo tipo de prática que parece estar vitimando o setor da carne se estende em outras áreas. O governo diz que não controla preços, apenas faz o seu seguimento. O mesmo jornal trazia a foto de um secretário fazendo a “visita” de postos de gasolina: o governo pretende que os distribuidores “retornem”, voluntariamente se entende, aos preços de outubro último, quando eles atualmente já estão 15 ou 20% mais altos.
Tenho a leve impressão de que vou novamente ficar sem gasolina para viajar, assim como os consumidores de eletricidade e de gás já começam a ficar sem o seu abastecimento habitual. A um calor de 40 graus, normal que alguns queiram ligar seus ventiladores ou o ar condicionado, o que provavelmente não será fácil. O inverno de 2007 em Bariloche foi, literalmente, sob a neve, na temperatura pertinente...
Acho que estamos, de novo, assistindo a um tango na política econômica, com a desvantagem dele ser bem menos vistoso do que aquele a que assisti esta noite, no chamado Boedo. Não posso reclamar das qualidades dos cantores e dos dançarinos, que eram realmente excelente, mas tudo me pareceu tradicional demais, como se a Argentina tivesse parado no tempo. As moças com seus reluzentes vestidos de paetês, com algo mais a mostra do que no passado, talvez, mas os rapazes com aquele ar de filme preto e branco, cabelos gomalinados, bigodinhos finos recortados, sapatos de verniz e ternos ridiculamente antiquados...
O poeta-escritor inspirador do local onde fui ver ao show, Homero Manzi, é homenageado por uma bela frase sob sua foto, na parede: “Tuve que eligir entre ser hombre de letras y escribir letras para los hombres”. Ele escolheu bem, pois deixou tangos inesquecíveis.
Meu problema atual é que não posso escolher deixar de comer carne – que está aquém da qualidade dos tempos de Manzi – para me abastecer de gasolina: uma e outra estão submetidas à tradicional política econômica esquizofrênica de um governo que se pretende reformista e nacionalista.
Acho que minhas férias vão continuar kirkegaardianas, isto é, angustiantes. Por falar nisso, o sucesso do momento nas livrarias locais é o “repeteco” de um exercício de psicanálise dos argentinos, por Marcos Aguinis: El atroz encanto de ser argentinos, 2 (acho que vamos ter muitos volumes mais...)

Buenos Aires, 9-10 de janeiro de 2008

domingo, 6 de janeiro de 2008

826) Cronicas de uma viagem ordinaria (ou quase...), 1

Crônicas de uma Viagem Ordinária (ou quase...)
1) “Expulso” (or like) da Argentina

Paulo Roberto de Almeida
Uruguaiana, RS, 5 de janeiro de 2008

O historiador Caio Prado Júnior dizia que viajar pelo Brasil representava um passeio por cinco séculos de história econômica. Pois eu acho que viajar pela América Latina pode representar um passeio por várias escolas de políticas econômicas, como explico logo adiante.
Comecei estas crônicas de uma viagem que deveria ser “ordinária” – no sentido de anódina, isto é, mais uma dentre dezenas, ou centenas de viagens de carro que já fiz em vários continentes, como a melhor forma de se conhecer lugares, pessoas, problemas – na praça central de Uruguaiana, RS, dominada por uma grande estátua do nosso “santo protetor”, o Barão do Rio Branco, ao canto da qual eu degusto uma belo filé acebolado, embalado por músicas pretensamente românticas e certamente cafonas, do estilo: “Meu amor, não jogue fora/Um amor que lhe adora...”, ou então, “No olhar de uma pedra falsa/eu pensei que era uma jóia rara/e era só uma bijoteria [sic]”...
Mas como é que, tendo partido para uma longa viagem pela Argentina e pelo Chile, eu me reencontro de volta ao extremo oeste do Rio Grande do Sul? Se ouso dizer, fui “expulso” pela política econômica, ou algo assim. Explico.
Pouco antes de partir de Brasília, tendo adquirido alguns meses antes um veículo dotado de motor Flex – mas utilizando única e exclusivamente álcool até há pouco, obviamente pelo diferencial de preços –, minha preocupação imediata era a de saber que tipo de gasolina eu deveria colocar no tanque do meu Flex, se normal ou super. Eu não estava preparado, contudo, para não usar nenhuma gasolina, ou melhor, nenhum tipo de combustível, um pouco como naquela história do cavalo inglês, cujo dono o estava ensinando a viver sem comer, mas que, quase acostumado, veio infelizmente a falecer...
Pois foi o que me aconteceu, nem bem entrado na Argentina, via Puerto Iguazu, ao ser confrontado, logo mais adiante (a partir de Posadas, supostamente a terra natal do Ché Guevara), com a falta total de gasolina nos postos da cidade e da estrada. Fui confrontado, em toda a província de Misiones, com uma discriminação tão odiosa quanto ilegal, pois que o único posto que dispunha de gasolina, na Ruta 14, a caminho de Buenos Aires, estava recusando-se a vender para “carros de placa estrangeira” (eufemismo para placas brasileiras). Não adiantou eu alegar que já tinha entrado na Argentina desde a fronteira do Nordeste e que planejava viajar até Buenos Aires, não contrabandear “nafta” para revender a preços mais altos do lado brasileiro, fui colocado no grupo dos “aproveitadores”, o que nos deixa sonhadores sobre a tão prioritária política de integração no Mercosul, entusiasticamente sustentada pelo governo brasileiro.
Tendo planejado seguir a Ruta 14 até Zamora, e daí seguir para Buenos Aires, com alguma parada pelo caminho – talvez na terra daqueles “terroristas” argentinos anti-uruguaios de Gualeguaychu, que vivem bloqueando a ponte com o pobre Uruguai depois que este país decidiu receber uma fábrica estrangeira de celulose, nas margens do rio Uruguai – fui obrigado, assim, a retroceder para o território brasileiro, pelo simples fato de poder ficar na incômoda situação do “cavalo inglês”. Comecei a refletir sobre a natureza das políticas econômicas dos nossos países latino-americanos, pois isso me lembrou outras carências de mercadorias, no plano nacional, ou o recorrente vai-e-vem que ocorre nas nossas fronteiras comuns por causa de políticas cambiais contraditórias, quando não insustentáveis, que deslocam o comércio “formiga” – às vezes nem tão formiga assim – alternativamente de um lado a outro da fronteira, segundo os preços relativos nos produtos essenciais.
Aprofundei a reflexão ao dar carona a um guarda patrulheiro argentino, na saída de Posadas, ao parar num posto da Gendarmeria para pedir informações sobre como conseguir gasolina naquela situação. Não tive nenhum conforto daquele lado, mas o simpático policial, que devia alcançar, por seus próprios meios, seu posto de plantão 40kms mais adiante, me aconselhou a retornar ao Brasil, o que fiz pela fronteira de Santo Tomé-São Borja, atravessando a “flamante” ponte da “integração”, sobre o rio Uruguai, no que seria, supostamente um centro de controle integrado do Mercosul (não vi absolutamente nada de integrado, apenas um soldado argentino, que anotou meu passaporte).
Terminou assim, não tão melancolicamente, meu quarto dia de viagem, desde a saída de Brasília, no dia 2 de janeiro de 2008, fazendo um primeiro trajeto até Marília, no interior de São Paulo. Dali até Foz de Iguaçu correu tudo bem, a despeito das tarifas extorsivas do pedágio paranaense, para estradas medíocres com muitos poucos trechos duplicados, o que, no entanto, não me coloca do lado do MST, que tem promovido ocupações violentas dos postos de pedágio daquele estado, para protestar contra esse tipo de “extorsão” (apenas constato como os nossos estados andam falidos, e como o governo federal não cumpre suas obrigações, a despeito de contarem, um e outro, com o Ipva e com a Cide, respectivamente). Foz do Iguaçu foi uma excelente estada, com um bom hotel, bela visita às cataratas e à represa de Itaipu, o que prometia uma excelente continuação do lado argentino.
Qual não foi a minha decepção: estrada razoável, do lado argentino, mas paradas medíocres, para não dizer lamentáveis. Simplesmente não encontrei um único posto decente em toda a extensão: sem falar da falta de gasolina, banheiros sujos, quando existentes, ausência completa de algum café decente, ou simples snacks, no que constitui o “Nordeste” argentino, que talvez não esteja muito distante de um outro Nordeste. Minha constatação é que a Argentina simplesmente não avança, como, por exemplo, o Brasil se moderniza, a despeito de tantas desigualdades sociais. Ela continua a recuar, a decair, a afundar na mesmice. Constatei isso pelo hotel de Posadas onde me hospedei, supostamente o melhor da cidade, segundo o meu guia: coisas da época do Ché Guevara, literalmente... para preços não de todo moderados.
A despeito da decadência, a Argentina ainda tem uma população bem mais educada do que a do Brasil. Constatei isso a conversar com o nosso simpático policial caroneiro, durante os 40 kms que percorremos a partir de Posadas. A despeito de sua condição modesta (sueldo de 1.500 pesos, segundo ele, para uma família de três filhos), ele tinha um espanhol perfeito e uma razoável compreensão do país e do mundo, como pude verificar pela nossa conversa em torno das dificuldades atuais do seu país. Não faltou o inefável Chávez na nossa conversa, que aparentemente está levando “toda nuestra buena leche” (em troca da compra de títulos da nova dívida argentina, eu lembrei-lhe), além de outros problemas típicos da “economia política chavista”: falta de produtos, inflação e coisas do gênero.
Será que nossos países sul-americanos são capazes de repetir os mesmos erros do passado? Aparentemente sim, pois governantes irresponsáveis insistem em fazer apelo às mesmas medidas de controle de preços que já foram provadas ineficientes em outras épocas, mas que rendem ]dividendos eleitorais durante algum tempo. Patético – para não dizer trágico – esse recurso a políticas absolutamente erradas no plano macroeconômico e esse desestímulo geral, no plano microeconômico, à atividade empresarial e de investimento produtivo.
Digo isto porque o que me “expulsou” da Argentina – aliás para um Brasil que me pareceu bem melhor do que julgamos, quando estamos apenas aqui dentro – não foi a discriminação de um ou outro dono de “gasolinera”, ainda que isso de fato ocorreu (mas tendo a “compreender” os reclamos argentinos): o que me “devolveu” ao Brasil foi uma política irracional de preços do setor (e um pouco em todas as demais áreas, também), e de desestímulo aos investimentos produtivos, por parte de um governo que pretende estar recuperando a Argentina dos sombrios tempos de crise cambial e de derrocada completa de seu sistema econômico.
Na praça central de Uruguaiana, onde terminei de degustar o meu bom bife brasileiro, comecei a refletir sobre o ciclo do “eterno retorno” de nossas políticas econômicas, essa sensação de “déjà vu” no plano dos abusos contra a racionalidade mais elementar. O Brasil, aparentemente, está a salvo, embora eu não esteja muito seguro disso, das formas mais extremadas de aventureirismo econômico e de irresponsabilidade política, embora nossos políticos não pareçam ser muito diferentes dos colegas argentinos (nisso o Mercosul caminha para a integração). Espero não ter novos motivos para outras “crônicas da penúria” como esta (coisas que conheci no velho socialismo real, e no Brasil de outros tempos).
Aliás, não contei que desisti de um passeio às ruínas jesuíticas de San Ignácio justamente por causa desse prosaico problema “naftalino”. Até cogitei, em certo momento, de atravessar o rio Paraná e dirigir-me ao Paraguai, não para visitar outras missões jesuíticas, mas simplesmente para comprar gasolina, mas conclui que seria inútil: provavelmente, metade da população de Posadas estaria fazendo o mesmo naquele momento, o que só me atrasaria na viagem.
Voltei pois ao Brasil, depois de já ter guardado cartões, dinheiro e talão de cheques. Não foi mau, mas não pretendia esta mudança no meu roteiro de viagem. Amanhã volto à Argentina, com o carro devidamente abastecido no Brasil – a preços de mercado, diga-se de passagem – e espero chegar ao meu destino.
Vou continuar a refletir sobre nossa história econômica, ao logo das próximas três semanas. A América Latina continua pródiga em experiências de todo tipo...

Uruguaiana, 5 de janeiro de 2008
-------------
Paulo Roberto de Almeida

segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

825) Um ataque idiota a um texto sobre os idiotas do mundo...

Acredito que os idiotas do mundo são em número ainda maior do que se pensa: eles estão disseminados por toda a parte, inclusive na venerável Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, as famosas "arcadas" de São Paulo, hoje integrada à USP (que tem também, assim, a sua quota de idiotas, por mais surpreendente que isso possa parecer).
Eu havia escrito, tempos atrás, um texto provocador, que se interrogava se estava aumentando o número de idiotas no mundo. Dizia que sim e não, pois é um fato que mais e mais pessoas idiotas, nascem, crescem e se reproduzem neste nosso pequeno planeta submetido à destruição ambiental, a guerras fraticidas, a atentados terroristas, à intolerância religiosa e a vários outros fenômenos e processos que só podem ser atribuidos à ignorância ou idiotice de alguns. Sim, infelizmente, eles ainda são muito numerosos, e ainda que a educação progride (lentamente), a TV e outros meios de comunicação de massa (além da simples incultura e as superstições populares) se encarregam de "produzir" um número razoável de idiotas a cada dia.
Pois não é que eu recebi uma mensagem perfeitamente idiota de um candidato a idiota?
Digo candidato pois acredito que ele ainda pode se redimir, pois há salvação para tudo, menos para a morte e os impostos, como dizia Benjamin Franklin, este um perfeito sensato homem, não mais inteligente ou idiota do que a média, apenas mais atento, curioso e experiente do que os demais.

Abaixo um "exchange" entre o candidato a idiota e eu mesmo, a propósito de meu texto sobre os idiotas no mundo (que está disponível nessas coordenadas:
“Está aumentando o número de idiotas no mundo?”, revista Espaço Acadêmico (ano 6, nr. 72, maio de 2007; link: http://www.espacoacademico.com.br/072/72pra.htm). Republicado, sob o título “O Apogeu dos Idiotas”, na revista Mirada Global, no dia 25.05.07 (link: http://www.miradaglobal.com/index.asp?id=editorial&principal=200104&idioma=pt )

Dito isto, reproduzo abaixo a mensagem em questão (exatamente como recebida, com sua sintaxe própria), seguida de minha própria resposta ao candidato da "sanfran" (isto é, da São Francisco):

On 31/12/2007, at 14:47, daniel c******* wrote:

Mensagem enviada pelo formulário de Contato do SITE.

Nome: daniel c*******
Cidade: são paulo
Estado: sp
Email: jcks_daniels@hotmail.com
Assunto: Opiniao
Mensagem: gostaria de dizer que, lendo um artigo, mais especificamente, está aumentando o número de idiotas no mundo ? confirmei o que já sabia: há uma enorme diferença entre inteligencia e sabedoria ,de fato, é necessário rasgar o verbo para justificar algo tão complexo que,aliás ,não pode ser exemplificado por um pobre coitado formado em ciências socias . sou aluno de direito sanfran e, já me acostumei a conviver com esse tipo de gente..malditos alunos de humanas!!!! pessoas que se vislubram por coisas tão passageiras , \"...vaidades apenas vaidades...\" !!! deveria aprender mais com guimarães rosa , pena uma literatura tão rica ,ser compartilhada por pessoas tão pobres de espírito .

==============

E agora, minha resposta, em 31.12.2007 (nunca se está ao abrigo de uma última decepção no ano...):

Caro Daniel C*********,
Acredito que você tenha algum problema com o pessoal de humanas: eles não não melhores, nem piores do que os advogados, engenheiros, médicos, veterinários, ou que quaisquer outras categorias de trabalhadores, inclusive peões, operários, garis, colhedores de cana, etc.
Se você se julga detentor de algum conhecimento especial, seja ele sabedoria ou inteligência, deveria expor suas idéias, supostamente inteligentes, ao resto do mundo, e assim contribuir para a elevação do nível cultural da humanidade, o que supostamente faria diminuir, relativamente, o número de idiotas, não acha?
Insistir numa critica negativa, ou pessimista, como a que voce faz, contribui, apenas e tao somente para aumentar o número de idiotas, entre os quais voce supostamente não se inclui.
Mas, a sua crítica pode ser classificada, me desculpe por não encontrar melhor termo, de propriamente idiota, uma vez que ela não tem absolutamente nada de inteligente a propor, apenas se limita a criticar, de modo corrosivo, o que uma outra pessoa, que você não conhece, escreveu.
Deve ser difícil para voce conviver com esse tipo de gente, idiotas, como você as chama. Acredito que apenas um idiota, com o perdão da expressão, consegue conviver com outros idiotas.
Eu, por exemplo, tenho alergia à burrice e cada vez que vejo uma de suas manifestações, me distancio imediatamente, seja me afastando dos idiotas do mundo, seja desligando a TV por exemplo.
Mas, existem idiotas que chegam até nós, sem qualquer solicitação, e passam a nos criticar sem qualquer atenção ao que está dito no texto, que não se dirige obviamente aos idiotas. Apenas um idiota seria capaz de pensar assim...
Não sei se na "sanfran", como voce diz, tem muitos idiotas, mas acredito, pessoalmente, que eles estão proporcionalmente espalhados ao redor do mundo, existindo tantos, na "sanfran", quanto em qualquer faculdade Tabajara. Ser idiota não é privilegio de ninguém ou de alguma instituição especifica: eles conseguem se disseminar nos lugares mais supreendentes...
Pobres de espírito sao aqueles que não percebem isto...
-------------
Paulo Roberto de Almeida
pralmeida@mac.com www.pralmeida.org
http://diplomatizzando.blogspot.com/

sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

824) Strange Maps: o estranho mapa da internacionalizacao da Amazonia

Um site dedicado a mapas estranhos incluiu o famoso mapa da internacionalização da Amazônia na sua relação, com direito a uma citação do meu trabalho na investigação e denúncia dessa fraude forjada no Brasil.
Para o site dos mapas bizarros, veja este link:
http://strangemaps.wordpress.com/

Para ir direto à "fraude amazônica, veja este link:
http://strangemaps.wordpress.com/2007/12/06/216-us-annexes-amazon-forest/

Para o meu dossiê sobre o caso, veja este link:
http://www.pralmeida.org/04Temas/07Amazonia/00Amazonia.html

Bom divertimento a todos...

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

823) Dez principios do filosofo Bertrand Russell

O filósofo britânico Bertrand Russel (1872-1970) elaborou, em meados do século XX, um "código de conduta" liberal baseado em 10 princípios, à maneira do decálogo cristão, que ele não pretendia fosse substituir o antigo, mas complementá-lo.

Os dez princípios são:

1. Não tenha certeza absoluta de nada.
2. Não considere que valha a pena proceder escondendo evidências, pois as evidências inevitavelmente virão à luz.
3. Nunca tente desencorajar o pensamento, pois com certeza você terá sucesso.
4. Quando você encontrar oposição, mesmo que seja de seu marido ou de suas crianças, esforce-se para superá-la pelo argumento, e não pela autoridade, pois uma vitória dependente da autoridade é irreal e ilusória.
5. Não tenha respeito pela autoridade dos outros, pois há sempre autoridades contrárias a serem achadas.
6. Não use o poder para suprimir opiniões que considere perniciosas, pois as opiniões irão suprimir você.
7. Não tenha medo de possuir opiniões excêntricas, pois todas as opiniões hoje aceitas foram um dia consideradas excêntricas.
8. Encontre mais prazer em desacordo inteligente do que em concordância passiva, pois, se você valoriza a inteligência como deveria, o primeiro será um acordo mais profundo que a segunda.
9. Seja escrupulosamente verdadeiro, mesmo que a verdade seja inconveniente, pois será mais inconveniente se tentar escondê-la.
10. Não tenha inveja daqueles que vivem num paraíso dos tolos, pois apenas um tolo o consideraria um paraíso.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

822) China, according to Foreign Affairs journal

FOREIGN AFFAIRS: January/February 2008
Issue Preview (December 21, 2007)

CHANGING CHINA

China is changing rapidly, and its rise has led to widespread fears in western capitals. But Beijing's rapid economic growth and increasing political clout will not spell the demise of the liberal international order, argues G. John Ikenberry, so long as the West plays its cards correctly. As part of a special package on China, John Thornton assesses the prospects for Chinese democracy nearly two decades after the Tiananmen Square protests; Stephanie Kleine-Ahlbrandt and Andrew Small reexamine Beijing's policy of nonintervention and its relations with pariah states; and David Hale and Lyric Hughes Hale warn that forced currency revaluation is not the solution to the large U.S.-Chinese trade imbalance.

Democracy in China
John L. Thornton
China's politics are evolving -- but very slowly and in their own distinct
way.
Full text

Can the West Handle Chinese Power?
G. John Ikenberry
Washington can manage China's rise -- with the help of a strong liberal
international order.
Full text

Beijing's Friendly Tyrant Problem
Stephanie Kleine-Ahlbrandt and Andrew Small
Chinese support for pariah regimes in Burma, Sudan, and North Korea is
dropping —- slightly.
500-word preview

Reconsidering Revaluation
David D. Hale and Lyric Hughes Hale
Pressuring China to strengthen its currency is a bad solution to the
wrong problem.
500-word preview

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

821) PIB PPP em comparacao mundial: uma no cravo, outra na ferradura...

Primeiro a boa noticia, tal como veiculado na imprensa, recentemente:

Brasil sobe uma posição e ocupa 6º lugar na economia mundial, diz Bird
Folha Online, 18/12/2007

O Brasil ganhou uma posição e agora ocupa o sexto lugar na economia mundial, segundo ranking do Banco Mundial, que divulgou nesta terça-feira os dados do PCI (Programa de Comparação Internacional), que analisa as economias de 146 países.
De acordo com o Banco Mundial, levando-se em conta a paridade do poder de compra, o Brasil responde por metade da economia da América do Sul. Com o equivalente a 3% do PIB (Produto Interno Bruto) mundial nesta medição, o Brasil divide o sexto lugar ao lado do Reino Unido, França, Rússia e Itália.
Segundo explicação do Banco Mundial, o Brasil subiu de lugar por conta de uma nova avaliação. A paridade do poder de compra, expressa por meio dos valores das moedas locais e o que é possível comprar, tomou o lugar da chamada medida cambial, que apenas converte o PIB do país em dólares.
Na medida convencional (cambial), o Brasil seria a sétima economia, ao lado da Índia, Rússia e México, que respondem juntos por 2% do PIB.
"Os números passaram a refletir o valor real de cada economia, com as diferenças corrigidas em níveis de preços, sem a influência de movimentos transitórios de taxas cambiais", explica o Banco Mundial.
EUA na ponta
Como já era esperado, a maior economia do mundo ainda é a dos Estados Unidos --ela, porém, está menor que no passado. Em seguida aparece a China, que pelas novas pesquisas subiu de quarto para segundo lugar.
De acordo com os dados, pelo sistema cambial os EUA têm 28% do PIB mundial, mas pela regra da paridade, apontada como mais confiável pelo Bird, o país tem 23%. Na China, levando-se em conta o método do poder de compra, a participação é de 10%; pelo cambial, fica em 5%.
No geral, a economia mundial produziu US$ 55 trilhões em mercadorias e serviços em 2005. Do total, cerca de 40% veio de países em desenvolvimento -- China, Índia, Rússia, Brasil (Brics) e México responderam por quase 20%.

============

Agora, a ducha de água fria, ou melhor, uma boa dose de realismo:

O tamanho do Brasil: país está em 10º lugar no ranking do PIB, não em 6º. E caiu uma posição
Blog Reinaldo Azevedo:

Vocês já leram em todo lugar a notícia de que o Brasil subiu uma posição e agora está em sexto lugar entre as economias do mundo, segundo ranking do Banco Mundial. De acordo com o Bird, levando-se em conta a paridade do poder de compra, o chamado PPP, o Brasil responde por metade da economia da América do Sul, com o equivalente a 3% do Produto Interno Bruto. Estaríamos no mesmo patamar de Reino Unido, França, Rússia e Italia.
A petralhada, em seu desassossego característico, pergunta-me se estou triste com a notícia. Eu? Segundo os iluminados, mais uma conquista de Lolovsky Apedeutakoba. Bem, eu já estava me preparando para iniciar um movimento de fechamento de fronteiras, sabe? Imaginem se ingleses e franceses, em fúria, resolvessem invadir o Brasil em busca do mesmo padrão de vida, mas com as nossas praias, o Pão de Açúcar, a tardinha que cai, o barquinho que vai, o nosso veneno sensual, o nosso charme moreno, a arquitetura de Niemeyer, a sua defesa das ditaduras comunistas? E se decidirem também vir em busca de nossos Voltaires, de nossos Lockes?
Vocês sabem, a minha primeira inclinação sempre é o nacionalismo, né? Liguei para o editor de economia da VEJA, Giuliano Guandalini, em busca de apoio para a minha causa. Ele estragou todo o "meu céu tem mais estrelas". Ele desestimulou o "meu bosque tem mais flores". Ele me passou alguns dados que me fizeram ver que as aves que aqui gorjeiam estão mais depenadas que as de lá. Estou arrasado.
O Banco Mundial resolveu empregar um critério de arredondamento — mesmo para a medição do PIB PPP, que é mais generoso com os países emergentes — que se usava antigamente nas escolas quando as notas eram dadas por números. Tudo o que estiver abaixo de meio ponto, eles arredondam para baixo; o que estiver acima, para cima. Assim, vejam só: segundo esse critério, o Brasil detém 2,88% do PIB mundial. Puxaram o número para cima: ficamos com 3%. O Reino Unido detém 3,46%: puxaram para baixo: ficou com 3% também.
Eu não quero que vocês acreditem em mim. Quero que vocês acreditem nos números. A tabela está aqui, com os países agrupados por regiões. O PIB PPP é a terceira coluna. Vejam lá: Brasil: 2,88%; Reino Unido: 3,46%; França: 3,39%; Rússia: 3,09%; Itália: 2,96%. DE FATO, O BRASIL ESTÁ EM 10º LUGAR. Mas isso não é tudo: caiu uma posição.
Vejam só: em 2005, o PIB mundial, diz o Bird, foi de US$ 55 trilhões. Se o Brasil tem 2,88% desse valor, estamos falando de US$ 1,584 trilhão. Se fosse 3%, US$ 1,65 trilhão, o que implicaria produzir US$ 66 bilhões a mais. Se o Reino Unido detém 3,46 dos US$ 55 trilhões, seu PIB PPP é de US$ 1,903 trilhão. Para que o Brasil realmente estivesse em pé de igualdade com este país, teria de produzir US$ 319 bilhões a mais, um crescimento no PIB de imodestíssimos 20%. Ademais, quando se trata de verificar o PIB per capita, saibam que o Brasil está abaixo da média da América Latina e da média mundial.
No mais, estou feliz como todo mundo, é claro (mais informações aqui).

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

820) Diplomacia em expansão...

Poder Executivo
DECRETO Nº 6.305, DE 14 DE DEZEMBRO DE 2007
DOU 17.12.2007

Dispõe sobre a criação da Embaixada do Brasil em Santa Lúcia, com sede em Castries.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84, inciso IV, da Constituição, e tendo em vista o disposto nos arts. 27, inciso XIX, e 50 da Lei nº 10.683, de 28 de maio de 2003,
DECRETA:

Art. 1º Fica criada a Embaixada do Brasil em Santa Lúcia, com sede em Castries.
Art. 2º Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.
Art. 3º Fica revogado o inciso XIX do art. 1º do Decreto nº 5.073, de 10 de maio de 2004.
Brasília,14 de dezembro de 2007; 186º da Independência e 119º da República.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
Celso Luiz Nunes Amorim

=========

Bem, pela Wikipedia ficamos sabendo que:
"La isla de Santa Lucía es habitada por más de 162 mil personas, de las cuales casi la totalidad son de raza negra (90%), con una minoría mixta y sólo el 1% de raza blanca. El 90% de la población es católica y casi el 33% del total no sabe leer ni escribir."

domingo, 16 de dezembro de 2007

819) Carta aberta ao chanceler Celso Amorim

Obviamente, seria bem mais interessante se as páginas dos jornais trouxessem um debate sadio, e de alto nível, sobre os rumos da política externa, em lugar desse tipo de diatribe que certamente não honra as tradições da Casa e a reputação da nossa diplomacia, mas parece que este é o reflexo do momento...
-------------
Paulo Roberto de Almeida

==============

Diplomacia
Carta aberta ao chanceler Celso Amorim
Marcio Dias,
Embaixador aposentado
Jornal do Brasil, Domingo 16 de dezembro de 2007, p. A11, Opinião

Como um grande número de colegas, acompanho com desaprovação mas em silêncio a maneira como você e Samuel vêm conduzindo o Itamaraty.
Hierarquizados como somos, ainda acreditamos no velho bordão de que quem fala pela Casa é o seu Chefe. Assim, ao nos darmos conta, logo no início do Governo Lula, de quem iria dirigir a Casa nos próximos anos, muitos, como eu, preferimos aposentar-nos a seguir na ativa sob uma direção de que fatalmente discordaríamos. A propósito, nunca em momento algum do Itamaraty, houve tantos Embaixadores aposentados voluntária e precocemente.
Certo, você já havia dirigido a Casa em outra ocasião, mas as circunstâncias eram totalmente diferentes, pois não só sua chefia era mais aparência que realidade (o que muitos dizem ser novamente o caso) , mas sobretudo o Presidente era outro.
Não é o caso de concordar ou não com o Governo. Afinal, todos servimos ao país no tempo dos Governos militares, com os quais a grande maioria de nós não concordava. Mas servíamos ao Estado, nosso legítimo patrão, e não a partidos.
Com o Governo do PT e conhecendo a sua "flexibilidade", mais o viés ideológico do Samuel, vários, como eu, previmos o que estaria por acontecer e, com o espírito de disciplina da carreira, preferimos dela nos afastar, por estimarmos que viríamos a discordar frontalmente da maneira pela qual a Casa seria conduzida. Assim, eu, por exemplo, pedi minha aposentadoria mais de cinco anos antes da data compulsória.
Evidentemente não foi uma decisão fácil. Você sabe tão bem quanto eu o quanto significa para nós essa carreira, como nos dedicamos integralmente a ela. Mas absolutamente não me arrependo de havê-la deixado tão cedo, pois com meu temperamento seria muito difícil engolir calado a série de estrepolias administrativas que vêm sendo praticadas. E que já se iniciavam com a falta de legitimidade do Secretário-Geral, que não preenchia os requisitos legais para ocupar o cargo (lembro que para que o pudesse ocupar foi necessária a anulação, por meio de um artigo espúrio de medida provisória que nada tinha a ver com o Itamaraty, da exigência de haver exercido chefia de missão diplomática).
Enfim, não vou entrar em pormenores dos vários atos que estupraram as tradições da Casa, pois você certamente os conhece muito melhor do que eu.

----------------------------

O PT passará, como passou

o regime militar, mas o Itamaraty

deve permanecer

-----------------------------

Quero ater-me a um episódio recentíssimo, o do falecimento do ex Secretário-Geral e Chanceler, e sobretudo grande Embaixador Mario Gibson Barboza. Sobre o qual você só veio a manifestar-se na undécima hora, ao aderir, na véspera, à homenagem que vários amigos, eu dentre eles, lhe prestamos com uma missa hoje na Candelária, e que, pelas melhores tradições da Casa, deveria ter sido iniciativa sua.
Caso houvesse da sua parte ou da do Samuel alguma restrição pelo fato de Gibson ter sido o Ministro de Estado de um duríssimo Governo militar, lembro a vocês que a personalidade e a autoridade moral do falecido Embaixador foram diretamente responsáveis pela manutenção da dignidade do Itamaraty naquele terrível período. Devemos a Gibson, como a alguns dos outros colegas que bem dirigiram a Casa após 1964, o fato do Itamaraty haver sido preservado tanto quanto possível da violência do regime.
Creio que você – que sempre considerei dos mais inteligentes dentre os colegas – acabou tendo o bom senso de dar um freio na iconoclastia infantil que fazia com que o Itamaraty fingisse desconhecer o desaparecimento de um dos seus melhores nomes, e viesse, finalmente, a evitar uma grosseria inexplicável e a juntar-se ao preito que lhe rendíamos os colegas.
Pois, alentado por essa demonstração de juízo, tomo a liberdade de sugerir que use essa inteligência para analisar com equilíbrio os rumos que sua gestão está dando à Casa. Para ver que o PT passará (e breve, espero), assim como passou o regime militar, mas que o Itamaraty deve permanecer. Os José Dirceus, os Marco Aurélio Garcias e outros sicários da vida são, felizmente, transitórios. O Itamaraty era, pensávamos, permanente, com suas tradições, suas invejáveis e invejadas normas administrativas.
Que você, como parece ter feito no caso do Embaixador Gibson, use de sua inteligência para deter o processo de aviltamento das tradições da carreira.
O achincalhamento a que a atual gestão submeteu a organização e os bons costumes do Ministério vai demorar décadas para ser remediado. Mas, se você utilizar sua inteligência para deter de imediato o processo e começar, na medida do possível (sei que no quadro atual não deve ser tarefa fácil) a revertê-lo, talvez dentro de uns dez a vinte anos possamos pelo menos voltar a donde estávamos no final de 2002. E daí evoluir.
Atenciosamente (embora seja norma da Casa, não dá para usar "respeitosamente" com o Ministro de Estado que está, até o momento, presidindo ao seu desmoronamento ético e profissional),

Marcio de Oliveira Dias

818) Uma teoria aprioristica das relacoes internacionais

Aos que se interessam por teorias de relações internacionais, o paper abaixo pode representar uma contribuição útil para aqueles que sempre desconfiaram de Morgenthau, mas nao tinham, até aqui, instrumentos para refutá-lo.
O autor não pretende simplesmente refutar Morgenthau e sua teoria "realista" de RI. Ele pretende oferecer uma via alternativa à questão de saber se apenas teorias empiricamente verificáveis são possíveis em RI.
Acho que ele consegue e sua conclusão é deveras interessante.
Conferir seus argumentos no link abaixo:

Toward an A Priori Theory of International Relations
Mark R. Crovelli
http://www.mises.org/journals/scholar/crovelli3.pdf

Transcrevo apenas suas conclusões, para induzir à leitura do artigo completo:

"V. CONCLUSION
It should be clear that the preceding foundation for an a priori theory of international relations in no way needs to be “tested” against the a posteriori evidence. No amount of psychological “evidence,” historical “evidence,” demographic “evidence,” hypothetical assumptions about human rationality, or interpretive “evidence” could ever refute (or substantiate for that matter) these deductions. This is not to say that these deductions are completely impervious to attack. On the contrary, one may wish to contest the validity of many of them. The vital thing to notice, however, is that in order to attack them one must attack the deductive process which produced them. These deductions have essentially the same epistemological status as mathematical proofs. If one wishes to contest the validity of a mathematical proof, one does not go out in the world and search for cases in which 5+7 does not equal 12, or examine the psychological makeup of the mathematician. Instead, if one wanted to" disprove the mathematical proof, one would attack the deductive process which produced it. To point to a posteriori “evidence” as if it were able to refute the proposition 5+7=12, or the proposition “man acts” and all its derivatives would be an immediate sign that one had entirely
misunderstood the status of the propositions. As Hoppe points out in this regard:
“These propositions’ validity ultimately goes back to nothing but the indisputable axiom of action. To think, as empiricism does, that these propositions require continual testing for their validation is absurd, and a sign of outright intellectual confusion.” The deductions I have thus far made, insofar as they are accepted, point to two general conclusions about international relations:
1) Interference in the international economic market by States always decreases the subjective ex ante wellbeing of all the individuals who are affected by the interference, and always shifts resources away from their most value-productive uses, and
2) The very existence of tax-funded States creates a situation in which frequent and large-scale warfare is more likely than in cases where tax-funded States do not exist.
These conclusions, moreover, indicate that international relations as a field cannot afford to simply examine the relations between States as if human life is impossible in the absence of States. 48 Indeed, if the preceding exposition is even partially correct, human life would be preferable in many ways in a world without any States.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

817) O desenvolvimento da humanidade...

...racionalmente explicado por um genial professor sueco, que apresenta a situação econômica mundial como o resultado de ações humanas concentradas em saúde e educacação, basicamente. A economia e o dinheiro vêm depois.
Vale a pena conferir este pequeno grande filme, com muitas estatísticas dinâmicas, apresentadas de forma genial por um number cruncher que é de fato um grande professor.
Dados históricos, presentes e passados, as perspectivas para o futuro, de uma maneira extremamente compreensível e visualmente agradável.
Com algumas piadas no meio...
Vale a pena conferir:
TED: ideas worth spreading:
http://www.ted.com/index.php/talks/view/id/92

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

816) Revista Brasileira de Politica Internacional no Scielo

Um grande notícia para todos os pesquisadores:

Anunciamos a admissão da Revista Brasileira de Política Internacional - RBPI na coleção Scielo Brasil.
A Scientific Electronic Library Online - SciELO (http://www.scielo.br) é uma biblioteca eletrônica que abrange uma coleção selecionada composta pelos mais importantes periódicos científicos brasileiros das diversas áreas do conhecimento, oferecendo o acesso gratuito aos arquivos das edições desses veículos.
Já estão publicados na Coleção Scielo Brasil os arquivos do número 2 do volume 49 (dezembro de 2006) e do número 1 do volume 50 (junho de 2007). Em breve serão disponiblizados outros números da RBPI.
Clique em http://www.scielo.br/rbpi para acessar a página da base de dados da RBPI na Coleção Scielo Brasil e aproveite para incluir o endereço entre os seus favoritos (http://www.scielo.br/rbpi).

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

815) Sites de Relacoes Internacionais: American Diplomacy

A revista American Diplomacy disponibiliza um conjunto de links para sites de relacoes internacionais, a partir deste link:
http://www.unc.edu/depts/diplomat/static/links_ann.html

Eis um sumário dos links fornecidos, sem que tenha me dado o trabalho de configurar cada um dos links. A partir do link acima, generico, vocês podem alcançar o desejado:

American Diplomacy
International Affairs Websites
An annotated list of selected websites of interest


The list is organized into the following categories:
I American Diplomacy
II U.S. National Security & Military Affairs
III Research Organizations with Broad Interests
IV Journals of Opinion
V Africa
VI East Asia
VII Europe (including Russia)
VIII Middle East & South Asia
IX Western Hemisphere (including Canada & Latin America)
X Intelligence & Terrorism
XI International Economics
XII Transnational Issues
XIII United States Foreign Service

The opinions expressed or the analyses presented in these sites do not necessarily reflect the views of American Diplomacy. Some of the web sites listed are commercial in nature and may require payment for full access. American Diplomacy has no financial interest in any of these organizations.

I: AMERICAN DIPLOMACY
U.S. AGENCY FOR INTERNATIONAL DEVELOPMENT
http://www.usaid.gov/
Organized by region and special topics, this site reports on U.S. foreign assistance projects throughout the world.

U.S. DEPARTMENT OF STATE: INTL. INFORMATION PROGRAMS
http://usinfo.state.gov/usinfo/
The Department of State uses its Bureau of International Information Programs to engage “international audiences on issues of foreign policy, society and values.”

U.S. DEPARTMENT OF STATE
http://www.state.gov/
This site gives access to recent news as well as to country reports and information on important international issues, such as terrorism, human rights, and religious freedom.

UNC CURRICULUM IN PEACE, WAR, AND DEFENSE
http://www.unc.edu/depts/pwad/
This University of North Carolina program provides speakers for campus events.

II: U.S. NATIONAL SECURITY AND MILITARY AFFAIRS
GLOBAL SECURITY
http://www.globalsecurity.org/
This site seeks to bring readers “the facts” by means of hot topics, current news, videos, and important documents concerning the armed forces, intelligence, homeland security, and weapons of mass destruction. Its focus is “innovative approaches to emerging security challenges.”

INSTITUTE FOR THE STUDY OF WAR
http://www.understandingwar.org/
The Institute’s “flagship project” is The Iraq Report, which “narrates, explains, and analyzes recent military operations in Iraq. The first series of reports are available on the website of The Weekly Standard. The Institute also offers summer internships.

MICHAEL YON ONLINE
http://www.michaelyon-online.com/
Former Green Beret now turned writer and photographer, Michael Yon’s reports on what he sees while embedded in U.S. combat units have been described as “emblematic of Internet-age journalism” (Detroit News).

SECURITY FRAMEWORK PROJECT
http://securityframe.org/
Describing itself as “progressive,” this organization wants to send you — via email and weekly — the latest government releases and statements by private national security opinion leaders. You may also ask to learn of events in your community and to participate in exchanges.

SMALL WARS JOURNAL
http://smallwarsjournal.com/index.php
This blog contains articles, commentary, and video that facilitate the exchange of information “among practitioners, thought leaders, and students” of small wars, which involve both military force and diplomatic pressure.

U.S. DEPARTMENT OF DEFENSE
http://www.defenselink.mil/
As with the DOS listing above, this site provides news of DOD activities and, through use of a tab, access to major DOD publications, many on subjects of interest to students of U.S. foreign policy.

III: RESEARCH ORGANIZATIONS WITH BROAD INTERESTS
AMERICAN ENTERPRISE INSTITUTE FOR PUBLIC POLICY RESEARCH (AEI)
http://www.aei.org/
AEI is “a private, nonpartisan, not-for-profit institution dedicated to research and education on issues of government, politics, economics, and social welfare.” Its short publications can be accessed online.

ARMIGER CROMWELL CENTER
http://www.geocities.com/armigercc/
ACC is a small nonprofit internet clearing house for thinking "outside of the box of conventional wisdom" and, by means of the online essays found on its site, dedicated to more effective foreign policies that achieve stability through equilibrium.

BROOKINGS INSTITUTION
http://www.brook.edu/
The Brookings Institution is “a private nonprofit organization devoted to independent research and innovative policy solutions.” The site provides access to its reports and information on coming events.

CARNEGIE ENDOWMENT FOR INTERNATIONAL PEACE
http://www.carnegieendowment.org/
The Carnegie Endowment for International Peace is a nonpartisan, “private, nonprofit organization dedicated to advancing cooperation between nations and promoting active international engagement by the United States.”

CENTER FOR STRATEGIC AND INTERNATIONAL STUDIES
http://www.csis.org/
CSIS “seeks to advance global security and prosperity in an era of economic and political transformation by providing strategic insights and practical policy solutions to decisionmakers.”

CENTER FOR INTERNATIONAL POLICY
http://www.ciponline.org/
This website gives access to reports that promote “a foreign policy based on cooperation, demilitarization and respect for human rights.”

COLUMBIA INTERNATIONAL AFFAIRS ONLINE (CIAO)
http://www.ciaonet.org/
CIAO, which describes itself as “the most comprehensive source for theory and research in international affairs,” makes available online its studies and reports as well as links to the sites of other research organization.

COUNCIL ON FOREIGN RELATIONS
www.cfr.org/
CFR, publisher of Foreign Affairs, describes itself as an “online resource for everyone in these turbulent times who wants to learn more about the complex international issues challenging policy-makers and citizens alike.”

FOREIGN POLICY RESEARCH INSTITUTE
http://www.fpri.org/
FPRI seeks to bring “the insights of scholarship to bear on the development of policies that advance U.S. national interests.” In addition to publishing Orbis, it places on its websites speeches and reports by participants in its various study groups and meetings.

THE FOUNDATION FOR P.E.A.C.E.
http://promotingpeace.org/
P.E.A.C.E. “promotes community and international peace by helping people.” Its journal, PEACE in Action, is available online.

GLORIA CENTER: GLOBAL RESEARCH IN INTERNATIONAL AFFAIRS
http://gloria.idc.ac.il/
The focus of the Center, directed by Barry Rubin, is “a unique and creative application of new information technologies to scholarly and analytical work.”

HOOVER INSTITUTION ON WAR, REVOLUTION AND PEACE
http://www.hoover.org/
By collecting knowledge, generating ideas, and disseminating both, the Hoover Institution seeks to “secure and safeguard peace, improve the human condition, and limit government intrusion into the lives of individuals.”

MEMORIAL INSTITUTE FOR THE PREVENTION OF TERRORISM (MIPT)
http://www.terrorisminfo.mipt.org/National-Strategies.asp
MIPT gathers data and documents regarding terrorism from various governmental and private sources and makes them available on its website.

NITZE SCHOOL OF ADVANCED INTERNATIONAL STUDIES (SAIS)
http://www.sais-jhu.edu/
A graduate school of international affairs, SAIS makes available on this site transcripts and audios of presentations made at the school.

ORGANIZATION OF AMERICAN HISTORIANS (OAH)
http://www.oah.org/
The “largest learned society devoted to the study of American history,” OAH requires membership for access to its on-line reports on recent scholarship.

SOCIETY FOR HISTORIANS OF AMERICAN FOREIGN RELATIONS (SHAFR)
http://www.shafr.org/prizes.htm
SHAFR promotes the “study, advancement and dissemination of a knowledge of American Foreign Relations.” The site gives access to Diplomatic History, whose articles may be downloaded in pdf format.

TCS DAILY
http://www.techcentralstation.com/092503F.html
An online journal, TCS editors seek to “explore our exciting and unsettling times with news, commentary and analysis that will help you make sense of it all.”

TRIANGLE INSTITUTE FOR SECURITY STUDIES
http://www.pubpol.duke.edu/centers/tiss//
By means of speakers and conferences, TISS promotes “interdisciplinary cooperation among faculty, graduate students, and the public.”

WORLD PUBLIC OPINION
http://worldpublicopinion.org/
This site provides “a source of in-depth information and analysis on public opinion from around the world on international issues.”

WALSH SCHOOL OF FOREIGN SERVICE (GEORGETOWN UNIVERSITY)
http://www12.georgetown.edu/sfs/
The school publishes an online newsletter and maintains a list of coming events.

IV: JOURNALS OF OPINION
AMERICAN INTEREST
http://www.the-american-interest.com
“The American Interest (AI) is a new and independent voice devoted to the broad theme of “America in the world.’” It intends to both analyze U.S. conduct and propose policies that serve the nation’s interests.

COMMENTARY
http://www.commentarymagazine.com/
Since its inception in 1945, Commentary, a leading monthly magazine of opinion, has sought to be a “pivotal voice in American intellectual life.” By the 1970s, it had become a “flagship of neo-conservatism” concerned with the fate of democracy and the security of the United States, the West, and Israel.

THE ECONOMIST
http://www.economist.com/
The Economist covers the world of politics, business, finance, technology, and the markets. Access to some sections of the site requires a subscription.

FOREIGN AFFAIRS
http://www.foreignaffairs.org/
The Council on Foreign Relations publishes Foreign Affairs, many of whose articles can be accessed online. The site also offers a daily guide to the Council’s “most influential analysis.”

FOREIGN POLICY
http://www.foreignpolicy.com/
This website describes itself as “the portal to global politics, economics, and ideas.” It publishes “web exclusives” but requires a subscription to obtain full access to all the site’s offerings.

FOREIGN SERVICE JOURNAL
www.fsjournal.org
Published by the American Foreign Service Association, the Foreign Service Journal provides free online access to the print journal’s many fine articles.

HARVARD INTERNATIONAL REVIEW
http://hir.harvard.edu/
Emphasizing “underappreciated topics” and “underappreciated perspectives on more widely discussed topics,” the site includes accessible articles from the print Harvard International Review, web exclusive perspectives, and a weblog.

JEWISH EXPONENT
http://www.jewishexponent.com/
Begun in Philadelphia in 1887, the Exponent reports on “developments in Israel, efforts to rescue Jews the world over from repressive regimes and the ever-expanding role of Jews in American public life.”

NATIONAL REVIEW ONLINE
http://www.nationalreview.com/
Though also covering domestic politics, this site contains many commentaries on U.S. foreign policy and the state of the world.

U.S. DIPLOMACY
http://www.usdiplomacy.org/
Published by the Association for Diplomatic Studies and Training, U.S. Diplomacy links visitors to reports and presentations found on a variety of other sites.

V: AFRICA
AFRICA SOUTH OF THE SAHARA: SELECTED INTERNET RESOURCES
http://www-sul.stanford.edu/depts/ssrg/africa/guide.html
Stanford University hosts this "meta-site," a directory of web sites about Africa. Users can search by country or topic. They may also search the Africa internet directory and the Africa pages of Stanford’s library.

AFRICAN AFFAIRS
http://afraf.oxfordjournals.org/current.dtl
Oxford Journals publishes African Affairs on behalf of the Royal African Society. Its articles can be read online via subscription or on the basis of pay per view.

AFRICAN STUDIES CENTER (UNIVERSITY OF PENNSYLVANIA)
http://www.africa.upenn.edu/
The center supports academic programs at the University of Pennsylvania, but the site offers “country pages” listing sources of interest to researchers.

AFRICAN VOICES
http://www.mnh.si.edu/africanvoices/
This is a learning site with a presentation on Africa and Africans (including a discussion of the diaspora) that is interactive and very accessible. It is based on a permanent exhibition at the Smithsonian's Museum of Natural History.

ALLAFRICA.COM
http://allafrica.com/
This site daily posts and archives thousands of articles, in French and English, from African newspapers, periodicals, and news agencies. Current articles are freely accessible, but many articles older than one month require subscription.

VI: EAST ASIA
ASIA SOCIETY
http://www.asiasociety.org/
The society publishes Asia Society: The Weekly Fix from which viewers can download Asian news and events.

ASIA SOURCE
http://www.asiasource.org/
Developed by the Asia Society this site contains information for researchers, a daily digest of news, special reports, and thousands of annotated links.

JAPAN SOCIETY
http://www.japansociety.org/
Japan Society is “a nonprofit, nonpolitical organization that brings the people of Japan and the United States closer together through understanding, appreciation and cooperation.”

VII: EUROPE (INCLUDING RUSSIA)
BRITISH DIPLOMATIC ORAL HISTORY PROGRAMME
http://www.chu.cam.ac.uk/archives/collections/BDOHP/
The site offers transcribed interviews with retired British diplomats. It is developed and maintained by the Churchill Archives Center, Churchill College, Cambridge, and is similar in concept to the oral history project of the Association for Diplomatic Studies and Training.

EUROPEAN UNION STUDIES ASSOCIATION
|http://www.eustudies.org/
This “non-profit site provides essays, documents and articles from a European Union perspective, submitted by scholars and academics from around the world.” Access by subscription.

RESEARCH INSTITUTE FOR EUROPEAN AND AMERICAN STUDIES (RIEAS)
http://www.rieas.gr/
The special focus of RIEAS is “transatlantic relations, intelligence studies and terrorism, European integration, international security, Balkan and Mediterranean studies, Russian foreign policy as well as policy making on national and international markets.” Requires a subscription to read its analyses online.

VIII: WESTERN HEMISPHERE (CANADA & LATIN AMERICA)
AMERICAS PROGRAM
http://americas.irc-online.org/
The International Relations Center maintains this site, which provides access to its policy studies and reports seeking to “forge a new global affairs agenda for the U.S. government.”

LATINFOCUS
http://www.latin-focus.com/
LatinFocus “is the first stop for professionals seeking reliable business research information on Latin American economies.” Readers may search data on the region as a whole or by country.

OBERLIN ONLINE
http://www.oberlin.edu/faculty/svolk/latinam.htm
The section “Sources and General Resources on Latin America” provides access to online newspapers from the region and links to sources on Latin American history, libraries with Latin American collections, and publications and organizations specializing in Latin America.

IX: MIDDLE EAST AND SOUTH ASIA
IRAN FOCUS
http://www.iranfocus.com/modules/news/
Iran Focus provides “comprehensive, up-to-date information and news on the Persian Gulf region in a fair and balanced manner.” The site contains “a wide array of daily news, weekly and special feature packages, commentary, news analysis, and investigative reporting.

IRAN-VA-JAHAN
http://www.iranvajahan.net/english/
Drawing from a variety of international media and government sources, the Iran-Va-Jahan website posts, in English, news about Iran.

IRAQ THE MODEL
http://iraqthemodel.blogspot.com/
This weblog, written by two Baghdadi brothers, Omar and Mohammed Fadhil, promises new points of view about the future of Iraq. Compared to most U.S. news media, it delivers.

ISLAM ON LINE
http://www.islamonline.net/English/AboutUs.shtml
Islam On Line is a “global Islamic site… that provides services to Muslims and non-Muslims in several languages.” It aims to “become a reference for everything that deals with Islam” and to offer “a sharp and balanced vision of humanity and current events”from a Muslim perspective.

MEMRI: MIDDLE EAST MEDIA RESEARCH INSTITUTE
http://memri.org/news.html
The independent, nonpartisan, and nonprofit MEMRI site translates into Western languages material from Arabic, Persian, and Turkish media as well as original analyses of Middle Eastern trends.

MIDDLE EAST RESEARCH AND INFORMATION PROJECT
http://www.merip.org/misc/about.html
MERIP, established to offer “information and analysis on the Middle East, now publishes the online Middle East Report to provide “news and perspectives about the Middle East not available from mainstream news sources.”

X: INTELLIGENCE & TERRORISM
CENTRAL INTELLIGENCE AGENCY
https://www.cia.gov/
This site provides information on the agency, news reports about it, and featured stories often of a historical nature.

COALITION OF AIRLINE PILOTS ASSOCIATION
http://www.capapilots.org/
Visitors to this site can scroll down and click to gain access to CAPA’s weekly Terrorism Open Source Intelligence Report (TOSIR).

GLOBAL TERRORISM ANALYSIS
http://www.jamestown.org/terrorism/news/article.php?articleid=2373620
The Jamestown Foundation, which initially offered Eurasian security analysis, has extended its reach to the war on terrorism and now publishes the Terrorism Monitor, whose articles are available on this website along with material from the Foundation’s weekly Terrorism Focus.

NATIONAL DEFENSE UNIVERSITY
http://merln.ndu.edu/index.cfm?secID=149&pageID=3&type=section#profiles
The National Defense University has compiled this list of groups of terrorist sites and links to important speeches and documents related to the war on terrorism.

SITE INSTITUTE
http://siteinstitute.org/websites.html
In addition to a news ticker, this site maintains a list of links to the websites of the world’s principal terrorist organizations.

XI: INTERNATIONAL ECONOMICS
ECONOMICS RESOURCES
http://www.internationaleconomics.net/economics.html
This site lists “economics-related links” that it claims “represent some of the best sites with respect to international economics.” Some of the links are academic but others are to economic think tanks and international institutions.

INTERNATIONAL MONETARY FUND
http://imf.org/
The official website of the International Monetary Fund, this site offers access to information about the work of the fund, economic data, economic news, and the fund’s own studies.

REVIEW OF INTERNATIONAL ECONOMICS
http://www.blackwellpublishing.com/journal.asp?ref=0965-7576
The review publishes “high-quality articles on a full range of topics in international economics;” access to the articles requires an on-line subscription however.

WORLD BANK
http://worldbank.org/
The official website of the World Bank and its two subsidiaries, this site provides access to information about the bank and access to its studies and reports.

WORLD TRADE ORGANIZATION
http://www.wto.org/
The official website of the World Trade Organization, this site provides information on the WTO and its activities, an on-line forum, and access to resources of use to researchers.

XII: TRANSNATIONAL ISSUES
GLOBAL ENVIRONMENT FACILITY
http://www.undp.org/gef/05/about/index.html
Sponsored by the United Nations Development Program, this site provides information on projects concerning “biodiversity, climate change, international waters, land degradation, persistent organics pollutants and ozone depletion.”

PSG IMSR
http://psgaidsinfo.org/useful_websites-_hiv_aids_and_drug_use.htm
Maintained by an institute that educates medical professionals, this site lists websites useful for those seeking information on AIDS, HIV, and other sexually transmitted diseases.

UNITED NATIONS ENVIRONMENT PROGRAMME
http://www.grid.unep.ch/
This United Nations site provides access to the latest news on the environment as well as data on the global environment.

WORLD HEALTH ORGANIZATION
http://www.who.int/hiv/en/
This portion of the WHO website provides access to news, reports, data, and treatment of AIDS/HIV.

SEE ALSO “INTELLIGENCE & TERRORISM” AND “INTERNATIONAL ECONOMICS”

XIII: UNITED STATES FOREIGN SERVICE
AMERICAN ACADEMY OF DIPLOMACY
http://www.academyofdiplomacy.org/
The academy seeks to “foster high standards of qualification for, and performance in, the conduct of diplomacy and the foreign affairs of the United States” to include disseminating information and recommendations.

AMERICAN FOREIGN SERVICE ASSOCIATION (AFSA)
http://www.afsa.org/
AFSA publishes the Foreign Service Journal < www.fsjournal.org>, whose articles may be downloaded free of charge.

ASSOCIATES OF AMERICAN FOREIGN SERVICE WORLDWIDE (AAFSW)
http://www.aafsw.org/aafsw/about.htm
AAFSW represents spouses, employees, and retirees of the Foreign Service. Its spousal oral histories may interest some readers and researchers.

ASSOCIATION FOR DIPLOMATIC STUDIES AND TRAINING (ADST)
http://www.adst.org/
ADST seeks to advance “understanding of American diplomacy.” The site offers access to its newsletter and a list of the publications it offers for sale.

COUNCIL OF AMERICAN AMBASSADORS
http://www.americanambassadors.org/
Council members are non-career United States ambassadors. It publishes the Ambassadors Review, whose articles may be accessed through the website.

DIPLOMATIC AND CONSULAR OFFICERS, RETIRED
http://www.dacorbacon.org/LINKS/LINKS_MAIN.htm
DACOR includes web addresses for governmental and private online sites concerned with U.S. foreign policy and diplomacy.

DIPLOMATIC PRACTICE
http://www.usdiplomacy.org
Maintained by the Association for Diplomatic Studies and Training, this site is designed to assist entry-level practitioners of diplomacy and more general audiences with information on U.S. diplomatic history and contemporary activities of the State Department. It includes extensive reference material and web links.

FRONTLINE DIPLOMACY
http://memory.loc.gov/ammem/collections/diplomacy/
Hosted by the Library of Congress, this site contains transcribed oral histories of American diplomats, assembled by the Association for Diplomatic Studies and Training.

PLEASE LET US KNOW if you find a broken link.
Send a note to webmaster@americandiplomacy.org