O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

domingo, 30 de junho de 2013

O insuportavel charme de um livro odioso: Mein Kampf apreciado na Asia

    Do Asian readers know about the anti-Semitism in 'Mein Kampf'?

    By Husna Haq

    North Korean leader Kim Jong-un has been giving state officials
     copies of Adolf Hitler's book, while the book is a bestseller in India.

    The Christian Science Monitor,  June 19, 2013

Kim Jong Un has reportedly given copies of 'Mein Kampf' to North Korean state officials as gifts.
David Guttenfelder/AP

The latest "it" book in some Asian countries is evidence of a startling new trend: growing interest in “Mein Kampf,” Adolf Hitler’s anti-Semitic Nazi manifesto.

Hitler’s autobiography is gaining popularity in North Korea and India, where fans appear to be relatively unaware of its anti-Semitic message and instead embrace the book for other reasons. The news, coming on the heels of German efforts to republish the anti-Semitic autobiography early last year, has revived debates about balancing freedom of speech and of the press with efforts to restrict hateful speech.
North Korean leader Kim Jong-un gave state officials copies of “Mein Kampf” as gifts on his birthday last January, according to a report in New Focus International, a newspaper run by North Korean defectors. “It seems the book was intended to promote a study of Hitler’s economic reforms, and was not necessarily meant as an endorsement of Nazism,” reports NPR.
“Kim Jong-un gave a lecture to high-ranking officials, stressing that we must pursue the policy of Byungjin (Korean for ‘in tandem’) in terms of nuclear and economic development. Mentioning that Hitler managed to rebuild Germany in a short time following its defeat in WWI, Kim Jong-un issued an order for the Third Reich to be studied in depth and asked that practical applications be drawn from it,” a source told New Focus International in a telephone interview.
And in India, the book has become a bestseller,Businessweek reports.
“Lacking the sting of anti-Semitism but troubling nonetheless, the Hitler brand is gaining strength in India,” Bloomberg Businessweek reports. “Mein Kampf is a bestseller, and bossy people are often nicknamed Hitler on television and in movies.”
Indeed, Hitler has become so popular in India that movies, soap operas, and even retail stores have been named after the Nazi leader. But in India, where European history is not widely taught and Hitler’s anti-Semitism is largely unknown, the admiration has less to do with Hitler’s hatred of Jews and more to do with hero worship of strong military leaders.
The growing popularity of “Mein Kampf" in North Korea and India follows on the heels of efforts to republish portions of the book in Germany in early 2012, more than 85 years after its initial publication. 
There, editors at the German magazine “Zeitungszeugen” had planned to run three 16-page installments of “Mein Kampf” as pamphlets inserted into issues of the magazine, arguing that exposing the work would remove its mystique and the “forbidden” appeal surrounding it.
The decision launched the country into a tense debate about whether republishing would “propagate hate and inspire neo-Nazi groups” or “deflate the aura that surrounds the restricted work and expose it as a confused, rambling screed.” 
As we reported last January, Hitler wrote "Mein Kampf" – "My Struggle" in English – while he was languishing in a Bavarian prison after the failed Beer Hall Putsch of 1923. The rambling and anti-Semitic manifesto-cum-autobiography outlined his ideology, including his views on Aryan racial purity and his hatred of Jews and opposition to Communism. Following World War II, the Allies gave the rights to "Mein Kampf" to the Bavarian state government and the book is widely available online and across the world.
Husna Haq is a Monitor correspondent.

A economia esquizofrenica dos companheiros comeca a produzir efeitos(esquizofrenicos)

A conta vai para o povo

O Globo, 27/06/2013

Carlos Alberto Sardenberg A conta vai para o povo
Carlos Alberto Sardenberg
Que tal um aumento de 15% na conta de luz a partir da semana que vem? Pois é o que os consumidores do Paraná deveriam pagar se o reajuste não tivesse sido cancelado pelo governador do estado, Beto Richa. A rigor, ele não poderia fazer isso, mesmo sendo uma estatal-estadual a principal distribuidora de energia, a Copel. A empresa é pública, tem ações negociadas na Bovespa e o reajuste foi determinado pela Agência Nacional de Energia Elétrica, a Aneel, conforme a estrita regra do jogo. Mas, sabe como é, 15% na conta de luz quando os manifestantes contra as tarifas de ônibus nem voltaram para casa? Conversa daqui e dali, todo mundo quebrou o galho. A Aneel não poderia revogar a nova tarifa, mas topou suspender seu “efeito financeiro”, eufemismo para cobrança. A empresa, cujas ações despencaram quando saiu essa notícia, garantiu ao mercado que será ressarcida de algum modo, não sabendo quando, nem como.
Acontece que os custos da Copel efetivamente subiram — e não por culpa dela. A inflação fez uma parte do estrago, mas o custo maior veio da compra de energia mais cara. Foi o seguinte: choveu pouco, os reservatórios das hidrelétricas ficaram em níveis muito baixos e o Operador Nacional do Sistema, órgão federal que administra o setor, mandou ligar as usinas térmicas, movidas a carvão, diesel e gás, cujo produto é mais caro.
Em resumo, por causa da seca, a energia elétrica ficou mais cara no Brasil — e isso logo depois de a presidente Dilma ter feito a maior propaganda com a redução que havia imposto nas contas de luz. Deu a maior confusão, uma sucessão de prejuízos: as hidrelétricas não puderam gerar, mas tinham que entregar energia, por contrato; distribuidoras tiveram que pagar mais caro. A conta deveria ir para os consumidores, mas a presidente não queria. Assim, inicialmente, arrumaram um arranjo financeiro, com prejuízos para geradoras e distribuidoras, mas uma hora a conta deveria ser passada aos consumidores finais, empresas e residências.
Era agora. Além da Copel, nada menos que 17 distribuidoras, divididas por 13 estados, têm reajustes agendados no calendário oficial da Aneel para julho e agosto. (A Light, só em 7 de novembro). O presidente da Empresa de Pesquisa Energética, estatal federal que planeja o setor, Mauricio Tomalsquim, disse que não há orientação do governo para suspender os aumentos tarifários. Ou seja, a Aneel continuaria a formalizar os reajustes.
Os governos — federal e estaduais — podem assumir parte da conta, deixando de recolher os impostos. O maior imposto na conta de luz é o ICMS, estadual. (Nada menos que 29% no Paraná, por exemplo).Mas ninguém acredita que serão aplicados, ainda mais depois do precedente da Copel. Caímos assim em um caso clássico: tarifas congeladas por razões políticas, mas custos em alta por causa da inflação e de falhas do sistema. Se continuar assim, a consequência também é clássica: param os investimentos e o serviço piora.
Acontece que os governos também estão sob pressão popular para, numa ponta, aumentar gasto em transporte, educação e saúde, e na outra, reduzir impostos.
Muita gente acha que basta eliminar a corrupção e lucros excessivos das empresas para que todos os objetivos sejam alcançados. Infelizmente não é assim. Há corrupção, certamente, e deve haver gorduras em muitas tarifas de diversos setores, mas o problema maior é a falta de investimentos e de produtividade. Ou seja, é preciso colocar dinheiro novo em todo o setor de infraestrutura.
O governo federal e muitos estaduais decidiram-se pelas privatizações exatamente em busca de capital e eficiência. Mas é claro que o setor privado vai agora pensar muito antes de entrar em qualquer negócio, considerando a pressão popular e política contras as tarifas — a receita do setor.
Eis a difícil situação em que estamos nos metendo. As pessoas estão certas na sua bronca: pagam caro (nas tarifas e nos impostos) por serviços ruins. Não aconteceu por acaso, mas por anos de gestão pública ruim — com gastos elevados em custeio, pessoal e previdência e muito baixos em investimentos, sem abertura de espaço para o investimento privado.
Acrescente a inflação que o governo federal deixou escapar, e para o problema ficar completo só falta o festival de gastos que o Congresso está preparando. Derrubar tarifas é politicamente inevitável. Mas do jeito que está sendo feito, vai levar a mais déficit público, juros maiores, mais inflação e menos crescimento. Ou seja, a conta vai de novo para o povo.

O julgamento que descontentou as mulheres e arrepiou os homens...

Ops, as mulheres acharão injusto, os homens pensarão duas vezes...
Catherine Kieu decepou o membro de seu marido e o jogou no triturador de lixo
O Globo, 29/06/2013

Um juiz sentenciou à prisão perpétua com possibilidade de condicional uma mulher no sul da Califórnia que decepou o pênis de seu marido e o jogou no triturador de lixo. Catherine Kieu, 50, foi considerada culpada por um júri de Orange County em abril por mutilação grave e tortura após a agressão contra seu ex-marido em julho de 2011.
Ela drogou o ex-marido antes de atá-lo e decepar seu pênis com uma faca. Ela então jogou o órgão genital em um triturador de lixo. Um advogado de Catherine, nascida no Vietnã, argumentou no julgamento que ela havia sofrido abuso sexual em sua infância, o que a deixou com estresse pós-traumático. Ela demonstrou remorso sobre o ataque, disse ele.
Após a audiência, a vítima - identificada apenas como Glen - disse que desejava que o juiz Richard Toohey tivesse aplicado uma sentença mais dura, noticiou o City News Service.
- No fundo, eu esperava uma sentença mais pesada, mas dadas as restrições da lei, é o que ele tinha de fazer - disse ele. - Pode haver uma situação em que eu possa ser feliz. Mas completamente? Nunca - afirmou.

Big Brother is watching you, chers diplomates europeens (Le Monde, DerSpiegel)

Prism : la NSA espionnait l'Union européenne

Le Monde, 30 Juin 2013

Les services de renseignement américains espionnaient dans le cadre du programme de surveillance Prism plusieurs bureaux de l'Union européenne, dont ils avaient réussi à pénétrer les réseaux informatiques, montrent des documents secrets dont l'hebdomadaire allemand Der Spiegel a pris connaissance.

Le magazine allemand cite dans un article publié samedi 29 juin un document classé "strictement confidentiel" de la National Security Agency (NSA) daté de septembre 2010, que l'informaticien Edward Snowden a emporté dans sa fuite après avoir dévoilé l'existence de Prism et que les journalistes du Spiegel ont pulire en partie.
Selon ce document, la NSA a implanté du matériel d'écoute dans les bureaux de l'Union européenne (UE) à Washington et aux Nations unies et était en mesure non seulement d'écouter les conversations téléphoniques, mais aussi d'accéder aux documents et aux courriels des diplomates européens, qualifiés de "cibles à attaquer" dans le document.
D'après le Spiegel, l'agence de renseignement américaine surveillait aussi les systèmes de communication de l'immeuble Justus Lipsius, qui héberge le Conseil européen à Bruxelles et où les gouvernements de l'UE disposent de bureaux à partir desquels ils peuvent passer des appels sécurisés. Il y a "plus de cinq ans", écrit Der Spiegel, les experts en sécurité de l'UE avaient découvert un système d'écoutes sur le réseau téléphonique et internet du bâtiment Justus-Lipsius, qui remontait jusqu'au quartier général de l'OTAN en banlieue de Bruxelles.
IMPACT SUR LES RELATIONS USA-UE
Der Spiegel a également recueilli sur son site internet des réactions de personnalités européennes, comme le président du Parlement européen, l'Allemand Martin Schulz, qui estime que "si cela se confirme, il s'agit d'un immense scandale""Cela nuirait considérablement aux relations entre l'UE et les Etats-Unis", ajoute-t-il.
Pour le ministre des affaires étrangères luxembourgeois, Jean Asselbron, "les États-Unis feraient manifestement mieux de surveiller leurs services de renseignement plutôt que leurs alliés". L'espionnage américain est "hors de contrôle", juge-t-il, soulignant que si les activités de renseignement "sont justifiées par la lutte contre le terrorisme (...) l'UE et ses diplomates ne sont pas des terroristes".
Toujours sur le site du Spiegel, le député européen écologiste Daniel Conh-Bendit appelle à une rupture immédiate des négociations sur le traité de libre-échange transatlantique, tant qu'un accord n'a pas été signé avec les États-Unis sur la protection des données. Des négociations en ce sens, lancées en 2011, n'ont toujours pas abouti.
Mercredi, l'Union européenne avait demandé aux États-Unis de lui fournir "aussi rapidement que possible" des réponses à ses questions sur le programme de surveillance américain Prism.
CORREA S'EST ENTRETENU AVEC BIDEN
Edward Snowden se trouve depuis presque une semaine dans la zone de transit de l'aéroport de Moscou, en attendant la réponse de l'Equateur à sa demande d'asile politique. Cet ancien collaborateur de l'Agence nationale de sécurité (NSA) est recherché par les Etats-Unis pour avoir divulgué des informations explosives sur de vastes programmes américains de surveillance des communications.
Le président équatorien, Rafael Correa, a annoncé samedi s'être entretenu avec le vice-président américain Joe Biden du cas de l'ancien agent du renseignement américain, recherché pour espionnage par Washington. "Nous avons parlé de l'affaire Snowden et il m'a transmis de manière très courtoise la requête des Etats-Unis de bien vouloir rejeter la demande d'asile", a déclaré le président Correa lors d'une conférence de presse, précisant que M. Biden l'avait joint au téléphone vendredi.

Emir dos Crentes: nao se trata de alguem das Arabias, mas do Brasil marquissista e cubanista

Um texto do Embaixador Meira Penna (já antigo, mas ainda plenamente válido) sobre um representante de uma tropa que já mereceu o galardão de Imbecil Coletivo, em épocas passadas. Desde então, só piorou.
Grato a um leitor deste blog que me chamou a atenção para este artigo, colocado no site do promotor do prêmio.
Paulo Roberto de Almeida

Maniqueísmo, ignorância e mendacidade
J. O. de Meira Penna
Jornal da Tarde27 de dezembro de 1999

Numa de suas obras principais, A Nova Ciência da Política, atribui Eric Voegelin a Dario Hystapis, o xá que fundou o Império persa no 5.° século antes de Cristo, a primazia de um fenômeno ominoso que perdurou até nosso século. Após haver sido integrado à civilização ocidental, ele constitui, na verdade, a essência da Ideologia, essa "religião civil" de nossa época. Trata-se da iniciativa do rei Aquemênida de atribuir a si próprio a defesa do Bem e da Verdade, projetando sobre seus adversários, quaisquer que fossem, a pecha de serem os defensores da mentira e do mal. O origem dessa dicotomia ética aplicada à política se encontra no próprio dualismo original da religião dos iranianos, desde que seu fundador, Zarathushtra ou Zoroastro, cindiu em dois a divindade, concedendo a Ormudz ou Ahura Mazda as qualidades de bondade e veracidade, a ele opondo Arihman, o "grande satã", deus do mal e da mentira. O dualismo transcendente tomaria uma forma mais pronunciada nos ensinamentos de um outro profeta, Mani ou Manichaeus, que viveu 800 anos depois e influenciou as seitas gnósticas de princípios de nossa era. Fundador de uma religião conhecida como maniqueísmo, Mani contaminou de mitologia mágica dualística todas as heresias que ameaçariam a ortodoxia católica na Idade Média, Cátaros, Albigenses, etc. Não nos esqueçamos que S. Agostinho, o maior filósofo cristão, professou o maniqueísmo em sua mocidade, a tal ponto que muitos críticos reconhecem em sua teologia reminiscências do dualismo ético, tão entranhado agora na mente humana que é difícil dele nos libertarmos.
Foi Agostinho, no entanto, quem melhor desenvolveu a interpretação correta que S. Paulo fez do Evangelho de Cristo, segundo a qual é em nós mesmos que devemos procurar a oposição entre o Bem e o Mal. No maniqueísmo, ao contrário, somos nós, seus professos, donos da verdade e da justiça, enquanto detestáveis são aqueles que não pensam como nós porque portadores da maldade e da mentira. É fácil avaliar a importância dessa psicopatologia na postura do ideólogo moderno, fiel ao cego dogmatismo de suas mais estapafúrdias doutrinas e sempre disposto a acusar de mentiroso, injusto, perverso e egoísta seus adversários. A dialética do Bem e do Mal que o maniqueísmo provoca leva o alegado defensor da Verdade a recorrer a qualquer instrumento para eliminar o Outro. A faca do assassino (do árabe hashishim, comedor de haxixe), os fogos da Inquisição, o Gulag e Auschwitz, a bomba terrorista da "guerra santa" dos aiatolás, o tiro na nuca no porão do KGB e o paredón para punir o traidor vendido aos interesses alienígenas, tornaram-se banais em nossa época. Orwell descreveu magnificamente o "duplo-pensar" totalitário que justifica o crime. O ideólogo pensa estar defendendo a justiça e a verdade, de tal modo que a prisão moscovita se transforma em "amorzinho" (Lubianka) e o genocídio é a justa recompensa dos "capitalistas burgueses". Voegelin descobre traços do processo psicopatológico que cinde a realidade histórica, necessariamente complexa e cinzenta, na simplicidade dualística do branco X preto ou, como se prefere hoje dizer, da "esquerda" e "direita". O nazismo e o marxismo, em suas várias vertentes, são as manifestações mais clamorosas da enfermidade mental. Claro. O nacionalismo xenófobo se tornou, porém, a partir da 1.ª Guerra Mundial, a expressão coletiva mais banal da esquizofrenia paranóica. A corrupção da verdade em seu oposto, a Grande Mentira dialética, é também suscetível de ser diagnosticada como Pseudologia Epidêmica ou Pseudodoxia Fantástica. Assim como o católico atribuía ao protestante todos os males, o nazista os atribui aos judeus, o marxista aos liberais e o latino patrioteiro aos americanos.
As observações acima vêm a propósito da ira incontida, verdadeira rebordosa histérica que maltrata os "esquerdistas" (chamêmo-los assim, já que tanto apreciam esse grotesco termo jacobino) diante do colapso da URSS, da queda do Muro de Berlim e do fenômeno da globalização, aparentemente irreversível. A adoção quase universal das receitas liberais, mesmo pelos partidos tidos como de "esquerda", o Labour de Mr. Blair, a Gauche de Monsieur Jospin, o regime de Deng Xiaoping e Jiang Zemin (Dois Sistemas, Um Só País), a "Concertación de Izquierda" do Chile, o Justicialismo argentino e mesmo, entre nós, o PSDB de FHC – se traduz por programas de abertura ao mercado global e privatizações. Assim mesmo, o annus mirabilis de 1989 (saudemos essa data maior do século 20!) concedeu a esse pessoal um tempo suficiente para que se recomponham. Afinal de contas, a revolução liberal foi uma "revolução de veludo", como a denominou o presidente checo Vaclav Havel. Os liberais, não somos vingativos, reconhecemos nossos próprios defeitos e insuficiências, não absolutizamos nossas idéias, reconhecemos que elas evoluem e se integram em outras receitas. Se tivéssemos imitado Lenin, Stalin, Hitler, Mao ou Fidel Castro, os socialistas que escapassem do paredón ou da bala na nuca estariam hoje encerrados todos num Gulag apropriado, maior do que a ilha de Cuba. Ao invés, eles voltaram ao poder sob títulos diversos. São "populistas", "petistas", "social-democratas" ou "socialistas cristãos". Agarram-se aos cargos e mordomias. Escrevem nas folhas mais conservadoras do País. Colaboram com os mais opulentos bilionários. Chamam Roberto Campos de Bob Fields. E até mesmo o senador Roberto Freire é convidado de honra num simpósio da Fundação Konrad Adenauer (ó manes do der Alte!).
No Brasil, é mais óbvio seu descaramento. Um exemplo supino é o do Emir dos Crentes, mais conhecido como professor Sader. Perdoe-me esse eminente "sociólogo" levantino e guru do PT se lhe renovo o merecido galardão, do "Prêmio Imbecil Coletivo de 1996", a ele concedido por Olavo de Carvalho. Suas idéias são bastante características. Definem o mecanismo de transferência de culpa, dialética mendaz, deslealdade e cínica hipocrisia "xiita" (mas será que o professor é sunita?). Um exemplo é a tentativa de contrapor ao "Livro Negro do Comunismo" (cem milhões de mortes) um pseudo "Livro Negro do Capitalismo". Ao denunciar o "desconhecimento da história", indigitar o "pensamento único" e utilizar o truque de interpretar de modo estreitíssimo os dogmas marxistas-leninistas, ele atribui a 1.ª Guerra Mundial (20 milhões de mortes) ao capitalismo. Admiravelmente simples! Só que em 1914 a França e a Grã-Bretanha eram governados por partidos de esquerda – os dois líderes, René Viviani e Clemenceau, ambos socialistas, e Lloyd George um liberal de esquerda apoiado pelo Labour. Um único prestigioso socialista se opôs ao conflito, Jean Jaurès, e foi assassinado por ser germanófilo. O reich bismarckiano era, similarmente, dirigido pelos social-democratas e, dos dois lados da cerca, todos os socialistas aplaudiram e votaram os orçamentos de guerra de seus respectivos governos. O mesmo em 1939. Atribuir ao "Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães", os Nazistas de Hitler, um vezo "capitalista" é uma aberração da inteligência. Em 1939, capitalistas eram os judeus... Todos os liberais austríacos e alemães que, no pós-guerra, iriam erguer a "economia social de mercado" e promover o "milagre alemão", homens como Adenauer, Eucken, Machlup, Ludwig Erhard, von Mises e Hayek, se encontravam no ostracismo, na cadeia ou no exílio.
Mas porventura os militares nipônicos que, em 1932, invadiram a Manchúria, em 1937 a China, promoveram o rapto de Nanking e, em 1941, bombardearam Pearl Harbor seriam também burgueses capitalistas? E o Pacto Molotov-Ribbentrop de agosto de 1939, que desencadeou a guerra (50 milhões de mortes) permitindo a Hitler liquidar separadamente com a Polônia, a Escandinávia e a França, enquanto Stalin, o outro parceiro, se locupletava com a outra fatia da Polônia, os Estados bálticos e a Finlândia – foi por acaso firmado por capitalistas burgueses? E como foi mantido e se expandiu o Império soviético (60 milhões de vítimas)? Quem invadiu a Coréia do Sul em 1950, o Tibet em 1951 e a Índia setentrional em 1963? Não foi o Vietnã de Ho Chimin que assolou a Kampuchea democrática (um milhão de mortes) e entrou em guerra com a China maoísta em 1979? Não foi o Iraque que atacou o Irã e a URSS que ocupou o Afeganistão? E a Iugoslávia de Milosevitch não era comunista quando se desintegrou em sangrenta guerra civil (300 mil mortos)? O ilustre Emir dos Crentes deve aprender história no curso primário antes de escrever "Em Defesa da História" nos jornais burgueses de Brasília, Rio e São Paulo, essas mesmas folhas que acusa de colaborarem no "festival do pensamento único que assola nossa imprensa". Mas talvez tenha razão: o festival de pensamento único que assola nossa imprensa e o "clima de impunidade" com idéias estrambólicas é a mesma orgia ideológica de que o comendador está, precisamente, gozando com seus comparsas...
-------------------
J.O. de Meira Penna é embaixador, escritor e presidente do Instituto Liberal de Brasília.

Fechado para reformas (alias fechado mesmo, sem reformas): o sistema politico brasileiro (politico?)

O amadorismo chega a ser patético. Não, não se espera que todo político seja um experto constitucional, mas se espera que os supremos mandatários do Executivo tenham conselheiros suficientemente instruídos no mínimo básico elementar fundamental necessário regramento constitucional. Quando são ignorantes, melhor chamar quem entenda, ou então passar a vergonha de se desdizer, de voltar atrás, de não saber o que fazer, e até de não saber expressar o que se quer, a menos que não se queira nada de bom, e se tenta disfarçar a agenda perversa atrás de palavras vagas.
Enfim, tem um pouco de tudo isso triste cenário político atual, como discute este editorial desse venerando jornal reacionário do Partido da Imprensa Golpista, aquele mesmo que é o único inimigo dos companheiros totalitários.
Paulo Roberto de Almeida

A aventura e o vespeiro

Editorial O Estado de S.Paulo, 29 de junho de 2013 

Bastou uma jornada de conversas com os líderes da base aliada e os presidentes da Câmara e do Senado - três sessões somando 11 horas - para a presidente Dilma Rousseff se deparar com a enrascada em que se enfiou ao propor a reforma política por plebiscito, a fim de se manter à tona depois do naufrágio da convocação, também por plebiscito, de uma Assembleia Constituinte para mudar, à revelia do Congresso, as regras do sistema eleitoral e da atividade política. Lançando às águas o Titanic saído dos estaleiros do Planalto, sem lastro político e muito menos jurídico, Dilma queria que se acreditasse que ela navegava no mesmo rumo da esquadra de protestos populares que percorre o País. A sua intenção primeira, na verdade, era efetuar uma manobra para desviar as atenções gerais do fracasso de seu governo em fazer o Estado servir ao povo - que é o que as manifestações exigem. A alternativa a que se agarrou, porém, é quase tão catastrófica quanto o disparate original.
Na maratona de reuniões de anteontem, Dilma viu que o Congresso quer assumir o controle da consulta popular que, por ela, se concentraria no financiamento das campanhas e na fórmula de eleição de deputados. Só que os políticos destamparam um vespeiro ao incluir na agenda o fim da reeleição, a partir de 2018, com mandato único de cinco anos para presidente, governadores e prefeitos. Será um retrocesso, diga-se de imediato. Na soma algébrica de prós e contras, o Brasil saiu ganhando com a adoção, em 1995, do modelo que na prática confere um mandato de oito anos aos governantes, com um recall a meio caminho. O esquema favorece a continuidade administrativa sem privar o eleitor da chance de substituir os titulares que não tiverem correspondido às suas esperanças. Há ainda uma baciada de outras propostas que, se incluídas no plebiscito, o transformariam numa inviável lista de compras.
Por exemplo, a extinção das coligações partidárias nas disputas para a Câmara Federal e os Legislativos estaduais e municipais; o fim do voto obrigatório; a adoção da cláusula de barreira para as siglas que não tiveram obtido determinada porcentagem de votos nas eleições parlamentares; a participação, nesses pleitos, de candidatos não filiados a partidos; e a coincidência dos mandatos em todas as esferas. A amplitude e a variedade dos dispositivos que podem compor o sistema político-eleitoral deixam claro outra coisa, além do absurdo de serem escolhidos mediante plebiscito, quanto mais não seja pelo risco de serem aprovados nas urnas quesitos conflitantes entre si. Demonstram que não é apenas a resistência interesseira dos congressistas que trava, entra ano, sai ano, a reforma política. Efetivamente, não é trivial construir consensos para a implantação de um conjunto presumivelmente articulado de normas dessa ordem de complexidade. Ainda mais quando falta clareza sobre o que, afinal de contas, se pretende com a mudança e faltam lideranças políticas aptas a dar um norte ao debate.
Em face disso, chega a ser escandaloso - e prova cabal de despreparo, oportunismo e irresponsabilidade - que a mais alta autoridade do País queira que a consulta seja formatada, explicada e realizada a toque de caixa, para que os seus resultados possam virar lei até 5 de outubro próximo e, assim, valer para as eleições de 2o14. A menos, como o PT espertamente sugere, que se recorra à gambiarra de uma emenda constitucional que suspenderia a regra de ouro da anualidade para a entrada em vigor de alterações nos estatutos eleitorais. Na reunião com os líderes aliados, Dilma teve o dissabor de descobrir que o senador Ciro Nogueira, presidente do PP, concorda com o que a oposição defende desde a primeira hora: no lugar do plebiscito, o eleitorado seria chamado a julgar a reforma que o Congresso aprovar.
Para a anfitriã, seria o fim do mundo se a maioria rejeitasse as suas decisões (a exemplo do que aconteceu com a proposta do desarmamento, no referendo de 2005). Na realidade, como já se observou, ela não quer dar o braço a torcer para não passar vergonha: seria o seu segundo recuo político em questão de dias. E a Nação que arque com os efeitos da aventura dilmista.

Fukuyama on the Middle-Class revolutions: Brazil, Turkey, etc (WSJ)

The Saturday Essay
The Wall Street Journal, June 29, 2013

The Middle-Class Revolution

All over the world, argues Francis Fukuyama, today's political turmoil has a common theme: the failure of governments to meet the rising expectations of the newly prosperous and educated.

    By 
  • FRANCIS FUKUYAMA
[image]Reuters
BRAZIL JUNE 22, 2013 | Demonstrators protest corruption and poor public services.
Over the past decade, Turkey and Brazil have been widely celebrated as star economic performers—emerging markets with increasing influence on the international stage. Yet, over the past three months, both countries have been paralyzed by massive demonstrations expressing deep discontent with their governments' performance. What is going on here, and will more countries experience similar upheavals?
The theme that connects recent events in Turkey and Brazil to each other, as well as to the 2011 Arab Spring and continuing protests in China, is the rise of a new global middle class. Everywhere it has emerged, a modern middle class causes political ferment, but only rarely has it been able, on its own, to bring about lasting political change. Nothing we have seen lately in the streets of Istanbul or Rio de Janeiro suggests that these cases will be an exception.
In Turkey and Brazil, as in Tunisia and Egypt before them, political protest has been led not by the poor but by young people with higher-than-average levels of education and income. They are technology-savvy and use social media like Facebook and Twitter to broadcast information and organize demonstrations. Even when they live in countries that hold regular democratic elections, they feel alienated from the ruling political elite.
image
European Pressphoto Agency
TURKEY JUNE 22, 2013 | A protester holds a flag in Taksim Square in Istanbul.A
image
European Pressphoto Agency
TUNISIA FEB. 25, 2011 | Tunisians rally to demand the resignation of the interim government.
image
European Pressphoto Agency
EGYPT JUNE 28, 2013 | Egyptians opposing President Morsi hold placards reading 'Leave.'
In the case of Turkey, they object to Prime Minister Recep Tayyip Erdoğan's development-at-all-cost policies and authoritarian manner. In Brazil, they object to an entrenched and highly corrupt political elite that has showcased glamour projects like the World Cup and Rio Olympics while failing to provide basic services like health and education to the general public. For them, it is not enough that Brazil's president, Dilma Rousseff, was herself a left-wing activist jailed by the military regime during the 1970s and leader of the progressive Brazilian Workers Party. In their eyes, that party itself has been sucked into the maw of the corrupt "system," as revealed by a recent vote-buying scandal, and is now part of the problem of ineffective and unresponsive government.

The business world has been buzzing about the rising "global middle class" for at least a decade. A 2008 Goldman Sachs report defined this group as those with incomes between $6,000 and $30,000 a year and predicted that it would grow by some two billion people by 2030. A 2012 report by the European Union Institute for Security Studies, using a broader definition of middle class, predicted that the number of people in that category would grow from 1.8 billion in 2009 to 3.2 billion in 2020 and 4.9 billion in 2030 (out of a projected global population of 8.3 billion). The bulk of this growth will occur in Asia, particularly China and India. But every region of the world will participate in the trend, including Africa, which the African Development Bank estimates already has a middle class of more than 300 million people.
Corporations are salivating at the prospect of this emerging middle class because it represents a vast pool of new consumers. Economists and business analysts tend to define middle-class status simply in monetary terms, labeling people as middle class if they fall within the middle of the income distribution for their countries, or else surpass some absolute level of consumption that raises a family above the subsistence level of the poor.
But middle-class status is better defined by education, occupation and the ownership of assets, which are far more consequential in predicting political behavior. Any number of cross-national studies, including recent Pew surveys and data from the World Values Survey at the University of Michigan, show that higher education levels correlate with people's assigning a higher value to democracy, individual freedom and tolerance for alternative lifestyles. Middle-class people want not just security for their families but choices and opportunities for themselves. Those who have completed high school or have some years of university education are far more likely to be aware of events in other parts of the world and to be connected to people of a similar social class abroad through technology.

Families who have durable assets like a house or apartment have a much greater stake in politics, since these are things that the government could take away from them. Since the middle classes tend to be the ones who pay taxes, they have a direct interest in making government accountable. Most importantly, newly arrived members of the middle class are more likely to be spurred to action by what the late political scientist Samuel Huntington called "the gap": that is, the failure of society to meet their rapidly rising expectations for economic and social advancement. While the poor struggle to survive from day to day, disappointed middle-class people are much more likely to engage in political activism to get their way.
This dynamic was evident in the Arab Spring, where regime-changing uprisings were led by tens of thousands of relatively well-educated young people. Both Tunisia and Egypt had produced large numbers of college graduates over the past generation. But the authoritarian governments of Zine El Abidine Ben Ali and Hosni Mubarak were classic crony-capitalist regimes, in which economic opportunities depended heavily on political connections. Neither country, in any event, had grown fast enough economically to provide jobs for ever-larger cohorts of young people. The result was political revolution.

None of this is a new phenomenon. The French, Bolshevik and Chinese Revolutions were all led by discontented middle-class individuals, even if their ultimate course was later affected by peasants, workers and the poor. The 1848 "Springtime of Peoples" saw virtually the whole European continent erupt in revolution, a direct product of the European middle classes' growth over the previous decades.
While protests, uprisings and occasionally revolutions are typically led by newly arrived members of the middle class, the latter rarely succeed on their own in bringing about long-term political change. This is because the middle class seldom represents more than a minority of the society in developing countries and is itself internally divided. Unless they can form a coalition with other parts of society, their movements seldom produce enduring political change.
Thus the young protesters in Tunis or in Cairo's Tahrir Square, having brought about the fall of their respective dictators, failed to follow up by organizing political parties that were capable of contesting nationwide elections. Students in particular are clueless about how to reach out to peasants and the working class to create a broad political coalition. By contrast, the Islamist parties—Ennahda in Tunisia and the Muslim Brotherhood in Egypt—had a social base in the rural population. Through years of political persecution, they had become adept at organizing their less-educated followers. The result was their triumph in the first elections held after the fall of the authoritarian regimes.
A similar fate potentially awaits the protesters in Turkey. Prime Minister Erdoğan remains popular outside of the country's urban areas and has not hesitated to mobilize members of his own Justice and Development Party (AKP) to confront his opponents. Turkey's middle class, moreover, is itself divided. That country's remarkable economic growth over the past decade has been fueled in large measure by a new, pious and highly entrepreneurial middle class that has strongly supported Erdoğan's AKP.
This social group works hard and saves its money. It exhibits many of the same virtues that the sociologist Max Weber associated with Puritan Christianity in early modern Europe, which he claimed was the basis for capitalist development there. The urban protesters in Turkey, by contrast, remain more secular and connected to the modernist values of their peers in Europe and America. Not only does this group face tough repression from a prime minister with authoritarian instincts, it faces the same difficulties in forging linkages with other social classes that have bedeviled similar movements in Russia, Ukraine and elsewhere.
The situation in Brazil is rather different. The protesters there will not face tough repression from President Rousseff's administration. Rather, the challenge will be avoiding co-optation over the long term by the system's entrenched and corrupt incumbents. Middle-class status does not mean that an individual will automatically support democracy or clean government. Indeed, a large part of Brazil's older middle class was employed by the state sector, where it was dependent on patronage politics and state control of the economy. Middle classes there, and in Asian countries like Thailand and China, have thrown their support behind authoritarian governments when it seemed like that was the best means of securing their economic futures.

Brazil's recent economic growth has produced a different and more entrepreneurial middle class rooted in the private sector. But this group could follow its economic self-interest in either of two directions. On the one hand, the entrepreneurial minority could serve as the basis of a middle-class coalition that seeks to reform the Brazilian political system as a whole, pushing to hold corrupt politicians accountable and to change the rules that make client-based politics possible. This is what happened in the U.S. during the Progressive Era, when a broad middle-class mobilization succeeded in rallying support for civil-service reform and an end to the 19th-century patronage system. Alternatively, members of the urban middle class could dissipate their energies in distractions like identity politics or get bought off individually by a system that offers great rewards to people who learn to play the insiders' game.
image
REUTERS
Brazil's recent economic growth has produced an entrepreneurial middle class. Above,aprotest in Rio de Janeiro on June 20.
There is no guarantee that Brazil will follow the reformist path in the wake of the protests. Much will depend on leadership. President Rousseff has a tremendous opportunity to use the uprisings as an occasion to launch a much more ambitious systemic reform. Up to now she has been very cautious in how far she was willing to push against the old system, constrained by the limitations of her own party and political coalition. But just as the 1881 assassination of President James A. Garfield by a disappointed office-seeker became the occasion for wide-ranging clean-government reforms in the U.S., so too could Brazil use the occasion of the protests to shift onto a very different course today.
The global economic growth that has taken place since the 1970s—with a quadrupling of global economic output—has reshuffled the social deck around the world. The middle classes in the so-called "emerging market" countries are larger, richer, better educated and more technologically connected than ever before.
This has huge implications for China, whose middle-class population now numbers in the hundreds of millions and constitutes perhaps a third of the total. These are the people who communicate by Sina Weibo—the Chinese Twitter—and have grown accustomed to exposing and complaining about the arrogance and duplicity of the government and Party elite. They want a freer society, though it is not clear they necessarily want one-person, one-vote democracy in the near term.
This group will come under particular stress in the coming decade as China struggles to move from middle- to high-income status. Economic growth rates have already started to slow over the past two years and will inevitably revert to a more modest level as the country's economy matures. The industrial job machine that the regime has created since 1978 will no longer serve the aspirations of this population. It is already the case that China produces some six million to seven million new college graduates each year, whose job prospects are dimmer than those of their working-class parents. If ever there was a threatening gap between rapidly rising expectations and a disappointing reality, it will emerge in China over the next few years, with vast implications for the country's stability.
There, as in other parts of the developing world, the rise of a new middle class underlies the phenomenon described by Moises Naím of the Carnegie Endowment as the "end of power." The middle classes have been on the front lines of opposition to abuses of power, whether by authoritarian or democratic regimes. The challenge for them is to turn their protest movements into durable political change, expressed in the form of new institutions and policies. In Latin America, Chile has been a star performer with regard to economic growth and the effectiveness of its democratic political system. Nonetheless, recent years have seen an explosion of protests by high-school students who have pointed to the failings of the country's public education system.
The new middle class is not just a challenge for authoritarian regimes or new democracies. No established democracy should believe it can rest on its laurels, simply because it holds elections and has leaders who do well in opinion polls. The technologically empowered middle class will be highly demanding of their politicians across the board.
The U.S. and Europe are experiencing sluggish growth and persistently high unemployment, which for young people in countries like Spain reaches 50%. In the rich world, the older generation also has failed the young by bequeathing them crushing debts. No politician in the U.S. or Europe should look down complacently on the events unfolding in the streets of Istanbul and São Paulo. It would be a grave mistake to think, "It can't happen here."
—Mr. Fukuyama is a senior fellow at Stanford University's Freeman Spogli Institute for International Studies and the author of "The Origins of Political Order: From Prehuman Times to the French Revolution."
A version of this article appeared June 29, 2013, on page C1 in the U.S. edition of The Wall Street Journal, with the headline: The Middle-ClassRevolution.

sábado, 29 de junho de 2013

E neste domingo, a vaia caprichada vai para...

Ué, onde estão todos?
Sumiram?
Se esconderam?
Não vão cumprir a obrigação política elementar que ocorre nessas ocasiões, que é a autoridade máxima presente entregar a taça da vitória para a equipe vencedora?
Vamos ter de vaiar só os cartolas da Fifa e os corruptos da CBF?
Ohhh, vai ficar sobrando vaia...
OK, a gente guarda para a próxima ocasião...
Paulo Roberto de Almeida 

O relativismo, essa falacia epistemologica - Gustavo Ioschpe (via Orlando Tambosi)

Agradeço a meu amigo e colega de combates racionalistas, a transcrição em seu blog (aqui) deste artigo de Gustavo Ioschpe, na revista Veja de 26/06/2013, sobre o relativismo, que de outra forma me teria passado despercebido. Trata do relativismo, essa praga que invadiu universidades e vem se reproduzindo como... uma praga, justamente.
Reproduzo integralmente o conteúdo do post.
Paulo Roberto de Almeida

Orlando Tambosi, link

Na Veja da semana passada, Gustavo Ioschpe publicou um artigo - que vale a pena reproduzir integralmente - analisando uma questão epistemológica fundamental: a verdade. "Afinal, a verdade existe?", pergunta o título. Para o relativismo radical, negador de verdades universais, só há verdades relativas. Ioschpe se refere particularmente ao pensamento reinante nas escolas de segundo grau, mas o fato é que esse relativismo fincou raízes nas universidades, devastando as ciências humanas em geral. Fui testemunha dessa estupidez, contra a qual lutei quase que solitariamente na universidade a que pertenci, muitas vezes sendo chamado de positivista, reacionário etc. Muitos posts foram dedicados a esse tema no blog. Escrevi também um ensaio acadêmico sobre "jornalismo e teorias da verdade", que pode ser acessado aqui. A propósito, o relativismo deixou essa área mais próxima das ideologias que das ciências.

Há muitos anos, dei uma palestra a professores de uma rede estadual de ensino. Muita gente, ginásio grande. Apresentei a saraivada de dados em que me baseio para estabelecer um diagnóstico da educação brasileira. Depois da fala, abriu-se espaço para perguntas. Lembro-me da primeira delas como se fosse hoje: “O palestrante que esteve aqui ontem nos advertiu de que números são como palavras: são criações humanas. E que por trás de toda criação humana existe a intencionalidade da pessoa que a criou. Qual é a sua?”.

É uma visão de mundo preocupante. Fruto do pensamento pós-modernista de viés marxista, postula que não existe uma verdade objetiva, depreendida do estudo de fatos através das ferramentas da ciência. O resultado dessa investigação científica seria apenas uma verdade, a versão inventada pelo homem branco ocidental para ajudá-lo a subjugar os povos subdesenvolvidos e as minorias dos países ricos. Existem, para os pós-modernistas, “verdades”, no plural, ditadas pelas características históricas, culturais e econômicas de cada pessoa ou grupo. A crença de um aborígine de que um trovão é uma manifestação do descontentamento de uma deidade qualquer tem, portanto, o mesmo grau de verdade da descoberta de que o trovão é causado pela ionização e pelo aquecimento do ar que envolve um raio, gerando sua rápida expansão e a consequente onda de som.

Para que seja possível pensar assim, é preciso ignorar que existem fatos e que números, estatísticas, são apenas descrições quantitativas desses fatos. Se eu digo que a população brasileira em julho de 2012 era de 193 milhões de pessoas, segundo o IBGE, não se pode dizer que eu (ou os coconspiradores do IBGE) estou “criando” esse dado como se criasse um soneto. Não, as pessoas existem e estão lá! O número é apenas a maneira mais simples de comunicar esse fato, sem precisar mostrar fotos de todos os cidadãos nem repetir a contagem a cada instante. Se entendemos que fatos existem, e se notamos que os fatos corriqueiros do mundo que nos cerca já apresentam uma variedade e uma complexidade inenarráveis - da estrutura atômica e subatômica das partículas ao movimento das marés ou de planetas -, então necessitamos de um método impessoal e objetivo para perceber e compreender esses fatos. Esse método precisa ser peculiar: deve ser feito por seres humanos imperfeitos - com paixões e vilezas, sem visão de raio X nem audição perfeita - para superar as próprias limitações e chegar o mais próximo possível de observar o fato real, sem distorções ou falhas de interpretação. A criatura precisa superar o criador. Como fazê-lo? Perseguindo os fatos de maneira objetiva e técnica, gerando hipóteses sobre o mundo que só podem ser confirmadas através da medição. Porque, confiando em um método objetivo e em dados oriundos de medições, os resultados podem ser reproduzidos por diferentes pessoas em diferentes épocas, e as conclusões espúrias ou os métodos defeituosos podem ser expostos, corrigidos ou descartados. Sim, esse método a que me refiro é a ciência.

Os pós-modernistas empenham-se em destruir o edifício da ciência. Não mostrando os erros metodológicos ou quantitativos dos estudos científicos, porque a maioria dos adeptos da causa não tem competência técnica para isso (“Errar é humanas”), mas simplesmente atacando a credibilidade dos “especialistas”. E isso se faz necessário não apenas porque, sem os guardiães do conhecimento embasado em fatos, qualquer Quixote pode descrever moinhos inexistentes que devem ser derrubados, mas também porque as investigações mais recentes de várias ciências, especialmente a biologia, desconstroem muitas ideias que são caras aos pós-modernistas e marxistas em geral. Entre elas, especialmente aquela de que o ser humano é um bicho fraterno e igualitário por natureza, e não o ser competitivo e movido pela busca de status e hierarquia em seu grupo social que a psicologia evolutiva não se cansa de demonstrar em estudos e experimentos (sugestões de leitura em twitter.com/gioschpe). Claro, se o fato não existe, o cientista ou especialista só pode ser um impostor, que inventa dados para justificar algum viés inconfessável. Para os ideólogos, toda neutralidade é uma farsa. Quem aponta um erro de um pós-modernista não pode estar certo: necessariamente, deve ser um tarado neoliberal. O marxismo e seus derivativos formam um sistema fechado. Para os crentes, quem aponta seus erros o faz por algum interesse de classe, etnia ou nação e, portanto, pode ser imediatamente descartado. Só poderá apontar os erros quem for confrade. Mas, obviamente, quem é confrade não percebe os erros.

As pessoas dessa inclinação acreditam que a ciência é uma religião, uma fé cega. Que os racionalistas apenas trocaram um deus crucificado por outro abstrato: o método científico. Mas esse é um engano fundamental e dantesco. Porque a marca da religião (e da ideologia) é justamente o dogma, a ideia inquestionável e infalsificável, porque revelada por uma entidade superior. A ciência se move por dúvidas, não por certezas: tudo é questionável e precisa ser demonstrado e reproduzido. Não há crença em entidades superiores. Pelo contrário: a ciência moderna se faz pela sobreposição de vários e pequenos esforços. Até que uma teoria ganhe respeitabilidade e passe a ser aceita como uma boa descrição dos fatos, precisa ser replicada por muitos pesquisadores, que podem estar espalhados por todo o planeta. É sempre assim que funciona? Claro que não. Quem conhece a história das ideias sabe que cientistas e pesquisadores sofrem dos mesmos vícios da humanidade em geral. São seduzidos pelo poder político e econômico, sucumbem a ideologias, aferram-se a teorias patentemente equivocadas por questões pessoais ou até mesmo estéticas. Mas, por mais que ideias tortas tenham vida longa, algum dia elas não resistem ao acúmulo de evidências contrárias e morrem, vão para o lixo da história, substituídas por formulações mais corretas.

Algumas pessoas acham que não se pode confiar na ciência porque “uma hora eles dizem uma coisa, outra hora dizem outra”. Mas isso é causado mais por um viés da publicação dos resultados do que pelos resultados em si. É mais culpa da imprensa (leiga e acadêmica) do que de pesquisadores: é a velha história de que quando um homem morde um cachorro é notícia, mas não vice-versa. Os resultados mais divulgados são frequentemente os mais destoantes do senso comum e da pesquisa anterior. É bom que sejam publicados, porque arejam o debate, mas na maioria dos casos acabam sendo a exceção que comprova a regra. Não é verdade que o processo científico é um eterno pingue-pongue de versões antagônicas. O conhecimento avança, chegamos a consensos. Dificilmente se verá algum estudo sério sugerindo que fumar faz bem à saúde. É verdade que os consensos não são perenes e que talvez vamos propor ações equivocadas por baseá-las em pesquisas que depois se descobrirão equivocadas. Mas no mundo real sabemos que a perfeição é inatingível. A questão, portanto, não é acabar com o erro, pois isso é impossível, mas minimizá-lo. E certamente uma ação baseada em evidências sólidas vai errar menos do que aquela inspirada em intuições e inclinações pessoais.

Que pessoas ignorantes repitam essa linha do “cada um com a sua verdade” é até compreensível, saturados que estamos, aqui nos tristes trópicos, de gente que compartilha essa cosmovisão. Na terra da cordialidade, pega mal defender a existência de uma verdade e o consequente erro daqueles que defendem seu oposto. Parece até arrogância. Que professores pensem assim já é mais triste e preocupante, pois uma tarefa fundamental do sistema escolar é transmitir ao alunado o conhecimento acumulado ao longo de séculos de trabalho árduo de pesquisadores e pensadores, que muitas vezes perderam a vida defendendo suas ideias “hereges”. Também são os professores que deveriam propagar o método científico, para que seus alunos possam empreender o mesmo caminho da busca da verdade trilhado pelos gigantes intelectuais que nos precederam.

Mas que líderes públicos pensem assim, e ajam ao arrepio daquilo que a pesquisa já estabeleceu, aí não é apenas triste ou lamentável: é criminoso. Na área da educação posso dizer com tranquilidade: a maioria dos nossos gestores públicos despreza totalmente os milhares de estudos objetivos sobre o que funciona em educação. Insistem em gastar fortunas com ideias que a experiência, documentada em estudos rigorosos, já se encarregou de demonstrar serem inócuas. O Ministério da Educação agora cria um “Programa Nacional de Alfabetização na Idade Certa” que quer alfabetizar na idade errada (8 anos, em vez de 6) e defende um aumento radical do financiamento em educação que não terá nenhum impacto na melhora da qualidade do ensino (em breve escreverei artigo a respeito). Prefeituras insistem em alfabetizar com o método construtivista, quando o fônico tem se mostrado mais eficaz. Em diminuir o número de alunos em sala de aula ou colocar dois mestres por turma, o que não dá resultado. Em carregar nas ferramentas tecnológicas que não têm comprovação alguma, sem nem ao menos fazer uma escolha criteriosa do livro didático ou prescrever o bom e velho dever de casa, ambos com custo perto de zero e eficácia comprovada.

Muitos o fazem por desconhecimento e preguiça, outros por conveniências políticas, outros ainda por motivos inconfessáveis (não há fornecedor de dever de casa para dar uma mãozinha no financiamento da próxima campanha...). Mas, no frigir dos ovos, eles só podem se safar de sua irresponsabilidade porque sabem que grande parte dos eleitores está convencida de que fatos são criados de acordo com a intencionalidade de cada um e que, portanto, vontades são mais importantes do que resultados e que as boas intenções dos inventores de factoides compensam o divórcio entre seus objetivos e suas realizações. Mas os dados existem. A verdade existe. E até os pós-modernistas mostram saber disso. Cada vez que tomam um remédio ou visitam um médico para tratar de uma doença, em vez de consumir uma beberagem prescrita por um pajé, estão dando às próprias ideias a credibilidade que merecem. Ignoramos esses dados, e os muitos recados que nos mandam, por nossa conta e risco. Países não morrem nem vão à falência por teimar em ignorar a realidade. Mas podem estagnar ou retroceder, como mostra a história recente de alguns de nossos vizinhos. Se não acordarmos para a realidade, em breve haveremos de fazer-lhes companhia.


P.S.: Thomas Jefferson, um dos founding fathers dos EUA, escreveu que “onde a imprensa é livre, e todo homem capaz de ler, tudo está seguro”. Roberto Civita lutou para que cumpríssemos essas duas missões por toda a sua vida adulta. O Brasil perdeu um grande homem, mas o legado fica. Em boas mãos: a existência desta coluna, que irrita a tantos há anos, só é possível em uma organização que preza a verdade antes de agradar a leitores ou poderosos