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sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Economia brasileira: fim do modelo companheiro - Miriam Leitao

PANORAMA ECONÔMICO
Fim do modelo
Miriam Leitão
O Globo, 24/10/2014

Chega-se ao fim do segundo turno e a presidente da República que concorre à reeleição nada disse sobre seu programa na área econômica. O silêncio foi deliberado. Não podia falar o que vai fazer porque teria de admitir o quadro lamentável na economia: inflação alta, crescimento zero, recessão na indústria, superávit primário quase desaparecido, aumento da dívida.

Não é o fim do mundo, mas será o fim de um modelo. Se for reeleita a presidente terá de mudar o rumo da economia ou vai aprofundar a crise. A situação chegou no ponto em que está por escolhas feitas pela equipe econômica sob direta supervisão de Dilma. Ela não delegou o tema, cada decisão tomada foi baseada em suas convicções na economia.

O modelo está num beco sem saída. Incentivar mais o consumo com as famílias endividadas não será possível até porque as próprias pessoas estão preocupadas em quitar suas dívidas. O País é mais sensato que seu governo.

Dar mais subsídios a setores específicos perdeu o efeito de elevar o consumo e tem diminuído a arrecadação. O governo terá de pedir para mudar a lei do orçamento porque não cumprirá a meta fiscal do ano. Mesmo com descontos e as falsidades contábeis, não há possibilidade de chegar a R$ 81 bilhões de superávit do governo federal quem conseguiu economizar apenas R$ 300 milhões até agosto.

Proteger setores industriais com barreiras ao comércio nos levará a mais isolamento. Quem mostra que estamos isolados e não nos integramos às cadeias internacionais de comércio é a própria Organização Mundial de Comércio, dirigida por um brasileiro. Esse equívoco é mais velho que o governo Dilma, mas nele se aprofundou a ideia de que elevando-se impostos sobre produtos importados a indústria cresceria. Ela encolheu.

O comércio internacional está com déficit no ano. Os preços das commodities estão caindo. O valor da soja só subirá num cenário de queda da produção brasileira. O minério de ferro está com cotação bem mais baixa.

A economia está em recessão e quem diz isso não é o mal-afamado FMI, mas o IBGE. No primeiro trimestre o crescimento foi de menos 0,2%, no segundo trimestre foi de menos 0,6%. Tudo o que se pode torcer é por um segundo semestre melhor do que o primeiro que leve o PIB a fechar em torno de zero.

A inflação está alta demais, por tempo demais, para ser efeito de um choque, um evento isolado. É o resultado do descuido e da escolha ideológica pela inflação. Foi o que a presidente mostrou nos debates: ela acredita que derrubar a inflação levará a desemprego. Não viu o quanto a teoria econômica avançou nos últimos 40 anos, não olhou os exemplos virtuosos, não entendeu o que aconteceu na hiperinflação brasileira.

No desemprego, a escolha da campanha foi exibir os números de um índice que está condenado a desaparecer. A desocupação só está em 4,9% na Pesquisa Mensal de Emprego, que é feita apenas em seis capitais e por isso vai ser substituída pela Pnad Contínua, amostra de 3.500 municípios, que tem registrado um desemprego quase dois pontos percentuais maior.

As crenças econômicas da presidente e do seu grupo de assessores estão erradas. E por isso estão tendo um resultado desastroso. Não é culpa da conjuntura internacional. A crise que Lula definiu como “marolinha” era aguda e perigosa. Levou o Brasil à recessão em 2009. Hoje, a economia mundial está em transição para um novo patamar de crescimento. Existem riscos, mas não são de colapso iminente da economia americana, como em 2008-2009. A Europa está crescendo pouco e teme a deflação, mas não se fala em implosão do euro. A previsão de crescimento da Alemanha está com viés de baixa, agora de 1,5% para 1,2%. A nossa previsão é de zero.

A estagflação brasileira foi feita aqui dentro e o mundo em descompasso não vai nos acudir. Não haverá uma onda boa, como o boom de commodities que alavancou o primeiro governo Lula.

Se vencer, a candidata terá de mudar de rumo ou o País vai piorar. Nada há no receituário da presidente Dilma que nos tire da crise em que o Brasil está. E ela não nos governou nos últimos meses: fez campanha em que escondeu seu programa, falsificou o pensamento alheio, e adiou os números ruins e as más notícias para depois das urnas.

Consequencias economicas do lulo-petismo: prejuizos sem fim para o pais

É estarrecedor: Dilma levou as estatais para o buraco. Empresas como Petrobras, BB e Eletrobras já chegaram a valer 500 bilhões de reais na Bolsa. Hoje, valem praticamente a metade:


Com nova rodada de pessimismo nos mercados, o valor de mercado das principais estatais federais com ações negociadas na Bolsa caminha para os patamares mais baixos do governo Dilma.

Juntas, Petrobras, Banco do Brasil e Eletrobras valiam quase R$ 500 bilhões ao final do segundo mandato de Lula. Pelas contas mais atualizadas da Bolsa, são R$ 300 bilhões agora -e a queda pode continuar.

Valor de mercado das estatais

Ao longo do governo da petista, as perdas foram puxadas por políticas como o represamento de tarifas e preços monitorados, que afetaram especialmente a Petrobras e a Eletrobras.

A queda das ações ganhou novo impulso nesta semana, com a divulgação de pesquisas em que Dilma aparece numericamente à frente do tucano Aécio Neves na disputa presidencial.

Durante à campanha, a presidente defendeu sua política econômica e não indicou mudanças, a não ser a troca de comando no Ministério da Fazenda. (Folha: Dinheiro Público & Cia).

Eleicoes 2014: A Venezuelizacao do Brasil?: uma campanha de odio na eleicoes - Paulo Roberto de Almeida


A Venezuelização do Brasil?: uma campanha de ódio na eleições

Paulo Roberto de Almeida

Carmen Lícia Palazzo e eu estamos sempre ligados nas notícias, nas informações e nos contatos, ela mais pelo lado do FaceBook e dos intercâmbios com dezenas de pessoas, em diversos países, e em diversas regiões do Brasil, eu mais ligado na rádio (diversas, com destaque para a CBN e a France Info), na imprensa (ou seja, os jornalões do PIG, mas também da esquerda, mercenários ou não, via internet), e em diversas outras fontes de informações, e costumamos trocar matérias interessantes aqui e ali.
Pois bem, hoje, a três dias do segundo turno da eleição presidencial, uma coisa nos chocou particularmente, justamente nesse cruzamento de rádio, mensagens de amigos e postagens aqui e ali, não que fosse inédita, pois havia o mesmo nas últimas semanas.
O que nos chocou especialmente foi a campanha do ódio, seja transmitido por iniciativa individual, seja organizado pelo exército de mercenários, seja levado às ruas pelos caminhões de som e caravanas e passeatas, com muitas bandeiras e muitos slogans. Apenas uma amostra dessa campanha de ódio, que visa dividir o país, garantir os desinformados, conquistar os indecisos, assustar os potenciais preconceituosos e capturar votos de um modo odioso:

1) "Vamos acabar com essas elites", caminhão com bandeiras e megafones, na rodoviária da capital da república, onde passam todos os dias milhares de trabalhadores humildes, que vão e veem de ônibus e de metrô, para suas casas e para o trabalho; imaginamos que o mesmo se reproduz em várias outras capitais e grandes cidades, onde quer que haja aglomeração e trânsito de milhares de "pessoas do povo", ou seja, gente que não é das "elites"; este é o ódio social!

2) "Esses paulistas, esses sulistas, estão pensando o quê?", em diversas cidades do Nordeste, mensagem veiculada sob diversas formas, aliás até estimuladas pelo nordestino que se fez em São Paulo e também ascendeu às "elites", numa inacreditável demonstração que jogar uma região contra a outra pode ser um grande expediente tático-eleitoral; este é o ódio regional!

3) "As elites brancas, os ricos são contra as cotas, eles querem a volta da escravidão"; várias vezes escutado, lido, ouvido, em diversos meios, para assegurar que nenhum negro, ou pardo, ou afrodescendente, possa votar a favor de quem é supostamente representante das elites brancas, que são contra as cotas e portanto contra a inclusão racial (não importando aqui que as cotas sejam, no fundo, especificamente racistas); esse é o ódio racial, na verdade racista!

4) "O candidato atacou a nossa candidata de forma agressiva; chamou-a de mentirosa, não faria isso se fosse um homem"; intensificado tremendamente depois do segundo debate televisivo, quando o candidato efetivamente disse que a candidata estava falando mentira, como se isso tivesse alguma coisa a ver com o gênero, o sexo, até a cor do seu oponente, a candidata continuista; os ataques se multiplicaram de várias formas, até os mais grotescos, com fotomontagens mentirosas e alegações fraudulentas; esse é o ódio por gênero, aliás ridículo!

5) "Eles vão acabar com o Bolsa Família, com o Minha Casa, Minha Vida, vão reduzir o salário mínimo, provocar desemprego"; são as mentiras mais comuns, disseminadas das mais diversas formas, inclusive fora da propaganda oficial, mas veiculadas oralmente, e até diretamente, em contato com as pessoas mais humildes e mais sensíveis a tais programas; esse é ódio mais virulento de todos, aquele que se baseia no coitadismo, e na exploração da ignorância dos mais humildes e desinformados (sim, desinformados); é um ódio político, partidário, de estilo nazista, já que repetindo mentiras que tendem a se manter.

Todos esses exemplos, e muitos outros mais, foram flagrados, identificados, ouvidos, lidos, recebidos em mensagens, às dezenas, às centenas, por mim e por Carmen Lícia nos últimos dias, hoje com uma intensidade tal que nos chocou.
É possível que, agindo assim, os partidários da candidatura oficial consigam atingir seus objetivos, que é o de assegurar, conquistar e manter um número suficiente de votos para obter a vitória nas urnas. É possível, portanto, que a tática do ódio, do ódio de classe, regional, de raça, de gênero, do ódio especificamente político, embora doentio e mentiroso renda seus frutos no domingo 26 de outubro.
Essa tática já assistimos durante muitos anos na Venezuela e todos podemos ver no que resultou: já nem falo da deterioração completa da vida política, das estruturas econômicas, do ambiente de negócios, mas contemplamos uma enorme emigração da classe média, os quadros mais qualificados do país, partindo viver nos EUA, no Canadá, na Espanha, em outros países, privando o país do melhor do seu capital humano. Essa foi a tática dos peronistas, na fase de ascensão, antes de se converter em uma força nacional dividida em diversas vertentes.
Essa foi e continua sendo a tática empregada pelo principal líder do partido hegemônico, a quem ouvimos desfigurado e apoplético, despejando xingamentos dos mais escabrosos contra o candidato oposicionista.

Essa campanha do ódio tem o poder de se inculcar na mente dos militantes mais fanáticos e das pessoas mais humildes, e ela nos remete a esses outros tristes exemplos de mistificação nazista e de massificação fascista.
O Brasil pode estar no limiar de conhecer uma grande fragmentação nessas diversas linhas de divisão, e, qualquer que seja o resultado eleitoral do dia 26, emergir no dia 27 como um país profundamente dividido, como numa guerra civil virtual, que geralmente divide famílias, irmãos, membros da mesma categoria profissional, pessoas de diferentes regiões e de diversos estratos sociais ou ascendências étnicas.
Esse ódio será, eventualmente, o legado mais terrível da atual campanha eleitoral.
Esse ódio, essa divisão forçada, entre classes, raças, regiões, gêneros e afiliações políticas pode estar nascendo aos nossos olhos.
O Brasil será o mesmo a partir do dia 27, diverso mas unido culturalmente, multicolorido mas sem Apartheid, regionalmente diverso mas unificado num mesmo projeto nacional, inclusivo do ponto do gênero e tendencialmente conciliador e consensual no plano político?
Tenho minhas dúvidas. Muitas dúvidas.

Paulo Roberto de Almeida
Hartford, 23 de outubro de 2014, 22:08hs.

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Reflexoes de um diplomata americano, depois de 33 anos de servico (Foreign Policy)

Creio que pouco, ou muito pouco, se aplica ao caso brasileiro, mas as "lições" de procedimento, mais do que substância, são sempre interessantes. O trabalho de todos os diplomatas é aborrecidamente igual em todas as partes, mas como diria Orwell no Animal Farm, alguns diplomatas são mais iguais do que outros.
Os imperiais, por exemplo, são mais requisitados, mas também correm mais riscos, não apenas de vida, com tantos terroristas voluntários andando à solta por aí, mas sobretudo o risco de ficar sem interlocutores, depois do Wikileaks: quem vai querer falar com um diplomata americano sabendo que a sua confidência pode ser revelada em pouco tempo?
Ossos do ofício. E quase já não tem mais caviar...
Essas coisas chiques são as primeiras que acabam, na era da diplomacia de massa e popularesca..
Paulo Roberto de Almeida

10 Parting Thoughts for America's Diplomats

As one of America's foremost diplomats hangs up his spurs, lessons from 33 years at the State Department.


Diplomacy is not quite the world's oldest profession, but it remains one of the most misunderstood. It's a predictable and recurring habit to question its relevance and dismiss its practitioners, especially at moments like this, when international affairs are rocked by powerful and tumultuous transitions.
It is true that the world today is far different from the one that I encountered as a new foreign service officer in 1982. Today's international landscape is far more crowded. New global powers are rising, hundreds of millions of people around the world are climbing into the middle class, hyper-empowered individuals with the capacity to do great good and huge harm are multiplying, and more information is flowing more rapidly than ever before.
These realities pose some real challenges and difficult questions for professional diplomats. How can we add value in a world of instant and nearly universal access to information? How important are foreign ministries in an age of citizen awakenings? And who needs foreign assistance from governments when they can get it from private foundations and mega-philanthropists?
These are fair questions, but none of them foretells the imminent demise of our profession. The ability of American diplomats to help interpret and navigate a bewildering world still matters. After more than a decade dominated by two costly conflicts in Iraq and Afghanistan and the worst financial crisis of our lifetime, the United States needs a core of professional diplomats with the skills and experience to pursue American interests abroad -- by measures short of war.
The real question is not whether the State Department is still relevant but how we can sustain, strengthen, and adapt the tradecraft for a new century unfolding before us.
The real question is not whether the State Department is still relevant but how we can sustain, strengthen, and adapt the tradecraft for a new century unfolding before us. As I look back across nearly 33 years as a career diplomat -- and ahead to the demands on American leadership -- I offer 10 modest observations for my colleagues, and for all those who share a stake in effective American diplomacy. 1. Know where you come from.
When I was a junior diplomat, a story circulated that then Secretary of State George Shultz used to invite new ambassadors for a farewell chat. He would walk over to a large globe near his desk and ask the ambassador to point to "your country." Invariably, the ambassador would put a finger on the country of his or her assignment. Shultz would then gently move their finger across the globe to the United States, making the not-so-subtle point that diplomats should always remember whom they represent and where they come from.
We cannot afford to forget where we come from, whom we serve, and whom we represent. While we still have a long way to go, the foreign service today is far more representative of the richness and diversity of American society than when I entered. The white, male, East Coast, elitist caricature has faded. Today's officers come from across the country and from every social background. The percentage of women and minorities has doubled. New officers bring proficiency in difficult languages and a range of work experience that I would have envied 30 years ago. This diversity is a huge asset overseas, where the power of our example often matters more than the power of our preaching -- especially when we ask others to respect pluralism, tolerance, and universal human rights.
2. It's not always about us.
Americans are often tempted to believe the world revolves around us, our problems, and our analysis. The recent revolutions that swept the Middle East remind us that this is not always the case. These revolutions were, at their core, about dignity and the profound humiliation of people denied economic opportunity, a political voice, and solutions to the problems that mattered most to them. Yet these revolutions still matter a great deal to the United States, and we have a central role to play in helping shape their trajectory.
The fact remains that other governments and people look to the United States to help make sense of a chaotic world and to build coalitions to deal with it. That is true in the fight against the Islamic State, just as it is true in the effort to stem the spread of Ebola. Other people and societies have their own realities, not always hospitable to ours. That does not mean that we need to accept those perspectives, or indulge them, but understanding them is the key to sensible diplomacy.
3. Master the fundamentals.
One perverse side effect of WikiLeaks' release of State Department cables was to show that American diplomats are pretty good at honest analysis of foreign realities and how to navigate them in America's best interest. This kind of effectiveness requires a nuanced grasp of history and culture, mastery of foreign languages, facility in negotiations, and the ability to translate American interests in ways that other governments can see as consistent with their own -- or at least in ways that drive home the costs of alternative courses. If we let these basic diplomatic skills atrophy, our relevance will inevitably decline.
In today's world of digital and virtual relationships, there is still no alternative to old-fashioned human interactions -- not in business, romance, or diplomacy. More than a half-century ago, Edward R. Murrow, the CBS News great who joined the State Department, gave advice to incoming diplomats that still resonates: "The really critical link in the international communications chain is the last three feet, which is best bridged by personal contact -- one person talking to another." Diplomats provide that critical link, whether in managing relationships with foreign leaders, ensuring the safety and well-being of Americans abroad, or promoting commercial, cultural, and educational exchanges.
4. Stay ahead of the curve.
While the fundamentals are essential, they are not enough. American diplomats have to stay ahead of the curve -- ready to adapt to new challenges and innovations and ready to lead in emerging arenas of competition and cooperation. Former Secretary of State Hillary Clinton emphasized the need to deepen the partnership between diplomacy and development to address the underlying drivers of instability around the world. The historic President's Emergency Plan for AIDS Relief (PEPFAR), launched during George W. Bush's administration, is an exceptional example of American leadership in global health. The Obama administration's food and water security programs have been just as transformational.
Energy, climate, gender issues, and cyberspace are all growing priorities for American diplomats, and each requires us to develop new expertise and master new tools and technologies.
Energy, climate, gender issues, and cyberspace are all growing priorities for American diplomats, and each requires us to develop new expertise and master new tools and technologies. My generation of diplomats spent a good portion of their careers learning about nuclear proliferation and global oil politics. This generation will have to learn about the shale gas revolution and its impact on global energy markets, about cyber-norms and their impact on our security and our privacy, and about the Arctic, which may become as vital a maritime passageway in the coming years as the Suez and Panama canals. 5. Promote economic renewal.
Nothing demonstrates diplomacy's relevance more than its ability to contribute to America's economic renewal. And nothing will support strong American diplomacy abroad better than a strong and vibrant American economy. Since 95 percent of the world's consumers live outside the United States, Americans have a big stake in the role diplomats play in opening markets abroad, strengthening the economic rules of the road, ensuring a level playing field for U.S. companies, attracting foreign investment, and advocating on behalf of U.S. businesses. Renewed focus on economic statecraft in recent years helped generate $150 billion in trade supporting more than 11 million U.S. jobs.
There is no better diplomatic investment in the years ahead than the Trans-Pacific Partnership and the Transatlantic Trade and Investment Partnership agreements, which would bring higher standards of free market rules to two-thirds of the global economy and strengthen American prosperity for decades to come. Secretary of State John Kerry continually reminds our diplomats that "foreign policy is economic policy." I could not agree more.
6. Connect leverage to strategy.
Successful diplomacy has to begin with strategic vision, a concept for shaping international order in the service of American interests. Effective strategy requires leverage, connecting concepts and goals to available instruments of national power, including military power. The "rebalance" of U.S. priorities toward the Asia-Pacific region is one clear example, integrating efforts to manage China's rise and build healthy relations with Beijing while strengthening ties to key allies, expanding links to ASEAN, and investing in the strategic partnership with India. Economic and political leverage, along with a genuine offer of engagement, opened the door to back-channel talks with Iran that ended more than 35 years without sustained diplomatic contact and helped produce a first nuclear agreement. Progress toward a comprehensive accord remains difficult and uncertain, but carefully testing the possibilities of diplomacy is very much in our interest.
7. Don't just admire the problem -- offer a solution.
Secretary of State Dean Acheson once complained that senior diplomats tended to be "cautious rather than imaginative." Most of his successors have harbored similar concerns, some more openly than others. It is true that career officers sometimes seem to take particular relish in telling a new administration why its big new idea is not so new or why it won't work. It is also true that the revolution in communications technology and the increasing role of both the National Security Council staff and other agencies over successive administrations have tended to bring out the more passive (or sometimes passive-aggressive) side of the State Department.
Most ambassadors, however, realize that they have an enormous opportunity to make a difference in policymaking and get things done on the ground. They don't just report about the challenges they face -- they try to shape the policy response. Tom Pickering, one of the best career diplomats I have ever known, never wanted to get an instruction from Washington that he had not shaped himself. He understood that he was the president's representative, which carried a responsibility to offer his best judgment on how to fix a problem -- not just serve as a postman for Washington decisions.
8. Speak truth to power.
I have great admiration for colleagues who in recent decades decided that they could no longer serve policies in which they did not believe. More than a dozen foreign service colleagues resigned over the United States' nonintervention in the Balkans in the early 1990s, and several others left over the Iraq War a decade ago. Short of resignation, however, officers are obliged to exercise discipline and avoid public dissent. But they also have a parallel obligation to express their concerns internally and offer their best policy advice, even if the truths they perceive are inconvenient. In the run-up to the Iraq War in 2003, several of my colleagues and I wrote a lengthy memo at Secretary of State Colin Powell's request on what we thought could go wrong. We titled it: "The Perfect Storm." In hindsight, we got some things right and missed others, but it was the sort of effort to offer an honest professional judgment that should be encouraged.
9. Accept risk.
We live and work in a dangerous world. Demanding zero security risk means achieving zero diplomatic results. We take every prudent precaution, and we learn and apply the painful lessons of terrible tragedies like the loss of Ambassador Chris Stevens and three other colleagues in Benghazi, Libya, two years ago. But we cannot hole up behind embassy walls. Every American diplomat was filled with pride when we watched Ryan Crocker excel in a succession of dangerous and important posts from Beirut to Kabul -- and when Robert Ford, as ambassador to Syria, visited areas where peaceful protesters had just been attacked by the regime. In less dramatic moments, diplomats serving in hard jobs in hard places take calculated risks every day. I wish that we could ensure zero risk, but we cannot.
10. Remain optimistic.
Teddy Roosevelt said life's greatest good fortune is to work hard at work worth doing. By that standard, American diplomats have reason to feel fortunate. Yes, the world is getting more complicated and the political paralysis and partisanship in Washington don't make it any easier. It is hard to convince people overseas that we can build coalitions when they prove so elusive at home, when the most popular thing any congressman can do is cut our budget, and when members of U.S. military bands outnumber members of the foreign service. But there are many reasons to be optimistic.
We have a remarkable military and an economy still bigger, more innovative, and more resilient than anyone else's. Our system of government and values remains -- warts and all -- a magnet for people around the world. We possess a transformational energy potential and a diverse and mobile population that is the envy of our competitors. And we have a diplomatic service that still attracts the best young people from across our society to a career of significance.
As I prepare to retire, I have never been more proud of America's diplomats and I have never been more confident in their ability to help renew American leadership in the world. It is hard work, but it has never been more important or more worthwhile.
Photo by BRENDAN SMIALOWSKI/AFP/Getty Images

Guerra Civil Espanhola: o desaparecimento de Alberto Besouchet - Angela Mendes de Almeida

Recebo, de um amigo comum, a referência ao artigo abaixo transcrito, sobre o desaparecimento de um dos combatentes brasileiros na guerra civil espanhola, Alberto Besouchet, que constituiu, aliás até hoje, um dos mistérios persistentes de minha pesquisa histórica sobre a participação de brasileiros naquele conflito.
O artigo é uma síntese de diversas fontes, primárias, secundárias e depoimentos, no qual eu sou citado como um dos que investigaram a questão. Permanece o mistério, que talvez nunca seja resolvido, a menos que algum arquivista soviético desenterre maços sobre os crimes cometidos pelo NKVD contra os "inimigos da revolução" (na verdade, não alinhados com Stalin).
Boa peça de documentação histórica, que vem acrescentar-se a diversos outros trabalhos que já foram publicados sobre o assunto.  A autora não cita, porém, uma outra pesquisadora do mesmo tema, a historiadora Thais Battibugli, que tem um livro publicado: A Solidariedade Antifascista: brasileiros na guerra civil espanhola, 1936-1939 (São Paulo: Edusp, 2004).
Continuaremos pesquisando.
Paulo Roberto de Almeida

Alberto Besouchet, fuzilado pelos republicanos na Espanha Imprimir E-mail
Escrito por Angela Mendes de Almeida   
Correio da Cidadania,  Terça, 21 de Outubro de 2014

Por generosa iniciativa do deputado Adriano Diogo, a Comissão Estadual da Verdade realizou, em 24 de setembro, uma audiência pública para homenagear todos os combatentes brasileiros (1) na Guerra Civil Espanhola, em especial David Capistrano e Apolônio de Carvalho. Com isso, estabeleceu um laço de solidariedade entre a militância dos anos 1930 e a resistência à ditadura, quarenta anos depois.

Estava presente a filha de Capistrano, Carolina, que trouxe lembranças muito vívidas a respeito dos comentários de seu pai sobre sua participação na guerra e também sobre como ele, apesar de ações militares ousadas e corajosas, guardou para sempre um sentimento de rejeição à brutalidade de qualquer guerra. Isso teria sido um dos fatores a levá-lo a aceitar a linha chamada de “convivência pacífica”, adotada pelos partidos comunistas depois de 1956.

Como resistência ao fascismo franquista tem tudo a ver com a resistência à ditadura, lembrou ela a morte trágica de David Capistrano. Enquanto militante do PCB, voltava ao Brasil em 1974 e seria recebido pelo militante José Maçon na fronteira, em Uruguaiana. Desapareceram os dois. Sabe-se hoje que eles foram levados para a prisão clandestina conhecida como Casa de Petrópolis, onde tiveram o fim trágico dos torturados até a morte e esquartejados.

Apolônio de Carvalho, que, depois de participar da Guerra Civil Espanhola, integrou-se à Resistência francesa à ocupação dos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial, teve a sorte de sobreviver e deixou suas lembranças em Vale a pena sonhar (2), um manancial de informações sobre um largo período da história do Brasil.

Como se tratava de história e de verdade, tive a oportunidade de falar, na audiência, sobre o caso pouco conhecido de Alberto Bomilcar Besouchet, militante comunista que lutou na Espanha, mas que foi fuzilado pelos próprios republicanos. O que significava enveredar por uma história não linear e maniqueísta, abordar, na luta heroica, suas contradições e aberrações, retraçar a linha que levou do pensamento único à repressão policial.

O deputado Adriano Diogo deu provas, nesta ocasião como em outras, que na coordenação da Comissão Estadual da Verdade norteou sempre as atividades com isenção da concepção de pensamento único, que seu esforço pelo restabelecimento da verdade histórica incluiu sempre as várias vertentes que lutaram contra o regime militar.

O cenário mundial

O objetivo deste texto é o de relatar o caso do militante Alberto Besouchet. Ele também era comunista e também foi combater a rebelião franquista na Espanha, em 1936. No entanto, morreu, ou melhor dito, desapareceu, pela ação de policiais republicanos, auxiliados por agentes do serviço secreto soviético e militantes do Partido Comunista Espanhol. Seu desaparecimento aconteceu durante as famosas “Jornadas de Maio” de 1937, em Barcelona, episódio que foi retratado no filme de Ken Loach, “Terra e Liberdade”, que por sua vez está, em grande parte, baseado nas memórias de guerra do escritor inglês George Orwell, Homenagem à Catalunha (3).

Para entender como isto foi possível é preciso inserir a Guerra Civil Espanhola no contexto mundial daquela época. É preciso entender como, dentro da guerra civil entre oficiais do Exército rebelados sob o comando do fascista Franco e as forças defensoras da República espanhola, houve outra guerra, movida por Stalin e seus agentes, contra toda e qualquer esquerda anti-stalinista. Na Espanha estas forças eram representadas pelos anarquistas da CNT-FAI (Confederación Nacional del Trabajo – Federación Anarquista Ibérica) e pelos poumistas, isto é, militantes do POUM (Partido Obrero de Unificación Marxista), genericamente chamados de “trotskistas”.

A Guerra Civil Espanhola marcou profundamente a história dos soviéticos e do movimento comunista internacional. A Espanha foi o cenário em que os comunistas aplicaram a nova linha da Internacional Comunista, decidida pelo 7º Congresso, em 1935, a da Frente Popular. No período anterior, entre 1928 e 1934, os comunistas tinham sido guiados por uma outra linha (6º Congresso), completamente diferente, que determinava que o inimigo principal a combater eram os socialdemocratas, isto é, os partidos socialistas europeus, considerados “traidores da classe operária”. Os documentos e os líderes comunistas internacionais e, sobretudo, alemães, já que nesse período a Alemanha era o palco central da luta, diziam que Hitler não era importante, que o nazismo era um fenômeno passageiro que iria se exaurir com as primeiras vitórias. A aproximação da militância comunista às milícias nazistas em construção foi uma realidade, sempre aprovada pela direção comunista internacional e acompanhada de perto pela política exterior da União Soviética.

O ponto culminante dessa frente informal, que escandalizou comunistas e progressistas de outros países, foi a posição assumida pelos comunistas alemães em 1931, em um momento de ascensão dos nazistas nas eleições, no caso do referendo da Prússia. Os socialdemocratas alemães dirigiam esta que era a maior e mais importante província da Alemanha desde o início da República de Weimar. Sentindo-se fortes, os nazistas propuseram uma votação pedindo a dissolução do Parlamento prussiano. Por ordem da Internacional Comunista, os comunistas alemães declararam o voto com os nazistas (4).

A calamidade desta política sectária, que tem enorme responsabilidade pela ascensão de Hitler ao poder na Alemanha, em 1933, levou a uma mudança radical de linha, no 7º Congresso, em 1935. De repente, na França, em maio 1934, o Humanité, jornal comunista, publicou um artigo retirado do Pravda que dizia com todas as letras ser admissível propor a unidade de ação aos dirigentes socialistas (5). Estava dado o sinal para a mudança radical de linha. Agora, com a Frente Popular, era preciso fazer frente não apenas com os partidos socialistas, mas também com os partidos burgueses radicais e republicanos. E foi o que aconteceu na Espanha (6).

Mas ao mesmo tempo em que se abria à direita, a Internacional Comunista enviesava seu sectarismo contra todos os grupos à sua esquerda. Agora o inimigo principal a combater eram os esquerdistas e, principalmente, os “trotskistas”, isto é, os militantes do movimento trotskista e todos os que fizessem críticas à União Soviética e à “linha do partido”. A luta interna dentro do partido comunista soviético transplantou-se para o movimento comunista internacional e para a Guerra Civil da Espanha.

Acontecimentos dramáticos permearam esta transplantação. Em dezembro de 1934, um alto dirigente do partido soviético, Kirov, foi misteriosamente assassinado. Este crime nunca foi completamente elucidado, embora o Relatório Kruschev, de 1956, fale insistentemente na responsabilidade do Estado (7). Mas foi o fator determinante para desencadear um expurgo generalizado dentro do partido soviético, com prisões, torturas, fuzilamentos com ou sem processo, condenações a trabalhos forçados e a exílio na Sibéria.  Esse processo chega a seu ápice exatamente nos anos da Guerra Civil Espanhola.

Em uma atmosfera de medo e terror, na qual a delação de companheiros e colegas de trabalho, nas famosas sessões de autocrítica, aparecia como uma prova de fidelidade ao regime, realizaram-se os chamados “Processos de Moscou”, nos quais foi exterminada a “velha guarda bolchevique”. O primeiro em agosto de 1936, o segundo em janeiro de 1937 e o terceiro em março de 1938, condenaram ao fuzilamento imediato, entre outros, Zinoviev, Kamenev, Piatakov, Bukharin e Rikov, tendo como acusado máximo Trotsky e seu filho Lev Sedov, que estavam fora da União Soviética. Foram vergonhosas paródias de justiça, processos-espetáculo, em que os condenados se acusaram de complôs impossíveis e inverossímeis, previamente escritos pelos agentes do NKVD, a polícia secreta soviética.

É dentro deste contexto que aconteceu também o processo secreto contra oito grandes generais do Exército Vermelho, entre eles Toukachevtsky e Yakir, fuzilados em junho de 1937, ao qual se seguiu um expurgo e consequente repressão aos quadros do Exército, muitos dos quais tinham estado na Espanha.

Mas essa repressão não se limitou aos membros do partido soviético, atingindo também massas de cidadãos. Segundo o historiador Nicolas Werth, “de agosto de 1937 a novembro de 1938, cerca de 760 mil cidadãos soviéticos foram executados depois de terem sido condenados à morte por um tribunal de exceção, ao cabo de uma paródia de julgamento. (...) Ao mesmo tempo, mais de 800 mil soviéticos eram condenados a penas de dez anos de trabalhos forçados e enviados ao Goulag” (8).

O cenário mundial dentro da guerra da Espanha

Agora o inimigo principal era a esquerda: os esquerdistas e os trotskistas. Mas não era mais uma perseguição apenas política e a Espanha foi um laboratório de extermínio da esquerda. Muitos chamados esquerdistas foram assassinados pelos serviços secretos soviéticos e desapareceram, como, por exemplo, o alemão Erwin Wolf, ex-secretário de Trotsky, Camillo Beneri e Fracesco Barbieri, anarquistas italianos, Marc Rein, jornalista socialdemocrata, e o austríaco Kurt Landau, do POUM, para só citar alguns. No início da guerra, o grande anarquista Buenaventura Durruti havia sido morto por uma bala perdida, em Madri, em 20 de novembro de 1936, bala que muitos atribuem aos comunistas.

Mas a repressão também atingiu muitos stalinistas que voltaram da Espanha e foram em seguida presos e fuzilados. Por exemplo, o general Berzine, o general Goriev, o jornalista do Pravda, Koltsov, personagem do livro de Hemingway, Por quem os sinos dobram, e Antonov-Ovsenko, herói da revolução, que havia comandado a tomada do Palácio de Inverno em 1917, cônsul geral soviético em Barcelona, e que tanto trabalhou na Espanha pela repressão à esquerda.

Os voluntários das Brigadas Internacionais, sob o clima de medo e delação reinante na URSS, também sofreram censuras, expurgos, castigos sob a forma de tarefas militares praticamente impossíveis, levando à morte, e execuções sumárias, que aparecem em muitos relatos. O comunista francês André Marty ficou com a fama de ser um dos mais brutais. Ele é descrito no romance já citado de Hemingway como “el carnicero de Albacete”, cidade sede das Brigadas. No entanto, outras narrativas, mais detalhadas, evocam o regime de terror implantado pelo “General Gómez”, na verdade Wilhelm Zaisser, ex-membro do serviço secreto do Partido Comunista Alemão e que depois da guerra dirigiu a “Stasi”, polícia política da RDA (República Democrática Alemã - 9).

Esse clima transparece até em algumas frases dos brigadistas brasileiros que voltaram. Quando entrevistados pelo pesquisador brasileiro Paulo Roberto de Almeida sobre o destino de Alberto Besouchet, Gay da Cunha declarou que ele teria sido fuzilado por André Marty, enquanto para explicar um fuzilamento conduzido pelos republicanos José Homem Correia de Sá disse: “Havia muita incompreensão e ser fuzilado não denigre ninguém” (10).

As “jornadas de maio” e a morte de Andrés Nin

A operação que deu lugar ao episódio das “Jornadas de maio” na Catalunha foi concebida dentro da ideia de liquidar a esquerda - os “trotskistas” e os “incontroláveis” isto é, os anarquistas. O Pravda já anunciara, em dezembro de 1936, essa liquidação (11).

Era nessa província que os andaimes de uma estrutura socialista tinham avançado mais. Os líderes do movimento sindical e operário eram os anarquistas da CNT-FAI e o POUM. O prédio da Central Telefônica, em Barcelona, estava ocupado pelos sindicatos UGT (socialistas) e CNT, desde o início da guerra, juntamente a uma delegação do governo da Catalunha, a Generalitat.

Em 3 de maio de 1937, esse prédio foi atacado por guardas de assalto chefiados por Rodrigues Sala, que era Comissário da Ordem Pública e comunista. Houve resistência e um pequeno tiroteio. Em seguida, espontaneamente, em cerca de poucas horas, a região em torno, em um círculo que atravessava a cidade, foi tomada por operários e milicianos ligados aos anarquistas e aos poumistas. A população trabalhadora mobilizada queria resistir e conservar a posse do prédio. Começaram as escaramuças, narradas no filme de Ken Loach, e depois o combate violento. O serviço secreto russo, o NKVD, junto com comunistas espanhóis, organizava o ataque. Depois de tentar uma reconciliação entre as duas partes, as forças políticas do governo central, chefiadas pelo socialista Largo Caballero e com ministros comunistas, enviaram tropas e a repressão começou. Cerca de 1.000 pessoas foram feridas e 500 foram mortas. Além disso, houve muitos presos. A Telefônica foi desocupada (12).

Começou então a perseguição direta aos militantes do POUM e, em especial, a seu dirigente mais importante, Andrés NIn. Os soviéticos o conheciam bem. Em 1921, ele tinha sido eleito delegado da CNT para assistir ao 3º Congresso da Internacional Comunista e ao congresso de fundação da PROFINTER (Internacional Sindical Vermelha) em Moscou. Permaneceu nesse país trabalhando nesses organismos. Em 1926, aderiu à “Oposição de Esquerda” dentro do partido soviético, liderada por Trotsky. Só deixou o país para voltar à Espanha com a proclamação da República, em 1930.

A perseguição stalinista aos poumistas e a Nin foi estruturada pelo NKVD. Um dos seus principais agentes na Espanha, Orlov, conforme documentos já decifrados nos arquivos russos sobre a “Operação Nikolai”, confeccionou um documento falso que provaria que Nin agia em conluio com os franquistas (13). A ideia era fazer um “processo de Moscou” na Espanha contra um “complô POUM-franquistas”. Andrés Nin foi preso em junho e depois sequestrado da prisão oficial de Alcalá de Henares, perto de Madri.  Foi levado para uma das prisões clandestinas dos agentes soviéticos, chamadas “tchecas”. Torturado para confessar o script do documento falso, não confessou. Não se sabe como foi a tortura que levou à sua morte, mas o relatório de Orlov a Moscou, decifrado pelo filme já citado, encomendado pela Generalitat da Catalunha à Televisão Espanhola, indica os autores da operação e da morte: três espanhóis cujos nomes estão riscados, Orlov e dois outros agentes soviéticos sobre cuja identidade verdadeira se discute ainda. Cobrados publica e até internacionalmente, os comunistas alegaram que ele teria sido sequestrado de Alcalá por franquistas, seus aliados. Coube ao jornalista do Pravda, Koltsov, depois fuzilado, redigir esta explicação (14).

Desaparecimento e morte de Alberto Besouchet


A morte do brasileiro Alberto Besouchet se encaixa neste cenário. As referências à sua história são ainda hoje poucas e esparsas. Há o artigo do diplomata Paulo Roberto de Almeida (15), publicado em 1999, e que foi a base da audiência pública a que me referi no início. Trabalho de historiador, dedicado a retraçar a trajetória de todos os voluntários brasileiros na Guerra Civil Espanhola, ele constitui em si mesmo um capítulo sobre a censura na ditadura brasileira, já que sua primeira versão, concluída em 1979, teve de ser publicada sob o pseudônimo de Pedro Rodrigues, pois o tema era perigoso no Itamaraty. Paulo Roberto de Almeida pôde entrevistar vários combatentes ainda vivos e o irmão de Alberto Besouchet, Augusto. Referindo-se no início do artigo ao caso do seu desaparecimento como “o mistério dos mistérios”, ele retoma tudo que conseguiu averiguar entre as testemunhas que puderam contar alguma coisa (16).

O artigo do historiador Dainis Karepovs (17), escrito em 2006, pôde avançar mais na medida em que inseriu o desaparecimento de Alberto Besouchet no clima de medo e delação que cercou os anos 1936, 1937 e 1938 na URSS e na campanha dos agentes do NKVD pela liquidação do POUM. Utilizando documentos do agrupamento trotskista Liga Comunista Internacionalista, pôde entrar melhor na alma da luta que se travava.

É baseado nestes dois autores, principalmente no segundo, e também em algumas referências feitas por Apolônio de Carvalho em suas memórias (18), que consegui recuperar os elementos básicos da trajetória de Alberto Besouchet. Ele era filho de militar e optou pela carreira do pai. Era também militante do Partido Comunista Brasileiro, como seus irmãos, Augusto, Lídia e Marino. Como tenente, participou do levante comunista de 1935, em Recife e, embora ferido, não foi preso.

Voltou ao Rio de Janeiro e contatou seus irmãos que, entretanto, tinham sido expulsos do Partido por terem criticado a forma com que foi feito o levante de 1935, julgando-a irresponsável. Posteriormente haviam entrado em contato com a Liga Comunista Internacionalista. Eles tentaram ganhar o irmão para suas novas posições, mas não conseguiram. Em vez disso, Alberto Besouchet decidiu partir para a Espanha para colocar a serviço do povo espanhol seus conhecimentos militares. E não saiu do Partido.

No entanto, antes de viajar, escreveu uma carta aberta aos companheiros, entregando-a à direção, pedindo que a divulgasse, na qual conclamava todos, inclusive os presos, a persistirem na luta por “um regime mais justo e humano”. A carta não foi divulgada, mas, sim, respondida com termos grosseiros. Ele havia usado as expressões “Espanha soviética”, “Revolução proletária mundial” e “burguesia internacional”, que a direção considerou “esquerdistas”. Além do mais, já tinha os irmãos fora do Partido (19).

As fontes concordam em que ele foi o primeiro brasileiro a chegar à Espanha para lutar. Teve contatos com comunistas brasileiros na França, caminho para chegar ao território espanhol, onde entrou em fevereiro de 1937. As fontes dizem também que levava uma carta de Mário Pedrosa para Andrés Nin. Não está claro se integrou as Brigadas ou as milícias do POUM. Foi ferido em Guadalajara, quando já tinha o posto de coronel.

Sobre o seu desaparecimento e morte as informações são esparsas. Na documentação sobre os brasileiros na Espanha, contida nos arquivos russos da Internacional Comunista, há apenas, em um relatório assinado por um nome não identificado, a reprodução de uma informação do major Costa Leite, comunista e militar mais graduado a ir para a Espanha, de que Besouchet, além de ter tido relações com os trotskistas, teria sido morto nos acontecimentos de maio de 1937, na Espanha. Mas a família Besouchet recebeu a informação de que ele teria sido fuzilado durante a retirada final das Brigadas Internacionais, de Barcelona, em 1938, juntamente com anarquistas e trotskistas ali presos (20).

Estes retalhos de narrativas se encaixam com as breves palavras de Apolônio de Carvalho: “O tenente Alberto Besouchet, que eu conhecia de Realengo, foi o primeiro de nós a chegar à Espanha, ainda mal curado dos ferimentos infligidos em Recife, quando do levante de novembro. (...) Ascende a coronel em maio de 1937, momento de crise aguda no seio das esquerdas, e logo depois é preso como militante do partido de Andrés Nin. Fins de 1938, com os franquistas às portas de Barcelona, Besouchet é assassinado covardemente. Nada poderá apagar, contudo, a imagem desse comunista culto, modesto e bravo como poucos” (21).

É assassinado covardemente por quem? Obviamente por aqueles que detinham os presos do POUM. Lembrando que a queda da Central Telefônica durante as “jornadas de maio” de 1937 e a repressão que se seguiu a ela levaram à prisão muitos militantes do POUM, é forçoso deduzir que foi nesta situação que a morte o colheu. Lembrando ainda que Julián Gorkin, o segundo mais importante dirigente do POUM, relata que foi preso nessa época e, com outros poumistas, carregado de “tcheca” em “tcheca” durante 18 meses, até que, com a queda de Barcelona nas mãos dos franquistas, conseguiu fugir (22).

Notas:
(1) No folder distribuído com informações históricas está a lista de seus nomes: Alberto Bomilcar Besouchet, David Capistrano, Apolônio de Carvalho, Joaquim Silveira dos Santos, José Homem Correia de Sá, Eneas Jorge de Andrade, Nelson de Souza Alves, Roberto Morena, Dinarco Reis, Delcy Silveira, Eny Antonio Silveira, Nemo Canabarro Lucas, José Gay da Cunha, Hermenegildo de Assis Brasil, Carlos da Costa Leite, Homero de Castro Jobim.
(2) Apolônio de Carvalho, Vale a pena sonhar. Rio de Janeiro, Rocco, 1997.
(3) George Orwell, Lutando na Espanha – Homenagem à Catalunha. São Paulo, Ed. Globo, 2006
(4) Angela Mendes de Almeida, A República de Weimar e a ascensão do nazismo. São Paulo, Brasiliense, 1982, p. 108.
(5) Fernando Claudín, La crisis del movimiento comunista – De la Komintern al Kominform. Francia, Ruedo Iberico, 1970, p. 137.
(6) Angela Mendes de Almeida, Revolução e guerra civil na Espanha. São Paulo, Brasiliense, 1981.
(7) A. Rossi, Autopsie du stalinisme – Avec le texte intégral du Rapport Khrouchtchev. Paris, Ed. Pierre Horay, 1957.
(8) Nicolas Werth, L’ivrogne e la marchande de fleurs – Autopsie d’um meurtre de masse – 1937-1938, p. 16.
(9) Sigmunt Stein, Ma guerre d’Espagne. Paris, Seuil, 2012, pp. 209 e ss.; e Pierre Broué, Staline et la révolution – Le cas espagnol. Paris, Fayard, 1993, p. 359.
(10) Cf. Paulo Roberto de Almeida, “Brasileiros na guerra civil espanhola”, Revista Sociologia e Política, nº 12, jun. 1999, p. 50. http://www.scielo.br/pdf/rsocp/n12/n12a03
(11) Julián Gorkin, Las jornadas de mayo en Barcelona, http://www.fundanin.org/gorkin8.htm;
(12) Julián Gorkin, ibid.
(13) Filme de Llibert Ferri e Dolores Genovés, Operación Nikolai – http://www.youtube.com/watch?v=zLAfmtlCgTU; e Pavel Sudoplatov et Anatoli Sudoplatov, Missions Speciales – Mémoires du maître-espion soviétique Pavel Sudoplatov. Paris, Seuil, 1994, p. 76. Ao final da guerra, Orlov foi convocado para voltar a Espanha e, temendo ser fuzilado, desertou, fugindo para os Estados Unidos. Escreveu diretamente a Stalin, prometendo que nada falaria se não tocassem em sua velha mãe. E assim fez, só escrevendo memórias depois da morte do ditador.
(14) Julián Gorkin, já citado; Pierre Broué, Staline et la révolution – Le cas espagnol. Paris, Fayard, 1993, p. 183.
(15) Paulo Roberto de Almeida, op. cit.
(16) Op. cit., pp. 37-38 e 49-50.
(17) Dainis Karepovs, “O caso Besouchet, ou o lado brasileiro dos processos de Moscou pelo mundo”, Olho da História, 8/12/2006 - http://oolhodahistoria.org/artigos/ESPANHA-o%20caso%20besouchet-dainis%20karepov.pdf
(18) Apolônio de Carvalho, op. cit.
(19)Todas estas informações estão em D. Karepovs, op. cit.
(20) Cf. D. Karepovs, op. cit.
(21) Apolônio de Carvalho, op. cit., p. 125.
(22) Julián Gorkin, L’assassinat de Trotsky. Paris, Julliard, 1970, p.8.

Angela Mendes de Almeida é historiadora e coordenadora do site Observatório das Violências Policiais.
  A publicação deste texto é livre, desde que citada a fonte e o endereço eletrônico da página do Correio da Cidadania

Miseria da academia: mensagem (quase incognita) recebida de um aluno

Recebi hoje, e quase apago (pois entrou direto na minha caixa de Junk mail), a mensagem abaixo de um aluno, a propósito de um entrevero recente que mantive com alguns professores que não merecem esse nome:



On Oct 23, 2014, at xx:xx, Xxxx Xxxxx <xxxxx@hotmail.com> wrote:

Mensagem enviada pelo formulário de Contato do SITE.

Nome: Xxxx Xxxxx
Cidade: Xxxx
Estado: XX
Email: xxxxxx@hotmail.com
Assunto: Opiniao
Mensagem: Prezado Sr. Paulo Roberto,

Meu nome é Xxxxx e sou estudante de Xxxxxxxxx da Universidade Federal de XX. Eu gostaria de agradecê-lo por ter defendido, o que nós, poucos alunos de Xxxxxxx da UFXX não podemos expressar. O partidarismo político do meu curso tem sido extremamente abusivo e perverso. As aulas são praticamente somente para explicar os porquês que o governo da Dilma são benéficos à população. Os Professores Fulano e Beltrano que deveriam nos ensinar xxxxxxx, nos ensinam somente sobre o comunismo. Eu e mais três alunos do curso somos liberais e já sofremos com atos abusivos por tal. Nossos colegas e professores nos ridicularizam. Como estou no meu último semestre, infelizmente não posso defender as ideias que julgo como justas e honestas. E por tal motivo, senti a necessidade de agradecê-lo por ter apontado o abuso que nossos professores fizeram e têm feito diariamente através da publicação daquele "manifesto". Fica aqui o meu muito obrigada.

Respeitosamente,

Xxxxx Xxxxxx.

 ===========

Respondi o que segue:

    Xxxxx,
    Muito grato pela sua mensagem e pelas palavras sensatas que voce me escreveu.
    Toda a minha ação, como professor, todas as minhas atividades, como profissional da diplomacia, têm sido sempre no sentido da informação de boa qualidade, do questionamento crítico de qualquer argumento ou informação que lemos ou que recebemos, de reflexão ponderada sobre esses temas, e de tentativa de educar, didaticamente, os mais jovens, com base nas minhas leituras, na minha experiência de vida, no meu conhecimento do mundo, como o conheci, diverso e contraditório, todos os socialismos (reais e surreais) e todos os capitalismos, ideais, periféricos, miseráveis, e alguns fascismos também (o que temo para o Brasil).
    Infelizmente, atravessamos, no plano cultural, educacional, e até mental, uma fase muito difícil para o Brasil, com essa miséria da academia, com esse recuo da inteligência, com essa renúncia a pensar.
    Isso um dia passa, mas deixa marcas, e nos deixa para trás na simples escala da inteligência humana.
    Persistiremos, com alunos como você e seus colegas.
    Somos hoje, um quilombo de resistência intelectual, mas a verdade sempre acaba prevalecendo no final.
    É por isso que lutamos, se mais não fosse apenas para preservar nossa dignidade como cidadãos conscientes.
    Cordialmente,

PS.: Se você não se incomoda, vou apagar as referências reais e postar a sua bela mensagem para que outros a leiam. Quem sabe, alguém gostará, quem não sabe, se interessará, e talvez ajude a pensar...
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Paulo Roberto de Almeida

Tangos e tragedias nas eleicoes brasileiras - Paulo Roberto de Almeida

Tangos e tragédias nas eleições brasileiras:
menas, pessoal, menas...

Paulo Roberto de Almeida

Eu me pergunto o que diria o Chacrinha, se vivo fosse, das eleições brasileiras, versão 2014? Ele já morreu há muito tempo, e talvez se sentisse, como diríamos, um pouco deslocado no atual cenário político-eleitoral, em nada parecido com aqueles embates grotescos, que envolviam, em seu tempo, não apenas personagens histriônicos, inclusive alguns palhaços, como ele mesmo, mas também oportunistas baratos e políticos que não conseguiriam obter uma certidão de bons antecedentes. Nada disso acontece hoje, obviamente. Ou o que diria Sergio Porto, o saudoso Stanislaw Ponte Preta, que ficava selecionando frases magníficas de nossos personagens políticos para integrar a sua famosa enciclopédia da genialidade política, aliás até hoje, o Febeapá? Será que ele teria material para rechear um terceiro, ou quarto, volume da série?
Mas esses são observadores das antigas, inacessíveis aos mais jovens, ainda que estes também terão ouvido, ou lido, alguma referência a esses dois imortais, bem mais conhecidos, em todo caso, do que vários imortais da Academia Brasileira de Letras. Eu prefiro me reportar a um humorista que morreu mais perto de nós, e que deve ter assistido a magníficos exemplos de “criacionismo político”, o que lhe rendia farto material para também rechear suas páginas do melhor humor político: o que estaria dizendo Millôr Fernandes dos atuais embates, já não digo entre os próprios candidatos, mas mais propriamente entre aqueles que os apoiam, respectivamente?
De fato, tenho acompanhado, o mais das vezes pelo Facebook, alguns exemplos pouco memoráveis, e francamente patéticos, de lutas ferozes, enfrentamentos rudes e batalhas verbais x-rated, entre os defensores de uma e outra candidatura. Não que esses embates na internet possam abalar os mercados – como certas pesquisas eleitorais, cada vez que a candidata sobe um pouco nas intenções de voto – mas eles podem abalar amizades, sepultar longas convivências, destruir possibilidades de cooperação futura, até inviabilizar aquele grande projeto acadêmico. Ainda bem que tudo isso se dá no conforto do lar ou ao abrigo do escritório, não é mesmo? Do contrário poderia ocorrer até o que um ministro do Supremo, aliás presidente do TSE – e antigo advogado dos companheiros, lembram-se? –, chamou de “risca-faca”. Eu não entendo bem o que seja isso, mas deve ser algo terrível, até parecido com o que anda fazendo o Estado Islâmico. Dizem as más línguas que esse ente fabuloso da nova ordem mundial até pensou em abrir uma filial por aqui, e estava buscando oportunidades de diálogo. Se vocês souberem de alguma possibilidade nesse terreno, favor avisar o próprio (eles já estão na internet, e devem ter até Facebook, ou pelo menos Twitter).
Bem, mas não era isso que eu queria dizer. Eu apenas queria registrar que tenho ficado chocado com o que tenho lido e visto na internet, nesses embates entre gregos e goianos. É propriamente aterrador, como diria alguém, constatar que antigas amizades, e relações respeitosas entre colegas acadêmicos, podem estar se desfazendo de modo absolutamente inútil, a partir desses enfrentamentos eleitorais pré-segundo turno. Então, para restabelecer a calma na nossa gafieira, resolvi desfazer alguns mitos que têm aterrorizados os gregos e os goianos, cada tribo acusando a outra de projetarem as piores abominações em caso de vitória. Vamos a elas.

Mito: Se o PT continuar no governo vai fazer o Brasil virar comunista, ou, pelo menos, bolivariano.
Ilusão. Mesmo que quisessem – e muitos deles têm, inquestionavelmente (ops, saiu certa a palavra), o DNA do totalitarismo – os companheiros não conseguiriam implantar o comunismo no Brasil, sequer o socialismo light. Os companheiros podem ser ignorantes em matéria de história, de economia, de administração, mas eles não são estúpidos. Eles sabem que essa coisa de socialismo é para trouxas, como alguns colegas da região, especialmente os bolivarianos. Por que é que eles vão afogar os capitalistas que os mantêm no bem-bom da vida, podendo extrair tranquilamente recursos legais e menos legais, sem precisar tratar com toda aquela parafernália de planejamento estatal, controles de preços, Nomenklatura oficial, essas coisas tão démodées, à la Stalin, ou de caudilhos fascistas? Por que não continuar com esse capitalismo amestrado, todos esses banqueiros domados, esse conforto que é poder desfrutar de certas benesses, sem se chatear com aquelas bobagens cubanas e com as loucuras bolivarianas?
Minha gente: os companheiros só querem um capitalismo de face humana, entenderam?; um para o qual eles mesmos desenham a face, sorridente, generoso com os pobres (desde que os pobres continuem votando para eles), inclusivo, enfim, essas coisas que qualquer país socialdemocrata tem. A única coisa da qual eles não gostam mesmo é da tal de alternância; isso os deixa muito incomodados. Ah, sim, também tem outra coisa: eles não gostam dessas críticas da “grande mídia”; por isso eles vêm tentando, com muito denodo, democratizá-la, entenderam? Para isso, basta mandar a Receita Federal examinar os livros contábeis desses valentes do Partido da Imprensa Golpista, que ela, a RF, descobre rapidamente irregularidades em algumas das 3.500 normas da própria RF; por aí eles conseguem enquadrar esses recalcitrantes.

Mito: Se a oposição ganhar, o país vai retroceder 15 anos, e ficar entregue à direita mais reacionária, aos tucanos neoliberais, que vão novamente submeter o Brasil aos ditames de Wall Street, enquadrá-lo nas regras do Consenso de Washington, e submetê-lo às políticas recessivas do FMI.
Nem por sonho. Como é que um país, que nunca foi liberal em toda a sua história, vai virar neoliberal, assim de uma hora para a outra, sem sequer dar tempo de redecorar a casa para receber os donos da finança e os mestres do império? Como diria Mário de Andrade, lá pelos anos 1920, “progredir progredimos um tiquinho, que o progresso também é uma fatalidade...”. Pois é, não dá para retroceder: todas as amarras congressuais, sociais, espirituais e filosóficas, fazem do Brasil, inquestionavelmente (ah, saiu certo outra vez), um país socialdemocrata, e condenado a sê-lo. Tudo indica que não tem marcha atrás. As promessas distributivistas vão ter de ser cumpridas, e ainda não nasceu o político que vai reduzir ou acabar com programas sociais: eles só vão aumentar, e com eles a dependência de um número crescente de brasileiros da ajuda estatal. Este seria o modelo de sociedade que perseguem tucanos neoliberais e petistas distributivistas? Assim parece...
O único problema disso tudo é que o Brasil escolheu distribuir a riqueza muito antes de ficar rico, e aí corre o risco de estagnar na mediocridade do crescimento pelas próximas duas gerações, pelo menos. Como é que pode, um país que tem 16% do PIB de poupança doméstica, que investe menos de 20% do PIB (contando com uns trocados do exterior), crescer mais de 3% ao ano? Não pode. Assim, só dá para ter crescimento da renda per capita em torno de 1 a 2% ao ano, entenderam? Isso significa que a renda individual só vai dobrar para os seus netos, contentes com isso? Ou seja, vamos continuar alegremente nesse caminho socialdemocrata, orgulhosos de sê-lo, e nos contentar em exportar minério para a China. Está bem assim, ou os companheiros tem alguma solução maravilhosa que os tucanos neoliberais ainda não descobriram?
E essa coisa de alinhar o Brasil com o império? Bobagem companheira, que só os estudantes da UNE compartilham, embora alguns grandalhões continuem a repetir esse tipo de alegação maldosa, inclusive alguns diplomatas experientes. A obsessão antiamericana é uma das doenças infantis que ainda ficaram dos velhos tempos de anti-imperialismo doentio do partido burguês que hoje é o dos companheiros. Só quem acredita nisso é o Moniz Bandeira e o Samuel Pinheiro Guimarães, seriamente, eu quero dizer; o resto do pessoal continua a repetir essa bobagem para não ficar mal com os estudantes da UNE, entenderam?

Mito: Se os companheiros conseguirem vencer mais essa, eles vão lotar os órgãos estatais de gentinha da esquerda, essas ratazanas que querem expropriar fazendas, colocar um imposto contra os ricos e esquerdizar de vez as nossas instituições.
Nem chance. Os companheiros vão, sim, dar alguns empregos a essa arraia miúda do PCdoB e de outros partidecos da esquerda e até para algumas seitas alucinadas: para isso existe o Incra, o MDA, e algumas agências públicas. Mas os cargos realmente importantes vão para esses estupendos representantes da esquerda tupiniquim como podem ser o Sarney, o Collor, o Maluf, o Barbalho, o Garotinho, e até para alguns capitalistas amigos, como o Eike Batista, que precisa urgentemente de uma Bolsa Família só para ele (completa, ou seja, a dos 45 milhões de beneficiários).
Imposto contra os ricos? Mas justo agora que muitos deles fizeram o seu primeiro milhão? Não se brinca com essas coisas: imposto é só para quem não pode escapar, assalariados em geral, classe média em particular, e empresários que não puderem se entender com o Tesoureiro do partido, o shadow-Finance minister...
Esquerdizar as instituições? Não é bem isso: basta aparelhá-las com gente de confiança e o trabalho está feito. Aliás, ninguém mais se lembra do decreto bolivariano dos sovietes petistas?; aposto como vocês esqueceram. Basta subsidiar generosamente todas essas ONGGs, e a coisa está feita. O Brasil pode viver em paz com 15% de comissão (que parece ser a média na China; mais do que isso, a coisa complica).

Mito: Os tucanos, se voltarem, vão acabar com o Bolsa Família, reduzir o salário mínimo e provocar desemprego.
Só se eles fossem doidos. O que os tucanos querem fazer é administrar o BF em bases estatais, e não como curral eleitoral (mas os companheiros não acreditam nisso), fazer com que os aumentos do salário mínimo acompanhem, no mínimo (com perdão da redundância) o crescimento da produtividade, e atrair investimentos estrangeiros e estimular os nacionais para criar empregos basicamente no setor privado, em lugar de ficar aumentando o funcionalismo público como os companheiros gostam de fazer (se possível só com companheiros, que pagam o dízimo ao partido, e ainda contribuem com 10 a 30% do DAS quem tem). Os companheiros podem até ter boas intenções em direção de todas essas categorias – dependentes estruturais, classe operária e funcionários públicos, de modo geral – mas em matéria de economia eles são um pouco como esses keynesianos de botequim que pululam na UniCamp, cheios de ideias brilhantes, nenhuma delas exequível, já que acabam caindo no desastre da “nova matriz econômica” ou de algum “desenvolvimentismo” nouvelle manière.
Os tucanos são um pouco mais sofisticados, já que aderindo, em sua maior parte, à nova síntese keynesiana, que é o mainstream com pitadas de anticíclico, entenderam? Daí que eles vão ensinar aos companheiros como é que se estabiliza a economia, se reduz a inflação, e integra o Brasil aos circuitos produtivos internacionais. Eles não cultivam certas bobagens protecionistas, pois sabem que stalinismo industrial não funciona: o jeito é se lançar ao mar, e navegar sempre para a frente, na globalização, que os companheiros sempre acusam de perversa e assimétrica. Enfim, com os tucanos pelo menos não somos obrigados a ouvir aquele manancial de bobagens do Fórum Social Mundial, que os companheiros acompanhavam com verdadeiros orgasmos muito sociais (e ecológicos, claro). Enfim, vai diminuir o Febeapá 2.0.

Em conclusão, não muda muito o panorama das políticas sociais e da confusão congressual de sempre, embora o linguajar possa melhorar sensivelmente. Uma coisa é certa: depois de 12 anos de Nunca Antes, vamos respirar um pouco com coisas mais sensatas e menos grandiloquentes. Como vai ser bom descobrir que o Brasil não nasceu ontem, e poder dizer ao pessoal: olha, essa coisa de abraçar ditador não é comigo, ok? Só isso, já nos tira um peso enorme da consciência, saber que a defesa da soberania nacional não é contraditória com a preservação da dignidade na defesa de certos valores, que aliás estão inscritos em nossa carta constitucional. Por mais esquizofrênica que ela seja no plano econômico, ela não faz feio no plano de certos princípios e fundamentos, soberbamente ignorados ao longo dos últimos anos.

Paulo Roberto de Almeida
Hartford, 23 de outubro de 2014.

Brasil-Bolivia: solavancos na bela amizade companheira - TCU contesta pagamentos da Petrobras

Sem palavras, mais uma vez...
Paulo Roberto de Almeida

Brasil-Bolivia

Tribunal de Cuentas brasileño cuestiona pago extra a Bolivia por gas natural

Infolatam/Efe
Río de Janeiro, 22 de octubre de 2014
Las claves
  • Brasil aceptó en una negociación política con Bolivia pagar por estos combustibles licuables de mayor valor agregado pese a que, según el Tribunal de Cuentas de la Unión, su compra no está prevista en el contrato entre ambas empresas y Petrobras no los utiliza.
El Tribunal de Cuentas de la Unión (TCU) de Brasil cuestionó el pago extra de 434 millones de dólares hecho por la petrolera Petrobras por combustibles licuables contenidos que Brasil importa de Bolivia y que no son aprovechados.
“Se está pagando por componentes que no están previstos en el contrato y que no son utilizados en Brasil”, alertó el Tribunal de Cuentas de la Unión en un documento enviado a Petrobras, en el que exige explicaciones por el desembolso hecho en septiembre pasado y que fue divulgado hoy por la estatal Agencia Brasil.
El valor, pagado en cumplimiento de un acuerdo entre la brasileña Petrobras y Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB), se refiere a la deuda acumulada en los últimos seis años por la compra de supuestos componentes nobles presentes en el gas natural que Brasil importa por el gasoducto entre ambos países.
Brasil aceptó en una negociación política con Bolivia pagar por estos combustibles licuables de mayor valor agregado pese a que, según el Tribunal de Cuentas de la Unión, su compra no está prevista en el contrato entre ambas empresas y Petrobras no los utiliza.
La petrolera brasileña, además, aceptó pagar retroactivamente por los componentes nobles del gas que ya había sido importado por Brasil.
“Determinamos una fiscalización inmediata en los contratos para verificar quién autorizó el pago y cuál fue el respectivo acuerdo firmado”, agrega el documento enviado a la petrolera estatal brasileña y en la que establece un plazo de entre 90 y 120 días para que realice la respectiva auditoría.
El contrato de venta de gas de Bolivia con Brasil fue firmado en 1996, entró en vigor en 1999 por un período de veinte años y Petrobras ya ha anunciado su intención de extenderlo más allá de 2019, cuando vence.
El acuerdo prevé la importación de un volumen de 30 millones de metros cúbicos diarios de gas natural por el gasoducto que llega al estado brasileño de Sao Paulo, a un precio de cerca de 9,3 dólares por millón de BTU (Unidad Térmica Británica).
De acuerdo con el Tribunal de Cuentas de la Unión, el contrato original no prevé el pago por los componentes nobles de mayor valor agregado incluidos en el gas boliviano y que, pese a que pueden ser aprovechados por la industria química, no son separados ni en Bolivia ni en Brasil.
“Ninguno de los dos países hace eso ni está previsto en el contrato. Petrobras nunca había pagado por esos componentes que no usa y ahora resolvió pagar, incluso de forma retroactiva”, alega el tribunal.

Eleicoes 2014: manchetes para ler e guardar: o jornal do Stalin Sem Gulag proclama a vitoria do oficialismo

Bem, é para guardar esta, e novamente ler na noite do dia 26. Vou colocar uma chamada para esta postagem na minha agenda eletrônica.
Paulo Roberto de Almeida

Dilma amplia campanha e nova pesquisa consolida tendência de vitória

22/10/2014 13:49
Por Redação - de Brasília e São Paulo
Correio do Brasil
Em cidades mineiras, por onde a candidata Dilma Rousseff tem passado, a recepção tem sido calorosa
Em cidades mineiras, por onde a candidata Dilma Rousseff tem passado, a recepção tem sido calorosa
A presidenta Dilma Rousseff, candidata do PT à reeleição, confirmou a tendência de vitória nas urnas, no próximo domingo, ao consolidar uma dianteira sobre o adversário tucano, Aécio Neves. Segundo nova pesquisa Datafolha, divulgada na manhã desta quarta-feira, eles seguem em um empate técnico, com vantagem numérica para a petista (52%) sobre o tucano, com 48% dos votos válidos. O levantamento repete o mesmo resultado divulgado na segunda-feira, considerando os votos válidos, que colocou a candidata em vantagem numérica sobre Neves, pela primeira vez no segundo turno. A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos, o que coloca ambos na margem extrema dessa diferença.
Todos os levantamentos do Datafolha, no segundo turno, mostraram empate técnico entre os dois candidatos, mas o tucano seguia em vantagem numérica de dois pontos nas duas primeiras pesquisas do instituto. Em votos totais, Dilma foi de 46% a 47% na pesquisa divulgada nesta quarta-feira, enquanto Aécio manteve os 43%, o que já aponta para uma dianteira solidificada na campanha petista. Os indecisos oscilaram de 6% a 4%, enquanto brancos e nulos passaram de 5% a 6%.
A pesquisa, publicada no diário conservador paulistano Folha de S.Paulo, mostrou maior otimismo dos brasileiros com a economia do país, o que pode ter ajudado Dilma a ganhar terreno na disputa para a votação de domingo. Para 44% dos entrevistados, a situação econômica do país vai melhorar, ante 32% no fim do mês passado. Entre os eleitores de Dilma, 50% acreditam na melhora da economia do Brasil, enquanto no grupo dos que declararam voto em Aécio, 43% têm a mesma percepção. O número de entrevistados que consideram que a inflação vai aumentar caiu de 50% no final de setembro para 31% no geral, enquanto os que acham que o índice vai diminuir passaram de 12% a 21%.
Com relação à taxa de desemprego, houve queda de 36% a 26% entre aqueles que apostam que ela vai aumentar, e alta de 23% a 31% entre os que acreditam numa redução do desemprego. Várias pesquisas de intenção de voto estão registradas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para serem realizadas nesta semana antes do segundo turno, marcado para domingo. Novo levantamento do Datafolha deve ser divulgado até sexta-feira.
Para o levantamento divulgado mais cedo, o instituto entrevistou 4.355 eleitores no dia 21 de outubro em 256 municípios.
Mais empregos
Ciente da preocupação do eleitor brasileiro em manter as conquistas sociais obtidas ao longo da última década, a presidenta Dilma voltou a criticar, nesta manhã, as políticas econômicas do PSDB, partido de seu adversário, Aécio Neves, afirmando que o Brasil teve desemprego recorde durante o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
– Nós sabemos quem no passado desempregou, quem é que conseguiu bater o recorde de desemprego em 2002, o governo Fernando Henrique Cardoso – disse Dilma a apoiadores, após caminhada em Uberaba (MG).
Na reta final da campanha, a presidenta tem feito comparações entre os 12 anos de governo do PT (quatro dela e oito do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva) com os oito anos de governo do PSDB com Fernando Henrique, acusando a administração tucana de promover arrocho salarial e desemprego. O desemprego caiu a mínimas históricas no governo Dilma.
A presidenta comemorou os números de setembro, alegando que a geração de empregos no país mostra uma situação diferenciada, levando em conta a crise internacional.
– Gerar isso em uma das maiores crises do mundo, e que volta a apertar, mostra como a nossa situação é diferenciada – disse a candidata, logo após a divulgação dos números.
No discurso em Minas, nesta quarta-feira, Dilma também voltou a dizer que o segundo turno da eleição presidencial, no domingo, colocará em jogo o salário mínimo. A petista citou o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, indicado por Aécio como futuro ministro da Fazenda caso eleito, como sendo a favor da redução do mínimo.
– Está em jogo o salário, o salário mínimo, que o candidato deles a ministro da Fazenda acha alto demais, que tem de reduzir. Nós não vamos permitir nem admitir que o Brasil volte para trás – afirmou Dilma, ao lado do governador eleito de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT).
Segundo Dilma, ao contrário do PSDB, os governos do PT têm como foco as classes menos favorecidas, abrindo oportunidades para todos e realizando investimentos em áreas como saúde, educação e moradia.