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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Itamaraty vai 'a caca de chefes de Estado (no bom sentido da expressao...)

Tarefa difícil...

Plateia cheia

Biden: convidado por Dilma para a posse
Biden: convidado por Dilma para a posse
O Palácio do Planalto pediu empenho ao Itamaraty para que um número grande de chefes de estado venha para a posse de Dilma Rousseff.
Entre os países vizinhos, a vinda dos presidentes é mais provável, até por ser tradição na região.
Difícil será atrair algum governante de outro continente, principalmente considerando que se trata de uma reeleição – e mais ainda por se tratar do inglório dia 1º de janeiro, feriado mundial.
A propósito, Dilma convidou Joe Biden por telefone, quando ele ligou no começo do mês para parabenizá-la pela vitória.
Por Lauro Jardim
Presenças confirmadas

A propósito: além de Paraguai, até agora, só confirmaram presença na posse de Dilma Rousseff os presidentes de Uruguai, Chile, Guiné Bissau e Costa Rica. Se a lista de presença continuar baixa, será um mico, diante da expectativa do Palácio do Planalto em lotar a festa.

Por Lauro Jardim

Estatisticas de acesso: Itamaraty e corrupcao, os mais visitados (nada a ver um com outro...)

Apenas verificando as estatísticas de acesso dos últimos dias.
Parece que o Itamaraty tem interessado (ou preocupado) muita gente.
Da mesma forma como a corrupção.
Não que um tenha a ver com o outro; são apenas coincidências involuntárias, digamos assim.
Mas parece uma vizinhança infeliz...

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As estatísticas mais amplas estão abaixo:

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Parece que certas coisas não deveriam estar aqui, mas acabam aparecendo, mais do que deveriam.
 Paulo Roberto de Almeida

Petrobras e governo: a inacao irresponsavel no limiar do crime deirresponsabilidade - Reinaldo Azevedo

Parece que as pessoas que precisam decidir foram atacadas por paralisia senil.
A figura política é crime de responsabilidade, mas neste caso, a irresponsabilidade predomina.
Paulo Roberto de Almeida
A presidente Dilma Rousseff, abraçada a seus dois mandatos — o que ela já tem e o que ela ainda terá — vê a Petrobras virar pó e não consegue sair do lugar. É impressionante! Parece estar em transe. A situação não faz nada senão piorar, e a presidente que há e a que haverá se estreitam num abraço insano. Os papéis preferenciais da estatal (PN, sem direito a voto) caíram 9,20%, maior queda diária desde 27 de outubro deste ano, para R$ 9,18 reais. Os ordinários (ON, com direito a voto) recuaram 9,94%, a R$ 8,52, as menores cotações, respectivamente, desde 20 de julho de 2005 e 15 de setembro de 2004. O desempenho da empresa jogou o Bovespa para baixo, frechando em queda de 2,05%, aos 47.019.
A conjuntura internacional explica parte do desastre? Explica. O preço do barril do petróleo não é nada estimulante para a petroleira; a economia americana se recupera, o que provoca uma migração de papeis dos países emergentes para os EUA, parte do movimento de aversão ao risco etc. Assim, ainda que as ações da gigante brasileira estivessem nas nuvens, é justo inferir que teriam caído um pouco — quem sabe tivesse despencado.
O problema é que as ações já estavam no fundo do poço em razão de fatores que nada têm a ver com a economia mundial. O que conduziu a Petrobras à beira do colapso é a roubalheira. Juntam-se, assim, fatores que não dependem de escolhas feitas pelo governo brasileiro com outros que dependem, sim. Até quando Dilma pretende empurrar com a barriga a necessária substituição de toda a diretoria da empresa. A governanta tem alguma esperança de que Graça Foster, presidente da estatal, recupere a credibilidade? De que modo.
A mais recente notícia escabrosa saída daquele hospício de malfeitores informa que, ora vejam, a diretoria da estatal subscreveu um contrato em branco com a empresa holandesa SBM Offshore para a construção do navio-plataforma P-57. Isso aconteceu na sexta-feira, 1º de janeiro de 2008. O contrato de construção da P-57 (nº 0801.0000032.07.2), que chegou à CPMI da Petrobras, não contém “informação expressa sobre seu valor”, relataram os técnicos, por escrito, à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI). Só para lembrar: mesmo assim, o relator, Marco Maia (PT-SP), não viu nada de errado.
Voltemos à Petrobras. Dilma está esperando o quê? A inação já beira o crime de responsabilidade, conforme o expresso na Alínea 3 do Artigo 9º: “não tornar efetiva a responsabilidade dos seus subordinados, quando manifesta em delitos funcionais ou na prática de atos contrários à Constituição”. A melhor maneira que Dilma tem de cobrar a responsabilidade desses subordinados é substituído-os.

Os 50 melhores livros do seculo 20, reduzidos a... 12 apenas (de um ponto de vista universal)

Listas dos melhores livros elaborados por americanos são, eminentemente... americanas.

Os próprios editores da Intercollegiate Review têm consciência desse fato, tanto é que escrevem:
"To make the task more manageable, our lists include only nonfictionbooks originally published in English, and so certain giants of the century such as Alexander Solzhenitsyn will not be found here, on two counts."
Ou seja, apenas livros de autores americanos e de expressão inglêsa (o que inclui algumas modernas colônias americanas, como Reino Unido, essas coisas...).
Bem, além disso, tem alguns livros que se referem especificamente, e eu até diria exclusivamente, ao universo mental americano.
Quem quiser, pode consultar primeiro a lista completa, transcrita in fine.
Como me pediram uma opinião sobre a lista, ofereço abaixo uma seleção que eu mesmo faria, a partir da grande lista dos 50, e ela se resumiria a apenas 12 livros, que listo a seguir. Esclarecendo que, numa perspectiva universal, eu incluiria obviamente várias outras obras europeias de língua não inglesa e provavelmente uma ou outra de nossas paragens, também (embora não o faça agora, pois teria de refletir sobre o que é universal em nosso "universo). Fica, portanto, para uma outra ocasião.
Do John Keegan eu escolheria History of Warfare, e não o listado na grande lista do Intercollegiate Review. Do George Orwell, considerado na lista maior pelo seu Hommage to Catalonia (Lutando na Espanha), eu escolheria simplesmente o Animal Farm (A Revolução dos Bichos, ou A Fazenda dos Animais, segundo as traduções). O próprio Milton Friedman, que deve ser considerado em qualquer lista, ficou ultrapassado com o tempo no desenvolvimento das ideias, e seus argumentos principais, que continuam válidos, poderiam ser melhor apresentados, sem as referências empíricas já datadas, por algum discípulo autorizado. O livro do Paul Johnson é indispensável, mas eu também reteria seu "indiciamento" dos intelectuais como grandes profetas do desastre. Winston Churchill é um pouco autocongratulatório, mas ainda deve ser lido pelo que representa de autor-ator. Junto com Friedman, é provavelmente o único da lista que não teve influência apenas na academia (embora esta influencie os decisores políticos), mas pode ser considerado um history-maker de primeiro plano em qualquer avaliação que se faça da história do século 20, Churchill como estadista de grandes conflitos globais, Friedman como um "estadista" das políticas econômicas.
No momento aqui vai a minha short list, mas sem qualquer ordem especial, apenas seguindo a grande lista:
Hannah Arendt, The Origins of Totalitarianism (1951)
Herbert Butterfield, The Whig Interpretation of History (1931)
Winston Churchill, The Second World War (1948–53)
Christopher Dawson, Religion and the Rise of Western Culture (1950)
Frederick Copleston, S.J., A History of Philosophy (1946–53)
 
Milton Friedman, Capitalism and Freedom (1962)  
Frederick von Hayek, The Constitution of Liberty (1960)
Paul Johnson, Modern Times (1983)
John Keegan, The Face of Battle (1976) 
Arthur Lovejoy, The Great Chain of Being (1936)
Leo Strauss, Natural Right and History (1953)
Eric Voegelin, The New Science of Politics (1952)

Os interessados devem encontrar todos esses livros na rede Abebooks, mas alguns não estarão a 3 dólares...
Paulo Roberto de Almeida

The 50 Best Books of the 20th Century 
The Editors
Intercollegiate Review, July 13, 2014

On the eve of the new millennium, the Intercollegiate Review published a list of the 50 worst and fifty best books of the 20th century.  Although now approaching fifteen years since publication, this list tells us much about our recent historical inheritance, and provides a valuable reminder of the vitality of conservatism and the errors of liberalism.

Today, we lead with the 50 best books of the 20th century.
This list was edited by Mark C. Henrie, Winfield J. C. Myers, and Jeffrey O. Nelson.
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The turn of the century is a time to take stock of the path we have followed, the better to discern where we ought to be going. Historical discernment requires coming to judgment about what has been noble, good, and beneficial in our time, but also about what has been base, bad, and harmful. In the life of the mind, what has our century produced that deserves admiration? What has it produced that deserves only contempt?

Earlier this year, the Modern Library published a list styled The Hundred Best Nonfiction Books of the Twentieth Century. A list of significant books can make a compelling statement about how we are to understand an age. In judging the quality of a book, one necessarily judges the perception and the profundity which the book displays, as well as the character of the book’s influence.

Yet many were dissatisfied with the several “Best” lists published in the past year, finding them biased, too contemporary, or simply careless. So the Intercollegiate Review (IR) set out to assemble its own critically serious roster of the Best—and the Worst—Books of the Century. To assist us in this task, we relied on the advice of a group of exceptional academics from a variety of disciplines.

To make the task more manageable, our lists include only nonfictionbooks originally published in English, and so certain giants of the century such as Alexander Solzhenitsyn will not be found here, on two counts. We left the definition of “Best” up to our consultants, but we defined “Worst” for them as books which were widely celebrated in their day but which upon reflection can be seen as foolish, wrong-headed, or even pernicious.

There was broad agreement about a majority of titles, but there were also fierce disagreements. Several titles appeared on both “Best” and “Worst” lists. We have tried to be faithful to the contributions of our consultants, but the responsibility for final composition of the list lay with the editors of the IR.

What, then, do these lists reveal about the character of the Twentieth Century?

Our “Worst” list reveals a remarkable number of volumes of sham social science of every kind. The attempt to understand human action as an epiphenomenon of “hidden” and purportedly “deeper” motives such as sex, economics, or the Laws of History is a powerful yet hardly salutary trend in our century. The presumed “breakthrough” insight that professes to reveal the shape of some inevitable future has time and again proven to be profoundly misguided. And with human life reduced in these theories to a matter for technological manipulation, our century also reveals a persistent attraction to a dehumanizing statist administration of society.

Prominent on the “Best” list, on the other hand, are many volumes of extraordinary reflection and creativity in a traditional form, which heartens us with the knowledge that fine writing and clear-mindedness are perennially possible.

1. Henry Adams, The Education of Henry Adams (1907)
Pessimism and nostalgia at the bright dawn of the twentieth century must have seemed bizarre to contemporaries. After a century of war, mass murder, and fanaticism, we know that Adams’s insight was keen indeed.

2. C. S. Lewis, The Abolition of Man (1947)
Preferable to Lewis’s other remarkable books simply because of the title, which reveals the true intent of liberalism.

3. Whittaker Chambers, Witness (1952)
The haunting, lyrical testament to truth and humanity in a century of lies (and worse). Chambers achieves immortality recounting his spiritual journey from the dark side (Soviet Communism) to the—in his eyes—doomed West. One of the great autobiographies of the millennium.

4. T. S. Eliot, Selected Essays, 1917–1932 (1932, 1950)
Here, one of the century’s foremost literary innovators insists that innovation is only possible through an intense engagement of tradition. Every line of Eliot’s prose bristles with intelligence and extreme deliberation.

5. Arnold Toynbee, A Study of History (1934–61)
Made the possibility of a divine role in history respectable among serious historians. Though ignored by academic careerists, Toynbee is still read by those whose intellectual horizons extend beyond present fashions.

. . . and the rest of the best

Hannah Arendt, The Origins of Totalitarianism (1951)
A very big brain and not without flaws. Still, her account of the peculiarly modern phenomenon of “totalitarianism” forced many liberals to consider the sins of communism in the same category as those of fascism, and that is no small achievement.

Jacques Barzun, Teacher in America (1945)
Barzun fought a heroic struggle against the Germanization of the American university.

Walter Jackson Bate, Samuel Johnson (1975)
The most psychologically astute biography of one of the most psychologically astute writers who ever lived. In an age of debunking and trivializing biographies, Bate’s beautifully written book stands out as a happy exception.

Cleanth Brooks & Robert Penn Warren, Understanding Poetry (1938)
Interpreting literature in the style of the New Criticism was the vehicle by which a half century of Americans gained access to the intellectual life. This textbook by two of the brightest lights of the most important literary group in America this century—the Vanderbilt agrarians—has never been out of print.

Herbert Butterfield, The Whig Interpretation of History (1931)
Every day, in every way, things are getting better and better? No, and Butterfield provides the intellectually mature antidote to that premise of liberal historiography.

G. K. Chesterton, Orthodoxy (1908)
The master of paradox demonstrates that nothing is more “original” and “new” than Christian tradition.

Winston Churchill, The Second World War (1948–53)
A work comprehensive in scope and intimate in detail by a master of English prose whose talents as an historian have been vastly underrated. Indispensable for understanding the twentieth century.

Frederick Copleston, S.J., A History of Philosophy (1946–53)
The most comprehensive, accurate, and readable history of philosophy, written by a philosopher who believed that the purpose of philosophy is the search for Truth.

Christopher Dawson, Religion and the Rise of Western Culture (1950)
An essential work of European history that shows how the rise of Christianity altered civilization in the West. Credits the Roman Catholic Church with keeping civilization alive after the fall of Rome and during the barbarian invasions.

Eamon Duffy, The Stripping of the Altars (1992)
Revisionist history as it was meant to be written: as a correction to centuries of Whig historiography. Demonstrates that the brute force of the state can destroy even the most beloved institutions. What do you know . . . Belloc was right.

Shelby Foote, The Civil War: A Narrative (1958–74)
The American Iliad.

Douglas Southall Freeman, R. E. Lee (1934–35)
The tragic life of a great Southern traditionalist beautifully chronicled by a great Southern traditionalist.

Milton Friedman, Capitalism and Freedom (1962)
They are connected, after all—a great anti-communist book.

Eugene Genovese, Roll, Jordan, Roll (1972)
The finest analysis of slave life and culture, the complexities of the master-slave relation, and the impact of slavery on American history that we are likely ever to have.

Frederick von Hayek, The Constitution of Liberty (1960)
Thoughtful reflections on the conditions and limitations of liberty in the modern world, written by a deeply cultured Austrian who found his home in the Anglo-Saxon world. The Summa of classical political economy in our century.

Will Herberg, Protestant, Catholic, Jew (1955)
The first sociologist to take religion in America seriously.

Jane Jacobs, The Death and Life of Great American Cities (1961)
Jacobs was the first to see that modernist architects and urban planners were creating not simply ugly buildings but entire urban environments unsuited to human communities.

Paul Johnson, Modern Times (1983)
Somehow the most personal, yet the most objective, history of our time.

John Keegan, The Face of Battle (1976)
A tour de force of military history that often explains strategy and tactics in terms of culture.

Russell Kirk, The Conservative Mind (1953)
Did the impossible: showed a self-satisfied liberalism that conservatism in America could be intellectually respectable. A book that named a major political movement.

Arthur Lovejoy, The Great Chain of Being (1936)
The classic historical narrative of the coherent and complex worldview that lies at the foundation of the West.

Alasdair MacIntyre, After Virtue (1981)
Won a new hearing for virtue ethics after nearly two centuries of intellectual domination by Kantian morals. We live today in the time “After MacIntyre.”

Dumas Malone, Jefferson and His Time (1948–81)
A masterpiece of monumental historical biography. Malone’s prose, narrative, and analysis are wonderfully eighteenth-century in their balance and restraint.

H. L. Mencken, Prejudices (1919–27)
This century’s greatest exhibition of satire in nonfiction, demonstrating extraordinary aesthetic and literary taste. The author had street smarts too. Ah, the glory that was Mencken.

Thomas Merton, The Seven-Storey Mountain (1948)
A Catholic convert and Trappist monk, Merton’s natural gifts as a writer enabled him to introduce tens of thousands of readers to the spiritual fulfillment of contemplative life—a stunning achievement for an American.

Reinhold Niebuhr, The Nature and Destiny of Man (1941)
A biting critique of secular thought and a persuasive and inspiring exposition of man’s Christian destiny.

Robert Nisbet, The Quest for Community (1953)
Anticipated all the concerns of contemporary communitarians and did so with the sophistication of the century’s premier sociological imagination.

Flannery O’Connor, The Habit of Being (1978)
The beautiful letters of America’s most profound writer this century. The best imaginable bedtime reading.

George Orwell, Homage to Catalonia (1952)
The savagely incisive song of a great writer’s disillusionment with the bloody inhumanity of the Left.

Walker Percy, Lost in the Cosmos (1983)
True therapy for the therapeutic age. Percy shows that the best human life is being at home with our homelessness, not to mention that modern science, properly understood, need not have atheistic and materialist implications.

Richard Rhodes, The Making of the Atomic Bomb (1986)
This magisterial, balanced account of the world’s most ambitious scientific project serves as a vigorous retort to those who make much of American naiveté—or who would deny the American century.

Philip Rieff, The Triumph of the Therapeutic (1966)
A neglected classic. Rieff shows that the real danger to humanity in our time is not socialism but therapy.

George Santayana, Persons and Places: Fragments of Autobiography (1944)
Like everything else from the pen of George Santayana, Persons and Places is elegant, witty, perspicacious, and profound—a distinguished autobiography relating the tangled transatlantic life of one of the century’s most original minds.

Joseph Schumpeter, Capitalism, Socialism, and Democracy (1942)
A great economist presents a dark vision of politics in a book which is accurately reasoned and brilliantly written.

Leo Strauss, Natural Right and History (1953)
Strauss revealed the philosophical nerve of the Modern Project and retrieved the political dimension of classical philosophy.

William Strunk & E. B. White, The Elements of Style (1959)
An extraordinary little book that explains with clarity the use and misuse of the written word. In it the reader will not only learn the difference between such words as “while” and “although,” and “which” and “that,” but also find demonstrated beyond a doubt that language and civilization are inextricably intertwined.

Lionel Trilling, The Liberal Imagination (1950)
Trilling shows that literature is relevant to politics not because it affirms any political doctrine but because it provides a corrective to any political ideology whatsoever.

Frederick Jackson Turner, The Frontier in American History (1920)
Using as his primary sources beliefs that earlier had been felt rather than thought, Turner made those most American characteristics—optimism, grit, unflinching determination—central to the study of American history. One of the few truly original works of history this century.

Eric Voegelin, The New Science of Politics (1952)
Here, one of this century’s most learned political philosophers powerfully critiques the modern quest for secular salvation.

Booker T. Washington, Up from Slavery (1901)
A classic of Southern autobiography describing one man’s heroic and successful efforts to overcome the legacy of slavery.

James D. Watson, The Double Helix (1968)
An eminently readable book about the unraveling of DNA, one of the most important scientific discoveries of the century. The book also offers an interesting look at English society after the Second World War.

Edmund Wilson, Patriotic Gore (1962)
A careful reader of American literature works to restore our past.

Ludwig Wittgenstein, Philosophical Investigations (1953)
In a century littered with ill-considered arguments about the linguistic “construction of reality,” this landmark of the later Wittgenstein stands in a wholly different category. At once ingenious, humane, and humble, it puts philosophy on the right track after the sins of Nietzsche, Heidegger, and others.

Tom Wolfe, The Right Stuff (1979)
The dazzling story of the test pilots and Mercury astronauts is narrated by Wolfe as a compelling affirmation of the American spirit and traditional values.

Malcolm X (with the assistance of Alex Haley), The Autobiography of Malcolm X (1965)
The spiritual journey of a sensitive and intelligent man who had to wrestle with his own demons and contradictions while battling the condescension of paternalist liberals and the enervating effects of the welfare state on his people.

Editors: Mark C. Henrie, Winfield J.C. Myers, Jeffrey O. Nelson. Consultants: Brian Domitrovic, Harvard University; Victor Davis Hanson, California State University, Fresno; E. Christian Kopff, University of Colorado; Peter Augustine Lawler, Berry College; Leonard Liggio, Atlas Educational Foundation; Mark M. Malvasi, Randolph-Macon College; Harvey C. Mansfield, Jr., Harvard University; Wilfred McClay, University of Tennessee, Chattanooga; Mark Molesky, Harvard University; George H. Nash, author; George Panichas, Modern Age; John Willson, Hillsdale College.

1998 crisis and now: differences and similarities - Ye Xie (Bloomberg News)

Why 1998 Was Different, and Same, to Emerging-Market Crisis Now

Oil prices were tanking. Emerging-market currencies were in a freefall. Venezuela was mired in a financial crisis and Russia had sunk into a debt default and devaluation. 
The year was 1998.
Emerging markets today look a lot like they did back then. Yet there have been key changes that could help most of them escape full-blown crises. Here’s a look at the similarities and differences between now and then. 

Similarities

*Falling Oil Prices 
Crude has dropped 48 percent since June to about $55 a barrel, squeezing exporters from Venezuela to Russia and Nigeria. Credit default swaps show a 97 percent probability that Venezuela will default on its bonds within five years, according to data compiled by Bloomberg. The Russian economy, which is under sanctions by the U.S. and the European Union over the Ukraine conflict, will contract as much as 4.7 percent next year if oil remains at $60, the central bank said. 
*Currencies Sink 
A Bloomberg index tracking 20 of the most traded emerging-market currencies fell to the lowest since 2003 on Dec. 15. The ruble tumbled past 64 per dollar for the first time, Turkey’s lira fell to an all-time low while Indonesia’s rupiah retreated to levels last seen in 1998. 
During the Asian financial crisis in 1997 and 1998, countries from Thailand to Malaysia capitulated on defending their currency pegs, leading the Thai baht to lose half its value in six months. South Koreans lined up in the streets to donate gold jewelry to help the government refill their depleting foreign reserves amid the currency slump. 
*Fed Policy
The U.S. Federal Reserve is laying the ground for its first interest rate increase since 2006, threatening to drain capital from developing nations. The World Bank estimated last year that private capital inflows to developing nations could drop 50 percent should long-term U.S. bond yields rise one percentage point. 
Countries with large current account deficits, including Turkey, South Africa and Brazil, are vulnerable, according to Credit Agricole CIB. So are nations such as Malaysia, where foreign investors account for 30 percent of local government debt. A series of Fed rate increases in the mid-1990s helped trigger the run on Asian currencies that would in turn lead to Russia’s default. 
Differences
*Flexible Exchange Rates 
Developing countries have allowed their exchange rates to fluctuate, moving away from the fixed exchange-rate regimes prevailing during the crisis in the late 1990s. While weaker currencies fuel inflation, they can also stimulate economic growth by making exports cheaper. 
*Foreign Reserves 
Developing countries’ foreign reserves dwarf the amount they had in the late 1990s, which will help them weather the volatility in financial markets. As a group, emerging markets hold $8.1 trillion, compared with $659 billion in 1999, according to data compiled by the International Monetary Fund. 
*Debt
Instead of borrowing in dollars, the governments now mostly raise financing in local currencies, allowing them to pay back the debt without having to draw down foreign reserves. External debt amounted to 26 percent of developing nations’ gross domestic product last year, down from 40 percent in 1999, the IMF data show. 
One caveat is that companies have replaced governments as a source of concern on debt issuance. Corporations in developing countries sold about $375 billion of international debt between 2009 and 2012, more than double the amount in the four years before the 2008 financial crisis, the Bank for International Settlements said in September. 
*Interest Rates 
While rates are rising in some developing nations, they remain a fraction of the levels seen in 1998. Russia raised its benchmark rate 6.5 percentage points to 17 percent effective Dec. 16 at a late-night meeting. Some short-term rates soared over 100 percent back in 1998. In Brazil, policy makers have raised benchmark rates to 11.75 percent. That’s still less than half the rate levels from 1998. 
To contact the reporter on this story: Ye Xie in New York at yxie6@bloomberg.net
To contact the editors responsible for this story: Nikolaj Gammeltoft at ngammeltoft@bloomberg.net David Papadopoulos

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Itamaraty: SindItamaraty reagiu a tentativa de esvaziamento na promocao comercial

Transcrevo abaixo, e concordo integralmente com o teor, comunicado do SindItamaraty a respeito do projeto da CNI de criar cargos de adidos comerciais no exterior, uma falsa solução para um falso problema, e provavelmente apenas uma tentativa de se criar postos no exterior para designação provavelmente politica.
Paulo Roberto de Almeida

INFORMES SINDITAMARATY
SINDITAMARATY contesta a proposta da CNI de criação de cargos de adidos de comércio exterior
28.11.2014

O SINDITAMARATY tomou conhecimento da Carta do Presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), datada de 21 de outubro de 2014, sobre proposta de criação da função de Adidos de Indústria e Comércio junto a representações diplomáticas do Brasil no exterior e manifesta-se contrário ao apresentado pela CNI, por representar grave aumento injustificado de gastos de dinheiro público, duplicação de esforços, desvalorização do serviço exterior brasileiro e tentativa de subtração de competências que por lei são exclusivas do Itamaraty.

A Lei nº 4.669/65 e o Decreto nº 56.702/65 atribuíram ao Ministério das Relações Exteriores atividades de promoção comercial no exterior por meio de suas missões diplomáticas e repartições consulares. Nestes quase 50 anos, o Itamaraty construiu amplo sistema de promoção comercial e de investimentos: departamentos especializados em temas econômicos e comerciais, além de extensa rede de Setores de Promoção Comercial (SECOMs), localizados em seus Postos no Exterior. Tudo em plena coordenação com instituições brasileiras, sejam elas públicas, sejam privadas, incluindo a própria CNI. São 102 SECOMs em 81 países e nos cinco continentes. E Isso não é pouco.

A proposta da CNI, infelizmente, não parece se preocupar em investir e contribuir para fortalecer a estrutura disponibilizada pelo MRE, o que parece ser mais econômico e logicamente viável. A proposta não cria cargos em locais onde é necessário abrir mercados e onde há carência de recursos. No continente africano, por exemplo, onde o Itamaraty já possui 47 postos e 14 SECOMs, segundo a proposta da CNI, o cargo de adido comercial seria criado na Embaixada do Brasil em Pretoria, capital onde já existe SECOM atuante e de forma expressiva.  O que dizer do fato do Itamaraty hoje defender os interesses da indústria brasileira no exterior e identificar temas que afetam nossas exportações de maneira reconhecidamente eficiente e relevante, por meio de suas delegações junto às organizações internacionais como a Comissão Europeia, o MERCOSUL, a ALADI e a OMC?

A criação dos adidos comerciais, proposta pela CNI, torna-se ainda mais preocupante quando comparada à existência de adidos agrícolas. Os adidos agrícolas, regulados pelo Decreto nº 6.464, de 27 de maio de 2008, são membros da missão diplomática subordinados ao Embaixador (“...Art. 8º  São deveres do adido agrícola:...II - abster-se de quaisquer manifestações públicas, escritas ou orais, sobre assuntos relativos às políticas interna e externa brasileira, sem a prévia autorização do chefe da missão diplomática;...").

Em gritante ofensa à Constituição Federal e à Convenção de Viena, os adidos de comércio exterior, conforme proposto pela CNI, seriam considerados membros da missão diplomática, porém não estariam subordinados ao Chefe da Missão. Esta situação configura tentativa de burla à competência do Ministério das Relações Exteriores em sua função de representação perante os governos estrangeiros.

Se existe um problema a ser enfrentado, esse problema é o desmonte do MRE, a desvalorização dos seus recursos humanos, o desrespeito ao seu trabalho, a suas competências e a suas capacidades, o desmantelamento de sua estrutura e o vilipêndio de seu orçamento. As vagas para o ingresso na carreira de diplomata têm sido reduzidas a níveis abaixo dos necessários para a reposição dos seus quadros. Há mais de cinco anos, não são realizados concursos públicos para as carreiras de oficial e assistente de chancelaria, os quais têm seus salários em grande defasagem em relação aos salários das demais carreiras de Estado da Esplanada, em níveis que chegam a 90% de diferença na remuneração.

Não é por acaso que o período de grande crescimento do comércio exterior brasileiro (2003-2010) tenha coincidido com o período de crescimento dos recursos humanos e financeiros do serviço exterior brasileiro, enquanto o do progressivo decréscimo de nossas exportações esteja coincidindo com o injustificável processo de desvalorização do serviço exterior e de esfacelamento do Itamaraty.

Fica então a pergunta: por que gastar mais recursos criando uma nova estrutura que vai desde a instalação de escritórios para os adidos, a contratação de pessoal local de apoio até a remoção de funcionários que estariam dispendendo energia e recursos públicos pela duplicação de esforços na execução do mesmo trabalho, há anos muito bem empreendido pelas carreiras especializadas do Serviço Exterior Brasileiro?

Sandra Nepomuceno Malta
Presidente do Sinditamaraty

Itamaraty: 'a beira de um ataque de nervos, ou em estado depressivo?

Notícias ruins para e sobre o Itamaraty nesta segunda-feira, 15 de dezembro de 2014
As pessoas vão passar o final de ano com a angústia da dúvida quanto ao futuro funcional, ou poderão esperar algo melhor em 2015?
Pode também acontecer situações ainda mais depressivas, se as atuais já não bastassem...
Paulo Roberto de Almeida

Itamaraty terá novo 'vendedor do Brasil' 
 LISANDRA PARAGUASSU
O Estado de S.Paulo, 15 Dezembro 2014

Luiz Figueiredo deve deixar Ministério por falta de afinidade com comércio exterior

BRASÍLIA - O ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, está prestes a sair do cargo. Nomeado há apenas um ano e meio para substituir Antonio Patriota, Figueiredo perdeu o lugar com a decisão da presidente Dilma Rousseff, influenciada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de fazer o governo brasileiro retomar os caminhos do comércio exterior.
Com um déficit nas contas externas de US$ 4 bilhões, o Brasil precisa voltar, de novo, os olhos para a promoção comercial - uma área com a qual o ministro não tem qualquer familiaridade.
Antônio Patriota (à esq.) transmite o cargo a Luiz Alberto Figueiredo, em Brasília
Fontes ouvidas pelo Estado confirmaram que Figueiredo só não sai se Dilma não conseguir nenhum substituto, o que seria improvável, apesar de nenhum nome forte circular no momento. Mais do que isso, pela primeira vez, desde que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foi chanceler do governo de Itamar Franco, o cargo pode voltar às mãos de um político, se vencer a tese que está sendo defendida por Lula, de onde vem a maior pressão pela substituição de Figueiredo sem que haja, no entanto, um forte candidato.
Lula, que tem sido o principal interlocutor de Dilma na montagem do próximo governo, acha que ao ministro faltam iniciativa e preparo para lidar com questões comerciais - avaliação compartilhada por Dilma - e que um nome político forte traria ao Itamaraty o prestígio que hoje lhe falta. Dentro do próprio ministério, essa é uma vertente que ganhou força nos últimos meses. Apesar de há anos defenderem um chanceler de carreira, diplomatas vêm um nome político como uma solução para a falta de voz do ministério no governo de uma presidente que tem pouca vocação internacional.
'Caixeiro-viajante'. O ex-presidente tem afirmado a Dilma que a situação atual é semelhante à de quando ele próprio assumiu o governo, em 2003, sendo necessário mostrar ao mercado a decisão pela estabilidade econômica, como foi feito com a escolha de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda. E também de compromisso com a indústria brasileira. O ministro das Relações Exteriores precisa ser, segundo o ex-presidente, um "caixeiro-viajante" e retomar a política de "vender o Brasil" da mesma forma como ele e seu chanceler, Celso Amorim, o fizeram. É preciso também, na perspectiva de Lula, retomar cooperações com a África, Oriente Médio e América Central.
A avaliação do ex-presidente é compartilhada com outros setores, especialmente a Confederação Nacional da Indústria (CNI), que mostra desânimo com a falta de apetite pela promoção comercial, não só no Itamaraty, mas em outros setores do governo. A confederação chegou a se unir à Associação dos Analistas de Comércio Exterior, funcionários de carreira do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) para propor a criação de uma adidância de promoção comercial nas embaixadas brasileiras - ideia já descartada pela presidente por considerá-la "desnecessária".
A contraproposta do governo, até agora, é dar mais peso aos setores de promoção e defesa comerciais das embaixadas com diplomatas experientes.

Aptidão. Desde o início de seu governo, Dilma deu pouca atenção ao lado diplomático do governo. Desde o início, avisou que não viajaria como o fez Lula. Não deu autonomia a seus chanceleres e tem dificuldade de lidar com os meandros da diplomacia, que, grosso modo, pedem investimentos de longo prazo em relacionamentos.
Sua frase mais conhecida entre os diplomatas, ao tratar de encontros internacionais é "o que nós vamos ganhar com isso". Em seu governo, o Itamaraty, pela primeira vez em mais de uma década, sofre não apenas com a falta de espaço, mas com a falta de recursos até para participar de encontros e negociações internacionais.
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ITAMARATY - Esqueceram de Nós
Helena Celestino, 15/12/2014

“Ficamos invisíveis”, diz um embaixador. “Estamos tão desprestigiados que nem fofoca sobre a gente fazem mais”, comenta outro. “Do jeito que as coisas andam, vamos virar departamento da Casa Civil”, ironiza um terceiro. Na agenda do ministro Luiz Alberto Figueiredo, só aparecem reuniões internas ou viagens para acompanhar a presidente.

Os telegramas de Brasília com instruções para embaixadas quase sempre tratam de questões burocráticas. Nesta temporada de formação do governo Dilma 2, especula-se o nome para assumir até o Ministério da Pesca, mas o Itamaraty está fora da dança das cadeiras. O outrora poderoso Ministério das Relações Exteriores saiu da agenda da presidente, e diplomatas assistem impotentes à progressiva diminuição do espaço do Brasil na cena internacional.

Um pequeno exemplo: a “Economist”, na edição especial com prognósticos sobre o mundo em 2015, estampa na capa os personagens escalados para marcar o ano, e da América Latina só a presidente Michelle Bachelet entrou nesta seleção.

Cadê o Brasil? Não está na lista dos assuntos de destaque em 2015. A revista, sabemos, reflete o pensamento do establishment econômico e político; é a mesma que em outros tempos já apostou na decolagem brasileira, ao desenhar o Cristo voando para as alturas. No “Financial Times”, é Marina Silva, e não Dilma, a brasileira selecionada entre as mulheres líderes, combatentes ou lutadoras de 2014.

Pois é, prestígio a gente leva muito tempo para construir, mas perde rapidinho. O emergente da América Latina vem enfileirando notícias ruins — crescimento medíocre, inflação, descontrole das contas públicas — e , agora, a pior de todas: a avalanche de denúncias de corrupção na Petrobras, levando à abertura de processos contra a estatal brasileira nos EUA.

“A sensação é que o Brasil não consegue se viabilizar. O escândalo na Petrobras é um baque para o país”, diz uma advogada especializada na área de petróleo.

Aconteceu com o México, aconteceu com o Brasil. Desperdiçaram o capital de confiança depositado neles por investidores internacionais, o momento agora é de desalento. A presidente, até as pedras sabem, não gosta de política externa, tem pouca ou nenhuma simpatia pelos rituais da diplomacia, cortou em 30% as verbas do Itamaraty, obrigando à redução das viagens e à improvisação para tapar buracos em encontros internacionais.

Tudo isso, claro, é interpretado como desprestígio e, para evitar trombadas com o Planalto, calar-se tem sido a opção de diplomatas treinados para fazer exatamente o contrário: expressar opiniões, pensar o papel do Brasil no mundo, negociar acordos, marcar espaços.

A indefinição sobre o comando do ministério piora as coisas. O mais provável é Figueiredo continuar ministro e o embaixador do Brasil em Washington, Mauro Vieira, assumir a assessoria internacional da Presidência no lugar de Marco Aurélio Garcia. Há 12 anos no Palácio, ele vem contando a amigos que não quer continuar como interlocutor privilegiado de Dilma para assuntos externos, mas, na bolsa de apostas, Marco Aurélio também é cotado como um possível novo ministro das Relações Exteriores.

Ou o vice, Michel Temer. Nestes dois casos, Figueiredo seria deslocado para a Embaixada de Washington, voltando aos EUA, de onde saiu apressado há apenas 14 meses, para substituir o ex-ministro Antonio Patriota.

Com uma crise política — escalada para piorar com a divulgação dos nomes dos congressistas envolvidos com a corrupção da Petrobras — a preocupação com as relações externas vai, de novo, ficar para mais tarde.

É pouco provável que a presidente Dilma remarque a sua muito adiada visita aos Estados Unidos, e a normalização da relação com a superpotência não vai se concretizar logo. “Tudo isso vem levando o Brasil a não participar das grandes discussões internacionais”, diz um diplomata.

Não é por falta de assunto. O mundo se debate com o extremismo islâmico, a onda sem precedentes de imigrantes e refugiados, a devastadora epidemia de ebola na África, o desmantelamento do Oriente Médio, a tensão crescente entre Rússia e potências ocidentais, todas crises que transcendem as fronteiras e exigem a participação da comunidade internacional. “Sabe a posição do Brasil sobre esses temas? Nem eu”, diz um embaixador top.

Em janeiro, vai voltar ao debate um dos assuntos prediletos da política externa brasileira: a reforma da ONU, defendida a cada discurso presidencial na abertura da Assembleia Geral em Nova York. A organização internacional fará 70 anos e ficou combinado que se retomariam as propostas para a reforma do Conselho de Segurança.

Vai esquentar também a campanha para a escolha do novo secretário-geral, e muitos defendem que é hora de uma mulher assumir o cargo mais importante da diplomacia mundial. Quem se habilita? O momento não é bom para o Brasil, a presidente não trabalha com a ideia de que o reconhecimento no cenário internacional poderia ajudála a enfrentar a luta contra as nossas persistentes mazelas tipo corrupção, violência policial, injustiça social.

Corrupcao companheira: o pior ainda esta' por vir, a megacorrupcao do BNDES - Helio Telho Correa Filho

Vocês pensam que o petrolão, que deve ter roubado, por baixo, alguns bilhões de dólares da Petrobras, é o maior escândalo da República, da história do Brasil?
Não pensem, pois não deve ser...
Segundo esse procurador, vamos ter coisa ainda maior no BNDES.
Eu não duvido, nem um pouco...
Paulo Roberto de Almeida

“Vamos ter um escândalo de corrupção ainda maior do que o da Petrobrás. E será no BNDES”
Elder Dias
Jornal Opção, 14/12/2014
Procurador Helio Telho fala aos editores Cezar Santos e Elder Dias: “Quem financia eleição de alguém faz negócio”
O procurador federal mais temido de Goiás diz que o banco do governo será foco de rombos ainda maiores e desabafa: “Não estamos dando conta de defender a República dos ratos que estão corroendo suas estruturas”

É raro achar um político que goste de Helio Telho Corrêa Filho. Eles têm razão de não ter muita afeição pelo procurador da República: além de já passado pelo Ministério Público Eleitoral (MPE) deixando estragos em várias candidaturas com gastos suspeitos nas eleições de 2004 e 2006, ele não costuma “alisar” com a classe. O fato agravante é que ele usa as redes sociais para dizer o que pensa — e geralmente o que ele pensa é o antônimo do que um questionável ocupante de cargo público consideraria um elogio.
Dessa forma, ele consegue a antipatia de partidários de todas as correntes. Ser tido por tanta gente diversa como “persona non grata” não parece lhe incomodar. Pelo contrário: mostra que o alcance de seu rigor com a coisa pública é imparcial e acaba “doendo” em todos. Ao mesmo tempo em que mostra a vigilância necessária aos fatos sombrios demonstrada nas redes sociais, ele tem também um lado reservado: prefere não falar sobre questões pessoais. “Minha vida particular é muito pouco interessante”, desconversa, embora ele mesmo diga que quem o quer destratar o acusa de gostar de aparecer.
Ao receber o Jornal Opção em sua sala, Helio Telho fez questão de puxar alguns temas por conta própria — embora já estivessem também na pauta. O principal alvo foi a necessidade de uma reforma político-eleitoral adequada. “Hoje as lideranças políticas, sociais e religiosas, em sua maioria, vendem o apoio. Há até mesmo uma tabela. E a cada eleição isso está mais caro”, resume.
O escândalo da Petrobrás ganha outro nome pela boca do procurador: “petropina”, uma junção dos termos “petróleo” e “propina”. “A ‘Veja’ foi de uma criatividade sem tamanho usando o termo ‘petrolão’. O que há é a ‘petropina’, a Petrobrás estava prospectando petróleo com propina.” Mas o pior ainda está por vir, diz ele. “Nós ainda vamos ver o maior escândalo de corrupção. E será no BNDES. Se na Petrobrás havia o TCU [Tribunal de Contas da União] investigando e denunciando fraudes, do BNDES nós não temos nada, não sabemos nada”, alerta Helio Telho, que estabelece até um prazo máximo para os novos podres virem à tona: dois anos.

Elder Dias — O sr. atuou como procurador eleitoral [esteve à frente do Ministério Público Eleitoral (MPE) no Estado de 2004 a 2007, período em que definiu a estratégia de atuação do colegiado nas eleições de 2004 e 2006 e também no referendo sobre comércio de armas, ocorrido em 2005], e fez alguns candidatos terem problemas sérios com a Justiça. O que o sr. pode dizer da Lei da Ficha Limpa? Ela efetivamente contribuiu para melhorar o processo eleitoral no País?

Só teve problema quem teve dificuldades para observar as regras eleitorais. De lá para cá, tivemos muita evolução na legislação eleitoral como um todo, mas foram alterações mais, digamos, cosméticas. Não tivemos o que realmente precisávamos, que é uma reforma política que barateie as campanhas eleitorais, que faça com que não se necessite de tanto financiamento.
O sistema não pode induzir a que o partido político se torne um negócio, uma empresa, e que o apoio político se torne uma mercadoria. Hoje — e desde aquela época já era assim, identificamos isso — o apoio político é uma mercadoria negociada por dinheiro. Esse comércio ocorre de várias maneiras. Por exemplo, um partido político pequeno tem um horário na propaganda eleitoral e vende isso para quem lhe der mais, seja por dinheiro, por posições no governo etc. Veja que as coligações governistas, em todas as eleições — nacionais, nos Estados e nos municípios — são as que reúnem o maior número de siglas, fazem uma sopa de letrinhas. Isso se dá porque um punhado de partido de aluguel vende para o majoritário governista, que tem maior capacidade de pagar. O partido governista, além do dinheiro, tem a estrutura de poder, cargos, contratos favorecidos etc.
Esses cargos depois serão usados da mesma maneira como foram utilizadas as diretorias da Petrobrás, para tirar dinheiro e enriquecer as pessoas que fizeram as indicações para esses cargos. Então, o sistema eleitoral precisa mudar. Se os partidos querem se coligar, ótimo; mas isso não pode implicar um aumento do tempo de televisão. Podem coligar, mas o tempo será apenas o do partido que lançar o candidato. Dessa forma, o tempo de TV deixa de ser uma moeda de troca, porque não terá valor de mercado. O tempo das siglas que se juntarem aos partidos dos candidatos será distribuído em rateio para todos. Dessa forma, a reforma eleitoral desestimularia a compra do apoio de partidos de aluguel.

Cezar Santos — A cláusula de barreira não seria um dispositivo nesse sentido?

A cláusula de barreira é antidemocrática, porque impede o surgimento de novos partidos. Podem dizer que há partidos demais; é verdade, mas temos partidos de aluguel e a cláusula de barreira não impede que esses partidos continuem negociando apoio, vendendo tempo de televisão. O que acabaria com isso seria impedir que o partido levasse o tempo de TV para a coligação. É simples: assim, os partidos de aluguel não terão mais a mercadoria para vender e tenderão a morrer de inanição.
Partido que tiver candidato vai usar seu tempo de TV para fazer a propaganda desse candidato; quem não tiver candidato não terá tempo. O tempo dos partidos que não tiverem candidatos será distribuído para todos os outros partidos que apresentarem candidatos. Assim, teremos uma eleição mais democrática, será menor a necessidade de financiamento, porque os partidos com candidato não terão de pagar aos nanicos para ter cinco segundos a mais, dez segundos a mais. Ao comprar o tempo da sigla de aluguel, o partido maior evita que o adversário pegue esse tempo; ou seja, traz o partido de aluguel e ao mesmo tempo o tira do adversário. É como vencer um “jogo de seis pontos”.
Hoje as lideranças políticas, sociais e religiosas que atuam nas eleições, em sua maioria, vendem o apoio. O vereador e o prefeito do interior, para trabalharem para um deputado, querem dinheiro. Há até mesmo uma tabela. E a cada eleição isso está mais caro. O preço é regulado de acordo com a importância dessa liderança, da quantidade de votos que essa liderança pode conseguir. Hoje isso está em mais ou menos 100 reais por eleitor — uma diária para serviço braçal no domingo. É o preço de um voto. Se o indivíduo teve 3 mil votos na eleição passada, então ele vale 3 mil vezes 100 reais. Se só teve 500 votos, vale “só” 500 vezes 100.

Elder Dias — Isso explica o fato de tanta gente disputar eleição sabendo que não tem nenhuma chance de vencer?

Sim, veja que tivemos quase 800 candidatos a deputado estadual este ano em Goiás, e a grande maioria não tinha quase nenhuma chance de se eleger. Isso ocorre porque o sujeito está se cacifando na eleição. Ele sabe que se tiver só 2 mil votos não se elege; mas, na eleição seguinte, poderá vender esses 2 mil votos a um candidato a prefeito. Ele vai dizer “eu posso trabalhar esses 2 mil votos para votar em você”. Vai custar 2 mil vezes 100. O candidato a prefeito vai ter de correr atrás de dinheiro para pagar isso, porque, senão, o cara vai trabalhar para o adversário dele.

Cezar Santos — Na reforma política, que virou o grande tema no momento, muitos colocam que o financiamento exclusivamente público de campanha resolve a questão. Resolve mesmo?

Todo político tem sua própria receita de reforma, pode perguntar a qualquer um, a qualquer parlamentar. Em geral, essa receita não muda muito de um para outro e pode ser resumida da seguinte maneira: é uma fórmula que facilite a eleição do dono da ideia e dificulte a eleição de meu adversário. Essa é a reforma política ideal que a pessoa vai defender. Na discussão sobre financiamento público ou privado, se a opção é por ser exclusivamente público ou misto, também há esse interesse por trás disso. Quem é de esquerda e tem condição de conseguir mais dinheiro público defende o financiamento exclusivamente público; quem é de direita e acha que tem mais condição de conseguir dinheiro de empresas vai defender o financiamento privado.
Na prática, isso não faz muito sentido, porque quem financia campanha não está interessado em saber se o sujeito é de direita ou de esquerda: ele está financiando campanha para ver quem vai lhe trazer benefício financeiro depois, ou seja, lucro. É um negócio. O financiador está fazendo um investimento. Por isso que a JBS-Friboi foi a maior financiadora de campanha nessas eleições e doou uma grana pesadíssima tanto para Dilma Rousseff (PT) quanto para Aécio Neves (PSDB). Eles fizeram igual ao cara que joga na loteria esportiva e quer preencher a coluna 1, a coluna do meio e a coluna 2. O sujeito faz o triplo, assim não vai perder nunca a aposta. Foi o que a JBS fez. E fez isso porque tem negócios com o governo, é a empresa que mais recebeu tem financiamentos do BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social], com mais de R$ 5 bilhões para expandir seus negócios no exterior. Então a JBS quer manter essa linha de crédito aberta e não quer saber se é Dilma ou Aécio quem vai ganhar, se é o PT, se é direita ou esquerda. Ele quer saber é que vai ter lucro com isso. Lucro não tem ideologia. É preciso desmistificar isso, portanto.
Sou particularmente contra o financiamento de campanha por pessoa jurídica, porque empresa sempre visa lucro. O sistema capitalista é construído sobre o lucro, as empresas existem para ter lucro, senão quebram. Isso não é ruim, a roda gira dessa maneira. O ruim é uma empresa financiar uma campanha e amanhã ir atrás de um contrato que será concedido pelo financiado por ela. Aí o interesse público vai para o ralo, porque o que se atende é o interesse da empresa. Por isso, empresa não pode financiar campanha, ainda mais empresa que pode ter algum negócio com o governo, como empreiteiras, bancos e outras. Isso é um absurdo.

"O que encarece demais a campanha eleitoral são  a compra do apoio político e o marketing, o programa eleitoral chamado gratuito. Gratuita é só a veiculação”

Cezar Santos — Mas o financiamento exclusivamente público de campanha não vai estimular o caixa 2, que no fundo é o grande problema?

Não é só isso. Caixa 2 é utilização de dinheiro ilícito.

Cezar Santos — Às vezes o dinheiro é legal, mas passado ao candidato de forma escamoteada…
Se a pessoa tem o dinheiro legal, por que vai sujá-lo e passá-lo de forma ilegal? 


O dinheiro de caixa 2 é ilícito, é dinheiro sujo, que não tem origem clara, ou porque foi de corrupção ou de sonegação ou por estar acima do limite de doação. Mas por que alguém vai doar acima do limite legal — o que, no caso de pessoa física, é 10% de toda a receita que ela teve no ano anterior e, no caso da empresa, é 2% do faturamento dela? É muito dinheiro, por que alguém vai querer doar mais do que isso?
Já pegamos muitos casos em que a pessoa doou mais do que arrecadou. É porque, na verdade, ela está emprestando só o nome. Isso é somente para lavar o dinheiro, que veio de uma origem suja. Portanto, é um dinheiro que não poderia estar na campanha e está. Por isso é que o dinheiro passa pelo caixa 2. Se ele fosse lícito, a empresa apenas doaria no caixa 1, o caixa oficial da campanha. Se a pessoa não quer que a doação apareça, por ter receio de o candidato perder e, depois, sofrer o risco de ser retalhada por isso pelo vencedor, doa para o partido. Hoje, a legislação eleitoral prevê essa possibilidade. O partido, então, distribui entre os candidatos e ninguém fica sabendo para quem foi dado aquele dinheiro, pois cai no caixa do partido e não é possível saber quem doou para quem. O caixa 2 é isso.
Às vezes, o dinheiro é lícito, mas o objetivo final, o emprego do dinheiro, é ilícito. Às vezes, precisam comprar apoio político, mas obviamente isso não é previsto na legislação como autorizado. Então, o candidato vai dar o dinheiro para o vereador trabalhar para ele no caixa 2. O dinheiro não aparece porque o gasto foi ilícito. O problema é que há o dinheiro legal que é utilizado para comprar a influência política do mandato — pois quem foi eleito não vai dever sua eleição a quem votou nele, mas sim a quem financiou sua campanha. É uma espécie de corrupção institucionalizada, permitida, não punida e admitida.
E há o financiamento ilegal. Se adotarmos o financiamento público, proibindo o financiamento de empresa, isso por si só não será suficiente para impedir o financiamento ilegal, o financiamento clandestino com dinheiro ilícito — proveniente de sonegação, corrupção, tráfico de drogas, o que seja. É claro que quando se adota o financiamento público, proíbe-se o financiamento por em­presa e impede que aquela empresa, legalmente, possa doar, mas não é o suficiente para impedir o caixa 2. Isso terá de ser feito de outras maneiras, o que é, normalmente, um pouco mais complexo. Se se diminui a necessidade de financiamento, barateando as campanhas eleitorais, a possibilidade de esse dinheiro ilícito interferir na campanha é menor — se o político não precisa do dinheiro, por que ele vai pegar?
O que encarece demais a campanha eleitoral, hoje? Basicamente são as duas principais despesas: a compra do apoio político e o marketing, o programa eleitoral chamado “gratuito”. Gratuita é apenas a veiculação na televisão, pois a produção não é. Pelo contrário, ela é muito cara, caríssima. Não só pela necessidade de ter atores, produtores, cinegrafistas, câmeras, editores e todo esse pessoal, mas também porque tem, por trás de tudo, o marqueteiro, que é o profissional mais bem pago do mercado, hoje. O bom marqueteiro é mais bem pago do que jogador astro de futebol. Esse marqueteiro não trabalha de qualquer jeito, é um profissional exigente e quer só o melhor para apoiar suas pesquisas. Ele quer pesquisas qualitativas, diárias, para avaliar o programa eleitoral que ele pôs no ar e para que, assim, ele possa preparar o próximo capítulo. As pesquisas qualitativas são caríssimas e tem de ter muito dinheiro para isso. Se não regulamentarmos uma forma para impedir que esse custo da propaganda eleitoral continue alto, não conseguiremos fechar a entrada de dinheiro ilícito. É preciso reformar esse modo de fazer propaganda eleitoral para que fique mais barato.

Elder Dias —– Já houve algumas tentativas de baratear o horário eleitoral. Como o sr. vê as restrições que hoje são impostas?

A legislação melhorou um pouco. Mas, ainda assim, existem algumas questões. Por exemplo, hoje, um partido pode lançar uma vez e meia o número de candidato, na eleição proporcional. Em uma coligação, esse número é o dobro das vagas. Ora, se eu tenho 10 vagas em uma Câmara de vereadores, por que meu partido vai lançar mais do que 10 candidatos? Se eu estou lançando 15 ou 20, eu estou colocando um candidato para brigar com o outro, pelo voto. Ou seja, correligionários disputando votos com correligionários. Se aumentam a competição, aumenta a necessidade de dinheiro. Portanto, nós precisaríamos diminuir a quantidade de candidatos. Cada partido ou coligação só poderia lançar, no máximo, a quantidade de cadeiras que há de disputa.

Elder Dias —– E a lista fechada, como o sr. percebe isso?

A lista fechada é um sonho dos caciques partidários. Se houver lista fechada com fidelidade partidária, acaba, totalmente, a liberdade do parlamentar. É o cacique partidário, é a direção partidária que vai dizer o que deve e o que não deve ser feito. Acabaria a negociação de balcão, no Congresso Nacional, e a negociação passaria a ser somente entre presidentes de partido e de presidentes de partido com o presidente da República. O que o presidente do partido falar o deputado terá de seguir. Do contrário, será expulso, perderá o mandato ou, então, lhe será negada legenda para a próxima eleição, ou ele será colocado no fim da lista seguinte. Esse é um problema sério.
Existe uma proposta em tramitação no Congresso Nacional, feita pelo Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral, que é bastante interessante. Ela propõe eleição em dois turnos para o Parlamento, para Câmara de Vereadores, para a Assembleia e para a Câmara dos Deputados. De que maneira? No primeiro turno dessa eleição, o eleitor vota no partido, na legenda. Tem até uma lista partidária, mas que não é pré-ordenada, é feita sem qualquer ordenação. O eleitor pode votar no candidato ou no partido, mas a votação toda vai só para o partido. Define-se, então, no final da apuração do primeiro turno, quantas vagas cada partido vai obter. No segundo turno da eleição, vota-se no candidato. O candidato que tiver mais votos pula para o primeiro lugar da lista. Então, quem acaba ordenando a lista é o eleitor, e não o cacique. Assim, se o partido tem só uma vaga e o candidato do cacique foi o segundo mais votado, ele vai virar suplente. É uma maneira interessante de se ter uma lista, mas que não é pré-ordenada. É uma lista que será ordenada pelo eleitor no segundo turno.

“Prefiro o termo ‘petropina’ em vez de petrolão”


Elder Dias —– Existe um dogma de que o financiamento público só dá certo com lista fechada. É uma falácia? Há como contornar isso?

Como o financiamento público implica repassar o dinheiro para o partido e este administrá-lo —– não se pode passar o dinheiro para o candidato —–, acham que, se tem uma lista aberta e o partido concentra o dinheiro em dois ou três candidatos, aqueles que estão sem dinheiro não terão condições de se elegerem ou terão de arrumar dinheiro por fora. Essa é a crítica que se faz. Quando se tem a lista pré-ordenada, evidentemente, o partido investirá o dinheiro naqueles que estão em primeiro lugar da lista. Mas essa lista vem de uma eleição intrapartidária. E a democracia interna dos partidos a gente sabe como se dá, é pior do que fazer salsicha.

Elder Dias —– O sr. atuou no caso Caixego [Caixa Econômica do Estado de Goiás], que também envolveu uma questão de caixa 2.

Foi dinheiro desviado de um acordo [com servidores] para fi­nanciar campanha. Só que aquilo foi troco de pinga, se você for com­parar com o dinheiro que hoje rola.

Elder Dias —– O que aconteceu com aquele dinheiro? Ele foi devolvido? Como ficou?

Naquele caso, em um determinado momento, o STJ [Superior Tribunal de Justiça] entendeu — e isso foi logo no começo do processo, eu já tinha feito a denúncia — que, como a Caixego estava em liquidação ordinária, ela não integrava mais o sistema financeiro nacional. Ali, então, não teria ocorrido um crime contra o sistema financeiro, mas outro tipo de crime, o que, por essa razão, não seria da competência da Justiça Federal. Assim, o caso foi para a Justiça Estadual. O Supremo Tribunal Federal (STF) entendeu que algumas das diligências que tinham sido realizadas com a autorização do juiz federal eram nulas, porque o juiz não tinha competência legal para autorizá-las. Principalmente, as escutas telefônicas e mais algumas providências. Isso prejudicou muito a solução do caso, pois muitas provas importantes não puderam ser utilizadas. Esse caso foi para a Justiça Estadual e eu não acompanhei seu desfecho, a não ser pelas notícias da imprensa, porque não fui mais o procurador do caso, já que atuo na Justiça Federal.
O que apuramos, na época, está na denúncia que eu fiz: houve um acordo, as pessoas acreditavam que os beneficiários — os reclamantes na ação trabalhista — acreditavam que estava sendo pago um valor bem menor em relação ao que, de fato, tinha sido objeto do acordo. Boa parte desse dinheiro foi para propina, para permitir que o acordo fosse realizado. Dessa forma, o então procurador-geral do Estado recebeu dinheiro, uma parte ficou com os advogados e com as pessoas que intermediaram essa negociação e outra parte foi para a eleição, para pagar dívida de campanha. Isso foi apurado, na época. Como algumas provas não puderam ser utilizadas, talvez isso tenha influenciado negativamente no resultado do julgamento.

Cezar Santos —– É difícil falar em tese, mas a impressão é de que, se aquilo tivesse acontecido hoje, o desfecho do caso não teria sido o mesmo. Parece-me que, atualmente, o Ministério Público tem mais condições de apurar, ou talvez esteja com mais crédito junto à sociedade.

Não vejo assim. O mérito maior, a meu ver, foi da própria tese que a defesa levantou e conseguiu convencer os tribunais em Brasília, de que aquele assunto não era federal, mas, sim, estadual. Dessa forma, as provas ficaram nulas. Sem provas, não tinha como tocar o caso para frente. E eram escutas telefônicas, não tinha mais como voltar atrás. Nós tivemos, depois disso, aqui em Goiás e em todo o Brasil, várias operações com escutas telefônicas que foram anuladas pela Justiça.
O fato é que o STJ, principalmente, é muito restritivo com relação à utilização de escutas telefônicas para apurar crimes de colarinho branco. A gente não vê o STJ anulando escutas telefônicas quando se está investigando, por exemplo, o tráfico de drogas. Aí, o peso e a medida parecem ser um; mas, quando se trata de crime do colarinho branco, o grau de exigência tem sido grande e tem dificultado o trabalho. O caso Caixego foi o primeiro. Se estudarmos as operações e os casos que foram anulados pela Justiça com este tipo de fundamento, veremos que esse foi o primeiro. Daí, então, o mérito maior da defesa. Depois disso, outros casos seguiram essa jurisprudência. Na época não havia escutas telefônicas, não se utilizava tanto esse método para apurar esse tipo de crime. A lei de lavagem de dinheiro foi utilizada pela primeira vez neste caso. Era tudo muito novo. Não sei, mas acho que hoje, provavelmente, se essa tese tivesse sido levantada, o destino teria sido o mesmo.

Cezar Santos — Baseado em sua experiência em estudo de casos, que deve ser vasto, o sr. diria que hoje esse escândalo do petrolão…

(interrompendo) Eu não gosto deste nome. Acho que “petrolão” é falta de criatividade. A revista “Veja” patrocinou esse termo e outros veículos estão seguindo, mas é de uma falta de criatividade sem tamanho. O termo “mensalão” saiu de uma pessoa extremamente inteligente e criativa, um frasista com presença de espírito muito grande, que é Roberto Jeferson [ex-deputado], que foi um dos condenado no próprio caso que batizou. Ele falou em “mensalão” e isso pegou. A “Veja”, por falta de criatividade, não conseguiu arrumar um nome melhor e veio com essa história de petrolão.

Elder Dias — Mas não há um viés ideológico no termo “petrolão”, para colar esse caso com o mensalão?

Pode ser que tenha, mas até nisso é ruim, porque este escândalo é muito maior do que o mensalão. Usando este termo, estão reduzindo este escândalo atual ao tamanho do outro. Acho “petropina” um termo muito mais criativo, porque é petróleo com propina. Ou seja, leva à dedução de que ali a Petrobrás estava prospectando petróleo com propina. Enfim, eu não gosto de petrolão, acho uma falta de criatividade incrível.

Cezar Santos — Se não me engano, pelos valores envolvidos, este pode ser o maior escândalo do mundo. Isso tem procedência, em sua opinião?

Teve um jornal, não me lembro se a “The Economist” ou o “The New York Times”, que disse ser este o maior desfalque, o maior roubo público, em países democráticos de que já se tomou conhecimento. E não é difícil de explicar isso, não, pelo contrário, é até fácil de explicar. Quando a gente tem notícia de escândalo de corrupção no Japão, por exemplo, vemos o corrupto flagrado chorar na televisão, pedir perdão, até cometer haraquiri [termo japonês para designar suicídio]. Ocorre que, em países desenvolvidos, onde o sistema de justiça funciona, o sistema processual penal funciona, o sistema de controle funciona, esses escândalos de corrupção são identificados e punidos quando ainda não cresceram.
É comum, por exemplo, vermos nos Estados Unidos políticos flagrados recebendo propina de US$ 10 mil. Isso aqui no Brasil é insignificante, em termos de propina. Nosso problema é que temos uma cultura de impunidade muito grande. Daí, se formos voltando no tempo, percebemos que os escândalos que se sucedem estão cada vez maiores. Como o escândalo anterior não foi punido, o próximo vai ser maior. Isso é tão obvio e banal que não sei como as pessoas não perceberam isso antes.
No julgamento de um dos habeas corpus do caso Petrobrás, os ministros do STJ se disseram estarrecidos com a quantidade de dinheiro envolvida. Ora, mas esse não foi o primeiro escândalo que chegou ao STJ. Nós tivemos a Operação Castelo de Areia [investigação, feita pela Polícia Federal em 2009, de crimes financeiros e lavagem de dinheiro, tendo como centro operações do Grupo Camargo Corrêa], que o STJ anulou. Se a Castelo de Areia não tivesse sido anulada, mas, pelo contrário, se tivesse chegado a bom tempo, nós não teríamos essa Operação Lava Jato agora. Aquele pessoal da Castelo de Areia é o mesmo que está nessa agora. Se eles tivessem sido punidos lá atrás, não teríamos isso agora.
Nosso sistema é muito permissivo. Por quê? Isso ainda é uma herança, um legado do regime militar. Durante aquele período, muita gente sofreu com os abusos do Estado. Teve gente que foi torturada, que foi presa, que foi “desaparecida”. E teve gente que foi torturada, presa e “desaparecida”. Quando o regime militar cedeu espaço para o civil, tivemos uma Constituinte. Nela, havia vários constituintes que tinham sofrido na pele com a ditadura. E esses constituintes colocaram na Constituição salvaguardas para garantir que ninguém no futuro passasse por aquilo de novo. Tantas salvaguardas contra a atuação punitiva do Estado que hoje não conseguimos punir os criminosos, principalmente aqueles do colarinho branco, que são os que têm mais condição de usar essas salvaguardas. Portanto, essas salvaguardas, que foram feitas para garantir a democracia, a República e o Estado democrático de direito estão, pelo exagero, afundando esse próprio Estado, porque não estamos dando conta de defender a República dos ratos que estão corroendo suas estruturas.

Cezar Santos — O sr. diz que surpreende que as coisas tenham crescido. A coisa não cresceu dentro da Petrobrás justamente porque o “status quo” de poder instalado na República hoje está profundamente implicado e isso serve para financiar o partido do governo e seus aliados privilegiados?

Se o sistema favorece a prática da corrupção, ela vai florescer. E tenho repetido: este ainda não é o maior escândalo que vamos ver. Ainda vamos ter um escândalo maior do que esse. E digo até qual: será no BNDES. Por que sei disso? Estou fazendo investigações, ouvindo escutas telefônicas? Não. Mas é que as coisas são óbvias demais. A corrupção floresce em ambientes onde há muito dinheiro, nenhum controle, muito sigilo e impunidade total. O BNDES está alavancando com mais de R$ 500 bilhões do Tesouro Nacional, fazendo empréstimos a juros subsidiados. Mas não sabemos para quem, quanto foi para cada um e nem quais são as garantias. Por quê? Porque alegam sigilo bancário e, assim, nós não podemos ter acesso. Ou seja, a CGU [Controladoria-Geral da União] não fiscaliza, o TCU [Tribunal de Contas da União] não consegue fiscalizar, o Ministério Público Federal não tem acesso. Ninguém tem acesso. É claro que esse dinheiro está sendo desviado (enfático). É claro que isso é uma cultura para a corrupção. Tudo isso é muito óbvio. Quando conseguirmos abrir a caixa preta do BNDES, a “petropina” vai parecer troco de pinga. Se na “petropina” tinha obra em torno de R$ 70 bilhões em contratos, no BNDES há R$ 500 bilhões, sete vezes mais. Só que na Petrobrás havia o TCU investigando e denunciando fraudes e superfaturamentos, há muito tempo. Mas no BNDES nós não temos nada, não sabemos nada.
O dinheiro, por exemplo, para financiar obras no exterior, por exemplo, em Cuba, chega lá depositado, por exemplo, em um banco do país. E quem está tocando essa obra é a Odebrecht, que foi considerada pela Transparência Internacional a empresa privada de menor transparência entre as grandes, sem qualquer estrutura interna de combate à corrupção. Esse dinheiro do BNDES, então, vai para o banco cubano e é movimentado sem controle nenhum. Como saberemos o que foi feito com esse dinheiro, como poderemos rastreá-lo? Então, o que vemos é como se tivessem arando o terreno fértil, colocando adubo e semeando corrupção. Será que ela vai nascer? É evidente que vai! (enfático)
Portanto, nós ainda vamos ver o maior escândalo de corrupção na República. Esse, sim, será o maior, não tem como ter outro maior só porque a maior quantidade de dinheiro está ali. As medidas que os colegas estão tomando na Operação Lava Jato são úteis, mas não são as únicas nem as mais eficazes. Combate-se a corrupção com punição e prevenção. Primeiro, é preciso evita que a tranca seja arrombada. Temos de ter instrumentos de controle, organismos, entidades e órgãos independentes de controle interno e externo, para ficar auditando esses contratos, ficar avaliando, verificar execução, cobrar prestação de contas e para poder identificar uma eventual situação de irregularidade antes de ela acontecer ou quando ainda estiver no começo. É preciso ter transparência, ou seja, todo mundo tem de ver o que está acontecendo. Porque quem está ali dentro fica constrangido e com medo de ser preso. Se está protegido pelo escuro e pelo sigilo, vai se sentir muito mais à vontade para roubar.
Tem de ter controle e transparência, e também um sistema processual que seja eficaz para punir os casos em que não foi possível prevenir. Aí nós entramos em um problema sério, voltando à questão dos constituintes. Nós temos garantias em excesso, em decorrência disso um processo criminal e judicial que não acaba nunca. A garantia diz que a pessoa não será considerada culpada enquanto não transitar em julgado a sentença condenatória. Nos Estados Unidos, o réu não pode ser considerado culpado enquanto não houver prova em contrário. Aqui, não: enquanto não tiver sentença judicial condenatória transitada em julgado. E a pessoa pode recorrer. E há recursos infinitos. Fica nisso, recorrendo, sem deixar transitar. E, assim, nunca será considerada culpada.
Isso não está sendo utilizado somente nos crimes de colarinho branco, a criminalidade violenta também está se aproveitando disso. Por isso as pessoas condenadas logo estão nas ruas. Se é condenado a sete anos, cumpre 11 meses e já sai da reclusão, o sistema favorece todo mundo. Vejo iniciativas no Parlamento para endurecer penas, aumenta-las. Podem até impor pena de morte, três vezes pena de morte para o mesmo individuo. Com nosso atual sistema processual não vamos conseguir executar sequer uma delas, quanto mais as três. É uma enganação quando se vê um político defendendo aumento de pena sem defender uma reforma no sistema processual e de investigação criminal que permita que se faça uma investigação célere, segura — com garantias para o investigado, mas também com possibilidade de obter provas com que consigamos responsabilizá-lo —, um processo de responsabilização com direito à defesa, mas que chegue ao fim, que não seja tão demorado, que não dê margem para manobras que visem fazer o processo prescrever. Se o político não defende isso dessa forma, está apenas enganando.

Cezar Santos — Ou é um político mal informado.

Não acredito em desinformação por parte de políticos. Ninguém assume um mandato sendo ingênuo. O político bobo nasceu morto. Não adianta endurecer a pena se não tiver um sistema processual que funcione. No caso da Operação Lava Jato, está havendo uma situação muito interessante: o sistema está funcionando. Pessoas foram presas e quem está preso não está ali por punição. São prisões processuais: tinha gente ameaçando testemunhas, gente com passaporte escondido de outro país, gente que estava se preparando para fugir com dinheiro lá fora, gente tentando atrapalhar eventual delator que resolvesse delatar, esquemas que continuavam funcionando e as prisões serviram para desarticulá-los. Tudo isso voltado para o processo. O sistema está mantendo essas pessoas presas, porque é preciso. Como tudo está funcionando, essas pessoas que estão presas, a cada dia, estão vendo sua situação mais perto do que foi o caso do mensalão. Muitos dizem que o julgamento do mensalão não adiantou nada, porque, enquanto havia o processo estava ocorrendo a “petropina”. Pelo contrário, adiantou muito, porque, como teve gente cumprindo pena — e tem até hoje, há operadores do esquema que ficarão muitos anos na cadeia —, essas pessoas envolvidas com a “petropina” se veem no lugar daquelas. O mensalão causa o efeito Orloff: quem está na “petropina” estão se vendo no lugar daquelas, com os condenados lhes falando “eu sou você amanhã”. Pensam “poxa vida, amanhã serei eu a pegar 40 anos de cadeia”. Então, estão resolvendo colaborar, em troca de uma melhora nessa situação.

Cezar Santos — O sr. já percebe um trabalho de desconstrução, ou desmoralização, da figura do juiz Sergio Moro [da 13ª Vara Federal de Curitiba, responsável pelo processo da Operação Lava Jato]?

Sim, claro. A atuação de Sergio Moro tem sido muito importante no caso, mas, talvez, se pegar a conta da Operação Lava Jato, isso represente 20% do êxito dela. Os 80% restantes estão na conta de quem está investigando de fato — o MPF, coordenando, e a PF, apoiando. Sergio Moro não investiga. Ele é juiz, não tem função de investigação. Está lá, quieto em seu gabinete e então chega um investigador e lhe diz que precisa de um mandado de busca. Ele olha as provas, os fundamentos, verifica tudo e dá o documento. Cumprem o mandado, acham mais coisa e voltam ao juiz. Novamente pedem providências e o juiz autoriza.
Nesses 80% restantes, há uma equipe de sete procuradores da República, de vários delegados, de dezenas de agentes e peritos da PF. Mas a imprensa precisa de um rosto, de uma imagem. Vocês sabem disso mais do que eu. Na configuração do sistema, o juiz é um só, Sergio Moro. Na Procuradoria, há sete pessoas, na PF há uma dezena de delegados e agentes. Não há um “rosto” da PF ou do Ministério Público. Sergio Moro não deu sequer uma entrevista, não soltou qualquer nota e só fala por meio do processo. Mesmo assim, está aparecendo muito, por conta das circunstâncias. Nessa hora, então, aqueles que estão se sentindo atingidos por essa operação vão atacar esse rosto que aparece. Daí vem a tentativa de desconstrução de sua imagem, como buscaram fazer com Joaquim Barbosa [ministro do STF relator do processo do mensalão]. Isso ocorre tanto por parte de políticos como por parte de advogados dos envolvidos. Há, ainda, o braço midiático desse esquema. Isso tudo porque enxergam nele o único alvo certo para promover os ataques.
Nossa advocacia criminal ficou muito mal acostumada no Brasil. A maioria dos grandes criminalistas trabalha somente buscando as nulidades [atos jurídicos que carecem de requisitos fundamentais, por terem sido produzidos com algum vício]. Quando não conseguem resolver a questão em favor de seu cliente na base das nulidades, têm uma dificuldade muito grande para desenvolver outras táticas para atuar no processo. Isso se torna ainda mais difícil para eles em um processo como o da Lava Jato em que as provas são muito robustas. Então, qual passa a ser sua tática? Atacar a figura do procurador, do delegado ou do juiz. Como são vários os procuradores e delegados, não têm um rosto único, optam por questionar a figura do juiz.

Elder Dias — Sobre a questão do exagero de recursos, temos, por exemplo, o empresário Carlos Cachoeira, que já foi condenado. Até quando ele poderá recorrer? Como fica o desfecho de seu caso?

Ele já foi condenado três vezes: tem uma condenação no Rio, outra em Brasília e a maior delas em Goiânia. Ele recorreu e o tribunal não julgou ainda em segunda instância. O desfecho só se dará quando transitar em julgado. Ele só vai cumprir pena nesse caso.

“Dilma não mandou investigar coisa nenhuma”

Elder Dias — E há uma previsão de quando isso possa ocorrer?

Não, não há. O sistema não tem um calendário fixo. Vai depender da pauta do tribunal que vai julgar o recurso. Imaginemos que o tribunal diminua ou aumente a pena — nós, do Ministério Público, achamos que a pena dele de 39 anos de cadeia foi pequena, então há recurso para aumentá-la. E depois desse julgamento ainda haverá recursos. Uma infinidade de recursos, enquanto um ministro ou desembargador não constatar que está havendo um abuso de recursos — o que não é nem o caso dele ainda, já que é o primeiro recurso contra as condenações, um direito que todo mundo tem de ter. Se derem a ele mil recursos, ele vai usar os mil recursos, porque a outra opção é ele cumprir 39 anos de cadeia. O problema não é seu advogado recorrer: o problema é o sistema dar a ele mil recursos, isso não pode. Tem de lhe dar esse direito, mas não nessa quantidade.
O recurso tem de ser um instrumento suficiente para que a situação da pessoa condenada seja reavaliada ou confirmada. Afinal, 39 anos de cadeia não são 39 dias, é a metade de uma vida. A sociedade precisa ter a segurança de que essa condenação é uma condenação correta. Para isso existe o recurso, para que o processo seja avaliado por outros magistrados, que estão em um tribunal, portanto mais experientes do que os que estão na instância de primeiro grau. Então, outros analisarão e verificar se está pouco ou muito ou é a pena ideal.
Reafirmando, então, o problema não é esse, mas ter essa infinidade de recursos. Veja o caso de Luiz Estevão [senador cassado e recentemente com recurso negado pelo STF contra condenação por falsificação de documentos relativos à construção do prédio do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo]. Perderam a conta dos recursos que ele interpôs. Até que ele tentou um último recurso, o qual, se o ministro do STF Dias Toffoli não tivesse obstado e dito que ali havia um abuso de recursos, mais um dia e o caso seria de prescrição. O ministro devolveu o processo e expediu o mandado de prisão. Ou seja, o próprio representante do STF percebeu que estava havendo abuso. Voltando à questão da Constituição de 88, as garantias são demais — o direito do contraditório, o direito à ampla defesa, o direito de acesso à Justiça — o juiz, vendo que tem de cumprir todos esses princípios, fica com séria dificuldade de dizer que está havendo abuso. E então vai permitindo, até chegar ao ponto de alguém dizer que, se permitir mais um recurso, não vai ter mais jeito, porque o processo vai prescrever.
Não defendo acabar com os recursos, claro, mas eles não podem ser infinitos. O STF agora está julgando uma questão agora que é o absurdo dos absurdos. Ocorre o seguinte: o réu foi condenado e o Ministério Público viu a sentença, achou que estava bom e não recorreu. Então, o processo transitou em julgado para a acusação. O réu foi condenado a quatro anos e o crime prescreve em oito. O réu vai recorrendo e os anos vão passando. O MPF quer a execução da pena, mas não pode, porque não transitou em julgado para a defesa, que, claro, vai recorrer até se completarem os oito anos para prescrever o crime. Nossa tese é a seguinte: como o recurso é da defesa e o Ministério Público não recorreu — porque se deu por satisfeito com a pena e quer executá-la, mas não pode —, então a prescrição não pode continuar avançando. Enquanto houver recurso apenas da defesa, o que impede a acusação de executar a pena, essa pena não pode prescrever, senão se dará ao advogado de defesa o poder de escolher se seu cliente poderá ser preso ou não. Ora, se for assim o advogado já decidiu: o cliente não vai cumprir pena. E uma coisa tão óbvia está sendo discutida no STF, porque tem gente que acha que a defesa tem direito de recorrer enquanto também corre a prescrição.

No BNDES vai estourar mais um grande escândalo. O Ministério Público Federal está exigindo acesso a informações sobre empréstimos do BNDES. O TCU quer que o banco encaminhe ao órgão os processos de concessão da JBS-Friboi

Cezar Santos — Como o sr. analisa o fato de a presidente Dilma Rousseff dizer que a investigação do petróleo — ou “petropina”, como o sr. prefere —, só está acontecendo porque ela mandou?

Acho que é uma forma de propaganda por parte dela. Para começar, não foi Dilma quem mandou investigar. Quem está conduzindo essa investigação é o Ministério Público, em parceria com a Polícia Federal. E ela não manda no Ministério Público, que tem independência, autonomia e investiga se a presidente quiser ou não. A decisão de investigar um crime não é da esfera de atribuição dela. É como se eu, na torcida, dizer que o jogador errou o pênalti porque eu mandei. Pode até ser meu desejo, mas isso independe de mim. Ou seja, é propaganda. A Polícia Federal está sob o comando da presidente — e deve estar mesmo —, mas quem está conduzindo essa investigação é o Ministério Público. A polícia está dando o apoio, e não poderia ser diferente, porque o Ministério Público está cumprindo ordens do juiz; logo, a polícia tem de fazer, em cumprimento de seu papel legal.
É possível dizer que, no passado, esse tipo de investigação não chegaria aonde hoje está chegando. Hoje, temos alguns instrumentos legais que não tínhamos antes. O País desenvolveu muito seu papel de investigação criminal, de troca de informações entre órgãos que têm atribuição de investigação, seja criminal ou não, como a CGU, TCU, Ministério Público, a polícia, o Coaf [Conselho de Con­tro­le de Atividades Financeiras]. E temos leis, que foram promulgadas recentemente por exigência internacional — como a nova lei de lavagem de dinheiro, que entrou em vigor em 2012, e a nova lei de organizações criminosas, que entrou em vigor no ano passado. Essas leis estão sendo usadas em larga escala na Operação Lava Jato. Se não tivéssemos essas leis, não chegaríamos aonde os colegas estão chegando.
Se Dilma teve um mérito nessas leis, foi o de as sancionar. Ela poderia tê-las vetado. Ocorre que o Brasil participa de organismos internacionais, como a Organi­zação Mundial do Co­mércio (OMC), a ONU [Orga­ni­za­ção das Nações Unidas], organizações mundiais de combate à corrupção, que recomendam a adoção de medidas como essas, de forma homogênea, no mundo inteiro. E avaliam o Brasil se está cumprindo essas metas. Dão nota, informando se o País foi aprovado ou não. E essas orientações passam pela estratégia nacional de combate à corrupção e lavagem de dinheiro — que é formada por mais de 60 órgãos e entidades privadas e públicas, que analisam e formulam as propostas de alteração legislativa. Isso vai para o Congresso Nacional, que debate o tema e enxerga que, se não forem aprovadas essas medidas, o Brasil corre risco de retaliação. A propósito, corremos o risco de sofrer retaliação internacional por não ter aprovado uma lei que criminaliza o terrorismo e seu financiamento. Isso está sendo avaliado agora e pode jogar a nota do Brasil lá para baixo. Estamos evoluindo, essa é uma fase. Preci­sa­mos evoluir mais, principalmente na questão do processo criminal, do processo de improbidade, porque isso tem de ter um fim. As pessoas condenadas precisam cumprir a pena, senão teremos escândalos cada vez maiores. E já precisamos arrumar um nome para o escândalo do BNDES, quando ele aparecer, senão a “Veja” vai usar a criatividade zero dela antes novamente, para batizá-lo. (risos)

Elder Dias — O sr. acha mesmo que esse escândalo realmente vai aparecer? É uma bomba-relógio, questão de tempo?

Sim. Nos próximos dois anos, talvez até antes. Digo isso porque já existem ações do Ministério Público Federal exigindo acesso a essas informações. Algumas dessas ações já foram julgadas em primeiro grau e nós ganhamos. A Justiça Federal, em Brasília, mandou o BNDES colocar tudo na internet. Houve um recurso interposto e essa decisão não pode ser executada enquanto esse recurso não for julgado. Teve também uma determinação do TCU para que o BNDES encaminhe ao órgão os processos de concessão da JBS-Friboi, mas o BNDES disse não. Agora, o TCU ameaça multar o presidente do BNDES [Luciano Coutinho] se não houver o encaminhamento. Para não ser multado, ele terá de ir ao Supremo Tribunal Federal pedir salvaguarda contra a ação do TCU. Então, o STF vai decidir se o TCU deve ou não ter acesso a isso. O STF provavelmente decidirá que deve ter, porque é dinheiro público e a Corte tem reiteradas decisões no sentido de que não há sigilo bancário quando se trata de dinheiro público. Aplicando essa jurisprudência, quando o TCU perceber o que há ali, a bomba vai estourar.

Elder Dias — Saindo do foco de trabalho, o que costuma ler? Quais são seus hobbies?

Esse tipo de perguntas eu não respondo. Não falo sobre questões que dizem respeito à individualidade. Já dizem que eu sou um procurador que gosta de aparecer, que, se eu acordo de noite e vou à geladeira e vejo aquela luz na minha cara, começo a dar entrevista para o refrigerador (risos). Falo sobre os assuntos os quais a gente falou. Você me segue no Twitter e percebe que não coloco nada sobre a vida pessoal — no máximo, alguma coisa sobre futebol. Agora, questões como filmes que eu gosto de ver, livros que estou lendo, se eu gosto de vinho ou não, para onde gostaria de viajar, isso é muito bom para quem é celebridade da revista “Caras”. Não é meu caso. Minha vida particular é muito pouco interessante.