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terça-feira, 31 de março de 2015

Commodities: tendencia secular ao declinio nos precos - PesquisaMacroecomica Itau

Excelente estudo de Artur Manoel Passos, sobre o qual tenho algumas observações.
1) Quando se fala de declínio, ou ascensão, numa série histórica de valores, sempre se deve perguntar, em relação a quê, exatamente?
    Pode ser em relação a um ponto na trajetória -- e se escolhermos um outro ponto a tendência pode mudar, certo? -- mas pode ser em relação à referência escolhida para comparação.
2) Neste caso, é dito é que se trata de relação aos preços de serviços, mas não se apresenta qual o indicador preciso desses serviços, e quais serviços são computados na série.
3) A tendência secular de queda de commodities poderia sustentar o famoso argumento prebischiano sobre "deterioração dos termos do intercâmbio", mas na verdade o desmente, pois diz que os manufaturados também caem.
4) Precisaria ficar claro que manufaturados SEMPRE vão cair, absoluta e relativamente, dados os ganhos de escala, de produtividade, de inovação nessa área.
5) Preços agrícolas também devem cair tendencialmente, com o crescimento progressivo da produtividade, incorporação de novas terras, diminuição do crescimento demográfico, etc, mas sempre depende da relação oferta e demanda, e a primeira reage a expectativa de ganhos futuros.
6) Metais e minerais são estoques fixos e dependem de infraestrutura, efeito substituição, mas não são "renovaveis", como agrícolas e manufaturas.
7) O principal problema, no entanto, são os serviços, que constituem uma gama enorme de itens, alguns com ganhos contínuos de produtividade -- telecomunicações, por exemplo -- e outros de ganhos nulos, ou de custos crescentes (corte de cabelo, por exemplo).

    Sugeriria que o estudo tivesse mais aperfeiçoamentos metodológicos para responder a tais tipos de questionamentos.
Paulo Roberto de Almeida
Declínio secular das commodities, de volta à tendência?
MACRO VISÃO
Itaú Macroeconômica
31/03/2015
 
A queda dos últimos anos trouxe os preços reais das commodities de volta à tendência de declínio secular.
O declínio secular é concentrado nas commodities agrícolas, mas os manufaturados também caíram em termos reais. A queda de ambos é em relação aos preços de serviços. 
Queda de 2014 marca retorno à média de longo prazo
Construímos uma série desde 1913 dos preços agregados de commodities em dólar, deflacionada pelo índice de preços ao consumidor dos EUA.  A série combina dados mensais de índices de preços ao produtor nos EUA (1913 - 1956), índices agregados históricos (1957 - 1989) e o Índice de Commodities Itaú (1990 - 2014). O anexo 1 traz mais detalhes.
A série (gráfico 1) possui informações importantes sobre o ciclo e tendência de longo prazo das commodities.
O ciclo de forte alta dos preços iniciado em 2002 (associado à China) foi precedido de três ciclos anteriores. O primeiro, entre 1915 e 1919, pode estar associado à 1ª Guerra Mundial. O próximo coincide com a 2ª Guerra Mundial e a reconstrução da Europa no pós-guerra. O terceiro ciclo parece ter começado com a crise do petróleo em 1973 e deve ter continuado com o repasse de custos maiores de energia para as demais commodities.
A queda dos preços entre 2011 e 2014 trouxe os preços para a tendência de longo prazo. Por esta ótica, não é possível rejeitar uma continuidade da queda, já que os ciclos de alta anteriores foram sucedidos por preços abaixo da tendência.
O padrão cíclico observado nos preços encontra uma explicação nos fundamentos. Os ciclos de alta tendem a ser causados por aceleração da demanda. A alta dos preços incentiva investimentos. A maturação dos investimentos aumenta a capacidade de produção. Quando este aumento coincide com o fim do ciclo de crescimento anormal da demanda, os preços recuam por um longo período, até que o balanço entre oferta e demanda volte a níveis equilibrados.
Dos quatro ciclos observados nos últimos 100 anos, três deles se encaixam neste comportamento (1ª Guerra Mundial, 2ª Guerra Mundial e reconstrução de Europa, boom da China).
A crise do petróleo de 1973 apresentou características distintas. Neste caso, a alta começou a partir de um choque de oferta do petróleo, levando a repasse de custos para as demais commodities. A queda dos preços ocorreu com a política desinflacionaria dos EUA a partir do fim da década de 70.
Quanto à tendência de longo prazo, observamos uma queda das commodities agregadas em termos reais. A queda dos preços agregados em termos reais traz duas perguntas adicionais:
  1. Os três componentes (agrícolas, metais e energia) mostram a mesma tendência?
  2. A tendência de queda reflete um desempenho inferior de commodities em relação a bens manufaturados ou serviços?
A tendência de queda é restrita às commodities agrícolas 
Para avaliar se os todos os três grupos de commodities mostram esta queda em termos reais, criamos séries de commodities agrícolas, metálicas e energéticas desde 1926[1].
As commodities agrícolas recuaram em termos reais ao longo do período (gráfico 2). Além disso, os principais ciclos de alta coincidem com as altas do índice agregado.
Ao contrário dos preços agregados, a commodities metálicas e energéticas mostram ligeira tendência de alta em termos reais (gráfico 3). Nas duas séries, o ciclo de alta da década passada é mais intenso do que os ciclos anteriores.
Bens manufaturados também mostram tendência secular de queda de preços em termos reais
A tendência de queda das commodities em termos reais não é em relação a bens manufaturados. Tanto o índice agregado de commodities quanto o índice de preços de bens finais (da séries de preços ao produtor dos EUA) mostram queda em termos reais desde 1947 (ver gráfico 4). A queda em termos reais de commodities e manufaturados é resultado da tendência de alta dos preços de serviços.
Desse modo, os termos de troca de um país que exporta  commodities e importa manufaturados não não mostra uma tendencia de queda no longo prazo.
Artur Manoel Passos
Itau Macroenômica

1964: FFAA dizem BASTA ao presidente Goulart - Editorial do Estado em 31 de marco

Um Editorial histórico.
O venerável jornal reacionário se colocando ao lado das FFAA que reagiam aos desmandos do presidente que se mostrava conivente com as quebras de hierarquia nas FFAA: primeiro em relação à greve dos sargentos da Aeronáutica, que em setembro de 1963 deixaram Brasília sem comunicações com o resto do país durante horas, senão dias; depois com a revolta dos marinheiros no início de 1964, que foram deixados impunes por decisão do próprio ministro da Marinha, o que revoltou o conjunto dos comandantes militares.
Mal o jornal sabia que, no momento em que seu editorial era publicado, tropas comandadas pelo impulsivo general Olympio Mourão Filho começavam a se deslocar de Juiz de Fora em direção ao Rio de Janeiro.
Era o início de um movimento que iria durar, sem que fosse possível prever, 21 anos.
Paulo Roberto de Almeida

O exército e os desmandos do presidente
 Editorial do jornal "O Estado de São Paulo, edição de 31 de março de 1964

Após os primeiros momentos de extrema confusão provocados pela atitude insólita do sr. Presidente da República no caso da rebelião dos marinheiros nacionais, volta a calma aos espíritos e com ela parece a Nação não estar longe de considerar de certo modo benéficos os acontecimentos desenrolados na ex-capital da República na quinta e sexta-feira da Paixão.

Dos gestos com que vinha surpreendendo o País, e que se diria não encontrarem uma barreira nas Classes Armadas, passou S.Exª numa clara demonstração de que a força de que se julgava detentor era ilusória para uma posição em que vai muito além daquilo que parecia senão razoável pelo menos admissível.

Segundo a sua própria versão, S. Exª teria levado a sua campanha aos últimos extremos coagido pela necessidade de obter contra a oposição das correntes "retrógradas" da coletividade medidas que não visariam senão ao bem de todos e, particularmente, o das camadas que mais sofrem as conseqüências da hostilidade de certos meios e do atraso geral das estruturas sociais do País. E, beneficiando-se dessa possível interpretação de sua conduta, julgou-se em condições, diante do levante das guarnições dos nossos vasos de guerra, de ir ao extremo de solidarizar-se com o gravíssimo atentado à hierarquia militar.

Já da revolta verificada em Brasília, entre os sargentos das nossas forças aéreas, o princípio da autoridade militar havia sido profundamente atingido Através dessa intentona, os que têm por missão esclarecer a opinião pública sobre o que se vem passando desde a posse do sr. João Goulart até hoje não tiveram dificuldade em advertir a Nação de que o episódio ocorrido nada mais era do que o prenúncio de coisas muitíssimo mais graves. A maneira quase paternal com que as autoridades federais deliberaram tratar os revoltosos denunciava, só por si, a origem oficial daqueles lamentabilíssimos acontecimentos.

A grande maioria dos oficiais das forças do ar não se deixou iludir sobre o verdadeiro significado do golpe que então recebeu. Atingidos no seu pundonor profissional, puderam desde logo concluir que a Nação não se achava diante de um episódio fortuito, mas sim, no início de um processo em que os acontecimentos não tardariam a desdobrar-se com a agressividade proporcional à absoluta impunidade com que haviam saído do movimento subversivo os sargentos revoltosos.

Nessa altura, já brotava no seio das forças da terra o sentimento de que algo de extremamente grave vinha fermentando no mais íntimo da estrutura nacional. Mas o sentimento de disciplina, o respeito à hierarquia e a obediência ao preceito constitucional que faz do Presidente da República o chefe das Forças Armadas levaram o Exército a conter o sentimento de repulsa que, na quase totalidade das suas fileiras provocaram os desregramentos do ocupante do Palácio da Alvorada.

A tensão entre as forças terrestres era notória e não demonstrava nenhuma argúcia o observador político que não vislumbrasse a precariedade do poder que sobre elas supunha ainda possuir o caudilho. E foi dentro dessa atmosfera pesada e sombria que se verificaram os acontecimentos da Semana Santa. Não se poderá afirmar que tanto a Marinha como o Exército os julgassem tão próximos. Não se iludiam as duas corporações quanto ao que estava para se produzir, mas jamais poderiam supor que a crise alcançasse as proporções com que explodiu. Se a rebelião dos sargentos da Aeronáutica fora suficiente para anular praticamente a eficiência da Arma, a subversão da ordem na Marinha assumia as dimensões de um verdadeiro desastre nacional.

Foi, aliás, o que desde o primeiro instante compreendeu a única instituição militar que até agora não foi contaminada pela ação revolucionária daqueles que se propuseram destruir pela base as forças cuja missão consiste em defender a ordem e a integridade institucional do País. A atitude de incondicional solidariedade aos seus colegas de armas, assumida pelo Clube Militar, a altivez com que o almirantado fez ouvir a sua voz na defesa da corporação a que pertence, assim como, os entendimentos que sabemos estar em curso neste momento entre o alto comando das forças da terra e os que, nas diferentes regiões do País, chefiam o II, o III e o IV Exército, permitem-nos afirmar que cessou, de uma vez por todas, a liberdade de movimentos do sr. Presidente da República contra as instituições.

Bem analisadas as coisas, e vistas em profundidade, o chefe do Executivo sente-se, neste instante, em sérias dificuldades em face daqueles que até aqui não cessaram de dar mostras do seu respeito a Constituição, através do acatamento dado às ordens de S. Exª. A promessa que acaba de tornar pública o Sr.Presidente da República de voltar atrás do seu ato de insânia, mandando abrir inquérito sobre os acontecimentos, não deixa, apesar da sua capciosidade, dúvida alguma de que o Exército nacional disse um BASTA categórico e definitivo aos desmandos de S. Exª.

Economia: baixar os juros parece facil, basta a presidente decidir - Amir Khair (e PRA)

Acabo de ler, por inteiro, o artigo publicado no Estadão de ontem pelo economista aliado dos companheiros, Amir Khair.
Tudo me pareceu tão claro e cristalino (estou sendo redundante, mais uma vez), que eu fui olhar mais de perto.
E resolvi fazer umas perguntas ao autor do texto.
Claro, ele não vai me responder, mas os leitores podem, talvez, aprender como se faz um debate econômico, ainda que unilateral, como é minha mania.
Primeiro vou colocar o texto dele por inteiro, depois meus questionamentos com base em uma seleção de seus argumentos.
Quem desejar entrar no debate, sinta-se à vontade, e pode me contestar de cabo a rabo. Este blog foi feito para isto mesmo: para debate de ideias inteligentes...
Paulo Roberto de Almeida

Primeiro o artigo de Amir Khair no Estadão de 29/03/2015.


Amir Khair
O Estado de S.Paulo, 29 Março 2015 | 02h 04

Bastaram quatro anos de governo Dilma para jogar o País em série crise econômica, política e social, com risco institucional de impeachment da presidente. Como saída dessa crise, procurou-se alguém que pudesse dar credibilidade à condução da economia. Lula indicou dois pesos pesados de confiança do mercado financeiro: Henrique Meirelles e Luiz Carlos Trabuco Cappi. A escolha recaiu em Joaquim Levi, que já tinha pertencido à equipe de Palocci no primeiro mandato de Lula.
Aí veio a proposta de ajuste fiscal, considerada como ponto de partida da recuperação econômica. A aposta era que, com a credibilidade da nova equipe econômica, os empresários voltariam a investir e daí viria o crescimento econômico.
O ajuste pretendido reduz direitos das pessoas e cria tributos para aumentar a arrecadação. Com isso o governo abriu simultaneamente várias frentes de briga: com as centrais sindicais, com empresários e contribuintes, que ficariam mais tributados, e com partidos da base aliada, que sofreriam desgaste ao aprovar o ajuste. 
Para complicar, a presidente trilhou o caminho do enfrentamento ao PMDB. Resultado: está sofrendo derrotas em todas as frentes, com o Congresso aprovando aumentos sucessivos nas contas públicas. Assim, o ajuste segue prematuramente para o brejo. 
Poderia ter evitado tudo isso se seguisse outro caminho que independesse do Congresso. Vejamos.
Recuperar a questão fiscal significa reduzir a relação entre a dívida e o Produto Interno Bruto (PIB). Essa relação foi-se deteriorando nos últimos anos. Ao final de 2013 estava em 56,7% e no final do ano passado subiu para 63,5%, com elevação de 6,8 pontos (63,5 menos 56,7). 
A nova equipe econômica prevê, caso seja bem-sucedido o ajuste fiscal, que ao final de 2017 ela esteja em 62,5%, ou seja, apenas um ponto abaixo da ocorrida no início deste ano. Péssimo resultado. Mas por que isso? Pela simples razão de a equipe econômica manter elevada e de forma artificial a taxa de juros que incide sobre a dívida. 
Países desenvolvidos têm dívida acima de 100%, mas como praticam taxas básicas de juros próximas a zero não tem problema de perda de controle sobre a dívida. O Brasil é o país que durante vários anos, atravessando vários governos, vem operando por decisão do Banco Central com uma taxa Selic das mais altas do mundo e sem necessidade. Faz isso porque quer controlar a inflação de forma artificial, tornando baratos os produtos importados. 
O Plano Real foi mestre nisso. Jogou a taxa de juros bem alta e atraiu dólares especulativos, fazendo a paridade um dólar igual a um real. Passados mais de vinte anos, continuou essa sangria de juros na economia do País.
Fato é que um pensamento econômico dominante, conduzido com habilidade e competência por analistas ligados ao mercado financeiro, ainda consegue defender a manutenção dessa política. Esse pensamento é condizente com os lucros que o sistema financeiro extrai da atividade econômica. Quanto maior a Selic, maior o lucro bancário, o ganho dos rentistas e a perda do governo federal. O lamentável desse verdadeiro saque ao cofre público é que quem dá a chave do cofre é o próprio governo.
O retrato fiscal é bem expresso no déficit de 6,7% do PIB ocorrido em 2014, sendo que a conta de juros atingiu 6,1% do PIB e foi responsável, portanto, por 90,6% do déficit.
O esforço do governo nessa política de ajuste é conseguir um superávit entre receitas e despesas públicas sem juros de 1,2% do PIB e, pasmem, vão continuar elevando a Selic, fazendo com que atinja 13%. Como a dívida continuou crescendo, dificilmente a despesa com juros ficará abaixo de 7,5% do PIB (!) neste ano. Assim, todo o esforço fiscal de 1,2% será comido pela maior despesa com juros de 1,4% do PIB (7,5 menos 6,1).
Em 2016, a situação tende a piorar, pois a dívida deverá se avizinhar a 70% do PIB, impondo uma despesa com juros ainda mais elevada.
Além do estrago nas contas públicas, essa Selic distorce o câmbio e, com isso, está gerando rombos crescentes nas contas externas. Em 2014, bateram o recorde de US$ 91 bilhões, ou 4,2% do PIB. Para piorar ainda mais essa situação, o Banco Central, para segurar o câmbio, torrou US$ 114 bilhões (!) em swaps cambiais, o que, dada a desvalorização do real, poderá ocasionar talvez a maior perda patrimonial sofrida pelo setor público.
O estrago da Selic não para, todavia, por aí. Ao artificializar o câmbio, dificulta as exportações e reduz o poder competitivo do produtor local perante o bem importado, ou seja, transfere emprego para o exterior e trava o crescimento aqui.
O estrago ainda continua. As reservas internacionais de US$ 380 bilhões sofrem custo da Selic e são aplicadas em títulos do Tesouro americano, que rendem pouco acima de 1% ao ano. O diferencial entre essas taxas de juros da ordem de 12 pontos incide a cada ano sobre o total das reservas. Assim, o custo de carregamento dessas reservas poderá alcançar US$ 45 bilhões, ou R$ 140 bilhões por ano! Quanto dinheiro jogado fora. Haja carga tributária para tanta orgia.
A mudança imediata para colocar o País livre para crescer de forma saudável passa por colocar a Selic no lugar, ou seja, no nível da inflação de 7%. Irão cair rapidamente os juros rumo ao equilíbrio das contas públicas, o câmbio tenderá a R$ 4 por dólar e as exportações começarão a ser retomadas rumo ao equilíbrio das contas externas. Maior exportação e menor importação é uma saída para a retomada do crescimento. No entanto, não basta reduzir só a Selic.
É igualmente importante reduzir a outra anomalia que trava o crescimento: a taxa de juro cobrada pelo sistema financeiro, que é várias vezes maior que a Selic. O Brasil sempre liderou essas taxas. Atualmente estão em 110% ao ano para pessoa física e 55%ao ano para pessoa jurídica considerando todas as modalidades de crédito: bancário e comercial.
À guisa de comparação os países emergentes praticam a taxa ao consumidor no entorno de 10% ao ano. Isso explica porque o Brasil é um país caro quando confrontado com outros. E isso é pior do que inflação.
Reduzir a taxa de juro ao tomador implica em diminuir duas fontes de ganhos do sistema bancário: os ganhos de tesouraria (aplicação em títulos do governo) com a redução da Selic e redução com tabelamento das escorchantes tarifas bancárias. Sem esses dois ganhos anormais, os bancos são obrigados a se voltar para sua função principal, que é a de conceder empréstimos e aí, por ação de mercado, a competição cresce e as taxas de juros refluem.
Essas mudanças não dependem de autorização do Congresso. Podem ser feitas por simples decisão da presidente, evitando confrontos desnecessários como os que vêm ocorrendo com seu maior "aliado" o PMDB. Mas, como os bancos detêm enorme poder político, pois estão entre os três maiores financiadores de campanha nas eleições federal e estaduais, resta a esperança de que as portas que vão se fechando na economia levem ao combate correto às anomalias. Resta esperança, pois o Brasil oferece saída ao corrigir as anomalias das taxas de juros. A hora é agora. Vale conferir.

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Agora meus argumentos contrarianistas, ou interrogativos:

    Vejamos se entendi direito as propostas:

1) Pela simples razão de a equipe econômica manter elevada e de forma artificial a taxa de juros que incide sobre a dívida.
    PRA: Elevada de forma artificial? A solução então é baixar? E de forma natural?
    Mas isso já não ocorreu no início do governo Dilma, quando ela foi rebaixada, mais de três pontos? Teria sido de forma natural?
    E porque o BC voltou a aumentar os juros ainda antes de iniciado o novo governo, ainda com o ministro Mantega, e quando tudo parecia bem, segundo nos disseram na campanha?

2) Países desenvolvidos têm dívida acima de 100%, mas como praticam taxas básicas de juros próximas a zero não tem problema de perda de controle sobre a dívida.
    PRA: Certo. O Japão, aliás, tem mais de 250% de dívida pública sobre o PIB. Será que é porque nós não somos desenvolvidos como eles? Mas ainda nem chegamos a 100% como os EUA, ainda temos mais uns 30 pontos para subir. Estaria bem assim?
    Claro, quando se tem taxas de juros negativas, como no caso do Japão, e dívida pública financiada a 99,99% pela poupança doméstica fica mais fácil.
    Seria por isso então?

3) O Brasil é o país que durante vários anos, atravessando vários governos, vem operando por decisão do Banco Central com uma taxa Selic das mais altas do mundo e sem necessidade.
    PRA: Mas se é sem necessidade por que é que governos neoliberais e desenvolvimentistas mantêm essas taxas artificialmente elevadas, sem qualquer necessidade? Será que é porque eles são todos perversos, amigos dos banqueiros? Ou porque o BC é dominado pela turma da bufunfa, como diria um aliado doutrinal?
    Incompreensível, de fato...

4) Faz isso porque quer controlar a inflação de forma artificial, tornando baratos os produtos importados.
    PRA: Mas justo o governo amigo dos trabalhadores, que protege a indústria nacional, seria capaz de uma maldade dessas contra a nossa indústria?

5) Fato é que um pensamento econômico dominante, conduzido com habilidade e competência por analistas ligados ao mercado financeiro, ainda consegue defender a manutenção dessa política.
    PRA: Quer dizer que já passou o tempo da nova doutrina, a tal de Nova Matriz Econômica? Mas foi sob o seu domínio que os juros começaram a subir outra vez. Debilidade do pensamento econômico dominante? Ou o pensamento era na verdade outro? O Bresser bem que avisou...

6) Quanto maior a Selic, maior o lucro bancário, o ganho dos rentistas e a perda do governo federal. O lamentável desse verdadeiro saque ao cofre público é que quem dá a chave do cofre é o próprio governo.
    PRA: Como eu sou ingênuo: e eu que pensava que a Selic só era alta porque de outra forma o governo não conseguia encontrar tomadores para os seus títulos?! Tudo é um complô então?! Mas justo no governo dos trabalhadores?!

7) O retrato fiscal é bem expresso no déficit de 6,7% do PIB ocorrido em 2014, sendo que a conta de juros atingiu 6,1% do PIB e foi responsável, portanto, por 90,6% do déficit.
    PRA: UFA! Ainda bem. Aqui a gente se entende. Então, se não houvesse déficit não haveria essa sangria desatada, pois não? Não seria melhor, então, eliminar os déficits do governo? Se não tivesse, ele não precisaria tomar dinheiro, certo? E se não tomasse dinheiro, não pagaria tantos juros, certo? Perdi alguma coisa?

8) As reservas internacionais de US$ 380 bilhões sofrem custo da Selic e são aplicadas em títulos do Tesouro americano, que rendem pouco acima de 1% ao ano. O diferencial entre essas taxas de juros da ordem de 12 pontos incide a cada ano sobre o total das reservas. Assim, o custo de carregamento dessas reservas poderá alcançar US$ 45 bilhões, ou R$ 140 bilhões por ano! Quanto dinheiro jogado fora. Haja carga tributária para tanta orgia.
    PRA: Que exagero. Mas não eram economistas sensatos que recomendavam reservas de 3 meses de importação apenas? O governo não exagerou um pouquinho nessas reservas de mais de 1 ano e meio de importações? Será que em 3 meses não dá para negociar um empréstimo emergencial, um stand-by com o FMI, em caso de necessidade? O que impediria o Brasil de recorrer ao FMI? Algum preconceito de classe? O Palocci não aceitou isso, numa boa?

9) A mudança imediata para colocar o País livre para crescer de forma saudável passa por colocar a Selic no lugar, ou seja, no nível da inflação de 7%. Irão cair rapidamente os juros rumo ao equilíbrio das contas públicas, o câmbio tenderá a R$ 4 por dólar e as exportações começarão a ser retomadas rumo ao equilíbrio das contas externas.
    PRA: Certo, certo. Mas os juros já cairam antes, não é mesmo? E qual foi o efeito disso na inflação? Ela anda pela casa dos 6,5% certo? Se o governo precisar de colocar títulos no mercado, por causa de algum déficit não cooperativo, os banqueiros perversos vão pegar? E se não pegarem, como é que faz? Vai para o mercado externo, onde o dinheiro está baratinho? Mas esse câmbio a 4 não vai trazer mais inflação e fazer a dívida externa aumentar 50%? Que coisa, hem?

10) ... outra anomalia que trava o crescimento: a taxa de juro cobrada pelo sistema financeiro, que é várias vezes maior que a Selic. O Brasil sempre liderou essas taxas. Atualmente estão em 110% ao ano para pessoa física e 55%ao ano para pessoa jurídica considerando todas as modalidades de crédito: bancário e comercial.
    PRA: Mas se o governo já domina 40%, ou mais, do mercado de capitais no Brasil, ele não poderia começar fazendo a sua parte? Esses banqueiros públicos não são muito cooperativos… Claro, sempre tem o BNDES, mas ele só empresta para alguns, e está sempre pedindo algum ao Tesouro...

11) Sem esses dois ganhos anormais, os bancos são obrigados a se voltar para sua função principal, que é a de conceder empréstimos e aí, por ação de mercado, a competição cresce e as taxas de juros refluem.
    PRA: Não seria também recomendável abrir mais o setor? Afinal de contas, com três bancos oficiais, que dominam quase a metade do terreno, mas três ou quatro outros grandes bancos que fazem quase isso, não tem competição nenhuma, não é mesmo?
   
12) Essas mudanças não dependem de autorização do Congresso. Podem ser feitas por simples decisão da presidente,
     PRA: Ôba, então é fácil. Eu só me pergunto onde iria parar a inflação, a renda dos trabalhadores, e a competitividade das empresas…

    O mundo é complicado mesmo. Mas eu só queria entender as medidas propostas

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Paulo Roberto de Almeida

segunda-feira, 30 de março de 2015

Venezuela e America Latina: governos timoratos ou coniventes? - Mario Vargas Lllosa

Venezuela oposición

Vargas Llosa critica actitud “timorata” Gobiernos de A.Latina con Venezuela

LIMA (PERÚ) 26/03/2015.- EFE/Paolo Aguilar
El escritor peruano, Mario Vargas Llosa (c) y las esposas de los opositores venezolanos presos Leopoldo López y Antonio Ledezma, Lilian Tintori (d) y Mitzy Capriles (i), participan en el seminario internacional "América Latina: oportunidades y desafíos" en la Universidad de Lima.
Infolatam/Efe
Lima, 26 de marzo de 2015
Las claves
  • El premio Nobel también les pidió a Tintori y Capriles que no piensen "que esa actitud de esos Gobiernos timoratos, de esos Gobiernos acobardados y a veces cómplices de la dictadura venezolana representa a sus pueblos".
El premio Nobel de Literatura Mario Vargas Llosa criticó la actitud “timorata” y “a veces cómplice” que, según su opinión, tiene la mayoría de los Gobiernos latinoamericanos con el régimen venezolano de Nicolás Maduro.
“Qué vergüenza que en América Latina haya tan pocos Gobiernos que hayan condenado” las prácticas represivas del régimen venezolano, afirmó hoy el escritor durante el panel “Venezuela y la libertad” que abrió en Lima el seminario internacional “América Latina: oportunidades y desafíos.”
Vargas Llosa participó en ese panel junto a Lilian Tintori y Mitzy Capriles, esposas de los líderes políticos opositores venezolanos Leopoldo López y Antonio Ledezma, respectivamente.
“Les pido a ustedes, y a través de ustedes a todos los resistentes venezolanos, perdón por esa inconducta de los Gobiernos democráticos latinoamericanos, que muestran muy débiles convicciones democráticas, cuando no una secreta complicidad con la dictadura venezolana”, enfatizó el escritor dirigiéndose a Tintori y Capriles.
El escritor afirmó que le “alegra” que las dos mujeres hayan sido recibidas el miércoles por la primera ministra y por el canciller de Perú, Ana Jara y Gonzalo Gutiérrez, respectivamente, pero criticó que el presidente Ollanta Humala no haya hecho lo mismo.
“Lamento profundamente, que el presidente Humala y que (su esposa) Nadine Heredia no les hayan abierto las puertas”, enfatizó en medio de los aplausos prolongados de los asistentes al foro, que se celebra en la Universidad de Lima.
Vargas Llosa remarcó que es conocido que ha “defendido a este Gobierno” y acotó que lo sigue defendiendo, pero no por eso deja de criticar su actitud con la oposición venezolana.
El premio Nobel también les pidió a Tintori y Capriles que no piensen “que esa actitud de esos Gobiernos timoratos, de esos Gobiernos acobardados y a veces cómplices de la dictadura venezolana representa a sus pueblos”.
“No es verdad”, señaló antes de decir que los latinoamericanos quieren que “Venezuela vuelva a ser el país democrático, libre, que fue durante muchos años.”
Capriles agradeció, muy emocionada, las palabras de Vargas Llosa y dijo que “es imposible que las lágrimas dejen de saltarnos del corazón”.
Venezuela “hoy reclama solidaridad con su democracia”, agregó antes decir que la oposición venezolana tiene “la convicción de estar en el lado correcto de la historia.”
Tintori denunció que Venezuela está “al borde de una crisis humanitaria” y enfatizó que cualquier pronunciamiento de un presidente de otro país sobre este tema “no es injerencia”.
“El que calla es cómplice y estoy segura que Latinoamérica completa se va a pronunciar”, señaló antes de afirmar que van “a seguir hasta liberar a Venezuela.”
Las esposas de los líderes opositores venezolanos apresados Antonio Ledezma y Leopoldo López, Mitzy Capriles y Lilian Tintori, recibieron hoy el apoyo del expresidente peruano Alan García en Lima, así como pudieron dialogar con representantes del gobierno peruano.
Las venezolanas se reunieron con García, como parte de los encuentros que han sostenido desde ayer con varios líderes políticos peruanos, como la lideresa opositora Keiko Fujimori, y con representantes del gobierno de Ollanta Humala.
“Todo mi compromiso con la democracia venezolana. Y apoyamos la causa que defienden Lilian Tintori y Mitzy Capriles”, escribió García en Twitter acompañando una foto de su reunión.
Capriles y Tintori también fueron recibidas hoy por la presidenta del Consejo de Ministros de Perú, Ana Jara, y el canciller, Gonzalo Gutiérrez, por indicación del mandatario peruano, según informó una nota de prensa de la cancillería.
La jefa del gabinete peruano les manifestó que “el gobierno del Perú viene propiciando y apoyando el diálogo entre todas las fuerzas políticas” en Venezuela.
Asimismo, Jara agregó que “se alienta que en la próxima celebración de las elecciones congresales en ese país participen todas las fuerzas democráticas representativas”.

Miseria da educacao brasileira: a pedagogia da estupidez de Paulo Freire - Marcelo Centenaro

Quando eu dizia, isso há muitos anos, que o Paulo Freire era um dos grandes idiotas do Brasil -- e infelizmente, também, do mundo, pois dentre tantas coisas boas que exportamos para o mundo, como o Tom Jobim, o Pelé, a feijoada e o pão de queijo, existem também essas desgraças subinteliquituais -- algumas pessoas achavam que eu estava exagerando, e me cobravam as razões de eu ser tão grosseiro, tão cáustico, tão intolerante com um pretenso educador que era, justamente, o patrono oficial da educação brasileira. O fato dele ter sido entronizado no título pelos companheiros já deveria servir de desconfiômetro para muita gente, mas as pessoas acham que se alguém fez algo de bom deve ser homenageado e respeitado.
Eu, por índole anarquista própria, nunca fui de respeitar nenhuma autoridade constituída, nenhuma verdade revelada, nenhuma ideia dessas de senso comum; só respeito a lógica, a inteligência, o conhecimento fundamentado, ponto, e ainda tudo isso sob exame e escrutínio, para ver se não há nenhuma falha de lógica, nenhum conhecimento obscuro.
Pois bem, sempre me cobravam a minha opinião sobre a obra fundamental do grande idiota, a tal de Pedagogia do Oprimido. Eu não tinha condições de oferecer essa opinião embasada pois todas as vezes que comecei a ler a obra tive de desistir no meio, tantas eram as bobagems, tamanha era a acumulação de estupidezes, e imenso o simplismo, a desonestidade, o mau-caratismo desse pretenso educador, que poderia ser considerado o pequeno Mao Tsé-tung do besteirol pedagógico.
Ao ler aquelas páginas insuportáveis do livreco chatérrimo, e desonesto, Pedagogia do Oprimido, que acabou abandonado no meio, eu me perguntava como é que um inculto como aquele, como é que um desonesto daquele tamanho, como é que um idiota desse quilate podia ser considerado o grande guru de todos os cursos de pedagogia do país. Eu me dizia: não há esperança, está tudo perdido, com pessoas saindo das Faculdades com essa mentalidade, a educação só pode ir para o brejo. De fato, foi o que tivemos nos últimos 30 ou 40 anos, uma descida para o abismo da estupidez educacional.
Ele ficou meio esquecido durante algum tempo, mas depois que ganhou o galardão de ser convertido em santo, quero dizer, em patrono da educação brasileira, comecei a postar críticas a ele.
Invariavelmente vinham críticas a mim, que seria "grosseiro" com personagem tão genial. Eu não queria acreditar.
Pois bem, o que eu não fiz, por não querer perder tempo com lixo a sub-acadêmico, está feito abaixo, nessa resenha do livro do grande idiota feita pelo Marcelo Centenaro, apresentado pelo Rodrigo Constantino. Isso não impede, claro, as saúvas freireanas de proliferar e de continuar arrasando com a (des)educação brasileira, mas acho que mais pessoas vão se dar conta da fraude que constitui o grande idiota da educação brasileira.
Paulo Roberto de Almeida
29/03/2015
às 18:57 \ Comunismo, Cultura, Educação

Pedagogia do oprimido: uma resenha devastadora do mais famoso livro de Paulo Freire

Lendo Paulo Freire
Know thy enemy!, diz a máxima da Arte da Guerra de Sun Tzu.
Paulo Freire é o “patrono” de nossa educação. Isso, por si só, já deveria ser motivo suficiente para não levá-lo tão a sério. Afinal, o que há para louvar em nosso sistema de ensino, que só produz “vítimas sociais” e nenhum resultado decente nos rankings internacionais?
Não importa: como o homem recebeu vários títulos mundo afora, e porque levou o marxismo para dentro da sala de aula, é exaltado como um gênio, um santo, um ídolo, por todos aqueles que acham desejável transformar o professor num militante ideológico.
A desculpa esfarrapada deles: todos têm suas ideologias, e é impossível deixar a sala de aula livre delas. Se você quer ensinar conhecimento objetivo, matemática, línguas, literatura clássica, então você já seria um doutrinador também, só que do lado da “elite opressora”. Um “burguês alienado” que pretende apenas preservar o status quo, nada mais.
E com esse embuste os doutrinadores disfarçados de professores seguem sua missão “pedagógica”, que tem sido responsável em boa parte pela miséria intelectual de nosso país, uma fábrica de jovens socialistas. Reverter esse quadro é uma das tarefas mais importantes e árduas de todos aqueles que desejam um país mais livre e próspero.
Para tanto, é preciso conhecer melhor o lado de lá, o “inimigo”. Aliás, eis mais uma grande diferença entre a esquerda e a direita: nós, liberais e conservadores, normalmente lemos os principais expoentes da esquerda, enquanto o contrário raramente é verdadeiro.
Com isso em mente, apresento aos meus leitores uma ótima resenha escrita por Marcelo Centenaro do livro mais famoso de Freire, aquele que é carregado em clichês marxistas e que tanta gente influenciou, especialmente nos países menos desenvolvidos (por que será?):
Rodrigo Constantino
 
Pedagogia do oprimido
No final de 2014, conversei sobre Paulo Freire com uma pessoa de quem gosto muito e que tem opiniões opostas às minhas. Ela perguntou se eu tinha lido algum dos livros dele. Só A Importância do Ato de Ler, mas há tanto tempo que não me lembro de quase nada, respondi. Nunca li Pedagogia do Oprimido, confessei. Você não pode criticar o que não conhece, acusou ela. Prometi que leria Pedagogia do Oprimido e escreveria uma resenha. Aqui está.
Não é uma leitura fácil. Embora o livro não seja extenso, com pouco mais de 100 páginas, levei dois meses para terminar. Achei a linguagem confusa, com termos inventados ou palavras às quais o autor atribui um sentido peculiar, sem contudo definir claramente esse sentido. Muitas vezes, não há um encadeamento lógico entre um parágrafo e o seguinte, entre uma frase e a próxima, entre uma idéia e outra. Nesse aspecto, lembra muito o estilo do Alcorão. Paulo Freire tem um cacoete de separar os prefixos dos radicais das palavras (co-laboração, ad-mirar, re-criar), como se isso significasse alguma coisa. Há muitas passagens com sentido obscuro (vejam algumas abaixo), muitas repetições, citações de supostas autoridades em educação (como Mao, Lênin, Che, Fidel e Frantz Fanon) e menções freqüentes a que se vai voltar ao assunto depois ou a que já se tratou dele antes.
Logo na introdução, somos brindados com esta afirmação: “Se a sectarização, como afirmamos, é o próprio do reacionário, a radicalização é o próprio do revolucionário. Dai que a pedagogia do oprimido, que implica numa tarefa radical cujas linhas introdutórias pretendemos apresentar neste ensaio e a própria leitura deste texto não possam ser realizadas por sectários.” Minha leitura deste trecho é: “Só quem já concorda comigo pode ler o que escrevo.”
Vou apresentar a seguir o que entendi do livro, procurando ao máximo omitir minhas opiniões, que guardarei para o final da resenha.
Paulo Freire descreve dois tipos de educação, uma característica de uma sociedade opressora, outra característica de uma sociedade livre, ou que luta para se libertar. A educação da sociedade opressora é chamada de “bancária”, sempre entre aspas, porque ela deposita conhecimentos nos alunos. Ou seja, ela reduz o aluno a um objeto passivo do processo educacional, no qual são jogadas informações sobre Português, Matemática, História, Geografia, Inglês, Física, Química, Biologia, Filosofia. Já a educação libertadora é chamada de dialógica, porque se baseia no diálogo entre professores e alunos (educadores e educandos, na linguagem do livro). É um processo do qual todos são sujeitos ativos e cuja finalidade é ampliar a consciência social de todos, especialmente dos alunos, para que se viabilize a revolução que acabará com a opressão. O livro não detalha o que a educação libertadora fará depois dessa libertação. Imaginamos que mantenha os educandos conscientes e imunes a movimentos reacionários e contra-revolucionários.
A educação dialógica se baseia no diálogo e o diálogo começa com a busca do conteúdo programático. Na parte do livro em que há mais orientações práticas, Paulo Freire recomenda que seja formado um grupo de educadores pesquisadores que observará os educandos e conversará com eles, em situações diversas, para conhecer sua realidade e identificar o que ele chama de temas geradores, que possibilitarão a tomada de consciência dos indivíduos. Haverá reuniões com a comunidade, identificação de voluntários, conversas e visitas para compreender a realidade, observações e anotações. Os investigadores farão um diagnóstico da situação. Então discutirão esse diagnóstico com membros da comunidade para avaliar o grau de consciência deles. Constatando que esse nível é baixo, vão apresentar as situações identificadas aos alunos, para discussão e reflexão, com o objetivo de despertar sua consciência para sua situação de opressão. Se o pensamento do povo é mágico (religioso) ou ingênuo (acredita nos valores de direita), isso será superado pelo processo, conforme o povo pensar sobre a maneira que pensa, e conforme agir para mudar sua situação de opressão.
Paulo Freire enfatiza que o revolucionário não pode manipular os educandos. Todo o processo tem de ser construído baseado no diálogo e no respeito entre os líderes e o povo. Porém, os líderes devem ter a prudência de não confiar no povo, porque as pessoas oprimidas têm a opressão inculcada no seu ser. Como exemplo de um líder que jamais permitiu que seu povo fosse manipulado, Paulo Freire apresenta Fidel Castro.
A palavra é o resultado da soma de ação e reflexão. Se nos baseamos apenas na reflexão, temos um “verbalismo” estéril. Se nos baseamos apenas na ação, temos um “ativismo” inepto. Os líderes revolucionários e os educadores devem compreender que a ação e a reflexão caminham juntas de maneira indissociável, ou não se atingem os objetivos da educação e da revolução.
As características da opressão são a conquista dos mais fracos, a criação de divisões artificiais entre os oprimidos para enfraquecê-los, a manipulação das massas e a invasão cultural. Os opressores se impõem em primeiro lugar pela força. Depois, jogam os oprimidos uns contra os outros, para mantê-los subjugados. As pessoas são manipuladas para acreditarem em falsos valores que lhes são prejudiciais, embora elas não percebam isso. Sua cultura de raiz é esquecida e trocada por símbolos vazios importados de fora, num processo que esmaga a identidade do povo.
As características da libertação são a colaboração (que Paulo Freire grafa co-laboração), a união, a organização e a síntese cultural. A colaboração está contida em tudo o que foi dito sobre educação dialógica, que é feita em conjunto pelos educadores e educandos. A união entre os oprimidos é fundamental para que tenham força para resistir contra o opressor. No trecho em que explica a organização, é citado o médico Dr. Orlando Aguirre, diretor da Faculdade de Medicina de uma universidade cubana, que afirmou que a revolução implica em três P: palavra, povo e pólvora. Disse o Dr. Aguirre: “A explosão da pólvora aclara a visualização que tem o povo de sua situação concreta, em busca, na ação, de sua libertação.” E Paulo Freire complementa: “O fato de não ter a liderança o direito de impor arbitrariamente sua palavra não significa dever assumir uma posição liberalista, que levaria as massas à licenciosidade.” Ele afirma que não existe liberdade sem autoridade. Sobre a síntese cultural, diz que a visão de mundo do povo precisa ser valorizada.
Agora, o que penso sobre o texto. O próprio Paulo Freire deixa claro em vários momentos, que seu livro não é sobre educação. Ensinar, transmitir conhecimentos, é uma preocupação da educação “bancária” opressora. Não é essa a função de um educador libertador. Não, sua função é criar os meios para uma revolução libertadora, como foram libertadoras as revoluções promovidas pelos educadores citados: Mao, Lênin, Fidel. Ou seja, a única preocupação do livro é com os meios para viabilizar uma revolução marxista. Se você, meu leitor, é professor e acha que essa é a sua função, talvez encontre conhecimentos úteis no livro. Caso contrário, não há mais nada nele.
Fiz uma coletânea de palavras utilizadas por Paulo Freire que poderiam ter saído de um discurso de Odorico Paraguaçu: “involucra”, em lugar de envolve, “implicitados”, em lugar de implícitos, “gregarizadas”, deve ser um derivado de gregário, “unidade epocal”, em lugar de unidade de tempo, “fatalistamente”, por fatalisticamente, “insertado”, por inserido. Dois erros divertidos: chamar Régis Debray de Régis Debret e achar que o nome do padre Marie-Dominique Chenu OP (onde OP significa Ordo Praedicatorum, Ordem dos Pregadores, sigla que designa a Ordem dos Dominicanos) é O. P. Chenu. É sintomático que alguém com tantas dificuldades com a Língua Portuguesa seja o Patrono da Educação Brasileira, considerado nossa maior autoridade em alfabetização.
Os brasileiros começam a ficar cansados da doutrinação marxista disfarçada de “educação”
Desafio os bravos leitores a encontrar o sentido dos trechos a seguir. A melhor interpretação ganhará um pão com mortadela. Os grifos são de Paulo Freire.
1) «Na verdade, não há eu que se constitua sem um não-eu. Por sua vez, o não-eu constituinte do eu se constitui na constituição do eu constituído. Desta forma, o mundo constituinte da consciência se torna mundo da consciência, um percebido objetivo seu, ao qual se intenciona. Daí, a afirmação de Sartre, anteriormente citada: “consciência e mundo se dão ao mesmo tempo”.»
2) «O ponto de partida deste movimento está nos homens mesmos. Mas, como não há homens sem mundo, sem realidade, o movimento parte das relações homens-mundo. Dai que este ponto de partida esteja sempre nos homens no seu aqui e no seu agora que constituem a situação em que se encontram ora imersos, ora emersos, ora insertados.»
3) «Sem ele [o diálogo], não há comunicação e sem esta não há verdadeira educação. A que, operando a superação da contradição educador-educandos, se instaura como situação gnosiológica, em que os sujeitos incidem seu ato cognoscente sobre o objeto cognoscível que os mediatiza.»
4) «Esta é a razão pela qual o animal não animaliza seu contorno para animalizar-se, nem tampouco se desanimaliza.»
5) «Somente na medida em que os produtos que resultam da atividade do ser “não pertençam a seus corpos físicos”, ainda que recebam o seu selo, darão surgimento à dimensão significativa do contexto que, assim, se faz mundo.»
6) «Porque, ao contrário do animal, os homens podem tridimensionalizar o tempo (passado-presente-futuro) que, contudo, não são departamentos estanques.» Alguém pode me dizer como é possível tridimensionalizar o tempo?
7) «Uma unidade epocal se caracteriza pelo conjunto de idéias, de concepções, esperanças, dúvidas, valores, desafios, em interação dialética com seus contrários, buscando plenitude. A representação concreta de muitas destas idéias, destes valores, destas concepções e esperanças, como também os obstáculos ao ser mais dos homens, constituem os temas da época.»
Outra característica curiosa são as citações em idiomas diversos. Há citações de Hegel e Karl Jaspers em inglês, de Marx e Erich Fromm em espanhol e de Lukács em francês. Todos esses autores escreveram em alemão. Frantz Fanon, que escreveu em francês, é citado em espanhol. Albert Memmi, que também escreveu em francês, é citado em inglês, e se menciona que há uma edição brasileira de seu livro. Mao é citado em francês. Porque todas essas citações não foram simplesmente traduzidas para o português? E por que Paulo Freire gosta tanto de ditadores, torturadores e assassinos?
Ele afirma que vender seu trabalho é sempre o mesmo que escravizar-se. Porém, desejar não ser mais empregado e tornar-se patrão é escravizar a um outro, tornar-se opressor. Qualquer tipo de contratação de um indivíduo por outro é maligna, é opressão, é escravidão. Só teremos liberdade quando a nenhum indivíduo for permitido contratar ou ser contratado por outro indivíduo. Faz sentido para vocês?
Paulo Freire afirma que os oprimidos devem ser reconhecidos como Pedro, Antônio, Josefa, mas os chama o tempo todo de “massas”. Diz que valoriza a visão de mundo do povo, enquanto não perde uma oportunidade de desdenhar das crenças religiosas desse mesmo povo, chamando-as de mágicas, sincréticas ou mistificações. E ele se dizia católico. 
Como a opressão é uma violência, qualquer violência cometida pelos oprimidos contra os opressores é sempre uma reação justificada. É um raciocínio assustador. Nas palavras dele: “Quem inaugura a tirania não são os tiranizados, mas os tiranos. Quem inaugura o ódio não são os odiados, mas os que primeiro odiaram. Quem inaugura a negação dos homens não são os que tiveram a sua humanidade negada, mas as que a negaram, negando também a sua.” Paulo Freire considera justificados a tirania como resposta a uma tirania anterior e o ódio como resposta a um ódio anterior. E nega a humanidade de quem ele resolver chamar de opressores.
Mais um trecho escabroso: «Mas, o que ocorre, ainda quando a superação da contradição se faça em termos autênticos, com a instalação de uma nova situação concreta, de uma nova realidade inaugurada pelos oprimidos que se libertam, é que os opressores de ontem não se reconheçam em libertação. Pelo contrário, vão sentir-se como se realmente estivessem sendo oprimidos. É que, para eles, “formados” na experiência de opressores, tudo o que não seja o seu direito antigo de oprimir, significa opressão a eles. Vão sentir-se, agora, na nova situação, como oprimidos porque, se antes podiam comer, vestir, calçar, educar-se, passear, ouvir Beethoven, enquanto milhões não comiam, não calçavam, não vestiam, não estudavam nem tampouco passeavam, quanto mais podiam ouvir Beethoven, qualquer restrição a tudo isto, em nome do direito de todos, lhes parece uma profunda violência a seu direito de pessoa. Direito de pessoa que, na situação anterior, não respeitavam nos milhões de pessoas que sofriam e morriam de fome, de dor, de tristeza, de desesperança.»
O fato é que ninguém pode proibir ninguém de comer, vestir, calçar, educar-se, passear ou ouvir Beethoven. E ninguém pode exigir comer, vestir, calçar, educar-se, passear ou ouvir Beethoven às custas dos outros.
Uma última citação abjeta: “Mesmo que haja – e explicavelmente – por parte dos oprimidos, que sempre estiveram submetidos a um regime de expoliação, na luta revolucionária, uma dimensão revanchista, isto não significa que a revolução deva esgotar-se nela.” A revolução não deve se esgotar no revanchismo, mas o revanchismo é parte natural dela. Como alguém que escreveu essas monstruosidades nunca foi processado por incitação à violência e apologia do crime? Como alguém com um pensamento tão anti-social pode ser sequer ouvido, quanto mais cultuado como Patrono da Educação Brasileira?
Chega de doutrinação marxista! Fora Paulo Freire!
Marcelo Centenaro
 
Blogo do Rodrigo Constantino, Veja.com, 29/02/2015

Socialismo: sem saidas, sem respostas, sem ideias - Joao Marques de Almeida

A segunda morte das ideias socialistas
Artigo de João Marques de Almeida, publicado pelo Observador, afirma que "a esquerda não é alternativa". De fato, o que a história recente mostra é que os partidos socialistas não têm programa de governo. Basta ver o que acontece na Grécia, com o Syriza - aliás, o mesmo acontece com o socialismo petista no Brasil, obrigado a recorrer ao banqueiro Levy para administrar a economia:
Dois meses de tragédia grega mostraram o óbvio a toda a Europa: o Syriza não tem programa de governo – ou se o tem, está a escondê-lo. Até agora, o governo grego limitou-se a fazer três coisas. Passeios pela Europa, com a imprensa atrás. Pedir mais dinheiro à Europa. E prometer mais receitas. Pelo meio, a população tirou mais dinheiro dos bancos gregos do que em 2012, no auge da crise. Entretanto, a Europa espera por uma lista de medidas concretas desde 20 de Fevereiro.
Mas sem programa, o Syriza vê-se aflito para produzir uma lista de políticas de governo. Promete mais eficácia fiscal, mas ironicamente nunca os gregos fugiram tanto aos impostos como desde que o Syriza foi eleito. E prometeu igualmente aumentar o IVA. O aumento desesperado de impostos apenas mostra a ausência de políticas.
No entanto, há no Syriza quem tenha um programa político. A retirada do país do Euro, nacionalizações e colectivização da economia. Ou seja, o velho socialismo que levaria o país a mais empobrecimento e a uma miséria albanesa. Ninguém se atreve, contudo, a falar abertamente desse programa. Todos no Syriza sabem que os gregos rejeitariam tal programa, por isso se o impuserem será às escondidas e aproveitando o desespero da maioria da população. Os gregos não querem mais austeridade, mas querem o Euro e certamente não desejam o socialismo. Gostavam simplesmente de regressar à vida anterior a 2010.
A grande crise financeira de 2007-2012 não trouxe de volta o socialismo. Eis o grande problema da esquerda. Os seus partidos podem ganhar eleições, como resultado da insatisfação com os partidos de direita. Mas ganham sem um mandato socialista e sem um programa alternativo ao da direita. A maioria dos europeus não vê no velho socialismo uma alternativa à maior crise do capitalismo desde o pós-Guerra. Os europeus podem querer um capitalismo diferente, mas querem economia de mercado, rejeitam colectivizações e perceberam, por fim, que são os contribuintes que acabam a pagar o ‘capitalismo de Estado’. A grande questão para a esquerda social-democrata é óbvia (mas de resposta difícil): como construir uma alternativa à direita que aposte na economia de mercado e não nos monopólios do Estado? Foi o capitalismo de Estado do sul da Europa que faliu em 2011, não foi a economia de mercado.
Vejam o exemplo de França. Tal como na Grécia, Hollande chegou ao poder por causa da insatisfação dos franceses com a direita e com Sarkozy, mas sem um programa de governo alternativo e sem um mandato socialista. Bastaram dois anos para perceberem o ponto central: não é o Estado que cria riqueza, mas sim o mercado e a iniciativa privada. O que em França, e sobretudo no partido socialista, constituiu uma revolução. Não é exagero afirmar que o governo socialista de Valls e de Macron está a produzir a maior revolução no pensamento económico dos franceses.
Os historiadores no futuro irão olhar para a crise financeira como a segunda morte das ideias socialistas no final do século XX e no início do século XXI. O socialismo marxista morreu em 1989 e o capitalismo de Estado, que tanto agradava aos partidos socialistas, morreu em 2011. Enquanto os partidos socialistas não reconhecerem a realidade, os seus programas de governos não deixarão de ser uma má cópia dos da direita.

Economia brasileira: nova decada perdida? - Entrevista Marcos Lisboa (OESP)

Um amigo e colega de carreira me manda a entrevista publicada neste domingo no Estadão, sobre a (péssima) situação atual da economia brasileira, ou seja, na verdade, sobre as políticas econômicas alopradas adotadas pela soberana ignorante em economia, mas arrogante mesmo assim.
Eis o que ele escreveu: 

On Mar 29, 2015, at 19:52, renato l. r. marques <xxxxxx@hotmail.com> wrote:
Entrevista dura e realista. Não deve agradar aos ouvidos da FIESP, onde estão situados os principais interesses na preservação da política de desoneração fiscal, subsídios e altos impostos de importação, como forma de sobreviver apesar de sua reconhecida falta de competitividade .
E São Paulo é vilão até na área agrícola e extrativista. Os altos preços do açúcar e a taxa da borracha, sempre anunciados com vistas a viabilizar a combalida lavoura açucareira do Nordeste e a preservação dos seringueiros, beneficiam sobretudo a Paulisteia, onde se concentra a maior lavoura açucareira e os maiores seringais.
Mas eu diria que o problema econômico é até solúvel, se comparado ao problema político e social , onde o equilíbrio federativo evita a tomada de decisões acertadas e a ausência de valores de eficiência e produtividade nos condena a uma mão de obra despreparada ( mas reivindicativa) e à adoção de políticas sociais de desestímulo ao mérito. Tudo isso com um contingente crescente de imigrantes (haitianos, ganenses, sírios, palestinos) que, por coincidência (!), é dirigido para áreas de tradição política antipetista , como forma de virar os votos regionais.
Enfim, nada que promova o otimismo e restabeleça a credibilidade do país. Abraço

 Renato Marques


 Ao que eu (PRA) respondi:
    Concordo com a parte política. Na parte econômica, também concordo, mas os capitalistas corporativos da FIESP, que são realmente protecionistas e tudo o mais, poderiam argumentar que não conseguiriam se manter sem esses favores especiais do Estado por causa, justamente, da alta carga fiscal com que são extorquidos.
    Deveriam, então, se organizar conjuntamente para barrar o Estado e reverter a carga fiscal, mas não conseguem, por isso vão setorialmente a Brasilia, pedir, cada um do seu lado, essas medidas paliativas. Também compram os seus políticos, etc.
    Ou seja, tanto o sistema político quanto o econômico estão completamente viciados e distorcidos.
    Como resolver isso numa federação, com uma classe política totalmente inepta, incompetente (o que é a mesma coisa), mas perdulária, rentista, extrativista, é muito difícil. Precisariamos de uma crise muito forte, e estadistas de visão.
    Mas o que vamos ter é uma longa e lenta decadência, apenas isso. Está na nossa vez de nos argentinizarmos em médio prazo, se não for pior…
    Esté parece ser o nosso futuro (ou falta de) previsível.
Paulo Roberto de Almeida 


O autor do envio, escreveu um resumo, e uma crítica implacável, em CAIXA ALTA, que reproduzo como está, pois também coloca em perspectiva, numa linguagem crua, todo o mal cometido pelos petralhas incompetentes contra a economia do país e contra os brasileiros.

EXCELENTE ENTREVISTA DE MARCOS LISBOA ELE ANALISA O PROBLEMA ECONOMICO BRASILEIRO SOB DOIS ANGULOS. O PRIMEIRO, DE MAIS CURTO PRAZO, DIZ RESPEITO AO ENFRENTAMENTO DO ENORME DESIQUILIBRIO FISCAL CAUSADO PELOS DESCALABROS DOS GOVERNOS PETISTAS, EM PARTICULAR PELO GOVERNO DE DILMA.
O PROBLEMA FISCAL É  UM PROBLEMA DE SANGRIA DESATADA,TEM DE LEVAR O PACIENTE PARA A UTI  COM URGENCIA, CASO CONTRARIO ELE MORRE - E CONDICAO NECESSARIA E URGENTE PARA UMA EVENTUAL RECUPERACAO ECONOMICA DO BRASIL.
E NECESSARIA, POREM NAO SUFICIENTE.

COMO LISBOA  DESTACA MUITO BEM, OS DANOS A ECONOMIA BRASILEIRA FORAM MUITO MAIS SERIOS E PROFUNDOS. OS" POLICY MAKERS" PETISTAS  TRATARAM, NA SUA ENORME IGNORANCIA, DE ENFRENTAR  UMA CRISE  CONJUNTURAL DE ESCASSEZ DE DEMANDA CONJUNTURAL COM MEDIDAS PERMANENTES, TIPICAS  DO MAL-FADADO NACIONAL-DESNVOLVIMENTISMO, MESCLADO  COM UM KEYNESIANISMO  CAIPIRA E COM  UM VERSAO ATUALIZADA DA MALFADADA  ADMINISTRACAO ECONOMICA "POR PACOTES" DA ERA DELFIM NETTO. 
DILMA E ASSECLAS RESOLVERAM RESSUCITAR, DE UMA SO VEZ : JK, CELSO FURTADO, PREBISH, MARIA CONCEICAO, GEISEL, BELLUZZO, MARIA CONCEICAO, LUCIANO COUTINHO,  NAKANO, BRESSER PEREIRA, DELFIM NETTO  E OUTROS JURASSICOS  MENOS VOTADOS DA ESCOLA ECONOMICA DA CEPAL, DE  CAMPINAS E DA FGV DE SAO PAULO.  
MUITA IDEIA ULTRAPASSADA  PARA UM PAIS SO!!
COMO MARCOS LISBOA DESTACA COM EXTREMA ACUIDADE, O CUSTO DA CORRUPCAO DA PETROBRAS É MINIMO COMPARADO COM O CUSTO DAS POLITICAS DE ISENCAO DE TRIBUTOS, DE SUBSIDIOS, DE FINANCIAMENTOS PUBLICOS FAVORECIDOS  E DE PROTECIONISMO INDUSTRIAL IMPLEMENTADOS POR ESTE GOVERNO.

COMO ELE DIZ, UM CUSTO  DE CENTENAS DE BILHOES DE REAIS.
QUANTO MAIOR O VOLUME DE INCANTIVOS, PIOR TEM SIDO A PERFORMANCE DA ECONOMIA, EM PARTICULAR DA INDUSTRIA.
ISTO FAZ LEMBRAR UMA CITACAO DE MARIO HENRIQUE SIMONSEN DE QUE É MAIS BARATO PAGAR OS DEZ POR CENTO DE PROPINA DE CORRUPCAO AOS  AGENTES POLITICO-GOVERNAMENTAIS, DO QUE PEMITIR QUE ESTES FAÇAM BOBAGENS CONCEITUAIS  QUE PREJUDIQUEM  OS  90 PORCENTO REMANESCENTES  DO GASTO TOTAL RELATIVO A POLITICAS E PROJETOS PUBLICOS .

MARIO HENRIQUE NAO SE DAVA CONTA DA IMENSIDAO DO PODER DESTRUIDOR DOS AGENTES PUBLICOS DOS GOVERNOS DO PT QUE ESTAVAM POR VIR.
ESTES NÃO SÓ CONSEGUIRAM ENTRAR  FUNDO NOS 90% COMO -- TRAGEDIA SEM TAMANHO -- CONSEGUIRAM TRANSFORMAR OS 90% EM VERDADEIRA MESCLA DE FRANKESTEIN COM VAMPIRO DEDICADO A COMPROMETER  A PERFORMANCE E SUGAR OS RECURSOS DA ECONOMIA POR UM FUTURO QUASE SEM FIM. 
DAI A  PRINCIPAL RAZAO DE PODERMOS  ESPERAR  POR UMA  DECADA PERDIDA  SEM MAIORES ESPANTOS.
SEGUNDO MARCOS LISBOA A REVERSAO DESTA SITUACAO SERA MUITO DIFICIL DEVIDO  A CONSTITUICAO  DE  SOLIDOS  GRUPOS DE INTERESSE QUE  FORAM CRIADOS  AO REDOR DO GOVERNO DE ORIGEM SINDICALISTA AO LONGO DE DOZE ANOS -- PRINCIPALMENTE NA INDUSTRIA, ATRAVES DE FIESP, CNI E CONGENERES E SINDICATOS OPERARIOS. 
NUNCA É DEMAIS LEMBRAR QUE QUANDO SE DA UM PIRULITO PARA UMA CRIANCA OU UMA" MEIA ENTRADA" PARA UMA CLASSE DE FAVORECIDOS (FINANCIADOS PELOS NÃO FAVORECIDOS) E DIFICILIMO TIRÁ-LO DE VOLTA, QUASE IMPOSSIVEL..
SERIA  PRECISO MAIS DO QUE  UM SERGIO MORO PARA CONSEGUIR O MILAGRE.

Entrevista. Marcos Lisboa
'Brasil corre o risco de viver anos de baixo crescimento econômico' 

Para vice-presidente do Insper, política econômica atual, parecida com a implantada nos anos 1970, precisa ser revista.
ALEXA SALOMÃO
LUIZ GUILHERME GERBELLI
RICARDO GRINBAUM
O Estado de S.Paulo, 29 Março 2015 | 02h 03

Marcos Lisboa faz parte da ala dos economistas mais desencantados com o futuro da economia brasileira. No curto prazo, vê a necessidade de a equipe econômica evitar uma crise aguda no Brasil. Se o País passar por esse sufoco, acha que a década de 1980 - chamada de perdida - pode se repetir. "Eu acho que o Brasil corre o risco de, escapando da crise aguda, viver muitos anos de baixo crescimento", afirmou Lisboa.

Na vice-presidência do Insper, Lisboa foi secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda entre 2003 e 2005 e participou da equipe que promoveu ajustes na economia com uma agenda de reformas que permitiu, por exemplo, o avanço do crédito no País.

A seguir, trechos da entrevista concedida ao Estado.

Como o sr. analisa a economia?
O momento é de preocupação. Há o descontrole fiscal que, nos últimos anos, levou a essa inflação elevada, à estagnação da economia e que começa a afetar de forma preocupante o mercado de trabalho. Todo o esforço que existe hoje por parte da equipe econômica tenta evitar uma crise aguda.

É possível evitar a crise aguda?
Vai depender da capacidade de o governo fazer o ajuste fiscal firme. Na medida em que for feito, ajuda no combate à inflação. Infelizmente, nessa área, o Banco Central perdeu um pouco de credibilidade nos últimos anos, não só pela leniência com a inflação, mas pela falta de agenda. O BC fez uma condução atabalhoada da política monetária. Faz anúncios de juros para cá. Comunica outra coisa para lá. Sem falar das decisões infelizes, como o processo contra o Alex (Alexandre Schwartsman, ex-diretor de assuntos internacionais do BC que quase foi processado por ter criticado a instituição em seus artigos) e agora a história do Pastore (Affonso Celso Pastore, ex-presidente do BC, fez avaliação negativa sobre a instituição em um evento e foi criticado pelo presidente do BC, Alexandre Tombini). Com tudo o que a gente viu nos últimos anos, a sua capacidade de ter uma política eficaz é baixa. Perdi muitos amigos aqui.

O Tombini é amigo?  

Eu gosto de gente ali.

Quer comentar as polêmicas?
Não tenho muito a dizer. Acho lamentável. Já falei de passagem.

O sr. falou que é preciso ser firme com o ajuste fiscal. Está nos jornais a informação de que a presidente Dilma pode ceder em algumas medidas...
Há uma preocupação grande com a qualidade do ajuste. O descontrole que houve nos últimos anos foi grave. A gente saiu de um superávit primário de 3% do PIB para um déficit primário de 1,6% - sem levar em consideração receitas extraordinárias. Com as extraordinárias, são 0,6%. Estamos falando em R$ 200, R$ 300 bilhões de variação no gasto público. Reverter essa trajetória vai ser benéfico para tentar evitar uma crise aguda. Mas vai depender da capacidade de o governo negociar com o Congresso. Até agora, o que o Executivo conseguiu fazer são ajustes temporários. Agora, de fato, medidas estruturais são aquelas anunciadas em dezembro. Aquelas medidas, sim, vão gerar um ajuste fiscal sustentável para os próximos anos. Elas são suficientes? Não, estão longe de serem suficientes, mas vão na direção correta.

O sr. acredita que as medidas passam no Congresso?
Não sei, aí a entrevista teria de ser com um analista político (risos).

Política e economia estão se misturando. São duas crises paralelas e uma contaminando a outra.
Eu acho que isso é um pouco resultado da campanha. Venderam a ideia de que o Brasil teria recursos públicos para financiar de tudo, assim como teria água e energia. A má notícia? Os recursos públicos estão acabando, a água está acabando e a energia está acabando. Ao que parece, o governo ficou refém de um discurso, mas agora precisa trocá-lo. Vendeu uma coisa que não é capaz de entregar. É por isso que se faz um ajuste de maneira um pouco atabalhoada. Não há um plano claro, estruturado, com medidas de longo prazo que vão permitir não apenas evitar a crise aguda, mas retomar o crescimento. O que a gente tem é um conjunto de medidas que estão disponíveis para evitar o pior. São as melhores para o crescimento? Não. Mas são melhores do que não fazer. Infelizmente, vivemos o custo do que se vendeu na campanha eleitoral.

Para muitos, se o ministro da Fazenda, Joaquim Levy conseguir parte do que está prometendo é sinal de que consegue reverter a situação.
Foi grave o que fizeram nos últimos anos. Um ajuste fiscal profundo e relevante evita uma crise aguda, mas não retoma o crescimento. Essa crise não é igual a 1999 e 2003. Em 2003, tivemos uma bendita herança. Pegamos um país arrumado. Houve erros na gestão do Fernando Henrique Cardoso? Claro. Erros levaram ao racionamento de energia, por exemplo. Mas o governo de FHC assumiu o problema de frente: "Erramos, fizemos bobagem". Tiveram hombridade e liderança pública - o que não temos tido recentemente. Basta ver o caso da água em São Paulo ou o da energia no governo federal. Todo mundo tenta dar um jeitinho para evitar o racionamento. Agora, o problema fiscal é apenas a superfície de uma política econômica equivocada, que gerou uma série de distorções na atividade econômica.

Por quê?
Enquanto vários países procuraram arrumar a casa para sair da crise, a gente inventou que a crise não iria chegar aqui. Retomamos os mesmos mecanismos dos anos 70. Retomamos o nacional-desenvolvimentismo aplicado lá atrás: fecha a economia, protege, concede subsídios. Foram essas medidas que geraram aquela década e meia de atrasos pelos anos 80. Mas aquela crise forçou o País a enfrentar a realidade. Nos anos 90 vieram a abertura econômica, privatizações, agências reguladoras, equilíbrio fiscal e política monetária equilibrada. Este é um ponto importante. O Brasil viveu - com idas e voltas, avanços e retrocessos - uma trajetória de continuidade desde 1990. Infelizmente, veio a crise em 2008 e qual foi a resposta? Repetimos a mesma de 74 que tinha dado errado.

O sr. está querendo dizer que vamos viver outra década perdida?
Eu acho que o Brasil corre o risco de, escapando da crise aguda, viver muitos anos de baixo crescimento. O estrago que foi feito na produtividade é imenso. As pessoas estão muito preocupadas com a corrupção. A corrupção é a franja do problema. O estrago que a política nacional-desenvolvimentista fez na Petrobrás é incomparavelmente mais grave do que os números apresentados até agora pela corrupção. Não estamos falando de alguns bilhões de reais, mas talvez de centenas de bilhões de reais.

O que o sr. está vendo é uma situação como a dos anos 80?
Salvo o descontrole fiscal e monetário, sim. A desorganização é menos grave, mas a direção é a mesma.

Como se desmonta isso?
Esse tipo de política cria grupos de interesse. Estamos vendo o drama da indústria naval. Pela terceira vez, o Brasil tenta fazer uma indústria naval. A gente protege, dá um incentivo, dá um subsídio e cria regra de conteúdo nacional. Ainda assim, a indústria não se desenvolve. Mas condenamos o resto da economia a pagar mais caro pelo transporte naval. É o Custo Brasil. A política de proteção é benéfica apenas para quem recebe. Para o resto do País, é maléfica. Por que escolher empresas e setores para ter benefício? O ministro Levy, que é mais elegante do que eu, falou em patrimonialismo. Eu falo da meia-entrada. Todo mundo quer algum tipo de benefício e este governo apoiou essa proposta. Em parte, a culpa do que está aí é do governo, mas também da sociedade. O governo respondeu aos pedidos de grupos empresariais, de sindicatos, de entidades como a Fiesp. Eles foram a Brasília e falaram: "Baixa os juros, sobe o câmbio, concede proteção e estímulo que o País voltar a crescer". Pois é. Deu errado.

Há sinais de desmonte dessa visão econômica?
É difícil desmontar incentivos. Cada vez que você tentar, vai mexer com um grupo e provocar algum tipo de manifestação. Olha a discussão que se gerou por causa da mudança na desoneração da folha de pagamento. Existem propostas boas para desonerar a folha, mas conseguiram escolher a pior. Fizeram uma desoneração tecnicamente incompetente. Agora, para desmontar, vão ter de enfrentar os grupos de interesse.

Desafios da economia brasileira na interdependencia global - Paulo R. Almeida (Mundorama)

Meu pequeno diagnóstico -- negativo e pessimista, como deve ser, mas estou sendo redundante, não é? -- e algumas poucas prescrições de correção da situação econômica lamentável que vivemos atualmente. Como temos um governo totalmente inepto na condução dos processos políticos e econômicos -- com exceção de um ministro da Fazenda que tenta desesperadamente impor certas correções de curso -- não existe nenhuma chance, repito NENHUMA, de que o quadro pavoroso seja corrigido, sobretudo na educação, onde recém assumiu um ministro menos inepto do que a quase totalidade dos quadros companheiros. Estes levaram o Brasil para o buraco, inclusive e principalmente em termos de moralidade. Poderemos nos recuperar? Duvido, mas uma das respostas reside no dia 12 de Abril, ou seja, na contínua mobilização da verdadeira sociedade civil, não essas ONGs fajutas, esses sindicatos mercenários e mafiosos, e os neobolcheviques anacrônicos manipulados pelo partido totalitário.
Paulo Roberto de Almeida

Desafios da economia brasileira na interdependência global, por Paulo Roberto de Almeida

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A bonança dos anos 2000 e o início da crise econômica em 2008

A economia brasileira atravessou uma situação relativamente confortável a partir de 2004, depois que foram feitos os ajustes pós-crise-de 2002, justamente suscitados pelo ambiente de temor despertado pela vitória do Partido dos Trabalhadores nas eleições presidenciais daquele ano. Graças a uns poucos “neoliberais” do partido, mas também devido à gravidade da ameaça cambial e ao recrudescimento da inflação, as políticas econômicas foram mantidas – e até reforçadas – na exata linha do governo precedente, o de Fernando Henrique Cardoso.

Os efeitos positivos das reformas conduzidas na década anterior e dos ajustes feitos depois da crise cambial de 1999 permitiram ao Brasil aproveitar ao máximo a fase de maior crescimento da economia mundial desde os choques do petróleo dos anos 1970 e da crise da dívida externa dos países latino-americanos na década seguinte. Turbinado pela excepcional demanda chinesa por seus produtos primários, o Brasil voltou a conhecer taxas de crescimento que não via desde aquela época.

Até o momento da crise imobiliária, e logo em seguida financeira, nos Estados Unidos, a maior parte das commodities tinha alcançado o seu mais alto nível histórico, com picos jamais vistos antes: 600 dólares a tonelada de soja, por exemplo, ou 180 dólares a tonelada de minério de ferro, e também outros recordes para as demais matérias primas. O Brasil surfou na demanda chinesa, com uma média de crescimento de 4% ao ano aproximadamente. Em 2009, é verdade, a taxa de crescimento despencou, para menos de 1%, apenas para dar um salto quase “chinês” no ano seguinte: mais de 7% em 2010, o que permitiu a Lula, entre outras façanhas, eleger sua desconhecida candidata nas eleições presidenciais de outubro daquele ano.

Desde então, infelizmente, o desempenho da economia brasileira entrou numa fase medíocre, com crescimento de menos de 2% ao ano. Entre os fatores está, mas apenas em parte, a moderação nos preços dos produtos primários de exportação, convertidos novamente, depois de várias décadas, na principal fonte de divisas no comércio exterior. Concorre também a perda de competitividade industrial, uma vez que o Brasil se tornou um país muito caro – e não apenas devido ao câmbio valorizado – em vista da carga fiscal extremamente elevada sobre os processos produtivos: a palavra da conjuntura passou a ser desindustrialização. Na verdade, os problemas mais importantes derivam dos erros de política econômica cometidos pelo governo desde 2008, pelo menos, com um crescimento contínuo da extração tributária, das despesas do governo e de uma taxa de inflação constantemente acima da meta fixada pelo próprio governo.

Cabe com efeito recordar que, dentre os países em desenvolvimento, o Brasil possui uma carga fiscal típica de país rico, perto de 38% do PIB, para uma renda per capita cinco ou seis vezes inferior à dos países da OCDE. Pode-se mencionar igualmente um ambiente de negócios muito difícil para investidores e empresários em geral, dados os instintos intervencionistas e dirigistas tradicionais no Brasil mas exacerbados no Partido dos Trabalhadores. O fator principal, obviamente, se deve a que o Estado gasta sempre mais do que o crescimento do PIB e da inflação, et gasta mal, muito pouco em investimentos produtivos, e muito em despesas correntes, em especial subsídios a setores já privilegiados.

Em lugar de empreender reformas, os responsáveis políticos continuam distribuindo favores setoriais ou recorrendo a medidas protecionistas que apenas agravam a situação, já que elas provocam mais inflação e um grau ainda menor de competitividade externa para a indústria. Esta foi praticamente confinada ao Mercosul, tampouco protegido da competição externa, sobretudo da China; o bloco é também afetado pelas medidas ainda mais protecionistas da Argentina, que era o terceiro parceiro mais importante do Brasil, depois da União Europeia e dos Estados Unidos, todos eles suplantados desde 2009 pela China. Com o país asiático, o Brasil passou a manter uma relação comercial quase colonial, feita de 95% de matérias primas para lá, e de 95% de manufaturados para cá.

A balança comercial começou a se deteriorar, ela que constitui o único recurso em face de um déficit crônico na balança de serviços; a continuar a tendência negativa, mesmo as enormes reservas financeiras do Brasil podem não ser suficientes, uma vez que estão quase todas aplicadas em Treasury bonds, que produzem um retorno insignificante comparativamente ao custo fiscal de sua manutenção. O fato é que a situação econômica se agravou sensivelmente, com ameaças reais ao processo de estabilização iniciado pelo Plano Real em 1994: depois de quatro anos de desacertos na política econômica, o que se tem é um crescimento medíocre e uma inflação crescente.

Fatores positivos e debilidades estruturais da economia brasileira

O Brasil dispões de enormes recursos naturais, que permitem, no agronegócio – empurrado por avanços tecnológicos impressionantes nas últimas décadas – uma posição mundial invejável como grande exportador de produtos agrícolas, tanto não processados quanto elaborados. Com as possibilidades de produção de energia renovável – sobretudo em etanol et biodiesel – estão dadas as condições para um processo sustentado de crescimento baseado em suas vantagens comparativas e competitivas. O agrobusiness brasileiro pode ser um vencedor absoluto nos mercados mundiais, se ele não fosse contido por uma infraestrutura lamentável além da porteira das fazendas; seria possível melhorar nos próximos anos com investimentos adequados, inclusive estrangeiros, com base num regime atrativo de concessões.

As políticas industriais “stalinistas” do Partido dos Trabalhadores estão mudando por força da realidade, muito embora o processo de privatização conhecido nos anos 1990 não tenha mais chance de ser implementado novamente. Tais políticas anacrônicas ainda foram colocadas em vigor no setor do petróleo, cuja regulação foi totalmente alterada desde a descoberta das jazidas do pré-sal, uma imensa província petrolífera que demanda, entretanto, investimentos enormes, muito acima da capacidade da empresa estatal de petróleo, de resto mal administrada durante toda a era do lulo-petismo. Com a Petrobras ocorreu um dos processos mais clamorosos de desmantelamento gerencial, não apenas devido a decisões de investimento totalmente equivocadas, mas também em função de corrupção na mais vasta escala conhecida na história econômica do Brasil. Se o Brasil escapar da maldição do petróleo – o que pode estar sendo facilitado pela baixa dos preços do produto nos mercados mundiais – ele teria chances de recompor esse setor num sentido bem mais “norueguês” do que nigeriano ou venezuelano, como foi infelizmente o caso nos últimos anos.

A demanda mundial de alimentos e de energia vai constituir um poderoso fator de indução do aumento da oferta agrícola e energética renovável, tanto em função da extensão ainda mobilizável das terras agricultáveis, quanto em razão de ganhos de produtividade que vão continuar a se manifestar no agronegócio. Este será, certamente, a principal fonte de crescimento no futuro previsível, estimulando tanto a ciência aplicada, quanto equipamentos industriais e investimentos em infraestrutura.

Do lado das fraquezas e debilidades estruturais, elas são numerosas, e têm a ver, em primeiro lugar, com o peso desmesurado do Estado na esfera econômica em geral, nas decisões dos empresários, em especial. Na vida diária, o cidadão é esmagado por uma burocracia bizantina, sem serviços correspondentes ao recolhimento de impostos diretos e indiretos. O mais paradoxal é que os brasileiros amam o Estado, estão sempre pedindo mais políticas públicas e também sonham em se converter em funcionários públicos – por uma razão muito simples: os salários do setor público são, na média, cinco a seis vezes mais elevados dos cargos correspondentes no setor privado. No limite, as atividades econômicas no Brasil são estranguladas por uma espécie de fascismo corporativo que torna difícil o exercício de atividades empresariais (para comprovar, basta consultar o Doing Business do Banco Mundial, para se ter dezenas de exemplos concretos desse cenário). O Estado brasileiro, que no passado já foi um poderoso indutor do crescimento econômico, tornou-se, ao longo dos anos, o principal obstrutor do crescimento, com sua carga fiscal monstruosa, suas regulações intrusivas, não esquecendo a corrupção generalizada que se disseminou nos últimos anos.

Entretanto, o principal fator limitante – em relação ao qual existem razões para um pessimismo absoluto – se situa nos níveis de qualidade deploráveis da educação elementar e secundária: o Brasil ocupa, sistematicamente, os últimos lugares nos exames comparativos do PISA-OCDE, com resultados extremamente negativos mesmos nas escolas privadas, que deveriam ser, supostamente, bem melhores do que as escolas públicas. Até mesmo nas universidades existe um grau anormalmente elevado de analfabetos funcionais, o que repercute nos níveis medíocres de produtividade do trabalho. Como os resultados nessa área tardam a se materializar, desde que as políticas corretas sejam aplicadas, não existem nenhum risco de que essa situação venha a ser revertida no médio prazo, uma vez que políticas e medidas totalmente equivocadas são continuamente adotadas na esfera educacional.

Que chances teria o Brasil de superar sua condição de eterno emergente?

A solução parece residir num conjunto de reformas estruturais que teriam de ter sido iniciadas pelo menos depois da segunda estabilização do Plano Real, em 1999, quando se adotou um regime de metas de inflação, uma política de câmbio flutuante e a opção por uma política fiscal responsável. O fato é que esse tripé econômico foi desmantelado a partir de 2008, e precisa ser penosamente reconstruído em condições já não tão favoráveis quanto aquelas que vigoraram na maior parte dos anos 2000 justamente. Reformas econômicas são sempre possíveis de serem feitas sobre a base de uma autoridade política decidida e comprometida com políticas responsáveis, o que não parece ser o caso na atual conjuntura institucional.

As reformas mais importantes, contudo, se situam no plano administrativo – ou seja, do próprio Estado e do seu modo de funcionamento –, no terreno da legislação laboral e, sobretudo, no plano da educação, em todos os níveis, com destaque para os dois primeiros ciclos e o ensino técnico-profissional. Uma verdadeira revolução seria necessária em todos esses setores, o que não parece perto de acontecer por falta de consenso nacional em torno do caráter dramático da situação em todas essas áreas. Durante muitos anos, líderes políticos, dirigentes sindicais e membros da academia foram dominados por uma ideologia populista-distributivista antiquada, que se opõe ferozmente a conceitos como eficácia, produtividade ou cobrança de resultados.

No plano institucional, há o desafio de uma Constituição expressamente concebida para distribuir favores e benesses pela via estatal, o que implica necessariamente o crescimento das despesas públicas de maneira contínua e sistemática. No terreno da psicologia nacional, parece difícil vencer a mentalidade assistencialista que faz com que um quarto da população seja beneficiada com transferências diretas em moeda, que constituem bem mais um subsídio ao consumo do que propriamente uma indução à sua incorporação no mercado de trabalho. Outra deformação se manifesta nos gastos previdenciários, que já consomem uma parte considerável do PIB, sem que a fração idosa da população tenha crescido de maneira proporcional aos fluxos dirigidos para esse tipo de prestação estatal; em outros termos, o problema vai se agravar futuramente.

Por fim, um nacionalismo canhestro conduz o Brasil a uma introversão das mais negativas numa fase de integração produtiva requerida pela globalização capitalista. O Brasil, como nos tempos do stalinismo triunfante, pensa construir “um capitalismo num só país”, ou pelo menos assim pensam os atuais dirigentes políticos, ainda que os discursos sejam pela atração de investimentos e participação no comércio mundial. As exigências sempre presentes de conteúdo local e de preferência pela oferta nacional impõem um custo adicional ao setor produtivo brasileiro, de resto já isolado dos processos mais dinâmicos da interdependência global pela mentalidade canhestra da maior parte das elites políticas e econômicas. De fato, o Brasil não é um país tão atrasado no plano material quanto ele o é no plano mental de suas lideranças.

Se e quando o Brasil for capaz de superar os grilhões que o prendem a concepções econômicas anacrônicas, ele teria chances de começar uma lenta retomada de um processo sustentado de crescimento econômico. O principal fator impeditivo, cabe repetir, se situa num Estado extrator das riquezas alheias e predador das energias empresariais: enquanto o ogro famélico não for contido, o Brasil continuará um eterno emergente.

Paulo Roberto de Almeida é diplomata e professor do Centro Universitário de Brasília – Uniceub (@pauloalmeida53).