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domingo, 16 de abril de 2017

Roberto Campos no Estadao: artigos diversos

Começando pelo seu discurso de despedida do Congresso, pronunciado num plenário quase vazio da Câmara dos Deputados em janeiro de 1999, o Estadão reproduz uma série de artigos publicados pelo economista-diplomata-intelectual, neste link:
http://brasil.estadao.com.br/blogs/arquivo/roberto-campos-no-estadao/

Roberto Campos no Estadão

Edmundo Leite
O Estado de S. Paulo, 15 Abril 2017 | 16h28

Além de ser personagem de inúmeras reportagens durante sua trajetória de economista, diplomata, ministro, parlamentar e escritor, Roberto Campos (1917-2001) escreveu dezenas de artigos que foram publicados ao longo de mais de quatro décadas no Estadão. O seu discurso de despedida da vida parlamentar foi publicado na íntegra em 31 de janeiro de 1999.
“Comecei esse discurso dizendo de minha frustração por ter ao fim de três mandatos encontrado o país com os mesmos problemas do início. Isso me faz lembrar o famoso e quase intraduzível poema de T.S. Elliot, o ‘East Giddings’, no ‘Four Quartets’: “The end of all our exploring / Will be to arrive where we started / And know the place for the first time.” “O fim de toda a nossa busca / Será chegar ao lugar onde começamos / E ter a sensação de descobri-lo pela primeira vez”.

Estadão – 31.1.1999

Roberto Campos: lançamento de livro (17/04), e seminario (18/04/2017), no Rio de Janeiro

O Homem que Pensou o Brasil: itinerário intelectual de Roberto Campos
(Curitiba: Editora Appris: 2017)
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Seminário no Rio de Janeiro comemora o centenário do estadista, economista e diplomata Roberto Campos

Para comemorar o centenário de nascimento do economista e diplomata Roberto Campos (em 17 de abril de 1917), a Fundação Alexandre de Gusmão, com organização do IPRI, promove, em 18 de abril, na sede do Palácio Itamaraty, Rio de Janeiro, o seminário “Roberto Campos: o homem que pensou o Brasil”, com a participação de diversos autores do livro organizado por Paulo Roberto de Almeida, O Homem que Pensou o Brasil: itinerário intelectual de Roberto Campos (Curitiba: Editora Appris, 2017), ademais de outras personalidades que discutirão a importância do diplomata para a vida pública brasileira.


O evento começa às 9h com abertura pelo diretor do Instituto de Pesquisa Relações Internacionais (IPRI), Paulo Roberto de Almeida, e diversos outros representantes das entidades patrocinadoras (CEBRI, Instituto Millenium, IBGE, Academia Brasileira de Letras, IBGE). Em seguida, será aberta a primeira mesa de debates “O Intelectual” com o presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), Ernesto Lozardo; o docente na Faculdade Arthur Thomas, Londrina, Ricardo Velez Rodríguez; e o professor da Universidade de Brasília (UnB), Eduardo Viola.

A atividade de Roberto Campos como “Parlamentar” será o segundo tema de debate da homenagem. Para discorrer sobre o assunto, foram convidados o jornalista da Rede Globo e membro da Academia Brasileira de Letras (ABL), Merval Pereira, o embaixador Carlos Henrique Cardim e os professores da UnB, Antônio José Barbosa, consultor legislativo, e Paulo Kramer, assessor legislativo.

No início da tarde, a terceira mesa será composta pelo ex-presidente do Banco Central, Gustavo Franco; o economista e professor, Luiz Alberto Machado; o cientista político e professor da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Reginaldo Perez; e o diretor da Fundação Getúlio Vargas (FGV-RJ) Roberto Castello Branco, para discutir o lado “Estadista e modernizador” do diplomata.

Por fim, a vida de Roberto Campos será tratada em “O diplomata” com participação do ex-ministro da Fazenda, Marcilio Marques Moreira; a presidente da Associação dos Diplomatas Brasileiros (ADB), embaixadora Vitoria Alice Cleaver; o gestor público do Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão (MPOG), Rogério de Souza Farias; e o editor da Topbooks, José Mário Pereira.

Roberto Campos
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Formou-se em filosofia em 1934 e em teologia em 1937, nos Seminários Católicos de Guaxupé e Belo Horizonte. Mestrado em economia pela Universidade George Washington, Washington D. C. Ingressou no serviço diplomático brasileiro em 1939. Foi consagrado Doutor Honoris Causa pela Universidade de Nova York, em 1958, e pela Universidade Francisco Marroquim, Guatemala, 1996. Roberto Campos foi deputado federal pelo PPB, RJ, por duas legislaturas (1990 / 1998), após cumprir oito anos de mandato como senador (1982 / 1990) em Mato Grosso, sua terra natal. Além disso, foi embaixador em Washington e em Londres.

Participou, ao lado de Eugênio Gudin, do Encontro de Bretton Woods, que criou o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI), negociou os créditos internacionais do Brasil no pós-guerra (origem da Companhia Siderúrgica Nacional - Volta Redonda), coordenou as ações econômicas do Plano de Metas do Governo Juscelino Kubitschek e foi ministro do Planejamento e Coordenação Econômica durante o Governo Castelo Branco.

Defensor incondicional das liberdades democráticas e da livre iniciativa durante mais de 40 anos, em palestras, conferências, livros e artigos, Campos defendeu a inserção do Brasil no contexto da economia internacional, com base na estabilidade monetária, na redução do tamanho e da influência da máquina administrativa nas atividades produtivas e na modernização das relações entre o Estado e a sociedade.

Em seu mais comentado livro, “A Lanterna na Popa”, fez uma auto-avaliação da trajetória como diplomata, economista e parlamentar, descrevendo detalhes da convivência com John Kennedy, Margareth Thatcher, Castelo Branco, Juscelino Kubitschek, João Goulart e Jânio Quadros.

sábado, 15 de abril de 2017

Roberto Campos, cem anos: meu artigo no Estadao - Paulo Roberto de Almeida

Antecipando sobre o lançamento do livro, cuja informação segue abaixo, transcrevo meu artigo de opinião sendo publicado neste sábado no Estadão.




Roberto Campos, 100 anos: sempre atual

Paulo Roberto de Almeida
 O Estado de S. Paulo, 15 de abril de 2017

Em 17 de abril, Roberto Campos estaria completando cem anos. Sua vida pública estende-se do início de 1939, quando toma posse como diplomata, na primeira turma em concurso organizado pelo DASP – Departamento Administrativo do Serviço Público – até o final do século, quando ele se despede da Câmara dos Deputados, ao final de dois mandatos como representante de Mato Grosso e do Rio de Janeiro, e de um mandato inicial como senador pelo Mato Grosso, a partir de 1983. Campos foi um tecnocrata esclarecido, o mais iluminista de nossos intelectuais, um estadista exemplar, embora frustrado em suas inúmeras tentativas de reformar o Brasil, de retirá-lo de uma pobreza evitável para colocá-lo numa situação de prosperidade possível, como argumentou diversas vezes ao longo de meio século.
Minha interação com o grande brasileiro ocorreu apenas duas vezes, de forma direta, e intensamente, de forma indireta, ao longo de quase 50 anos, quando passei de um suposto opositor ideológico do então “serviçal da ditadura militar” – enquanto ministro do Planejamento do governo Castello Branco, ao defender ele o Programa de Ação Econômica do Governo, em uma faculdade de São Paulo – a um admirador de sua lógica impecável, na defesa de políticas econômicas racionais, quando o visitei na Câmara dos Deputados, em meados dos anos 1990, cinco anos antes de sua morte, em 2001. Nessa época, eu já tinha lido a maior parte de sua produção jornalística, os artigos semanais que ele publicou ao longo de mais de 50 anos nos grandes jornais do Rio e de São Paulo. Nos últimos meses, dediquei-me a ler seus ensaios mais eruditos, artigos de corte acadêmico e de análise econômica empiricamente embasada, a começar por sua tese de mestrado de 1947 – praticamente uma tese de doutorado, na opinião do grande economista austríaco Joseph Schumpeter – sobre flutuações e ciclos econômicos, defendida na George Washington University, quando ele servia na embaixada em Washington, em sua primeira remoção ao exterior pelo Itamaraty.
Como resultado dessa revisão completa de toda a sua obra escrita – e de diversas entrevistas gravadas nos meios de comunicação – pude compor metade de um livro organizado por mim, O Homem que Pensou o Brasil: trajetória intelectual de Roberto Campos (Curitiba: Appris), que reúne ainda contribuições de dez outros colaboradores que se dedicaram a discorrer sobre as diversas facetas de um intelectual completo, provavelmente o maior do Brasil na segunda metade do século XX. Nele, o professor de história da UnB e assessor legislativo Antonio José Barbosa dedica-se por exemplo a examinar seu perfil parlamentar, a última etapa de uma vida inteiramente dedicada a tentar fazer do Brasil um país menos injusto, uma economia mais desenvolvida, uma nação mais integrada na grande interdependência global. O jovem historiador Rogério de Souza Farias examina a participação de Roberto Campos na comissão de reforma institucional do Itamaraty, na primeira metade dos anos 1950, quando ele tenta aplicar alguns dos procedimentos seguidos pelo diplomata americano George Kennan, então responsável pela área de planejamento político no Departamento de Estado. Ricardo Vélez-Rodríguez, outro colaborador, focaliza o patrimonialismo na visão de Roberto Campos, um dos cinco “ismos” negativos, junto com o protecionismo, o nacionalismo, o corporatismo e o estatismo, a comprometer o desenvolvimento sustentado do Brasil.
Em todas as demais contribuições a essa obra – de Antonio Paim, de Ives Gandra Martins, de Reginaldo Teixeira Perez, de Carlos Henrique Cardim, de Roberto Castello Branco, Rubem Freitas Novaes e Paulo Kramer, que traça um paralelo entre Campos e Raymond Aron – transparece a profunda adequação dos diagnósticos e das prescrições do economista e diplomata à atualidade dos problemas brasileiros, de uma maneira até angustiante, ao constatarmos que tudo o que ele dizia, desde meados dos anos 1950 até seus últimos anos, aplica-se quase que de maneira perfeita aos desafios que enfrentam os dirigentes do governo Temer, depois da Grande Destruição produzida pelas irresponsáveis administrações lulopetistas. Campos, que teve sobre Raymond Aron a sorte de ver suas previsões sobre a inviabilidade do socialismo enquanto regime econômico e político confirmadas pelo veredito da história, teve a duvidosa “felicidade” de não assistir ao desmantelamento da frágil estabilidade criada pelo Plano Real sob os golpes combinados da inépcia e da corrupção dos governos lulopetistas.
No dia do centenário de Roberto Campos, um outro livro, Lanterna na Proa, organizado por Paulo Rabello de Castro e Ives Gandra Martins (Editora Resistência Cultural), também será lançado, trazendo as contribuições de mais de sessenta autores sobre igual número de aspectos da vida e da obra do diplomata que assistiu à criação da ordem econômica contemporânea, em Bretton Woods, em 1944 (objeto de um dos meus textos), que participou do exercício pioneiro de planejamento econômico no âmbito da Comissão Mista Brasil-Estados Unidos, que dirigiu e presidiu ao BNDE (outro dos meus capítulos no mesmo livro) e que exerceu, com Octávio Gouvêa de Bulhões, a liderança do maior esforço de reforma e de modernização da economia brasileira, em meados dos anos 1960. Os dois livros, diferentes em estilo mas animados do mesmo espírito de recuperação dos argumentos pertinentes de Campos em prol da superação das diversas crises econômicas a que assistiu desde a Segunda Guerra, trazem detalhes de como ele formulou suas recomendações de políticas públicas sem qualquer vezo ideológico, ou obsessão com a austeridade, apenas animado por sua postura eclética e abertura aos dados da realidade.
Aos cem anos, Roberto Campos ainda vive. Vale relê-lo...

[Brasília, 9 de abril de 2017]

quinta-feira, 13 de abril de 2017

Lava Jato: todas as informacoes e mais algumas - Jota

JOTA
 
 
 
Lava Jota
 
TODOS TODAS
os nomes as listas
 
O maior banco de dados da
 
LAVA JATO
 
 http://jota.us8.list-manage2.com/track/click?u=4911ce1e520f5bf26dd891c79&id=b8cec85160&e=7cdc29971e 

   Acesse os nomes e faça buscas por processos e inquéritos no STF, no STJ, nos TRFs do Paraná, do Rio e do DF. Assista aos vídeos das delações e veja a relação entre cada processo. 

Mais de três anos de processos e investigações online: a lista de Janot, os processos já finalizados e em andamento sob Sérgio Moro, Marcelo Bretas, TRFs e tribunais superiores.
 
Pesquise tudo sobre a Lava Jato
 
Quase todos os documentos divulgados pelo STF nesta semana já estão no banco de dados – e você pode filtrar sua busca para pesquisar apenas dentro deles. 

Já subimos também diversos vídeos e, nas próximas horas, serão acrescentados vários outros.
 
Todos os processos, até os mais recentes, estão disponíveis
 
 http://jota.us8.list-manage1.com/track/click?u=4911ce1e520f5bf26dd891c79&id=f2678f03ad&e=7cdc29971e
 
Uma realização JOTA e Digesto, com tecnologia Power BI, da Microsoft e parceria com a Transparência Internacional.

O assalto gramsciano ao Brasil - Olavo de Carvalho

Recordações inúteis
Olavo de Carvalho
Diário do Comércio, 7 de março de 2012

Uma fraqueza crônica do pensamento liberal é que, em sua resistência obstinada e não raro heróica ao crescimento do poder estatal, acaba por fazer vista grossa ao fato de que nem sempre os movimentos revolucionários e ditatoriais concentram o poder noEstado, mas às vezes fora dele. Na verdade, nenhum movimento poderia se apossar do Estado se primeiro não se tornasse mais poderoso que ele, criando meios de ação capazes de neutralizar e sobrepor-se a qualquer interferência estatal adversa, bem como, é claro, de manobrar o Estado desde fora e utilizá-lo para seus próprios fins. Qualquer principiante no estudo do leninismo sabe disso.
Que a esquerda petista e pró-petista estava destinada a dominar por completo o Estado brasileiro sem encontrar a mais mínima resistência, é coisa que para mim já estava clara pelo menos desde 1993, quando as famosas CPIs mostraram ser o nosso Parlamento nada mais que um bichinho dócil às injunções da grande mídia, alimentada e manobrada por sua vez pelo onipresente e onissapiente serviço de informações do PT. Foi naquele ano que publiquei A Nova Era e a Revolução Cultural, dando ciência – a quem não desejava ciência nenhuma, por achar que já possuia todas – de que a petização integral do Brasil era apenas questão de tempo. Mal havia então, entre os liberais, quem imaginasse sequer que o PT pudesse vir a ter alguma chance de eleger um presidente da República. E todos me olhavam como a um egresso do Pinel quando eu lhes dizia que, quando isso viesse a acontecer, como fatalmente aconteceria, seria numa ocasião em que o Estado já estivesse completamente dominado por dentro e por fora, a conquista do governo federal nada mais constituindo que a oficialização derradeira de um fato longamente consumado.
Enquanto isso, a intelectualidade liberal gastava todos os seus neurônios no empenho idealístico de defender no plano doutrinário a economia de mercado e a liberdade democrática, duas coisas que a esquerda nem pensaria em atacar muito seriamente naquele momento, já que precisava de ambas para poder parasitá-las e continuar crescendo até ficar forte o bastante para subjugá-las, deformá-las e, no devido tempo (que só agora está chegando) extingui-las.
Havia até quem celebrasse a proliferação das ONGs como um progresso notável da democracia liberal, na medida em que, consagrando as vias não-oficiais de ação social e política, fortalecia a sociedade civil contra as pretensões avassaladoras do gigantismo estatal.
Em vão advertia eu a essas criaturas que a “sociedade civil” era o terreno de escolha para a penetração das forças revolucionárias, decididas a só se lançar à conquista do poder de governo quando estivessem seguras de controlar, por vias não-oficiais, todos os meios possíveis de modelagem da opinião pública, assim como todos os canais de financiamento estatal e privado de uma multidão de empreendimentos revolucionários maiores e menores, setorizados e discretos o bastante para que seu efeito de conjunto simulasse uma transformação espontânea da mentalidade popular. A própria disseminação do termo, insistia este insano colunista, refletia a influência crescente e anônima do pensamento de Antonio Gramsci, naquela época já o autor mais estudado e mais citado em todas as faculdades de letras e de ciências humanas no Brasil, só ignorado por aqueles que mais interesse deveriam ter em defender-se da revolução gramscista.
O primeiro sinal de que alguém havia me prestado alguma atenção não veio senão decorrida quase uma década, e não veio dos liberais. Um artigo memorável do general José Fábrega, publicado em jornal de pequena circulação, mostrou que entre os militares havia ainda alguma inteligência desperta, o que veio a se comprovar nos anos seguintes com os dois livros espetaculares, tecnicamente perfeitos, do general Sérgio Augusto de Avelar Coutinho, A Revolução Gramscista no Ocidente (Rio, Estandarte, 2002) e Cadernos da Liberdade (Belo Horizonte, Grupo Inconfidência, 2004), infelizmente publicados tarde demais para poder inspirar qualquer ação eficaz contra o projeto de controle hegemônico da sociedade brasileira, àquela altura já praticamente vitorioso. O general Coutinho faleceu em 27 de dezembro de 2011 (v. http://www.forte.jor.br/tag/general-sergio-augusto-de-avellar-coutinho/), amargurado de ver a facilidade estonteante com que a malícia organizada – que a estratégia de Gramsci não passa disso – havia se apoderado do país. O que mais o entristecia era que um processo de dominação tão óbvio, tão patente, tão bem explicado de antemão e tão fácil de compreender, pudesse ter sido aplicado a toda uma nação de maneira tão anestésica e imperceptível que qualquer gemido de protesto acabasse soando como extravagância intolerável e quase sinal de demência. Se no resto do mundo a vida imita a arte, no Brasil ela imita a piada: nossa democracia realizou à risca, com séculos de atraso, a boutade de Jonathan Swift sobre o cidadão que morreu mas, não tendo sido avisado disso, continuava acreditando que estava vivo.

ONZE inqueritos contra o mafioso, cleptocrata, bandido: precisa chegar a 13...

Onze já está de bom tamanho, mas porque não chegar a TREZE inquéritos?:

OS ONZE PEDIDOS DE INQUÉRITO CONTRA LULA
O Antagonista, 12.04.2017

1) LULA: O PRIMEIRO INQUÉRITO
Brasil 12.04.17 06:25
O primeiro e mais importante inquérito contra Lula relata os pagamentos de propina à ORCRIM comandada por ele.
Os pagamentos foram detalhados por seis delatores.
Marcelo Odebrecht fala sobre Lula e seus dois gerentes - Antonio Palocci e Guido Mantega - em 15 termos de depoimento.

2) LULA: O SEGUNDO INQUÉRITO
Brasil 12.04.17 06:36
O segundo pedido de inquérito contra Lula trata dos pagamentos de propina por meio de palestras fraudulentas, a reforma do sítio em Atibaia e a compra do prédio do Instituto Lula.

3) LULA: O TERCEIRO INQUÉRITO
Brasil 12.04.17 06:52
O terceiro inquérito contra Lula trata dos 4 milhões de reais repassados ao Instituto Lula pelo departamento de propinas da Odebrecht.

4) LULA: O QUARTO INQUÉRITO
Brasil 12.04.17 06:59
O quarto inquérito contra Lula é aquele que envolve os pagamentos de propina para seu irmão, Frei Chico.
Não se trata de uma simples esmola.
Como explica Edson Fachin, "os pagamentos eram efetuados em dinheiro e contavam com a ciência do ex-presidente da República", e podem ser enquadrados no mesmo contexto dos repasses espúrios em favor do PT.

5) LULA: O QUINTO INQUÉRITO
Brasil 12.04.17 07:10
O quinto pedido de inquérito contra Lula trata de seu trabalho como lobista da Odebrecht junto a Dilma Rousseff.
No caso, ele tentou beneficiar a empreiteira na hidrelétrica de Jirau, mas fracassou, porque Dilma Rousseff já havia favorecido uma concorrente.

6) LULA: O SEXTO INQUÉRITO
Brasil 12.04.17 07:19
O sexto inquérito contra Lula trata do pagamento de propina para a campanha de Fernando Haddad, em 2008.
Não é uma caso de caixa 2.
A empreiteira repassou dinheiro a João Santana em troca de "medidas legislativas favoráveis aos interesses da companhia".

7) LULA: O SÉTIMO INQUÉRITO
Brasil 12.04.17 07:25
O sétimo inquérito contra Lula apura o assalto à Sete Brasil.
De acordo com Marcelo Odebrecht, Lula decidiu ratear a propina de 1% sobre o valor dos contratos entre os funcionários da estatal e o PT.
Marcelo Odebrecht negou-se a fazer esse pagamento porque já havia repassado propina a Antonio Palocci e João Vaccari Neto.

8) LULA: O OITAVO INQUÉRITO
Brasil 12.04.17 07:32
O oitavo pedido de inquérito contra Lula revela sua tentativa de obstruir a Lava Jato aprovando a MP 703, cujo propósito era anistiar as empresas corruptoras que assinassem acordos de leniência com a União.
Nesse caso, ele será investigado juntamente com Jaques Wagner.

9) LULA: O NONO INQUÉRITO
Brasil 12.04.17 07:38
O nono pedido de inquérito contra Lula é uma beleza: os 3 milhões de reais pagos pelo departamento de propinas da Odebrecht à Carta Capital.
Leia um trecho da PET 6715 e, em seguida, veja Mino Carta no seminário do PT dizendo que a Lava Jato é a alavanca do golpe.

10) LULA: O DÉCIMO INQUÉRITO
Brasil 12.04.17 07:46
O décimo inquérito contra Lula trata do dinheiro que o departamento de propinas da Odebrecht repassou para seu filho, Luleco.
Em troca desses pagamentos, Lula se comprometeu a fazer tráfico de influência junto a Dilma Rousseff.

11) LULA: O DÉCIMO-PRIMEIRO INQUÉRITO
Brasil 12.04.17 08:00
O décimo-primeiro inquérito contra Lula imputa-o de tráfico de influência internacional para favorecer a Odebrecht em Angola.

OCDE: o Brasil no caminho da acessao?: seminario no Itamaraty sobre o acesso

Estou assistindo a um interessante seminário no Itamaraty (ao lado do meu escritório de Diretor do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais, IPRI-Funag), sobre as condições de acesso do Brasil à OCDE, com exposição e explicações de Nicola Bonucci, do Secretariado da OCDE, e condução da Subsecretaria de Assuntos Econômicos e Financeiros do Itamaraty.
Estes são os membros da OCDE atualmente:

Este é um trabalho que elaborei muitos anos atrás sobre as três grandes entidades da globalização:


506. “OCDE, UNCTAD e OMC: uma perspectiva comparada sobre a macroestrutura política das relações econômicas internacionais”, Porto Alegre, 16 dezembro 1995, 42 pp; 2a. versão revista: Brasília, 22 de dezembro de 1995, 45 p. 3a. versão revista: Brasília, 6 agosto 1996, 49 p. Texto analítico sobre o conteúdo formal e substantivo das agendas respectivas das três organizações, em perspectiva histórica, com vistas a definir possível convergência nos trabalhos de cada uma delas. Publicado no livro editado pelos Profs. Paulo Borba Casella e Araminta de Azevedo Mercadante (coords.), Guerra Comercial ou Integração Mundial pelo Comércio? A OMC e o Brasil (São Paulo: Ltr Editores, 1998, pp. 149-198). Disponível na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/5782891/007_OCDE_UNCTAD_e_OMC_uma_perspectiva_comparada_sobre_a_macroestrutura_pol%C3%ADtica_das_rela%C3%A7%C3%B5es_econ%C3%B4micas_internacionais_1998_). Relação de Publicados nº 225.

Ao mesmo tempo eu preparava uma tese do Curso de Altos Estudos, recomendando essa política de aproximação, para preparar um processo de acessão em algum momento. Não preciso dizer que, em 1996, minha tese foi recusada pela Banca, por razões obscuras...

 
509.Brasil e OCDE: uma interação necessária”, Brasília, 21 janeiro 1996, 4 p. Requerimento de matrícula para a elaboração de tese do Curso de Altos Estudos do Instituto Rio Branco (XXXII CAE), constando de exposição do temário, pontos a serem desenvolvidos, metodologia e fontes. Anexo: esquema e estrutura proposta da segunda versão do trabalho de CAE com divisão preliminar em capítulos. Texto revisto em Brasília em 31 de janeiro de 1996. Encaminhado ao IRBr em 8 de fevereiro de 1996. Aceito como projeto de tese de CAE; elaborado, sem nenhuma modificação do projeto original, nos meses de junho e julho de 1996. 

Eis o registro da  apresentação e da desaprovação da banca do CAE: 

530.Brasil e OCDE: uma interação necessária”, Brasília, 15 julho 1996, 290 p. (texto + anexos: notas, bibliografia, complementos informativos e apêndices estatísticos). Tese apresentada ao XXXII Curso de Altos Estudos do Instituto Rio Branco. Depositada no IRBr em 15 de julho de 1996, aceita para arguição oral em 19 de setembro (Carta IRBr/457), com fixação da defesa para o período de 24 de outubro a 6 de novembro; defendida em 29 de outubro 1996 de 1996. Reprovada pela Banca; feito Memorial sobre o processo de avaliação (Trabalho n° 540). Tomo 3. Disponibilizado em Academia.edu (2/06/2015; link: https://www.academia.edu/5659888/530_Brasil_e_OCDE_uma_interacao_necessaria_-_tese_CAE_1996_); Informado no blog Diplomatizzando (2/06/2015; link: http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2015/06/brasil-e-ocde-uma-interacao-necessaria.html) e via Facebook (https://www.facebook.com/paulobooks/posts/948031168593667).

 Assim vai a vida...
Paulo Roberto de Almeida 

Ricardo Bergamini analisa o atual impasse politico em torno da crise brasileira

O impasse institucional será inevitável

Ricardo Bergamini

Os obstáculos institucionais a um planejamento integrado e abrangente são:
A existência de subdivisões políticas autônomas.
A inadequação do mecanismo de implementação. 

Ainda que os planos sejam concebidos por técnicos, têm de ser implementados através da máquina burocrática, que no Brasil partilha de natureza de burocracia “prismática”, preocupada mais em alcançar “status” que com exibir “desempenho”, e que não se ajusta facilmente aos objetivos nacionais da chamada burocracia “Weberiana”, dos países desenvolvidos, com seu enfoque racional e estruturas especializadas.

Falta de um mecanismo político de formação de consenso
Impregnados de facciosismo e personalismo, os partidos tradicionais provaram-se incapazes do esforço de formação de consenso necessário ao estabelecimento de um compromisso político com determinados objetivos de planejamento, e posteriormente com a continuidade de implementação das metas.

A instabilidade política
Em vista da ausência de um mecanismo de formação de consenso político, representando os planos, portanto, pouco mais que um comprometimento pessoal do chefe do executivo, a instabilidade de liderança tem efeito devastador sobre o esforço de planejamento. Donde nosso ceticismo sobre a relevância de esforços de planejamento num contexto político instável, no máximo existirá enfoques mais modestos, construídos sobre “ilhas de racionalidade”.
Nas democracias políticas – e isso também se aplica aos regimes autoritários onde existe um vigoroso setor privado – mesmo os planos nacionais mais abrangentes são meramente indicativos no tocante ao setor privado, e muito mais coordenativo do que compulsórios em relação a estados e subdivisões políticas.
Isto é verdadeiro ainda que o mecanismo de implantação burocrática permaneça patentemente inadequado, enquanto que a possibilidade de obter consenso político é habitualmente confinada a objetivos gerais, sem implicar um comprometimento operacional válido dos partidos políticos.

Convirá a esta altura considerar os obstáculos maiores que se antepõem a uma formulação e implementação eficaz de planos de desenvolvimento. 
Esses obstáculos são de tríplice natureza: ideológicos, técnicos e institucionais. 
Basta um simples comentário sobre possível mudança, e já surgem defesas intransigentes de grupos de poder na luta por seus imorais privilégios. Raramente havendo espaço para o debate técnico, normalmente desqualificado por esses grupos de poderes vitalícios no Brasil. 

Ricardo Bergamini

(recebido em 13/04/2017)