O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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sábado, 3 de fevereiro de 2018

Artigos publicados em Mundorama (2010-2017) - Paulo Roberto de Almeida

Procurando um texto que escrevi para Mundorama, e que ainda não encontrei, cai numa lista de textos antigos e mais recentes, que transcrevo abaixo:

http://www.mundorama.net/?s=Paulo+Roberto+de+Almeida 

Desafios externos ao Brasil no futuro próximo, por Paulo Roberto de Almeida 

04/12/2015 0
Neste artigo da série Mundorama 100, Paulo Roberto de Almeida avalia os grande desafios para o Brasil, da trajetória errática de crescimento às tarefas a cumprir no plano internacional. […]







Acho que basta, o resto pode ser buscado no site de Mundorama...

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 28/11/2017

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

Secretario de Estado dos EUA acusa a China de ser... imperialista! Seria uma piada?

Como diriam os latinistas, De te fabula narratur.
O Secretário de Estado americano acusa a China de fazer aquilo que os EUA fizeram durante décadas...

  • ”Ataque à China marca início da viagem de chanceler dos EUA à América Latina” - A China é um ator “predatório”, que oferece à América Latina um modelo de desenvolvimento que pode levar à “dependência e ao endividamento”. Foi com essas críticas que o secretário de Estado dos EUA, Rex Tillerson, iniciou ontem seu tour de seis dias por países da região, palco de uma nova disputa geopolítica. “A América Latina não precisa de novos poderes imperiais”, disse. As declarações foram dadas horas antes do início da viagem, que não inclui o Brasil. Na agenda, uma das prioridades será a Venezuela. Poucas horas antes de embarcar, Tillerson levantou a possibilidade de um golpe militar para pôr fim à crise venezuelana e garantir uma “transição pacífica” de poder. “Na história da Venezuela e de outros países da América Latina, com frequência são os militares que cuidam disso. Quando as coisas estão tão ruins que a liderança militar conclui que não pode mais servir aos cidadãos, eles devem administrar uma transição pacífica”, declarou durante apresentação da estratégia dos EUA para a região. “Se isso será ou não o caso aqui, eu não sei.”
  • Em sua primeira visita à América Latina, o chefe da diplomacia dos EUA passará por México, Argentina, Peru, Colômbia e Jamaica. Fontes ouvidas pelo Estado disseram que o Brasil não foi incluído em razão da crise política e da ausência de uma agenda bilateral que pudesse produzir resultados concretos. “O Brasil está em uma fase de transição, com um governo fraco e impopular, cuja legitimidade é questionada”, disse Michael Camilleri, diretor do programa de Estado de Direito do Inter-American Dialogue, que trabalhou no Departamento de Estado de 2012 a 2017. “Até que as coisas se assentem, não há muito o que fazer no Brasil.” Em conferência telefônica com analistas, uma fonte da diplomacia americana também disse que os EUA deram prioridade a países que estão aprovando reformas, como a Argentina. Quando visitou a região no ano passado, o vice-presidente Mike Pence também excluiu o Brasil do roteiro.
  • As declarações de Tillerson em relação à China representam uma mudança radical da retórica dos EUA em relação à crescente influência do país na região. “A China está usando instrumentos de governo para puxar a região para a sua órbita”, afirmou, fazendo referência à ação de estatais e a empréstimos. “A questão é a que preço?”

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

"Estudo" da Oxfam sobre concentracao de renda tem problemas - Carlos Goes

Análise 

Pesquisa sobre concentração de renda deve ser vista com cautela

CARLOS GÓES
ESPECIAL PARA A FOLHA, 1/02/2018

Todos os anos, quase sempre em um período concomitante ao Fórum Econômico Mundial, a ONG inglesa Oxfam divulga seu relatório acerca da desigualdade global. 
O documento apresenta dados que parecem demonstrar um aumento na concentração de riquezanas mãos de dezenas de bilionários em detrimento de grande parte da população mundial. 
Apesar de ter bastante impacto em manchetes, é preciso ter muito cuidado ao interpretar esses dados. Eles não significam aquilo que parecem à primeira vista. A realidade é mais complicada do que as manchetes fazem transparecer. 
A Oxfam utiliza dados do Relatório Global sobre Patrimônio, produzido pelo banco Credit Suisse. Mas há duas questões importantes a serem consideradas ao interpretar esses dados. 
A primeira é de ordem conceitual. É usado o conceito de riqueza líquida (ou seja: patrimônio menos dívidas). 
Segundo essa metodologia, alguém que se formou em Harvard, vive numa cobertura em Nova York e ganha US$ 100 mil por ano, mas tem US$ 250 mil em dívidas estudantis, seria mais pobre que um camponês indiano que tem uma bicicleta, vive com US$ 1 por dia e não tem dívida. 
Não importa se o advogado recém-formado gasta centenas de dólares tomando uísque 18 anos quando sai com os amigos. Para a Oxfam, ele é mais pobre que o camponês indiano. 
A pergunta é: esse conceito faz sentido para definir quem é pobre e quem é rico? Certamente não. 
De acordo com qualquer critério razoável, o advogado nova-iorquino tem padrões de consumo em ordens de magnitude mais altas do que a do camponês indiano. Mas, como suas dívidas superam seus bens, ele é considerado "mais pobre" que o camponês indiano pelo conceito adotado pela Oxfam. 
Usando essa metodologia, por exemplo, Eike Batista, cujas dívidas superam seus bens em cerca de US$ 1 bilhão, seria considerado um dos homens mais pobres do Brasil. 
Isso acaba levando a uma distorção importante. Segundo esse critério, a maioria das pessoas com patrimônio negativo (o que as colocaria entre as mais pobres do mundo) está em países desenvolvidos. Porém, cidadãos de países ricos têm acesso a crédito (e, logo, a dívidas) exatamente porque eles são mais ricos, não o contrário. 
Por isso, é preciso tomar muito cuidado ao interpretar os dados, já que eles não indicam as diferenças de padrões de vida que entendemos intuitivamente como pobreza e riqueza. 
A segunda questão é de ordem técnica. Ao contrário de dados sobre a renda, a grande maioria dos países não tem dados completos sobre patrimônio. Esse fato limita a confiabilidade das estatísticas sobre a riqueza.
Segundo o relatório da Credit Suisse, só 23 países têm estimativas completas de riqueza do setor privado. Outros 25 países têm dados parciais, detalhando a riqueza financeira, mas não sobre a riqueza não financeira. 
Nos EUA, a riqueza não financeira é de cerca de 1/3 da riqueza total, o que significa que ignorar a parte não financeira é ignorar boa parte da realidade. Para os outros 150 países do estudo, fizeram extrapolações —que não são inúteis, mas têm muitas limitações e erro de mensuração grande.
BRASIL
Para o Brasil, as limitações dos dados são ainda maiores. Não há informações sobre patrimônio não financeiro —como casas, fazendas, carros, propriedade de micro e pequenas empresas— para nem sequer um ano. Ou seja, para boa parte do patrimônio dos brasileiros, em especial os que não são super-ricos, simplesmente não há estimativas ou pesquisas oficiais disponíveis.
A verdade para além das manchetes é que, numa perspectiva global, segundo os dados de melhor qualidade disponíveis, aqueles sobre a desigualdade de renda, o mundo está se tornando mais igual há pelo menos 40 anos. Isso tem ocorrido porque, durante o período de maior intensidade da globalização, os países mais pobres e populosos, como a China, a Índia e, em menor medida, aqueles da África e da América Latina, têm tido taxa de crescimento na renda média mais velozes do que aquelas dos países mais ricos.
Por causa dessa grande força de convergência na economia internacional, a desigualdade do mundo como um todo tem caído.
 
CARLOS GÓES é pesquisador-chefe do Instituto Mercado Popular e se especializa em desigualdade de renda e mobilidade social.

O Itamaraty na cultura brasileira: um livro, uma nova edicao

Mais uma apresentação das muitas que fazemos no IPRI, desta vez como embaixador João Almino:


Essa palestra, inaugurando a série dos "Diálogos Internacionais" de 2018, me deu a ideia de relançar, em nova edição ampliada, este livro de título homônimo:
O Itamaraty na Cultura Brasileira 

Organizador: Alberto da Costa e Silva
 Brasília: Instituto Rio Branco, 2001

Sumário

O Itamaraty na Cultura Brasileira
Celso Lafer *15

Diplomacia e Cultura
Alberto da Costa e Silva *26

Varnhagen, História e Diplomacia
Amo Wehing *40

Ritmos de Uma Vida: Brazílio Itiberê da Cunha Músico e Diplomata
Celso de Tarso Pereira *58

Joaquim Nabuco
Evaldo Cabral de Mello *88

Pai e Filho
Sérgio Martagão Gesteira *106

Aluízio Azevedo, A Literatura como Destino
Massaud Moisés *136

Domício da Gama
Alberto Venancio Filho *158

Oliveira Lima e Nossa Formação
Carlos Guilherme Mota *180

Gilberto Amado Além do Brilho
André Seffrin *198

A Vida Breve de Ronald de Carvalho
Alexei Bueno *214

Ribeiro Couto, o Poeta do Exílio
Afonso Arinos Filho *232

Viagem à Beira de Bopp
Antônio Carlos Secchin *252
Guimarães Rosa, Viajante
Felipe Fortuna *270

Antônio Houaiss, A Cultura Brasileira e a Língua Portuguesa
Leodegário A. de Azevedo Filho *288

Vinícius de Moraes, O Poeta da Proximidade
Miguel Sanches Neto *302

Vinícius, Poeta e Diplomacia, na Música Popular
Ricardo Cravo Albin *316

João Cabral, um Mestre sem Herdeiros
Ivan Junqueira *336

O Fenômeno Merquior
José Mario Pereira *360

Os Autores *380

Expediente:
Ministro de Estado das Relações Exteriores
Celso Lafer

Secretário Geral das Relações Exteriores
Luiz Felipe de Seixas Corrêa

Diretor do Instituto Rio Branco
André Mattoso Maia Amado

Realização
Instituto Rio Branco

Produção Executiva
Arte 21 – Escritório de Arte e Projetos Culturais

Coordenação Geral de Produção
Karla Osório Netto

Programação Visual
Lumen Argo – Arte e Projeto Evandro Salles




Caberia, na verdade, agregar alguns outros nomes, como por exemplo o embaixador e economista Roberto Campos, e os embaixadores Vasco Mariz, Lauro Escorel e Meira Penna.

Paulo Roberto de Almeida 

Diplomats Are Made, Not Born - Nicholas Kralev (NYT)

Opinion | OP-ED CONTRIBUTOR

Diplomats Are Made, Not Born



Angelina Jolie, a filmmaker and special envoy of the United Nations High Commissioner for Refugees, with NATO Secretary General Jens Stoltenberg in Brussels, on Wednesday.CreditEmmanuel Dunand/Agence France-Presse — Getty Images

 

Diplomacy and politics may go hand in hand, but their partnership isn’t one of equals. It is logical — especially in a democracy — for a country’s diplomacy to serve its political leaders. Sometimes, however, smart leaders allow diplomacy to influence politics.
For that influence to be truly worthwhile, governments around the world must solve an acute problem: Global diplomacy today is not very effective, in part because it is misunderstood and starved of resources. The best diplomacy carries out foreign policy professionally, yet most countries let amateurs practice it.
I’m talking about appointees who receive diplomatic posts thanks only to political connections. To resolve at least some of the many conflicts, disputes and other problems around the world, governments must start building or strengthening professional diplomatic services, providing them with proper training and career development, and giving them all the tools, resources and authority necessary to get the job done.
Few countries come close to this standard today. No one is born with the ability to practice international diplomacy — to manage a country’s relations with other states, understand and engage foreign societies, influence governments and publics, conduct difficult and consequential negotiations, anticipate threats and take advantage of opportunities. These are skills that have to be acquired.
The mantra among career diplomats has long held that on-the-job training — not lessons in a classroom — is the only way to learn how to practice diplomacy. As a result, many countries’ official representatives don’t get anything that resembles proper training before they are posted abroad. They are left to figure things out as they go along, taking months or even years to get a decent grasp of what exactly their job entails.
Some governments have outsourced a big part of diplomats’ work to lobbyists and consultants. Many embassies in Washington use the costly services of public relations firms to do their bidding. At the same time, some of their own employees arrive with barely any knowledge about how Washington works and how to navigate the government bureaucracy. Another recent trend — no doubt following an example of a regrettable American practice — has been to increase political appointments in ambassadorial and other diplomatic posts.
That is a misguided response to the challenges that diplomats are facing. Countries would be much better served in the long run by having an embassy staff that is well prepared and has all necessary tools, and that benefits from continuity and an institutional memory as diplomats pass the torch to their successors.
Some Western officials say that if Ukraine had better-trained and more-effective diplomats, the international community might have inflicted a harsher punishment on Russia for its 2014 annexation of Crimea and its interference in eastern Ukraine. If India, the world’s second most populous country, had a diplomatic service that was more effective, perhaps it could have achieved its goal of winning a permanent seat on the United Nations Security Council.
The German diplomatic service, while one of the best in the world, has suffered from being led by foreign ministers who have doubled as party leaders of the junior partners in successive governing coalitions. The French service, a historical example of excellence, has made significant progress in addressing the lack of diversity in its ranks, but a majority of its most senior diplomats remain white men.
The United States Foreign Service is under assault by the Trump administration, which is driving out dozens of its members and seeking to cut about a third of its budget, resulting in the lowest morale in recent history. The British Foreign Office neglected formal training for its diplomats for decades; it finally established a dedicated center in 2015, but it hasn’t instituted mandatory professional development.
With all the history and professionalism of Western European diplomatic services, why were those countries so shocked by and unprepared for the influx of refugees in 2015? Being intimately familiar with conditions, events and trends in foreign countries is an essential part of a diplomat’s job. Most refugees came from conflict zones. Good diplomats should have anticipated those developments and prepared policy analyses and recommendations for their leaders back home.
And why has it been so difficult for the West to exert meaningful influence with Turkey, a NATO member, to prevent what Western officials view as destabilizing actions, such as its current attack on Syrian Kurds? There are certainly many reasons, but insufficient diplomatic skill and creativity are part of the problem.
Chronic underfunding is also crippling the diplomatic services of rising powers, including those of India and Brazil, which are grossly overextended. India, for example, is struggling to run more than 160 missions with 600 diplomats.
Even China has failed to make a sufficient investment in diplomacy, choosing instead to focus almost exclusively on its military, whose budget is almost 20 times bigger than what it spends on foreign affairs. Not surprisingly, the Chinese Ministry of Foreign Affairs has much less clout in policymaking than its counterparts in other countries.
But most countries do not have proper professional diplomatic services, particularly in Africa, Latin America and the Middle East, and even in some parts of Europe and Asia. True, they do have civil servants in their ministries of foreign affairs, some of whom are sent to work in embassies and consulates from time to time. Many of these officials have degrees in international affairs or a related field, and that’s enough for many governments to assume that they can excel in diplomacy.
Some countries offer only initial training to new recruits, and it tends to focus on area studies, such as the politics and economics of geographic regions, as well as foreign languages. Others put a big emphasis on humanities courses, forgetting that the ability to converse at cocktail parties is not as important today as it was in previous decades — and that there are plenty of other places to get that knowledge.
Skills-based training in specific aspects of diplomatic practice that cannot be obtained elsewhere is largely absent. In addition, instead of having their experienced diplomats pass on their expertise to more junior colleagues, countries hire academics or send their employees to take a university course. Of course, many countries don’t even do that.
Only a handful of countries, such as the United States and Germany, have dedicated centers that provide training in skills, though most of it is voluntary and few diplomats take advantage of it. At a time when the White House doesn’t hide its disdain for diplomacy, the State Department’s Foreign Service Institute is hardly a high priority — as with many parts of the department, it doesn’t have a director.
Governments must end the decades-long culture that views diplomacy training and professional development as a luxury — or worse, as unnecessary. On-the-job training should not be overestimated — it works great if one is lucky to have good mentors, but that’s not a given — and formal preparation should not be undervalued. It can save time and money, and more important, with more professional diplomacy, the world might just become less of a mess.