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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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quarta-feira, 23 de maio de 2018

Richard Pipes; grande historiador do comunismo sovietico, RIP

RIP Richard Pipes, the Great Scholar of Private Property

Richard Pipes, brilliant scholar and advocate of private property, has passed away at age 94.
Foundation for Economic Education, May 22, 2018
Walter Olson
 
Richard Pipes, the great Harvard historian, has died at 94. Best known for his clear-eyed work on Russia and its Bolshevik Revolution, a topic on which so many thinkers over the past century have fallen short, Pipes also wrote a terrific 1999 book on private property as a cornerstone of civilization, Property and Freedom: The Story of How through the Centuries Private Ownership Has Promoted Liberty and the Rule of Law. It’s a favorite on Cato reading lists, including Tom Palmer’s on principles of liberty and Ian Vásquez’s on economic development. I reviewed it favorably at the time for the Wall Street Journal and noted its wide historical sweep, including Pipes’s account of the many schools and movements since Plato that have taken a stance hostile to rights of private possession. These include not only communists, syndicalists, and the like, but some romantic nationalists and even cultural anthropologists who, for a time, claimed (wrongly) that primitive peoples dispensed with ideas of mine and thine. 
Pipes always had his eye on the real-world consequences of these views for nations and their development. As I wrote, summarizing his argument:
The fork in the road between Britain and Russia, it would seem, came on the issue of whether the ruler could be said to own everything in the country. In England, this idea was challenged and then rejected with the revolutionary consequence that the king had no more right to trespass on an Englishman’s freehold than anyone else did. Nor (eventually) could he exact financial penalties from his subjects—or do much of anything else, such as take away life and liberty—without due process of law. The idea that rights were something prior to government soon made England the most property-oriented country on earth.
By contrast, in unhappy Russia, the czars’ claim to own everything carried only too much weight. The members of the Russian nobility often found themselves acting as collectors-of-tribute on highly revocable allotments. Serfdom persisted because the obligations of nominal landowners to the crown were too onerous to be met any other way. Whole categories of economic endeavor, such as coach inns and flour mills, were decreed to be the property of the royal family. When Lenin sought to ensure submission to the authority of his Soviets by ordering the pulping of old title deeds, he was acting in the tradition of the worst czars."
He was equally cogent when he stepped back for reflections of a more philosophical nature, as when he invoked David Hume on redistribution:
Render men’s possessions ever so equal, men’s different degrees of art, care and industry will immediately break that equality. Or if you check those virtues, you reduce society to the most extreme indigence; and, instead of preventing want and beggary in a few, render it unavoidable to the whole community.”
Whole review here. Ira Stoll rounds up several resources on Pipes’s work including his archive of writings at Commentary, where he reviewed such works as Hernando de Soto’s The Mystery of Capital, Tom Bethell’s The Noblest Triumph: Property and Prosperity Through the Ages, and Eric Hobsbawm’s memoirs, being appropriately scathing about the last of these. A great mind and a great scholar, who chose for his life’s work subjects that could hardly be more important for humanity’s future. 

terça-feira, 22 de maio de 2018

O BNDES deu PT, Perda Total - Rubens Bueno

O BNDES deu PT
Rubens Bueno 
 
Diário do Poder 
 
Imagine um país com R$ 1,2 trilhão para investir em desenvolvimento. Esse é o sonho de qualquer governante compromissado com o fortalecimento da economia, com a melhoria da infraestrutura e com a geração de milhões de empregos no país. Pois foi justamente essa montanha de dinheiro que os governos do PT, capitaneados pelos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, tinham em suas mãos. E o que fizeram? Jogaram na lata do lixo dos campeões nacionais da corrupção.
 
Quem acompanha mesmo de longe o desenrolar da operação Lava Jato conhece bem que fim levaram os irmãos Batista, da JBS Friboi, Emílio e Marcelo, da construtora Odebrecht, e o empresário Eike Batista, do Grupo EBX. Financiados a juros reduzidos com o trilhão do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), corromperam políticos, abasteceram caixas dois de campanha e remeteram recursos para o exterior sem gerar uma das principais contrapartidas que um banco de fomento tem que exigir: a geração de empregos.
 
A JBS Friboi fechou dezenas de frigoríficos no Brasil e direcionou grande parte de suas operações para o exterior. A fantasiosa EBX de Eike Batista faliu e deve bilhões ao BNDES e outros credores. A Odebrecht, diante dos escândalos de corrupção, está mal das pernas. E, como resultado disso, milhares de trabalhadores dessas empresas foram parar no olho da rua.
 
Hoje, cabe perguntar ao PT: Qual benefício, além da corrupção, trouxeram ao Brasil os “amigos do Rei” que hoje “está nú” em uma cela da Polícia Federal em Curitiba?

Se havia pelo menos a remota intenção de melhorar ao menos um pouco a vida dos brasileiros com essa política de investimentos públicos em empresas que já eram grandes, ao invés de fomentar pequenas e médias, isso não se configurou.
 
Se pegarmos o avanço da renda per capita brasileira veremos que entre 1994 e 2016, ela cresceu 31%, menos que a média dos países da América Latina e no Caribe, cujo índice avançou 37%. Diante dos países emergentes, onde o Brasil está incluso, a vergonha é ainda maior. Nesse grupo o aumento do PIB per capita foi de 152% no mesmo período. Já as nações desenvolvidas cresceram 42%.
 
Na prática, o BNDES, nas mãos do Partido dos Trabalhadores, deu prejuízos ao país. Como se diz quando um carro é inutilizado num acidente de trânsito, o BNDES deu PT. Perda Total.
 
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Rubens Bueno é deputado federal pelo PPS do Paraná.

A ordem economica internacional em fragmentacao - Michael Spence

Quando idiotas assumem o comando de grandes países, sua capacidade de desmantelar instituições e o ambiente de negócios é inacreditável. Enfrentamos atualmente esse risco.
Paulo Roberto de Almeida

ESTADAO
20maio18 

‘Não se sabe qual será a nova ordem econômica'

Para economista, novo modelo econômico global não está claro, o que contribui para elevar as turbulências

Entrevista com
Michael Spence, vencedor do Nobel de Economia de 2001
Cláudia Trevisan, O Estado de S.Paulo

WASHINGTON - A ordem econômica global criada depois da Segunda Guerra Mundial está se desmanchando e não está claro qual arranjo a substituirá, afirma Michael Spence, vencedor do Prêmio Nobel de Economia de 2001, ao lado de Joseph Stiglitz e George Akerlof. Em sua opinião, a nova estrutura tenderá a ser “balcanizada” e a ter menos liberdade para fluxos de bens, serviços, capital, pessoas, informação e tecnologia.
Spence acredita que parte da turbulência vivida recentemente pelos mercados internacionais se deve à incerteza sobre o que substituirá a estrutura do pós-guerra. O ataque a ela vem dos países desenvolvidos, que passaram a sofrer consequências negativas na distribuição de renda em consequência da criação de cadeias de produção global. “É muito difícil prever onde isso terminará.” A seguir, trechos da entrevista:  
No início do ano parecia haver otimismo em relação à economia mundial, mas recentemente esse sentimento deu lugar a turbulências, especialmente nos países emergentes. O que aconteceu?
Na segunda metade do ano passado, houve o que o FMI chamou de aceleração sincronizada no crescimento. As pessoas pensaram que era uma mudança real, mas foi apenas uma retomada cíclica. Agora, temos a combinação da alta da taxa de juros nos Estados Unidos e o nervosismo de investidores internacionais. Fluxos de capital internacionais se tornaram bastante voláteis, o que provocou dificuldades para várias economias emergentes. O exemplo mais recente é a Argentina. Também há incerteza em relação à tensão comercial entre a China e os Estados Unidos e como isso afetará outros países, incluindo os emergentes. Há volatilidade nos mercados, volatilidade nos fluxos de capital e crescente incerteza. E parece não haver um fim disso no horizonte. Ao mesmo tempo, o preço das commodities está subindo, em particular o do petróleo, o que é bom para países exportadores. É um cenário misto.  
Quais são os principais riscos para a economia mundial?
O que me surpreende é que o crescente sentimento anti-establishment e a intensificação da polarização política de maneira geral não contaminaram os mercados ou as economias. Mas eu acredito que essas tendências são riscos. Um conflito aberto entre a China e os EUA nas áreas de comércio, investimentos e tecnologia é outro risco. Por trás de tudo isso, há uma espécie de ruptura da ordem mundial criada depois da Segunda Guerra Mundial, com suas convenções relativas a comércio e investimentos.  
Quais as características da nova ordem que poderá substituí-la?
Ninguém sabe, e isso é parte do problema. Há duas possibilidades. Uma é a balcanização (fragmentação) da economia global. A internet, por exemplo, será regulada de maneira distinta em diferentes partes do mundo. A regulamentação da América e da Europa será diferente da chinesa e isso criará problemas para companhias que operem além das fronteiras nacionais. Isso é apenas um exemplo. Eu também acredito que o fluxo relativamente livre de bens, serviços, capital, pessoas, informação e tecnologia – que define como a economia global funciona – será menos livre. A ordem mundial criada depois da Segunda Guerra Mundial tinha o objetivo de facilitar a recuperação no pós-guerra. Mas seu principal efeito foi acelerar o crescimento em todos os lugares, especialmente nos países em desenvolvimento. No passado, a economia aberta e a transferência de parte das atividades econômicas para países em desenvolvimento não tiveram grande impacto sobre a distribuição de renda nas economias desenvolvidas. Na medida em que o sistema evoluiu, os emergentes passaram a responder por fatia cada vez maior do PIB e a eficiência das cadeias de produção começou a diminuir. Há falhas sísmicas cada vez maiores nessa ordem. 
Quais são elas?
As principais se desenvolveram ao longo dos 20 anos. Tendências negativas na distribuição de renda produziram ceticismo crescente em relação à globalização. Isso foi exacerbado pelo fato de que estruturas governamentais não fizeram nada sobre isso. A polarização econômica, social e política que estamos vendo tem uma fonte econômica. Nós vemos isso no Brexit, na eleição de (Donald) Trump e nas correntes anti-establishment na Europa. O que estamos vendo agora são os países desenvolvidos dizendo “não estamos mais dispostos a arcar com as consequências dessas assimetrias”. E os grandes países em desenvolvimento respondendo “bem, nós podemos sobreviver sem vocês”. É muito difícil prever onde isso terminará.  
Há o risco de uma crise nos emergentes semelhante às que vimos no passado?

Não vejo o surgimento de uma crise sistêmica. Se há um problema com potencial de se tornar sistêmico, ele é a grande quantidade de dívida que a economia global contraiu no período posterior à crise (de 2008). Esse passivo vem na forma de dívida soberana, corporativa e das famílias. Na última vez em que olhei, a economia global havia acrescentado três quartos do PIB global em dívida bruta.

As relacoes internacionais numa era de paradoxos - Paulo Roberto de Almeida

Hi Paulo Roberto, 
Congratulations! You uploaded your paper 2 days ago and it is already gaining traction. 
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Thanks,
The Academia.edu Team
A ficha completa do trabalho é esta aqui: 
3272. “As relações internacionais numa era de paradoxos”, Brasília, 18 maio 2018, 12 p. Notas para alocução oral, como aula magna, para alunos de direito e de relações internacionais da PUC-GO, em 21/05/2018. Divulgado preventivamente no blog Diplomatizzando(link: https://diplomatizzando.blogspot.com.br/2018/05/as-relacoes-internacionais-numa-era-de.html), em Research Gate (https://www.researchgate.net/publication/325262459_As_relacoes_internacionais_numa_era_de_paradoxos), em Academia.edu (http://www.academia.edu/36676865/As_rela%C3%A7%C3%B5es_internacionais_numa_era_de_paradoxos), e no Facebook (https://www.facebook.com/paulobooks/posts/1917600168303424).


Fundo Soberano: nunca foi fundo e muito menos soberano, ou o fim do que nunca deveria ter sido criado

Com enorme atraso, aliás de uma forma totalmente esdrúxula, o governo dá fim a uma extrovenga que NUNCA deveria ter sido criada, o tal Fundo Soberano dos companheiros. Ele nunca foi fundo e nunca foi soberano, por razões extremamente, totalmente singelas.
Fundo, ou seja, poupança, se cria quando se tem superávit, excedente, resto de não gastos, coisas que o Brasil nunca teve, ao contrário.
Os fundos soberanos podem ser criados a partir de duas fontes: excedente fiscal, o que é o contrário do que o Brasil sempre teve, pois passou anos, décadas gastando mais do que arrecadava, ou superávit nas transações correntes, como resultado, por exemplo, de exportações de petróleo ou outra commodity especialmente requisitada nos mercados internacionais.
Ora, é evidente, sempre foi evidente que o Brasil JAMAIS preencheu esses dois requisitos, e não sabe porque o Congresso, irresponsável como sempre foi em matéria orçamentária e financeira, aprovou esse monstro, criado apenas para o governo manipular, ainda mais, recursos públicos para suas finalidades estranhas, algumas até clandestinas.
Não tem nem excedentes nem superávits, o governo lulopetista, que cometeu diversos outros crimes econômicos, usou recursos orçamentários para compor esse fundo de araque.
Pior, ele colocou quase tudo em ações da Petrobras, num momento em que elas alcançavam altos patamares, antes que a companhia fosse afundada completamente pelos criminosos celerados. Evidente que o Brasil perdeu dinheiro com a depressão sobre esses ativos.
Foi mais um crime econômico dos companheiros que ainda não recebeu a sanção devida.
Paulo Roberto de Almeida

Temer extingue fundo soberano por meio de medida provisória

Alan Santos / PR
O presidente Michel Temer editou nesta segunda-feira (21) medida provisória (MP) extinguindo o Fundo Soberano do Brasil (FSB).

O fundo soberano é uma espécie de poupança do governo criada em 2008, em um momento de superavit primário, com objetivo de aumentar a riqueza do país, estabilizar a economia e promover investimentos em ações e projetos de interesse nacional.
De acordo com a MP, os recursos do fundo serão usados para pagamento da Dívida Pública Federal. No início deste mês, o governo já havia resgatado R$ 3,5 bilhões do Fundo Fiscal de Investimentos e Estabilização (FFIE) para usar nos vencimentos da Dívida Pública Federal.
Os recursos do FFIE são todos do Fundo Soberano. Também compõem o fundo: recursos do Tesouro Nacional, títulos públicos de empresas como o Banco do Brasil e a Petrobras e outras aplicações financeiras.
extinção do Fundo Soberano já era prevista e faz parte das 15 medidas anunciadas pelo governo em fevereiro e consideradas prioritárias do ponto de vista econômico e fiscal
Fundo Soberano tinha R$ 26 bilhões até o fim do ano passado e tinha como objetivo usar lucros do pré-sal para desenvolver projetos de interesse do Brasil no exterior. O Tesouro Nacional já trabalhava nas vendas das ações em poder do fundo para embolsar os recursos e encerrá-lo.

Ciberia // Agência Brasil

Uma questao diplomatica: Jerusalem como capital de Israel - Paulo Roberto de Almeida

Uma questão diplomática: Jerusalém como capital de Israel

Paulo Roberto de Almeida
Diplomata de carreira; professor universitário

Introdução
O anúncio, depois a efetivação, da transferência da embaixada dos Estados Unidos em Israel de Tel Aviv para Jerusalém suscitou diferentes comentários políticos e esperadas reações de partidários e opositores de tal medida. Alguns outros países, poucos, seguiram os EUA nesse gesto. Setores políticos e religiosos no Brasil também reagiram a esse movimento, levantando a questão se tal gesto poderia ser seguido pela diplomacia, ou pelo governo do Brasil. A presente nota trata desse tema, cabendo desde já um alerta quanto a sua repercussão no atual debate político-eleitoral, em vista da tripla dimensão da questão: a introdução de um tema religioso no debate político; seus aspectos diplomáticos, tendo em vista a posição tradicional do Brasil no tocante a Israel e à questão do status de Jerusalém; os possíveis efeitos, no plano comercial-econômico, de uma tomada de posição de algum candidato quanto a uma possível mudança de postura diplomática do Brasil, no seguimento da decisão da administração Trump de efetuar o deslocamento da embaixada dos EUA em Israel de Tel Aviv a Jerusalém.

A dimensão religiosa
A Constituição brasileira reconhece a validade, a legitimidade e a liberdade de todas as expressões religiosas no seio da sociedade, sem qualquer tipo de preferência ou discriminação. O Estado, porém, é laico, e não poderia deixar suas politicas públicas, mormente suas posturas diplomáticas, serem influenciadas por demandas específicas de um credo religioso qualquer, sob risco de ser acusado de introduzir a temática religiosa na esfera das grandes definições estatais, especialmente diplomáticas, que devem ficar necessariamente autônomas e independentes de preferências expressas no âmbito de um grupo religioso determinado, por mais influente ou majoritário que este possa ser. O antigo país católico romano que é o Brasil já traz uma crescente diversidade religiosa, e um crescimento visível das afiliações evangélicas, com poder suficiente para influenciar tomadas de decisão políticas na esfera do parlamento, sob a justificativa de que podem expressar correntes relevantes da opinião pública.
Esse parece ser o caso da bancada evangélica, comprometida com uma série de objetivos nos planos ético ou moral – casos do aborto, das opções de gênero, do chamado “casamento homossexual”, etc. –, no plano médico-científico – experimentos com células-tronco, por exemplo –, na esfera educacional – ensino de criacionismo ao lado da teoria da seleção natural – ou ainda, e mais importante para este argumento, a questão de Israel, não como Estado soberano, como qualquer outro, na comunidade internacional, mas como o representante legítimo da “palavra de Deus” na Terra. 
Seria conveniente que tal preferência religiosa não se traduzisse em qualquer pressão sobre o Estado brasileiro, especificamente sobre sua política externa, no caso concreto do reconhecimento de Jerusalém como “capital verdadeira” do Estado de Israel e na eventual transferência da embaixada do Brasil a essa cidade, considerada como “internacional” por ampla maioria dos países membros da ONU, e assim tem sido historicamente. O Brasil tem orgulho de ter sido um dos patrocinadores da criação do Estado de Israel, na famosa partilha da ONU de 1947, prevendo a criação de um estado palestino e a “neutralização” de Jerusalém como cidade comum a diversos credos. Uma interferência desse tipo sobre uma política pública seria, no limite, inconstitucional e extremamente controversa no plano diplomático, como agora argumentado.

A dimensão diplomática
Durante toda a história recente do Oriente Médio, e no acompanhamento dos dramáticos conflitos que ocorrem na região, a postura dos diferentes governos do Brasil desde o nascimento do Estado de Israel, tem sido a de apoio político e diplomático à sua existência, reconhecendo porém a necessidade de cumprimento escrupuloso de decisões da Organização das Nações Unidas, e de seu órgão de segurança, quanto ao equilíbrio necessário para se reconhecer os direitos do povo palestino a um Estado soberano, legalmente constituído. Jerusalém dispõe de um status especial, não sendo reconhecida como capital de Israel, a despeito de tentativas de parte do espectro político israelense e de grupos de apoio na esfera religiosa ao redor do mundo. Essa questão foi novamente trazida a exame pela comunidade internacional em face da decisão do presidente Trump de instalar sua embaixada naquela cidade, como “capital de Israel”, no que pode ser eventualmente seguido por iniciativas similares de um punhado de países. 
Não convém ao Brasil, país de tradicional acolhimento de imigrantes de todos os credos e origens raciais, e diplomaticamente um seguidor estrito do direito internacional em todas as vertentes de sua política externa, “importar” uma controvérsia de duvidosa legitimidade política ou diplomática, que não contribuiria em nada para consolidar o seu capital de parceiro imparcial de todos os atores e protagonistas dos dramas do Oriente Médio, quando sua postura tradicional tem sido, justamente, a de “exportar” apelos ao diálogo e à solução pacífica das controvérsias políticas e diplomáticas.
Qualquer pronunciamento de um dos candidatos à presidência do Brasil nessa questão teria o efeito de suscitar controvérsias internas e de colocar um problema no plano diplomático que atualmente inexiste, e deveria permanecer dessa forma. Não convém ao Brasil criar pontos de atrito ou fricções diplomáticas com Estados da região que possuem significativo contingente de expatriados, atualmente naturalizados e totalmente integrados à comunidade nacional, quando seu maior capital diplomático nos problemas do Oriente Médio é justamente a equidistância entre as partes em conflito.

A dimensão econômico-comercial
O Brasil é hoje um dos maiores fornecedores de grãos e carnes, dada a pujança de seu agronegócio, para diferentes mercados do mundo, destacando-se especialmente como um grande exportador de cortes avícolas no sistema “halal” para mercados árabes e muçulmanos em geral. Essa atividade representa bilhões de dólares em exportações, milhares de empregos no Brasil e um dos mais significativos nichos de competitividade nacional nos mercados externos, com perspectivas futuras ainda mais promissoras no comércio internacional do país. Disso deriva que qualquer tomada de posição do Brasil na questão de Jerusalém, ou mesmo de inflexão diplomática de sua postura equilibrada no sentido de maior apoio a Israel, poderia precipitar consequências políticas de grande impacto econômico e social nas regiões exportadoras de cortes especiais para mercados do Oriente Médio ou do mundo muçulmano. 

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 22 de maio de 2018

Addendum: recebi o seguinte comentário de um leitor:

Caro Paulo Roberto, 
vi agora o artigo em torno de Jerusalém. 
Seu estilo: clareza e elegância de expressão, equilíbrio quando marca posições (neste caso aliás  sem contundencia, mirabile dictu).
Vou me permitir notar apenas a ambivalência de "cidade internacional". 
Se você  tiver usado a expressão - como presumo - para referir cenário de compartilhamento  ( oriental palestina, ocidental israelense), então estará na nossa linha já tradicional.
Se porém tiver inconscientemente remontado  a "corpus separatum", não. Por mais bacana (e a sério, potencialmente realista, but don't quote me) que a mim pareça a ideia, não é mainstream. 
Leitores desinformados talvez infiram a segunda hipótese.
O fundamental  porém nao é isto; é  ajudar a exorcizar  o risco de contaminação, com o jeito respeitoso e firme que você usou. 
Em torno de um vinho eu teria reflexões sobre laicidade e estado; se fosse vinho toscano citaria Dante - mas fico por aqui. 
Abraço, com admiração,
Xxxxxxx Xxxx

Écrivains et diplomates: livre français

Écrivains et diplomates
L'invention d'une tradition. XIXSe-XXIesiècles

Sous la direction deLaurence Badel
Année : 2012
Pages : 416
Collection : Recherches
Éditeur : Armand Colin
ISBN : 9782200275426
ISBN version en ligne : 9782200284954

Présentation
« Comment peut-on être ambassadeur de France et poète ? », s’indignaient les surréalistes, en apostrophant Paul Claudel. C’était en 1925. Que reste-t-il de cette alliance à l’heure du numérique, qui renouvelle l’écriture classique du diplomate ? 
Dédié à la conjugaison des deux activités, cet ouvrage met en lumière l’ancienneté, le renouvellement et la diversité des pratiques de l’écrivain entré en diplomatie et du diplomate entré en littérature. 
Interrogeant les identités multiples d’hommes destinés à intervenir dans et sur le monde, analysant les conditions matérielles de l’exercice de leur métier, ainsi que leurs modes d’expression privilégiés, il examine aussi la validité d’un « modèle » français qui serait né avec Chateaubriand. Il s’interroge enfin sur l’invention d’une tradition, formalisée dans l’entre-deux-guerres, mais qui ne trouve sa consécration véritable qu’après 1945, à travers la fortune de l’expression unificatrice et duale d’« écrivain diplomate ». Actes d’un colloque international qui s’est tenu à La Courneuve et à Paris, en mai 2011, augmentés d’articles originaux, ce livre, au confluent de l’histoire littéraire, de l’histoire sociale et de l’histoire des relations internationales rassemble vingt-quatre contributions d’universitaires et de diplomates français et étrangers, ainsi que des échanges entre historiens et diplomates en activité. L’ouvrage est préfacé par Maurizio Serra, délégué permanent de l’Italie auprès de l’Unesco et écrivain.

Sommaire
Pages de début
Remerciements

Préface

L’écrivain diplomate entre littérature et politique

Introduction

Partie I - L’invention de l’écrivain diplomate
1 - L’écrivain diplomate des Temps modernes, entre nécessité politique et pratique culturelle

2 - Le diplomate français au xix e siècle, entre belles-lettres et littérature

3 - Les écrivains diplomates, acteurs ou instruments d’une diplomatie culturelle ? Le cas du Quai d’Orsay au premier xx e siècle

4 - Âge d’or ou naissance d’une tradition ? Les écrivains diplomates français dans l’entre-deux-guerres

5 - Chimère ou caméléon ? Les non-conformistes

6 - Écrivains etdiplomates : des outsidersdans la Carrière ? Lecture sociologique des logiques de nomination

Partie II - Diplomatie et écritures
7 - Le style diplomatique

8 - Le diplomate et l’écriture : le cas des ambassadeurs français en Allemagne depuis André François-Poncet

9 - Écriture et usages de l’Histoire chez les diplomates de la Troisième République

10 - La diplomatie en mémoires. Étude sur les mémoires de diplomates belges et suédois du xx e siècle

11 - Paul Claudel témoin du tournant global : « Le présent comporte toujours la réserve du futur »

Témoignage - Du secret des chancelleries à l’agora des réseaux : les nouveaux enjeux de l’écriture diplomatique

Page 212 à 224
Témoignage - Le diplomate à l’ère numérique

Partie III - Un modèle français ?
12 - La commémoration romaine de Chateaubriand en 1934 ou l’instrumentalisation de l’écrivain diplomate au service de l’amitié franco-italienne

13 - Les écrivains et poètes serbes dans la diplomatie du royaume des Serbes, Croates et Slovènes/Yougoslavie, 1918-1941 : un enjeu historiographique

14 - Les diplomates et l’écriture dans la tradition italienne, de l’Unité à nos jours

15 - Gens de plume à l’ambassade : les réticences de la diplomatie culturelle suisse face au modèle français

16 - Les écrivains diplomates espagnols, de l’époque napoléonienne au régime franquiste

17 - Les diplomates écrivains latino-américains, une fécondité biséculaire

Annexe

Partie IV - Figures
18 - Chateaubriand, modèle du diplomate romantique

19 - Les écrivains diplomates russes et le récit impérial au xix esiècle

20 - « Entre deux mondes ». Oscar Milosz, croisades politiques et dilemmes d’un homme de lettres (1916-1925)

21 - Harold Nicolson et Duff Cooper : dandys anglais, écrivains diplomates et paneuropéens

22 - Romain Gary, écrivain diplomate

Table ronde : les convergences du diplomate et de l’écrivain

Conclusion
Le verbe et le corps : anthropologie du diplomate écrivain

Pages de fin