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quinta-feira, 20 de setembro de 2018

Roberto Macedo se pronuncia pelo centro, corretamente - Estadao

Roberto Macedo, meu amigo, escreveu o artigo que eu gostaria de escrever:


Roberto Macedo
O Estado de São Paulo, 20/09/2018

Não vejo o centro político já derrotado e o Brasil condenado à triste opção entre Jair Bolsonaro e Fernando Haddad. Na análise que se segue recorri ao psicólogo Daniel Kahneman, que ganhou fama ao contestar premissa básica do pensamento econômico tradicional, a de racionalidade do ser humano. Por sua contribuição à análise econômica, ganhou o Nobel de Economia em 2002. 
Com implicações além dessa análise, Kahneman argumenta que o ser humano tem racionalidade limitada e ao decidir tem duas formas de pensar, os Sistemas 1 e 2. O primeiro é rápido e usa instintos, crenças e comportamentos que muitas vezes levam a opções equivocadas. Como o comportamento de manada, em que a pessoa segue um grupo sem refletir sobre o caminho a que será levada. Por exemplo, ao comprar ações sem se informar bem sobre elas, só porque muitas pessoas estão a adquiri-las. O Sistema 2 toma mais tempo, é mais analítico e racional, procura informações sobre o objeto da decisão e como esta deve incorporá-las de forma a minimizar o risco de erros.
Muitos adeptos de Bolsonaro e Haddad decidem pelo Sistema 1, sem maior reflexão sobre esses candidatos, seus vices incluídos. Após 1960, vários vices assumiram pela renúncia, morte ou pelo impeachment do titular: Jango, Sarney, Itamar e Temer. Dessa turma, só Itamar saiu com prestígio. O eleitor já refletiu sobre o que pode acontecer se o vice substituir seu candidato? Voltarei ao assunto.
Estou no PSDB há uns 30 anos, levado poe seu programa e por personalidades como Montoro, FHC, Covas e Serra. Entendo que a social-democracia é adequada ao Brasil, num formato mais liberal para a economia para que realize efetivamente seu potencial e gere tributos para uma ação social condizente com a dívida desse tipo que o País carrega. Em particular, por não ter cuidado dos escravos libertados, deixando-os ao deus-dará. 
Utilizando o Sistema 2 para recolher informações, Geraldo Alckmin é um candidato fiel ao espírito da social-democracia e com perfil adequado para unir o centro. É sensato, tem história política, capacidade de granjear apoio na área – e precisamos dos políticos para sair desta encrenca em que o país se meteu –, larga experiência administrativa no governo paulista e resultados para mostrar, como nas áreas de segurança, educação, gestão das contas públicas e infraestrutura. Tentativas de rotulá-lo como ficha-suja não colaram. É de hábitos simples, muito apegado à família. Em particular, contrasta com o ex-candidato Lula, que ao se inscrever se revelou um proletário milionário, com patrimônio de R$ 8 milhões. O programa de Alckmin é muito adequado às necessidades do País. A versão completa é recente e está em www.geraldoalckmin.com.br. O programa tem dez áreas de atuação e é coisa para ler, guardar e... cobrar! 
Como já disse, muitos dos apoiadores do capitão Bolsonaro pensam pelo Sistema 1, sem buscar informações. O apoio veio também pelo comportamento de manada. Se usassem o Sistema 2, saberiam que ele é temperamental e propenso a enfrentar com mais violência a criminalidade que se esconde em comunidades de baixa renda, pondo-as sob um risco ainda maior. Como militar, é da corporação do funcionalismo, cujo enfrentamento é indispensável para reformar o Estado e torná-lo mais eficaz a um custo menor. Não tem experiência administrativa, é avesso a entendimentos políticos, nada entende de economia e quem o indaga sobre o assunto é instado a ir a seu posto Ipiranga, o economista Paulo Guedes. Este exagera no liberalismo, despreza as dificuldades políticas e mesmo de recursos para implementar suas propostas. Não passou por estágio em Brasília. E viriam conflitos com o seu próprio chefe, nada liberal. Poderia durar pouco como ministro da Fazenda.
Haddad é pessoa de fino trato pessoal, mas como candidato do PT, ou pior, do PL, o Partido do Lula, tem este como ídolo e mentor. Como presidente, Lula começou bem, mas depois teve culpa no processo que levou o País ao buraco em que se encontra. Como ao acomodar a corrupção no governo e não aproveitar, para também investir mais, a bonança econômica que recebeu do PC chinês, quase só apostando na expansão do consumo e levando as pessoas a desprezar a poupança e exacerbar o endividamento. E na saída fez feio, escolhendo Dilma para suceder-lhe. Tida como gerentona, foi uma tremenda trapalhona. Seu desastre ainda tem seus efeitos. E o PT também aparelhou a máquina do Estado com seus quadros corporativistas, prejudicando uma reforma dele. Assim, quem vai atrás do PT está igualmente operando pelo Sistema 1.
Olhando os vices, a de Alckmin, senadora Ana Amélia, também ficha-limpa, foi por muito tempo jornalista na área de economia, é experiente no trato com o Congresso e sintonizada com o programa da chapa. Bolsonaro tem como vice o general Hamilton Mourão, em tese submisso ao capitão. Não conheço seu temperamento, mas em termos administrativos e corporativos envolve os mesmos riscos de Bolsonaro, além do risco de agir por conta própria e no meio militar.
E a vice de Fernando Haddad, Manuela d’Ávila, do PCdoB, o Partido Comunista do Brasil? Não tem experiência administrativa. Supondo que seja coerente com seus princípios, passaria a conduzir o governo com ideias de um partido ultraminoritário – tem apenas 12 deputados federais, 1,6% do total, e um senador. Se eleita, terá sido pela chapa, como Temer. E o dano à confiança na economia, caso assumisse?
Concluo apelando ao voto pelo Sistema 2, sem crenças preconcebidas ou hoje mal concebidas. Cabe também apelar aos eleitores de Marina, Meirelles, Amoêdo e Álvaro Dias, bem como a esses candidatos, para que preguem a união em torno de Alckmin. Sem essa união, há um grande risco nesta eleição: o centro, desunido, então será vencido!
ECONOMISTA (UFMG, USP E HARVARD), É CONSULTOR ECONÔMICO E DE ENSINO SUPERIOR

A Economist se assusta com Bolsonaro, e o compara a outros ditadores da AL

O Estadão resume o editorial (com direito a capa) da Economist, que pretende combater a ameaça de Bolsonaro, mas que pode acabar promovendo-o um pouco mais.
Primeiro transcrevo a matéria do Estadão, depois o editorial da Economist.

Estadão (20/09/2018): 

'The Economist' chama Bolsonaro de 'a mais recente ameaça da América Latina'

Revista britânica defensora do liberalismo traz candidato do PSL na capa, diz que governo de deputado seria 'desastroso' para o País e a região e cita experiência autoritária na Venezuela e na Nicarágua

O candidato do PSL à Presidência nas eleições 2018Jair Bolsonaro, é o destaque da capa da edição desta semana da revista britânica The Economist. No seu artigo principal, a publicação destaca o deputado como "a mais recente ameaça da América Latina" e considera que um eventual governo Bolsonaro seria "desastroso" para o País e a região. Leia a íntegra do artigo.  
O texto compara o avanço de Bolsonaro e de suas propostas ao avanço do populismo nos Estados Unidos, com Donald Trump; na Itália, com Matteo Salvini; e nas Filipinas de Rodrigo Duterte. Para a Economist, Bolsonaro soube explorar a combinação de recessão econômica, descrédito com a classe política e aumento da violência urbana com a apresentação de visões conservadoras e uma proposta de economia pró-mercado.  
"Os brasileiros não devem se enganar. Bolsonaro tem uma admiração preocupante por ditaduras", diz o texto, que o compara ao ditador chileno Augusto Pinochet. 
A revista lembra também que o principal assessor econômico de Bolsonaro é Paulo Guedes, que, assim como a equipe do ditador chileno, foi educado na Universidade de Chicago, um bastião da ideologia do livre mercado. "Guedes é a favor da privatização de todas as estatais e uma simplificação brutal dos impostos", lembra a revista.  
"A América Latina conheceu homens fortes de todo tipo e a maioria dessas experiências foi horrorosa. Provas recentes disso são a Venezuela e a Nicarágua." 
A revista lembra também que o próximo governo precisará do apoio do Congresso e dificilmente Bolsonaro terá maioria parlamentar. "Para governar, Bolsonaro poderia degradar o processo político ainda mais, potencialmente abrindo caminho para algo ainda pior", diz o texto.  
A Economist ainda diz que a chegada do petista Fernando Haddad ao segundo turno pode jogar muitos eleitores da elite e da classe média que culpam o ex-presidente Lula e o PT pelos problemas do País no colo de Bolsonaro.   
"Em vez de acreditar nas promessas vãs de um político perigoso na esperança de que ele resolva todos os problemas, os brasileiros precisam perceber que a tarefa de consertar sua democracia e reformar sua economia não será rápida nem fácil."


Economist (September 20. 2018): 

A mais recente ameaça da América Latina

Caso seja eleito, Jair Bolsonaro pode colocar a própria sobrevivência da maior democracia da América Latina em risco

"Deus é Brasileiro", diz o ditado que batiza um popular filme do cinema nacional. As belezas do Brasil, suas riquezas naturais e a música fazem o País parecer abençoado de maneira única. Mas ultimamente os brasileiros precisam se perguntar se, assim como no filme, Deus saiu de férias. A economia é um desastre, as contas públicas estão sob pressão e a política está bastante apodrecida. A violência urbana também tem crescido. Entre as 20 cidades mais violentas do mundo, 7 são brasileiras. 
As eleições presidenciais do mês que vem dão ao Brasil a chance de um recomeço. Apesar disso, se a vitória for de Jair Bolsonaro, um populista de direita, os brasileiros correm o risco de tornar tudo pior. O senhor Bolsonaro, cujo nome do meio é Messias, promete a salvação; na verdade, ele é uma ameaça para o Brasil e para a América Latina. 
Bolsonaro é o mais recente de um desfile de populistas: de Donald Trump nos Estados Unidos a Rodrigo Duterte nas Filipinas, passando pela coalizão esquerda-direita de Matteo Salvini na Itália. Na América Latina, Andrés Manuel López Obrador, um agitador de esquerda, tomará posse no México em dezembro. Bolsonaro pode ser um acréscimo desprezível para o clube. Caso seja eleito, ele pode colocar a própria sobrevivência da maior democracia da América Latina em risco. 

Amargor brasileiro

Populistas tiram proveito de um conjunto comum de problemas. Um deles é uma economia em frangalhos, e no Brasil esse fracasso tem sido catastrófico. Na pior recessão de sua história, o PIB per capita encolheu 10% entre 2014 e 2016 e ainda não conseguiu se recuperar. A taxa de desemprego é de 12%. 
O cheiro de uma elite absorta em seus próprios interesses e corrupta é outra queixa - e no Brasil isso se transformou em fedor. O conjunto de investigações conhecido como Lava Jato provocou o descrédito de toda a classe política. Dezenas de políticos estão sob investigação. Michel Temer, que tornou-se presidente em 2016 depois de sua antecessora, Dilma Rousseff, ter sofrido um impeachment com base em acusações não relacionadas (à Lava Jato), escapou de ser julgado pela Suprema Corte só porque o Congresso votou para poupá-lo. 
Luiz Inácio Lula da Silva, outro ex-presidente, foi preso por corrupção e impedido de disputar a eleição. Brasileiros dizem às pesquisas de opinião que as palavras que melhor identificam o País são "corrupção", "vergonha" e "desapontamento". 
Bolsonaro explorou essa fúria brilhantemente. Até os escândalos da Lava Jato, ele era um coadjuvante deputado do Estado do Rio de Janeiro. Ele tem um longo histórico de ofensas  grosseiras. Ele disse que não estupraria uma deputada porque ela era "feia demais"; ele disse que preferia um filho morto a um filho gay"; ele sugeriu que pessoas que vivem em assentamentos fundados por escravos fugidos (quilombolas) eram gordos e preguiçosos. Repentinamente, essa disposição para romper tabus está sendo interpretada como prova de que ele é diferente dos políticos de Brasília. 
Para brasileiros desesperados para se livrar de políticos corruptos e narcotraficantes assassinos, Bolsonaro se apresenta como um xerife durão. Cristão evangélico, ele mistura valores conservadores com liberalismo econômico, ao qual se converteu recentemente. Seu principal assessor nessa área é Paulo Guedes, formado na Universidade de Chicago, bastião das ideias pró mercado livre. Ele defende a privatização de todas as empresas estatais do país e uma brutal simplificação tributária. Bolsonaro pretende também reduzir o número de ministérios de 29 para 15 e colocar generais a cargo de algumas dessas pastas. 
Sua fórmula vem ganhando apoio. As pesquisas dão a ele 28% dos votos e ele é o líder isolado de uma disputa renhida pelo segundo lugar no primeiro turno, em 7 de outubro. Neste mês, ele levou uma facada no abdômen num comício, o que o colocou em um hospital. Isso o fez mais popular e o afastou de um escrutínio mais vigoroso da imprensa e de seus rivais. 
Se ele enfrentar Fernando Haddad, do Partido dos Trabalhadores (PT), no segundo turno, muitos eleitores de classe média e da elite, que culpam Lula e o PT acima de tudo pelos problemas do País, podem ir para os seus braços. 

A tentação pinochetista

Eles não devem se equivocar. Além de suas visões não liberais no campo do comportamento, Bolsonaro tem uma admiração preocupante por ditaduras. Ele dedicou seu voto pelo impeachment de Dilma Rousseff ao comandante de uma unidade responsável por 500 casos de tortura e 40 assassinatos durante o regime militar, que governou o Brasil entre 1964 e 1985. O vice de Bolsonaro é Hamilton Mourão, um general reformado, que no ano passado sugeriu uma intervenção militar para solucionar os problemas do país. A resposta de Bolsonaro à criminalidade é, com efeito, matar mais criminosos, apesar de, em 2016, a polícia no Brasil ter matado mais de 4 mil pessoas. 
A América Latina já experimentou a mistura entre política autoritária e economia liberal. Augusto Pinochet, o ditador brutal que comandou o Chile entre 1973 e 1990 era assessorado pelos "garotos de Chicago". Eles ajudaram a assentar as bases para a relativa prosperidade chilena de hoje, mas a um custo humano e social terrível. O fatalismo brasileiros sobre corrupção pode ser resumido na frase "rouba, mas faz". Eles não devem se inclinar por Bolsonaro - cuja versão do ditado poderia ser "eles torturaram, mas fizeram." A América Latina conheceu todo tipo de homens fortes, a maioria deles horrorosos. Para provas mais recentes é só olhar para os desastres na Venezuela e na Nicarágua. 
Bolsonaro pode não conseguir converter seu populismo em uma ditadura ao estilo pinochetista, mesmo que ele queira. Mas a democracia brasileira é muito nova. Mesmo um flerte com o autoritarismo é preocupante. Todo presidente brasileiro precisa de uma coalizão no Congresso para aprovar projetos. Bolsonaro tem poucos amigos na política. Para governar, ele poderia ser levado a degradar ainda mais a política, potencialmente abrindo caminho para algo ainda pior. 
Em vez de acreditar em promessas vãs de um político perigoso na esperança de que ele resolva todos seus problemas, os brasileiros precisam perceber que a tarefa de curar sua democracia e reformar a economia não será fácil nem rápida. Algum progresso foi feito, como o veto a doações empresariais e o congelamento de gastos públicos. Mais reformas são necessárias. Bolsonaro não é o homem para entregá-las.
/ TRADUÇÃO DE LUIZ RAATZ


Cruzando o Rubicao: discurso de paraninfo de Wagner D'Angelis

Meu amigo de Curitiba Wagner D'Angelis, eminente professor de Direito, enviou-me o texto do seu discurso de paraninfo para a turma de Direito da Universidade Tuiuti do Paraná, efetuado no último dia 14 de setembro d 2018, já adaptado sob a forma de artigo jurídico.
Com destaque, trecho da famosa "oração aos moços", que já era um discurso de paraninfo de Rui Barbosa, quase cem anos atrás...
Paulo Roberto de Almeida


CRUZANDO O RUBICÃO DO CURSO DE DIREITO:
DISCURSO DE PARANINFO 

PROF. WAGNER ROCHA D’ANGELIS(*)


INTRODUÇÃO

Na inesquecível e excelsa noite de 14 de setembro de 2018, diante de um abarrotado Teatro Fernanda Montenegro, em Curitiba, vi-me submetido a um teste definitivo para o meu coração quando, na qualidade de paraninfo, coube-me fazer o discurso inerente ao título a mim concedido, na cerimônia de colação de grau dos formandos da Faculdade de Direito da Universidade Tuiuti do Paraná. 

Se a cada profissão cabe a devida recompensa, acredito ser a do magistério uma das que mais traz satisfação à alma pelo imediato e sincero reconhecimento tributado pelos discentes. E dentre tantas formas de demonstração de carinho e retribuição, a escolha do docente para paraninfar a turma que concluiu a graduação penso ser das mais significativas e emocionantes. Imbuído de tais sentimentos assomei a tribuna naquela data histórica, para eternizar o meu agradecimento a todos os acadêmicos (as) que me honraram com a mencionada e quiçá excessiva homenagem. Abaixo, segue por inteiro teor o discurso a eles dedicado na ocasião.  

CRUZANDO O RUBICÃO

Senhoras e Senhores convidados
Minhas queridas formandas e meus queridos formandos

Honrado com a escolha dessa valorosa turma para paraninfo, permitiu Deus fazer-me presente neste maravilhoso evento e partilhar com vocês, queridos afilhados e afilhadas, um pouco da minha experiência de 43 anos como operador do Direito e 32 anos no exercício de cátedra universitária – posto que dela me afastei por 10 anos -, sempre na disciplina de Direito Internacional (Público e Privado), sendo desse período quase 23 anos integralmente dedicados a esta renomada Casa de Saber, pela qual vocês hoje obtêm o augusto diploma de bacharel em Direito. Honra ainda maior por receber esta homenagem no ano em que a faculdade de ciências jurídicas desta universidade completa 25 anos de funcionamento. 

E neste momento sublime, por dádiva divina e por generosa concessão de todos vocês, aqui nos encontramos, neste belo teatro, como que selando um vínculo entre a carreira dos que a estão iniciando e a minha que se encaminha para o término. A esta altura da minha caminhada profissional, fazendo as contas, só posso dizer que Deus me deu mais do que mereci; e de coração, desejo que obtenham no mínimo o dobro da felicidade que me foi proporcionada!

Senhoras e Senhores convidados, o Paraninfoé o padrinho, o responsável pela proteção dos afilhados, é o que leciona a última aula. Por isto, peço-lhes licença para com eles manter este colóquio, para a eles abrir o que me vai na alma. 
Afilhados e Afilhadas, vocês fazem parte de uma turma vitoriosa, um grupo seleto de pessoas predestinadas, que forjaram comigo uma aliança espiritual para a travessia do Rubicão do Curso de Direito. Mais do que isto, quando me defrontei com dificuldades de saúde em parte do 1° semestre deste ano de vocês não me faltaram gestos e palavras de preocupação e estímulo. Em inequívoca demonstração de carinho, com coleguismo e amizade, vocês estiveram solidários comigo ao longo da minha recuperação, e ao me escolherem para paraninfo foram muito além, pois com este “beau geste” acresceram-me forças e alento para retornar ainda mais célere, à diuturnidade agradabilíssima da cátedra universitária. 

Por isso mesmo, superados os problemas de saúde, da minha parte, da mesma forma que vencidas as eventuais procelas que estiveram a dificultar a travessia do Rubicão, por parte de vocês, este 14 de setembro se afigura uma data mais para falarmos ao coração, do que para grandes lances de erudição. Por isto, permitam a este padrinho, a este professor decano, a este abençoador, adentrado nos anos e simples mestre nas lições do tempo, apenas um asteroide diante de tantos sóis do conhecimento jurídico, que feche por um instante o livro da ciência, para folhear, junto com vocês, o livro da experiência. 

Para mim, tanto quanto a vários dos doutos professores aqui presentes, torna-se quase impossível citar todos os ex-alunos que hoje são professores universitários, desembargadores, juízes, promotores, procuradores de justiça, delegados de polícia, servidores públicos, ou, a maioria, advogados atuantes nas mais diversas áreas do conhecimento jurídico. Assim como, difícil dizer o número dos que, mesmo não sendo operadores do direito, se valem da valiosa cultura universal e/ou específica que a ciência jurídica proporciona como base auxiliar para as outras profissões que exercem no dia-a-dia e dão sustentação às suas necessidades econômico-financeiras e/ou satisfação às suas vidas pessoais ou familiares. Enfim, de uma forma ou de outra, do mundo do Direito jorra um manancial de conhecimento - tanto extraordinário quanto indispensável - que inclusive a todos aproveita, mesmo àqueles que, por um momento, por um descompasso ou um compasso de espera, ou mesmo por uma opção definitiva, não tomarão dele como profissão permanente. 

Mas estamos aqui, queridos afilhados e queridas afilhadas, para falar do horizonte mágico que se descortina diante de vocês agora que, oficialmente, encontram-se na outra margem do Rubicão. Ainda no primeiro dia de aula da cadeira de Direito Internacional Público, no 9° Período, incitei a vocês, em tom humorado, para que fizessem comigo a passagem simbólica do Rubicão Jurídico, tal qual fizera Júlio Cesar a travessia do Rubicão fluvial em tempos idos. Pois bem, meus caros, rogo-lhes a devida licença, porque assim julgo pertinente, para rever essa história e suas ilações nesta ocasião e neste ato pomposo, partilhando tais fatos com seus entes queridos aqui presentes. 

Avisado da destituição de seus poderes no governo da Gália, após tê-la dominado por oito anos, em 11 de janeiro de 49 a.C., à frente da sua leal e experimentada XIII Legião Gêmea, o general e estadista romano Caio Júlio Césartomou uma decisão crucial: a de atravessar com suas forças militares o rioRubicão(rio Rubiconeem italiano), um curso d´água que se lança no mar Adriático, a noroeste de Roma, e que naquela época se impunha como fronteira oficial entre a civilização romana e a Gália Cisalpina, sendo considerada uma região bárbara aquém dos Alpes. O ato de cruzar o rio equivalia a transgredir uma antiga lei do Senado, que determinava o licenciamento e dispersão das tropas toda vez que um comandante voltasse à Roma após campanhas militares além do norte da Itália, que era exatamente a situação de César. 

Ao transpor o rio, em decisão ponderada, Cesar dava início à guerra civil contra o general Pompeu Magno, que detinha o poder sobre Roma. Por ciente de que a travessia da fronteira fluvial era uma decisão sem volta, Júlio Cesar pronunciaria a frase “alea jacta est” (‘o dado está lançado’, no sentido de ‘a sorte está lançada’), atravessando o rio com seu exército em direção à capital romana. A partir daí, como é de ciência geral, seu oponente político e os membros do Senado fugiram de Roma e, perseguidos, foram derrotados; Cesar foi nomeado ditador romano, e Pompeu, mais tarde, veio a ser morto no Egito. Mas isto já foge do tema deste encontro!

O que importa é mostrar que a decisão de Júlio César mudou o eixo da história. Antes que ele atravessasse o Rubicão, a tomada de Roma era apenas uma ideia, um desejo que ele poderia ou não concretizar. A partir do sucesso de sua opção destemida, atravessar o Rubicão passou a significar “pensar com ousadia”, “ultrapassar os próprios limites”, superar adversidades”, “enfrentar com coragem ou destemor o desconhecido”.  César estava ciente das dificuldades que teria pela frente, sabia que a empreitada militar poderia inclusive leva-lo à morte em batalha ou à pena de morte por desobediência política, mas apesar disso, dispôs-se a atravessar o Rubicão – vale dizer, assumiu enfrentar o perigo em vez de sujeitar-se às imposições senatoriais que lhe seriam desastrosas. 

“Cruzar o Rubicão” ou “atravessar o Rubicão” são expressões pelas quais, desde então, convencionou-se utilizar para qualquer pessoa que tenha tomado uma decisão arriscada de maneira irrevogável e obtido êxito. Exprime a tomada de uma decisão que sói se verificar ante um projeto arrojado, defrontando-se com um caminho dúbio e potencialmente inseguro. Vale dizer, também, que é preciso por vezes abandonar a nossa zona de conforto, investir no novo, ir além da ilusória segurança de dados e registros que se perpetuam sem inovações, confiando-se em um poder além das nossas fragilidades humanas. 

Há muito tempo que a segurança imobilizante tem sido o lema dos que não prosperam, mas nunca foi o mote dos vencedores. O vencedor é aquele que sabe escolher o lado certo nas adversidades, que procura escrever a sua própria história, que não se omite de correr o risco, a culpa e o peso da tempestade, se quiser ter ou criar oportunidades.

Pois bem, meus jovens afilhados, vocês atingiram o outro lado do rio das Ciências Jurídicas, após cinco longos e exaustivos anos. Com relação ao exercício do Direito, tal qual Júlio Cesar, cabe aqui a exclamação: “Alea jacta est” (‘A sorte está lançada’). Com vistas ao futuro profissional, quem sabe a ousadia seja a chave do sucesso. Obviamente que não apenas ela, mas pouco se avançará sem ela. O mundo é um livro do qual os que não assumem riscos leem apenas uma página. Vocês lograram atravessar o Rubicão do Direito; outros Rubicõesmais poderão surgir diante de vocês pela vida afora. Aliás, melhor não se iludirem, eles na verdade irão aparecer. Todavia, fortalecidos por esta etapa que acabaram de concluir, atirem-se sem medo às novas travessias! 

Do lado de cá do Rubicão recém transpassado - para o que não faltaram fé, garra, estudo e empenho -, o feito de vocês é causa de orgulho a todos neste recinto, tanto aos professores que compõe esta Mesa Solene, quanto aos convidados que vieram aplaudir a meritória conquista. 

Pois bem, estimadas e estimados Bacharelandos, ao deixarem para trás os bancos da graduação com o selo da satisfação na alma, entendo por oportuno trazer-lhes à lembrança que por escolha e/ou vocação vocês decidiram se consagrar às leis. Reflitam comigo, vocês passarão a se dedicar às leis em um país com excessividade legislativa, em um país com grande complexidade e imprecisão normativa, em um país com inúmeras leis distantes do interesse da maioria, em um país no qual muitas regras são injustas, em um país onde em várias instâncias acontecem interpretações judiciais equivocadas de tantas leis. 

Convive-se no Brasil com uma dantesca proliferação normativa. Leis e mais leis, aos borbotões, são urdidas diariamente em gabinetes políticos e ajustadas nos diferentes plenários legislativos, positivando-se igualmente o joio e o trigo. Desse mal do fetichismo legal já conheciam os romanos, a ponto de tornar-se um aforismo a frase de Cícero, estampada na obra “De Oficiis”, em 44 a.C.: “Summum ius, summa injuria” – ou seja, o excesso de direito redunda em máxima injustiça. 

O nosso país, como de resto a América Latina, debate-se na areia movediça da retórica, do formalismo, do cartorialismo de estado, do corporativismo, do clientelismo, do procedimentalismo e burocratismo, dentre outros males. E muito embora o princípio da igualdade formal estampado em nossa Carta Constitucional (a ‘Constituição Cidadã’, que completa 30 anos neste 05 de outubro), a ninguém passa despercebido que, em várias regiões brasileiras, muitos há que se pretendam na prática serem mais iguais que os outros, agindo mesmo com prepotência e discriminação, e para cuja defesa ou manutenção de suas pretensões ou privilégios, inclusive, se valem de leis condescendentes, brechas ou omissões legais. 

Diletos diplomandos e diplomandas, vocês já estão cientes de tais dificuldades, com as quais se depararão no quotidiano de suas atividades de operadores do Direito; para alguns, aliás, isto não é novidade, porquanto já estão imersos na prática profissional, fazendo estágios em escritórios ou empresas, ou mesmo convivendo com a área jurídica por meio de funções públicas. 

A garantia da democracia, o aperfeiçoamento das suas instituições, a consolidação dos direitos humanos e a perpetuação do Estado de Direito dependem profundamente das profissões implícitas ao Curso de Direito, que hoje oficial e gloriosamente vocês encerram na UTP. 

Minhas Amigas e meus Amigos, é para colaborar com o Direito e com a Justiça que hoje vocês saem daqui habilitados. Magistrados, promotores, procuradores, delegados de polícia, diplomatas, advogados, docentes, eis o que vocês serão em grande parte. São carreiras prodigiosas, inseparáveis uma das outras, e, tanto uma como as outras, imensas nas suas utilidades, interações, dificuldades e responsabilidades.

Diante disso, poderia alguém me perguntar por alguma recomendação pontual neste momento de despedida institucional. Ora, prometi que lhes falaria pela experiência, no que vi e que observei em 43 anos de advocacia e 32 anos de docência superior. Me perdoem, pois, se para tanto me permito avançar um pouco mais no tempo! De qualquer forma, vocês me fizeram padrinho, e o padrinho é um pai espiritual. Se de todo bom pai pode-se esperar um bom conselho, por natural, ao padrinho é reservada alguma recomendação profissional. 

Pois então, acadêmicos recém-formados e novos bacharéis, incito-os a estudar, e estudar. A trabalhar, e trabalhar. Alguns dirão que anuncio o óbvio e corriqueiro. Mas relembro-lhes que me dispus aqui a discorrer com base na experiência, e por isto destaco o que mais tenho feito ao longo da carreira. Fui estudante, continuo sendo um estudante até hoje. O pouco que sei devo às minhas leituras e pesquisas constantes. Logo, oriento-os de pronto a continuarem estudando.  Mas atenção! Não se atenham apenas em ler. É imprescindível absorver a leitura e transformá-la em ideia própria. Se quiserem se destacar da maioria, leiam muito e convertam o conhecimento contraído em sabedoria pessoal. 

Além de ler, trabalhar! Trabalhar muito! E se a ninguém passa despercebido o valor e necessidade do trabalho, nos tempos presentes cabe-me apenas fazer apelos complementares. Trabalhem sem medo de novos desafios, trabalhem com o coração, trabalhem com responsabilidade, e sobretudo, trabalhem com ética. O Brasil está carente de ética, honestidade e vergonha na cara! Vocês deixam nossa premiada Instituição de Ensino Superior, que em avaliação recente recebeu a bela nota 4,0 perante o MEC, com a nossa confiança de que farão a diferença no exercício profissional, de que ajudarão a mudar a presunção de que a corrupção e a impunidade não podem ser extirpados da nossa cultura pátria, de que o Direito está à mercê dos interesses da elite econômica e política. Enfim, não tergiversem sobre as responsabilidades que lhes cabem na hora presente e, como grafou magistralmente o jurista uruguaio Eduardo Juan Couture, autor de “Os Mandamentos do Advogado”, se um dia - aliás, a qualquer momento, na triste realidade jurídica e política brasileiras -,  vocês, porventura, encontrarem o Direito em conflito com a Justiça, lutem pela Justiça!

Quanto às carreiras jurídicas, conheço todas, e todas valem a pena, se a alma não for pequena – parafraseando o poeta lusitano Fernando Pessoa. Magistrado, membro do Ministério Público, diplomata, advogado, professor universitário – as carreiras se ombreiam! Se me pedirem como devem se portar na profissão, digo-lhes direta e objetivamente o seguinte: mirem-se nos exemplos magníficos desses renomados mestres que, por escolha acertada desta turma, encontram-se aqui e agora assentados nesta mesa protocolar. Vocês os elegeram pela nobreza de caráter e elevadas virtudes e habilidades profissionais, dentre tantos docentes de destaque, como símbolos deste Curso de Direito que nesta noite outorga-lhes o grau de bacharel.  Inspirem-se neles, sigam seus passos, este é o meu parecer!

CONCLUSÃO

Minhas amigas e meus amigos, já lhes aconselhei sobre a forma de exercerem a profissão, mas vale referendar ainda, quanto àquela em que me vejo investido já se vão mais de 42 anos, as lições do nosso jurista mor, o nobre baiano Rui Barbosa. 

Escolhido paraninfo pela Turma de Direito da USP de 1920, ano do jubileu de ouro da sua formatura, Rui teve o seu discurso lido pelo Prof. Reinaldo Porchat, na cerimônia verificada em março de 1921, porquanto, adoentado, não pode comparecer. Em seu magnífico trabalho literário, que se publicou com o título de “Oração aos Moços”, o notável “patrono da advocacia brasileira”, após proclamar a justiça militante como o objeto da missão do advogado e a liberdade como a sua principal vocação, recomenda enfaticamente: 

(...) Não desertar a justiça, nem cortejá−la. Não lhe faltar com a fidelidade, nem lhe recusar o conselho. Não transfugir da legalidade para a violência, nem trocar a ordem pela anarquia. Não antepor os poderosos aos desvalidos, nem recusar patrocínio a estes contra aqueles. Não servir sem independência à justiça, nem quebrar da verdade ante o poder. Não colaborar em perseguições ou atentados, nem pleitear pela iniquidade ou imoralidade. Não se subtrair à defesa das causas impopulares, nem à das perigosas, quando justas. Onde for apurável um grão, que seja, de verdadeiro direito, não regatear ao atribulado o consolo do amparo judicial. Não proceder, nas consultas, senão com imparcialidade real do juiz nas sentenças. Não fazer da banca balcão, da ciência mercadoria. Não ser baixo com os grandes, nem arrogante com os miseráveis. Servir aos opulentos com altivez e aos indigentes com caridade. Amar a pátria, estremecer o próximo, guardar fé em Deus, na verdade e no bem.

Aos novos bacharéis, meus afilhados e minhas afilhadas, invocando as energias cósmicas mais positivas sobre vocês, renovo os meus votos de sucesso no exercício das carreiras incomensuráveis do Direito e desejo-lhes felicidade ao longo de suas vidas, com o pedido e a expectativa, de todos nós, de que não meçam esforços na construção de um Brasil onde reine efetivamente a Solidariedade, a Paz e a Justiça.  

Muito obrigado!
. . . . . . . . . . . . . 

(*PROF. WAGNER ROCHA D’ANGELIS– Advogado, historiógrafo e professor universitário, mestre e doutor em Direito pela USP/UFPR. Professor Decano do Curso de Direito da Faculdade de Ciências Jurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná (UTP), possuindo várias obras jurídicas publicadas. Presidente da Associação de Juristas pela Integração da América Latina (AJIAL) e Presidente do Centro Heleno Fragoso pelos Direitos Humanos (CHF). Membro Titular da Comissão Brasileira Justiça e Paz (vinculada à CNBB), do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná (IHGPR), do Instituto dos Advogados do Paraná (IAP) e da Comissão de Estudos sobre Violência de Gênero da OAB – Seccional do Paraná (CEVIGE). Jurista com várias obras publicadas.  

quarta-feira, 19 de setembro de 2018

Paris vale várias missas, mas tem de ter CV, para dar aula no IHEAL

Já estive nesse programa: a vida em Paris se divide em: croissant pela manhã, vinho no almoço, aulas uma ou duas vezes por semana, museus quando quiser, uma boa baguete com queijo pelas noites, viagens tranquilas...
Paulo Roberto de Almeida

Mesdames, Messieurs, 

Nous avons le plaisir de vous adresser 
l'appel à candidatures pour les Chaires de Professeurs Invités de l'IHEAL pour l'année 2019-2020. Nous vous serions reconnaissants de nous aider à diffuser cet appel dans vos réseaux. 

En vous souhaitant une bonne réception.
Service communication 
Institut des hautes études de l'Amérique latine
IHEAL
Université Sorbonne Nouvelle - Paris 3
28 rue Saint-Guillaume 75007 Paris - Bureau 107
Tél. : 01 44 39 86 93
Facebook : IHEALCREDA Twitter : @IHEAL_CREDA
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Appel à candidatures pour les chaires de professeurs invités de 
l’Institut des Hautes Études de l’Amérique latine (Université Sorbonne Nouvelle – Paris 3) 

Année universitaire 2019-2020


Cet appel est disponible en françaisanglaisespagnol et portugais
Appel à candidature pour l'année 2019-2020 SESSION OUVERTE JUSQU’AU 15 NOVEMBRE 2018



Conditions d’accès

■ Le candidat doit être âgé de moins de 65 ans lors de sa prise de fonction à l’IHEAL, être titulaire d’un doctorat depuis 5 ans au minimum ; être enseignant en poste dans une université ou être chercheur titulaire d'un organisme de recherche étranger au moment de la candidature.

■ Les invitations sont valables pour des séjours longs d’un semestre (4 mois entre septembre et décembre 2019 pour le premier semestre; entre janvier et avril 2020 pour le second semestre). Cela permet une véritable insertion des professeurs invités dans les activités d’enseignement et de recherche de l’Université.

■ Il est demandé aux bénéficiaires de la chaire de dispenser deux enseignements par semestre. Pour chacun de ces enseignements, la charge horaire totale est de 24 heures. Les cours correspondent aux thèmes de recherche et de compétences du professeur invité. Toutefois, les enseignements proposés peuvent subir des modifications en fonctions des besoins de l’IHEAL. Les cours des professeurs invités peuvent être dispensés en français, en espagnol ou en anglais.

■ L’IHEAL reçoit des candidatures dans les disciplines suivantes : histoire, géographie, anthropologie, sociologie, économie et science politique. Pour l'année universitaire 2019-2020, la commission de recrutement portera une attention particulière - mais non exclusive – aux propositions de cours relevant de la géographie et de l’anthropologie, ainsi qu’à celles portant sur l’Amérique centrale, les Caraïbes et les pays andins. Les enseignants seront susceptibles de dispenser des cours dans le nouveau Master LAGLOBE (Latin America and Europe in a Global World) de l’IHEAL, qui bénéficie d’un soutien de l’Union Européenne.

■ Les enseignants et chercheurs bénéficiant d’une chaire pourront réaliser des activités dans d’autres composantes de l’Université Sorbonne Nouvelle – Paris 3, ainsi que dans d’autres institutions universitaires françaises ou européennes avec lesquelles l’IHEAL entretient des collaborations.

■ A partir de la rentrée de l’année 2019-2020, dans le cadre du projet du Campus Condorcet, l’IHEAL intègre les locaux de la Cité des humanités et des sciences sociales situés au nord de Paris. L’ensemble des cours seront dispensés dans le nouveau campus.


Dossier de candidature

Les candidatures se feront directement en ligne. Les candidats devront :
1/ Remplir le formulaire en ligne disponible à l’adresse suivante : formulaire de candidature
2/ Envoyer, par e-mail uniquement, les documents suivants (en format Word, PDF ou image scannée) à l’adresse iheal-chaires@sorbonne-nouvelle.fr. Veuillez noter que seuls les documents demandés seront pris en compte.

■ Une lettre de motivation.

■ Un certificat de rattachement en tant qu’employé d’une université ou centre de recherche correspondant à l’année 2018.

■ Un curriculum vitae synthétique (6 pages maximum) comportant l’information personnelle de base ; la formation universitaire (en excluant les séminaires ou les formations de moins d’un an) ; l’expérience professionnelle, les activités d’enseignement et de recherche ; les activités administratives et de valorisation de la recherche le cas échéant ; la participation à des colloques de portée nationale ou internationale ; et la liste des publications, classée par ouvrages, articles dans des revues à comité de lecture, nationales ou internationales, rapports de recherche, actes de colloques et compte-rendu d’ouvrages dans des revues à comité de lecture. Toutes les informations du CV doivent être présentées par ordre chronologique en partant des dates les plus récentes vers les plus anciennes.

■ Deux lettres de recommandation avec tampon et signature.

■ Une copie du diplôme de doctorat.

■ Trois propositions de cours en vue d’un séjour d’un semestre, sous forme d’un résumé (abstract) de deux pages maximum par cours comprenant les thèmes et les objectifs visés, ainsi qu’une bibliographie sommaire. Merci d’indiquer la langue dans laquelle sera dispensé chaque cours.

■ Une copie du passeport en cours de validité.


Le dossier complet (formulaire + email avec pièces jointes) devra nous parvenir au plus tard le 15 NOVEMBRE 2018 avant minuit(heure française). 

Un email de confirmation vous sera adressé dans les jours suivant la réception du dossier. Les dossiers incomplets ou parvenus au-delà de ce délai ne pourront être examinés par la commission de recrutement de l’Université. Nous ne recevrons aucun dossier sous forme papier. Seules les pièces transmises par e-mail seront prises en compte. Tous les dossiers feront l'objet d'une double évaluation dont l'une réalisée par un chercheur ou un enseignant-chercheur extérieur à l'IHEAL.


Pour tout renseignement complémentaire, s’adresser à :

Manuel Rodríguez Barriga (Responsable administratif des Chaires)

Lemman scolarship in Columbia for PhD holders - up to September 28th

Lemann Visiting Public Policy Fellows Program at Columbia University

Program Summary

The Columbia University Lemann Center for Brazilian Studies (LCBS) is pleased to announce the creation of the Lemann Visiting Public Policy Fellows program, a unique opportunity for scholars and practitioners interested in spending one or two semesters at Columbia engaging in public policy-related research, attending and contributing to public programming, interacting with faculty and students, and participating in courses. The Lemann Visiting Public Policy Fellows program is open to those with diverse disciplinary backgrounds related to public policy and social impact in Brazil. Applications are welcome from practitioners with hands-on experiences in public policy through work in government institutions or non-governmental organizations, as well as PhD-holding academics at various career stages.   We especially welcome applicants who bring innovative approaches to studying and/or addressing major social challenges, such as education, public health, socioeconomic inclusion, urban development, and sustainable development.  
​​          ·        For additional details, please see the full program description
·        To apply to the fellowship please see the online application form
Program Benefits & Fellow Support
Lemann Visiting Public Policy Fellows are appointed as Associate Research Scholars. Among the benefits Fellows receive are included:
  • Opportunity to conduct research under the guidance of Columbia faculty
  • Opportunity to publicize the results of their research through on campus events
  • Receipt of a monthly salary from the LCBS, made possible through a generous gift from the Lemann Foundation. 
  • Purchase of roundtrip ticket from the Fellow´s city of residence to New York.
  • Office space at the Institute of Latin American Studies (ILAS)
Application Procedures & Eligibility:
Applications consist of an online application form, a CV, and a Statement of Interest. The application deadline for the current call is Friday, September 28th, 2018, for consideration for a Fellowship position for the Spring 2019 Semester (January-May). Deadlines for future calls will be announced in the Fall of 2018.
​​Academic applicants should have completed their PhD. For applicants with relevant applied experience, a PhD or Master´s degree is desirable, but those without postgraduate degrees are eligible if they possess a minimum of 5 years of relevant professional experience (e.g., in public administration and/or at a nongovernmental organization).
About the Lemann Foundation & the Lemann Fellowship Program
For more information about the Lemann Foundation's broader Lemann Fellowship Programs please visit the Foundation´s website.

segunda-feira, 17 de setembro de 2018

O Brasil dividido, com escolhas mais divisivas ainda - Revista Crusoe

A revista Crusoé, feita por jornalistas sensatos, e sobretudo bem informados, diz o seguinte, em sua edição de 13 de setembro (transcrevo excertos): 

(...)

O atual processo de sucessão presidencial desponta como o mais frenético e indefinido da história brasileira.
Se por um lado temos um oceano de indecisos que torna impossível antecipar o desfecho destas eleições…
Por outro, não resta a menor dúvida: apenas um desses caminhos irá selar o seu destino pelos próximos anos:
1— Ou o país retoma as rédeas do crescimento, com a aprovação das reformas estruturais necessárias para resgatar a economia do limbo;
2— Ou retrocede à antiga matriz populista, responsável pelas atuais mazelas como desemprego, inflação, falência da indústria e total desajuste nas contas públicas.

(...)

Às vésperas da reeleição de Dilma Rousseff, em outubro de 2014, as verdadeiras intenções da ex-presidente não eram plenamente conhecidas.
E o resultado foi catastrófico:
O que Dilma prometeu em outubro de 2014
Impacto na economia até o impeachment
Baixar a conta de luz
Apagão e tarifaço
Retomada do crescimento
O PIB despencou e chegou a 3,85% negativos
Controlar a inflação
A inflação saltou de 6,40% para 10,67%
Não elevar juros
A Selic chegou a 14,25%
Geração de emprego
A taxa de desemprego cresceu 90%

Economia não admite experiências de laboratório. Erros cobram seu preço e as consequências podem se estender por gerações.
Acrescento (PRA):
 Se chegarmos às eleições com o país dividido entre dois extremos, e com os dois lados, eventualmente vencedores, contestando o resultado das eleições, com acusações de fraudes, estaremos no olho do furacão, inclusive porque militares (da ativa e da reserva) se pronunciam abertamente sobre o panorama eleitoral e político.
Em qualquer hipótese, o país permanecerá dividido, com possível crescimento da contestação política, manifestações mais do que ruidosas, e instabilidade agregando à deterioração da situação econômica.
Ou seja, o pior dos mundos...
Como muitos eleitores bem informados e ponderados, não tenho nenhuma via muito clara à nossa frente, e tampouco tenho soluções para o impasse.
Meu temor é o de que nos arrastemos penosamente no pântano político e na mediocridade econômica pelos próximos quatro anos, chegando moralmente debilitados ao segundo centenário de nossa independência, em 2022.
O Brasil não terá sido o único país na região a decair, em todos os quesitos, num continente que já carrega exemplos espetaculares de decadência, de crise e até de tragédia.
Espero que consigamos, ao menos, preservar instituições de governança para uma recuperação mais adiante.
Paulo Roberto de Almeida 
Brasília, 17 de setembro de 2018