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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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domingo, 10 de fevereiro de 2019

O caso da embaixada em Jerusalém - Sputinik

Embaixada em Jerusalém seria desastre econômico e diplomático

sputinik
Sputinik, 9/02/2019

Em consonância com promessa feita por Jair Bolsonaro durante o período de campanha antes da eleição presidencial, o chanceler brasileiro voltou a falar ontem da mudança da embaixada do Brasil em Israel de Tel Aviv para Jerusalém, sublinhando, no entanto, a possibilidade de isso acontecer sem atrapalhar as relações do país com o mundo muçulmano.
Questionado na última quinta-feira, 7, em Washington, sobre a anunciada mudança da missão diplomática brasileira na capital israelense, Ernesto Araújo afirmou que a manobra é algo que ainda está sendo considerado, mas que o desejo do governo brasileiro é o de que, se isso realmente ocorrer, seja positivo não apenas para os laços com os israelenses, mas com todo o mundo árabe e islâmico. Seria isso possível?
Para Tanguy Baghdadi, professor de Relações Internacionais da Universidade Veiga de Almeida, não. Segundo ele, o fato de o Brasil mudar sua embaixada para Jerusalém, cidade sagrada e disputada por judeus e muçulmanos, significaria que "o Brasil não acredita que deva ser criado, ou pelo menos que haja condições para ser criado, um Estado palestino dentro da região". Nesse sentindo, o especialista avalia que os impactos para Brasília seriam severos. Ele lembra, por exemplo, que os países árabes e muçulmanos são importantes compradores de carnes brasileiras, e que esse mal-estar poderia afetar de maneira significativa o setor da agropecuária brasileiro.
"Imagino que Bolsonaro esteja, que o governo esteja, de uma certa forma, adiando essa decisão, até para conseguir medir a temperatura, saber o que é melhor. Porque transferir a embaixada seria muito ruim para estados que votaram no Bolsonaro em peso, seria prejudicial também para a própria economia brasileira, e não transferir a embaixada seria quebrar uma promessa de campanha", disse o acadêmico em entrevista à Sputnik Brasil, dizendo acreditar que o Ministério das Relações Exteriores do Brasil esteja em vias de fazer essa transferência.
Baghdadi ressalta que, tradicionalmente, o Brasil sempre se destacou por um acentuado equilíbrio em suas relações internacionais, ao contrário do que vem sinalizando no atual governo. Hoje, entretanto, os passos da política externa brasileira estariam muito mais no sentido de despertar curiosidade do que de sinalizar alguma previsibilidade.
"Essa mudança da embaixada certamente geraria uma curiosidade, e até uma certa preocupação, dos demais países com relação a o que mais viria pela frente."
De acordo com Raquel Rocha, doutora em Relações Internacionais pela Universidade de São Paulo (USP), há uma grande dificuldade, por parte do atual governo do Brasil, do ponto de vista prático, em cumprir essa promessa de campanha de Bolsonaro, de reconhecer Jerusalém como capital do Estado de Israel.
"Eu confesso que eu acredito que essa seja uma promessa que vai ser alongada durante os anos de governo Bolsonaro. E vai ser sempre essa ideia de que o quando vai ser discutido e não necessariamente vai ser concretizado", disse ela à Sputnik.
Além das consequências comerciais óbvias, a especialista da USP acredita que o impacto político sobre essa provável mudança:
"Na pauta política, com certeza, a gente vai ter grandes críticas", afirmou, lembrando o caso dos Estados Unidos, país que gerou fortes reações internacionais ao realizar essa manobra. "É um pouco até contraditório em termos de alinhamento de política externa que o Brasil, agora, seja tão favorável a um desenho geográfico mais favorável a Israel. E ainda mais por ter esse favorecimento em cima de uma pauta religiosa", declarou Rocha.

sábado, 9 de fevereiro de 2019

Da TV Lula à TV Bolsonaro? - Ricardo Bergamini e Rodrigo Constantino


Sai o populismo de esquerda e entra o populismo de direita, que a Janaina Paschoal chamou de “petistas com sinal trocado”.

O ministro Paulo Guedes já deu várias dicas da pressão que vem sofrendo para privatizar o entulho estatal, que não serve para o povo, mas somente para a burguesia estatal.

Na defesa de interesses corporativos todas as ideologias existentes no Brasil são aliadas históricas (Ricardo Bergamini).



Um blog de um liberal sem medo de polêmica ou da patrulha da esquerda “politicamente correta”.



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TV Lula. Era assim que Bolsonaro chamava a TV Brasil, subsidiária da estatal EBC. O atual presidente sempre condenou a existência desse troço, um instrumento para bancar militantes. Definiu inclusive como promessa de campanha acabar com a empresa. Uma vez eleito, no poder, o tom mudou. A EBC não seria mais fechada ou vendida. A TV Brasil não desapareceria. Ao contrário: seria alvo de uma “restruturação”.

Escrevi textos condenando tanto a decisão de não acabar com a estatal como essa suposta restruturação. Fontes internas me asseguraram se tratar de um engodo. A empresa enviou para a Gazeta do Povo uma resposta, e em nome do debate aberto vou publicar aqui um trecho:

A EBC não é um canal de televisão. Trata-se de uma empresa pública gestora de duas emissoras de TV, sete emissoras de rádio, uma agência de notícias, duas agências de conteúdos radiofônicos, portais e redes sociais.

A EBC é uma empresa estratégica de comunicação. Leva informações para lugares onde a iniciativa privada não alcança, promove a integração nacional e oferece conteúdos premiados e diferenciados. Diversos portais aproveitam grande parte do conteúdo produzido pelos veículos EBC. Fotos feitas pelos profissionais da empresa abrem a primeira página de jornais de cobertura nacional e regional.

A empresa faz a cobertura dos atos do governo federal e distribui o conteúdo a veículos de comunicação de todo o país e estrangeiros. O selo da NBR, por exemplo, aparece diariamente em matérias dos programas jornalísticos desses veículos.

O plano de reestruturação da EBC é real e está totalmente alinhado às diretrizes do Governo Federal. Propõe a racionalização e otimização dos recursos com a ampliação do alcance e espectro de atuação da empresa. Beneficia o contribuinte usuário porque busca a sustentabilidade orçamentária e financeira, com menor dependência em relação ao Tesouro Nacional.

O processo de seleção e nomeação de perfis para os cargos comissionados e de direção, Diretoria Executiva, Conselhos e Comitês, segue critérios técnicos e convergentes com a Lei das Estatais.  

A nova EBC utilizará sua competência profissional para produzir conteúdos de qualidade, educativos, culturais, científicos, informativos e de utilidade pública. O objetivo é o de apresentar uma TV para todos os brasileiros sem segmentação, oferecendo informações e programas com temas universais e de interesse geral do público.

Desde a criação da EBC, em 2007, o eixo principal das ações está em Brasília, sendo que o Rio de Janeiro permanece como principal centro de produção. É completamente falsa a afirmação de que a sede do Rio foi dizimada. Pelo contrário, os dois imóveis que abrigam as instalações e pessoal foram recentemente reformados e adequados para suportar a estrutura existente.

Em relação ao aluguel da sede de Brasília, a gestão conseguiu reduzir seu valor em 13% em 2018. As alterações estruturais, como as nomenclaturas de cargos, decorrem das necessidades de atendimento das missões da EBC e são previamente aprovadas pela Diretoria Executiva e pelo Conselho de Administração. Os recentes cortes de cargos e exonerações estão diretamente ligados à reestruturação da EBC e alinhados às diretrizes do Governo Federal. Nada tem a ver com alegados nepotismo/pessoalidade. 

Atenciosamente,

Gerência de Comunicação

Empresa Brasil de Comunicação (EBC)

“A EBC é uma empresa estratégica de comunicação. Leva informações para lugares onde a iniciativa privada não alcança, promove a integração nacional e oferece conteúdos premiados e diferenciados”. Essa justificativa é a mesma de todo estatizante. A Petrobras é “estratégica”. O Correio é “estratégico”. O Banco do Brasil é “estratégico”. A Caixa é “estratégica”. E atuam onde a iniciativa privada não “alcança”. Trata-se simplesmente de uma justificativa inaceitável para qualquer um familiarizado com o liberalismo.

O governo Bolsonaro, não obstante, preferiu ignorar sua promessa de campanha e manter a estatal. A reação a esta decisão equivocada serve como divisor de águas e facilita muito na identificação dos perfis mais à direita. Quem é realmente independente, elogiando o que merece elogio e criticando o que deve ser criticado, condenou a decisão publicamente. Foi o que fez a turma liberal em peso. Grave erro do governo optar pela manutenção da EBC.

Já os “isentões” de direita adotaram um discurso mais “neutro”, do tipo: “A medida é errada em si, mas calma, Bolsonaro não pode desfazer em um mês aquilo tudo de ruim que o PT fez em mais de uma década”. A narrativa pode confortar alguns, os mais pragmáticos podem se convencer de que seria negativo cortar a boquinha de centenas de funcionários encostados na estatal, mas a decisão continua sendo inaceitável e traindo uma promessa de campanha.

Já os “minions”, aqueles fanáticos que acham que o “mito” jamais está errado, justificaram e até aplaudiram a medida: agora o governo terá um canal de televisão para combater a doutrinação esquerdista! Esses são aqueles que Janaina Paschoal chamou de “petistas com sinal trocado”. Eles estão dispostos a adotar todos os métodos do inimigo, desde que para a “causa certa”. Os “nobres” fins justificam quaisquer meios. Assassinato de reputação, duplo padrão, perseguição e intimidação, mentiras, tudo é válido se for para ajudar na “causa”, ou seja, manter Bolsonaro no poder para ele “salvar” o Brasil.

A TV Lula também é conhecida como TV Traço, ou seja, não tem audiência. Mante-la não é perigoso por questões de doutrinação ideológica, já que ninguém assiste o troço. O ponto é outro: serve como instrumento para bancar a militância, que atua em outros canais. Bolsonaro tem militância voluntária, mas como agora é poder, muitos poderão apresentar a fatura, ou trabalhar em dobro se passarem a receber por isso. Se eram chatos nas redes sociais de graça, imagina recebendo uma bolada da estatal?

O aparelhamento da máquina estatal foi um dos pontos que mais receberam críticas na era petista, com razão. A vitória de Bolsonaro representa uma guinada à direita, e “despetizar” o estado é uma meta louvável. Mas não para aparelhar com “minions” em seu lugar! Isso é simplesmente absurdo e inaceitável. Quem aplaude a manutenção da EBC como estatal, e talvez esteja de olho num cargo na TV Brasil, demonstra ser inimigo do Brasil, ao menos de um país republicano, sério e livre.

Bolsonaro foi eleito, entre tantas outras coisas, para acabar com a TV Brasil, não para criar a TV Minion.

Venezuela: especulando sobre o que pode ocorrer - Paulo Roberto de Almeida

Ninguém no mundo sabe prever o desenlace que pode ter a tragédia venezuelana. Pode terminar por um bimp, se os militares expatriarem o ditador e se submeterem ao “presidente encarregado” e à vontade popular; pode evoluir para um grande Bang, se houver guerra civil e intervenção estrangeira; e pode ter todas as variações possíveis entre esses dois extremos. Who knows?
O certo é que o Brasil está mal posicionado para participar de forma racional e coordenada de qualquer uma das hipóteses. Isso se chama ausência de liderança, posto simplesmente. 
Imagino que um contato constante com todos os interlocutores desse jogo complexo — incluindo as três grandes potências, os europeus e os latinos, além de ONU, OEA, o Papa, etc. — possa ajudar no encaminhamento de uma solução com o menor custo humano possível, em qualquer hipótese com a remoção do ditador, dos cubanos e com eleições livres no menor prazo factível. 

Mas, e este é um gande mas, nem todos os líderes são racionais, capazes é razoáveis. Podem prevalecer os piores instintos, como numa briga entre elefantes.

Paulo Roberto de Almeida 
Brasília, 9/02/2019

Trump: nunca antes na história dos EUA, e nunca mais...

Leiam:
1) Trump:
North Korea, under the leadership of Kim Jong Un, will become a great Economic Powerhouse. He may surprise some but he won’t surprise me, because I have gotten to know him & fully understand how capable he is. North Korea will become a different kind of Rocket - an Economic one!”

2) Carlos Goes:
Se algum dia a gente descobrir que o Trump é um membro secreto da ala stanlinista PCdoB que quer: centralizar a economia, dar estímulo fiscal em pleno emprego, evitar mudança tecnológica, aumentar a dívida e acabar com o livre comércio, as coisas vão fazer mais sentido.”

3) PRA:
Nunca antes na história dos EUA um presidente revelou-se: a) um insano demencial; b) um cretino fundamental; c) um desmantelador serial; d) idiota terminal; e) todas as opções precedentes. Reparem quem gosta dele...”

4) Machado de Assis:
(Ainda selecionando a melhor frase de Simão Bacamarte).

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

Paul Klee: primeira grande mostra no Brasil - CCBB-SP

Ícone do modernismo, Paul Klee ganha primeira grande exposição no Brasil

Retrospectiva no CCBB reúne 120 trabalhos do artista suíço; confira detalhes da mostra e uma entrevista com a curadora
No caminho que trilhou nas artes, o suíço Paul Klee (1879-1940) chegou a estabelecer contato com correntes como o expressionismo e o cubismo, mas permaneceu sempre independente em relação a esses movimentos. É essa autonomia de estilo que a exposição Paul Klee – Equilíbrio Instável busca evidenciar, por meio de 120 pinturas, papéis, gravuras, desenhos e objetos vindos do Zentrum Paul Klee de Berna, na Suíça.
Foto 1
Lembrando que Klee consagrou-se, entre outros aspectos, pelo tenso equilíbrio que buscava criar entre formas elementares, a mostra destaca seus passos singulares rumo à abstração e à contestação da pintura tradicional.
Foto 2
Há desde desenhos da juventude, como nus, até obras que revelam influência de nomes como Kandinski, de quem foi colega quando atuou como professor da Bauhaus, na Alemanha, país onde foi perseguido pelo nazismo.
Entre trabalhos conhecidos e raros, ganham destaque, por exemplo, um fac-símile de ‘Angelus Novus’, desenho que inspirou texto do filósofo Walter Benjamin, assim como fantoches que fez para seu filho entre 1915 e 1925.
Foto 3
ENTREVISTA
O Divirta-se conversou com a curadora da mostra, a suíça Fabienne Eggelhöfer.
A mostra foi pensada para o Brasil. Quais foram os critérios para a seleção das obras?
Uma vez que será a primeira grande exposição de Paul Klee no Brasil, nós decidimos organizá-la no formato de uma retrospectiva. A mostra permitirá que o público conheça seu desenvolvimento artístico e também tenha acesso a importantes aspectos de sua obra, como seu interesse pelo teatro, seus comentários políticos ou a série de desenhos com a temática dos anjos.
Você acredita que a produção de Klee dialoga com o modernismo brasileiro?
Sim, acredito que ressoa em artistas como Lasar Segall, Alfredo Volpi e até mesmo nos neoconcretos. Mais estudos precisam ser feitos. Espero que a mostra desperte o interesse para a pesquisa de mais relações como essas.
A exposição inclui obras raras de Klee. Quais delas você destacaria? Por quê?
Eu destacaria especialmente uma pequena pintura intitulada ‘Struck from the List’, que Klee produziu em 1933, no período em que foi perseguido pelo regime nazista. A obra é muito singela, mas expressa claramente como ele se sentia. Também destacaria a última pintura criada por ele, que ainda estava em um cavalete de seu estúdio quando ele morreu. É uma natureza-morta na qual ele combinou os aspectos mais importantes de sua obra.
Klee tinha um estilo difícil de ser classificado. Como a mostra evidencia essa independência do artista?
Em cada seção, o público descobrirá um Klee diferente – e é exatamente isso que faz a mostra ser tão interessante.

ONDE: CCBB. R. Álvares Penteado, 112, Centro, 3113-3651. QUANDO:Inauguração: 4ª (13). 9h/21h (fecha 3ª). Até 29/4. QUANTO: Grátis.
* FOTO 1: Paul Klee | “O” Breites Format, 1915, 254 | “O” Wide Format | “O” Formato Largo | Aquarela e lápis sobre papel revestido sobre cartão | 10,5/10 x 29,6 cm | Zentrum Paul Klee, Berna, doação de Livia Klee
* FOTO 2: Paul Klee | Rot-Aug, 1939, 129 | Red Eye | Olho vermelho | Aquarela sobre papel revestido sobre cartão | 26,8 x 42,1 cm | Zentrum Paul Klee, Berna
* FOTO 3: Paul Klee | ein Antlitz auch des Leibes, 1939, 1119 | A Face of the Body, Too | Um rosto também do corpo | Cola colorida e óleo sobre papel sobre cartão | 31 x 23,5 cm | Zentrum Paul Klee, Berna, doação de Livia Klee

O chanceler paralelo: Eduardo Bolsonaro - Igor Gadelha (Crusoe)


Transcrevo, abaixo, trechos da entrevista de Eduardo Bolsonaro ao jornalista Igor Gadelha da revista Crusoé, exclusivamente sobre temas de política externa e diplomacia, à exclusão de todos os demais, sobre política interna, Congresso, etc.
Confirma-se o que já se sabia...
Paulo Roberto de Almeida


“Filho é indemissível’
Revista Crusoé, n. 41, 9/02/2019

(...)

O sr. acha que o Brasil deveria intervir ou apoiar uma intervenção militar na Venezuela?
Sou contra a ideia de que o Brasil venha a declarar uma guerra ou fazer uma intervenção na Venezuela. Até se nós quisermos aqui formar uma força humanitária e mandar um avião sobrevoar as áreas onde estão as pessoas mais ligadas ao Guaidó (Juan Guaidó, que se proclamou presidente interino do país), qual a garantia teremos de que esse avião não vai ser bombardeado na Venezuela? Nenhuma. Então, a Venezuela hoje não tem sequer uma estabilidade para você mandar uma ajuda humanitária desse porte. Além disso, mandando uma ajuda humanitária, certamente quem está lá embaixo está com armas nas mãos, que são os coletivos do Maduro, para os quais ele distribuiu vários fuzis, inclusive AK. Com apoio da Rússia, alguns anos atrás, o (Hugo) Chávez distribuiu mais de 100 mil (fuzis) para os seus coletivos, os cubanos, que são em torno de 50 mil, expectativa de 50 mil a 100 mil, mais ou menos, que estejam lá, Hezbollah, FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), ELN (Exército de Libertação Nacional). Esse pessoal é que vai pegar a ajuda humanitária e distribuir entre os deles. Então temos que ter a coragem de falar o seguinte: o Maduro só vai sair do poder através do uso da força. Não estou dizendo que o Brasil tem que ir lá, entrar com militares, com as Forças Armadas, para tirar o Maduro, não. Não é isso que estou dizendo. Estou tendo uma conclusão óbvia. Porque através de eleições ele já demonstrou que não vai sair. As últimas eleições tiveram mais de 80% de abstenções. Se levarmos em conta que não houve fraude, o que é uma piada imaginar que não houve fraude naquelas eleições, o Maduro foi reeleito com 17% dos votos.
De onde viria, então, essa força para tirar Maduro do poder? Dos Estados Unidos?
Os Estados Unidos têm grandes Forças Armadas. E não só os Estados Unidos, mas qualquer iniciativa que venha a ser feita na Venezuela, como ocorreu de maneira desorganizada com Oscar Pérez, que juntou um pequeno contingente de militares e policiais e conseguiu fazer uma força ali para tentar bater de frente com o Maduro, qualquer iniciativa dessas tem que ser apoiada. Porque, se ela não for apoiada, a cada dia que passa, mais pessoas estarão morrendo de fome, e o Maduro não está nem aí para isso.

Mas que solução o sr. vê, afinal?
Vejo que, de alguma maneira, alguém tem que se organizar. Principalmente militares venezuelanos que estão no exílio, de alguma maneira, se organizar para conseguir, pouco a pouco, entrar e ir libertando a Venezuela. Agora, entre o que eu acho que pode acontecer e o que vai acontecer, há uma distância bem grande. Estou te falando aqui como um deputado federal do Brasil o que eles podem fazer, o que estão fazendo etc. Agora, toda ditadura, quanto mais ela vai se enrijecendo, mais a oposição também vai tomando medidas contrárias. O povo venezuelano estará vendo que vai morrer de fome ou vai ter que se prostituir para ter umas migalhas do governo, mais e mais pessoas vão pensando que vale a pena tentar ir para o tudo ou nada.

Qual é a sua opinião sobre a transferência da embaixada brasileira em Israel de Tel Aviv para Jerusalém?
Acredito que o Brasil não pode errar porque, pelo tamanho que o Brasil tem, ele vai servir de exemplo para toda a região. Então, se o Brasil fizer uma transferência de maneira exitosa, se for um sucesso a transferência da embaixada, isso fará com que outros países possam vir a acompanhar o Brasil. Do mesmo modo que, se nós fizermos alguma coisa errada, isso vai servir de exemplo para que outros países não venham a seguir essa tentativa de transferência da embaixada para Jerusalém. O que as pessoas não atentam é que ocorreu já uma grande mudança no Oriente Médio, onde Israel não é mais visto como inimigo. Israel é cada vez mais visto como um aliado. O grande problema de toda aquela região é o Irã. O Irã é que financia o terrorismo, o Irã é que causa problemas, que dá suporte para grupos extremistas. Para você ver: Israel queria dar de graça a tecnologia de água para os fazendeiros no Irã. O governo do Irã não permitiu porque era uma ajuda de Israel. Ele prefere ver seu povo morrendo sem alimento e sem água a receber uma ajuda de Israel. E eu corroboro que aquelas relações ali mudaram quando você olha a mudança que os Estados Unidos fizeram de sua embaixada para Jerusalém. Vários países censuraram publicamente, mas não houve qualquer tipo de retaliação contra os Estados Unidos. Aí, já sei, você vai perguntar: poxa, mas olha o tamanho dos Estados Unidos. Tudo bem. Mas olha o tamanho da Guatemala. Será que, se os países árabes não quisessem destruir a Guatemala, fazer um embargo econômico, não poderiam fazer? Por que não fizeram? O Brasil é um meio termo. Não está em uma posição como a americana, nem como a guatemalteca. Mas é um meio termo, e acho, sim, que a gente tem que fazer essa mudança. Primeiro, por respeito aos eleitores, já que é uma promessa de campanha do Jair Bolsonaro. E, em conversa com o Benjamin Netanyahu, quando ele veio ao Brasil, Jair Bolsonaro se comprometeu a fazer a mudança.

Há uma pressão da bancada ruralista contra a transferência por receio de retaliações na compra de frango.
Muito frango… E carne. Do Brasil e da Austrália. E se os dois mudarem a embaixada, (os países árabes) vão fazer o quê?

O sr. concorda com o meio termo adotado pela Austrália de instalar a embaixada em Jerusalém Ocidental?
Não. Acho que tem que ser o compromisso de campanha. Você pode botar um gabinete avançado, depois pode fazer a mudança da embaixada. Tem que ver um prédio para isso. Isso pode ser que não saia de graça. Enfim. Mas são medidas que têm que ser tomadas. Outro ponto que a gente não passou, mas que é relevante, é que muitas pessoas têm medo de ataque terrorista. Ah, a gente vai estar trazendo para o Brasil a questão do terrorismo islâmico para cá. Meus caros, a Argentina já teve dois ataques terroristas nos anos 1990. Quem acha que no Brasil não tem operação de grupo extremista está redondamente enganado. O Hezbollah está aqui em cima junto com o Hamas, aqui na Venezuela. E reparem: quantas pessoas morreram de ataques terroristas em 10 anos na Europa? Não chegam a mil.

Mesmo assim é muita gente.
Eu sei. Mas calma lá. Estou querendo dizer o seguinte: e se eles começarem a fazer ataques terroristas reivindicando que as mulheres, sei lá, tenham determinado comportamento? E aí, a gente vai abaixar a cabeça para eles porque vão fazer ataques terroristas? Acho que, se eles radicalizarem com ataques terroristas, a gente poderia enrijecer as nossas leis, especificamente para esses casos. Banimento de passaporte, banimento do país, prisão perpétua. Começar a discutir aqui. Tenho certeza que, se você colocar para um plebiscito, aprova.

Mas é cláusula pétrea na Constituição a proibição da prisão perpétua, por exemplo. Como fazer?
O poder constituinte originário é do povo. O povo tem total poder para mudar. Quem vive no território brasileiro não é o povo brasileiro?

(...)

Dawisson Lopes e a Diplomacia do Conhecimento - Paulo Roberto de Almeida

Acabo de ler e resolvi retirar do Twitter e postar aqui, uma sequência de postagens do acadêmico, professor de Ciência Política na UFMG, sobre o Itamaraty sob nova direção.
Acrescentei algo ao retwitar no meu próprio Twitter.
Paulo Roberto de Almeida

Dawisson Lopes:

1) A convite do Itamaraty, participei de 2 eventos no ano passado. Os 2 tinham por objetivo discutir as principais questões da pol. externa brasileira no futuro. Nas ocasiões, usei meu tempo para discutir a relação entre DIPLOMACIA e CONHECIMENTO. Narro, na sequência, os fatos.
2) Em fevereiro, falei do lugar periférico do 🇧🇷 nas redes globais do conhecimento. Por várias métricas - de PISA a rankings universitários - nós ficamos para trás. Somos um país de poucos falantes de inglês. Produção científica volumosa, mas de baixo impacto. Investimento baixo.
3) Quando visitamos a história da política externa brasileira, contudo, encontramos a hipótese de que teria sido a "diplomacia do conhecimento", isto é, o investimento sistemático em saberes jurídicos e cartográficos, o que nos teria garantido um lugar à mesa. Ver a obra do Barão do RB.
4) O que expus aos presentes - embaixadores e acadêmicos - é que, talvez, aquele quadro cognitivo de 100 anos atrás ainda estivesse a balizar o nosso corpo diplomático. A aposta nos saberes clássicos, em oposição às novas técnicas e temas, nos limitaria possibilidades.
5) Fundamentei meu argumento em casos ao redor do mundo. Na forma como estadunidenses se relacionavam com o conhecimento para produzir política externa. Nos estudos que os chineses ora desenvolviam. Na maneira como indianos vinham mobilizando a academia e os think tanks, etc.
6) Temas como revolução industrial 4.0, nova corrida espacial, cibersegurança, biotecnologia, dentre outros, pareciam-me ainda distantes do universo cognitivo do diplomata brasileiro. Meu ponto: a "diplomacia do conhecimento", hoje, demandaria um acercamento dessas novidades.
7) Em outubro último, voltei a margear o assunto, ao tratar da relação entre fazer acadêmico e fazer diplomático. Enquanto a diplomacia não busca insumos acadêmicos para a fabricação de suas políticas, à academia faltaria, com certa frequência, mais conhecimento sobre a prática.
8) Entendo que a diplomacia brasileira poderia beneficiar-se dos conhecimentos sobre métodos e técnicas para acessar/analisar dados que a academia cultiva. Uma abordagem menos ensaística e mais embasada em metodologia científica poderia ajudar na consecução de melhores resultados.
9) Análise de política pública, estatística inferencial, big data, protocolos de comparação, dentre outros ferramentais, municiam toda a produção da atual política externa chinesa, por exemplo. Não tenho dúvida de que o ensaísmo diplomático do 🇧🇷 é um problema a superar.
10) Faço o longo prólogo para, enfim, debruçar-me sobre as mudanças propostas na formação do diplomata brasileiro, recentemente publicizadas. Houve diversas mudanças de terminologia disciplinar, de carga horária, de encadeamento na grade curricular, além de exclusões e inclusões.
11) Às principais mudanças: a) as disciplinas de História da PEB e de Pensamento Diplomático, enquanto tais, não existem mais. Foram fundidas; b) a disciplina de Planej. Diplom. perdeu metade da CH. Como professor, bem sei que esse é um jeito sutil de fazer o indesejado "sumir".
12) Tem mais: c) a disciplina de América Latina foi suprimida na grade; d) incluíram-se, por sua vez, duas disciplinas de Clássicos. A primeira, já em oferta, cobre de Platão a Kant. 25 livros que representariam, quero acreditar, a melhor tradição ocidental conforme o atual chanceler.
13) Ora: o novo 'homo diplomaticus', na verdade, não vai se aproximar do temário contemporâneo da política internacional, tampouco se atualizar sobre metodologia científica de ponta. Antes, mergulhará no ensaísmo diletante. Aperfeiçoará ainda mais a sua cultura de salão.


Paulo Roberto de Almeida:

“Diplomacia do conhecimento” é exatamento o título de um ensaio meu ainda não divulgado, mas que deve acompanhar a 3a. edição da obra “O Itamaraty na Cultura Brasileira” (1a. ed. em 2001, na gestão Celso Lafer; org. Alberto da Costa e Silva), agora em finalização. Aguardem.

Meus livros do período do ostracismo - Paulo Roberto de Almeida

Esta postagem tem um único objetivo: agradecer aos meus "algozes", aqueles que me impediram de trabalhar na carreira que era a minha durante toda a duração do regime lulopetista no Brasil.
Sério! Não estou brincando. Se não fosse pelo fato de os "barões" da diplomacia lulopetista no Itamaraty terem me colocado num longo ostracismo, de 2003 a 2016, período no qual fiz da Biblioteca meu principal local de trabalho, eu nunca teria produzido tanto, pois teria de ficar redigindo aborrecidos expedientes de trabalho, em lugar de me dedicar ao que mais gosto de fazer: ler, refletir, escrever, divulgar o que produzo.
Meus agradecimentos, portanto.
Segue a lista dos livros, exclusivamente entre 2003 e 2016.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 8 de fevereiro de 2019



25) Rompendo Fronteiras: a Academia pensa a Diplomacia (Amazon Digital Services: Kindle Edition, 2014, 414 p.; ASIN: B00P8JHT8Y; disponível em Academia.edu (link: https://www.academia.edu/9108147/25_Rompendo_Fronteiras_a_academia_pensa_a_diplomacia_2014_). Relação de Originais n. 2710. Relação de Publicados n. 1148.


24) Codex Diplomaticus Brasiliensis: livros de diplomatas brasileiros (Amazon Digital Services: Kindle Edition, 2014, 326 p.; disponível no link:  http://www.amazon.com/dp/B00P6261X2; e na plataforma Academia.edu; link: https://www.academia.edu/9084111/24_Codex_Diplomaticus_Brasiliensis_livros_de_diplomatas_brasileiros_2014_ ). Relação de Originais n. 2707. Relação de Publicados n. 1147.

23) Polindo a Prata da Casa: mini-resenhas de livros de diplomatas (Amazon Digital Services: Kindle edition, 2014, 151 p., 484 KB; ASIN: B00OL05KYG; disponível no link: http://www.amazon.com/dp/B00OL05KYG; e na plataforma Academia.edu; link: https://www.academia.edu/8815100/23_Polindo_a_Prata_da_Casa_mini-resenhas_de_livros_de_diplomatas_2014_). Prefácio e Sumário disponíveis no blog Diplomatizzando (link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2014/10/mini-resenhas-de-livros-de-diplomatas.html). Relação de Originais n. 2693. Relação de Publicados n. 1145.


22) Prata da Casa: os livros dos diplomatas (book reviews; Edição de Autor; Versão de: 16/07/2014, 663 p.); (Academia.edu, link: https://www.academia.edu/5763121/Prata_da_Casa_os_livros_dos_diplomatas_Edicao_de_Autor_2014_). Relação de Originais n. 2533. Relação de Publicados n. 1136.

21) Nunca Antes na Diplomacia...: A política externa brasileira em tempos não convencionais (Curitiba: Editora Appris, 2014, 289 p.; ISBN: 978-85-8192-429-8; disponível; http://www.editoraappris.com.br/nunca-antes-na-diplomacia-a-politica-externa-brasileira-em-tempos-nao-convencionais). Relação de Originais n. 2596. Relação de Publicados n. 1133.


20) O Príncipe, revisitado: Maquiavel para os contemporâneos (Hartford, 8 Setembro 2013, 226 p. Revisão atualizada do livro de 2010) Publicado em formato Kindle (disponível: http://www.amazon.com/dp/B00F2AC146). (Academia.edu, link: https://www.academia.edu/5547603/20_O_Principe_revisitado_Maquiavel_para_os_contemporaneos_2013_Kindle_edition). Relação de Originais n. 2512. Relação de Publicados n. 1111.

19) Integração Regional: uma introdução (São Paulo: Saraiva, 2013, 174 p.; ISBN: 978-85-02-19963-7; site da Editora: http://www.saraivauni.com.br/Obra.aspx?isbn=9788502199637). Relação de Originais ns. 2996, 2998, 2300, 2303, 2304, 2313, 2316, 2317, 2373, 2383, 2431, 2438 e 2449. Divulgado no blog Diplomatizzando (link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2013/04/integracao-regional-novo-livro-enfim.html). (Academia.edu, link: https://www.academia.edu/attachments/32644653/download_file). Relação de Publicados n. 1093.


18) Relações internacionais e política externa do Brasil: a diplomacia brasileira no contexto da globalização (Rio de Janeiro: LTC, 2012, 309 p.; ISBN 978-85-216-2001-3; Academia.edu, link: https://www.academia.edu/attachments/32642402/download_file). Relação de Originais n. 2280. Relação de Publicados n. 1058.


17) Globalizando: ensaios sobre a globalização e a antiglobalização (Rio de Janeiro: Lumen Juris Editora, 2011, xx+272 p.; Inclui bibliografia; ISBN: 978-85-375-0875-6; Academia.edu, link: https://www.academia.edu/attachments/32642383/download_file). Relação de Originais n. 2130. Relação de Publicados n. 1044.

16) O Moderno Príncipe (Maquiavel revisitado) (versão impressa: edições do Senado Federal volume 147: Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2010, 195 p.; ISBN: 978-85-7018-343-9; Academia.edu, link: https://www.academia.edu/attachments/32642375/download_file). Relação de Originais n. 1804. Relação de Publicados n. 1014.


15) O Moderno Príncipe: Maquiavel revisitado (Rio de Janeiro: Freitas Bastos, edição eletrônica, 2009, 191 p.; ISBN: 978-85-99960-99-8; R$ 12,00; disponível para aquisição no seguinte link: http://freitasbas.lojatemporaria.com/o-moderno-principe.html). Anunciado no blog Diplomatizzando (21.12.2009; link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2009/12/1591-novo-livro-pra-o-moderno-principe.html), com livre disponibilidade do Prefácio, da Dedicatória, da carta a Maquiavel e das Recomendações de Leitura. (Academia.edu, link: https://www.academia.edu/5546980/15_O_Moderno_Principe_Maquiavel_revisitado_2009_e-pub). Relação de Originais n. 1804. Relação de Publicados n. 940.

14) O Estudo das Relações internacionais do Brasil: um diálogo entre a diplomacia e a academia (Brasília: LGE Editora, 2006, 385 p.; ISBN: 85-7238-271-2; Academia.edu, link: https://www.academia.edu/attachments/32642184/download_file).


13) Formação da diplomacia econômica no Brasil: as relações econômicas internacionais no Império (2ª edição; São Paulo: Editora Senac, 2005, 680 pp., ISBN: 85-7359-210-9; Academia.edu, link: http://www.academia.edu/attachments/32642332/download_file).


12) Relações internacionais e política externa do Brasil: história e sociologia da diplomacia brasileira (2ª ed.: revista, ampliada e atualizada; Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2004, 440 p.; coleção Relações internacionais e integração nº 1; ISBN: 85-7025-738-4; Academia.edu, link: https://www.academia.edu/attachments/32642325/download_file).

11) A Grande Mudança: consequências econômicas da transição política no Brasil (São Paulo: Editora Códex, 2003, 200 p.; ISBN: 85-7594-005-8; Academia.edu, link: https://www.academia.edu/5546940/11_A_Grande_Mudanca_consequencias_economicas_da_transicao_politica_no_Brasil_2003_).